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A urologia é o estudo, tratamento e cirurgia das doenças que afetam o retroperitônio, a pelve e o aparelho genital. - anatomia O sistema excretor, também conhecido como sistema urinário, é formado pelos rins, pelos ureteres, pela bexiga urinária e pela uretra, que filtram o sangue e, posteriormente, produzem, transportam, armazenam e eliminam a urina (resíduo líquido) de forma intermitente. • O sistema urinário pode ser dividido em: • Parte superior: se localiza no abdome e é formada pelos rins e por grande parte dos ureteres. • Parte inferior: é formada pelos órgãos pélvicos, que incluem uma curta porção dos ureteres, a bexiga urinária e a uretra. Os órgãos do aparelho geniturinário abrangem todo o retroperitônio, a pelve, região inguinal e a região genital – localizados na parede abdominal posterior. É importante que o cirurgião esteja familiarizado com os órgãos do sistema urológico para evitar lesões iatrogênicas. • Abdome superior e retroperitônio: o Suprarrenal; o Rim: órgão par localizado logo baixo das glândulas suprarrenais. O rim direito situa-se mais abaixo que o rim esquerdo, por causa do fígado; o Ureter: existem dois ureteres. Eles têm início na porção inferior da pelve renal (porção proximal do ureter no rim que é dilatada em forma de funil) e transportam a urina dos rins até a bexiga urinária, conectando essas duas estruturas – é pouco vascularizado: isquemia; Logo abaixo da pelve renal há um estreitamente chamado junção ureteropiélica (que é quando a pelve renal se junta com o ureter – esse é o primeiro lugar onde um cálculo pode parar). Após, o ureter, ao descer, faz uma curva sobre os vasos ilíacos, atravessa o retroperitônio e continua descendo até junção ureterovesical, local onde ele desemboca no meato ureteral, localizado na bexiga. Nos homens, os ureteres são atravessados pelos ductos deferentes quando emergem do anel interno antes de seguirem uma orientação medial em direção à próstata. • Bexiga e próstata: o A bexiga é um órgão retroperitoneal que está localizada na pelve inferior. Quando vazia, a bexiga localiza-se atrás da região pubiana, mas, à medida que a bexiga vai se distendendo, sua face superior se distende para fora da zona pélvica até o abdome inferior anterior. Atrás da bexiga, no homem, temos as vesículas seminais. Atrás da próstata e bexiga temos ao reto no homem. A inervação da bexiga é importante em decorrência da função excretória da bexiga. A inervação simpática da bexiga é feita através do nervo hipogástrico e o fornecimento parassimpático é através da medula espinhal sacral e do nervo pélvico; o Nos pacientes masculinos, o primeiro segmento da uretra está rodeado pela próstata e integrado nesta. A próstata, uma glândula endócrina relacionada com a função reprodutora masculina, está localizada na linha inferior em relação à bexiga e inserida nas fibras circulares do colo da bexiga. Cirurgia urológica Propedêutica cirúrgica 2 O reto situa-se imediatamente posterior à próstata e é separado por uma segunda camada de fáscia de Denonvilliers. A próstata normal, ao ser tocada, é pequena e de consistência levemente sólida (é como se fosse uma massa). No entanto, a hipertrofia da próstata causa ejaculação retrógrada, no qual ela vai para dentro da bexiga, isso porque ela está tão dura que não permite a passagem da urina e do esperma. • Uretra: o A drenagem da urina da bexiga é feita através da uretra, que tem início ao nível do colo vesical, que é um tubo fibromuscular que oferece passagem da urina presente na bexiga vesical até o exterior, no homem grande parte dela também serve como passagem para o líquido seminal. o Nos pacientes masculinos, a uretra segue um caminho tortuoso – isso permite sintomas obstrutivos e de resistência, produzindo sintomas de esvaziamento: jato fraco, força para urinar. Ela se inicia no colo da bexiga, passa por dentro da próstata, pelo diafragma da pelve masculina e vai até a ponta da glande do pênis. É dividida em quatro partes, a uretra intramural, prostática, membranácea e esponjosa. o A uretra feminina é mais regular e reta em comprimento (isso é ruim porque a mulher, durante as diversas gravidezes, desenvolve incontenção urinária já que não tem resistência no meio do caminho) e mede cerca de 4 cm. Além disso, por ser menor, quando comparada com a do