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1 A insulina é o principal hormônio controlador do metabolismo e seu principal efeito é a diminuição da glicose no sangue (redução da glicemia). A insulina é o hormônio mais anabólico do organismo. A redução ou ausência da insulina caracteriza o quadro patológico diabetes mellitus (DM). - classificação A DM pode ser classificado em tipo I e tipo II: • Tipo I: doença autoimune caracterizada por destruição das células β pancreáticas e deficiência absoluta de insulina – é um quadro no qual o tratamento é feito com a administração de insulina porque o paciente não tem produção desse hormônio; • Tipo II: resistência à insulina e deficiência relativa de insulina. Está mais associada à obesidade. o O tratamento é inicialmente com dieta, embora os antidiabéticos orais se tornem necessários e, em último caso, a maior parte dos pacientes se beneficie de insulina exógena. Após um tempo, quando em insuficiência pancreática, a pessoa pode ter DM1 e DM2. - controle da glicemia A glicose é a fonte obrigatória de energia para o organismo e, principalmente, para o cérebro. No entanto, seu excesso é armazenado na forma de glicogênio ou gordura. PRINCIPAL HORMÔNIO REGULADOR: • Insulina: o ↑ captação de glicose: não é absorção e sim captação. Absorção é a passagem de um local de administração para a corrente sanguínea; o ↑ síntese de glicogênio: pelo fígado e músculo através da elevação aguda da glicemia pelas incretinas (GIP e GLP-1) de forma a reduzir a glicemia; o ↓ glicogenólise (degradação do glicogênio): pelo fígado e músculo; o ↓gliconeogênese (síntese de glicose a partir de substratos não glicídicos): glicose a partir de substratos metabólicos: lactato (ácido lático), ácido pirúvico, aminoácidos. De forma geral, os principais estímulos para a sua liberação é o ↑ glicemia e das ↑ incretinas. PRINCIPAIS HORMÔNIOS CONTRARREGULADORES • Glucagon: ↑ glicogenólise e da gliconeogênese; • Adrenalina: ↑ glicogenólise; • Glicocorticoides: ↑ glicogenólise e ↓ da captação e utilização da glicose. Esses hormônios têm como função o aumento da glicemia, sendo, portanto, estimulados pela hipoglicemia. Observação: a adrenalina e os glicocorticoides são estimulados, além da hipoglicemia, também pelo exercício, estresse e refeições com alto teor de proteína. - secreção de insulina Como ocorre a secreção de insulina pelas células β pancreáticas? A insulina liga-se a um receptor específico presente na superfície de suas células-alvo (fígado, músculo e tecido adiposo), que é um receptor acoplado à tirosino quinase (IRS – substrato do receptor insulina) – formado por duas subunidades α e duas subunidades β. De modo mais específico, a insulina se liga na subunidade α do seu receptor que, por sua vez, ativa a subunidade β que, por ação da enzima tirosino quinase (que está acoplada ao receptor), promove a autofosforilação do receptor, ativando-o. Toda molécula fosfolirada fosforila outra molécula. Ao se ligar no seu receptor IRS, a ligação do complexo fosforila PI3-K (fosfatoinositol 3-quinase) e, por ser uma quinase, também vai fosforilar, transformando PI2 em PI3. A PI3 vai ativar outra quinase PKB (também chamada de AKT), que vai ser responsável por translocar a vesícula com GLUT-4, que vai ser externalizado na membrana, realizando a exocitose da insulina. Por ser sensível a glicose, após a exocitose a GLUT-4 precisa ser internalizada novamente para não causar hipoglicemia. Antidiabéticos 2 O GLUT-2 vai ser responsável pela entrada da glicose na hiperglicemia. A glicose, dentro da célula, vai ser transformada em glicose-6-fosfato pela hexoquinase. A via mais rápida de transformação da glicose-6-fosfato em ATP é através da glicólise. O ATP, além das suas outras funções, vai bloquear o canal de potássio dependente de ATP, fazendo com que o canal se feche e ocorra acúmulo de K+ intracelularmente. O excesso de carga positiva