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São fármacos (substâncias químicas exógenas) que imitam a ação de um esteroide, o cortisol. Protegendo o organismo contra a resposta inflamatória. Ou seja, eles mimetizam, mas com uma ação muito mais potente o cortisol. • Curta duração (8-12h): cortisona e hidrocortisona – foram os primeiros corticoides produzidos e são pró-fármacos; • Média duração (12-36h): prednisona, prednisona e triancinolona; • Longa duração (36-72h): betametasona e dexametasona. Esses fármacos têm em sua estrutura um anel esteroide em comum, mudando apenas os radicais. Essas mudanças podem proporcionar, através da melhora da estrutura química básica, aumento da meia-vida, aumento da potência, etc. - anatomia da suprarrenal A glândula suprarrenal é formada pelo córtex e pela medula. A medula vai secretar epinefrina e o córtex vai secretar corticosteroides (glicocorticoides e mineralocorticoides) e androgênios suprarrenais. O córtex suprarrenal tem três zonas, e cada zona sintetiza um tipo de hormônio esteroidal diferente a partir do colesterol. • A zona glomerulosa produz os mineralocorticoides (exemplo: aldosterona, que é responsável pelo metabolismo da água e do sal); • A zona fasciculada vai sintetizar os glicocorticoides (exemplo: cortisol, que estão envolvidos com o metabolismo normal e a resposta ao estresse); • A zona reticulada vai secretar androgênios suprarrenais. A zona fasciculada é controlada pelo hormônio adrenocorticotrópico (ACTH/corticotropina), que é liberado em resposta ao hormônio liberador da corticotropina (CRH). Dessa forma, os glicocorticoides servem de retroalimentação inibitória da secreção de ACTH e CRH – o pico de ACTH sempre tem que preceder o pico de cortisol. A regulação por feedback negativo mantém os níveis apropriados de cortisol. O estresse pode superar este mecanismo de feedback negativo e aumentar os níveis plasmáticos do cortisol. A liberação do CRH é induzida pelo estresse ou pelo ciclo sono-vigília. O pico do cortisol é por volta das 7-8h (isso explica a variabilidade circadiana da reação inflamatória, que é intensificada à tarde e no início da noite e suprimida pela manhã). Além desse pico, após o almoço também vai ocorrer outro aumento visto que o cortisol também regula o metabolismo dos carboidratos e houve ingestão de proteínas e lipídeos, mas não comparado com o pico de manhã – sua concentração é oposta à melatonina. Pensando nisso, o profissional da saúde deve orientar o paciente a não tomar o fármaco esteroide a noite, pois ele vai causar insônia. Caso seja necessária à sua administração, tentar sempre administrar em doses mínimas ou tomar, no máximo, no início da tarde. Se tiver que tomar à noite também devemos avaliar o risco e o benefício. CORTISOL O cortisol é regulado de acordo com o ciclo circadiano. O CRH vai se ligar no seu receptor presente na hipófise e estimula a liberação de ACTH pela hipófise. O ACTH, por sua vez, atua nas adrenais estimulando a CYP a converter o colesterol em pregnenolona e posteriormente cortisol. O cortisol é sintetizado a partir do colesterol capturado da corrente sanguínea pelo LDL e o colesterol chega nas adrenais e nos outros tecidos através da lipoproteína LDL, ativando as enzimas que vão transformar o colesterol em cortisol na zona fasciculada. Farmacologia II 2 • É o ACTH que estimula a CYP: as células da zona fasciculada expressam a esteroide 17α-hidroxilase (CYP17) e a 11βhidroxilase (CYP11B1), enzimas que catalisam a produção de glicocorticoides; • A pregnenolona é o principal precursor da corticosterona e da aldosterona, e a 17- hidroxipregnenolona é o principal precursor do cortisol. Porque ao tomarmos corticoide temos ação anti- inflamatória e imunossupressora? Por mimetizarem a ação fisiológica do cortisol. As citocinas pró- inflamatórias estimulam o eixo hipotálamo-hipófise- adrenal a produzir cortisol como um mecanismo fisiológico com o intuito da ação do cortisol anti- inflamatória inibindo as células do sistema imune a liberarem os mediadores pró-inflamatórios. Por isso o cortisol tem ação anti-inflamatória e imunossupressora. Logo, a administração de um corticoide que mimetiza com potência 40x maior que o cortisol endógeno vai gerar a mesma ação, mas em maior potência. • Os glicocorticoides aumentam o número de neutrófilos na circulação (reduzem no local da inflamação), diminuem o número de linfócitos e inibem as funções dos macrófagos nos tecidos. - os glicocorticoides São fármacos frequentemente prescritos na clínica porque são potentes na supressão da inflamação. Eles exercem efeitos sobre quase todos os sistemas do organismo. No entanto, sua administração e suspensão podem ser complicadas por causa dos seus efeitos colaterais graves. A decisão quanto à terapia com corticosteroides sistêmicos sempre exige uma cuidadosa consideração dos riscos e benefícios relativos em cada paciente. Isto é, eles são considerados imunossupressores