homem, tem maior incidência para infecções urinárias em mulheres. INERVAÇÃO, IRRIGAÇÃO E DRENAGEM Cada região do sistema urinário terá um ramo nervoso que vai se concentrar na cadeia celíaca e mesentérica superior, levando as informações de dor e sensibilidade para o cérebro. É por isso que a pessoa tem dor irradiada e dor referida. • Dor localizada: se manifesta no próprio local onde está o estímulo; • Dor irradiada: se manifesta ao longo de um trajeto nervoso de onde está ocorrendo o estímulo. Isto é, é uma dor sentida à distância de sua origem, mas em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação é responsável pela dor. Exemplo: ciatalgia provocada pela compressão de uma raiz nervosa por hérnia de disco lombar. • Dor referida: se manifesta distante do local onde está ocorrendo o estímulo, dentro de uma região correspondente ao mesmo metâmero, visto que ele também recebe sinais de um mesmo dermátomo específico (é uma área da pele em que todos os nervos sensoriais vêm de uma única raiz nervosa). Daí o cérebro interpreta como dor vinda do órgão como se fosse do dermátomo. • Dor projetada: como exemplo podemos citar a dor em um membro já amputado. A cadeia nervosa acompanha a cadeia linfática. A drenagem linfática da pelve se parece muito com a do abdômen: a linfa das vísceras pélvicas chega aos linfonodos ilíacos comuns após passar por outros linfonodos (ilíacos externos, ilíacos internos e sacrais), localizados junto aos grandes vasos sanguíneos pélvicos. Os troncos linfáticos lombares coletam subsequentemente a linfa dos linfonodos ilíacos comuns – a drenagem dos linfonodos vem da cadeia ilíaca. A linfa dos órgãos abdominais chega aos troncos linfáticos lombares (direito e esquerdo) e intestinais, passando pelos linfonodos ao redor dos grandes vasos abdominais. Estes troncos se unem na cisterna do quilo (cisterna chyli), formando o ducto torácico. Este grande vaso linfático se esvazia no sistema circulatório venoso, na junção entre a subclávia esquerda e as veias jugulares internas. A linfa de todos estes linfonodos é subsequentemente transportada aos linfonodos mesentéricos superiores ou celíacos. Propedêutica cirúrgica 3 As artérias renais se originam da artéria aorta. Elas suprem as glândulas suprarrenais, pelve renal, a parte superior dos ureteres e o próprio rim. A drenagem venosa do rim é feita por várias veias que se unem no hilo renal para formar as veias renais. A veia renal direita drena somente sangue do rim, já a veia renal esquerda recebe confluências de outras veias como a veia suprarrenal esquerda (drenagem da glândula suprarrenal), veia frênica inferior esquerda (drenagem do diafragma), veia testicular/ovárica esquerda (drenagem das gônadas) e veia lombar ascendente (drenagem da parede do corpo). A inervação é feita em grande parte pelos plexos celíacos (aortico-renal) e intermesentéricos. • Do plexo celíaco irradiam fibras que acompanham a artéria renal juntamente com os nervos esplâncnicos torácicos e lombares e formam o gânglio renal próximo ao órgão e entra no hilo através do plexo renal; • Do plexo intermesentérico saem os ramos renais e uretéricos superiores que também chegam ao rim pelo plexo renal. É através dos nervos esplâncnicos que fibras aferentes levam a sensibilidade dolorosa para o encéfalo. No caminho até a bexiga, o ureter encontra alguns locais em que pode estar estreito, facilitando a sua obstrução: na junção do ureter com a pelve renal (1), quandocruza a abertura superior da pelve (2) e durante seu trajeto na parede da bexiga (3). A irrigação da bexiga é feita pelas artérias vesicais superiores (parte superior da bexiga) e inferiores (parte inferior da bexiga). No homem ainda está presente a artéria do ducto deferente (base da bexiga) e na mulher a artéria vaginal (parte inferior da bexiga). A drenagem venosa é feita para as veias ilíacas internas. A drenagem linfática é feita para os linfonodos ilíacos e linfonodos sacrais. A principal inervação da bexiga é feita pelo sistema nervoso autônomo parassimpático através dos nervos esplâncnicos pélvicos provenientes do plexo sacral da medula que se conectam aos segmentos S2, S3 e, em menor proporção, com o S4. A inervação simpática ocorre através dos nervos hipogástricos conectados com o seguimento L2 medular e em menor parte com os segmentos de T10 a L1. IRRIGAÇÃO: RESUMO A