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A Semiologia Psicopatológica é o estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais. A entrevista psiquiátrica é o elemento mais importante na avaliação e no tratamento de pessoas com doença mental. Possui 3 objetivos básicos: • Formular um diagnóstico; • Formular um prognóstico; e • Planejar a terapia. Pode se dar em situações diversas: • Na internação, voluntária ou involuntária; • Em consulta ambulatorial • Na enfermaria de hospital geral • No domicílio ou em via pública Deve-se preferir um ambiente fechado, isolado acusticamente e com uma temperatura agradável, evitando interrupções. As regras básicas são: • No começo, deixar o paciente falar livremente e depois especificar temas ou pontos duvidosos. • Saber quando e como interromper: sem cortar o fluxo da comunicação, mas sem deixar que a minuciosidade ou a prolixidade prejudiquem a obtenção da história clínica. • Não formular perguntas de maneira mecânica. O diálogo deve ser tão informal quanto possível. • Evitar perguntas muito sugestivas, fechadas, que possam ser respondidas com sim ou não. • Não aceitar jargões fornecidos pelo paciente. Pedir para que explique melhor o que quer dizer com as palavras (nervoso, deprimido, etc). • Utilizar linguagem acessível. Estrutura da Anamnese Psiquiátrica ❖ Identificação ❖ Queixa Principal ❖ Motivo do Atendimento Só é necessário quando não há consciência de morbidade por parte do paciente. O conteúdo é fornecido por outra pessoa e são reproduzidas literalmente as palavras do informante. ❖ HDA Pode ser obtida pelo paciente, por um informante ou por ambos. Também devem fazer parte os negativos pertinentes (sintomas cuja ausência pode ser significativa para identificação da doença ou da fase evolutiva) e episódios psiquiátricos anteriores. Em casos de transtorno de personalidade ou de retardo mental, a história pessoal é fundida à HDA. ❖ História Patológica Pregressa Estados mórbidos passados, em geral não psiquiátricos, que não mostrem relação direta ou indireta com a causa atual. Inclui o interrogatório de sistemas. Em geral são investigados: • Na infância: enurese, sonilóquio, pesadelos frequentes, terror noturno, sonambulismo, asma, tartamudez, fobia escolar • Convulsões ou desmaios, doenças venéreas, outras doenças infecciosas/ tóxicas/ degenerativas, traumatismos cranianos, alergia, intervenções cirúrgicas, hábitos tóxicos, uso de medicamentos. ❖ História Fisiológica ❖ História Pessoal • Infância: personalidade, socialização, jogos e brincadeiras, aproveitamento escolar, ansiedade de separação. • Adolescência: desempenho escolar, uso de álcool e drogas, delinquência, relacionamentos interpessoais. • Sexualidade: iniciação, preferência, orientação, número de parceiros, frequência. • Vida Profissional: vocações, estabilidade nos empregos, relacionamento com chefes, subordinados e colegas e desempenho. • Personalidade Pré-mórbida: relacionamentos sociais, interesses, hábitos de lazer e culturais, padrão de humor, agressividade, introversão/extroversão, egoísmo/altruísmo, independência/dependência, atividade/passividade, valores, adaptação ao ambiente. Também pode-se optar por fundir a história pessoal com a HPP, fisiológica e social, nessa categoria. ❖ História Social ❖ História Familiar Doenças psiquiátricas e não-psiquiátricas. Se foi desejado ou não pelos pais, separação, criação, ordem de nascimento e diferenças de idade com os irmãos, relacionamentos, atitude da família diante da doença. Começa no primeiro contato com o paciente e com a observação do examinador durante a anamnese. São descritas apenas as alterações presenciadas durante a entrevista. São apontadas todas as alterações presentes, mesmo que sejam devidas à medicação em uso. Apresentação Geral Aparência Física: quanto à idade e à saúde, presença de deformidades e peculiaridades físicas, modo de vestir-se, cuidados pessoais, expressão facial. psiquiatria: transtornos de humor Igor Mecenas Psicomotricidade: comportamento, atividade motora (hiper ou hipoatividade, tremores, acatisia, estereotipias, maneirismos, tiques), sinais característicos de catatonia (flexibilidade cérea, obediência automática, resistência passiva e ativa, negativismo, estupor/lentificação e catalepsia/imobilidade). Situação da entrevista/interação: local, presença de outros participantes e intercorrências eventuais. Disponibilidade e interesse (cooperação, oposição, tendência a conduzir, indiferença, negativismo). Linguagem e Pensamento Características da fala: espontânea, apenas em resposta, não ocorre (mutismo). Volume da fala, defeito na verbalização (afasia, disartria, gagueira, rouquidão, etc). Progressão da fala: quantidade e velocidade da verbalização (quantitativamente diminuída, fluxo lento ou acelerado, prolixidade) Forma do pensamento: examinar a organização formal do pensamento. Os distúrbios observados são: • Circunstancialidade: objetivo final adiado pela incorporação de detalhes irrelevantes e tediosos. • Tangencialidade: o objetivo da fala não chega a ser atingido ou não é claramente definido. Há fuga do tema e pobreza do conteúdo do pensamento. • Perseveração: repete a mesma resposta a uma variedade de questões. • Fuga de ideias: ocorre na presença de pensamento acelerado, com associações inapropriadas entre os pensamentos, que passam a serem feitas pelo som ou ritmo das palavras (associações ressonantes). • Pensamento incoerente: perda de associação lógica entre partes de uma sentença ou entre sentenças (afrouxamento de associações). Numa forma mais extrema há sequência incompreensível de frases ou palavras (salada de palavras). • Bloqueio de pensamento: interrupção súbita da fala no meio de uma sentença. Quando retoma o discurso, muda de assunto e não faz conexão com a ideação anterior. • Neologismos: cria palavras novas e ininteligíveis, geralmente condensando palavras existentes. • Ecolalia: repetição de palavras ou frases ditas pelo interlocutor. Conteúdo do pensamento: relação dos conceitos emitidos com a realidade • Tema predominante e/ou com características peculiares: ansiosos, depressivos, fóbicos, obsessivos. • Logicidade do pensamento: lógicos ou ilógicos (ideias supervalorizadas e delírios). Os delírios são crenças que refletem uma avaliação falsa da realidade, não são compartilhadas por outros membros do grupo sociocultural do paciente e das quais não pode ser dissuadido por argumentação contrária, lógica e irrefutável. Podem ser primários (inserção e irradiação de pensamento) ou secundários (derivados de outros processos como alucinação). São divididos em sistematizados (único tema, com lógica interna) e não sistematizados (vários temas desorganizados) e podem ser descritos pelo tema predominante: de referência, persecutório, de grandiosidade, somáticos, de culpa, de ciúmes ou de controle. Capacidade de abstração: capacidade de formular conceitos e generalizações. A incapacidade de abstração é referida como pensamento concreto. Deve ser avaliado pela observação de manifestações espontâneas ou pela solicitação de interpretação de provérbios habituais. Senso e Percepção Observar se as sensações/percepções do paciente resultam da estimulação esperada dos órgãos do sentido. Pode-se observar alterações espontâneas, comportamentos sugestivos (conversar consigo mesmo, rir sem motivo, olhar repentinamente em uma direção), ou pode-se perguntar sobre as alterações. As principais são: • Despersonalização: estranhar o corpo ou partes dele, como se não o pertencessem ou fossem irreais. • Desrealização: o ambiente parece estranho ou irreal, as pessoas estão desempenhando papéis. • Ilusão: interpretação perceptual alterada resultante de um estímulo externo real. • Alucinações: percepção sensorial na ausência de estimulação externa do órgão sensorialenvolvido. Podem ser auditivas, visuais, táteis, olfatórias e gustativas. As que ocorrem no estado de sonolência (hipnagógicas) e no estado semiconsciente que precede ao despertar (hipnopômpicas) não são necessariamente patológicas. Afetividade e Humor Avaliação da expressividade, controle e adequação das manifestações de sentimentos (intensidade, duração, flutuação do humor, componentes somáticos). Considera-se o conteúdo verbalizado, tom de voz, expressão facial, postura corporal, maneira