Buscar

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RESPONSABILIDADE 
SOCIAL 
EMPRESARIAL
Eduardo Antonio Resende Homem da Costa
Sociedade de consumo 
e cidadania
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Relacionar sociedade de consumo com cidadania.
  Reconhecer os impactos negativos do consumismo em nossa sociedade.
  Explicar como as empresas podem contribuir para um consumo mais 
consciente e cidadão.
Introdução
Consumo e cidadania estão mais relacionados do que aparentam, o que 
não se refere à ideia equivocada de que só é cidadão quem consome, 
mas, sim, à reflexão de que o cidadão pode se manifestar também no 
seu consumo, com suas escolhas conscientes, e na concretização de 
seus direitos como consumidor e como cidadão ao, por exemplo, cobrar 
posturas empresariais responsáveis.
Neste capítulo, você vai estudar a relação entre consumo e cidadania, 
assim como os impactos negativos do consumo na sociedade e de que 
forma as empresas podem contribuir positivamente para uma relação 
saudável entre ser cidadão e consumidor consciente.
1 A relação entre sociedade de consumo 
e cidadania
Consumir é um ato inerente ao ser humano, é parte fundamental na satisfação 
das necessidades de um indivíduo e também uma importante maneira de 
posicionamento social. Isso ocorre porque, quando escolhemos um produto, 
seguimos a orientação do que consideramos que seja importante para nossa 
integração e diferenciação em um grupo social. No entanto, consumir é mais 
que isso: trata-se de um circuito de geração de valor e riqueza em que as 
partes envolvidas têm ganho. Simplifi cadamente, as empresas produzem e 
comercializam produtos dos quais a sociedade precisa, geram empregos, 
impostos, enfi m, alimentam uma cadeia de negócios benéfi ca a todos, e o 
seu crescimento deveria ser a ampliação de todos esses aspectos positivos.
Entretanto, atualmente, o consumo é considerado um problema grave exa-
tamente devido ao seu crescimento, sendo tema tão importante que constitui o 
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 12 da Organização das 
Nações Unidas: “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis” 
(NAÇÕES UNIDAS, 2017, documento on-line).
Assim, não é algo que possa ser desprezado, já que, além disso, a voraci-
dade com que consumimos não afeta exclusivamente o meio ambiente, como 
é comum imaginarmos, mas vai além do impacto na natureza, que já gera 
fortes consequências em nossas vidas. Se o modelo econômico predominante 
na atualidade se baseia no crescimento constante das atividades econômicas, é 
consequência um volume de negócios sempre crescente, que, por sua vez, tem 
como base o consumo das pessoas. Para manter isso girando em harmonia, 
as empresas trabalham para influenciar as tendências e o comportamento dos 
consumidores, que, então, localizam-se no centro de uma relação cujo papel 
atribui ênfase apenas em adquirir e consumir, independentemente dos outros 
papéis e das relações que possa desempenhar na sociedade. O ato de consumir 
assume uma dimensão de importância que consagraria um individualismo, que, 
por sua vez, tenderia a ignorar o coletivo, supervalorizando o “eu”, o indivíduo.
Hoje, os patrões tendem a não gostar dos empregados onerados de compromis-
sos pessoais com os outros — em especial aqueles com compromissos firmes, 
sobretudo os de longo prazo. As severas exigências da sobrevivência profis-
sional muitas vezes confrontam homens e mulheres com escolhas moralmente 
devastadoras entre as demandas de suas carreiras e o gostar dos outros. Chefes 
preferem empregar indivíduos desonerados, livres para a errância, prontos 
para romper todos os laços diante de uma exigência de momento, que nunca 
pensem duas vezes quando devem se sacrificar “exigências éticas” em nome de 
“exigências do trabalho. Vivemos hoje numa sociedade global de consumidores, 
e os padrões de comportamento de consumo só podem afetar todos os outros 
aspectos de nossa vida, inclusive a vida de trabalho e de família. Somos todos 
pressionados a consumir mais, e, nesse percurso, nós mesmos nos tornamos 
produtos nos mercados de consumo e de trabalho (BAUMAN, 2011, p. 44-45).
