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1 O VELHO TESTAMENTO 2 Sumário O VELHO TESTAMENTO ....................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 5 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 6 MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO ................................................... 13 O MUNDO ANTIGO............................................................................... 15 PERÍODO DA HISTÓRIA ...................................................................... 16 A REVOLUÇÃO NEOLÍTICA ............................................................. 17 OS ESTADOS RELIGIOSOS ARCAICOS ......................................... 18 O ESTABELECIMENTO DE IMPÉRIOS (CERCA DE 2700 A.C) ...... 19 A ERA DE AMARNA (1500 A.C) ........................................................ 20 OS ESTADOS MULTINACIONAIS (DESDE 1200 A.C) ..................... 21 A ERA DA SUPREMACIA GREGA (450-325 A.C) ............................ 22 A ERA ROMANA (100 A.C. - 450 D.C) .............................................. 23 DIVISÃO HISTÓRICA DO PERÍODO DA COMPOSIÇÃO DOS LIVROS ......................................................................................................................... 24 ANTES DA MONARQUIA OU REINADO .............................................. 27 O PERÍODO DO REINADO OU MONARQUIA ..................................... 33 O REINO UNIDO ............................................................................... 34 O REINO DIVIDIDO ........................................................................... 36 O EXÍLIO E PÓS-EXÍLIO ....................................................................... 38 OS LIVROS POÉTICOS ........................................................................ 39 A POESIA HEBRAICA ........................................................................... 40 OS ARTIFÍCIOS POÉTICOS DO ANTIGO TESTAMENTO ............... 41 LINGUAGEM FIGURADA .............................................................. 41 PARALELISMO .............................................................................. 41 file://///192.168.0.2/V/Pedagogico/EDUCAÇÃO/CIENCIAS%20DA%20RELIGIAO/O%20VELHO%20TESTAMENTO/O%20VELHO%20TESTAMENTO.docx%23_Toc98319619 3 RITMO ............................................................................................ 42 O USO DA MÚSICA ....................................................................... 42 OS LIVROS ........................................................................................... 43 O LIVRO DE JÓ ................................................................................. 43 O LIVRO DOS SALMOS .................................................................... 44 OS LIVROS DE PROVÉRBIOS E ECLESIASTES ............................ 47 O LIVRO DO CÂNTICO DOS CÂNTICOS ......................................... 49 LIVROS PROFÉTICOS ......................................................................... 49 A PROFECIA EM ISRAEL ................................................................. 50 PROFETAS PRÉ-CATIVEIRO .............................................................. 51 O PROFETA OBADIAS ..................................................................... 52 O PROFETA JOEL ............................................................................ 53 O PROFETA JONAS ......................................................................... 55 O PROFETA AMÓS ........................................................................... 57 O PROFETA OSÉIAS ........................................................................ 59 O PROFETA MIQUÉIAS .................................................................... 61 O PROFETA ISAÍAS .......................................................................... 62 O PROFETA NAUM ........................................................................... 64 O PROFETA SOFONIAS ................................................................... 66 O PROFETA HABACUQUE ............................................................... 67 PROFETAS NO CATIVEIRO E DURANTE O CATIVEIRO ................... 68 O PROFETA JEREMIAS ................................................................... 68 O PROFETA EZEQUIEL .................................................................... 69 O PROFETA DANIEL ........................................................................ 70 PROFETAS PÓS-CATIVEIRO .............................................................. 71 O PROFETA AGEU ............................................................................... 72 O PROFETA ZACARIAS ................................................................... 72 4 O PROFETA MALAQUIAS ................................................................ 73 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 75 5 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 6 INTRODUÇÃO O Antigo Testamento é uma obra verdadeiramente divina porque foi inspirada por Deus e porque nos apresenta, pode-se dizer, em cada uma de suas páginas, a ação de Deus sobre os homens. Ao mesmo tempo, porém, é uma obra profundamente humana, porque é destinada aos homens, fala uma linguagem humana e nos apresenta na sua história, os homens tais quais são com suas deficiências e rebeldias contra os desígnios divinos, não costumando encobrir as faltas dos seus heróis. Mas, ao lado do escândalo aparece a correção. O estudo do Antigo Testamento é fundamental para o cristão que deseja se tornar um obreiro aprovado, pois se observa um progresso vital do Antigo ao Novo Testamento, como do embrião que se desenvolve num organismo perfeito. Deste, deriva uma consequência importante para a sua correta interpretação, pois as suas instituições deviam ter alguma semelhança com as do Novo; eram as suas imagens antecipadas que no Novo Testamento recebem a sua conclusão. A melhor forma de conhecer a história de Israel é fazendo um estudo cronológico dos livros do AT, conforme os fatos ocorreram. No entanto, a cronologia bíblica, assim como toda cronologia antiga, é quase toda incerta. As datas eram contadas baseadas em fatos e eventos importantes dentro de cada povo. Assim, não existia um calendáriogeral para controle do tempo, antes cada povo possuía o seu. Os escritores bíblicos, por sua vez não registravam datas, apenas citavam os acontecimentos. Geralmente as datas, quando citadas, tomavam por base eventos particulares como construção de cidades, coroações de reis, etc. O trabalho de estudiosos, juntamente com as descobertas arqueológicas, vem ajudando a precisar as datas da história antiga, inclusive à bíblica. Sendo assim, não podemos considerar como exata a cronologia bíblica, pois se trata de uma ciência auxiliar da história, onde suas datas devem ser tomadas apenas como aproximadas. Mas, essa aproximação é o suficiente para que tenhamos melhor compreensão dos acontecimentos do que se fizermos uma leitura na sequência em que os livros estão dispostos em nossa Bíblia. Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem 7 diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que eu vos mando. (Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5,6) . De acordo com Félix García López (2002), em sua obra O Pentateuco: Introdução à Leitura dos Cinco Primeiros Livros da Bíblia,o Pentateuco em si é uma grande composição literária, integrada e constituída por narrações e leis. Segundo esse autor, os personagens principais do Pentateuco vivem e se desenvolvem, de forma geral, num marco espacial (geográfico) e temporal bastante amplo, quando mesmo não o transcendem, como é no caso de Javé (Deus). Segundo o autor, em muitos aspectos, o Pentateuco é semelhante às obras literárias modernas. A organização dos livros do Antigo Testamento na literatura hebraica é diferente da organização cristã, pois nela, segundo López (2002), é feita inclusive a união de alguns livros, que na literatura cristã são separados. São os livros dos 12 profetas menores, os dois livros de Samuel, os dois livros de Reis, os dois livros das Crônicas, assim como também é feita a junção dos livros de Neemias e Esdras, chegando ao total de 24 livros e não 39, como foi feita na nossa tradução do Pentateuco. No entanto, em relação a essas diferenças, apenas foram mudadas a forma estética e a organização, mas os conteúdos são equivalentes nas diferentes formas de tradução. López (2002) traz em sua obra, um esquema de organização do Antigo Testamento de acordo com a tradição judaica, como podemos constatar a seguir: 8 Como podemos notar no quadro anterior, todos os livros do Antigo Testamento da tradução segundo a versão cristã eram reconhecidos pelo povo judeu e considerados também como divinamente inspirados, e aceitos inclusive pelo próprio historiador Flávio Josefo, em que ele apresenta uma divisão da estrutura não de 24 livros, mas de apenas 22 livros. Pois na divisão de 22 livros, adotada por Flávio Josefo, o livro de Rute está junto com o de Juízes e o livro de Lamentações com o de Jeremias. Devemos entender que a formação do Cânon do Antigo Testamento se deu de forma gradual, ocorrendo num espaço de tempo de aproximadamente 1.255 anos, desde o personagem de Moisés até Esdras. Segundo as fontes de pesquisas, “[...] isto vai desde o período em que Moisés esteve entre os midianitas (quando, segundo a tradição judaica, teria escrito o livro de Jó), por volta de 1700 a.C., até Esdras (445 a.C.)” (LÓPEZ, 2002, p. 18). Em relação à redação final do Antigo Testamento, Esdras não pode ser considerado como o redator final. 