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Discordâncias e Mecanismos de aumento de Resistência Prof. Jomar Berton Junior E-mail: jomar.junior@ifpr.edu.br Introdução A deformação plástica é permanente, e a resistência e a dureza são medidas da resistência de um material a essa deformação. Em uma escala microscópica, a deformação plástica corresponde ao movimento resultante de um grande número de átomos em resposta à aplicação de uma tensão. Durante esse processo, ligações Inter atômicas devem ser rompidas e então novamente formadas. Nos sólidos cristalinos, a deformação plástica envolve, na maioria das vezes, o movimento de discordâncias, que são defeitos cristalinos lineares Introdução Vamos estudar sobre as características das discordâncias e o seu envolvimento na deformação plástica. Vamos aprender várias técnicas são apresentadas para aumentar a resistência de metais monofásicos, cujos mecanismos são descritos em termos de discordâncias. A maclação, outro processo pelo qual alguns metais se deformam plasticamente, também vai ser discutido. Discordâncias Discordâncias Discordâncias Discordâncias Discordâncias Por que os Defeitos Aumentam a Resistência dos Metais? Os campos de deformação ao redor das discordâncias próximas umas das outras podem interagir entre si, de modo tal que forças são impostas sobre cada discordância em razão das interações combinadas de todas as discordâncias vizinhas. Por exemplo, duas discordâncias de aresta que possuem o mesmo sinal e um plano de escorregamento idêntico, como está representado na Figura (a) a seguir. Os campos de deformação de compressão e de tração para ambas as discordâncias se encontram no mesmo lado do plano de escorregamento; a interação do campo de deformação é tal que existe uma força de repulsão mútua entre essas duas discordâncias isoladas, a qual tende a afastá-las. Por outro lado, duas discordâncias de sinais opostos e que possuem o mesmo plano de escorregamento serão atraídas uma em direção à outra, como indicado na Figura (b) a seguir; quando elas se encontrarem, ocorrerá uma aniquilação de discordâncias. Esses campos de deformação e as forças associadas são importantes nos mecanismos de aumento de resistência dos metais. Discordâncias Discordâncias Durante a deformação plástica, o número de discordâncias aumenta drasticamente. Uma fonte importante dessas novas discordâncias são as discordâncias existentes, que se multiplicam; além disso, os contornos de grão, assim como defeitos internos e irregularidades superficiais, tais como riscos e entalhes, que atuam como concentrações de tensões, podem servir como sítios para a formação de discordâncias durante a deformação. Sistemas de Escorregamento As discordâncias não se movem com o mesmo grau de facilidade em todos os planos cristalográficos de átomos e em todas as direções cristalográficas. Comumente, existe um plano preferencial e, nesse plano, existem direções específicas ao longo das quais ocorre o movimento das discordâncias. Esse plano é chamado de plano de escorregamento; A direção do movimento é chamada de direção de escorregamento. Essa combinação de plano de escorregamento e direção de escorregamento é denominada sistema de escorregamento. O sistema de escorregamento depende da estrutura cristalina do metal, e é tal que a distorção atômica que acompanha o movimento de uma discordância é mínima. Para uma estrutura cristalina específica, o plano de escorregamento é aquele que possui o empacotamento atômico mais denso. Sistemas de Escorregamento Os metais com estruturas cristalinas CFC e CCC possuem um número relativamente grande de sistemas de escorregamento (pelo menos 12). Esses metais são bastante dúcteis, pois, em geral, é possível ocorrer deformação plástica extensa ao longo dos vários sistemas. De maneira contrária, os metais HC, que possuem poucos sistemas de escorregamento ativos, são normalmente bastante frágeis. Deformação por Maclação Além de ocorrer por escorregamento, a deformação plástica em alguns materiais metálicos pode ocorrer também pela formação de maclas de deformação, ou maclação. Deformação por Maclação Para um monocristal submetido a uma tensão de cisalhamento τ, (a) deformação por escorregamento; (b) deformação por maclação. Deformação por Maclação As maclas de deformação ocorrem em metais que possuem estruturas cristalinas CCC e HC, em baixas temperaturas, e sob taxas de carregamento elevadas (cargas de impacto), condições sob as quais o processo de escorregamento é restringido; isto é, existem poucos sistemas de escorregamento operacionais. A quantidade