Isso não favorece a ideia de cidadania; nessa ótica, o “eu” tende a se so-
brepor ao coletivo. Note que ser cidadão é um conceito multidisciplinar que, 
independentemente das bases em que seja assentado, pauta-se por integrar 
um indivíduo a uma comunidade ou sociedade.
Sociedade de consumo e cidadania2
Para uma melhor compreensão, podemos pensar nos direitos políticos, 
civis e sociais, que são importantes para a discussão da ideia de cidadania. 
Não existe exatamente uma hierarquia entre esses direitos, que estão relacio-
nados, mas um deles pode estar presente sem que os outros o acompanhem. 
Simplificadamente, podemos entender direitos civis como, por exemplo, o 
direito à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Em relação aos 
direitos políticos, temos o direito de votar e ser votado e, finalmente, os direitos 
sociais, tão discutidos atualmente, são representados comumente pelo direito 
a educação, saúde, aposentaria, entre outros. A conquista desses três direitos, 
portanto, faria um indivíduo tornar-se cidadão pleno.
Todavia, um dos elementos básicos da construção da cidadania atualmente 
é o de que ela seja o fruto da conquista dos direitos por eles próprios definidos. 
Nesse sentido, o conteúdo da cidadania tem sido debatido, e o seu significado 
vem se modificando e ampliando para incorporar, por exemplo, o direito à 
diferença, o direito do consumidor, entre outras demandas de grupos sociais.
Nesse sentido, trata-se de ser um sujeito com direitos e deveres consagra-
dos, legitimados e preservados, um cidadão que se insere em uma sociedade 
imbuído de um sentimento de pertencimento que concretamente se mani-
festa na sua relação com os seus pares (os demais cidadãos) em seu ambiente 
(socioambiental).
Observe, por exemplo, o direito à vida e ao trabalho justo. Nesse caso, o 
seu consumo pode financiar empresas que exploram o trabalho infantil ou 
pessoas em condições análogas à escravidão. Pressões de consumidores são 
importantes para mudar essa relação de exploração laboral, mas, para que isso 
ocorra, o “eu” deve dar lugar ao “nós” — por exemplo, abandonar o produto 
mais barato (porque explora mão de obra ou porque é ilegal) para optar por 
outro que beneficie a sociedade, e não o contrário.
Mas por que os cidadãos fariam isso? Por não pensarem exclusivamente em 
si mesmos, mas na sociedade em que estão inseridos. Se isso não for suficiente, 
pode-se adotar ainda uma lógica utilitarista, em que adquirir produtos de uma 
empresa que sonega impostos, explora mão de obra infantil ou é irresponsável 
com o meio ambiente representa obter um ganho de curto prazo (preço ou 
satisfação no produto) e um prejuízo para a sociedade no longo prazo.
O consumo é tão importante para o desenvolvimento de uma sociedade 
que no Brasil existe um instrumento específico que fornece amparo legal e 
contribui para que a produção e o consumo sejam problemas ou questões do 
interesse de todos. Trata-se do o Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 
1990), cujo propósito é garantir a segurança, a saúde, a vida e a dignidade 
do consumidor.
3Sociedade de consumo e cidadania
Visto tudo isso, deve-se compreender que, por mais importante que seja, 
por mais evidente que os problemas possam parecer, nada é implementado de 
maneira simples: a empresa não quer abrir mão do foco no lucro e o consumidor 
não quer abrir mão das suas escolhas.
Ocupados em ganhar mais para comprar novas coisas de que creem neces-
sitar para ficar felizes, homens e mulheres têm menos tempo para a empatia 
e as negociações intensas, por vezes tortuosas e amarguradas, mas sempre 
prolongadas e cansativas, para não falar em tempo para resolver seus mal-
-entendidos e desacordos mútuos (BAUMAN, 2011, p. 45).
