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As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, hospitalizações e atendimentos ambulatoriais em todo o mundo, inclusive em países em desenvolvimento como o Brasil. - hipertensão arterial É uma condição clínica multifatorial caracterizada por elevação dos níveis pressóricos >140mmHg e/ou 90mmHg. Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (DM). - mecanismo de controle da PA A PA é diretamente proporcional ao DC e RVP, que são controlados por dois mecanismos: barorreceptores e sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). Os barorreflexos atuam alterando a atividade do sistema nervoso simpático. Por isso, são responsáveis pela regulação rápida da pressão arterial. Quando ocorre a redução da PA, o SNS é ativado e libera adrenalina e noradrenalina. No momento em que o SN entra em atividade, ocorre ativação de receptores β1 no coração (que vão gerar aumento do DC), ativação de adrenoreceptores α1 nos músculos lisos das artérias (que vão gerar aumento do retorno venoso e RVP e ativação de receptores β1 nos rins. A ativação desses receptores induz aumento do volume sanguíneo, do DC, da RVP e do retorno venoso, gerando aumento da PA. Quando os receptores β1 são ativados pelos barorreceptores dos rins, eles estimulam a produção e liberação de renina pelos rins. No momento em que ocorre aumento de renina, que é responsável pela conversão de ANG-I para ANG II. Essa conversão só ocorre na presença da ECA (enzima conversora de angiotensina). A ANG-II é um vasoconstritor circulante potente, que contrai arteríolas e veias, resultando no aumento da pressão arterial. A ANG-II exerce ação vasoconstritora preferencial nas arteríolas eferentes do glomérulo renal, aumentando a filtração glomerular. Além disso, a ANG-II estimula a secreção de aldosterona, levando ao aumento da reabsorção renal de sódio e ao aumento do volume sanguíneo, o que contribui para o aumento adicional da pressão arterial. Esses efeitos são mediados pela estimulação dos receptores da angiotensina II tipo 1 (AT1). • De forma resumida, a redução da PA estimula duas vias: a adrenérgica e a via de ANG-II. Medicamentos que atuam nessas duas vias podem ser associados e administrados juntos quando o nível pressórico do paciente não consegue se manter em um nível dentro do padrão considerado como saudável. - sistema renina-angiotensina O fígado é responsável pela produção de angiotensinogênio, que cai na corrente sanguínea e é convertido em ANG-I através da renina, produzida pelos rins. A ECA circulante do endotélio e do pulmão, vai converter ANG-I em ANG-II, que vai atuar em receptores AT1 (principalmente) e AT2, resultando em vasoconstrição e aumento da RVP. O aumento de ANG- II em AT1 nos rins resulta em aumento da absorção de água e sódio. Em conjunto, esses resultarão em aumento da PA. Como forma de compensar o que está acontecendo no organismo, o cininogênio através da calicreína, estimula a produção de bradicinina. No entanto, o ECA vai inativar a bradicinina, que é um potente vasodilatador (reduz a RVP). Observação: a bradicinina no pulmão causa vasoconstrição e, quando acumulada, causa tosse. Por isso, pacientes asmáticos não podem tomar IECA, já que a IECA vai inibir a ECA, que é responsável pela inativação da bradicinina. Como saber qual via de sinalização precisa ser bloqueada para tratamento da hipertensão arterial? Não tem como saber. O tratamento é feito por tentativas de classes de medicamentos anti- hipertensivos. Anti-hipertensivos Farmacologia II 2 - terapia anti-hipertensiva A terapia anti-hipertensiva tem como finalidade reduzir a morbidade e mortalidade associadas à PA elevada. O tratamento também tem como propósito evitar complicações cardiovasculares. O tratamento não deve ser oferecido logo de cara. Inicialmente é necessário tentar mudar o estilo de vida do paciente, bem como induzir a prática de atividade física. Até porque, em grande parte dos casos, esses pacientes não têm apenas HAS, mas outras patologias crônicas associadas (exemplo: DM, angina, hiperlipedemia). Classes de fármacos • Inibidores de ECA; • Antagonistas de receptores AT1 (angiotensina-1); • Bloqueadores adrenérgicos; • Bloqueadores do canal de cálcio; • Diuréticos; • Vasodilatadores diretos; • Cardiotônicos; • Trombolíticos; • Antiagregantes plaquetários (bloqueia principalmente o tromboxano); • Anticoagulantes (mexe com os fatores); • Antilipêmicos. - condutas de tratamento O tratamento inicial deve ser não medicamentoso através de modificações no estilo de vida. Caso a PA elevada persista mesmo após mudanças, o tratamento deve ser iniciado de forma medicamentosa. Os BB devem ser sempre a última opção de tratamento. Os fármacos, quando associados para tratamentos, não devem ser da mesma classe, que atuam na mesma via de sinalização. Exemplo: é recomendado usar um IECA + diurético. DIU: diuréticos. BCC: bloqueador do canal de cálcio. IECA: inibidor da enzima conversora de angiotensina. BRA: bloqueador do receptor de angiotensina. BB: betabloqueador. • Captopril, enalapril, lisinopril, benazepril, ramipril, fosinopril, moexipril, quinapril (tudo que termina em “pril”). Sua excreção é predominantemente renal e, por isso, sua dose precisa ser ajustada em pacientes com insuficiência renal. O captopril deve ser administrado 1h antes das refeições porque, quando administrado com o alimento, ocorre perda de 30-40% de absorção do fármaco. Alguns medicamentos IECA são pró-fármacos, isto é, precisam passar pelo fígado e serem ativados pelas CYP (metabolismo de primeira passagem). Exemplo: enalapril, benazepril, quinapril, fosinopril, ramipril. É necessária a cautela na prescrição em pacientes com insuficiência hepática. A ativação aos poucos do pró-fármaco faz com que o fármaco tenha seu efeito prolongado. Os IECA aumentam a eficácia dos diuréticos porque diminui a ação das ANG-I em ANG-II, diminuindo a ação dos receptores de AT-1 sobre os rins, ou seja, não estimula a ação da aldosterona – como ocorre inibição dos receptores de AT1, aumentam o potássio plasmático. Com o controle da PA, os IECA induzem menor hipertrofia e hiperplasia miocárdica. Afetam vasos de capacitância e de resistência e reduzem a carga cardíaca (vasodilatação indireta das artérias e veias). Farmacologia II 3 - usos clínicos • Anti-hipertensivo; • Após IAM (reduz pós-carga e hipertrofia ventricular); • ICC; • Reduz risco de AVE (por causa da redução da PA); • Reduz progressão doença renal crônica (melhor a perfusão renal). - efeitos colaterais • Tosse seca (5-30%): acúmulo de bradicinina (edema e broncoespasmo); • Hiperpotassemia por redução dos níveis de aldosterona 3; • Erupção cutânea e redução dos níveis de aldosterona; • Hipotensão na primeira dose. - contraindicações • Gravidez (2°-3° trimestres: efeitos no feto como hipotensão, insuficiência renal e má-formação); • Não associar com diuréticos poupadores de potássio (exemplo: espirinolactona) ou BRA – risco de hipercalemia. Porque já ocorre aumento do potássio e pode causar excesso de potássio; • Em associação com AINES (porque fazem vasoconstrição por inibição das PGs); • Estenose crítica da artéria renal (IECA diminui pressão de perfusão, pois precisa de Angiotensina II para manutenção da taxa de filtração glomerular - TFG). • Losartana, ibesartana, candesartana, eprosartana, olmesartana, telmisartana, valsartana (tudo que termina em “sartana”). É um inibidor do receptor da angiotensina II. A ECA não é a única enzima capaz de formar ANG II, a quimase (que não é inibida pelos IECA) fornece uma via alternativa. Essa seria uma possível vantagem dos antagonistas dosreceptores AT1 de angiotensina II. As principais vantagens sobre os IECA é não haver acúmulo de bradicinina e, além da ECA, há outras enzimas que não são bloqueadas pelos IECA. Bloqueando o receptor, não tem como gerar nenhuma produção de ANG-II. - receptores de angiotensina: Eles atuam nos dois receptores (AT1 e (AT2), mas principalmente em AT1. • AT1: o Sistema vascular: constrição; o Miocárdio: aumento da contratilidade; o SNC: aumento do efluxo simpático; o Rins: reabsorção de sódio; o Suprarrenal: liberação de aldosterona. • AT2: o Suprarrenal; o SNC; o Tecidos embrionários: acredita-se que estejam envolvidos no crescimento, no desenvolvimento e no comportamento exploratório – por atuar também em AT2, mesmo que não sendo o principal, são teratogênicos. Farmacologia II 4 Qual a principal função desses fármacos? Bloqueio das ações da ANG-II – ele não bloqueia a ANG-II e sim sua ação sobre o receptor. Além disso, também tem outras funções: • Bloqueio da contração do músculo liso vascular; • Bloqueio das respostas pressoras; • Bloqueio da sede, da liberação de ADH; • Bloqueio da liberação de aldosterona e de catecolaminas adrenais (adrenalina, noradrenalina e dopamina). - usos clínicos São semelhantes aos IECAS: • Anti-hipertensivo; • Após IAM (reduz pós-carga e hipertrofia ventricular); • ICC – 2° escolha; • Reduz risco de AVE; • Reduz progressão doença renal crônica. - efeitos adversos • Menor propensão para causar tosse ou angioedema (não inibem a ECA); • Hipercalemia. - contraindicações • Gravidez; • Estenose bilateral da artéria renal; • AINES; • Não associar com diuréticos poupadores de potássio – o próprio medicamento já pouca potássio ao diminuir a reabsorção de sódio e água. A associação pode causar hiperpotassemia. • Alisquireno (Rasilez®). É o único representante da classe atualmente disponível para uso clínico. Promove uma inibição direta da ação da renina com consequente diminuição da formação de ANG-II. Tem boa tolerância. Tem capacidade, em monoterapia, de redução da PA semelhante aos demais anti-hipertensivos. Não existem, contudo, evidências de seus benefícios sobre morbimortalidade. - efeitos adversos • Diarreia, dor abdominal, dispepsia, refluxo gastroesofágico; • Cefaleia, tontura, fadiga; • Tosse, angioedema e reações alérgicas graves (raras) – por causa do acúmulo de bradicinina; • Hipotensão; • Hipercalemia; • Eventos vasculares em diabéticos tipo 2 (quando combinado com IECA ou BRA); • Teratogênico – contraindicado na gravidez. - caso clínico H.F.R, 35 anos, sexo masculino, procurou atendimento médico com queixa de dispneia e edema de membros inferiores. Relata que nos últimos 6 meses, a dispneia que era aos esforços moderados rapidamente progrediu até estar presente no repouso. Anamnese e exames complementares levaram ao diagnóstico de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) de etiologia a ser esclarecida. Foram prescritos 80mg de furosemida, 0,125mg de digoxina, 50mg de losartana, 25mg de espironolactona, 50mg de hidroclorotiazida e 300mg de ranitidina diários, além de metoprolol (150mg/dia). Em relação aos tratamentos prescritos, responda a questão a seguir: • Quais dos fármacos acima são da classe dos diuréticos? Explique seus respectivos mecanismos de ação – prova. - definição e ação do fármaco Os diuréticos são fármacos que aumentam o volume urinário excretado. Isto é, sua função é inibir os transportadores renais de íons (principalmente sódio e potássio) e diminuir a reabsorção de sódio em diferentes parte dos néfron. Como resultado, o sódio e cloreto entram na urina em quantidades maiores que o normal junto com a água. • Aumento dos íons na urina: Na+/K+/Cl- • Ocorre aumento de água para manter o equilíbrio osmótico (transporte passivo). Existem três classes de fármacos diuréticos que mexem com a PA: tiazídicos, de alça e poupadores de potássio. Eles têm três mecanismos em comum: diminuem a volemia, diminuem a reabsorção de água (diurese) e diminuem a reabsorção de sódio (natriurese). Farmacologia II 5 Os poupadores de potássio não têm eficácia no tratamento de hipertensão. Eles são associados com tiazídicos e de alça para poupar o potássio que esses medicamentos perdem, evitando a hipocalemia. tiazídicos • Clorotizida, clortalidona, hidroclorotiazida, indapamida, metolazona. Os diuréticos tiazídicos inibem o cotransportador Na+/Cl- no túbulo contorcido/convoluto distal, inibindo a reabsorção ativa de cloreto de sódio, causando aumento do débito urinário, aumento da excreção de Na+, Cl-, K+ e H+ e diminuição da excreção de HCO3- e Ca+2. Por diminuírem