da deformação plástica global obtida por maclação é normalmente pequena em relação à que resulta do escorregamento. Mecanismos de Aumento da Resistência em Metais A relação entre o movimento das discordâncias e o comportamento mecânico dos metais é importante para a compreensão dos mecanismos de aumento da resistência. Uma vez que a deformação plástica macroscópica corresponde ao movimento de grande número de discordâncias, a habilidade de um metal se deformar plasticamente depende da habilidade de as discordâncias se moverem. Uma vez que a dureza e a resistência (tanto o limite de escoamento quanto o limite de resistência à tração) estão relacionadas com a facilidade pela qual a deformação plástica pode ser induzida, por causa da redução na mobilidade das discordâncias, a resistência mecânica pode ser melhorada; isto é, forças mecânicas maiores serão necessárias para iniciar a deformação plástica. Em contraste, quanto menos restrito estiver o movimento das discordâncias, maior será a facilidade de um metal poder se deformar, e mais dúctil e menos resistente ele se tornará. Virtualmente, todas as técnicas de aumento de resistência dependem desse princípio simples: A restrição ou o impedimento ao movimento das discordâncias confere maior dureza e resistência ao material. Aumento da Resistência pela Redução do Tamanho do Grão O tamanho dos grãos, ou o diâmetro médio do grão, em um metal policristalino influencia suas propriedades mecânicas. Os grãos adjacentes possuem, normalmente, orientações cristalográficas diferentes e, obviamente, um contorno de grão comum, como está indicado na Figura. Durante a deformação plástica, o escorregamento ou movimento das discordâncias deve ocorrer por meio desse contorno comum — digamos, do grão A para o grão B na Figura. O contorno de grão atua como uma barreira ao movimento das discordâncias por duas razões: Aumento da Resistência pela Redução do Tamanho do Grão Influência do tamanho de grão sobre o limite de escoamento de um latão 70 Cu-30 Zn. Observe que o diâmetro de grão aumenta da direita para a esquerda, e esse aumento não é linear. Aumento da Resistência por Solução Sólida Outra técnica para aumentar a resistência e endurecer metais consiste na formação de ligas com átomos de impurezas que formam uma solução sólida substitucional ou intersticial. Nesse sentido, isso é chamado aumento da resistência por solução sólida As ligas são mais resistentes que os metais puros, uma vez que os átomos de impurezas que estão participando na solução sólida normalmente impõem deformações de rede sobre os átomos hospedeiros vizinhos. Assim, resultam interações do campo de deformação da rede entre as discordâncias e esses átomos de impurezas, e, consequentemente, o movimento das discordâncias fica restrito. Aumento da Resistência por Solução Sólida Aumento da Resistência por Solução Sólida Variação (a) do limite de resistência à tração, (b) do limite de escoamento e (c) da ductilidade (%AL) mostrando o aumento da resistência, em função do teor de níquel para ligas cobre- níquel. Encruamento O encruamento é o fenômeno pelo qual um metal dúctil se torna mais duro e mais resistente à medida que é deformado plasticamente. Algumas vezes, esse fenômeno também é chamado de endurecimento por trabalho, ou, pelo fato de a temperatura na qual a deformação ocorre ser “fria” em relação à temperatura absoluta de fusão do metal, de trabalhoa frio. A maioria dos metais encrua à temperatura ambiente. Encruamento Para o aço 1040, o latão e o cobre, (a) o aumento no limite de escoamento, (b) o aumento no limite de resistência à tração e (c) a redução na ductilidade (%AL) em função da porcentagem de trabalho a frio. Encruamento Influência do trabalho a frio sobre o comportamento tensão-deformação de um aço com baixo teor de carbono; estão mostradas as curvas para 0%TF, 4%TF e 24%TF Encruamento O encruamento é, frequentemente, utilizado comercialmente para melhorar as propriedades mecânicas dos metais durante procedimentos de fabricação. Como os Defeitos Afetam os Metais? A presente discussão está restrita aos mecanismos de aumento da resistência para metais monofásicos pela redução no tamanho do grão, formação de ligas por solução sólida e por meio de encruamento. A deformação e o aumento da resistência para ligas multifásicas são mais complicados e envolvem conceitos mais específicos. Recuperação, Recristalização e Crescimento de Grão A deformação plástica de uma amostra metálica policristalina em temperaturas que são baixas em comparação à sua temperatura absoluta de fusão produz alterações