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DERMATOSES VESICOBOLHOSAS: PÊNFIGOS E PENFIGÓIDES Dra. Marilda Aparecida Saúde do Adulto e Idoso 8º termo - 2021.2 HISTOLOGIA DA PELE Camadas: ● A pele é formada por epiderme, derme e hipoderme, sendo que a epiderme e a derme se separam pela camada basal. ● A epiderme é composta por 04 camadas: a camada basal é formada por células germinativas, a camada espinhosa é formada pelas células de Malpighi, que são células espinhosas que produzem queratina, em seguida vêm a camada granulosa que é responsável por armazenar a queratina em grânulos. Quando as células da granulosa morrem, elas perdem seu núcleo, e vão formar a camada córnea, que é constituída puramente de queratina. Junções Celulares: ● As células da derme e da epiderme estão sobrepostas e fixadas uma à outra através das junções celulares, sendo a principal junção celular os desmossomos. ● Os desmossomos são estruturas em um formato de disco que ficam na parede das células promovendo a adesão entre elas, o que é importante para a integridade/firmeza da pele. ○ Se uma doença causa a destruição dos desmossomos, vai ocorrer a formação de bolhas → pênfigos. ● Além dos desmossomos, existem os hemidesmossomos, os quais fazem a ligação da camada basal com a membrana basal (separa a epiderme da derme). ○ É chamado de hemidesmossomo pois não temos abaixo uma célula e sim uma membrana, necessitando apenas de metade de um desmossomo Desmossomos: ● No desmossomo existe uma molécula chamada desmogleína, e essa molécula é muito importante nos pênfigos, principalmente a desmogleína 1 (DSG1) e a desmogleína 3 (DSG3). ● Nos pênfigos autoimunes, o indivíduo produz anticorpos contra as desmogleínas (anticorpos anti-desmogleínas), o que vai gerar a ruptura dos desmossomos e, consequentemente, a separação das células, culminando no surgimento das bolhas. PÊNFIGOS PÊNFIGO FOLIÁCEO ● Doença frequente no Brasil, endêmica. ● Chamada vulgarmente de fogo selvagem devido às lesões arderem muito Patogenia e Histologia: ● É uma doença autoimune, onde o indivíduo produz anticorpos contra a desmogleína 1 ● A DSG 1 está localizada nas camadas superiores da epiderme, então irá romper os desmossomos da camada subcórnea (abaixo da córnea), e vai separar essa parte da epiderme da camada córnea. ● A bolha formada é subcórnea: temos a camada córnea, a bolha e, abaixo da bolha, a epiderme íntegra. ● Trata-se, portanto, de uma bolha frágil - acima dela está somente a camada córnea, logo, rompe-se com muita facilidade. ● Histologicamente, as células da epiderme são achatadas devido estarem sobrepostas umas nas outras. Devido à ruptura dos desmossomos, essas células se soltam na luz bolha e ficam redondas, recebendo o nome de células acantolíticas. ○ Recebe esse nome pois o fenômeno de ruptura de desmossomos por anticorpos chama-se acantólise. Quadro Clínico: ● Bolhas flácidas, não muito cheias e se rompem com muita facilidade. ● Por tratar-se de uma bolha muito frágil, geralmente, o paciente vai chegar no consultório com exulcerações e erosões, que ocorrem em consequência da ruptura da bolha. ● Eritrodermia: eritema e descamação generalizada, não é exclusiva, mas também ocorre no pênfigo quando há disseminação da doença por todo o corpo. ● Normalmente, o pênfigo foliáceo tem início no couro cabeludo e vai descendo pela região central da face, conforme a evolução do quadro, há acometimento do tórax e região médio-dorsal. São áreas seborreicas, com grande concentração de glândulas sebáceas e, por isso, no início, chamamos de pênfigo eritematoso ou seborreico - é muito semelhante a uma dermatite seborreica. ● O acometimento da face pode fazer diagnóstico diferencial com lúpus. Diagnóstico: ● Biópsia de pele: o diagnóstico é feito facilmente, através da visualização das células acantolíticas e da localização da bolha (subcórnea) ● Exame de Imunofluorescência Indireta: detecta anticorpos no tecido (na pele). ○ Os anticorpos se localizam abaixo da camada córnea e destroem a desmogleína, tendo uma fluorescência na camada superior da epiderme, sendo intercelular ■ Fluorescência Intercelular Subcórnea. PÊNFIGO VULGAR Patogenia e Histologia: ● A lesão do pênfigo vulgar caracteriza-se histologicamente por bolha acantolítica baixa, na região suprabasal, sítio de maior expressão da desmogleína 3. ● A DSG3 localiza-se nas camadas inferiores da epiderme, acima da camada basal, o que determina a formação de uma bolha suprabasal no pênfigo. ● No interior da bolha, assim como no pênfigo foliáceo, visualizamos células acantolíticas (decorrem da destruição das células epiteliais pelos anticorpos, o que chamamos de acantólise). Quadro Clínico: ● A durabilidade da bolha no pênfigo vulgar é superior à do