a excreção de cálcio, eles estão associados à redução da calciúria, redução e manutenção dos níveis de paratormônio e aumento da densidade óssea (evita osteoporose e fratura em idosos por reter o cálcio). Seu efeito hipotensor é bloqueado por inibidores da COX. - usos clínicos • Hipertensão; • Edema (ICC, hepatopatias, doença renal, glicocorticoides); • Hipercalciúria: podem ser úteis no tratamento da hipercalciúria idiopática, pois inibem a excreção urinária de Ca2+. Isso é benéfico para pacientes com cálculos de oxalato de cálcio no trato urinário. - efeitos adversos • Hipocalemia (deficiência de potássio), hiponatremia (deficiência de sódio), hipercalcemia (excesso de cálcio); • Hiperglicemia, fadiga e cansaço (por causa da deficiência de potássio); • Aumenta LDL, colesterol, triglicérides. É sempre importante fazer um hemograma com perfil eletrolítico e lipídico antes de iniciar o tratamento com tiazídico visto que ele pode causar aumento de alguns eletrólitos e de lipídeos. Diuréticos de alça - caso clínico Jovem,19 anos, no pronto atendimento de um hospital relata história de febre e dor de garganta há 12 dias. Há dois dias começou a apresentar inchaço nos tornozelos. Ao exame clínico nota-se aumento das tonsilas palatinas com presença de pontos de pus nas mesmas, edema nos tornozelos e sopro cardíaco. Solicitado ecocardiograma que mostrou alteração de função da valva atrioventricular esquerda. Para este paciente foi prescrito antibiótico, furosemida e cloreto de potássio. Com base no caso responda: • Por que a furosemida e cloreto de potássio foram prescritos como tratamento para este paciente? - definição e ação do fármaco • Furosemida, bumetanida, ácido etacrínico e torsemida. São fármacos de alta potência. São os diuréticos mais potentes, que promovem liberação de pelo menos 25% do filtrado glomerular (impede a reabsorção). Eles têm sua ação diurética ao atuar no ramo ascendente da alça de Henle inibindo o cotransportador de Na+/K+/2Cl-, aumentando o débito urinário, aumentando a excreção de Na+, Cl-, K+, H+, Mg+2, HCO3 e de Ca+2 – ao contrário do tiazídicos, os diuréticos de alça aumentam o conteúdo de Ca2+ da urina. Em pacientes com concentrações séricas de Ca2+ normais, não ocorre hipocalcemia, pois o Ca2+ é reabsorvido no túbulo contorcido distal. Se um paciente está com excesso de cálcio no sangue e está edemaciado, não podemos dar o hidroclorotiazida e sim o furosemida porque ele aumenta a excreção de cálcio. A furosemida administrada por via IV é capaz de estimula óxido nítrico (NO), causando vasodilatação. Por esse motivo, pode ser prescrito em pacientes com edema causado por ICC. Por via oral, seu efeito principal é diurético. Ou seja: • A administração da furosemida por IV é amplamente usada como diurético e, quando administrada por via oral, é usada como hipotensor. Os diuréticos de alça têm todos a mesma eficácia, ou seja, a resposta da diurese é a mesma, o que modifica é potência do fármaco. Exemplo: é administrado 1mg de bumetanida para ter o mesmo efeito de 10mg de furosemida. Farmacologia II 6 - usos clínicos • ICC, edema pulmonar agudo; • Hipertensão; • Edema,ascite (insuficiência renal crônica/IRC, insuficiência hepática); • Hipercalcemia. - efeitos adversos • Desequilíbrio hidroeletrolítico; • Alcalose metabólica: por causa da perda de H+; • Arritmia cardíaca: por causa da diminuição de K+, Ca2+, Mg2+. - diurético de efeito máximo São considerados diuréticos de efeito máximo, isto é, independentemente de administrar uma dose muito grande é impossível ter um efeito maior. Isso porque temos um número de receptores/bombas que vão ficar saturado. Após passar a dose máxima, o paciente é intoxicado, mas sem o efeito adicional porque o número de bomba no TCD é limitado e o bloqueio de todos não adiciona efeito. Isso acontece com o tiazídico e com os de alça. - inibidores de COX Tanto os tiazídicos como os diuréticos de alça tem o seu efeito hipotensor bloqueado quando administrados junto com inibidores da COX (AINES). Os anti-inflamatórios são inibidores de COX e diminuem o efeito