artéria renal sai direto da aorta. Dessa artéria saem alguns ramos que vão irrigar a pelve renal. Após, o ureter recebe sangue das artérias que vão para as gônadas, artéria gonadal. Além disso, também recebe suprimento de ramos que vem direto da aorta, da ilíaca interna, uterina, vesical superior e inferior, vaginal e retal média. É importante saber quais são os vasos que irrigam por causa de um possível lesão durante uma cirurgia, que permite saber qual o possível órgão afetado e como corrigir o problema. Observação: a nefroureterectomia é uma cirurgia de retirada do rim e ureter. Propedêutica cirúrgica 4 anamnese A propedêutica urológica deve ser feita com: • História do paciente: hipótese diagnóstica e possível tratamento. No entanto, em grande parte dos casos é necessário colher a análise urinária primeiro para poder iniciar o tratamento; • Exame físico: toque vaginal e proctológico; o Inspeção, palpação, percussão (timpânico, semi-sólido – órgão ou cavidade cheia de líquido/ascite/distensão da pelve, toque retal) • Análise urinária; • Procedimentos auxiliares no diagnóstico: exames complementares. Sintomas • Sintomas gerais: febre, perda de peso (muito associada as neoplasias), náuseas e vômitos e dor (a dor é fundamental e o principal sintoma, visto que há dor quando se trata de um quadro infeccioso, por problema de próstata); • Sintomas específicos: dor, hematúria, sintomas do trato urinário inferior, incontinência urinária (perda urinária) e sintomas relacionados a sexualidade (perda de libido, dor durante o ato). LUTS é o conjunto de sintomas relacionados ao controle da urina, como a necessidade de urinar frequentemente, acordar à noite para urinar, urinar com jato fraco e ficar com a sensação de não ter esvaziado completamente a bexiga após a micção. Os sintomas normalmente estão relacionados à perda de função: armazenamento e esvaziamento. • Por armazenamento (dificuldade de armazenar urina): aumento da frequência, noctúria (necessidade de acordar para urinar pelo menos duas vezes por noite), urgência com ou sem incontinência, disúria (dor ao urinar), dor supra- púbica; o Normalmente gera perda de urina. • Por esvaziamento (dificuldade de eliminar urina): jato fraco, hesitação, intermitência, esforço miccional, gotejamento e esvaziamento incompleto. o Normalmente causa distensão baixa (infraumbilicial – própria da bexiga). A distensão alta é mais comum na parte intestinal. - dor renal x uretral O rim ou o ureter pode gerar dor em casos de: • A distensão é causada por uma obstrução: o cálculo ureteral é o quadro mais comum, gerando uma dor em cólica (cólica renal/nefrítica/ureteral); • A inflamação ocorre principalmente em órgãos sólidos: cistite, prostatite, uretrite. A dor pode ser localizada ou referida. É importante diferenciar a dor renal da dor uretral – no rim e na bexiga ocorre mais por inflamação e na uretra ocorre mais por obstrução. Além disso, a dor renal é costovertebral e a uretral pode irradiar para a bolsa escrotal do homem ou grande lábios da mulher Da mesma forma, devemos diferenciar essas dores da dor testicular ou de grandes lábios, no qual suas glândulas também podem tornar-se inflamada. Cálculo do ureter está na parte de cima, mas ele pode referir dor no testículo. - irradiação da dor A cólica renal é uma dor muito intensa que surge repentinamente na região lombar de um dos lados e pode irradiar para abdome, testículos e para vagina. - caso clínico • 1: paciente masculino, 60 anos. o QP: sensação de jato urinário fraco há 1 ano; o HMA: relata jato fraco associado a gotejamento terminal e sensação de esvaziamento incompleto. Nega noctúria. Relata aumento de frequência urinária (12x/dia). Nega disúria; o Antecedentes médicos: DM tipo 2 em uso de insulina há 5 anos. Raciocínio médico: com 60 anos já pode haver hipertrofia prostática e a urina dá a sensação de que a bexiga não foi esvaziada por completo. Além disso, a DM do tipo 2 pode causar problemas de infecção urinária – apesar de não haver disúria. É um quadro e provável hipertrofia prostática. PROJEÇÃO CUTÂNEA DA DOR RENAL EM PONTILHADO E DA DOR URETRAL EM LINHAS Propedêutica cirúrgica 5 • 2: paciente masculino, 20 anos. o QP: sensação de jato fraco há 6 meses; o HMA: jato fraco associado a hesitação há 6 meses, com piora progressiva. Relata sensação de esvaziamento incompleto. Relata disúria