9 Esdras não foi o último escritor na formação do Cânon do Antigo Testamento; os últimos foram Neemias e Malaquias, porém, de acordo com os escritos históricos, foi ele que, na qualidade de escriba sacerdote, reuniu os rolos bíblicos, ficando assim o Cânon encerrado em seu tempo. Os profetas e os homens de Deus que compuseram os livros do Antigo Testamento não tinham consciência de como suas contribuições se enquadrariam a uma unidade global, formando assim o Antigo Testamento (LÓPEZ, 2002, p. 18). Devemos considerar que cada época (em se tratando de diferentes culturas e sociedades) tem a sua própria forma de ler, no sentido de compreender, a Bíblia, e de acordo com as correntes intelectuais que vigoram no dado momento. Nesse sentido, López (2002) conclui que os trabalhos de Fr. Luís de León e de Arias Montano refletem as correntes humanistas do período do Renascimento (séculos XIV e XV). Por outro lado, atesta o autor, durante o período do Iluminismo (século XVIII), em relação às pesquisas referentes às Sagradas Escrituras, começaram a ser aplicados os métodos histórico-críticos. No entanto, López recorda que bem mais tarde, a filosofia de Hegel, o positivismo de Comte, evolucionismo e estudos antropológicos, psicológicos e sociológicos contribuíram também para o desenvolvimento da investigação bíblica. É a partir de metade do século XX que a tendência mais apurada na interpretação bíblica é a corrente da nova crítica literária. Essa corrente de pesquisa bíblica apresenta os estudos histórico-críticos que haviam se estabelecido durante mais de dois séculos e que nas últimas décadas têm aberto possibilidades para a existência ou ocorrência para novos métodos literários. Assim, foram se diversificando os métodos histórico-críticos e também foi se multiplicando a definição dos novos métodos literários (LÓPEZ, 2002). Portanto, de acordo com López (2002), a pluralidade dos estudos sobre o Pentateuco é um sinal dos tempos atuais. De acordo com Albert de Pury (1996), organizador da obra “O Pentateuco em questão”, a primeira etapa propriamente literária da formação do Pentateuco pode ser situada pelo ano 1000, à época de Davi. Foi na corte do rei que foram redigidos cinco textos bem curtos que contam as histórias “primitivas” das origens de Abraão, de Isaac, de Jacó e de José. Esses pequenos documentos, segundo Pury, independentes uns dos outros, foram escritos a fim de responder aos adeptos da casa de Saul que contestavam a legitimidade do poder exercido 10 pelo homem de Hebron. “A unidade do documento que fornece ao Pentateuco sua trama fundamental é, portanto, menos de ordem teológica do que de ordem política” (PURY, 1996, p. 164). O Pentateuco é uma classificação dada aos cinco primeiros livros que compõem a Bíblia, sendo eles: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Os cinco primeiros rolos em hebraico são chamados de Torah, verbo hebraico yarah que tem por significado “mostrar com o dedo”, “indicar”, significando então “instruir, ensinar”. O Pentateuco das Igrejas Cristãs é também conhecido como o Livro da Torá da religião judaica, segundo Anderson Vicente Gazzi, autor da obra “Introdução ao Estudo do Pentateuco”. Para uma melhor compreensão do conjunto dos livros que formam o Pentateuco, Gazzi (2013, p. 63) afirma que: Os primeiros cinco livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), geralmente chamados de “a Lei” ou “o Pentateuco”, integram a primeira e mais importante seção do Antigo Testamento, tanto na Bíblia Judaica como na Cristã. A divisão tripartida da Bíblia Hebraica em Lei, Profetas e Escritos (Salmos) pode ser encontrada no Novo Testamento (Lc 24.44.: “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos”) e no Prólogo de Siraque (c.180 a.C.). A distribuição dos livros do Antigo Testamento nas Bíblias Cristãs, baseada na do Antigo Testamento Grego (a Septuaginta; c.150 a.C.), também concede ao Pentateuco esta primazia. Segundo Pury, a questão da origem e do desenvolvimento do Pentateuco não é uma questão de interesse apenas a um grupo de pesquisadores da crítica literária. Para Pury (1996),o Pentateuco é o cânon mais antigo de uma comunidade de fé. Por conseguinte, seu devir (o vir a ser – desenvolvimento) também deve ser compreendido como um processo espiritual. Por isso é necessário estarmos atentos tanto ao aspecto literário quanto ao aspecto teológico. O Pentateuco não foi escrito em uma única vez e não pode ser considerado como sendo a obra de um único autor. O Pentateuco deve ser entendido como escrito a partir de tradições orais e escritas diferentes que foram juntadas de forma progressiva e se unificando ao longo da história. A união de todo esse material só se deu na época depois do exílio da Babilônia. 11 “Seja qual for a resposta à questão da formação do Pentateuco, esta resposta terá que levar em conta o fato de que o Pentateuco deve ser compreendido, de qualquer forma, como uma resposta à catástrofe política e, mais ainda, à crise religiosa e espiritual do exílio” (PURY, 1996, p. 178). A fonte Javista, pelo fato de chamar Deus de Javé, é oriunda do reinado do rei Salomão por volta dos anos 960-930 a.C. Os textos dessa fonte podem ser verificados nos livros de Gênesis, Êxodo e Números. E também nos livros de Josué e Juízes. Essa fonte fala diretamente da história de Israel, desde a criação, passando pelo êxodo até a posse da terra em Canaã. Essa fonte retrata o pensamento do povo da tribo do Sul (Judá), sendo que não dá para identificar diretamente os seus autores. Apenas há o conhecimento das tribos do Sul e de suas cortes. A fonte de tradição Javista apresenta a história de Israel no estilo de uma grande “Epopeia Nacional” em que todos têm marcada em suas memórias históricas “essa história” que é repassada da tradição oral secular recontada no contexto dos reis, privilegiando então as tribos do Sul. A fonte Eloísta (por chamar a Deus de Elohim) foi composta entre os anos 900-850 a.C., depois da separação das tribos do Norte (Israel) e do Sul (Judá). Essa fonte apresenta as mesmas concepções da fonte sulista (apresentada na tradição Javista) e nos mesmos livros, porém, com uma nova perspectiva e olhar, próprio do povo nortista Israel. Propositalmente, Eloísta é advindo do nome de Deus anterior ao êxodo, onde a divindade é invocada como Elohim, o Deus Altíssimo. Sua narrativa dá ênfase a locais (santuários, montes e locais sagrados) onde é forte a experiência de suas lideranças embrionárias (patriarcas, profetas) com a manifestação divina. Também é enfatizada a aliança com o povo (ao contrário da fonte Javista que dá ênfase ao reinado e templos) enquanto coletividade. Esta fonte valoriza mais o campo, a natureza, as tradições primitivas anteriores à monarquia, as relações interpessoais com a divindade, bem diferente da tradução javista que tem um perfil estatal e faz uso de personagens que atuam como mediadores entre Deus e o povo. A fonte sacerdotal foi então composta no final do exílio dos judeus na Babilônia e no começo da restauração entre os anos de 550-450 a.C., pelos sacerdotes hebreus. A partir de Gênesis, Êxodo e passando pelos livros de Levítico e Números, os textos dessa fonte narrativa são fortemente constituídos 12 e elaborados em genealogias, na observação da lei sabática, nas leis religiosas, na circuncisão, no tratamento de todas as enfermidades, no convívio social, no jeito e nas formas de prestar culto à divindade, a importância de toda a casta sacerdotal, dos símbolos religiosos e da interpretação da própria história através dos sacerdotes como sendo os mediadores entre Deus e os homens do povo. A influência da narrativa sacerdotal é bastante significativa no tempo da restauração e na conservação e observação dos costumes religiosos. E, por fim, a fonte denominada de Deuteronomista (fonte que aponta para a observância irrestrita da lei) foi elaborada no reinado de Israel, ou seja, da tribo do Norte. A fonte Deuteronomista é considerada crítica e refinada. Quando no ano de 722 a.C. houve a queda do reino do Norte, essa tradição Deuteronomista foi então guardada por hebreus simpatizantes que habitavam o reino do Sul. Nessa fonte literária é forte a ideia da releitura da história da tribo do Norte a partir da aliança e do momento que o Reino do Sul está passando, de forma que teve o mesmo fim, que foi a sua destruição e o seu exílio. A fonte Deuteronomista em sua releitura da história dá ênfase na pré-história israelita desde os tempos de Moisés até o início do reinado, dando então valor àquilo que constitui a terra e o povo como sendo um dom e uma herança sagrada de Deus. Gazzi (2013) afirma que depois da destruição de Jerusalém no ano 70 depois de Cristo, a própria versão da Bíblia chamada “a versão dos Setenta” perdeu muito do seu valor entre os teólogos judeus da época, em parte e também em consequência do modo pelo qual os próprios cristãos a usavam para fundamentar as suas crenças e as doutrinas de Cristo, e também, em parte, pelo fato de seu estilo ser falho de elegância. Por causa disto, os judeus então fizeram no segundo século três novas versões dos livros canônicos do Antigo Testamento (GAZZI, 2013): • A tradução de Áquila. Este autor era natural do Ponto e prosélito do judaísmo, viveu no tempo do imperador Adriano. Tentou fazer uma versão literal das Escrituras hebraicas, com a finalidade de contradizer a forma que os cristãos faziam dos Setenta para fundamentar as suas doutrinas. • A revisão dos Setenta feita então por Teodócio. Este era judeu prosélito, natural de Éfeso, segundo Ireneu, e segundo Euzébio, Teodócio era também um ebionita que acreditava na missão do Messias, mas não na divindade de Cristo. 