pênfigo foliáceo. ● A bolha é menos frágil devido ter mais camadas de células, demorando mais para romper ○ Mesmo demorando mais, também rompe consideravelmente rápido por tratar-se de uma bolha intraepidérmica. ● As bolhas do pênfigo vulgar são muito sangrantes, isso porque os capilares sanguíneos que nutrem a epiderme estão na papila dérmica, a qual está localizada muito próxima da bolha, o que favorece o sangramento. ● O pênfigo vulgar é mais grave, a lesão demora mais para cicatrizar por ser mais profunda e ser sangrante. ● Podemos ver lesões com crosta e lesões com sangramento. ● Uma diferença importante: ○ No pênfigo foliáceo não há lesão de mucosa, porque na mucosa nós não temos DSG1, que a desmogleína rompida pelo anticorpos no pênfigo foliáceo. ○ Na mucosa nós temos DSG3, então no pênfigo vulgar a gente vai ter lesão de mucosa (oral, vaginal, ocular, laríngea, etc) porque é contra a DSG3 que os anticorpos agem. ○ O acometimento é principalmente da mucosa oral (lábio, palato, gengiva, mucosa jugal, língua), o que leva o indivíduo a ter dificuldades de higienização, por isso é comum a visualização de tártaro, gengivite, etc. Diagnóstico: ● Biópsia de pele: bolha acantolítica suprabasal ● Imunofluorescência indireta: ○ Padrão-ouro ○ A fluorescência também é intercelular por se tratar de ruptura de desmossomo, mas é localizada inferiormente, na camada suprabasal. SINAIS CLÍNICOS Sinal de Nikolsky ● Com o dedo protegido (gaze ou luva), vamos comprimir a pele normal ao lado de uma bolha e deslizar o dedo ● Sinal de Nikolsky Positivo: ao deslizar, a pele escorrega/descama. ○ Essa descamação, indica que já está ocorrendo acantólise na periferia da bolha, ou seja, já existe a ação de anticorpos destruindo desmossomos e, posteriormente, haveria a formação de uma bolha. ● Não é um sinal patognomônico, mas é muito sugestivo tanto do pênfigo foliáceo quanto do vulgar. Sinal de Asboe-Hansen ● Consiste em exercer uma compressão na lateral de uma bolha íntegra. ● Sinal de Asboe-Hansen Positivo: a bolha aumenta de tamanho na lateralidade. ○ Esse aumento de tamanho ocorre porque já existem desmossomos rotos, o que permite que o líquido escorra para a lateral, determinando o sinal positivo. PÊNFIGOS: FOLIÁCEO X VULGAR TRATAMENTO ● O tratamento é o mesmo para as duas doenças, o que muda é a posologia ● Normalmente é utilizado corticóide sistêmico, em menores doses no pênfigo foliáceo. ● Geralmente, no pênfigo vulgar, precisamos associar outros imunossupressores ou outras drogas anti-inflamatórias (Dapsona, Ciclofosfamida, Ciclosporina) ● A Azatioprina é frequentemente utilizada no pênfigo vulgar, por tratar-se de uma droga poupadora do corticóide, vai levar a uma redução dos efeitos colaterais. ● Diante de uma infecção secundária associada, abrimos mão de antibioticoterapia sistêmica ou tópica. ● Como no curso do tratamento a gente vai imunossuprimir o paciente, vamos sempre administrar Albendazol para prevenção da estrongiloidíase disseminada. ● Para os casos mais leves, o tratamento é feito com a associação de Tetraciclina (2 g/dia) e Nicotinamida (1,5 mg/dia). ● Lesões localizadas são tratadas com corticóide tópico. ● Dieta hiperproteica e hipossódica. PENFIGÓIDES PENFIGÓIDE BOLHOSO Patogenia e Histologia: ● Ocorre a produção de anticorposcontra componentes do hemidesmossomo de 230KD e 180KD (BP 230 Ag1 e BP 180 Ag2, respectivamente). ● O hemidesmossomo localiza-se abaixo da epiderme, na soma da membrana basal (camada basal + membrana basal). Ou seja, a bolha formada possui toda a epiderme íntegra acima. ● No histopatológico visualiza-se toda a epiderme acima da bolha. Quadro Clínico: ● É uma bolha resistente que demora para romper, é uma bolha cheia e tensa ○ Acima da bolha, temos toda a epiderme íntegra. ● O paciente chega ao consultório com exulceração, mas sempre tem as bolhas tensas, o que proporciona diagnóstico diferencial do pênfigo. ● Nesse caso não tem os sinais de Nikolsky e Asboe-Hansen positivo por não ter acantólise. ● Também atinge a mucosa oral e é comum encontrar bolha íntegra. Diagnóstico: ● Histopatológico: epiderme íntegra acima da bolha ● Imunofluorescência Indireta: ○ A fluorescência não é intercelular e sim na zona da membrana basal ○ Fica uma linha separando a derme da epiderme, como se formasse o desenho da membrana basal. Tratamento: ● Corticoide sistêmico, doses mais baixas e menor tempo que no pênfigo vulgar ● Pode haver associação com outros imunossupressores para tentar diminuir o corticoide: metotrexato, ciclofosfamida, dapsona ○ Muito frequente e depois retira o corticoide e mantém a dapsona). ● Tetraciclina 2g\dia associada ou não à nicotinamida: em casos leves. ● Dapsona
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