e sua administração a longo prazo (a partir de 3 semanas) já induz supressão da glândula suprarrenal. Conforme esse tempo aumenta, os efeitos colaterais também aumentam e, com isso, faz-se necessário o desmame e não a suspensão completa do fármaco. corticosteroides São os medicamentos anti-inflamatórios (AIEs) que mimetizam o cortisol. Eles possuem inúmeros efeitos: • Alterações no metabolismo dos carboidratos, das proteínas e dos lipídeos; • Manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico; • Preservação da função normal do sistema cardiovascular, do sistema imune, dos rins, do sistema musculoesquelético, do sistema endócrino e do sistema nervoso; • Conferem ao organismo a capacidade de resistir a estímulos estressantes e nocivos e a alterações ambientais. Na ausência de secreção adequada de corticosteroides pelo córtex suprarrenal, estresses como infecção, traumatismo e extremos de temperatura podem ser fatais. Mecanismo de ação Saber o mecanismo de ação – prova. Os efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores dos GC são mediados pelo receptor nuclear de glicocorticoides que modula a transcrição proteica. A globulina ligadora do cortisol (CBG ou transcortina) está ligada a mais de 90% do cortisol circulante (seja ele exógeno ou endógeno). O receptor, quando não ligado ao cortisol, está presente no citoplasma de na forma inativa e ligado à duas moléculas de proteína hsp90 – a hsp90 são moléculas estabilizadoras, isto é, enquanto elas estiverem ligadas no receptor, o receptor fica inativo. As hsp permitem que o receptor adquira uma conformação tridimensional adequada para a sua ligação ao hormônio. Os corticoides interagem com receptores intracelulares, formando um complexo esteroide- receptor instável, gerando liberação das proteínas. Farmacologia II 3 Forma-se, então, um dímero esteroide-receptor, que entra no núcleo e liga-se ao receptor de glicocorticoides (GRE) na região reguladora do gene e regula a transcrição. A modificação da transcrição, induz a síntese de proteínas anti-inflamatórias e inibe a síntese de proteínas pró-inflamatórias como bradicinina, tromboxanos e prostaglandinas. Observação: os efeitos metabólicos e algumas das reações adversas aos medicamentos podem ocorrer através deste processo. • Estímulos inflamatórios ativam a via NF-κB, levando a um aumento da atividade da histona acetiltransferase (HAT), resultando em acetilação das histonas do núcleo e em aumento da expressão dos genes que codificam múltiplas proteínas inflamatórias. Dessa forma, os glicocorticoides inibem a atividade de HAT diretamente e ativam a histona desacetilase 2 (HDAC2), que desacetila a histona e enovela o DNA novamente, levando à supressão de genes inflamatórios ativados. A formação de complexo de fármaco-receptor de corticoides: • Estimula a expressão gênica de fatores anti- inflamatórios: o Estimula a transcrição gênica diretamente via elementosresponsivos aos glicocorticoides (GRE). Exemplo: lipocortina (anexinas) e proteína inibitória ƙB. • Inibe a expressão gênica de fatores pró- inflamatórios: o Inibe a transcrição gênica diretamente via elementos responsivos aos glicocorticoides (GRE); o Intercepta outros fatores de transcrição responsáveis pela produção de proteínas pró- inflamatórias. Exemplo: interleucinas (IL-1, IL- 6), fosfolipase-A2 ,COX-2 e lipoxigenases. • Tem efeitos não genômicos através dos receptores de membranas. - efeitos dos AIEs na resposta inflamatória • Inibição da PLA2 pela ação da lipocortina; • Inibição da expressão de COX-2, IL-6, lipoxigenase, iNOS; • Estimulação da liberação de IL-10 (anti- inflamatória); • Inibição da migração leucocitária; • Redução da ativação de neutrófilos e macrófagos; • Indução da apoptose de células inflamatórias; • Uso tópico: vasoconstrição (suprime a degranulação de mastócitos); • Reduz a permeabilidade vascular (diminui liberação de histamina); • Inibição de todas as fases (exsudação, proliferação e cicatrização) inflamatórias; • Antialérgicos, imunossupressores ou anti- inflamatórios. Esses efeitos dos GC inibem a inflamação. farmacocinética Eles são distribuídos ligados às proteínas plasmáticas: • 80-90% estão ligados à globulina – globulina de ligação dos corticosteroides (CBG); • 5-10% estão ligados à albumina; • 3-10% estão livres. Quando as concentrações plasmáticas do cortisol ultrapassam 20-30mg/dL, ocorre saturação da CBG e a cortisol livre (que exerce efeito) aumenta com rapidez. Pode ser administrado por via IM, IV, como aerossóis, VO, via intra-articular ou tópico. Farmacologia II 4 fármacos • A prednisona é rapidamente convertida no fígado em prednisolona biologicamente ativa – cerca de 30 minutos após sua administração; • A dexametasona encontra-se entre os mais ativos; • A betametasona é um análogo sintético da prednisolona. - interação medicamentosa FÁRMACO INTERAÇÃO CONSEQUÊNCIA Anticonvulsivantes: feniltoína, barbitúricos, carbamazepina e rifampicina