13 • A versão de Símaco, também ebionita. Esta versão foi incluída por Orígenes em sua Hexapla e na Tetrapla, que alinhavam lado a lado versões do texto com a Septuaginta. Alguns dos poucos fragmentos do texto de Símaco que chegaram até nossos dias, remanescentes da também perdida Hexapla, permitiram que os acadêmicos modernos elogiassem a pureza e elegância do grego de Símaco, que também foi admirado por Jerônimo para compor a Vulgata. Orígenes organizou o texto hebreu em quatro versões diferentes, em seis colunas paralelas para efeito de estudo comparativo. Na primeira coluna tinha- se o texto hebreu; na segunda coluna, o texto hebreu com caracteres gregos; na terceira coluna, a versão de Áquila; na quarta coluna, a versão de Símaco; na quinta coluna, a dos Setenta; e na sexta coluna, a revisão feita por Teodócio. Em virtude destas seis colunas, tomou o nome de Hexapla. Na coluna destinada ao texto dos Setenta, marcava com um sinal palavras que não encontrava no texto hebreu. Emendava o texto grego, suprindo as palavras do texto hebraico que lhe faltavam, assinalandoas por um asterisco. Conservou a mesma grafia hebraica para os nomes próprios. Orígenes preparou uma edição de menor formato, contendo as últimas quatro colunas, que se ficou chamando Tétrapla (GAZZI, 2013). Porém, em relação aos outros escritos que compõem o Antigo Testamento, existiram outros grupos de redatores ou escolas e discípulos de algum outro personagem importante, por exemplo, alguns dos profetas. Também deve ser considerada a tradição oral partindo da memória do povo que relatava as histórias de geração em geração. Assim, Pury conclui que: O Pentateuco, quanto à sua matéria, se divide em duas partes quase iguais, em textos legislativos e textos narrativos. Abrem-se, portanto, duas vias tradicionais à interpretação: para a tradição judaica, o Pentateuco é antes de tudo compreendido como a Lei de Israel. Para a tradição cristã, ao contrário, o Pentateuco é lido antes de tudo como a história de Israel (PURY, 1996, p. 72). MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO Mundo doAntigo Testamento apresenta-nos os povos que influenciaram a história de Israel durante o periodo do Antigo Testamento, além disso, traz ao 14 conhecimento do estudante da Biblia acontecimentos da história de Israel e o significado destes a luz da revelação completa que Deus faz de si próprio na Biblia. O Antigo Testamento descreve um mundo que é, a um só tempo, semelhante e dessemelhante ao nosso. Por certo conservamos em comum com aquele mundo os elementos básicos da vida nascimento, crescimento, morte, a familia, a nação, o lavrador o soldado, o magistrado, o professor, o médico, mas a falta de qualquer dos inventos mecânicos e elétricos com os quais nos acostumamos coloca o mundo do Antigo Testamento a uma grande distância do nosso. A medida que estudamos os povos e os acontecimentos do Antigo Testamento, estamos mais bem preparados para julgar nossas próprias vidas e sociedades segundo os padrões da lei de Deus. Nosso estudo pode ajudar-nos, também, a ver a demonstração clara da obra poderosa de Deus na história, porque cada um dos povos que influenciaram a vida de Israel for um ator no grande palco da civilização. Ao considerar o drama desses povos, podemos ver os intermináveis conflitos de feudos de sangue entre pequenos clãs polígamos, observar o desmoronamento de sociedades que se entregaram ao hedonismo desenfreado, e regozijar-nos com o triunfo eterno dos que foram fiéis a Deus quando não o era a vasta maioria da humanidade. Além de todos os valores e lições que possam advir do conhecimento dessa história, os povos e os acontecimentos do Antigo Testamento apontaram para a vinda do Messias, Jesus Cristo, e para o seu cumprimento nele o tema subjacente do Antigo Testamento e também do Novo Coração-Queda Redenção-Restauração. E na vida das pessoas e das nações que enchem as suas páginas que vemos este drama encaminhando-se para o seu cumprimento. Em O Mundo do Antigo Testamento, o estudante verá que esses povos realmente viveram as experiências registradas as quais não foram criações literárias de algum escritor imaginativo. Quanto mais conhecermos esse mundo, tanto melhor compreendermos os seus acontecimentos. Esperamos, também 15 que nos imaginacão seja estimulada e nosses apetites despertados para estudar a Palavra de Deus e permitir que ela nos ilumine o coração. O MUNDO ANTIGO Biblia nos proporciona informação confiável sobre povos, lugares e acontecimentos que outros livros antigos não mencionam. Ela fala até de reinos que desapareceram da face da terra. Em realidade, ela penetra uma época que muitos eruditos chamam de "pré-história". Um simples exemplo sugerirá a grande extensão de tempo que a Biblia cobre. Digamos que um dia representa uma geração (cerca de 25 anos). Nessa base, a Segunda Guerra Mundial terminou anteontem, a Guerra Civil norte- americana foi travada faz apenas quatro dias, e os Estados Unidos declararam sua independência na semana passada! Nessa mesma base, Jesus nasceu em Belém há questão de três meses, e Moisés conduziu os israelitas para fora do Egito apenas dois meses antes disso. Os mais antigos livros do Oriente Próximo foram escritos há, mais ou menos, sete meses. Tomando por base este calendário que só existe na imaginação, a história humana teria começado há uns dez meses, mais ou menos. E a Bíblia cobre todo esse período! Ela começa com Deus criando o mundo; conduz-nos através de muitos séculos de história nos o fim dos tempos. antiga e clássica, e aponta Este jogo de imaginação leva-nos a perceber nossa tendência de preocupar-nos excessivamente com os fatos correntes. A tecnologia moderna cegou-nos para as profundezas do passado. Mas as culturas antigas tiveram um senso altamente desenvolvido com respeito ao passado, elas respeitaram as muitas gerações que as precederam. Os sumérios, os egípcios e os babilônios frequentemente ponderavam sobre o significado da história, e procuravam saber para onde ela se dirigia. Gostavam de preservar os processos antigos. Estudavam as linguas que já não eram faladas e praticavam ritos que já haviam perdido o significado. Tinham em alta estima cada estatueta e tijolo que seus antepassados fabricaram. Estimularam seus escribas a preservar palavras antigas que abrangiam quase todos os aspectos da vida. 16 Os escritores do Antigo Testamento viam a história como à fase na qual Deus estava revelando grandes propósitos em um drama mundial que agora se aproxima do clímax ("os últimos dias"). Assim, quiseram guardar um relato precise do passado. Mas este senso de história perdeu-se com a queda de Roma e com a vinda da Idade Media. A sociedade Ocidental perdeu contato com sua herança. Com efeito, a arte e a literatura medievais tiveram de ilustrar as Escrituras com pessoas que usavam vestimentas medievais e moravam em castelos, porque ninguém sabia como realmente se vivia nos tempos bíblicos. Os artefatos do Egito, da Mesopotamia e da costa da Palestina só foram descobertos e interpretados no decorrer dos últimos 150 anos. E mesmo agora, o mundo antigo é para nós um quebra-cabeças. Durante a maior parte do tempo que passamos acordados, consideramos tão só o que nos está acontecendo no presente. Estamos inteiramente absorvidos no "agora". E-nos excessivamente dificil colocar-nos no lugar dos que viveram no passado distante, totalmente fora de contato com nosso próprio estilo de vida. Temos a tendência de interpretar mal as passagens bíblicas por supormos que os acontecimentos e as ideias que aparecem na Biblia narram-nos tudo quanto há para se conhecer acerca dos tempos bíblicos. Não é bem assim. Para obtermos uma perspectiva adequada dos acontecimentos bíblicos, precisamos instruir-nos mais acerca dos anos em que a Biblia foi escrita. PERÍODO DA HISTÓRIA Não podemos trazer de volta o passado, mas temos pistas suficientes que nos proporcionam uma ampla visão da vida naqueles tempos. Quando combinamos esses discernimentos com a narrativa bíblica, começamos a obter um quadro verdadeiramente crivel daqueles eventos. Muitos eruditos modernos dizem que a sociedade antiga era primitiva. Mas os seres humanos antigos não eram menos criativos ou inteligentes do que nós. Suas invenções (a escrita e a aritmética, por exemplo) lançaram os alicerces de todas as civilizações, passadas e presentes. Na verdade, a maior parte dos 17 característicos da civilização - comércio, dinheiro, lei, guerra e que tais - estavam em evidência nos tempos antigos. Desconhecemos o nome dos inventores e dos gênios politicos que nos deram tais coisas. Conhecemos, porém, o esquema geral da história antiga, e ele nos ajuda a entender o que aconteceu nessa época. A REVOLUÇÃO NEOLÍTICA Antes do período neolítico ou "Nova Era da Pedra", que parece ter durado até ao quarto milênio antes de Cristo, a maioria dos povos da Europa e do Oriente Médio viviam em pequenos bandos migratórios. Eram, provavelmente, grupos de famílias que caçavam veado selvagem ou seguiam manadas semi- selvagens que lhes serviam de alimento. Não estabeleciam pontos permanentes de colonização, mas com frequência retornavam aos mesmos locais e usavam os antigos acampamentos de caça por muitos anos, até mesmo por gerações. Alguns deles continuaram com esta prática muito tempo depois de estabelecerem comunidades permanentes. Os patriarcas, por certo, o fizeram (Gênesis 5-9). Os povos neoliticos domesticaram animais selvagens e desenvolveram a agricultura, com seus métodos de irrigação e armazenamento. Com efeito, a Biblia diz: "Sendo Noé lavrador, passou a plantar uma vinha" (Gênesis 9:20). Têm-se encontrado as mais antigasaldeias neoliticas nas montanhas do Norte do Iraque a área geral onde se diz ter pousado a Arca. Reliquias neoliticas também têm sido encontradas em Jericó e noutras localidades biblicas em Israel. 