de diuréticos de alça e tiazídicos porque diminui a produção de prostaglandina, que é responsável por dilatar o vaso sanguíneo. Sem a prostaglandina ocorre vasoconstrição e passa menos sangue/fluxo na região dos glomérulos, diminuindo o filtrado e diminuindo o efeitos desses diuréticos. Diuréticos Poupadores de Potássio - caso clínico Homem, 45 anos, tem hipertensão faz uso de diurético tiazídico para o controle da pressão arterial elevada. Nos últimos meses, periodicamente, tem tido câimbras noturnas. Os sintomas diminuíram com a inclusão de espironolactona ao diurético tiazídico. • A inclusão do segundo fármaco foi feita com qual intuito? Reduzir a perda de potássio (é um poupador de potássio) está tendo câimbra por causa da perda de potássio ocasionada pelo diurético tiazídico. - definição e ação do fármaco • Inibidores dos canais de sódio: amilorida, tiantereno; • Inibidores dos receptores de aldosterona: esplerenona, espironolactona. São fármacos fracos. Os diuréticos poupadores de potássio atuam no túbulo coletor inibindo a reabsorção de Na+ e a excreção de K+. O principal uso dos poupadores de potássio é no tratamento da hipertensão (mais frequente em associação com um tiazídico). - espironolactona e eplerenona Atuam no bloqueio do receptor de aldosterona, promovendo redução de sódio e secreção de potássio. Se ocorre bloqueio, ele inibe e impede a secreção de potássio, bem como a eliminação de sódio. Em homens diminui libido e causa ginecomastia por causa dos efeitos antiandrogênicos inespecíficos. USOS CLÍNICOS • Hipertensão associado a outros diuréticos; • Hiperaldosteronismo; • Aumenta a sobrevida no ICC: evita remodelamento que ocorre como compensação no IC progressiva; • Efeitos antiandrogênicos: tratar hirsutismo e síndrome do ovário policístico. EFEITOS ADVERSOS • Distúrbios gástricos; • Azotemia: elevação da ureia, creatinina e ácido úrico no sangue; • Diminuição da libido: efeitos antiandrogênicos inespecíficos; • Ginecomastia em homem e irregularidades menstruais em mulheres; • Hipercalemia; • Letargia e confusão mental. Farmacologia II 7 - triantereno e amilorida Também são chamados de diuréticos inibidores dos canais de sódio do epitélio renal. Eles inibem os canais de sódio do epitélio renal, assim como a secreção de potássio. USOS CLÍNICOS • Hipertensão associado a outros diuréticos; • Diminui edema e ascite na ICC. EFEITOS ADVERSOS • Hipercalemia; • Cãibras nas pernas; • Tontura, fadiga, cefaleia; • Distúrbios gástricos (diarreia, náusea). Diurético como anti-hipertensivo • Efeitos natriuréticos, com diminuição do volume extracelular; • Redução da resistência vascular periférica (RVP) – o volume circulante praticamente se normaliza, após quatro a seis semanas de uso do fármaco; • A administração intravenosa de furosemida a pacientes com edema pulmonar causado por ICC aguda provoca um efeito vasodilatador terapeuticamente útil antes do início do efeito diurético. USO CLÍNICO DOS DIURÉTICOS • Deve-se dar preferência aos diuréticos tiazídicos ou similares (clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida) em doses baixas, pois são mais suaves e com maior tempo de ação – são mais usados como anti-hipertensivos; • Reservar os diuréticos de alça (furosemida e bumetanida) aos casos de insuficiência renal e situações de edema (IC ou insuficiência renal) – ou seja, principal diurético utilizado em relação a diurese; • Os poupadores de potássio (espironolactona e amilorida) são habitualmente utilizados em associação com os tiazídicos ou DIU de alça. Bloqueadores adrenérgicos • Antagonistas dos receptores α: o Não seletivos: fentolamina; o α1 seletivos: doxazosina, tansulosina, prazosina, terazosina e alfuzosina; o α2 seletivos: ioimbina. • Antagonistas dos receptores β o Não seletivos: propranolol, timolol e sotalol; o β1 seletivos (2ª geração): atenolol, metoprolol, esmolol e bisoprolol; o β1 e α1 seletivos: carvedilol e labetalol – α1 é periférico; o β1 seletivos (3ª geração): pindolol, nebivolol e betaxolol – estimula a produção de NO. RELEMBRANDO A LOCALIZAÇÃO DOS RECEPTORES