Aceleram o metabolismo hepático dos GC Podem reduzir o efeito farmacológico dos GC Antiácidos Reduzem a biodisponibilidade dos GC Efeito farmacológico reduzido Insulina, hipoglicemiantes orais, medicações para glaucoma, hipnóticos e antidepressivos Têm suas necessidades aumentadas pelos GC Alteração relacionadas ao nível glicêmico, pressão intraocular, entre outras Digitálicos na hipocalemia Os GC podem facilitar a toxicidade associada à hipocalemia Pode haver aumento da toxicidade do digitálico por causa da alteração eletrolítica Estrogênios e anticoncepcionais orais Aumentam a meia- vida dos GC Efeito farmacológico realçado AINEs Aumento da incidência das alterações GI Aumento da incidência da úlcera gástrica Vacinas e toxoides Os GC atenuam a resposta Potencializçaão da replicação dos microrganismos em vacinas de vírus vivos, infecções generalizadas Diuréticos depletadores de potássio e anfotericina B Acentuação da hipocalemia Repercussão clínica devido à hipocalemia Anticoagulantes orais Redução do efeito Pode reduzir o efeito dos anticoagulantes Salicilatos Redução dos níveis plasmáticos pelos GC Diminuição da eficácia dos salicilatos. A redução da dose do esteroide pode produzir níveis tóxicos de salicilatos - formas de uso Os corticoides devem ser preferencialmente usados respeitando-se o ciclo circadiano. O ideal é tomá-los no momento em que, fisiologicamente, a concentração de cortisol esteja mais alta – isso diminui a supressão do eixo, que já está suprimido pela liberação do cortisol endógeno. - escolha terapêutica Alterações na molécula de GC influencia na sua afinidade pelos receptores (glicocorticoide e mineralocorticoide), pela ligação as proteínas e na taxa de eliminação e metabólitos. Uso prolongado dos GC • Balanço de cálcio negativo: retarda o crescimento em crianças e pode causar osteoporose; • Aumento do apetite; • Glaucoma; • Aumento do risco de infecções: inibição da cicatrização; • Distúrbios emocionais: euforia, depressão; • Hipertensão: aumento da pressão arterial; • Distribuição centrípeta da gordura corporal; • Aumento do risco de diabetes; • Hipopotassemia; • Edema periférico. Farmacologia II 5 Efeitos metabólicos de sistêmicos Prova. • Aumento da gliconeogênese no fígado e redução utilização da glicose pelas células, causando hiperglicemia; • O aumento da insulina, por causa do excesso de gliconeogênese e pelo aumento do apetite, aumenta a síntese de glicogênio e de AGs, resultando em aumento do depósito de TAG (no tronco); • Resistência à insulina hepática; • Ocorre aumento do catabolismo de proteínas e aumento da lipólise (os tecidos periféricos reduzem a captação de glicose), resultando em atrofia tecidual; • Aumento da concentração plasmática de aminoácidos e da utilização para síntese de glicose; • Mobilização dos AGs do tecido adiposo: o Aumento da concentração de AG livres no plasma; o Aumento da utilização de AG para energia. • Aumentam a reabsorção de Na+ e a excreção de K+ e H+ pela ação dos mineralocorticoides: pode causar hipertensão; • Os GCs diminuem a absorção de Ca2+ e ainda aumentam sua excreção renal. Isso, somado ao fato de que também alteram balanço osteoclasto/osteoblasto, pode causar osteoporose. - síndrome de Cushing iatrogênica É uma desordem provocada pelo uso excessivo ou prolongado de corticosteroides, gerando concentrações cronicamente elevadas de corticoides. • Obesidade centrípeta (abdominal), facie de lua cheia (face arredondada), pletora facial (face avermelhada), pele atrófica (pele fina por diminuição da musculatura), depressão e nervosismo, osteoporose ou fratura, irregularidade menstrual, HAS, hirsutismo (excesso de pelos), impotência sexual, equimoses (manchas arroxeadas), diminuição da libido (desejo sexual), estrias e diabetes. Suspensão e desmame O uso prolongado da administração exógena de cortisol faz com que a produção de cortisol diminua devido à dosagem de cortisol menor do que a produção diária. Com o passar do tempo ocorre atrofia corticossuprarrenal e a produção de cortisol se interrompe devido à dosagem de cortisol maior do que a produção. Dessa forma, a interrupção abrupta da administração vai gerar deficiência de cortisol e, por isso, deve ser feita redução do fármaco aos poucos (desmame). A retirada abrupta pode causar insuficiência suprarrenal aguda – pode ser fatal. Esse risco, associado à possibilidade de que a retirada pode causar agravamento da doença, determina que a dosagem deve ser reduzida lentamente de acordo com a tolerância individual A síndrome de abstinência de GC consiste em: febre, mialgia, artralgia e mal-estar. Observação: ocorre dificuldade para diferenciação de algumas das doenças subjacentes para as quais a terapia com esteroide foi instituída. Podem ser necessários 2-12 meses para que o eixo HHSR funcione adequadamente. A normalização das concentrações de cortisol pode exigir outros 6-9 meses.
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