18 Assim, durante a Era Neolítica, os caçadores que viviam perambulando acomodaram-se para começar o cultivo da terra. Isto significava que diversas gerações viveriam juntas em um lugar. Seus prédios, muros, poços e outras estruturas passavam de uma geração a outra. OS ESTADOS RELIGIOSOS ARCAICOS Os estados religiosos arcaicos tiveram início como comunidades agrícolas que possuíam seus próprios rituais religiosos. Aos poucos, o culto local e seus oficiais iam assumindo o controle da aldeia. A comunidade inteira se consagrava ao deus do ritual, e logo esse culto ou ritual praticamente se asse- nhoreava da comunidade. Adoravam-se deuses e deusas agrícolas. Seus rituais seguiam o ciclo agricola anual. A medida que cresciam as pequeninas cidades-estados, cresciam também a riqueza e o poder de seus cultos. Cada templo ampliava seu controle, até que todos os cidadãos locais trabalhavam para o templo. Encontramos prova deste tipo de cidade-templo na Suméria (Sinear, na Biblia), no Egito e no Elão. • Jericó: Uma das mais antigas provas de vida no mundo antigo vem da cidade de Jericó. Aqui os arqueólogos desenterraram uma casa do primitivo Periodo Neolitico, anterior a 4.000 a.C. Os reis do antigo Oriente Próximo geralmente oficiavam como sacerdotes de seus cultos locais. A medida que o poder político do templo crescia, crescia também o poder do rei. Cidades da vizinhança que tinham cultos religiosos semelhantes começavam a reunir-se. Uniam suas crenças sob um governo comum. Esses agrupamentos de cidades construiram as grandes torres-templos da Mesopotâmia, as mais antigas pirâmides do Egito, e os maciços edificios religiosos em outros lugares. Os capítulos 10 a 11 do Gênesis refletem esta tendência. Os primitivos estados religiosos realizaram grandes coisas. Por exemplo, inventaram a escrita quando começaram a manter registros econômicos, e seus primeiros registros foram feitos, provavelmente, em cera ou barro. Não demorou muito, arquitetaram a aritmética para ajudá-los no cômputo de suas transações comerciais. Então começaram a registrar principios de ética, 19 lendas, histórias, leis, canções, poemas e fatos históricos. Assim, na época de Abraão, muitas das civilizações situadas em torno do Mediterrâneo haviam posto seus idiomas em forma escrita. Quando um estado religioso arcaico declinava e outro o conquistava, a língua local e os hábitos de adoração misturavam-se. Por isso não podemos, hoje, dizer onde se originaram muitas das línguas e crenças antigas. Os povos do Oriente Próximo começaram a adorar muitos deuses do mesmo tipo (uma prática que denominamos politeismo). Narravam lendas sobre famílias de deuses mais velhos e deuses mais jovens. Acrescentaram deuses e mais deuses às suas religiões até que formaram uma aglomeração desnorteante de divindades. Ao trocarem as cidades da Palestina antiga suprimentos com outras regiões do Oriente Próximo, também trocavam costumes religiosos. Deixaram provas dessas religiões pagas mistas nas antigas cidades de Jericó, Hazor, Bete-Semes e outras. O Antigo Testamento descreve este confuso estado de coisas (Josué 24:2, 15). O ESTABELECIMENTO DE IMPÉRIOS (CERCA DE 2700 A.C) Quando os estados religiosos arcaicos se tornaram ricos e seguros, e proveram mais alimento e proteção para seus povos, o resultado foi a explosão populacional. Os mais bem organizados espalharam-se para além de suas fronteiras tradicionais e abrangeram mais algumas cidades-estados das redondezas. Tornaram-se os primeiros impérios do mundo. O primeiro desses foi, provavelmente, o Egito, seguido depois por Elão, Hati (mais tarde Hatusás), e as cidades semiticas da Mesopotâmia (cf. Gênesis 14:1; Deuteronômio 7:1). Os mesopotâmios instalaram o primeiro ditador do mundo, Sargão de Agade (talvez o "Ninrode" de Gênesis 10). Os arqueólogos encontraram prova de outros reinos poderosos no médio Eufrates e ao longo da costa da Síria e de Israel. Um desses - Ebla, ao norte da Síria - ainda está sob investigação, e é possível que os eruditos necessitem de uma geração para traduzir os registros que estão desenterrando. 20 Durante esse tempo, fortes nações de navegadores apareceram nas ilhas do Leste do Mediterrâneo e do mar Egeu. Dois grupos que deveriamos lembrar são os minoanos e os acadianos, porque eles comerciaram com os povos da Palestina e com eles cambiaram ideias religiosas. Foi essa a época de Abraão e seus descendentes, que eram nômades semitas, pois nesse tempo os povos semitas do Oriente Próximo assumiram o comando das culturas não-semiticas mais antigas tais como os impérios dos sumerianos, dos humanos e dos hititas. O povo de Abraão era rico e sofisticado. Erigiram grandes templos, comerciaram com nações pagās, e criaram extensas leis e corpos de literatura. A arte e a arquitetura dos sumérios, dos minoanos, dos acadianos e dos egipcios floresceram como nunca dantes. Alguns dos grandes tesouros artisticos de todos os tempos chegaram até nós procedentes dessa época. A ERA DE AMARNA (1500 A.C) Com o declínio dos grandes impérios, as nações do Oriente Médio alcançaram um novo equilíbrio de poder. Os estados menores do Leste do Mediterrâneo e do vale do Tigre-Eufrates escaparam das garras dos impérios estrangeiros. Por algum tempo eles puderam desenvolver-se e comerciar entre si mesmos e com seus vizinhos mais poderosos. A era recebe seu nome da capital do misterioso faraó Akhenaton. Seus oficiais escreveram muitas cartas aos políticos de importância secundária da Síria-Palestina e aos neo-hititas ao norte, cartas que ainda temos. Os palestinos e os hititas, que supostamente faziam parte do império egipcio, na realidade louvavam o Egito da boca para fora e cuidavam de seus próprios interesses. O Êxodo e a conquista de Canaã ocorreram nessa época, que foi também a época de Moisés e Josué e da compilação do Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. A riqueza e o esplendor da Era de Amama têm fascinado os estudiosos de todo o mundo. Podemos ter uma ideia dessa grandeza considerando os tesouros do túmulo do rei Tutancamen. Tutancamen era apenas um rei menino, títere de seus conselheiros. Assim, a grande pilha de 21 objetos preciosos sepultados com ele foi, sem dúvida, tão só uma amostra das riquezas dos grandes faraós dessa época. De todos os estados do Oriente Próximo pertencentes ao período, devemos prestar especial atenção a Ugarite, na costa do Líbano. Ugarite era o centro da lingua e religião cananéias, e as tábulas de argila que os arqueólogos têm encontrado ali jorram muita luz sobre o mundo dos cananeus antes da chegada dos israelitas. Durante o período de Amarna, os povos do Oriente Próximo comerciavam com a maior parte do mundo conhecido desde o norte da Europa até às fronteiras da China. A principal potência era Babilônia, que se tornou tão forte ao ponto de controlar o Oriente Próximo no período seguinte da história. A Era de Amarna terminou no período em que Israel estava sob o governo dos juizes. Segundo o Livro dos Juizes, o Oriente Próximo sofreu muita luta política no fim desse período, à medida que os novos impérios faziam suas manobras para controlar a área. OS ESTADOS MULTINACIONAIS (DESDE 1200 A.C) Em sua maioria, os reinos da Era de Amarna eram pequenos, por isso marcamos o fim dessa era no tempo em que surgiram reinos mais amplos. Cada reino de Amarna havia-se limitado ao povo de uma raça,língua ou religião, mas os novos reinos controlavam muitos grupos diferentes. Entre esses novos reinos estavam a Assiria, a Pérsia e as primitivas cidades gregas situadas na região costeira da Turquia. Essa nova era, para Israel, começou com o reinado de Saul e seguiu-se com o de Davi e o dos seus descendentes. Os livros históricos e proféticos do Antigo Testamento foram escritos nessa época. Os historiadores, amiúde, denominam essa época de Primeira Comunidade de Israel. O rei Davi foi contemporâneo de Homero, o lendário poeta cego de origem grega, que escreveu a Iliada e a Odisséia, provavelmente no décimo século antes de Cristo, 22 O rei Salomão, filho de Davi, comerciou com os egípcios, ao sul