Receptores Localização β1 Coração (é 1 porque só temos 1 coração) β2 Trato respiratório (é 2 porque temos 2 pulmões), genitourinário, músculo liso, fígado α1 Vaso sanguíneo, coração, olho α2 SNC, células adiposas, TGI, rins - caso clínico Homem, 45 anos, sedentário, possui bronquite asmática desde os 2 anos de idade. Recentemente, compareceu a uma consulta médica clamando de fadiga muscular, câimbras, dores nas articulações, cefaleia severa, tontura, borramento da visão e dor no peito. Ao aferirem sua pressão arterial, o resultado obtido foi: 155mmHg x 96mmHg, médico prescreveu Cloridrato de Propranolol (Inderal®). Com base no caso responda: • Qual o mecanismo de ação do propranolol? o O propranolol é um antagonista β não seletivo e, por isso, causa Diminuição inicial do débito cardíaco, redução da secreção de renina, readaptação dos barorreceptores, vasodilatação e diminuição das catecolaminas nas sinapses nervosas. Farmacologia II 8 • A decisão quanto ao esquema terapêutico do paciente foi acertada? Por quê? o Não foi acertada porque o paciente tem asma e deveria ser usado um adrenérgico β1 seletivo, por exemplo atenolol, metoprolol. betabloqueadores • Quanto maior a lipossolubilidade de um betabloqueador, maiores os efeitos no sistema nervoso central, como confusão, pesadelo e letargia – ultrapassa a BHE. Propranolol é mais lipossolúvel que o atenolol. • Fármacos hidrossolúveis como, por exemplo, o atenolol tem menos efeitos colaterais centrais que o lipossolúvel propranolol. - efeito rebote A retirada dos β-antagonistas deve ser gradual, se ocorrer interrupção abrupta dos betabloqueadores pode causar: • Arritmias cardíacas; • Agravar a insuficiência coronariana; • Infarto do miocárdio (ocasionalmente). • Morte súbita (ocasionalmente). As possíveis causas são: • Cessação dos efeitos protetores dos betabloqueadores; • Aumento da sensibilidade dos receptores β- adrenérgicos; • Aumento do número de receptores β- adrenérgicos (up-regulation): o mecanismo que explica este efeito provavelmente é a up-regulation dos receptores beta-adrenérgicos devido ao uso crônico do betabloqueador. Assim, os receptores existentes ficam mais responsivos às catecolaminas circulantes. No momento em que a medicação é suspensa, há chance de ocorrer um estado hiperadrenérgico; • Aumento das catecolaminas circulantes. - efeitos colaterais • Indução ICC em pacientes susceptíveis; • Cansaço, fraqueza; • Tonturas, hipotensão; • Insônia (compostos lipossolúveis); • Bradicardia ou Bloqueio AV; • Broncoespasmo; • Taquicardia induzida pela hipoglicemia (DM): Bloqueadores alfa-adrenérgicos - antagonistas alfa- adrenérgicos periféricos • Prazosina, doxazosina, terazosina,tansulosina. Eles produzem bloqueio competitivo de adrenoceptores α1, diminuindo a resistência vascular periférica e reduzindo a pressão arterial, ao relaxar os músculos lisos de artérias e veias. Não são considerados tratamento de primeira escolha. USOS CLÍNICOS • Pode ser usado na hiperplasia benigna de próstata e disfunção vesical. • O fármaco doxazosina pode ser usado para expelir a pedra no rim porque faz vasodilatação. EFEITOS COLATERAIS • Podem induzir ao aparecimento de tolerância; • Hipotensão postural e taquicardia são mais evidentes após a primeira dose; • Incontinência urinária em mulheres. - bloqueadores adrenérgicos de ação central • Alfametildopa (principal usado em gravidas), clonidina, guanabenzo, moxonidina, rilmenidina, reserpina. Atuam estimulando os receptores α2 adrenérgicos pré- sinápticos no SNC, reduzindo o tônus simpático por feedback negativo – reduz a pressão arterial porque faz feedback negativo com a liberação de neurotransmissores, diminuindo a quantidade e fazendo com que haja menor interação pós sináptica. EFEITOS COLATERAIS Os medicamentos dessa classe, apresentam reações adversas decorrentes da ação central, como: • Sonolência, sedação – são utilizados também para sedação, diminuindo a noradrenalina, diminuindo a ansiedade; • Boca seca; • Fadiga; • Hipotensão postural. Farmacologia II 9 - fisiologia da contração e relaxamento do