importante associada ao quadro. Nega polaciúria ou noctúria. o Antecedentes médicos: queda de moto há 1 ano com trauma perineal. Raciocínio médico: é uma provável lesão uretral no qual o mecanismo de esvaziamento da bexiga tornou-se mais lento. Exame físico - exame bimanual do rim Também é chamado de método de Guyon ou de Devoto. Na palpação do rim direito, a mão esquerda do examinador se posiciona na parte superior da região lombar do paciente, com a extremidade dos dedos no ângulo formado pela última costela, exercendo pressão de média intensidade para cima, enquanto a mão direita deprime pouco a pouco a parede abdominal anterior (hipocôndrio direito e flanco, na linha hemiclavicular), por baixo da reborda costal. É importante tentar avaliar a consistência, superfície e sensibilidade – normalmente eles são de consistência firma, superfície regular e lisa e não doloroso. - sinal de Giordano O sinal de Giordano (punho-percussão) é utilizado na pesquisa de pielonefrite ou litíase renal. Para ser detectado, deve ser realizado uma percussão com a mão em forma de punho no dorso do paciente no nível da 11° e 12° costela, com uma mão realizando o amortecimento (não é obrigatório) – apesar de ser punho-percussão, o correto é ser feito com a mão aberta. LUTS e genitálias O sistema nervoso simpático, parassimpático e autônomo funciona como uma tomada. Quando ligado estimula a bexiga, que é a bomba. A válvula são os esfíncteres e a uretra é o cano. Quando o problema é na válvula ou no cano, os sintomas são de esvaziamento. - como examinar o sistema urinário + LUTS? • Explicar sobre o exame físico: pedir licença, explicar como será feito (se é em pé, em decúbito); • Posicionamento: decúbito dorsal e ortostasia; • Inspeção em decúbito: avaliação abdominal e da região inguinal e genital; • Palpação: de todo abdome – avaliar região hipogástrica em busca de globo vesical palpável. Palpação de massas; o O globo vesical (bexigoma) é uma condição na qual a bexiga fica distendida por acúmulo de urina; pode ser entendida também como retenção urinária. • Inspeção em ortostase: realizar manobras de valsava para avaliar cordão inguinal; • Exame uroneurológico. Propedêutica cirúrgica 6 - exame uroneurológico Como examinar? Colocar o paciente em uma posição confortável e avaliar a sensibilidade dos dermátomos, procurando pelos reflexos cremastérico e bulbocavernoso: • Cremastérico: é a tração superior do testículo por suave toque na face internada coxa (L1-L2) – levantamento do testículo; • Bulbocavernoso: é realizado um estímulo na glande ou clitóris que leva à contração do músculo bulbocavernoso (S2-S4), isto é, contração do esfíncter anal. Ele é testado em pacientes com trauma raquimedular. Quando positivo indica que o paciente já está fora do choque medular. Durante o exame também devemos avaliar o tônus do esfíncter anal com o reflexo de tosse (T6-L1). Esses exames ajudam a determinar o nível da lesão e a pensar em padrões vesicais de funcionamento e sequelas. Um problema de coluna em determinados níveis impede a realização desses reflexos, por exemplo – se o sistema nervoso simpático está funcionando normalmente, a lesão pode ser abaixo de L2. Avaliação da genitália masculina - avaliação da próstata O exame deve ser feito em uma posição confortável – a mais comum é com o paciente em decúbito lateral com flexão do tronco e das pernas, levando o joelho mais próximo do tronco, com o paciente inclinado sobre a maca ou com o paciente em decúbito dorsal. Inicialmente é realizada a inspeção perianal. Após, com lubrificação local, o examinador vai introduzir o dedo indicador no canal anal e analisar a próstata, avaliando o tamanho estimado, consistência, ondulações e preservação do sulco mediano (alterações são indicativas de neoplasias – o maligno tende a acontecer no sulco). Quando o testículo cresce rapidamente, é duro, tem perda dos sulco mediados e é assimétrico: sugestivo de câncer, hiperplasia. • O que se espera encontrar: aspecto liso, consistência fibroelástica (assim como a ponta do nariz), sulco bem delimitado, tamanho considerado como uma polpa digital para cada lado; - avaliação da genitália masculina • Pênis: posição do meato uretral, características do prepúcio e presença de lesões associadas; • Canal inguinal e cordão escrotal: abaulamentos, ingurgitamento e veias varicosas; • Bolsa