microestruturais e de propriedades que incluem alteração na forma do grão, (2) encruamento e (3) aumento na densidade das discordâncias. Uma parcela da energia gasta na deformação é armazenada no metal como energia de deformação, associada a zonas de tração, compressão e cisalhamento ao redor das discordâncias recém-criadas. Além disso, outras propriedades, tais como a condutividade elétrica e a resistência à corrosão, podem ser modificadas como consequência da deformação plástica. Recozimento O que é recozimento e o que ele faz? Essas propriedades e estruturas podem ser revertidas aos seus estados anteriores ao trabalho a frio mediante um tratamento térmico apropriado (algumas vezes denominado tratamento de recozimento). Essa restauração resulta de dois processos diferentes que ocorrem em temperaturas elevadas: recuperação e recristalização, que podem ser seguidos por crescimento de grão. Recuperação Durante a, recuperação uma parcela da energia de deformação interna armazenada é liberada em virtude do movimento das discordâncias (na ausência de aplicação de uma tensão externa), como resultado da maior difusão atômica em temperaturas elevadas. Existe certa redução no número de discordâncias, e são produzidas configurações de discordâncias que possuem baixas energias de deformação. Além disso, algumas propriedades físicas, tais como as condutividades elétrica e térmica, são recuperadas aos estados de antes do trabalho a frio. Recristalização Mesmo após a recuperação estar completa, os grãos ainda estão em um estado de energia de deformação relativamente elevado. A recristalização é a formação de um novo conjunto de grãos livres de deformação e equiaxiais (isto é, com dimensões aproximadamente iguais em todas as direções), com baixas densidades de discordâncias e que são característicos das condições anteriores ao trabalho a frio. A força motriz para produzir essa nova estrutura de grãos é a diferença de energia interna entre o material deformado e o material não deformado. Os novos grãos se formam como núcleos muito pequenos, e crescem até consumirem por completo seu material de origem, em processos que envolvem difusão de curto alcance. Recristalização Além disso, durante a recristalização, as propriedades mecânicas que foram alteradas como consequência do trabalho a frio são restauradas aos seus valores anteriores ao trabalho a frio; isto é, o metal se torna menos resistente e tem menor dureza, entretanto é mais dúctil. Alguns tratamentos térmicos são projetados para permitir que a recristalização ocorra com essas modificações nas características mecânicas. O comportamento da recristalização de determinada liga metálica é algumas vezes especificado em termos de uma temperatura de recristalização, que é a temperatura na qual a recristalização termina em exatamente 1 hora. Recristalização Recozimento Micrografias mostrando vários estágios da recristalização e do crescimento de grãos do latão. (a) Estrutura de grão trabalhado a frio (33 %TF). (b) Estágio inicial da recristalização, após aquecimento durante 3 s a 580ºC; os grãos muito pequenos são aqueles que recristalizaram. (c) Substituição parcial dos grãos trabalhados a frio por grãos recristalizados (4 s a 580ºC). (d) Recristalização completa (8 s a 580ºC). (e) Crescimento dos grãos após 15 minutos a 580ºC. (f) Crescimento dos grãos após 10 minutos a 700ºC. CRESCIMENTO DE GRÃO Após a conclusão da recristalização, os grãos isentos de deformações continuarão a crescer se a amostra do metal for deixada sob uma temperatura elevada esse fenômeno é chamado de crescimento de grão. O crescimento de grão não precisa ser precedido por recuperação e recristalização; ele pode ocorrer em todos os materiais policristalinos, tanto nos metais quanto nas cerâmicas. CRESCIMENTO DE GRÃO Uma energia está associada aos contornos de grão. Conforme os grãos aumentam de tamanho, a área total dos contornos diminui, produzindo uma consequente redução na energia total; essa é a força motriz para o crescimento de grão. O crescimento de grão ocorre pela migração dos contornos de grão. Com efeito, nem todos os grãos podem aumentar de tamanho, porém grãos maiores crescem à custa de grãos menores, que diminuem. Dessa forma, o tamanho médio de grão aumenta com o tempo e, em qualquer instante específico, existirá uma faixa de tamanhos de grão. Referências Bibliográficas CALLISTER, William D.; RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 817 p. Padilha, A.F. Materiais de Engenharia. Hemus. São Paulo. 1997 Dúvidas?
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