musculo liso vascular Os vasos sanguíneos são formados por 3 camadas (do mais interno para o mais externo/de dentro para fora): camada endotelial, muscular e adventícia. Os vasodilatadores são fármacos que atuam diretamente no musculo liso vascular ou no endotélio. Se atuar no endotélio libera ON e no musculo favorece o relaxamento. Em ambos a consequência é diminuição do tônus muscular. Eles podem estimular a camada muscular ou a camada endotelial, de maneira a manter a pressão arterial. COMO OCORRE AUMENTO DO CÁLCIO? Os receptores AT1 são metabotrópicos, ou seja, eles são receptores acoplados à proteína Gq (estimulatória). Como está acoplada à proteína Gq, seu segundo mensageiro será IP3 e DAG. No momento em que esse receptor é estimulado, isto é, que a ANG-II se liga à AT1, a subunidade α do receptor vai fosforilar o fosfolipídeo de membrana e estimular a DAG e IP3. O IP3, por sua vez, vai estimular abertura do canal de cálcio no retículo sarcoplasmático, fazendo com que o cálcio vaze para o citoplasma, aumentando o cálcio interno. Isso gera despolarização celular e, por isso, o canal de cálcio voltagem dependente que estava fechado irá se abrir e o cálcio que estava no meio extracelular vai entrar (VOCs de cálcio), aumentando ainda mais o cálcio intracelular. Esse aumento desencadear o processo de contração muscular pela fosforilação da cadeia leve da miosina. Uma das substâncias produzidas pelo endotélio é o NO, que é vasodilatador. Ele atua estimulando guanilato ciclase (guanilil ciclase), que é responsável por converter GTP em GMPc. O GMPc aumentado estimula a enzima miosina-LC fosfatase que desfosforila a cadeira leve da miosina e gera relaxamento. O NO pode ser estimulado pela bradicinina e pela acetilcolina, no momento em que se ligam nos seus respectivos receptores. Quando a bradicinina se liga no seu receptor, por exemplo, ela estimula a enzima NO sintase, que libera o NO na fenda das células endoteliais e musculares. Por ser um gás, o NO consegue penetrar na camada bilipídica e ativar guanilato ciclase, bloquear canais de cálcio e estimular canais de potássio. A abertura de canais de potássio resulta saída de potássio, resultando em perda de carga positiva e consequente hiperpolarização celular, ou seja, relaxamento do músculo liso. Observação: no pulmão a bradicinina gera broncoconstrição e na periferia dilatação. Farmacologia II 10 Nitroprussiato de Sódio (NPS) É um vasodilatador liberador de NO que age aumentando GMPc na célula muscular lisa, causando relaxamento e vasodilatação. Ele é um liberador de óxido nítrico que age tanto em arteríolas, diminuindo a resistência vascular periférica, quanto em vênulas, diminuindo o retorno venoso. A molécula do nitroprussiato de sódio é formada por um centro férrico com cinco grupos cianeto e um componente nitroso. Ela reage rapidamente com os eritrócitos e com a parede vascular, liberando cianeto e óxido nítrico (NO). O NO age na musculatura lisa dos vasos ativando a enzima guanilil ciclase, que, por sua vez, converte GTP presente no citoplasma da célula em GMPc. O aumento da concentração de GMPc causa desfosforilação da cadeia leve da miosina e consequente relaxamento da muscular, resultando em vasodilatação. • Doador direto de NO; • Diminui a pré-carga e pós-carga. Sua administração é fotossensível. O cianeto em contato com a luz se desfaz e pode ser administrado/injetado no paciente caso esteja em contato com a luz. - uso clínico • É usado apenas em emergências hipertensivas e IC aguda descompensada, não pode ser usado de forma crônica. • Angina; • Insuficiência cardíaca secundária ao infarto agudo do miocárdio. - efeitos adversos • Hipotensão, taquicardia reflexa e rash cutâneo; • Tontura, cefaleia; • NPS → cianeto → tiocianato (convulsão e acidose lática): cianeto que sobra depois da doação do NO é quebrado por enzimas hepáticas que o transformam em tiocianato, que é excretado pela urina (excreção renal). Como o tiocianato também é tóxico, não deve ser administrado em pacientes com problemas em hepáticos, podendo levar a uma convulsão e