e com os hititas, ao norte. Ele elevou Israel ao auge de seu esplendor e poder. No governo de seu filho Roboão, as duas tribos sulinas separaram-se das dez tribos do Norte de Israel. As tribos do Sul congregaram-se em torno de Roboão e foram chamadas nação de Judá, enquanto as do Norte seguiram a Jeroboão, rival de Roboão, e foram denominadas nação de Israel. A Assiria conquistou Israel no ano 722 a.C, e mais tarde, em 586 a.C, o rei Nabucodonosor II da Babilônia destruiu Jerusalém e levou para o cativeiro mais um grupo de judeus. No século seguinte, a Pérsia veio a ser a principal potência do interior da Asia. O Império Persa cresceu ao ponto de dominar o Egito, a Babilônia e toda a Siria-Palestina. A ERA DA SUPREMACIA GREGA (450-325 A.C) Por esse tempo, o povo da península grega havia edificado um sistema muito bem-sucedido de cidades estados e colônias comerciais. Despachavam mercadorias das praias do mar Negro para as costas da Europa e da África e construíam cidades e portos em todas as praias do Mediterrâneo. Contudo, nunca conseguiram unir se em torno de uma cidade ou de um líder. Quando o período dos estados multinacionais se aproximava do fim, os persas tentaram invadir a Grécia, mas foram repelidos por Atenas e seus aliados. Atenas tornou- se uma grande potência no meio século que se seguiu. Durante essa nova época, os judeus voltaram à Palestina e reconstruíram sua nação a partir das ruínas. Israel ainda fazia parte do Império Persa, mas os novos reis persas concederam autonomia aos judeus. A este segundo período de autogoverno de Israel os historiadores denominam Segunda Comunidade. Enquanto os persas perdiam força em suas guerras com a Grécia, Israel expandiu-se e retomou alguns de seus antigos territórios. Então se levantou uma nova potência para unir os estados gregos. O novo conquistador era a Macedônia, sob a liderança do rei Filipe (seu túmulo foi recentemente descoberto na região Norte da Grécia). Filipe deixou o império para seu filho Alexandre. O jovem havia sido instruído na academia de Atenas pelo famoso filósofo Aristóteles. Ele amava a civilização e a cultura gregas, e se 23 pôs a caminho para trazer o mundo todo sob a influência dos costumes gregos. Em linguagem técnica, Alexandre desejava "helenizar" o mundo. Para tanto, Alexandre sabia que devia quebrar o poder da Pérsia, de sorte que esta nunca mais ameaçasse a Grécia. Ele reuniu o melhor exército do mundo e marchou através da Asia central até à india. No decurso dos acontecimentos, ele destruiu os últimos estados arcaicos, paralelamente com suas línguas e seus ritos religiosos. Alexandre e seus homens empregavam uma forma popular da língua grega, e transmitiram este dialeto aos povos que conquistavam. E o que chamamos coiné, ou grego comum. Nesta língua foi escrito o Novo Testamento, e Paulo e os demais missionários primitivos empregavam-na ao pregar o evangelho. Alexandre Magno foi a figura preeminente do Período Intertestamentário (período situado entre a escritura do Antigo e do Novo Testamentos). Após a morte repentina de Alexandre em 323 a.C, seus generais dividiram entre si as terras conquistadas e estabeleceram reinos helenísticos, dando início a um período conhecido como Idade Helenística. Os reis desse período trataram os judeus com rudeza. Os judeus que se haviam espalhado pelo mundo (um grupo chamado Diáspora) tornaram-se uma mistura de raças è culturas sob os reinos helenísticos. Negligenciaram suas práticas religiosas tradicionais e adquiriram um estilo de vida secular, o qual devia marcar a última antiga potência, Roma. A ERA ROMANA (100 A.C. - 450 D.C) Jesus Cristo nasceu quando o poder político de Roma estava no auge. Começando como uma pequena mas poderosa cidade-estado nas colinas do Centro da Itália, Roma construiu-se nos éxitos do helenismo. Os romanos reuniram grandes frotas de navios para estender seu poder sobre todo o continente europeu desde a Espanha e Gra- Bretanha até à Arábia e Norte da África. As estradas, os edificios, os muros e os canais romanos ainda pontilham a paisagem de cada país europeu desde o Atlântico até ao mar Vermelho. Os cristãos usaram este surpreendente sistema de estradas e rotas marítimas para levar o evangelho a todos os cantos e recantos do mundo então conhecido. 24 Com o tempo, o poder politico do Império Romano começou a decair, e as tribos do Norte da Europa o conquistaram. Por esse tempo, contudo, a igreja cristă havia crescido com tanta rapidez que sobreviveu å queda do Império Romano. O Édito de Constantino (A.D. 313) havia dado à igreja um lugar especial na vida de Roma um século antes de o império desmoronar-se. A igreja romana, ao tornar-se a maior força unificadora da Idade Média, governou efetivamente os reinos da Europa durante mil anos. DIVISÃO HISTÓRICA DO PERÍODO DA COMPOSIÇÃO DOS LIVROS Após a morte de Moisés, Josué é indicado por Deus para ocupar o lugar do grande líder responsável pela saída do povo israelita do Egito e a condução pelo deserto até as portas de Canaã. A ascensão de Josué ao mais alto posto de comando do povo judeu impulsionou um novo capítulo da história de Israel: o período das conquistas. O período de conquistas é o primeiro momento de Israel em Canaã. Esse momento, de alguma maneira, contribuiu para certa unificação da nação de Israel, muito embora essa unificação venha a estar corroída no período dos juízes. Mais adiante iremos aprofundar um pouco mais a análise sobre esta situação. O quadro a seguir nos ajuda a compreender resumidamente o panorama dos livros históricos: 25 É possível observar no quadro anterior o espaço temporal e histórico que o conteúdo de cada livro abrange. A partir disso é possível ter uma noção geral da história de Israel, e a maneira como os eventos históricos internos e externos contribuíram para o desenvolvimento do plano de Deus na história de seu povo. O conjunto de livros narra eventos que ocorreram desde a chegada de Israel às margens do Jordão para conquistar a terra até o livramento que Deus concedeu ao povo judeu quando estava sob o domínio persa. Quando pensamos em uma historiografia hebraica, é necessário refletir sobre o período da história de Israel, em que teve início o registro dos eventos associados ao povo da promessa. Os registros históricos em sua forma escrita podem ter ocorrido muito depois de os fatos descritos terem acontecido. A tradição oral era comum entre os povos do Oriente. Por este motivo existe muito debate sobre as fontes históricas do registro bíblico e em que período estes registros de fato aconteceram e quem os escreveu. 26 De acordo com Rendtorff (2006, p. 9), Uma historiografia propriamente dita existiu em Israel mais ou menos desde o tempo de Davi. Ocupa-se, principalmente, com acontecimentos políticos. Assim, acham-sedescritos, no 1º livro de Samuel, a origem do reinado e a ascensão de Davi, no 2º livro de Samuel trata-se da consolidação e expansão do reino de Davi e das tramas em torno do problema da sucessão no seu trono. Os livros dos Reis apresentam, a seguir, o governo de Salomão como o último período glorioso do Reino Unido, bem como a divisão em um reino do Norte e um reino do Sul e a queda paulatina até o fim da existência política independente do povo de Israel. Não é nosso objetivo realizar aqui um estudo da crítica textual, pois este estudo é bastante complexo e não se encaixa aqui. No entanto, é importante ressaltar que os registros históricos pertinentes à nação de Israel são fundamentais para compreendermos, dentre outras coisas, os fatos atuais ligados a este povo. A maneira como a nação judaica se estabeleceu na terra prometida e os desdobramentos de suas lutas para se manter onde está até hoje revelam a determinação desse povo em permanecer em sua terra, independentemente dos inimigos que tenha que enfrentar. Apesar de Davi ter sido um simples pastor de ovelhas em sua juventude, como rei de Israel ele foi um líder organizado e metódico. Portanto, o registro histórico desses fatos na época de Davi serve tanto a propósitos espirituais, pois nele vemos a determinação do rei Davi em defender seu povo, como também vemos de perto as imperfeições de grandes homens de Deus, como é o caso de Davi e Salomão, que foram seduzidos pelas mulheres, o primeiro cometeu um adultério e assassinato, e, no caso do segundo, as mulheres o desviaram dos caminhos do Deus de Israel e o levaram a adorar outros deuses estranhos. A história que foi registrada mostra claramente as virtudes dos homens chamados por Deus, bem como suas falhas e os graves erros que cometeram quando deixaram de seguir as leis do Senhor Deus de Israel. A Bíblia não é um livro que registra a vida de “super-homens”, pelo contrário, sua intenção é ser o mais fiel possível ao tratar do caráter, da personalidade e do temperamento dos homens que foram chamados por Deus para realizar seus grandes feitos. Neste tópico, como já dissemos no início, nosso estudo irá se concentrar em três momentos: a história do Antigo Testamento antes do reinado, o reinado 27 e o pós-exílio. Essa forma de dividir a história do povo hebreu auxilia para uma melhor compreensão de seu desenvolvimento. Toda a história bíblica apresenta naturalmente três períodos, sendo o primeiro separado do segundo pelo desmembramento do reino de Israel depois da morte