Para que isso tenha sucesso, deve-se promover mudanças de atitude com 
base na conscientização dos indivíduos.Em outras palavras, mudar o sistema 
de valores, o que nem sempre é tarefa fácil. Os indivíduos, então, deveriam ser 
incentivados a consumir com base em decisões com consciência do impacto 
coletivo e socioambiental. Ao fazerem isso, escolheriam a sociedade ou o 
mundo em que desejam viver — aqui, o consumo pode ser um ato de cidadania 
em oposição aos dos que não se importam com sua comunidade, sem qualquer 
inclinação a sacrificar seus interesses individuais.
O baixo consumo é um problema que afeta não apenas os lucros de uma empresa, 
mas toda a sociedade, porque gera desemprego, menos impostos, enfim, menos 
riqueza para todos. Contudo, o excesso de consumo também pode gerar inflação 
em economias pouco equilibradas ou controladas.
2 Impactos negativos do consumismo 
na sociedade
Ao contrário do consumo, que é um ato natural e inerente ao ser humano, o 
consumismo é caracterizado pelo artifi cialismo. Trata-se de comportamentos, 
muitas vezes inconscientes, que conduzem uma pessoa a um ciclo de compras 
regular, com apego superfi cial e de satisfação transitória pelo produto adqui-
Sociedade de consumo e cidadania4
rido. Em geral, é uma compra acrítica, feita compulsivamente e sem análise 
crítica das consequências socioambientais e pessoais. O consumismo é um 
ato negativo, ao contrário do consumo, porque seus custos são altos para o 
meio ambiente e, naturalmente, para o ser humano.
[...] há sinais evidentes de que em muitos casos os limites aceitáveis foram 
ultrapassados, como atestam diversos problemas ambientais gravíssimos, 
como o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio estratosfé-
rico, a poluição dos rios e oceanos, a extinção acelerada de espécies vivas, 
bem como os sérios problemas sociais, como a pobreza que afeta bilhões de 
humanos, os assentamentos urbanos desprovidos de infraestruturas mínimas 
para uma vida digna, a violência urbana, o tráfico de drogas e as epidemias 
globalizadas, como a AIDS e o ebola (BARBIERI, 2015, p. 53).
Podemos agrupar os impactos negativos em três dimensões principais: 
individual, social e ambiental. Essas dimensões não estão isoladas, mas in-
fluenciam e são influenciadas entre si. Pensemos, por exemplo, na dimensão 
individual: de que maneiras pode haver um impacto negativo em um indivíduo? 
Somos impactados de maneiras diferentes, portanto, podemos considerar, a 
título de exemplo, que uma pessoa pode ser afetada emocionalmente por não 
ter condições de adquirir um produto. Tristeza, baixa autoestima e isolamento 
social são formas preocupantes, muitas vezes invisíveis ou não perceptíveis pelo 
próprio indivíduo ou por seu círculo de amizades. Somos o que compramos 
ou consumimos: não é o “ser”, mas o “ter” que comanda o fluxo da vida, e a 
nossa identidade é construída e realizada mediante o consumo.
Nesse sentido, o trabalho ganhou uma dimensão de importância na vida 
dos indivíduos exatamente porque, por meio dele, alguém pode comprar 
produtos. Por isso, o desemprego tem um peso emocional enorme: sem renda, 
sem consumo; sem consumo, sem a vida social projetada.
Muitas vezes, no entanto, não é o desemprego, mas o endividamento que 
adoece emocionalmente uma pessoa. Comprar, parcelar, financiar, pagar 
valores mínimos em cartão de crédito são atos que vão girando uma dívida 
com multas e taxas administrativas que a maior parte da população ignora. 
Isso faz com que uma dívida raramente seja quitada, mas substituída por 
outra continuamente. Assim, o sonho do objeto adquirido pode se dispersar 
em dívidas não pagas, objetos que não mais existem quando ainda há o fi-
nanciamento, nomes em listas de serviços de análises de crédito bloqueando 
o acesso a produtos, entre outras consequências dramáticas emocionalmente.