como relata experimentar os próprios sentimentos e relato de oscilações de humor. Tonalidade emocional: presença e intensidade de manifestações de ansiedade, pânico, tristeza, depressão, apatia, hostilidade, raiva, euforia, elação, exaltação, desconfiança, ambivalência, perplexidade, indiferença, embotamento afetivo. Modulação: controle sobre os afetos (hipo/hipermodulação, labilidade afetiva). Associação pensamento/afeto: nível de associação/dissociação e a adequação das manifestações. Equivalentes orgânicos: alterações de apetite, peso, sono e libido. Atenção e Concentração Capacidade de focalizar e manter a atenção em uma atividade frente a estímulos externos ou internos. Pode-se propor tarefas simples como dizer os dias da semana e os meses do ano em uma ordem proposta, realizar cálculos simples • Manutenção prejudicada: dificuldade de manter a atenção focalizada sobre os estímulos mais relevantes, desviando para os estímulos irrelevantes. Necessita de intervenções. • Focalização prejudicada: dificuldade de focalizar e não atende às intervenções do entrevistador. • Desatenção seletiva: frente a temas que geram ansiedade. Memória Avaliada durante a entrevista ou por testes específicos. Deve-se avaliar as memórias remota, recente e imediata. Orientação Autopsíquica: reconhecimento de si (nome, pessoas do meio imediato, quem é o entrevistador) Alopsíquica: orientação no tempo e no espaço. Consciência • Consciência plena • Sonolência: lentificação geral, dorme se na ausência se estimulação. • Obnubilação: diminuição do nível de vigília acompanhado de dificuldade em focalizar a atenção e manter um pensamento ou comportamento objetivo. • Delirium: diminuição do nível de vigília, acompanhado de alterações cognitivas (desorientação, déficits de memória) ou perceptuais (ilusões e alucinações). • Estado crepuscular: estreitamento da consciência, podendo manter comportamentos motores relativamente organizados. Predomina em estados epilépticos. • Estupor: mutismo e sem movimentos, com preservação relativa da consciência. • Coma Capacidade Intelectual Envolve ume estimativa do nível de desempenho intelectual esperado, em função da escolaridade e do nível sociocultural. Observar o vocabulário, sua propriedade, nível de complexidade e capacidade de articular conceitos, de abstrair e generalizar. Prejuízo intelectual: complementar com perguntas de assuntos gerais (quem é o presidente?), resolução de problemas aritméticos (troco em situação de compra e venda) Deterioração: prejuízo no funcionamento intelectual. Juízo crítico da realidade Observar durante a obtenção da história. Verificar se as ações são determinadas por uma avaliação coerente da realidade ou se são determinadas por delírios ou alucinações. O termo depressão pode ser usado de múltiplas maneiras, se referindo a: • Um estado de humor indicado por sentimentos (tristeza, desespero, ansiedade, vazio, desencorajamento ou desesperança), não ter sentimentos ou aparência chorosa. Pode ser normal e por vezes uma resposta adaptativa à perda, desapontamento e falha ou ser sintoma de uma síndrome psicopatológica ou outra desordem médica. • Uma síndrome (constelação de sinais e sintomas) que pode incluir o humor deprimido. São tipicamente encontradas como depressão maior, menor ou distimia. • Uma desordem mental que é uma condição clínica distinta. A síndrome da depressão maior pode ocorrer em várias outras desordens, como depressão maior, transtorno bipolar, esquizofrenia, induzida por substâncias ou medicamentos ou por outra condição médica. A depressão se apresenta como uma das principais causas de incapacitação no mundo, limitando o funcionamento físico, pessoal e social. Estudos estabeleceram correlação entre estado depressivo e piora de quadros clínicos, tais como cardiopatias, diabetes, obesidade e problemas oncológicos e ainda associação significativa entre depressão na maternidade, problemas no desenvolvimento infantil e piora no rendimento escolar, com implicações para o ambiente familiar. Um Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que o número de casos de depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015: são 322 milhões de pessoas em todo o mundo, a maioria mulheres. No Brasil, a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população). Uma pesquisa populacional de 2013 com amostra nacionalmente representativa, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), mostrou que a prevalência de depressão maior é mais significativa entre as mulheres que vivem em áreas urbanas, com níveis educacionais mais baixos e com condições crônicas, como hipertensão e diabetes. Dados da mesma pesquisa evidenciaram inequidades no acesso aos cuidados em saúde mental. Verificou-se que a maioria dos brasileiros com sintomas depressivos clinicamente relevantes (78,8%) não recebia nenhum tipo de tratamento. Em ambulatórios de Atenção Primária, a prevalência de depressão foi estimada em 5% a 10% de todos os pacientes, e apenas um em cem cita a doença como motivo da consulta, e em até 50% das vezes o problema não é detectado pelos profissionais. https://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v67n2/0047-2085- jbpsiq-67-2-0101.pdf Os neurotransmissores monoaminérgicos eram o centro das teorias e da pesquisa, porém o foco tem mudado para distúrbios de sistemas neurocomportamentais, circuitos neurais e mecanismos neurorreguladores mais complexos. Aminas biogênicas Os sistemas monoaminérgicos se originam em pequenos núcleos do tronco encefálico e projetam-se difusamente pelo córtex e sistema límbico. Junto com a acetilcolina, eles exercem efeitos de modulação e integração sobre outras atividades corticais e subcorticais e estão envolvidos na regulação da atividade psicomotora, apetite, sono e, provavelmente, do humor. A alteração da função dos sistemas neurotransmissores podem ocorrer pela mudança de sensibilidade de receptores pré e pós-sinápticos, sem alteração da quantidade do neurotransmissor. • Norepinefrina: Aumento de receptores β 2 pré- sinápticos ou de sua sensibilidade, diminuindo a liberação de nora e serotonina. A down- regulation de receptores β-adrenérgicos com o tratamento clínico demonstra sua importância. • Serotonina: Diminuição da 5-HT cerebral, down-regulation dos receptores 5-HT1A e up- regulation dos 5-HT2 são os achados mais replicados na literatura. A visão atual é de que as alterações no sistema serotoninérgico seriam consequência de um processo de estresse celular em vez de principal etiologia. • Dopamina: Associada aos aspectos de motivação e volição, ativação do córtex pré- frontal e áreas límbicas. Outros neurotransmissores • Acetilcolina: níveis anormais podem causar anormalidade na composição de fosfolipídeos das células. • GABA: redução diminui a inibição das vias ascendentes monoaminérgicas. • Glutamato e Glicina: o excesso de estimulação glutamatérgica pode causar efeitos neurotóxicos. Antagonistas dos receptores NMDA têm efeitos antidepressivos. Segundos mensageiros e cascatas intracelulares Agentes estabilizadores do humor agem sobre as proteínas G ou outros segundos mensageiros. Alterações da regulação hormonal • Hiperatividade do eixo HHA: tem sido descrita em metade dos pacientes deprimidos e pode ser causada pelo estresse crônico, reduzindo a inibição do eixo eaumentando os glicocorticoides no cérebro e periferia. • Disfunção tireoidiana: TSH elevado ou resposta de TSH aumentada à infusão de TRH. • GH: estimulado por norepinefrina e dopamina, inibido pela somatostatina. Há baixa de somatostatina no líquor na depressão e alta na mania. • Prolactina: estimulada pela serotonina e inibida por dopamina. Alterações da neurofisiologia do sono Está associada a aumento nos despertares noturnos, redução no tempo de sono total, aumento do sono REM e da temperatura corporal. Causa diminuição do sono NREM. https://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v67n2/0047-2085-jbpsiq-67-2-0101.pdf https://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v67n2/0047-2085-jbpsiq-67-2-0101.pdf Distúrbios imunológicos Envolvimento de processos inflamatórios e interações imunoneuronais (hipótese das citocinas). Recebe suporte pela alta comorbidade com doenças inflamatórias e pela alta prevalência de sintomas depressivos em indivíduos utilizando