escrotal: alterações de posicionamento, de pigmentação, cistos, cutâneas e acúmulo de líquido; • Testículos e epidídimo: posicionamento, nódulos e cistos; • Desenvolvimento genital e alterações anatômicas; • Corrimento; • Aparecimento de lesões cutâneas; • Dor e abaulamentos; • Aumento do volume da bolsa escrotal ou testículos; • Pilificação e padrão anatômico habitual; • Presença do ducto deferente; • Glândulas de Tyson (coroa perolada): são glândulas normais e fisiológicas presentes na glande do pênis, elas produzem uma secreção lubrificante para o pênis. ALTERAÇÕES DA GENITÁLIA MASCULINA • Fimose: é o excesso de pele que recobre o pênis dificultando que a glande (cabeça do pênis) seja exposta. Esta condição é comum nos bebês meninos e tende a desaparecer com o passar do tempo, mas se na adolescência o problema persistir pode ser necessária uma intervenção cirúrgica simples para remoção da pele. Propedêutica cirúrgica 7 • Epispádia: é uma deformação congênita das vias urinárias que determina a abertura da uretra na face dorsal do pênis (parte superior do pênis) podendo levar a perda do controle urinário e infecções do trato urinário. O tratamento é cirúrgico e deve ser feito ainda na infância. • Hipospádia: consiste em uma malformação genética que ocorre nos meninos, tendo como principal característica a abertura anormal da uretra, em um local abaixo do pênis, ou em outros locais, como no escroto ou no períneo, ao invés do local natural: na ponta (extremidade da glande). LESÕES DA GENITÁLIA MASCULINA • Balanite: é uma condição que ocorre devido a uma inflamação do prepúcio, pele que recobre a cabeça do pênis, e da cabeça do pênis. Está associada a diversas causas e é mais frequente em homens portadores de fimose. • Corrimento uretral: o corrimento uretral em homens é, geralmente, causado por uma infecção bacteriana, viral ou fúngica. As ISTs mais comuns associadas ao corrimento uretral. • Condiloma acuminado: conhecido também como verruga genital, crista de galo, figueira ou cavalo de crista, é uma doença sexualmente transmissível (DST) causada pelo Papilomavírus humano (HPV). ÚLCERAS DA GENITÁLIA MASCULINA • Úlcera única (sífilis): geralmente causada por sífilis. É indolor, com base endurecida e de fundo limpo e brilhante. Dura entre 1 e 8 semanas Pode surgir em outras partes do corpo. Mesmo sem tratamento específico a lesão desaparece e não deixa cicatriz. o Borda irregular, indolor, fundo limpo. • Úlceras rasas (herpes): as úlceras genitais podem ser causadas por uma série de fatores. Entre eles, um conjunto bastante amplo de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A herpes genital, por exemplo, pode levar ao surgimento de lesões avermelhadas e até pequenas bolhas na região genital, além de dor intensa em áreas como a virilha. • Úlceras coalescentes (cancro mole): é uma IST bacteriana que provoca feridas e úlceras genitais dolorosas. o Fundo sujo. • Lesão vegetante (carcinoma espinocelular/CEC): é um tipo de câncer de pele. Toda lesão vegetante (com crescimento perceptível a olho nú), endurecida, úlcero-vegetante ou ferida com crescimento que não cicatriza representa uma suspeita de câncer de pênis. Portanto, deve ser investigada. A lesão pode proliferar causando deformação vegetante e desfigurando a glande e o pênis. Propedêutica cirúrgica 8 - avaliação da bolsa escrotal Como avaliar? Com o paciente em decúbito dorsal e em ortostase, analisar o padrão de pilificação e o desenvolvimento do órgão genital. Posteriormente, palpar a bolsa escrotal, testículos e epidídimo. Analisar o tamanho testicular com o orquidômetro (15-25cm em adultos). É importante ordenhar a uretra em busca de secreções. Em ortostase pedir ao paciente para realizar a manobra de valsava e palpar o canal inguinal e o cordão espermático e deferente. O dedo deve estar em paralelo e não reto, avaliando o cordão espermático: pode ser uma hérnia. ALTERAÇÕES DA BOLSA ESCROTAL • Hidrocele: é o acúmulo de líquido dentro do escroto, que é a bolsa externa de pele que contém os testículos. É uma doença comum em recém nascidos e normalmente não provoca dor ou qualquer outro sintoma além do inchaço que pode afetar um ou os dois testículos. Pode ser chamado de cístico porque é um cisto no testículo que provoca acúmulo de líquido entre o testículo e a túnica vaginal. • Varicocele: é a dilatação das