5Sociedade de consumo e cidadania
Se os indivíduos são afetados, inevitavelmente a sociedade também o será. 
No consumismo, o indivíduo busca prazer no que consome, e a sua autoima-
gem é uma consequência de suas conquistas materiais. Por mais complicada 
que possa parecer a separação entre o consumo e o consumismo — afinal, 
o que é desnecessário para uns pode ser vital para outros —, o impacto na 
sociedade vem do comportamento “egoísta”. Uns podem ser mais que outros, 
mas o comportamento geral orienta o indivíduo a trabalhar para manter um 
nível de consumo em detrimento das relações sociais e do seu tempo de lazer. 
Quanto mais inserido estiver nesse contexto, menos se percebe e valoriza uma 
inserção cidadã.
Dito de outra forma, os trabalhadores em tempo integral, no tempo que 
lhes resta, acabam por agir mais centrados em si, sem preocupação com as 
suas escolhas. O “ser cidadão” dá lugar ao “ser consumidor”, e a obrigação é 
estar atualizado. Quando muito, o cidadão luta pelos seus direitos de consu-
midor quando um produto não funciona como deveria. Se o produto emprega 
trabalhadores ilegais, se a empresa sonega impostos ou tem o assédio moral 
e sexual como prática, pode até existir uma indignação, mas ela, geralmente, 
não impede o produto de estar na geladeira, por exemplo.
Aos impactos individual e social, junta-se o mais evidente pela mídia em 
geral: o impacto ambiental. Para atender a produção, matérias-primas são 
retiradas da natureza, e não há mágica nesse processo: o que entra na linha 
de produção para ser transformado em produto sai da natureza. Mesmo uma 
empresa de serviços impacta com o uso de energia elétrica e o descarte de 
material de consumo, de água. A isso, soma-se, ainda, o deslocamento de 
trabalhadores, vendedores; mesmo os que trabalham de casa apenas transferem 
as contas para a residência.
Não podemos esquecer, no entanto, que o problema não é apenas a matéria-
-prima, mas o que sobra do consumo. O descarte é uma tragédia ambiental, 
mas o aproveitamento máximo de produtos, reuso, reciclagem, entre outras 
formas de mitigar os danos, não parece fazer frente ao consumismo; o problema, 
portanto, não é resolvido, mas adiado ou esquecido.
Isso é uma consequência de o indivíduo estar centrado absolutamente em 
si, afastando o consumidor do cidadão e, com isso, afastando-o também do 
impacto do consumismo. A degradação ambiental e o desaparecimento de 
espécies não lhe diz respeito; ocorre apenas uma indignação, que raramente 
alcança os limites da mobilização, ou o abandono/troca de um produto de 
empresa com problemas ambientais.
Sociedade de consumo e cidadania6
Em 1992, foi assinado o documento denominado Agenda 21 no contexto da Conferência 
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), mais 
conhecida como Rio 92. Destaca-se o capítulo 4, que demonstra a enorme preocupação 
com os padrões de consumo para o desequilíbrio ambiental e social:
Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão 
ambiental, as principais causas da deterioração ininterrupta do meio 
ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e produção, 
especialmente nos países industrializados. Motivo de séria preocupa-
ção, tais padrões de consumo e produção provocam o agravamento da 
pobreza e dos desequilíbrios (AGENDA 21, 1992, documento on-line).
3 Como as empresas contribuem para um 
consumo mais consciente e cidadão
Conforme o conceito de sustentabilidade foi migrando da área fi nanceira para 
a de “visão estratégica”, foi acontecendo o “esverdeamento” das empresas, 
as organizações sustentáveis (BARBIERI, 2015), isto é, aquelas que criariam 
valor de longo prazo aos acionistas por serem organizações cujo impacto no 
meio em que estão inseridas seria positivo.