imunossupressores como IFN-α. Foram encontrados inúmeros achados demonstrando o aumento dos níveis de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL6, TNF-α) e aumento de radicais livres. Considerações neuroanatômicas Pacientes com transtorno depressivo maior apresentam redução global do volume cerebral, especificamente com reduções no cíngulo anterior, córtex orbitofrontal, hipocampo, putame e caudado, com maior diminuição de volume associada a maior tempo de doença. Também são encontradas anomalias no fluxo sanguíneo cerebral em repouso e metabolismo de glicose em múltiplas áreas do córtex pré-frontal e outras estruturas límbicas. Anormalidades na ativação da amígdala tem sido associadas à severidade da doença e a diminuição de volume pode ocorrer em pacientes não medicados. A herdabilidade foi estimada em 40-50% . Os genes que mais se destacam são Adenil ciclase 3 (ADCY3), galanina (GAL) e o gene que codifica o canal de cálcio de baixa voltagem subtipo alfa (CACNA1C) que é mais consistente com o transtorno bipolar. Tais mutações alteram a excitabilidade celular por permitir um maior influxo celular de cálcio. Acontecimentos de vida e estresse ambiental Eventos de vida estressantes mais frequentemente precedem os primeiros episódios de transtornos do humor, mas não os subsequentes. Fatores de personalidade Nenhum traço ou tipo de personalidade isolado predispõe de forma única. Aqueles com transtornos da personalidade podem ter um risco maior que as com personalidade antissocial ou paranoide. Fatores psicodinâmicos Distúrbios na relação bebê-mãe durante a fase oral (10 a 18 meses) predispõem a vulnerabilidade à depressão. Pode estar ligada a perda real ou imaginada do objeto, introjeção de objetos que partiram e sentimentos de raiva dirigidos contra o self. Teoria cognitiva Resulta de distorções cognitivas específicas presentes nas pessoas predispostas a desenvolvê-la. São elas: autopercepção negativa, tendência a experimentar o mundo como hostil e exigente, expectativa de sofrimento e fracasso para o futuro. Impotência aprendida Associa fenômenos depressivos à experiência de acontecimentos incontroláveis. As explicações causais internas produzem perda de autoestima após eventos externos adversos. O transtorno depressivo maior representa a condição clássica dos transtornos depressivos. É caracterizado por episódios distintos de pelo menos duas semanas de duração envolvendo alterações nítidas no afeto, na cognição e em funções neurovegetativas, e remissões interepisódicas. Os sintomas dos critérios devem estar presentes quase todos os dias para serem considerados presentes, com exceção da alteração do peso e ideação suicida. Critérios Diagnósticos (DSM-V) A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco. Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio depressivo. Ao registrar o nome de um diagnóstico, os termos devem ser listados na seguinte ordem: transtorno depressivo maior, episódio único ou recorrente, especificadores de gravidade/psicótico/remissão, seguidos pelos seguintes especificadores sem código que se aplicam ao episódio atual. Especificar: Com sintomas ansiosos; Com características mistas; Com características melancólicas; Com características atípicas; Com características psicóticas congruentes com o humor; Com características psicóticas incongruentes com o humor; Com catatonia (p. 186). Nota para codificação: Use o código adicional 293.89 (F06.1); Com início no periparto; Com padrão sazonal (somente episódio recorrente). • Afetividade negativa (neurocentrismo). • Experiências adversas na infância e eventos estressantes na vida. • Familiares de primeiro grau tem 2-4x maior risco, principalmente para as formas de início precoce e recorrente. • Outros transtornos maiores. Uso de substâncias, ansiedade e transtorno de personalidade borderline são os mais comuns. • Episódios maníacos com humor irritável ou episódios mistos • Transtorno do humor devido a outra condição médica • Transtorno depressivo ou bipolar induzido por substância/medicamento • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade • Transtorno de adaptação com humor deprimido • Tristeza