de Salomão, e o segundo separado do terceiro pelo cativeiro de Judá na Babilônia. O terceiro ainda compreende a restauração do Estado judaico até o tempo em que se encerram os oráculos do Antigo Testamento. O segundo e o terceiro período são largamente ilustrados pelos escritos proféticos. [...] O primeiro desses períodos ainda se pode subdividir em duas partes: a primeira vai desde a entrada dos israelitas na Terra da Promissão até o estabelecimento da monarquia; a segunda compreende a história da monarquia israelita, até a morte de Salomão. A primeira parte trata da história da conquista de Canaã, do enfraquecimento do espírito de obediência, depois da morte de Josué, dos castigos supervenientes e das diversas fases de restauração do povo; a segunda descreve a revivescência daquele espírito no tempo de Samuel e de Davi, e o brilhante reinado de Salomão com as suas sombras. Josué, Juízes, Rute, 1 Sm cap. 1 a 10 tratam da primeira série de acontecimentos; 1 e 2 Samuel, 1 Rs. cap. 1 a 11, 1 Crônicas, 2 Crônicas, cap. 1 a 9, narram a parte restante (ANGUS, 2003, p. 420-421). Os livros históricos nos permitem ter uma visão abrangente sobre o comportamento de Israel frente à idolatria e outros pecados que Deus abominava. Em decorrência de suas escolhas, Deus deixou o povo judeu à sua própria sorte, pois as escolhas erradas deste povo resultaram em grande ruína para toda a nação. A história de Israel pode ser mais bem compreendida se estivermos atentos aos eventos principais e em que época ocorreram. Isso permite que o estudante tenha uma visão geral dos eventos e compreenda as ações de Deus em relação a Israel em cada um deles. Outra questão importante ao atentar para estes eventos é que eles nos ajudam a delimitar melhor os fatos e a aprofundarmos o nosso entendimento sobre eles. ANTES DA MONARQUIA OU REINADO O período que antecede a monarquia de Israel é denominado de teocracia (governo de Deus), muito embora no período que vai de Josué até o Livro de Juízes tenha havido líderes humanos, todavia Deus levantava líderes para momentos específicos na história de seu povo. 28 O Livro de Josué dá início à série dos livros históricos do Antigo Testamento. O leitor da Bíblia sabe que Josué foi o substituto de Moisés na missão de introduzilos na terra de Canaã. De acordo com Sellin e Fohrer (2007, p. 271), “O Livro de Josué descreve principalmente a conquista e a divisão das terras a ocidente do Jordão por Israel, no período que vai desde Moisés até a morte de Josué”. A conquista de Canaã ficou sob a responsabilidade e liderança de Josué. Ao chegar a Canaã o povo de Israel encontrou vários povos em situações de permissividade total. A degradação moral havia chegado no limite, pois os atos mais macabros e desumanos eram praticados em rituais de adoração às divindades cananeias. Entre essas práticas era comum o sacrifício de crianças aos deuses, como é o caso dos sacrifícios ao deus Moloque. Essas abominações foram a causa da destruição destes povos e, como veremos adiante, também foi a causa que levou o povo de Israel para o cativeiro. A idolatria foi um câncer que enfraqueceu profundamente a espiritualidade e a moralidade do povo judeu. O cativeiro foi uma maneira de Deus curá-lo da idolatria, que carregava consigo práticas desumanas de sacrifício. Voltando à questão da conquista de Canaã, vamos perceber que Deus havia prometido esta terra aos descendentes de Abraão. Canaã era a região onde habitavam os descendentes de Canaã que está registrado em Gênesis 10, 15-18. Dentre as nações que habitavam a região de Canaã estão as seguintes: os heteus, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os perezeus, os heveus e os jebuseus. Vale ressaltar que o termo cananeus era uma maneira comum que denominava todas essas nações. De acordo com Champlin (2002, p. 620), “As descobertas arqueológicas mostram que os cananeus eram bem desenvolvidos nas artes e nas ciências. Suas construções eram superiores às que Israel edificava na terra de Canaã, após têla conquistado”. Diante da iminente conquista por parte de Israel, os cananeus não demonstraram medo, pois suas cidades eram fortificadas com muralhas e consideradas intransponíveis, como é o caso de Jericó. Os cananeus se destacavam em outras áreas do conhecimento humano, pois possuíam 29 grande perícia na fabricação de objetos de cerâmica, instrumentos musicais e no artesanato. Todavia, a maior contribuição dos cananeus para no âmbito da cultura “foi o de terem sido os verdadeiros inventores do alfabeto como um meio útil para escrever” (THOMPSON, 2007, p. 108). Canaã era um conjunto de nações que possuía aspectos políticos e geográficos distintos. Segundo Gusso (2003, p. 29), Ainda que unidos por uma cultura comum, o povo de Canaã, pela ocasião da invasão israelita, não estava organizado em um forte sistema político, pelo contrário, eles se organizavam em cidades- estado independentes, ou semi-independentes, em sua maioria vassalos do Egito. Se uniam apenas quando enfrentavam algum perigo externo para fazerem frente ao inimigo comum, como foi, em parte, o caso de Israel. Esta fraca unidade de Canaã, que nunca conseguiuse tornar um império coeso, pode ser explicada pelos fatores geográficos e pelas pressões das grandes nações vizinhas que se utilizavam de seu território como se fosse um estado tampão. Neste fragmento é possível perceber como a situação política e social dos cananeus era frágil, pois essa situação deixava o povo à mercê de seus inimigos. A classe pobre e trabalhadora era a que pagava mais impostos para uma elite que controlava as massas e estava sob ordens das nações mais poderosas. A unidade cultural era incapaz de fazer frente a um inimigo como Israel, que havia passado 40 anos no deserto e possuía um grau de unidade um pouco maior que os cananeus. Quando Israel chegou às portas de Canaã, a situação estava ainda mais caótica, pois “por ocasião da invasão israelita o Egito havia perdido a sua influência sobre as cidades-estado e Canaã, ficando estas sem nenhum tipo de poder central” (GUSSO, 2003, p. 30). Esse poder central exercido pelo Egito era capaz de controlar abusos entre os reis dos próprios cananeus, pois mantinha certo controle sobre os reis cananeus e não permitia que estes reis guerreassem entre si. Em decorrência da ausência do poder central, no caso o Egito, alguns reis cananeus buscaram ampliar seus domínios. Tais ações causaram um enfraquecimento ainda maior no que diz respeito às condições para encarar uma guerra contra os israelitas. Vale destacar que o exército de Israel era inferior ao exército dos cananeus em número, todavia o êxito de Josué e seu exército consistiu no fato 30 de que, “ainda que liderando um exército inferior àqueles que os aguardavam em Canaã, deve ter conseguido muitas vitórias aproveitando-se do elemento surpresa, pois suas armas eram insuficientes diante de inimigos tão poderosos” (GUSSO, 2003, p. 33). Diante disso, podemos afirmar que o mérito da conquista não é exclusivo de Josué ou de seus liderados, mas vemos neste processo a fidelidade de Deus em cumprir suas promessas a Abraão, independentemente das circunstâncias adversas que seus descendentes encontraram pelo caminho. Depois de um longo tempo e as inúmeras mortes de israelitas no deserto, houve uma recompensa para a geração que adentrava na terra prometida. Sobre este momento, Gusso (2003, p. 34) afirma: “A entrada em Canaã não poderia ter sido mais gloriosa. Ela aconteceu nas proximidades da cidade de Jericó, acompanhada por um evento extraordinário, que Israel só poderia mesmo considerar um milagre efetuado por Deus que lhes estava dando a terra: as águas do rio Jordão pararam para que eles pudessem passar”. Este momento vivenciado por Israel ficou marcado quando eles retiraram 12 pedras do rio Jordão e estabeleceram essas pedras como um memorial daquilo que Deus havia operado no meio de seu povo. Neste ponto de nosso estudo é importante destacar que há quem defenda que a conquista da terra não foi algo repentino, embora tenha havido casos de tomada imediata, com a extinção completa dos habitantes daquela região. Em outros casos, algumas tribos de Israel foram se inserindo gradativamente no território e de maneira pacífica. De acordo com Schmidt (1994, p. 23), Este processo imigratório, propositalmente designado com a expressão neutra “tomada da terra” (A. Alt.), dificilmente se caracterizou (ao contrário de Js 1-12) por atividades guerreiras onde todo o Israel, unido sob uma liderança comum, tivesse conquistado, passo a passo, todo o país. Tratou-se, antes, de um processo essencialmente pacífico, gradativo e, ao que parece, demorado, de paulatina sedentarização. Este processo se deu de maneira diferente em cada região, como mostram alguns registros, conservados mais ou menos por acaso. A tribo de Dã tentou assentar-se na Palestina Central, mas foi escorraçada para o extremo Norte (Jz 1.34; 13. 