veias que drenam o sangue testicular devido à incompetência das válvulas venosas, associada ao refluxo venoso. avaliação da genitália feminina A avaliação deve ser feita em 4 etapas: • Inspeção estática: avaliar os dados anatômicos, trofismo da mucosa, coloração e presença de lesões paravaginais; • Inspeção dinâmica: é a inspeção realizando manobras de esforço para avaliar se a paciente tem incontinência e prolapso; • Palpação/toque bimanual: para a realização do toque bimanual, o examinador deve elevar o útero em direção a parede abdominal (com os dois dedos tocando a cérvice) e a sua mão livre deve ser suavemente colocada sobre o abdômen e deslizar de cima para baixo até que o útero se ponha entre as duas mãos e possa ser palpado. Assim é possível caracterizar o útero quanto à posição (anteversoflexão, retroversoflexão ou posição intermediária), tamanho, consistência e mobilidade. • Especular: tem por objetivos realizar a exposição do colo do útero, permitindo a sua visualização completa e a coleta adequada de material para o exame citológico, bem como permitir a visualização do conteúdo e da mucosa vaginal (o que só pode ser feito no momento da retirada do espéculo). Achados específicos Uma das queixas mais importantes é a dor, por isso devemos avaliar as áreas de dor e irradiação. Na maioria dos problemas urinários o paciente chega com dor por obstrução do sistema urinário ou com sintomas de infecção (febre, dor) por causado processo infeccioso ou por tumores no rim, testículos, ovários, de bexiga e de próstata. - avaliação da hematúria É a presença de hemácias na urina. • Pode ser microscópica ou macroscópica: o Urina I com mais de >3 hemácias por campo indica o sangramento do sistema urinário. Avaliar cilindros hemáticos – a presença de cilindros hemáticos remete a hematúria de origem glomerular (síndrome nefrítica). • Sintomas associados: dor de origem patológica inflamatória (dor contínua e com dor na examinação do local inflamado. Associado à febre e mal-estar) ou por cálculo/obstrução (dor em cólica que aumenta, diminui, para e volta). Propedêutica cirúrgica 9 • Relação com a micção: avaliar se a dor tem relação com o ato de urinar. Se sim, perguntar se é no início, total ou no término do ato de urinar. HEMATÚRIA TOTAL INDOLOR – TUMOR VESICAL O sangramento indolor sugere tumor vesical, que é um tumor que cresce no interior da bexiga (órgão oco que armazena a urina produzida pelos rins). Isso porque, quando grande, pode gerar obstrução e dor. Prova HEMATÚRIA TOTAL DOLOROSA INTERMITENTE OU NÃO – POR MIGRAÇÃO DE CÁLCULO Na hematúria total, o sangue aparece durante toda a micção com intensidade igual, e ocorre porque o sangue é misturado com a urina que está armazenada na bexiga. A causa da hemorragia está situada sobre o colo vesical, em geral é de origem renal, pois o sangue se mistura com a urina antes do começo da micção. Pode acontecer pelo cálculo migrando de local que é responsável pela dilatação da pelve renal. HEMATÚRIA INICIAL – LESÕES DE URETRA Na hematúria inicial, a emissão do sangue ocorre antes ou durante o início da micção. Logo após a urina volta a sua coloração normal ou torna-se levemente avermelhada. Esta hematúria é típica das lesões situadas abaixo do colo vesical (uretra, próstata). CASO CLÍNICO • Feminino, 50 anos: o QP: hematúria há 30 dias; o HMA: paciente relata hematúria há 30 dias, com saída de coágulos, Nega dor ao urinar. Relata episódio anterior há 3 meses. Sem outras queixas; o Antecedentes médicos: HAS; o Hábitos e vícios: tabagista (20 maços/ano); o Exame físico: SSVV, FC 120 bpm e PA 100x60 mmHg. o Descorada +/4. Sem outras alterações. Observação: SSVV significa “sinais vitais”. Hipótese diagnóstica: quadro de hipovolemia associada ao sangramento urinário por provável neoplasia de bexiga. - abordagem da hematúria • Avaliação inicial da estabilidade hemodinâmica: através dos sinais vitais e exame físico; • Suporte clínico inicial: o Expansão volêmica e transfusão, se necessário; o Monitorização hemodinâmica; o Coleta de exames para avaliar coagulopatias ou outras disfunções. • Avaliar se apresenta retenção urinária; o Realizar sondagem vesical com irrigação vesical contínua – se for por obstrução a hematúria macroscópica vai desaparecer. • Tentar identificar o fatores etiológicos: o porquê de ter sangrado: hipotensão, anemia, etc. No entanto, realizar essa etapa somente após estabilização da paciente. Estabiliza → tratamento da hematúria → exames - avaliação da incontinência A incontinência urinária é a perda involuntária da urina pela uretra. O distúrbio é mais frequente no sexo feminino e pode manifestar-se tanto na quinta ou sexta década de vida quanto em mulheres mais jovens. 1. INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO (IUE) é definida como perda involuntária de urina durante o esforço, prática de exercício, ao tossir ou espirrar. Normalmente é causada por um dano na musculatura do esfíncter externo da uretra. • Leva a perda urinária durante um esforço; • Não ocorre a noite; • Indolor; • Está associada a multiparidade ou cirurgias ginecológicas. • Paciente feminina, 60 anos: o QP: perda urinária há 6 meses; o HMA: paciente relata incontinência urinária aos esforços como tosse ou levantar peso. Nega urgência miccional. Nega disúria. Nega sensação de esvaziamento incompleto. Nega incontinência noturna; o Antecedentes médicos: G6P6C0. Propedêutica cirúrgica 10 2. INCONTINÊNCIA URINÁRIA POR TRANSBORDAMENTO Ocorre quando a bexiga não é esvaziada por um longo período, levando a uma hiperdistensão vesical, tornando-se tão cheia que a urina simplesmente transborda – pode ocorrer por enchimento excessivo ou por esforço. • Perda urinária durante o esforço; • Ocorre a noite; • Indolor; • Pode ter bexigoma palpável; • Está associada à neuropatia vesical. • Paciente feminina, 60 anos: o QP: perda urinária há 6 meses; o HMA: paciente relata incontinência aos esforços durante o dia. Relata sensação de jato fraco com esvaziamento incompleto. Relata acordar molhada pela manhã; o Antecedentes médicos: cirurgia para retirada de tumor de reto há 8 meses. 3. URGE-INCONTINÊNCIA: INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE EMERGÊNCIA Ocorre quando há súbita vontade de urinar e a pessoa não consegue chegar a tempo ao banheiro. Ocorre por contração involuntária da musculatura detrusora. • Sensação súbita e iminente de vontade de urinar; • Pode estar associado a perdas ou não; • Processo irritativo, lesão neurológica ou patologia do detrusor; • Está associada a diabetes, doença de Parkinson, AVC e esclerose múltipla. • Paciente feminina, 60 anos: o QP: perda urinária há 2 anos; o HMA: paciente relata sensação de urgência com escape urinário eventual mais ou menos 2-3x/dia. Nega disúria. Nega sensação de esvaziamento incompleto. Relata noctúria com episódios de incontinência noturna; o Antecedentes médicos: diabetes em uso de insulina há 8 anos. 4. INCONTINÊNCIA POR FÍSTULA URETRAL Fístulas são comunicações entre 2 órgãos que estão próximos, através de um orifício não natural. No aparelho urinário, essas comunicações podem ocorrer entre a bexiga e a vagina, entre a bexiga e o útero, entre a próstata e o reto, ou até mesmo diretamente para a pele. Podem ser causadas após cirurgias prévias devido à proximidade desses órgãos, ou então após infecções ou radioterapia para o tratamento de câncer. Uma vez realizado o diagnóstico, o tratamento consiste em ressecar o trajeto da fístula e realizar o fechamento dessa comunicação. As fístulas entre a bexiga e a vagina acarretam um vazamento constante e incontrolável de urina. Alguns pacientes podem confundir essa condição com incontinência urinária, mas é por uma fístula. • Comunicação inadvertida entre o trato urinário e outra estrutura que gera perda urinária constante; • Está relacionada a procedimentos cirúrgicos ou patologias oncológica e/ou inflamatórias; • Também pode estar relacionada a radioterapia; • Pode ter enchimento vesical e piorar o vazamento à medida que a bexiga fica mais cheia; • Mais comum: vaginal e colônica. Observação: a pneumatúria é a eliminação de ar no jato urinário. Ocorre quando existe uma fístula entre a bexiga e intestino. • Paciente feminina, 60 anos: o QP: perda urinária há 60 dias; o HMA: paciente relata sensação de perda urinária contínua, com piora durante ortostase. Relata início após histerectomia. Relata sensação de umidade vaginal. o Antecedentes médicos: nega comorbidades. PERGUNTAS A SE FAZER • Ocorre perda urinária com tosse, espirro ou durante esforço abdominal? • Antes da perda de urina você sente uma vontade forte de urinar mesmo sem estar com a bexiga cheia? • Quando você termina de urinar, sente que sobrou