acidose lática; • Insuficiência renal ou hepática intoxicação; • Metemoglobinemia: oxidação da Hb pelo NO. O NPS não pode ser associado com o sildenafil (viagra) e nem com nenhum nitrato! A sildenafil é um inibidor da fosfodiesterase e, dessa forma, impede a conversão de GMPc. Dessa forma, vai ocorrer relaxamento em excesso e consequente hipotensão, podendo levar o paciente à óbito. Se chega um paciente no PS infartando é importante perguntar se ele está realizando uso de sildenafil. Nitratos Orgânicos • Dinitrato de isossorbida (longa duração), nitroglicerina (curta duração). Tem maior atividade em vasos de capacitância (veias). São fármacos que causam efeito deletério quando o tratamento ocorre a longo prazo – as células endoteliais atrofiam e param de produzir NO. Diminui o trabalho e aumenta o fluxo. Farmacologia II 11 O problema desses nitratos é que eles causam tolerância, a partir de uma determinada dose não é mais possível gerar resposta. - uso clínico • Angina estável e instável; • IAM; • HAS estágio III: quando nenhum outro medicamento está fazendo mais efeito; • IC aguda e crônica. Inibidores de PDE (fosfodiesterase) • Milrinona e amrinona. Esses fármacos são seletivos para as isoformas PDE3 que estão presentes no músculo liso vascular e no coração. Reduz a pré-carga e a pós-carga. - uso clínico Seu uso é hospitalar com administração IV a curto prazo. • ICC severa. - efeitos adversos Não pode ser associado com nitratos. • Hipotensão; • Trombocitopenia: uso prolongado por amrinona. - sildenafil São altamente seletivos para a PDE5 presente no músculo liso do corpo cavernoso. • Tontura, distúrbios visuais, ondas de calor, rubor, congestão nasal e náusea, dispepsia. Ativadores de canais de K+ • Minoxidil, cromakalim, nicorandil. É usado principalmente no tratamento da hipertensão refratária a outros agentes anti-hipertensivos. Reduz a pós-carga. - efeitos adversos • Cefaleia, edema (associar com diuréticos), taquicardia reflexa (associar com β-bloqueadores ou IECA) e hirsutismo. Bloqueadores dos canais de cálcio Os antagonistas dos canais de cálcio podem ser divididos em duas classes: • Dihidropiridinas: o Nifedipina (ação curta), amlodipina (ação longa), nicardipina, nisoldipina, nitrendipina – tudoque termina em “dipina”; • Não dihidropiridinas: o Fenilalquilaminas: verapamil; o Benzotiazepinas: diltiazem. Os antagonistas de canais de cálcio bloqueiam a entrada de cálcio por se ligarem aos canais de cálcio do tipo L no coração e nos músculos lisos dos vasos coronarianos e arteriolares periféricos. Isso causa o relaxamento do músculo liso vascular, dilatando principalmente as arteríolas. Os BCCs não dilatam veias. - uso clínico • Verapamil e diltiazem: angina, HAS, taquicardia supraventricular paroxística e fibrilação atrial; • Diidropiridinas: HAS, doença arterial coronariana e angina. - efeitos adversos • Dihidropiridinas (nifedipina) o Hipotensão, tontura, cefaleia, rubor e náuseas; o Taquicardia reflexa; o Constipação, edema periférico, edema pulmonar e tosse. • Verapamil e ditilazem: o Hipotensão; o Bradicardia sinusal; o Depressão cardíaca (falência cardíaca) – é contraindicada seu uso na bradicardia sinusal (BAV)/falência cardíaca; o Bloqueio de condução no nodo átrio- ventricular. Farmacologia II 12 CLASSE EXEMPLOS MECANISMO DE AÇÃO REDUÇÃO DA PRÉ-CARGA REDUÇÃO DA PÓS-CARGA Nitratos orgânicos Dinitrato de isossorbida, nitroglicerina Vasodilatação com liberação de NO +++ + Doadores de NO Nitroprussiato +++ +++ Inibidores de PDE Milrinona, anrinona Inibe PDE e reduz a degradação de GMPc ++ ++ Agonista do canal de K+ Minoxidil Ativa canais de K+ e aumenta o efluxo de potássio (hiperpolarização) + +++ IECA Captopril, enalapril, ramipril Reduz a formação de ANG-II e reduz a degradação de bradicinina ++ ++ Antagonistas AT1 Losartana, candesartana Bloqueia os receptores AT1 ++ ++ Antagonista α1 Prazosina Bloqueio seletivo de receptores α1 ++ +++ Bloqueadores de canais de cálcio Anlodipina, nifedipina Bloqueia os canais de cálcio tipo L + +++
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