Costuma-se dividir o tratamento de um episódio depressivo em 3 fases: • Aguda: 6 a 12 semanas. Entre o início do tratamento e a remissão dos sintomas. • Continuação: 4 a 9 meses. Objetiva preservar a remissão do quadro e prevenir recaídas. • Manutenção: 6 a 9 meses ou no mínimo 3 anos para quadros recorrentes. Objetiva evitar a recorrência do episódio e manter o retorno completo ao funcionamento pré-mórbido. Em pacientes que já apresentaram 3 ou mais episódios ao longo da vida (ou 2 em 5 anos) o tratamento pode ser continuado por 5-10 anos ou indefinidamente. IMAO (Tanilcipromina e Moclobemida) A MAO metaboliza as monoaminas, diminuindo seu tempo de ação na fenda sináptica. Não são seletivos: MAO-A e MAO-B. Causa aumento rápido e sustentado de serotonina e nora na fenda sináptica. • Efeito rápido (15 dias) • Mais tóxicos e não devem ser associados com outros AD • Reação do queijo (tiramida): resposta hipertensiva intensa Efeitos adversos: Hipotensão postural, efeitos atropínicos, ganho de peso, estimulação do SNC, hepatotoxicidade e neurotoxicidade ADTs (Imipramina, Amitriptilina, Nortriptilina, Clomipramina) Inibe a recaptação de noradrenalina e serotonina. • Maior latência (4-6 semanas). • A superdosagem leva a cardiotoxicidade. Efeitos adversos: sedação, hipotensão postural, boca seca, visão ambaçada, constipação, confusão e mania. IRSN (Venlafaxina, Desvenlafaxina, Duloxetina) Maior seletividade para serotonina • Latência de 15 dias • Não tem efeito sedativo e tem menor risco cardíaco ISRS (Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina, Citalopram,Escitalopram, Sertralina) • Eficácia e tempo semelhantes aos ADTs • Sem reação alimentar • Menor toxicidade Efeitos adversos: náusea, insônia, disfunção sexual, anorgasmia, diarreia. Psicorterapia Cognitivo-comporta- mental As estratégias são: • Educação sobre o transtorno e a terapia • Definição de problemas e objetivos • Técnicas cognitivas e comportamentais • Utilização de tarefas de casa entre as consultas • Utilização de escalas e diários para monitorar comportamentos, pensamentos, sentimentos, atividades e sintomas • Orientação da família a respeito do tratamento O intuito do terapeuta cognitivo é, principalmente, auxiliar o cliente a identificar e a corrigir as distorções cognitivas e os pensamentos automáticos disfuncionais, ajudando-o a pensar e a agir de modo mais realista e adaptado sobre seus problemas psicológicos. Psicoterapia Interpessoal Objetiva que o paciente mude, e não apenas que entenda sua situação de vida. O transtorno bipolar e os transtornos relacionados são reconhecidos no DSM-5 como uma ponte entre as classes de transtornos do espectro da esquizofrenia/psicóticos e as de transtornos depressivos. Segundo dados da OMS, o transtorno afetivo bipolar atinge atualmente cerca de 140 milhões* de pessoas no mundo e é considerada uma das principais causas de incapacidade. https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30- 3-dia-mundial-do-transtorno- bipolar#:~:text=Segundo%20dados%20da%20Organi zação%20Mundial,das%20principais%20causas%20 de%20incapacidade Estimativas da OMS apontam que o TB atinge aproximadamente 30 milhões* de pessoas em todo o mundo, estando entre as maiores causas de incapacidade. Taxas de prevalência ao longo da vida: TB-I: 0,6%; TB-II: 0,4%; TB-subsindrômico: 1,4%; Espectro Bipolar: 2,4%. Taxas de prevalência anual: TB-I: 0,4%; TB-II: 0,3%; TB-sub: 0,8%; EB: 1,5%. No Brasil, mais especificamente na cidade de São Paulo, a taxa encontrada de prevalência do TB (sem diferenciar os subtipos) ao longo da vida foi de 1% e a prevalência anual foi de 0,5%. Homens: maior prevalência de TB-I e TB-sub Mulheres: mais TB-II Não foram encontradas diferenças significativas ao se correlacionar o EB com o estado civil, a ocupação e a renda familiar. Um estudo mostrou também que o risco de se desenvolver o TB é maior em adultos jovens, em que pelo menos metade dos casos se iniciam antes dos 25 anos de idade. Comorbidades associadas: 76,5% das pessoas que se encaixam no EB também apresentaram outros transtornos ao longo da vida: os transtornos de ansiedade (62,9%), os transtornos