Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Processos Biotecnológicos Professor Dr. João Arthur dos Santos de Oliveira Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira 2022 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2022 Os autores Copyright C Edição 2022 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Per- mitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP O48p Oliveira, João Arthur dos Santos de Processos biotecnológicos / João Arthur dos Santos de Oliveira. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 62 p. : il. Color. 1. Biotecnologia. 3. Alimentos – Biotecnologia. 3. Fermentação. I. Centro Universitário Unifatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23 ed. 660.6 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTOR Professor Dr. João Arthur dos Santos de Oliveira ● Graduado em Ciências Biológicas (Licenciatura Plena) pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR); ● Mestre em Biotecnologia Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá (UEM); Têm experiência nas áreas de Biotecnologia, Biologia Molecular e Bioprocessos atuando principalmente nos seguintes temas: biotecnologia microbiana com ênfase no isolamento e bioprospecção de microrganismos endofíticos e genética de microrganismos. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/3010508643799841 http://lattes.cnpq.br/3010508643799841 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Caro aluno Seja bem-vindo a nossa disciplina de processos biotecnológicos. A biotecnologia e seus processos estão em constante presença em nosso cotidiano, desde a produção dos pães que comemos no café da manhã até a produção de combustível que colocamos em nossos veículos para trabalhar ou passear. Mas, você sabe ou conhece como esses processos acontecem no âmbito industrial? Vamos descobrir ao decorrer desta disciplina! Ficou interessado e quer saber mais? Então vou te contar mais um pouco! Esta apostila está dividida em quatro unidades. Na Unidade I, intitulada “Isolamento, identificação e prospecção de micro-organismos para processos fermentativos”, vamos discutir e conhecer esta etapa primordial para o desenvolvimento de produtos biotecnológicos de origem microbiana, abordando desde o isolamento de fungos e bactérias até os testes iniciais que podem ser realizados para averiguar o potencial biotecnológico das cepas obtidas. Na Unidade II, “Tópicos de Cinética e crescimento celular”, vamos elucidar como ocorre o crescimento adequado dos micro-organismos visando sua prospecção, além de contextualizar como o crescimento destes micróbios podem ser aplicados na indústria nos processos fermentativos. Estes conceitos serão muito importantes para que na Unidade III, “Introdução aos processos fermentativos”, conheçamos quais os principais sistemas de fermentação que são utilizados para se obter produtos dos micro-organismos selecionados. Conhecendo esses sistemas então, na Unidade IV, “Biorreatores”, discutiremos as etapas finais da produção dos produtos de interesse e como garantir sua pureza e reprodutibilidade. Neste sentido, ao final desta disciplina você será capaz de não somente distinguir os tipos de sistemas fermentativos, mas também elencar alguns produtos biotecnológicos obtidos a partir de fungos que bactérias que encontramos em nosso dia-a-dia. Ficou curioso para saber mais? Então vamos nessa, bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos UNIDADE II ................................................................................................... 20 Tópicos de Cinética e Crescimento Celular UNIDADE III .................................................................................................. 35 Introdução aos Processos Fermentativos UNIDADE IV .................................................................................................. 49 Biorreatores 3 Plano de Estudo: ● Diversidade de micro-organismos; ● Técnicas de isolamento e identificação; ● Prospecção biotecnológica. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a diversidade de fungos e bactérias visando processos biotecnológicos; ● Compreender os tipos de cultivo que envolve o isolamento de cepas microbianas; ● Estabelecer a importância da Bioprospecção para processos fermentativos em escala industrial. UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos Professor Dr. João Arthur dos Santos de Oliveira 4UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo a Unidade I. Esta unidade intitulada de “Isolamento, identificação e prospecção de micro- organismos para processos fermentativos”, está dividida em três principais tópicos. Os três tópicos que constituem esta unidade abordam essencialmente o isolamento e a Bioprospecção de microrganismos, tanto fungos e bactérias, em processos biotecnológicos para obtenção de produtos de interesse farmacêutico, agroindustrial e ambiental. Iremos conhecer a respeito da rica diversidade de fungos e bactérias que colonizam diferentes ambientes, dos quais podem ser isolados e estudados em condições de laboratório. Estes estudos são importantes para a avaliação e descoberta de moléculas que possam atuar analogamente aos fármacos sintéticos na área da medicina ou aos defensivos agrícolas na agricultura. Os estudos de Bioprospecção in vitro envolvendo micro-organismos são fundamentais para o estabelecimento de processos fermentativos em larga escala na indústria. Ficou interessado em sabe mais? Então vem comigo! Bons estudos e até logo. 5UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 1. DIVERSIDADE DE MICRO-ORGANISMOS Como sabemos, um ecossistema é formado pela interação de fatores bióticos e abióticos (Figura 1). Enquanto que os fatores abióticos podem ser representados principalmente pelo solo, água e temperatura, os componentes bióticos de um ecossistema correspondem a todos os organismos vivosali presente. A interação entre estes dois fatores pode influenciar positiva ou negativamente na manutenção e diversidade dos organismos que o compõem. FIGURA 1 - ORGANIZAÇÃO DO ECOSSISTEMA QUANTO SEUS COMPONENTES Fonte: O autor (2022). Quando falamos em diversidade no âmbito da biologia podemos nos referir em Diversidade biológica, morfológica e genética. 6UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos A diversidade biológica está relacionada ao número de indivíduos em um determinado local, neste sentido podemos citar, por exemplo, que em uma floresta existe uma diversidade biológica de plantas, animais e microrganismos ali presentes podendo estes pertencerem ou não ao mesmo gênero ou até mesmo espécie. A diversidade genética por sua vez está relacionada ao DNA. Assim, este tipo de diversidade é utilizado para distinguir e analisar indivíduos que pertencem a mesma espécie. A diversidade genética então, é interessante do ponto de vista biológico para o emprego em diversas aplicações biotecnológicas como os processos fermentativos, uma vez que pequenas diferenças entre microrganismos de uma mesma espécie podem conferir a eles características únicas e vantajosas. Estas diferenças genéticas, ou mutações, podem ser ocasionadas pelos fatores abióticos como a radiação ultravioleta dos raios solares no meio ambiente (naturais) ou produzidas em laboratório induzidas pelo homem, processos esses que são conhecidos como melhoramento genético. Ao longo da história da humanidade, os cientistas vêm não somente descobrindo novas cepas microbianas com aplicação nos processos fermentativos industriais, mas também buscando o melhoramento genético das cepas já existentes objetivando o aumento de sua capacidade de produzir determinados produtos. Bactérias e fungos apresentam uma rica diversidade biológica e genética. Estes microrganismos são uma fonte promissora de metabólitos primários e secundários com diversas aplicações biotecnológicas produzidos por meio de diferentes processos fermentativos. Além disso, a diversidade quanto suas morfologias também merecem destaque. Bacilo e cocos são as principais representações quanto ao formato bacteriano, entretanto, estes formatos podem sofrer modificações como a aquisição de flagelos ou formação de estruturas fibrilares ou espiraladas. Já os fungos são organismos formados por estruturas denominadas de hifas que são pequenos filamentos septados (divididos) ou não que podem organizar-se em um emaranhado de hifas denominado de micélio. As principais representações das morfologias bacterianas e fúngicas podem ser observadas na Figura 2. 7UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos FIGURA 2 - MORFOLOGIA BACTERIANA E FÚNGICA Fonte: O autor (2022). A diversidade morfológica destes microrganismos afeta diretamente seu crescimento nos processos fermentativos. Enquanto que as bactérias apresentam um crescimento exponencial em poucas horas, em torno de 48h, os fungos filamentosos normalmente podem demorar de 7 até 21 dias para atingir a fase de crescimento ideal para produção dos produtos de interesse. Alguns exemplos de bactérias cocos e bacilares, além de fungos filamentosos empregados em processos fermentativos em diferentes setores industriais, são exemplificados na tabela abaixo. TABELA 1 - BACTÉRIAS E FUNGOS EMPREGADOS EM PROCESSOS FERMENTATIVOS COM DIFERENTES APLICAÇÕES INDUSTRIAIS Fonte: O autor (2022). FILO ORDEM ESPÉCIE APLICAÇÃO BACTÉRIAS Firmicutes Firmicutes Actinobacteria Actinobacteria Firmicutes Firmicutes Firmicutes Lactobacillales Lactobacillales Streptomycetales Streptomycetales Bacillales Bacillales Bacillales Streptococcus thermophilus Lactobacillus delbrueckii Streptomyces griseus Streptomyces avermitilis Bacillus subtilis Bacillus amyloliquefaciens Bacillus thuringiensis Alimentícia Alimentícia Farmacêutica Farmacêutica Agroindustrial Agroindustrial Agroindustrial FUNGOS Ascomycota Ascomycota Ascomycota Ascomycota Ascomycota Ascomycota Ascomycota Eurotiales Hypocreales Hypocreales Saccharomycetales Eurotiales Eurotiales Eurotiales Penicillium notatum Beauveria bassiana Metarhizium anisopliae Saccharomyces cerevisiae Penicillium roquefortii Aspergillus oryzae Aspergillus terreus Farmacêutica Agroindustrial Agroindustrial Alimentícia Alimentícia Alimentícia Farmacêutica 8UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos É importante salientar que a partir de uma cepa microbiana pode-se obter diferentes produtos, ou seja, de uma determinada espécie de fungo ou bactéria podem ser produzidos metabólitos primários ou secundários que atuem como moléculas antimicrobianas contra patógenos de humanos ou de plantas, enzimas de interesse alimentício e até mesmo esporos que resultarão em inoculantes agrícolas. A capacidade ou não de um microrganismo em produzir um produto de importância industrial está diretamente relacionada com as características presentes em seu DNA, ou seja, se este microrganismo possui os genes para produzir ou expressar a característica de interesse. Estas características podem ser obtidas naturalmente por meio dos ciclos de multiplicação destes organismos, conhecidos como reprodução, ou introduzidas artificial mente em laboratório. Dentre os principais mecanismos relacionados a reprodução dos microrganismos que são fontes de diversidade e variabilidade genética podemos citar: ● Transformação: aquisição e incorporação de material genético exógeno disponíveis no ambiente. O material genético exógeno normalmente é oriundo de células mortas. ● Transdução: é transferência indireta e incorporação de material genético entre duas células mediada por vírus. ● Conjugação: transferência direta de material genético entre duas células. Estes três tipos de reprodução ocorrem principalmente em bactérias. Além destes processos acima, podemos citar também os mecanismos mitóticos e meióticos. Na mitose, uma única célula originará outras duas idênticas, incluindo quanto ao material genético, já na meiose são produzidas células com a metade do material genético da célula mãe. A meiose está relacionada principalmente a formação de gametas, no caso dos fungos são chamados de esporos. Ao contrário da mitose, a meiose pode originar grande variabilidade genética. Aqui, nós estudamos um pouco sobre como a diversidade biológica, morfológica e genética são importantes para se estabelecer um processo biotecnológico. Muitas espécies de fungos e bactérias já foram descritos e estão sendo utilizados em diversos setores da indústria, entretanto, ainda há muitas espécies a serem descobertas e descritas capazes de produzir metabólitos e outros produtos conhecidos ou ainda desconhecidos com potenciais aplicações biotecnológicas de interesse socioeconômico. No próximo tópico vamos conhecer um pouco mais como se dá o processo de isolamento e caracterização destes micro-organismos que futuramente podem ser aplicados em processos biotecnológicos. Até já! 9UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 2. TÉCNICAS DE ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO No tópico 1, discutimos um pouco sobre a diversidade de microrganismos e como ela está relacionada aos processos biotecnológicos, mas, como obter uma cepa microbiana de interesse industrial? Fungos e bactérias são microrganismos quase que onipresentes, ou seja, eles podem ser encontrados em praticamente em todos os locais, até mesmo naqueles localizados em regiões extremas ou não propícios para o desenvolvimento de outras formas de vida, como em regiões vulcânicas ou radioativas. Estes microrganismos podem ser isolados do solo, partes internas (endofíticos) ou externas (epifíticos) de plantas, água, alimentos, animais, ar, entre outros. O primeiropasso então, trata-se da escolha da fonte da qual serão obtidas as cepas, além disso, qual será sua futura aplicação. Você já ouvir falar em biorremediação? Este processo envolve a retirada de substâncias tóxicas do meio ambiente por organismos vivos, principalmente realizada por plantas ou micro-organismos. Vamos imaginar que em uma determinada plantação de soja foram aplicadas grandes quantidades de defensivos químicos e, como sabemos, estes agroquímicos conhecidos popularmente como agrotóxicos possuem grande poder de contaminação do meio ambiente e graves consequências a saúde humana. Se coletássemos amostras do solo ou plantas contaminadas, estes serviriam como a fonte de isolamento das cepas microbianas que poderiam ser aplicadas nos processos biorremediadores das substâncias contaminantes. 10UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos Mas por que escolher este tipo de material? As substâncias ali presentes afetam direta ou indiretamente todos os organismos daquele ecossistema, incluindo a microbiota do solo e das plantas. Assim, os microrganismos ali presentes acabam se adaptando aquelas condições adversas para garantir sua sobrevivência, um mecanismo que chamamos de resistência. Essa característica torna estes microrganismos mais promissores para a remediação destas substâncias em relação a outros pelo seu contato prévio. Contudo, é importante ressaltar que o contato anterior com estas substâncias não é um fator limitante para a escolha do material para o isolamento dos microrganismos, mas os tornam mais interessantes do ponto de vista ecológico. Com o conhecimento do material-alvo então, pode-se iniciar o processo de isolamento. Didaticamente, podemos definir o isolamento de microrganismos como a obtenção de fungos ou bactérias de materiais biológicos ou não em um ambiente estéril e controlado, que muitas vezes são capazes de crescer em meio de cultura apropriado. Nem todas as espécies de microrganismos presentes no ambiente são capazes de crescer em condições de laboratório, uma vez que eles requerem condições nutricionais, ambientais e até mesmo de interação com outros organismos para seu desenvolvimento, condições estas muitas vezes inviáveis de reproduzir em ambientes controlados. Neste sentido, o isolamento de microrganismos pode ser classificado em dois tipos: ● Dependente de cultivo: quando os microrganismos apresentam crescimento em meio de cultura em condições de temperatura, pH, luminosidade e aeração controladas e pré-estabelecidas. ● Independente de cultivo: quando não é possível o cultivo dos micro-organismos em condições de laboratório. Como conhecer então os microrganismos de interesse biotecnológico pelo método independente de cultivo? O conhecimento da comunidade microbiana do material avaliado ocorre por técnicas de metagenômica, ou seja, aquelas ferramentas que abordam análise e sequenciamento do DNA. A partir da extração do DNA total da amostra alvo, pode-se realizar o sequenciamento de regiões específicas do DNA ali presentes, logo estas regiões nucleotídicas podem ser analisadas e confrontadas em bancos de dados identificando assim a qual microrganismos pertence aquela sequência encontrada. Para os métodos dependentes de cultivo, as amostras podem ser submetidas a diferentes técnicas de desinfestação de microrganismos não desejados e semeadura (transferência do material para o meio de cultura). Na Figura 1, é possível verificarmos um esquema que exemplifica o isolamento de micro-organismos de folhas de plantas. 11UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos Após a coleta das folhas, estas são lavadas previamente em água corrente para retirada de contaminantes ou poeira. Em seguida, as folhas são levadas para uma cabine de fluxo laminar (ambiente estéril) para que ocorra a desinfestação de microrganismos não desejados. A desinfestação trata-se do processo de retirada de fungos e bactérias contaminantes por meio da aplicação de soluções adequadas, muitas vezes hipoclorito de sódio (NaoH) e álcool 70%. A concentração dessas substâncias e tempo de lavagem variam do tipo do material biológico. Após a aplicação das soluções de limpeza, lava-se novamente em água para retirada dos resquícios destas substâncias para que elas não interfiram no crescimento microbiano dos microrganismos de interesse. FIGURA 3 - ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS Fonte: O autor (2022). O controle representado na Figura 3 na etapa 6 é realizada para garantir que o material está livre de contaminantes. Caso ocorra qualquer tipo de crescimento microbiano na água utilizada na última lavagem, significa que o material não foi corretamente desinfestado. O material desinfestado então, pode ser fragmentado ou macerado com posterior transferência para meios de culturas adequados, para que ocorra a liberação dos fungos ou bactérias ali presentes. Quando produzido fragmentos do material (Figura 4), os microrganismos crescerão a partir dos fragmentos ali presentes, já por meio da maceração do material, com o rompimento das células vegetais os microrganismos também serão liberados. 12UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos FIGURA 4 - FRAGMENTAÇÃO DO MATERIAL E TRANSFERÊNCIA PARA O MEIO DE CULTURA PARA POSTERIOR CRESCIMENTO MICROBIANO. O TAMANHO DOS FRAGMENTOS PODE VARIAR DE 1 A 7 MM2. QUANTO MENOR O TAMANHO DOS FRAGMENTOS, MAIOR PODERÁ SER A DIVERSIDADE DO MICRO-ORGANISMOS ISOLADOS Fonte: O autor (2022). A nível de exemplo utilizamos o isolamento a partir de folhas de plantas, entretanto, esta técnica pode ser empregada com outros tipos de materiais biológicos e, consequentemente, sua adaptação ao material alvo. O crescimento microbiano pode variar entre 24-48h para bactérias e 5-7 dias para fungos. Após o isolamento, estes microrganismos precisam ser identificados! Até meados de 1990, empregava-se muito as técnicas clássicas de identificação, que utilizavam a coloração das estruturas dos fungos e bactérias e consequente visualização em microscópio. Contudo, este tipo de identificação muitas vezes não fornecia informações suficientes para distinguir as cepas em nível de espécie, havendo uma identificação apenas em nível taxonômico de gênero. Com o avanço das técnicas de biologia molecular como o sequenciamento de DNA a partir dos anos 2000, principalmente com o sequenciamento de nova geração, houve uma maior possibilidade de diferenciação a nível de espécie dos microrganismos isolados. Para o sequenciamento do DNA, é necessário a obtenção do material genético por meio da extração. A Quadro 1 apresenta as principais etapas da extração do DNA e posterior aplicação na identificação dos micro-organismos isolados. 13UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos QUADRO 1 - ETAPAS DA EXTRAÇÃO E ANÁLISE DO DNA PARA A IDENTIFICAÇÃO Fonte: O autor (2022). Além da identificação genética das cepas microbianas isoladas, também é possível realizar o sequenciamento e identificação de genes específicos relacionados a processos biotecnológicos de interesse. Alguns exemplos que podemos citar podem ser genes relacionados a produção de metabólitos com atividade de interesse farmacêutico (antimicrobiano, antioxidante, antitumoral, entre outras), genes para produção de enzimas ou hormônios vegetais e até mesmos regiões responsáveis por processos de biorremediação. Neste tópico nós estudamos um pouco sobre a importância de conhecer o material biológico alvo para o isolamento de microrganismos de interesse que serão aplicados em processos biotecnológicos. Além disso, conhecemos as técnicas de isolamento dependentes e independentes de cultivo e as formas de análise molecular dos isolados e a importância desses processos para sua futura aplicação.Agora, no tópico 3, vamos discutir e conhecer como ocorre a seleção e prospecção biotecnológica desses micro-organismos para em seguida, sua utilização em escala industrial. Vem comigo! LISE CELULAR Visa o rompimento das células para a liberação do material genético do interior celular para o ambiente. Em bactérias pode-se aplicar o rompimento celular por meio da agitação, já em fungos, por apresentarem paredes celulares mais resistentes, faz-se necessário o congelamento e maceração em nitrogênio líquido para a liberação do material genético. PURIFICAÇÃO Após a lise da célula e liberação do material genético, são empregadas substâncias para purificar o DNA, ou seja, eliminar moléculas não desejadas como RNA ou proteínas que podem dificultar as análises moleculares por não serem as moléculas alvo. Durante este processo emprega-se Fenol e clorofórmio para a retiradas dessas moléculas não-alvo. SUSPENSÃO Após a purificação, são adicionadas soluções de álcool absoluto ou 70% para suspensão do DNA. O pellet (aglomerado) de DNA é formado após o processo de centrifugação. ANÁLISE MOLECULAR Com o DNA obtido, são realizadas amplificação (cópias) de regiões específicas do DNA (genes). Estas cópias produzidas por PCR (reação em cadeia da Polimerase) são sequenciadas possibilitando análises de filogenia para a identificação do micror- ganismo alvo. Pode se empregar um ou mais genes para essa identificação. 14UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 3. PROSPECÇÃO BIOTECNOLÓGICA Você já ouviu falar em prospecção ou Bioprospecção? A Bioprospecção é um conceito aplicado a ação de explorar previamente in vitro organismos vivos, como micro- organismos e plantas, em processos de interesse industrial e/ou socioeconômico. Dentre essas áreas temáticas de interesse, podemos destacar: ● Médico-farmacêutica: estudo e produção de moléculas produzidas por meio do metabolismo primário ou secundário com atividade contra patógenos de humanos, antioxidante, antiproliferativa contra células tumorais, leishimanicida, antiparasitária, entre outras. ● Industrial: produção de enzimas de interesse alimentício, cosmético ou aplicação em processos fermentativos como a produção de etanol, cervejas e derivados. Ocorre principalmente em grande escala em biorreatores. ● Agroindustrial: desenvolvimento de inoculantes agrícolas ou produtos biológicos que auxiliem na promoção do crescimento vegetal por meio da produção de hormônios e solubilização de sais minerais ou no controle de fitopatógenos e insetos-praga atuando como controladores biológicos. ● Ambiental: está relacionado principalmente aos processos de biorremediação de áreas contaminadas com substâncias xenobióticas e recalcitrantes como corantes têxteis, agrotóxicos, petróleo e derivados e até mesmo material radioativo (radionuclídeos). 15UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos A Bioprospecção é importante pois ocorre na primeira etapa dos estudos para determinar a eficiência e atividade das cepas microbianas antes de sua produção em escala industrial. A maioria dos ensaios de prospecção são realizadas de forma in vitro e, normalmente, aqueles microrganismos que se destacam podem ser reavaliados em condições in vivo em pequena escala ou até mesmo simulando os processos fermentativos em reatores de bancada. Vamos conhecer um pouco mais sobre alguns testes de Bioprospecção que podem envolver processos fermentativos? Para aquelas que empregam os metabólitos produzidos pelos micro-organismos, principalmente a médico-farmacêutica e agroindustrial, ocorre inicialmente uma seleção prévia das cepas microbianas por meio de ensaios antibacterianos e antagonísticos contra os patógenos de interesse, para verificar se ocorre a produção de possíveis metabólitos antifúngicos ou antibacterianos. Na Figura 5, podemos observar como é realizado o teste de antagonismo. O objetivo deste ensaio é cultivar os dois microrganismos juntos, cepa de interesse e patógeno, para estudar suas interações competitivas. Para a produção de moléculas antimicrobianas, seleciona-se aquela cepa capaz de inibir o crescimento do patógeno a distância, ou seja, ao serem cultivados juntos a cepa de interesse é capaz de produzir metabólitos que impedem o crescimento do patógeno, sendo evidenciado por um espaço entre o crescimento entre os dois micro-organismos, como pode ser observado na Figura 5 letra B. FIGURA 5 - ENSAIO DE ANTAGONISMO PARA VERIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MOLÉCULAS ANTIMICROBIANAS Fonte: O autor (2022). 16UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos Tipos de interações competitivas: bloqueio por contato (A), bloqueio a distância (B), bloqueio por contato pela cepa de interesse (C) e bloqueio por contato pelo patógeno (D). Após a verificação da possível produção das moléculas bioativas pelo micro- organismo de interesse, ocorre a produção dos metabólitos secundários em meios de cultura líquidos entre 15-21 dias. Estes metabólitos presentes no meio fermentado então são extraídos empregando diferentes solventes orgânicos e posteriormente são caracterizados e purificados quimicamente para uma melhor elucidação dos seus mecanismos de ação sobre os patógenos-alvos. Este processo de fermentação de bancada é importante para se conhecer a cinética de crescimento dos microrganismos e em qual das etapas desse crescimento podem estar sendo produzidos as moléculas de interesse. Além da produção de metabólitos, os processos fermentativos empregando micro-organismos também poder ser utilizados para produção de hormônios vegetais que poderão atuar auxiliando no crescimento vegetal, e também para a produção de enzimas de interesse. Abaixo, a Figura 6 apresenta um esquema simplificado de como ocorro o processo fermentativo in vitro para produção de um hormônio vegetal. FIGURA 6 - PRODUÇÃO IN VITRO DE HORMÔNIOS VEGETAIS Fonte: O autor (2022). Nesta perspectiva, a Bioprospecção ou prospecção biológica de microrganismos, subsidia futuros processos biotecnológicos dentre os quais se destacam aqueles que serão desenvolvidos em escala industrial em biorreatores. Conhecendo então a importância do Isolamento, identificação e prospecção de micro-organismos para processos fermentativos, nas próximas unidades vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre a Cinética e crescimento celular (Unidade II) antes elucidar os tipos de processos fermentativos (Unidade III) e como eles ocorrem em biorreatores (Unidade IV). Nos vemos em breve! Bons estudos. 17UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos SAIBA MAIS Atualmente, os microrganismos endofíticos, que são fungos e bactérias que vivem no interior dos tecidos das plantas sem causar doenças, estão sendo muito estudados visando processos ou produtos biotecnológicos uma vez que este grupo de microrganismos são excelentes produtos de metabólitos secundários bioativos, enzimas e hormônios vegetais. Fonte: O Autor (2022). REFLITA Pamphile et al. (2018) colocam que a identificação de microrganismos como fungos e bactérias de interesse biotecnológico é de suma importância para o desenvolvimento de um produto ou processo de interesse para a sociedade. Neste sentido, como podemos diferenciar as cepas microbianas de interesse biotecnológico? Fonte: PAMPHILE, J.A.; BERNARDI-WENZEL, J.; BALTAZAR, J.M. Tópicos da diversidade de fungos e bactérias: bases da taxonomia clássica. In: AZEVEDO, J.L.; PAMPHILE, J.A.; QUECINE-VERDI, M.C.; LACAVA, P.T. (Orgs). Biotecnologia microbiana ambiental. EDUEM: Maringá, p. 35-60, 2018. Disponível em: https://www.dmp.ufscar.br/arquivos/biotecnologia-microbiana-ambiental.pdf Acesso em: 10 jun. 2022. https://www.dmp.ufscar.br/arquivos/biotecnologia-microbiana-ambiental.pdf18UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade nós conceituamos e conhecemos as definições de diversidade microbiana e como os tipos de técnicas de identificação dos microrganismos são importantes não somente para conhecer esta diversidade, mas também, para o desenvolvimento de processos biotecnológicos por meio de estudos de Bioprospecção. Podemos observar que fungos e bactérias podem ser utilizados em diversos processos biotecnológicos em diferentes áreas de interesse da sociedade. Agora que já conhecemos um pouco sobre o processo de isolamento e identificação de uma cepa microbiana de interesse biotecnológico, na próxima unidade vamos discutir sobre os mecanismos de crescimento celular desses microrganismos e como podemos utilizar esses mecanismos para produzir produtos de interesse. Vamos lá? Te vejo em breve! 19UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Biotecnologia Microbiana Ambiental – Capítulos I, II e III Autores: João Lúcio Azevedo; João Alencar Pamphile; Maria Carolina Quecine-Verdi; Paulo Teixeira Lacava (organizadores). Editora: EDUEM. Sinopse: A Biotecnologia tem uma grande importância para o desenvolvimento do Brasil e para o mundo. A sociedade hodierna tem debatido sobre os possíveis impactos ambientais e as formas de se corrigir e evitar problemas ambientais. A biotecnologia, ou seja, o uso de organismos vivos ou parte deles para a obtenção de produtos ou processos que beneficiem a sociedade tem se destacado como uma área de inovação que congrega diferentes matérias como a genética, biologia molecular, genômica e processos industriais. Uma de suas subáreas, a Biotecnologia Microbiana ou Biotecnologia de Micro-organismos, tem auxiliado o desenvolvimento, sobretudo das indústrias alimentícias e farmacêuticas. Como subproduto dos processos industriais, os contaminantes do ar, solo e águas, tem preocupado os governantes de inúmeros países. Os microrganismos possuem um metabolismo secundário extremamente rico e variável, permitindo que os mesmos ocupem os mais diversos nichos, como rios, oceanos, solo, regiões de climas extremos como o Ártico e regiões vulcânicas ativas. Essa dinâmica metabólica muito particular dos microrganismos permite que eles possam ser utilizados em diferentes áreas, desde a agrícola, alimentícia, farmacêutica, ambiental e energética. O desenvolvimento de Novas Plataformas de Sequenciamento do DNA, ou Sequenciamento de Nova Geração, além dos métodos baseados na metodologia de Sanger, em equipamentos automatizados, permitiu o incremento de novas abordagens científicas e tecnológicas, como a Taxonomia Molecular Microbiana baseada no DNA e a Metagenômica Estrutural. Dessa forma, os organizadores da obra reuniram diversos pesquisadores com expertises em tópicos como, por exemplo, a biorremediação de água e afluentes; monitoramento ambiental e prospecção biotecnológica em ambientes marinhos. FILME/VÍDEO Título: Isolamento de microrganismos Ano: 2021. Sinopse: Neste vídeo conheceremos um pouco mais sobre o isolamento de microrganismos, principalmente um exemplo de metodologia para isola-los em laboratório. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=1swwzXaJtzc 20 Plano de Estudo: ● Crescimento microbiano; ● Metabolismo de carboidratos; ● Enzimas. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar como ocorre o crescimento microbiano para bioprocessos; ● Compreender os tipos de metabolismo microbiano e como se aplicam em processos biotecnológicos; ● Estabelecer a importância das enzimas obtidas de microrganismos na indústria. UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular Professor Dr. João Arthur dos Santos de Oliveira 21UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 21UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular INTRODUÇÃO Olá estudante, seja bem-vindo a Unidade II da disciplina de Processos biotecnológicos. Você já imaginou como alguns produtos são obtidos a partir de microrganismos e possuem diferentes aplicações na indústria? Aliás, você conhece ou já ouviu falar em algum produto de origem microbiana? Nesta unidade dividida em três tópicos nós conheceremos os mecanismos de crescimento dos microrganismos e como empregar essas estratégias de crescimento para produção e obtenção de produtos de interesse como metabólitos ou enzimas, além de apresentar como esses produtos de origem microbiana são aplicados na indústria. Os conceitos e definições apresentados nessa unidade serão de suma importância para contextualizar como ocorrem os bioprocessos em escala industrial. Você ficou interessado? Então vamos nessa! Bons estudos. 22UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 22UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular 1. CRESCIMENTO MICROBIANO Todos os organismos vivos, incluindo os vírus que são considerados parasitas intracelulares obrigatórios, apresentam mecanismos de crescimentos ou multiplicação celular. O crescimento microbiano então, pode ser entendido como o aumento do número celular (indivíduos/ massa) em determinada cultura. Todavia, é importante ressaltar que naturalmente as células podem apresentar mecanismos de aumento celular por mecanismos de absorção de água ou acumulo de fontes de energia, assim, esses mecanismos não são considerados formas de crescimento celular propriamente dito. Para se determinar o crescimento de uma cultura microbiana então, pode-se realizar a determinação de seu peso (principalmente o peso seco), caracterizar seus constituintes químicos ou empregar técnicas de espectrofotometria. No quadro abaixo podemos observar um resumo sobre cada uma destas formas de medida do crescimento microbiano: QUADRO 1 - FORMAS DE MEDIDAS DO CRESCIMENTO MICROBIANO Fonte: O autor (2022). PESO SECO CONSTITUINTES QUÍMICOS TURBIDIMETRIA Após o crescimento microbiano em meio líquido, ocorre a separação das células por meio de centrifugação. As células separadas então, são secas em estufa e posterior pesadas para aferição do seu peso (normalmente faz-se a diferença entre a pesagem inicial antes da secagem e a pesagem final após a secagem). Aplica-se principalmente em um número pequenos de amostras. A determinação da massa microbiana é realizada por meio da dosagem principalmente das proteínas e/ou ácidos nucléicos que são os dois principais constituintes celulares. Basicamente esta técnica analisa a turvação das culturas microbianas por meio de leituras da absorbância em espectrofotômetro. Para tanto as células precisam estar em meio líquido ou diluídas em soluções adequadas. 23UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 23UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular Além da determinação da massa microbiana pelas técnicas exemplificas no quadro acima, também pode-se determinar o número de indivíduos pela (i) contagem total células em microscópio utilizando espalhamento em lâmina ou câmaras de contagem (como a câmara de Neubauer) ou (ii) por meio da contagem das unidades formadoras de colônia (UFC) empregando a diluição e espalhamento das células em meios de cultura sólidos. Mas qual a diferença entre a determinação do número de organismos presentes empregando as técnicas (i) e (ii)? Enquanto que na contagem das unidades formadoras de colônias considera-se apenas as células viáveis, ou seja, vivas, na contagem total de células não há distinção das células viáveis e não-viáveis. Em uma cultura, principalmente em bactérias e algumas leveduras, estes microrganismos apresentam algumas fases de crescimento. Estas fases comumente envolvem etapas de multiplicação do número de indivíduos, equilíbrio e morte celular.Didaticamente, a Figura 1 nos apresenta as quatro fases do crescimento microbiano. FIGURA 1 - CRESCIMENTO MICROBIANO vvvv Fonte: O autor (2022). ● Em 1 nós podemos observar a fase denominada de Lag. Muitas vezes esta fase é compreendida como uma fase de crescimento inicial microbiano, no entanto, não ocorre o crescimento microbiano propriamente dito, mas sim, uma fase de multiplicação da maquinaria genética e metabólica das células. ● A fase Log em 2 ocorre a fase do crescimento microbiano propriamente dito, onde ocorre o aumento do número de células. 24UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 24UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular ● Já em 3 compreendida pela fase Estacionária, há o equilíbrio entre o número do aumento de células e o número de morte celular, e o crescimento microbiano desacelera em comparação a fase Log. ● Na fase de Declínio em 4 o crescimento microbiano cessa, e o número de morte celular é superior ao número de células viáveis. Conhecer essas fases de crescimento é importante quando se deseja obter um produto ou processo biotecnológico, uma vez que muitos microrganismos produzem metabólitos ou enzimas de interesse em determinadas fases, além de que, as condições ideais de crescimento que compreendem cada fase serão reproduzidas em grande escala em biorreatores. Não somente conhecer as etapas do crescimento é importante, mas também os fatores que influenciam o crescimento nestas etapas. Dentre os principais fatores podemos exemplificar a temperatura, pH, concentração de oxigênio, agitação e concentração dos nutrientes. No próximo tópico vamos conhecer um pouco mais sobre esses fatores, principalmente aqueles relacionados com as vias metabólicas de carboidratos e oxigênio. Vamos lá?! Te vejo em breve então! 25UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 25UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular 2. METABOLISMO DE CARBOIDRATOS Todas as células precisam de energia para garantir seu funcionamento. Essa energia necessária para garantir a atividade celular é chamada de ATP (Adenosina Trifosfato). A “energia” é resultante da hidrose da molécula de ATP em ADP (Adenosina difosfato) durante as reações metabólicas. FIGURA 2 - MOLÉCULA DE ATP (ADENOSINA TRIFOSFATO) 26UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 26UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular A produção dessas moléculas precursoras de energia (ATP) é resultante das vias metabólicas principalmente de carboidratos, mas na falta deles, lipídeos, proteínas e até mesmo os ácidos nucléicos podem ser utilizados. Esse processo pode ocorrer basicamente de duas formas: ● Aeróbica: na presença de oxigênio. ● Anaeróbica: na ausência de oxigênio. A principal via metabólica para carboidratos trata-se da via glicolítica ou glicólise. Em resumo, essa via trata-se da quebra de uma molécula de carboidrato complexo em moléculas de carboidrato menos (glicose) que gerará energia. Por tratar-se de reações bioquímicas detalhadas e complexas, a Figura 2 resumo os acontecimentos da glicólise de acordo com ALTERTHUM (2020): ● Quebra do carboidrato: como mencionado anteriormente, esta fase compreende a quebra de um carboidrato complexo, também conhecidos como polissacarídeos, em glicose (carboidrato simples/ monossacarídeos). FIGURA 3 - METABOLISMO DE CARBOIDRATOS: GLICÓLISE Fonte: Adaptado de Alterthum (2020). ● Fosforilação da glicose: ocorre a transferência de fosfato para glicose originando glicose-1,6-difosfato. Esta molécula sofre um processo de isomerização originando frutose-1,6-difosfato. ● Clivagem da glicose fosforilada: por ação de enzimas aldolases, as moléculas de frutose-1,6-difosfato originam moléculas de gliceraldeído-3-fosfato. 27UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 27UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular ● Oxidação: há a oxidação das moléculas originadas na etapa anterior com a formação de moléculas precursoras de ATP, como NAD (nicotinamida-adenina oxidado). ● Formação do piruvato: é a etapa final da glicólise, com a formação de piruvato, uma molécula que pode seguir por outras vias de oxidação. Ao final da glicólise com a formatura do piruvato, a produção de energia celular pode seguir por duas vias: (i) anaeróbica por processos fermentativos ou (ii) aeróbica por meio do ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Dentre os principais processos fermentativos que vêm sendo utilizado pela humanidade por anos estão a fermentação alcoólica e lática como podemos observar na Figura 4. Em ambas fermentações, as moléculas de piruvato resultantes da glicólise originarão moléculas de ATP, no caso da fermentação alcoólica além do ATP produzido também ocorre a produção de álcool e gás carbônico, já na fermentação lática ocorre principalmente a produção de ácido lático. FIGURA 4 - PROCESSOS FERMENTATIVOS APÓS A GLICÓLISE Fonte: O autor (2022). Fungos e leveduras, como Saccharomyces cerevisiae, que são capazes de realizar a fermentação alcóolica são muito empregados principalmente na indústria alimentícia para a produção de bebidas e produtos alcoólicos (como vinhos, cervejas e vinagres) e pães. Já a fermentação lática é aplicada principalmente na produção de queijos e derivados de leite como iogurtes. Dentre os principais microrganismos que realizam esses processos de fermentação lática estão as bactérias das espécies Streptococcus sp. e Lactobacillus sp. 28UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 28UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular Outra etapa importante a ser conhecida além da fermentação, trata-se do ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Esta etapa da produção de energia ocorre na presença de oxigênio, diferentemente das fermentações citadas anteriormente. Durante o ciclo de Krebs ocorrem complexos processos de oxidação das moléculas de piruvato originados na glicólise para a produção de ATP. Conhecer então como o microrganismo alvo cresce e interagem com os nutrientes que são disponibilizados a ele, é de extrema importância quando se deseja a obtenção de um produto final. Sabendo-se por exemplo que a levedura Saccharomyces cerevisiae realiza fermentação na ausência de oxigênio, durante todo o processo é necessário garantir que não ocorra a entrada de oxigênio nas etapas de produção. Neste tópico além de conhecermos como os microrganismos crescem e obtém energia, discutimos também como esses processos são aplicados em bioprocessos para a obtenção de produtos de interesse. Agora, vamos conhecer outro fator importante no que tange os processos biotecnológicos acerca dos microrganismos, as enzimas! Vamos nessa? Até daqui a pouco então! 29UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 29UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular 3. ENZIMAS As enzimas são proteínas especializadas em catalisar processos. Esses processos podem estar relacionados a clivagem (quebra) na produção ou alteração de compostos. As enzimas estão presentes em todos os seres vivos. Estes catalizadores naturais são formados por aminoácidos ligados por ligações peptídicas, e podem ser classificados quanto sua estrutura em: ● Primária: os aminoácidos se organizam de forma linear; ● Secundária: ocorre uma organização de α-hélice ou β-folha; ● Terciária e quaternária: ocorre um arranjo tridimensional e interação entre as organizações dos aminoácidos, podendo ocorrer diferentes formas de estrutura primária, α-hélice e β-folha. FIGURA 5 - ESTRUTURA DAS PROTEÍNAS Fonte: Sagrillo; Dias; Tolentino (2018, p.25). 30UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismospara Processos Fermentativos 30UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular As enzimas obtidas a partir de microrganismos apresentam inúmeras aplicações biotecnológicas, elas podem ser empregadas em diferentes setores da indústria como podemos observar no quadro abaixo: QUADRO 2 - APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS DAS ENZIMAS NA INDÚSTRIA Fonte: O autor (2022). Devido sua ampla utilização, elas podem ser utilizadas de maneira livre ou imobilizada. Uma enzima utilizada de maneira livre é muito instável e perde sua atividade catalítica facilmente por não estarem ligadas a algum substrato ou suporte, em contrapartidas, as enzimas imobilizadas são mais estáveis e podem ser reutilizadas uma vez que apresentam um suporte que não interfere em sua atividade. Mas como saber qual micro-organismo produz uma enzima de interesse? Como mencionado anteriormente, todos os seres vivos possuem enzimas, entretanto, determinadas enzimas são produzidas em condições específicas ou de estresse. Para identificar se uma bactéria ou fungo é capaz de produzir uma enzima que possa ser empregada em um bioprocesso industrial pode-se realizar o cultivo desse microrganismo em meios de cultura específicos para a produção dessas enzimas. Esse meio de cultura pode ser sólido ou líquido. Uma vez que o meio de cultura será pobre em nutrientes, ele necessariamente deve conter um indutor (substrato) para que ao ser inoculado no meio de cultura, o microrganismo síntese as enzimas necessárias para degradar esse substrato que possivelmente será utilizado como fonte para a produção de energia como vimos no tópico anterior. Esse teste em pequena escala se assemelha muito ao que ocorre em larga escala em biorreatores, entretanto, faz-se necessário conhecer e padronizar as condições dessas enzimas pelo microrganismo para que não ocorra erros durante o processo de produção industrial. ENZIMA APLICAÇÃO amilases Comumente empregadas na indústria alimentícia, especialmente na panificação (produção de pães) e alguns tipos de bebidas. Lipases Podem ser utilizadas na produção de determinados queijos e outros laticínios. Pectinases Empregadas especialmente na produção de determinadas cervejas e sucos. Proteases Possuem aplicação na indústria da estética, em especial na produção de cremes. Algumas classes de proteases podem ser utilizadas na indústria têxtil. Lacases Amplamente utilizadas na industrial têxtil para o tratamento do algodão. 31UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 31UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular Alguns substratos comumente empregados para produção de enzimas por microrganismos são: ● Carboximetilcelulase (CMC): utilizado para produção de celulases; ● Amido: utilizado para produção de amilases; ● Leite desnatado: produção de proteases; ● Tween: auxilia na produção de lipases; ● Pectina: induz a produção de pectinases; Industrialmente, o processo de obtenção de enzimas produzidas por microrganismos ocorre em duas etapas: upstream e downstream. Em upstream, trata-se do cultivo do microrganismo no biorreator nas condições de pH, temperatura, aeração e concentração de substrato adequados. Esse processo pode ser realizado de diferentes formas como em substrato sólido, em estado líquido, em bateladas ou continuo. Já em downstream, é a etapa final do processo de produção da enzima desejada, ocorrendo sua remoção e identificação. Bom, neste tópico nós pudemos perceber como os microrganismos são fontes promissoras para produção de enzimas. Na próxima unidade nós vamos elucidar um pouco mais como ocorre o cultivo destes micro-organismos em meios de culturas e como eles são empregados nos processos de fermentação upstream e downstream. Ficou curioso? Então te vejo em breve! 32UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 32UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular SAIBA MAIS As enzimas por serem catalizadores biológicos, recebem o seu nome de acordo com sua atividade. As hidrolases catalisam hidrolises, as transferases realizam a transferência de grupos funcionais, as ligases atuam nas ligações entre compostos. Por isso é comum vermos a terminação “ase”. Fonte: O autor (2022). REFLITA Oliveira (2015) coloca que a produção de cerveja utilizando as leveduras das espécies Saccharomyces sp. ocorre porque esses fungos são capazes de metabolizar os açúcares do mosto pelo processo de fermentação alcoólica. Neste sentido, se fornecêssemos diferentes tipos ou fontes de açúcares, o resultado da fermentação seria diferente? Fonte: O autor (2022). 33UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 33UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final de mais uma unidade. Aqui, nós conhecemos como se dá o crescimento dos microrganismos, especialmente as bactérias, e também a importância de conhecer esses mecanismos de crescimento para serem aplicados em diferentes setores da indústria. Nós vimos também, o metabolismo desses microrganismos durante o seu crescimento, pode ser utilizado como ferramenta para se obter produtos ou processos biotecnológicos como fermentações para produção de bebidas, panificação ou enzimas. Tendo como bases esses conhecimentos já adquiridos, nas próximas unidades nós vamos elucidar como ocorrem os bioprocessos em escala industrial utilizando os biorreatores e também como isolar e identificar os produtos obtidos por meio desse processo. Vamos nessa te vejo em breve! 34UNIDADE I Isolamento, Identificação e Prospecção de Micro-Organismos para Processos Fermentativos 34UNIDADE II Tópicos de Cinética e Crescimento Celular MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Processos Biotecnológicos Industriais - Produção de Bens de Consumo com o uso de Fungos e Bactérias Autor: Vanessa da Gama Oliveira. Editora: Saraiva. Sinopse: Este livro tem por objetivo apresentar, de forma simples e didática, os fundamentos dos processos biotecnológicos industriais. Além disso, são apresentados os processos produtivos mais comuns das indústrias alimentícia e de combustíveis que utilizam a biotecnologia como forma de produção. O primeiro capítulo apresenta as bases dos processos biotecnológicos industriais. O segundo capítulo descreve o processo de produção de etanol, enquanto os Capítulos 3, 4 e 5 descrevem a produção de bebidas destiladas e fermentadas. O Capitulo 6 é sobre a obtenção de vinagres, e o Capitulo 7 trata sobre a fabricação de queijos. O Capítulo 8 deste livro fala sobre a obtenção, por meio da biotecnologia, de alguns medicamentos e solventes. Por fim, o Capitulo 9 descreve a produção de enzimas para uso industrial. FILME/VÍDEO Título: Você sabia que leveduras não servem só para fazer pão? Ano: 2019. Sinopse: Neste vídeo sobre micro-organismos vamos falar um pouco sobre as leveduras. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=lOP2MdoAnT4 35 Plano de Estudo: ● Micro-organismos e meios de cultura; ● Fermentação descontínua; ● Fermentação contínua. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar os meios de culturas para os processos fermentativos; ● Compreender os tipos de fermentações em escala industrial que visam obter produtos biotecnológicos; ● Estabelecer a importância das fermentações descontínua e contínua. UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos Professor Dr. João Arthur dos Santos de Oliveira 36UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos INTRODUÇÃO Olá aluno, seja bem-vindo a mais uma unidade da nossa disciplina. Até aqui nós já vimos a respeito do Isolamento, identificação e prospecção de micro-organismos para processos fermentativos, bem como alguns tópicos de cinética e crescimento celular. Agora vamos aplicar um pouco mais nossos conhecimentos adquiridos até aqui, vamos lá?! Nestaunidade nós vamos conhecer como ocorrem os processos fermentativos. Para isso, esta unidade está dividida em três tópicos que elucidarão a importância dos meios de culturas para o crescimento e aplicação dos micro-organismos de interesse e os dois principais tipos de fermentação industrial, a fermentação descontínua e contínua. Além de suas definições e funcionamento, vamos conhecer algumas vantagens e desvantagens de cada uma. Muito interessante, não é mesmo? Então vamos começar ! Bons estudos! 37UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos 1. MICRO-ORGANISMOS E MEIOS DE CULTURA Como vimos na Unidade II, os micro-organismos possuem mecanismos de crescimento próprios, concomitantemente, para que ocorra seu crescimento adequado são necessários que alguns nutrientes estejam disponíveis. Em condições de laboratório, estes nutrientes são disponibilizados a estes micro- organismos por meio dos chamados meios de cultura, que são soluções líquidas ou solidas estéreis que contém os nutrientes necessários para garantir o crescimento e manutenção do micro-organismo por um determinado período. Esse meio de cultura então deve conter fontes de carbono, nitrogênio, enxofre, fósforos ou outras fontes que o micro-organismo não seja capaz de sintetizar, por isso também dizemos que os meios de cultivo são quimicamente definidos, uma vez que as fontes nutricionais que serão adicionadas durantes a preparação já é bem conhecida. Podemos classificar os meios de cultura em dois grupos principais: ● Meios simples ou mínimos: aqueles que possuem apenas fontes de carbono e alguns sais. Normalmente estes meios são utilizados para testar a capacidade dos micro-organismos em crescer em condições nutricionais restritas, ou quando deseja- se analisar o efeito de um composto sobre o crescimento da bactéria ou fungo. ● Meios complexos ou completos: basicamente possuem a mesma formulação que o meio mínimo, entretanto, são adicionadas mais fontes de aminoácidos, vitaminas e outros elementos traços, por isso são denominados de completos. 38UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos No quadro 1 nós podemos observar a diferença quanto a constituição destes dois principais tipos de meios de cultura: QUADRO 1. COMPARATIVO ENTRE OS MEIOS DE CULTURAS SIMPLES E COMPLEXOS QUANTO SUA CONSTITUIÇÃO Fonte: Adaptado de Tortora, Funke & Case (2017). Além de permitirem o crescimento dos micro-organismos, os meios de cultura também são utilizados para caracterizar suas atividades biotecnológicas. Empregando como base o meio simples, ou em alguns casos o meio complexo, uma suplementação pode ser realizada visando a produção de compostos ou produtos de interesse como as enzimas, como nós já mencionamos na Unidade II no tópico 3. Um ponto importante a respeito dessas soluções microbiológicas trata-se de sua esterilidade. A esterilização de um meio de cultura é realizada empregando autoclave, um equipamento semelhante a uma panela de pressão grande que em condições de pressão de alta temperatura eliminam os contaminantes ali presentes. Esta esterilização é necessária para garantir a repetibilidade dos processos e também para garantir que o produto final que está sendo obtido é oriundo do micro-organismo desejado e não de outros que possam contaminar o ambiente de crescimento. Estas contaminações são comuns, uma vez que estes meios de cultura são ricos em nutrientes e na maioria das vezes possibilitam o crescimento de qualquer espécie de fungo ou bactéria. Também é importante ressaltar que o mesmo meio utilizado em pequena escala para a realização dos testes de triagem de atividade biotecnológica ou em fermentação de bancada, são utilizados em grande escala nos biorreatores. Por isso muitas vezes, podem ser realizadas adaptações nesse meio tornando-o mais seletivo para o micro-organismo alvo. Para evitar contaminações, pode-se acrescer alguns fungicidas ou antibióticos comerciais para se evitar o crescimento de fungos e bactérias indesejadas. Mas preste atenção! Meio simples Meio complexo Fonte de carbono: glicose Sais: NH4Cl, K2HPO4, KH2PO4, MgSO4, NH4H2PO4, NaCl. Outros componentes: ágar, água. Fonte de carbono: glicose. Sais: NH4Cl, K2HPO4, KH2PO4, MgSO4, NaCl Aminoácidos: Alanina, arginina, cisteína, fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, prolina, triptofano, valina. Vitaminas: ácido nicotínico, biotina, piridoxamina, piridoxina, riboflavina, tiamina. Elementos traços: Fe, Co, Mn, Zn, Cu, Ni, Mo. Outros componentes: peptona, extrato de carne, ágar, água. 39UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos Se estivermos cultivando bactérias devemos adicionar ao meio de cultura o fungicida uma vez que queremos o crescimento de bactérias e não fungos, e quando desejamos o crescimento de fungos suplementa-se o meio com antibióticos. O esquema apresentado na Figura 1 apresenta de uma forma geral a aplicação dos meios de cultura no cultivo de micro-organismos. FIGURA 1: MEIOS DE CULTURA PRA O CULTIVO DE MICRO-ORGANISMOS. MEIO SÓLIDO OU LÍQUIDO Fonte: O autor (2022). Agora que conhecemos a importância dos meios de cultura para o crescimento e prospecção de micro-organismos, nos próximos tópicos vamos conhecer e discutir como ocorre a obtenção de produtos biotecnológicos por meio das fermentações descontínua e contínua. Vamos lá? Te vejo em breve. 40UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos 2. FERMENTAÇÃO DESCONTÍNUA Também conhecida como fermentação em batelada, é caracterizada pelo início e fim do processo de fermentação nos biorreatores bem definidos. Ocorre em 3 princípios básicos: ● Preparação do inóculo: esta etapa ocorre em laboratório e trata-se a etapa inicial do processo. O micro-organismo alvo é cultivado em meio de cultura apropriado para iniciar seu crescimento e, em seguida, preparado para transferência/ inoculação na dorna de fermentação. ● Inoculação do micro-organismo: após seu crescimento prévio e preparação, é a inoculação ou transferência do micro-organismos propriamente dita a dorna de fermentação que contém o mosto (meio de cultura). ● Fermentação: utilizando os nutrientes disponíveis no mosto, o micro-organismo inoculado inicia a produção dos produtos de interesse, sejam eles metabólitos secundários, enzimas ou outros. Após iniciado o processo sob condições ótimas de crescimento (temperatura, pH, pressão, entre outros), nada mais é adicionado ao processo até seu fim. 41UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos FIGURA 2. RESUMO DAS ETAPAS DA FERMENTAÇÃO DESCONTÍNUA Fonte: O autor (2022). Para realização deste tipo de fermentação é necessário um bom conhecimento das fases do crescimento do micro-organismo que está sendo empregado neste processo industrial, uma vez que o substrato que será utilizado durante a fermentação é adicionado de uma vez só na etapa inicial podendo ocasionar perdas ou baixos rendimentos. Além disso, na fermentação descontínua para iniciar-se outro processo fermentativo é necessário esvaziar completamente a dorna, realizar sua lavagem e esterilização. Todo esse processo é necessário para se evitar possíveis contaminação. Uma desvantagem da fermentação descontínua trata-se do “tempo morto de fermentação”, ou seja, um tempo em que o fermentador ou dorna não está em atividade. Entretanto, quando comparado com outros processos fermentativos como a fermentação contínua, por exemplo, apresenta menores riscos de contaminação. Além disso, possibilita um maior controle do micro-organismo utilizado e principalmente dos produtos que estão sendo originados no processo, o que é vital para muitos setores industriais. Este tipo de fermentação descontínua é bastante empregado na indústria alimentícia no processo de produção de: ● Iogurtes ● Cervejas; ● Vinhos; ● Alguns tipos de queijo. 42UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos Além da fermentação descontínua, temos também a fermentaçãodescontínua alimentada e, semelhante a fermentação descontínua, está também segue aquelas etapas fundamentais, entretanto, no decorrer do processo fermentativo podem ser adicionados nutrientes ao fermentador “alimentando” o processo, por isso dá-se o nome de fermentação descontínua alimentada. Além dos nutrientes, mosto (meio de cultura) também pode ser adicionado. Essa alimentação durante o processo pode ocorrer de maneira constante ou variar de acordo com o tempo. Devido a esta flexibilidade durante o processo, pode-se controlar a quantidade de substrato disponível ao micro-organismo estimulando assim a produção de determinados produtos de interesse. Agora que nós vimos um pouco como funciona este tipo de processo fermentativo, vamos conhecer a fermentação continua alimentada e alguns exemplos de aplicações. Vamos nessa?! 43UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos 3. FERMENTAÇÃO CONTÍNUA Diferentemente da fermentação descontínua, o processo de fermentação contínua caracteriza-se por ser alimentado de forma constante durante todo processo, e seu volume dentro do reator também se mantem constante devido a retirada contínua de caldo fermentado à medida que novo mosto é adicionado. Desse modo, nesse sistema, o processo fermentativo pode ocorrer por longos períodos de tempo em estado estacionário. Entretanto, esse processo inicia-se de fato como um processo descontínuo com a adição do micro-organismo no reator e, após um período de fermentação iniciam-se as alimentações e retiradas de caldo fermentado originando o processo contínuo. Este sistema contínuo pode ser de dois tipos principais: ● Contínuo de um único reator: ocorre com apenas um reator, podendo ocorrer sem ou com reciclo de células, ou seja, com reaproveitamento das células microbianas já ali presentes ou com a adição de novas células. 44UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos FIGURA 3: EXEMPLO DE UM SISTEMA CONTÍNUO DE UM ÚNICO ESTÁGIO Fonte: Schimidell (2001). ● Contínuo com múltiplos reatores: pode ocorrer com dois ou mais reatores em série, e semelhantemente ao anterior, pode ocorrer com ou sem reciclo de células e também apresentar mais de uma fonte de alimentação. FIGURA 4: EXEMPLO DE UM SISTEMA EM MÚLTIPLOS ESTÁGIOS Fonte: Schimidell (2001). A manutenção do volume constante no reator ocorre por sistemas de retirada de liquido por transbordamento ou até mesmo bombas de alta vazão na saída. Assim, muitos reatores mais modernos possuem um sistema de controle automatizado de controle de massa do reator que acionam essas bombas quando necessário a alimentação e retirada de caldo fermentado. 45UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos FIGURA 5: ESQUEMA SIMPLIFICADO DE UM PROCESSO DE FERMENTAÇÃO CONTÍNUA Fonte: O autor (2022). A principal vantagem do sistema continuo em relação ao descontínuo trata-se da sua operacionalização em fase estacionária (sem agitação). Todavia, este sistema também apresenta alguns fatores limitantes quando se deseja executa-lo em escala industrial. No Quadro 1 estão apresentadas algumas vantagens e desvantagens do processo de fermentação continuo quando comparamos com o processo descontinuo. QUADRO 2: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA FERMENTAÇÃO CONTÍNUA EM RELAÇÃO A FERMENTAÇÃO DESCONTÍNUA Fonte: Adaptado de: Schimidell (2001). Neste tópico nós vimos um pouco sobre o processo fermentativo continuo e suas vantagens e desvantagens. Assim como outros processos fermentativos, a fermentação continua pode ser utilizada para produzir diferentes tipos de bebidas como cervejas e vinhos, alguns fármacos ou até mesmo no tratamento de efluentes. Na Figura 6 podemos observar as diferentes áreas de aplicação tanto da fermentação continua, como descontínua. Vantagens Desvantagens Sem presença de tempos mortos de fermentação, ocasionando uma maior produtividade (em volume). Necessita de um investimento inicial grande. Fermentação ocorre de forma uniforme. Maiores riscos de contaminações. Metabolismo microbiano e fisiológico uniforme. Dificuldade em mantear a homogeneidade do reator. Menor necessidade de mão de obra. Pode favorecer o surgimento de mutantes microbianos menos produtivos. 46UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos Viram só como os processos fermentativos abordados em escala industrial são muito interessantes?! Além disso, pudemos explorar um pouco mais dos conhecimentos que já discutimos até aqui acerca do crescimento microbiano e meio de cultura e como estes estão relacionados. FIGURA 6: ÁREAS DE APLICAÇÃO DOS PROCESSOS FERMENTATIVOS Fonte: O autor (2022). SAIBA MAIS Os meios diferenciais facilitam a diferenciação das colônias de um micro-organismo desejado em relação a outras colônias crescendo na mesma placa. De maneira similar, culturas puras de micro-organismos têm reações identificáveis com meios diferenciais em tubos ou placas. Fonte: O Autor (2022). REFLITA De acordo com Schimidell (2001) um inóculo é um volume em suspensão de micro- organismos de concentração adequada capaz de garantir, em condições econômicas, a fermentação de um dado volume de mosto. Diante dessa ideia apresentada, a concentração do inoculo microbiano que será utilizado em um determinado processo de fermentação descontínua deverá ser sempre o mesmo? Fonte: Schimidell (2001, p. 194). 47UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos CONSIDERAÇÕES FINAIS Em laboratório, os meios de culturas são as fontes de alimento para que os micro- organismos cresçam e produzam os produtos de interesse, sejam em pequena escala em ensaios em placas de Petri ou em larga escala nas indústrias. Além de conhecer a constituição do meio de cultura e das fases de crescimento do micro-organismo alvo que se deseja obter um produto, também é preciso saber a qual tipo de fermentação que ele será submetido. Tanto a fermentação descontínua e continua podem ser aplicadas em processos de obtenção de produtos biotecnológicos de origem microbiana, no entanto, é necessário avaliar as vantagens e desvantagens de cada uma. Muitas classes de metabólitos secundários com propriedades farmacêuticas, enzimas, produtos alimentícios ou inolculantes agrícolas podem ser obtidos por meio destas fermentações. 