despolariza a célula faz com que haja abertura do canal de Ca+2 e entrada de cálcio intracelular. Essa entrada estimula a exocitose/excreção de insulina. • Os secretagogos vão agir diretamente nos canais de K+, bloqueando esse canal e estimulando a despolarização; • Os análogos de do GLP-1R se ligam ao receptor acoplado à proteína Gs que resulta em ativação da produção de ATP pelas mitocôndrias, bloqueia o canal de K+ ATP dependente e voltagem dependente e estimula a exocitose da insulina. - assistência integral ao diabético • Controle glicêmico: mudança do estilo de vida, adesão à dieta, prática de exercícios físico e início do tratamento medicamentoso; • Tratamento das condições associadas: dislipidemia, hipertensão, obesidade e doenças cardiovasculares; • Rastreamento para o tratamento das complicações do diabetes: retinopatia, doenças cardiovasculares, neuropatia, nefropatia e outras complicações. HIPERGLICEMIA CRÔNICA A hiperglicemia crônica gera produtos finais de glicação avançados (AGEs) – hemoglobina glicada, albumina glicada, colágeno glicado, Apolipoproteína B glicada, mielina glicada, produção de ROS, aumento de NF-кb (IL-1, IL-6 e TNF-α) – que são ser responsáveis pelas neuropatias, doenças neurodegenerativas, lesão endotelial, aumento da LDL sanguínea e redução de NO. Esses 3 últimos vão ser responsáveis pelas doenças cardiovasculares. tipos de insulinas Antigamente as insulinas eram de origem animal. Atualmente elas são quase que inteiramente humana, produzidas por DNA recombinante. Por ser uma proteína, a insulina não deve ser administrada por via oral, isso porque ao passar pelo estômago o ácido clorídrico vai desnaturar a insulina e a perda da sua conformação faz com que ela perca sua função. Por esse motivo, sua administração é subcutânea – em situações de emergência pode ser administrada por via IV ou IM a insulina solúvel. Grávidas são contraindicadas para o tratamento oral da diabetes e, por isso, durante a gravidez ou na diabetes gestacional, o tratamento é através da insulina. • Ultra-rápida: Lispro, Aspart (análogos), Glulisina - tem seu início em 25-30 minutos e duração de 3- 4h; • Rápida: regular (solúvel) – tem seu início em 50 minutos e duração de 4-6h; • Intermediária: NPH (lenta) – início em 1-4h e duração de 10-16h; • Prolongada: Glargina, Detemir ou Lantus (ultra- lenta) – início em 1-4h e duração de 20-24h; • Pré-misturas. 3 secretagogos Estimulam a produção e secreção de insulina pelo pâncreas. - sulfonilureias • Glibenclamida, glipizida, glimepirida. o Mecanismo de ação: bloqueio da ativação dos canais KATP → o fármaco se liga no canal KATP das células beta pancreática, isso resulta num acúmulo de K+ intracelular, ou seja, ocorre uma despolarização. A despolarização causa a abertura de canais de Ca2+ e a entrada de cálcio nas células β-pancreáticas estimula a secreção de insulina; o Principais efeitos colaterais e adversos: hipoglicemia, coma, ganho de peso; o Uso clínico: DM2; o Muitas interações medicamentosas. A glibenclamida é utilizada em pacientes que não suportam a metformina. - outros moduladores do canal KATP • Repaglinida e nateglinida. Agem da mesma maneira que as sulfonilureias, por meio do bloqueio do receptor delas nos canais KATP nas células β pancreáticas; no entanto, tais medicamentos não apresentam a porção sulfonilureia. - outros secretagogos • Agonista do receptor de GLP-1 (glucagon like peptide 1): “tida” o Exenatida, liraglutida, lixisenatida, albiglutida, dulaglutida e semaglutida. Os agonistas do GLP-1 diminuem a glicose no sangue após uma refeição ao aumentar a secreção de insulina, suprimindo a de glucagon e atrasando o esvaziamento gástrico. Eles reduzem a ingestão de alimentos (pelo efeito na saciedade ao se ligarem no GLP-1 do cérebro) e estão associados a modesta diminuição do peso, além de diminuírem a acumulação de gordura hepática. São administrados porinjeção subcutânea, seja 