comportamentais (44,8%) e os transtornos relacionados ao abuso de substâncias (36,6%). http://revista.fmrp.usp.br/2017/vol50-Supl-1/SIMP8- Transtorno-Bipolar.pdf Alterações Neuroquímicas • Dopamina: muitos estudos sugerem que tenha papel fundamental por estar aumentada durante episódios de mania. A administração de d-anfetamina que aumenta os níveis de dipamina induz sintomas semelhantes à mania em indivíduos saudáveis e induz episódios maníacos em bipolares. • Glutamato: níveis aumentados no córtex pré- frontal. • Noradrenalina: níveis aumentados comparando com os pacientes em depressão. • Serotonina: níveis reduzidos de seu principal metabólico foram descritos especialmente nos que apresentam impulsividade, agressão e tentativas de suicídio. Resiliência celular e plasticidade Resiliência e morte celular Redução de massa cinzenta no córtex pré-frontal dorsolateral e alargamento dos ventrículos laterais, provavelmente pela diminuição de conectividade entre os neurônios. Estudos têm sugerido que a fisiopatologia do TAB envolve prejuízos na resiliência celular (habilidade de se adaptar e sobreviver a danos). Pacientes com TAB https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar https://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/2919-30-3-dia-mundial-do-transtorno-bipolar http://revista.fmrp.usp.br/2017/vol50-Supl-1/SIMP8-Transtorno-Bipolar.pdf http://revista.fmrp.usp.br/2017/vol50-Supl-1/SIMP8-Transtorno-Bipolar.pdf apresentam níveis diminuídos de N-acetil-aspartato no córtex pré-frontal e no hipocampo (prejuízo na arborização dendrítica e nas sinapses); Aumento de apoptose em células periféricas Estresse do retículo endoplasmático Pacientes apresentam alterações na resposta a proteínas mal enoveladas, aumentando a ativação de vias apoptóticas Disfunção mitocondrial e estresse crônico Metabolismo energético debilitado, níveis alterados de cálcio intracelular, alterações nos complexos da cadeia respiratória e regulação diferencial de genes associados com a mitocôndria, assim como alterações no formato e na distribuição. A exposição crônica ao estresse (eixo HHA comprometido) pode estar relacionada às alterações mitocondriais. Alterações sistêmicas Neurotrofinas São proteínas com funções fundamentais na sobrevivência, crescimento e neuroplasticidade. Os níveis séricos de BDNF estão reduzidos em episódios agudos de mania e depressão e foram associados a prejuízos cognitivos e à progressão da doença. Outros estudos sugerem alterações significativas em outras (neurotrofina-4/5, 3, GDNF e NGF). Estresse oxidativo Um marcador de peroxidação lipídica e o dano ao DNA/RNA estão significativamente elevados. A superóxido dismutase também já foi descrita como aumentada especialmente em episódios agudos de mania ou depressão. A atividade da catalase também mostrou-se aumentada. Inflamação Aumento de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-a em todos os estágios). No estágio precoce está aumentada IL-10 (anti-inflamatória). Os critérios para TB-I representam o entendimento moderno do transtorno maníaco-depressivo clássico (psicose afetiva), diferindo por não haver exigência de psicose ou de experiência na vida de um episódio depressivo maior, no entanto a vasta maioria o tem. O TB-II requer um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco durante o curso da vida. Para diagnosticar o TB-I é necessário o preenchimento dos critérios para um episódio maníaco, que pode ser antecedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou depressivos maiores. Episódio Maníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária). B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual. C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas. D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica. Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um episódio maníaco e, portanto,para um diagnóstico de transtorno bipolar tipo I. Episódio Hipomaníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de quatro dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias. B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) persistem, representam uma mudança notável em relação ao comportamento habitual e estão presentes em grau significativo. C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo quando assintomático. D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas. E. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco. F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento). Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela para que 1 ou 2 sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio hipomaníaco nem necessariamente indicativos de uma diátese bipolar. Episódio Depressivo Maior Ver Depressão Maior Para diagnosticar TB-II, é necessário o preenchimento dos critérios para um episódio hipomaníaco atual ou anterior e os critérios para um episódio depressivo maior atual ou anterior. • Foram atendidos os critérios para pelo menos um episódio hipomaníaco • Jamais houve episódio maníaco • A ocorrência do(s) episódio(s) hipomaníaco(s) e depressivo(s) maior(es) não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado. • Os sintomas de depressão ou a imprevisibilidade causada por alternância frequente entre períodos de depressão e hipomania causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outra área importante da vida do indivíduo. • É mais comum em países com renda elevada. • Pessoas separadas/divorciadas/viúvas têm taxas mais altas de TB-I que as casadas ou que nunca casaram. • História familiar é um dos fatores de risco mais fortes (média de 10x maior), aumentando com o grau de parentesco. • Depois de um episódio maníaco com características psicóticas, há maior probabilidade de que os subsequentes também tenham essas características. • No TB-II um padrão de ciclagem rápida está associado a pior prognóstico. O retorno ao nível prévio de funcionamento social é mais provável em indivíduos jovens e com depressão menos grave. • A tentativa de suicídio é semelhante nos tipos, mas letalidade das tentativas pode ser maior na TB-II. • Transtorno depressivo maior • Transtorno ciclotímico • Transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos relacionados • Transtorno de pânico e outros transtornos de ansiedade • Transtornos por uso de substância • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade • Transtornos de personalidade • Outros transtornos bipolares • Terapia interpessoal • Terapia cognitivo-comportamental • Privação do sono • Eletroconvulsiterapia Primeira Linha * O uso de antidepressivos é controverso. Sua eficácia é questionada e suspeita-se que possam piorar a evolução do transtorno, induzir viragem para mania ou ciclagem rápida. Entretanto a associação com estabilizador de humor não está associada à elevação do risco de viragem maníaca. TB-I Monoterapia: lítio, lamotrigina ou quetiapina Associações: antidepressivos (ISRS ou bipropiona) + estabilizador de humor (lítio, valproato ou antipsicótico atípico) TB-II Monoterapia: quetiapina Segunda Linha TB-I Monoterapia: valproato, carbamazepina, olanzapina ou fluoxetina. Associações: lítio ou valproato + sertralina ou venlafaxina ou bupropiona; lítio ou valproato ou antipsicótico atípico + antidepressivo; tratamento atual + lamotrigina ou quetiapina ou modafinil ou ácido etileicosapentacenoico. TB-II Monoterapia: quetiapina, ISRS ou pramipexol O carbonato de lítio (Li 2 CO 3 ) é o composto predominantemente utilizado de forma terapêutica na psiquiatria. Um dos mecanismos de ação intracelular mais conhecido e proposto é a inibição das Inositol Monofosfatases (IMPA1 e 2) e Polifosfatases (INPP1), levando à depleção de mio-inositol e a uma cascata de eventos com ativação da Proteína-quinase C. O lítio estabiliza a proteína que compõe as proteínas G nas subunidades GANZ e Gq/11 e atenua a atividade da adenilil-ciclase. Mais recentemente observou-se que o lítio tem efeitos neuroprotetores e neurotróficos importantes, principalmente pela inibição da enzima glicogênio- sintetase-quinase-3-beta (GSK-3-beta), responsável pela síntese de glicogênio e fosforilação da proteína tau. A proteína tau hiperfosforilada é um dos principais constituintes dos emaranhados neurofibrilares que são um dos constituintes anatomopatológicos da Doença de Alzheimer.