48UNIDADE III Introdução aos Processos Fermentativos MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Microbiologia Autor: Gerard J. Tortora, Berdell R. Funke, Christine L. Case. Editora: Artmed. Sinopse: Desde a publicação da 1ª edição, há aproximadamente 30 anos, mais de 1 milhão de estudantes utilizaram o livro Microbiologia em faculdades e universidades em todo o mundo, tornando-o um clássico na área. Esta nova edição mantém as características que tornaram este livro tão bem-sucedido, as quais são empregadas para abordar, de forma mais didática, as novidades deste campo em constante mudança. FILME/VÍDEO Título: Processo químico: continuo vs batelada Ano: 2021. Sinopse: Nessa aula são apresentados os conceitos de processos químicos operando na forma contínua e batelada, assim como exemplos dos mesmos. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=klELUukYsU4 49 Plano de Estudo: ● Classificação dos biorreatores; ● Processos de esterilização; ● Purificação dos produtos metabólicos. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar o uso dos biorreatores com células e enzimas imobilizadas; ● Estabelecer a importância da esterilização para o processo fermentativo; ● Compreender e contextualizar os mecanismos envolvidos na purificação pós-fermentação. UNIDADE IV Biorreatores Professor Dr. João Arthur dos Santos de Oliveira 50UNIDADE IV Biorreatores INTRODUÇÃO Prezado aluno, até agora vimos conceitos importantes sobre os processos fermentativos para obtenção de produtos biotecnológicos de origem microbiana. Para finalizar, nesta unidade nós conheceremos os tipos de biorreatores que são empregados nesses sistemas, bem como as metodologias utilizadaspara garantir a esterilidade durante as etapas da fermentação além da purificação dos produtos obtidos. Nós compreenderemos que a escolha do tipo de biorreator será fundamental para um processo biotecnológico, uma vez que no interior deste equipamento ocorrem as transformações desejadas para se obter o produto alvo. Também vamos elucidar a importância da tomada de decisão com base em conhecimentos técnicos para se evitar perdas ou prejuízos durante os processos fermentativos que serão realizados. Ficou curioso para saber como promover a fermentação utilizando as ferramentas adequadas de um fungo ou bactéria para obtenção de um metabólito, enzima ou outro produto? Então vamos nessa. Bons estudos! 51UNIDADE IV Biorreatores 1. CLASSIFICAÇÃO DOS BIORREATORES Em laboratório, os micro-organismos podem crescer em meios sólidos em placas de Petri ou em meios líquidos em Erlenmeyer, já na indústria, quando estes micróbios estão sendo explorados biotecnologicamente para produzir produtos, utiliza-se reatores ou biorreatores. Um biorreator é um equipamento, normalmente industrial, que permite o crescimento e síntese de materiais biológicos em condições ótimas e controladas. Eles podem ser principalmente de dois tipos: A) Biorreatores de células imobilizadas: utiliza materiais que abrigam as células que serão utilizadas durante o processo de fermentação. B) Biorreatores de enzimas mobilizadas: ao invés de empregar as células microbianas, utiliza-se enzimas que são abrigadas por estruturas físicas determinadas. A imobilização das células se dá por contato com um determinado material, denominado de suporte, sob condições controladas. Para imobilização pode-se empregar células propriamente ditas como vivas ou até mesmo aquelas não vivas, contudo seus sistemas bioquímicos e enzimáticos que serão requeridos para originar o produto final desejado devem estar ativos. Podem ser empregados diferentes tipos de material de suporte para a imobilização de células, de origem natural, sintética ou inorgânica. 52UNIDADE IV Biorreatores No quadro 1 podemos visualizar alguns exemplos dos principais suportes utilizados na imobilização de células de acordo com Pradella (2001): QUADRO 1: MATERIAIS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE MATERIAIS DE SUPORTES PARA IMOBILIZAÇÃO DE CÉLULAS Fonte: Pradella (2001). Além disso, as células podem ser imobilizadas ao suporte por ligações covalentes ou envolvimento. Na ligação covalente os suportes que serão utilizados possuem características químicas que possibilitará sua ligação a célula, todavia, muitos sistemas de imobilização por ligação covalente podem apresentar alta toxicidade quando as células alvo são as vivas. Ao contrário da ligação covalente, os sistemas de imobilização por envolvimento acontecem a imobilização das células por confinamento em uma matriz (gel), ou seja, as células são envolvidas por um gel. Em comparação, a imobilização por envolvimento é menos tóxica e de mais fácil execução quando comparamos com os sistemas de imobilização por ligação covalente. FIGURA 1: EXEMPLO DA TÉCNICA DE IMOBILIZAÇÃO DE CÉLULAS POR ENVOLVIMENTO Fonte: Pradella (2001). ORIGEM NATURAL ORIGEM SINTÉTICA ORIGEM INORGÂNICA Alginato Poliestireno Sílica Agar Poliacrilamida Alumina Pectina Polietileno glicol Vidro Colágeno Poliuretano Diatomita Celulose Polivinila Vermiculita 53UNIDADE IV Biorreatores Como já estudamos anteriormente, na Unidade II – tópico 4, as enzimas são catalisadores biológicos. No que tange os processos fermentativos, as enzimas podem ser utilizadas de forma: ● Intracelulares: enzimas que são produzidas e mantidas no interior das células microbianas. Comumente são aplicadas nos processos industriais por meio de células vivas ou inativadas. ● Extracelulares: são aquelas que são produzidas por micro-organismos e excretadas para o meio onde estão sendo cultivadas. Elas podem ser aplicadas de forma conjunta com as células microbianas ou de forma isolada. De uma maneira geral, as enzimas que são aplicadas nos processos industriais de forma isolada apresentam uma maior produtividade em comparação com a aplicação de células vivas ou não vivas, por exemplo, uma vez que por estes catalisadores biológicos apresentarem uma alta especificidade com o substrato utilizado, e também os contaminantes (restos celulares, metabólitos contaminantes e outros) resultantes no final do processo são quase que inexistentes. De acordo com Vitolo (2001), podemos encontrar quatro principais tipos de reatores enzimáticos, dos quais estão descritos e apresentados no quadro 2: QUADRO 2: TIPOS DE REATORES EMPREGANDO ENZIMAS IMOBILIZADAS Fonte: Vitolo (2001). Todas essas enzimas imobilizadas ou não, podem ser aplicadas em muitos setores econômicos. As amilases na panificação, cervejaria, papelaria; proteases e pectinases na produção de alimentos como queijos ou derivados e sucos. Além disso, tanto os reatores que empregas células imobilizadas como os enzimáticos, atualmente vem apresentando um grande desenvolvimento em relação a sua tecnologia, notadamente no que tange a tecnologia. Muitos deles já são produzidos com microcomputadores acoplados para permitir e facilitar o controle automatizado, permitindo muitas vezes uma alta reprodutibilidade de todos os procedimentos envolvidos no processo de fermentação realizado. BATELADA LEITO FIXO Após o termino do processo de fermentação a enzima utilizada de forma imobilizada pode ser retirada do caldo fermentado resultante por filtração ou decantação. A enzima imobilizada permanece de maneira estacionária devido a um empacotamento, enquanto o substrato flui por ela. AGITADO CONTÍNUO LEITO FLUIDIZADO Entrada e saída continua de mosto ou outros líquidos. Devido a este fluxo continuo de líquidos, as enzimas empregadas podem ser perdidas durante o processo sendo necessário o acoplamento de um sistema para recuperar as mesmas (filtração, por exemplo). A enzima encontra-se de forma suspensa (em suspensão) no interior do reator. A velocidade com que o mosto contendo o substrato é bombeado permite um pequeno movimento no interior do reator, impedindo a aglomeração ou decantação das enzimas. 54UNIDADE IV Biorreatores 2. PROCESSOS DE ESTERILIZAÇÃO Como já vimos anteriormente, tanto o cultivo dos micro-organismos em fase de preparação do inóculo como posteriormente no processo de fermentação no biorreator, um fator primordial que cerca estas etapas trata-se da esterilização do ambiente e materiais. Mas, o que significa esterilizar um determinado material? Do ponto de vista da microbiologia, a esterilização trata-se do processo pela qual busca-se a eliminação de qualquer forma de vida contida naquele material ou ambiente. Vamos imaginar que estamos preparando uma solução de meio de cultura para o crescimento de bactérias que serão aplicadas em um determinado processo de fermentação. O meio será preparado empregando os reagentes do respectivo meio e diluídos em água destilada. Na água utilizada, e até mesmo no ar do laboratório, existem micro-organismos que ocorrem de maneira natural ali, caso eles não sejam eliminados, eles também crescerão no meio de cultura quando incubados. O crescimento destes micro-organismos será uma contaminação, pois eles não são os micro-organismos alvos que se deseja cultivar. Para garantir que estes micróbios não crescem no meio que será utilizado, após seu preparo deve ocorrer a autoclavagem do mesmo. O material quando submetido a autoclave, que analogamente é como se fosse uma panela de pressão gigante, por meio de pressão e alta temperatura, mata todos os micro-organismos ali presente eliminando a possibilidade de contaminações. 55UNIDADE IV Biorreatores A autoclave, no entanto, é apenas um exemplo e tipo de esterilização. Os procedimentos que visam esterilizar podem ser de caráter: A) Físicos: aqueles que utilizam mecanismos físicos para esterilizar. Exemplos:
Compartilhar