2,25; 17s.; Js 19.40ss). Provavelmente também a tribo de Rúben (cf. Js 15.6; 18.17; Jz 5.15s.), decerto também as tribos de Simeão e Levi (Gn 34; 49.5ss.) se assentaram originalmente no âmbito da Palestina Central. O objetivo de Israel era exterminar os cananeus e estabelecer um reino totalmente novo, sem inimigos próximos que pudessem trazer algum tipo de 31 perturbações. Isso naturalmente foi um processo difícil e complicado, segundo o que lemos acima. O certo é que o propósito era a extinção total, embora Israel não tenha feito isso devido aos interesses particulares de cada tribo que acabaram interferindo diretamente neste processo. Se não houve a extinção total de todos os habitantes de Canaã, é certo que alguns povos em particular foram extintos por completo. O Livro de Juízes narra o período em que Israel foi governado por indivíduos chamados por Deus para momentos específicos. É o período em que Israel terá que lidar com inimigos que fariam de tudo para escravizá-los e até mesmo destruí-los por completo. Em várias ocasiões seus inimigos estavam às portas e em condições de devastar a nação israelita, mas Deus, por sua graça e misericórdia, providenciava um escape por meio de um líder que Ele escolhia para estas situações. Em momentos como estes, em que Deus agia em meio ao seu povo por meio de um líder, era comum o povo se voltar para Deus. Era comum haver um reavivamento espiritual no meio do povo em decorrência dos livramentos operados por Deus. O que fica claro também é o fato de que em breve o povo se esquecia da misericórdia de Deus e lhe virava as costas. Como consequência, Deus permitia que os inimigos de seu povo voltassem a lhes afligir. De acordo com Archer Jr. (2005, p. 197), “O tema básico do Livro é a falha de Israel como teocracia, no sentido de não ter conseguido lealdade à aliança mesmo sob a liderança de homens escolhidos por Deus, os quais libertavam a nação da opressão do mundo pagão ao derredor”. O Livro de Juízes mostra de maneira clara a instabilidade espiritual dos israelitas. Quando experimentavam tempos de prosperidade e paz, era comum que se desviassem e esquecessem os grandes feitos de Deus. Essa instabilidade moral e espiritual tornava a nação vulnerável aos inimigos. Essa vulnerabilidade causou ao povo muitas perdas. Esse quadro descrito no Livro de Juízes aponta para a necessidade de uma monarquia centralizada, pois é possível perceber a falta de unidade entre os israelitas e os conflitos intensos entre as tribos, que aconteceram em alguns momentos. Tais conflitos, em um caso específico, quase dizimaram por completo a tribo de Benjamim. 32 O remanescente cananeu que sobreviveu às conquistas de Israel se tornou uma pedra no sapato (ou na sandália) do povo judeu. Dentre os povos que mais causaram danos aos israelitas no período dos juízes, podemos destacar os amonitas, moabitas e filisteus. Esses povos frequentemente atacavam Israel e causavam grandes perdas ao povo. Os reis de Israel mais à frente tiveram que enfrentar frontalmente esses povos para garantir a segurança e estabilidade à nação de Israel. Os amonitas eram descendentes de Ló e se tornaram hostis ao povo israelita. Caracterizados por sua crueldade em relação aos seus inimigos, se uniram a outros povos para destruir os judeus. Infelizmente, o povo israelita, com o passar do tempo, se curvou diante dos deuses amonitas e os adorava. Os moabitas, assim como os amonitas, eram descendentes de Ló, portanto primos de Israel. Apesar deste parentesco, eram inimigos ferrenhos dos judeus e por diversas vezes guerrearam contra os israelitas e causaram grandes danos. Nos tempos do Rei Davi os moabitas foram combatidos e subjugados e pagavam tributos a Israel. Os filisteus foram os inimigos mais ferrenhos de Israel. Segundo Champlin (2004, p. 764), “Foi o conflito contínuo com os filisteus que, historicamente, forçou a formaçãoda monarquia de Israel, o que ocorreu por motivos de proteção”. No Livro de Juízes, do capítulo 13 ao 16 lemos sobre a vida de Sansão e suas batalhas contra os filisteus que frequentemente invadiam as terras de Israel. Na época do profeta Samuel, os filisteus trouxeram grandes prejuízos a Israel. Davi entra em cena na história hebraica quando teve que lutar contra o gigante filisteu. Durante a vida de Davi aconteceram várias batalhas contra os filisteus. Após a divisão do reino de Israel houve batalhas contra os filisteus. Suas cidades principais eram Asdode, Ascalom, Ecrom, Gaza e a mais importante delas, a cidade de Gate. Suas vitórias militares eram celebradas nos templos de seus deuses, sendo que o mais importante deles era Dagom. O período dos Juízes termina com a narrativa de duas histórias trágicas. A primeira foi a atrocidade cometida em Gibeá contra a mulher de um levita que culminou com uma guerra contra a tribo de Benjamim, que quase foi extinta. A segunda história trágica está registrada no livro de I Samuel, quando os filhos de 33 Eli corromperam o povo e os filisteus levaram a Arca da Aliança. O período dos juízes é marcado por momentos de triunfo e alegria em decorrência do agir de Deus para proteger e preservar seu povo, mas infelizmente é um período marcado por idolatria, superstição e violência. É o retrato de uma sociedade na qual “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Juízes 21, 25) (STAMPS, 1997, p. 419). O Livro de Rute contribui para sabermos as condições em que Israel se encontrava pouco antes da monarquia. Este livro contém um relato importante de como os povos à volta de Israel participaram de alguma maneira no plano da salvação. O livro como um todo descreve o papel do remidor em relação a Rute. Mas é no final do livro que encontramos uma informação muito valiosa sobre a genealogia de Davi, pois Rute e Boaz foram os pais de Obede, que foi avô do rei Davi. Qual o propósito do Livro de Rute constar no cânon do Antigo Testamento? Será que não houve acontecimentos mais importantes do que a história de uma simples camponesa e um homem de bens? De acordo com Angus (2003, p. 427), “Um dos fins principais do livro é descrever a geração de Davi, apresentando claramente o fato de estar uma estrangeira, pertencente a uma raça odiada, na linha dos seus antepassados”. Isso deixa clara a importância do rei Davi para a história de Israel, pois a inclusão do Livro de Rute no cânon se deve diretamente ao papel de Davi na consolidação de Israel como nação. O segundo aspecto, e não menos importante, é registrar a presença de gentios na linhagem do salvador Jesus Cristo. O PERÍODO DO REINADO OU MONARQUIA O período do Reinado ou Monárquico tem início com a escolha de Saul para ser o rei de Israel. Este é um período muito turbulento, pois Israel estava cercado por muitos inimigos e era necessário que fosse liderado por alguém capaz de construir certa unidade entre as 12 tribos. Nesse sentido, o grande desafio do primeiro rei de Israel era unificar a nação e fortalecê-la militarmente para enfrentar seus inimigos. 34 O REINO UNIDO O período do reino unido perpassa pelos reinados de Saul, Davi e Salomão. Esse período durou aproximadamente 120 anos e Israel experimentou o seu apogeu. O Rei Saul foi o primeiro rei a ocupar o trono em Israel. Dentre os desafios enfrentados por ele, o maior foi o de construir uma nação unificada. Saul foi ungido rei pelo profeta Samuel numa cerimônia dirigida pelo profeta em Gilgal. O povo de Israel se deparava com os ataques constantes por parte dos filisteus, nesse sentido, seu primeiro desafio era repelir os filisteus das terras de Israel e unificar a nação para se fortalecerem contra os inimigos. Inicialmente o reinado de Saul é caracterizado por alguns avanços, todavia em alguns momentos demonstrou imprudência ao assumir papéis que não eram seus. Um exemplo disso foi quando Samuel demorou a chegar no acampamento e Saul se precipitou em oferecer sacrifícios a Deus, quando na verdade este era um ofício exclusivo dos sacerdotes, neste caso Samuel. Diante de deslizes constantes de Saul, Deus ordena ao profeta Samuel que este ungisse outro rei para reinar em Israel. Deus escolheu Davi como sucessor de Saul. Diante disso, o rei Saul iniciou uma perseguição a Davi que terminou apenas quando Saul morreu pela mão dos filisteus no campo de batalha, juntamente com seus filhos. Davi foi o segundo rei a ocupar o trono de Israel como reino unido. Depois de sua espetacular vitória contra o gigante filisteu, Davi se tornou muito popular em Israel, portanto a chegada ao trono seria apenas uma questão de tempo. Com a morte de Saul, Davi foi aclamado rei em Hebrom. Somente seis anos e meio reinando em Judá é que Davi foi aclamado rei de todas as tribos de Israel. O reinado de Davi foi marcado por altos e baixos. Ao mesmo tempo em que o rei era zeloso e temente a Deus, ele também cometia alguns deslizes, como foi o caso de seu adultério com Bate Seba, a mulher de Urias. Tal pecado trouxe à casa de Davi uma grande ruína, pois teve uma filha estuprada pelo 35 próprio irmão, e posteriormente o próprio filho Absalão lhe usurpou o trono e deitou-se com as mulheres de Davi. A despeito de seus pecados, Davi era um rei quebrantado, e quando era repreendido por Deus não hesitava em confessar seu pecado e se arrepender. Governou o seu povo com muito zelo, confiança em Deus e determinação em defender seus territórios. Suas vitórias nos campos de batalhas demonstram sua ousadia e confiança em Deus, pois em situações muito adversas o rei Davi conduziu seu povo a conquistar vitórias extraordinárias. Diante de sua dedicação e temor a Deus, o Senhor lhe prometeu que seus sucessores ocupariam o trono de Israel. Mesmo quando Israel foi dividido, os sucessores de Davi ocuparam o trono de Judá até o cativeiro babilônico. O terceiro e último rei da monarquia unida de Israel foi Salomão, filho de Davi. Em seu tempo, o reino de Israel experimentou um período de grande prosperidade e paz. Salomão governava seu povo com sabedoria divina e pautava suas decisões na justiça. Liderou a construção do primeiro templo de Jerusalém e seu palácio encantava os visitantes pela beleza e a organização de seus servidores. Infelizmente, Salomão, devido ao grande número de mulheres com que se casou em decorrência das alianças que fez, teve seu coração corrompido e se inclinou a adorar deuses de outras nações. Tal atitude levou o povo de Israel à idolatria, pecado que culminou com a destruição do templo de Jerusalém e o consequente cativeiro. A vida de Salomão revela uma lição muito triste e ao mesmo tempo valiosa. Não importa o grau de sucesso de uma pessoa ou o esplendor de suas realizações, pois quando seu coração se inclina para o pecado, sua vida se torna vazia e sem sentido. Essa lição está muito clara no Livro de Eclesiastes, quando ele escreve que “Tudo é vaidade e aflição de espírito” (Eclesiastes 1, 14). 