1 vez/dia (exenatida, liraglutida, lixisenatida) ou 1 vez/semana (exenatida, albiglutida, dulaglutida de liberação prolongada). • Inibidores da dipeptidil peptidase-4: gliptinas o Saxagliptina, sitagliptina e vildagliptina. São fármacos sintéticos que inibem competitivamente a DPP-4. Desse modo, diminuem a glicose no sangue ao potenciar as incretinas endógenas (GLP-1 e GIP), que estimulam a secreção de insulina. Como a DDP degrada a GLP-1 e GIP endógena e exógena, inibidores de DDP conseguem melhorar a função dos análogos de GLP-1 ao inibir a degradação da GLP-1 pela dipeptidil peptidase-4. Biguanidas: Metformina É o fármaco de primeira escolha para o tratamento da DM II. Vem de uma planta chamada galega officianalis. A metformina não aumenta a produção de insulina tão bem, ela aumenta a eficácia desse hormônio através do aumento da captação de glicose – o corpo tem insulina, mas não está captando direito (resistência à insulina) – impede a cascata de fosforilação. O diabético sem tratamento perde peso. Ao começar a tomar o medicamente que estimula a liberação de insulina, ela engorda porque a insulina é um hormônio anabolizante. A metformina é um dos únicos que não engorda. Observação: porque análogos de GLP-1 não engordam se estimulam a produção de insulina? O receptor GLP-1 não está apenas na célula pancreática e, como induz a ligação em receptores de GLP-1 no cérebro, induz a sensação de saciedade, induzindo o emagrecimento. - benefícios: • Redução da produção da glicose hepática (gliconeogênese e glicogenólise), que está aumentada de maneira acentuada no DM II; o Gliconeogênese: piruvato, lactato e aminoácido → acidose lática e acetil-coa – Se o paciente diabético que toma metformina reclamar de câimbra, fadiga e dor muscular, devemos analisar ácido lático – se o paciente toma também hidroclorotiazida, pode ser por deficiência de K+ e devemos dosar também esse íon; o Os eritrócitos usam 100% glicose e seu metabolismo só produz ácido lático, sobrevivendo apenas com 2 ATPs; • Aumento da captação de glicose e utilização no músculo esquelético (exemplo: reduz a insulinorresistência); • Redução da absorção de carboidratos pelo intestino; • Aumento da oxidação de ácidos graxos: aumento da oxidação de AG de forma a tentar obter acetil- coa a partir do AG e entrar no ciclo de Krebs; • Redução das LDL e VLDL: menor recrutamento de colesterol e da oxidação, fazendo com que seja necessário menor quantidade de transportador de colesterol. 4 - farmacocinética e dinâmica • Mecanismo de ação: aumenta a atividade da proteinocinase dependente de AMP (AMPK). A AMPK ativada estimula a oxidação dos ácidos graxos, a captação de glicose e o metabolismo não oxidativo e reduz tanto a lipogênese quanto a gliconeogênese. O resultado dessas ações consiste em: o Aumento do armazenamento de glicogênio no músculo esquelético; o Taxas mais baixas de produção hepática de glicose; o Aumento da sensibilidade à insulina e níveis mais baixos de glicemia. • Principais efeitos colaterais e adversos: náuseas, indigestão, cólicas ou distensão abdominais, diarreia e acidose láctica; o A diarreia é o primeiro e principal efeito adverso que ocorre com o uso da metformina. A redução de absorção de carboidratos pelo intestino deixa livre o açúcar para bactérias presentes no cólon e isso gera um processo osmótico que causa a diarreia; o Redução de 20-30% nos níveis sanguíneos de vitamina B12 por causa da diarreia causada. É difícil de perceber no paciente durante a inspeção ou com sinais e sintomas porque o fígado tem estoque e só é percebido após 2-3 meses – a vitamina B12 é precursora da bainha de mielina e sua deficiência impede a produção dessa bainha. ◊ Nesses casos não adiantar fazer a suplementação de vitamina B12 por VO, tem que ter via parenteral (principalmente IM); ◊ Por ser uma vitamina encontrada em músculos, pacientes vegetarianos tendem a ter deficiência dessa