xixi na bexiga? • Acorda a noite para fazer xixi com forte desejo? • Ocorre perda de urina durante o sono? • Tem ardência, dor supra-púbica ou dor no canal do xixi? • Patologias e histórico médico pregresso. Vale lembrar que a incontinência urinária por esforço é mais comum em pacientes pós menopausa e multíparas. COMO EXAMINAR? Com a paciente instruída em relação ao exame físico ginecológico iremos, primeiro, realizar a inspeção estática: analisar umidade das roupas íntimas/uso de absorventes, analisar tropismo e coloração da mucosa vaginal.Após, realizar a inspeção dinâmica: analisar perda de urina durante manobras de esforço e prolapsos genitais. Ao fim da inspeção dinâmica, o profissional vai para a etapa de palpação: avaliar se tem presença de bexigoma. Propedêutica cirúrgica 11 Por fim, realizar o toque vaginal com manobra de esforço: sentir se ocorre prolapsos genitais. - avaliação da função erétil As causas são multifatoriais e, por isso, é necessário identificar um perfil mais condizente e identificar os possíveis fatores de risco: • Psicológicos: ocorre ereção com masturbação? Tem ereção matinal? • Hormonais: tem polução noturna (liberação involuntária do esperma ou de secreções vaginais durante o sono) ou sonhos eróticos? Ereção matinal presente? Tamanho testicular normal? Outras deficiências hormonais? • Aterosclerose: tabagismo? Comorbidades? • Fatores neurológicos: lesão raquimedular ou cirurgia em coluna lombar, uso de antidepressivos ou ansiolíticos. O teste terapêutico pode ser realizado com estimulantes. A doença de Peyronie consiste em um espessamento fibroso que contrai e deforma o pênis, alterando a forma da ereção. Isso causa dor ou tortuosidade peniana. QUEIXAS SEXUAIS • Alterações da libido, da ereção e do orgasmo (anorgasmia); • Alterações da ejaculação: precoce, retardada ou anejaculação. AVALIAÇÃO DA EJACULAÇÃO • Tempo da ejaculação: precoce, tardia ou ausente (com ou sem orgasmo); • Primário ou secundário: avaliar se a alteração é tem causa primária ou secundária. Ocorre desde o início das atividades sexuais ou iniciou após um evento específico, evoluir da idade? o O de causa primária ocorre desde o início de todas as atividades sexuais, no qual as ejaculações são rápidas – normalmente por um problema com a serotonina; o O de causa secundária se iniciou após um evento específico. Exemplo: perdeu o emprego, começou a tomar antidepressivo. • Uso de medicações ou psicoativos: perguntar se o paciente faz uso de antidepressivos, inibidores da recaptação da serotonina, adrenérgicos? - torção testicular Torção testicular é uma emergência causada pela rotação dos testículos e o consequente estrangulamento de seu suprimento sanguíneo (isquemia). Pode ocorrer após um trauma ou espontaneamente. No exame físico podem ser observados aumento da bolsa escrotal do lado da lesão, além de eritema e calor. Entretanto, os achados mais clássicos são a elevação e horizontalização do testículo afetado. • Sinal de Angell: durante o exame físico deve ser observado se há sinais de posição horizontalizada e elevação do testículo. Se positivo, ele ocorre por encurtamento do cordão espermático; • Sinal de Prehn: o examinador eleva a bolsa escrotal e, se o paciente refere alívio da dor, dizemos que esse sinal é positivo. Prehn ausente (não melhora da dor) é indicativo de torção testicular; • Sinal de Brunzel: o testículo acometido encontra-se mais elevado que o contralateral; • Sinal de Rabinowitz: ausência de reflexo cremastérico. A torção testicular deve ser diferenciada da orquiepididimite, que é uma inflamação dolorosa tanto do epidídimo quanto do testículo. ORQUIEPIDIDIMITE TORÇÃO TESTICULAR Dor Progressiva Súbita Sintomas urinários Presente Ausente Reflexo cremastérico Presente Ausente Sinal de Prehn Presente Ausente US Aumento do fluxo Ausência do fluxo Infecções do trato urinário (ITU) - ITU inferior/baixa São causadas por infecções na bexiga (cistite). Apresenta sintomas de armazenamento, dor supra púbica. No geral, não apresenta sintomas sistêmicos (exemplo: febre). Nem tem sinal de Giordano positivo. - ITU superior/alta É também chamada de pielonefrite. Pode ter sintomas de armazenamento, mas seu principal sintoma característico é febre, calafrios, dor lombar, náuseas e vômitos. O sinal de Giordano é positivo.
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