36 O REINO DIVIDIDO Este foi um período turbulento na história de Israel. O povo vivia um clima de instabilidade constante, situação muito diferente daquela experimentada nos tempos de Salomão, que conduziu o reino de maneira justa, sábia e pacífica. Com a morte de Salomão, o reino de Israel foi dividido entre o Reino do Sul ou Judá e o Reino do Norte ou Israel. O Reino do Sul, cuja capital era Jerusalém e foi governado inicialmente por Roboão, filho de Salomão, era composto por duas tribos: Judá e Benjamim. O Reino do Norte, cuja capital era Samaria e teve como seu primeiro governante o Rei Jeroboão, era compostopor dez tribos: Rúben, Simeão, Zebulon, Naftali, Efraim, Issacar, Dã, Manassés, Gade e Aser. A relação entre os Reinos do Sul e do Norte foi bastante tumultuada, com raros momentos em que se aliaram contra algum inimigo comum, ou estabeleceram acordos de paz. A primeira disputa por influência política e espiritual aconteceu logo após a divisão do reino, quando Jeroboão percebeu que o povo ia até Jerusalém para adorar no Templo de Salomão. Para estancar a possibilidade de o povo se voltar contra ele, mandou construir dois bezerros de ouro para que o povo viesse adorar em Samaria. Jeroboão foi o responsável por introduzir o culto idólatra no reino recém-formado. Desde então o Reino do Norte se tornou idólatra e por este motivo foram como cativos para outras nações. Aqui é importante ressaltar que a idolatria naquele tempo envolvia uma série de coisas imorais e sacrifícios, que eram totalmente contrários aos mandamentos do Senhor Deus de Israel. 37 Neste quadro nós podemos perceber algumas informações importantes, dentre elas destacamos a quantidade de anos que durou cada reino. Observe que o Reino do Sul durou 136 anos a mais que o Reino do Norte. Outra questão é que no Reino do Norte houve nove dinastias, enquanto que no Reino do Sul houve apenas a dinastia de Davi. A troca constante de dinastias no Reino do Norte fazia com que houvesse conflitos internos frequentes, isso naturalmente enfraqueceu o reino, que consequentemente teve uma duração menor que o Reino do Sul. O declínio espiritual de Salomão levou Deus a escolher outro rei para assumir o trono de Israel. Todavia, Deus havia feito a promessa a Davi de que 38 sua semente ocuparia o trono perpetuamente, portanto sua linhagem ocupou o trono de Judá até o cativeiro babilônico. Quais as razões para a divisão do reino? De acordo com Champlin (2002, p. 626-627), podemos enumerar pelo menos cinco: • O declínio de Salomão. • Fatores econômicos. • Causas políticas. • A luta de Jeroboão pelo poder. • Debilitamento da espiritualidade. Esses fatores associados culminaram com a inevitável divisão do reino. O declínio de Salomão abriu espaço para que outras lideranças surgissem entre o povo e ameaçassem o trono. Quando Roboão assumiu o trono, o povo de Israel se encontrava sob um pesado jugo imposto por Salomão para construir o templo e o palácio. Roboão ignorou o apelo do povo para que baixasse os impostos, este ato foi uma afronta ao povo, que escolheu Jeroboão como o novo rei, pois este já estava lutando há algum tempo para ocupar este posto. As causas políticas revelam o fato de que a tribo de Judá era naquele tempo a mais próspera do Reino e mantinha um comércio vigoroso com grandes nações, como era o caso do Egito. Diante da prosperidade de Judá, as demais tribos ficaram enciumadas, portanto, mais um fator que contribuiu para que o restante das tribos virasse as costas para o rei Roboão, que governava a partir de Jerusalém que ficava na tribo de Judá. O esfriamento da espiritualidade do povo de Israel permitiu que vivenciassem um grande declínio em todas as demais áreas da vida da nação. O EXÍLIO E PÓS-EXÍLIO O exílio dos habitantes do Reino do Norte ocorreu de maneira muito trágica e precoce. O exílio dos habitantes do Reino do Sul aconteceu sob o comando do rei da Babilônia e em três momentos. No primeiro momento, cerca de 605 a.C., foram levadas para o cativeiro a família real e a nobreza. No 39 segundo momento, que ocorreu em cerca de 597 a.C., foram levados para o cativeiro babilônico a classe média de Judá e os sacerdotes, dentre eles estava o profeta Ezequiel. No terceiro momento, que ocorreu em 586 a.C., foi levado para o cativeiro parte do povo que havia sobrado, e nesta ocasião o Templo do Senhor que Salomão havia construído foi totalmente saqueado e destruído. Os cativos de Judá foram autorizados a retornar para a sua terra em 535 a.C., por meio de um decreto do Rei Ciro. Após 70 anos de cativeiro, grande parte dos que haviam sido levados para lá haviam morrido e uma nova geração estava retornando. Dentre os problemas enfrentados pelos líderes espirituais de Judá em relação ao povo que havia retornado, um deles era a mistura que havia ocorrido com mulheres de outras nações. Isso influenciou diretamente nos costumes do povo, na obediência à lei do Senhor. Neemias teve que enfrentar este problema de forma enérgica, pois havia um grande descaso dessas pessoas pelas coisas do Senhor. Isso foi visto como um risco de o povo voltar a pecar e, consequentemente, sofrer reprimendas e castigos por parte do Senhor em decorrência de comportamentos estranhos à lei que Deus havia estabelecido para o seu povo. Dois outros grandes desafios que o povo teve que enfrentar no retorno para sua terra: a reconstrução dos muros de Jerusalém e do templo do Senhor que estava em ruínas. OS LIVROS POÉTICOS A cultura judaica é muito rica. Em meio a essa riqueza a poesia tem um espaço proeminente, pois por meio dessas poesias é possível extrair importantíssimas lições para a vida, bem como compreender alguns aspectos importantes do relacionamento do povo judeu com Deus. A poesia é uma maneira que o ser humano encontrou para expressar seus sentimentos mais profundos sobre vários aspectos da vida. No contexto da cultura judaica a poesia era tratada de maneira peculiar, pois ela passou a fazer 40 parte da vida da comunidade, servia para orientar a relação do indivíduo com Deus, com o próximo, com a vida e nos relacionamentos familiares. A POESIA HEBRAICA A poesia hebraica é altamente estruturada e visa expressar sentimentos, verdade, emoções ou experiências em imagens. Não é por acaso que é uma poesia muito rica. Enquanto que a poesia grega, da qual procede a poesia portuguesa, é muito baseada no som, a poesia hebraica, por sua vez, é baseada na construção estruturada das frases. É possível observar, a partir deste fragmento, que a poesia hebraica tinha um aspecto prático, pois tratava de elementos e situações da vida diária. Para o poeta, a vida diária das pessoas sofre influência do mundo sobrenatural, nesse sentido, a poesia vai além de meras palavras ou frases cuidadosamente construídas, mas possuíam um peso espiritual quando eram proferidas. Isso significa dizer que a poesia era levada muito a sério pelas pessoas. De acordo com Angus (2003, p. 539), “A excelência particular da poesia hebraica era ter servido à mais nobre das causas, a da religião, apresentando as mais elevadas e preciosas verdades, expressas na linguagem mais apropriada”. Este é um ponto importante a ser considerado, pois a poesia hebraica não era uma mera expressão cultural, mas, acima de qualquer coisa, servia a propósitos religiosos. Dentre suas finalidades podemos destacar que exaltava a soberania e a misericórdia de Deus em sua relação com o seu povo. 41 Em relação às principais características da poesia hebraica, é importante destacar que “são o caráter elegante e elevado do estilo, o uso de certas palavras e formas de palavras, a maneira conceitual da expressão, e especialmente o que se chama de paralelismo, isto é, certa correspondência, no pensamento ou na linguagem, entre os membros de cada período” (ANGUS, 2003, p. 539-540). Essa elegância é facilmente percebida quando lemos os livros dos Salmos e Provérbios. OS ARTIFÍCIOS POÉTICOS DO ANTIGO TESTAMENTO Os artifícios poéticos consistem em métodos para se transmitir uma ideia, verdade, valor etc., por meio do uso adequado e sutil da linguagem. No Antigo Testamento, principalmente
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