vitamina; ◊ Em uma criança em desenvolvimento, a deficiência pode ser grave. • A metformina não deve ser utilizada na presença de doença pulmonar grave, insuficiência cardíaca descompensada, insuficiência renal, doença hepática grave ou abuso crônico de álcool. • Outras observações: o Raramente causa hipoglicemia; o Não é efetiva no tratamento de DM I: seu mecanismo é aumentar a sensibilidade à insulina e o paciente com DM-I não tem insulina, não é efetiva no tratamento da DM-I; o Pode ser usada no tratamento da SOP, mas ainda não se sabe como seu benefício é causado. Talvez seja pela diminuição da expressão dos receptores de andrógenos. - envelhecimento Além do tratamento da DM II, a metformina também pode atuar na prevenção do envelhecimento das células. Através de uma pesquisa em ratos pode-se concluir que o gene DAF2 é um gene responsável por regular a produção de insulina do IGF-1. A não expressão de DAF-2 (knockout) aumentou a vida dos animais estudados (30% de mamíferos). As células ficam mais jovens por melhorar a qualidade dos checkpoints, de forma a minimizar os erros genéticos, melhorando, consequentemente, a probabilidade de câncer. A regulação dos genes (SIRT1, mTOR e AMPK) preservam os telômeros. Tiazolidinedionas ou glitazonas • Rosiglitazona e pioglitazona; • Mecanismo de ação: ativam os receptores de PPARγ (receptor-γ ativado por proliferadores de peroxissomo). Os receptores PPAR-γ modulam a expressão dos genes envolvidos no metabolismo dos lipídeos e da glicose, na transdução de sinais de insulina e na diferenciação de adipócitos e outros tecidos; • Efeitos colaterais e adversos: insuficiência cardíaca (por estimulação excessiva dos receptores), fraturas ósseas (por causa do fosfato que é retirado dos ossos para a lipogênese), edema e ganho de peso; • Usos clínicos: DM-II, em combinação com a metformina. Inibidores da α-glicosidase • Aarbose, miglitol e voglibose; • Mecanismo de ação: reduzem a absorção intestinal do amido, da dextrina e dos dissacarídeos por meio da inibição da ação da α-glicosidase na borda em escova do intestino. Esses fármacos também aumentam a liberação do hormônio regulador da glicose, o GLP-I, na circulação, o que pode contribuir para seus efeitos hipoglicemiantes; o A α-glicosidase quebra os dímeros monossacarídeos (chamados de dissacarídeos) em sacarídeos (chamados de monossacarídeos). Pensando nisso, esse fármaco impede essa degradação, inibindo a fase final de digestão de dissacarídeos em sacarídeos – ele só passa para a circulação sistêmica como monossacarídeo. Diminuindo a absorção de carboidratos e sem carboidrato não há aumento da glicemia. • Uso clínico: DM-II – por depender da insulina para funcionar, só funciona em DM2; 5 • Principais efeitos colaterais e adversos: flatulência, fezes amolecidas ou diarreia, dor abdominal e sensação de plenitude. Inibidores do transporte da glicose • Canagliflozina, dapagliflozina, empagliflozina e ertugliflozina – Tudo que termina em “zina” é um inibição do transportador de sódio glicose. • Mecanismo de ação: inibição do transportador de sódio-glicose SGLT2, presentes nos túbulos proximais do néfron (túbulo contorcido distal – prova). Promovendo a excreção de glicose para a urina, reduzindo a concentração de glicose circulante; o O SGLT é um cotransportador da glicose por transporte ativo secundário de glicose e sódio; o O sódio e glicose que não saiu do néfron faz com que o volume urinário esteja aumentado. Ao aumentar a quantidade de urina eliminada e diminuição de sódio da circulação sanguínea, acabam tratando também a hipertensão já que um dos mecanismos dos hipertensivos é através da diminuição do volume sanguíneo. • Uso clínico: DM-II; • Efeitos colaterais e adversos: perda de peso, redução na pressão arterial sistólica, risco de infecções urinárias e fúngicas (vaginite ou balanite por candidíase).
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