Uma empresa pode (e deve) fazer muito para um consumo ético, consciente 
e cidadão, mas, para que isso possa se concretizar, é importante uma mudança 
de mentalidade, e é dentro da empresa que isso nasce. Caso contrário, será 
apenas algo parecido com o greenwashing (banho verde, em tradução literal), 
isto é, uma apropriação indevida do discurso de proteção ambiental. Como 
se percebe, fica mais no discurso e nada ou quase nada no plano concreto 
das realizações e, porisso, seria mais visível nos relatórios e na comunicação 
que nas ações em si.
Com essa perspectiva de mudança de mindset (mentalidade), diversos 
modelos podem guiar uma empresa. Por isso, é preciso ter em mente que a 
responsabilidade social empresarial não pode ser desassociada da questão 
ambiental. O consumo consciente e cidadão é benéfico para o meio ambiente 
e para o ser humano, e uma empresa, para ser responsável socialmente, deve 
ser responsável com o ambiente em que está inserida. Como o modelo do 
triple bottom line (TBL) demonstra, há que existir um equilíbrio das partes. 
O triple bottom line (formado por lucro, pessoas e planeta) nos dá uma ideia 
7Sociedade de consumo e cidadania
dos caminhos a serem trilhados; uma empresa pode e deve ser lucrativa, mas 
isso não deve sacrificar a sociedade nem o planeta. Segundo Barbieri (2015, 
p. 3), o TBL “[...] objetiva organizar e articular as atividades da empresa para 
que ela obtenha resultados líquidos positivos em termos econômicos, sociais 
e ambientais”.
É possível conciliar o lucro com o bem-estar da sociedade? É possível ser 
ambientalmente sustentável? Sim, mas o caminho para que isso ocorra é a 
mudança de mentalidade incorporada à cultura empresarial, o que deve ser 
transversal às organizações.
Para Clegg, Kornberger e Pitsis (2011), é intrínseco ao ser humano a busca 
de um sentido para as coisas, para a vida, o mundo ao seu redor. Nesse con-
texto, a cultura empresarial tem que ser apreendida e percebida como legítima 
por todos; só assim o esforço não será dispersado e todos remarão na mesma 
direção — por isso deve ser transversal. Trata-se, então, de uma conciliação, 
não de submissão. Mas como isso pode ser feito? Deve-se criar uma cultura 
corporativa com valores de respeito a cliente, acionista, meio ambiente, socie-
dade e colaboradores. Esses cinco grupos devem ser observados no que diz 
respeito aos impactos que as atividades de uma empresa tem, e o equilíbrio nas 
propostas e ações a serem tomadas é importante para evitar a preponderância 
de um grupo em relação a outro.
Outro ponto a ser percebido é que, por mais que possa ser desenhado um 
modelo analítico, as respostas tendem a ser diferentes porque são espaços 
geográfico-culturais e produtivos diferentes. Pensemos no caso de uma em-
presa de extração de petróleo, de um supermercado e de uma barbearia: são 
negócios diferentes, com impactos diferentes, mas todos, a seu modo, podem 
contribuir para um consumo ético.
Por exemplo, os espaços de compra podem ser espaços educativos. Uma 
loja pode dar bônus a clientes que devolvam embalagens usadas, que levem 
as suas sacolas ou caixas para transporte dos produtos, incentivando o uso de 
refis, entre outras formas de evitar o desperdício de embalagens.
As empresas ainda podem incluir na sua comunicação o consumo consciente 
de seus produtos, e instituições financeiras podem fazer campanhas sobre os 
impactos de empréstimos sem planejamento, formações específicas no uso de 
um produto, entre outras formas que ajudem o consumidor a evitar excessos 
desnecessários. Pode-se, também, inserir informações sobre as matérias-primas 
utilizadas ou a seleção de fornecedores, a origem de seus produtos, o impacto 
positivo da empresa na sociedade e como o cliente contribui com isso.
Santos (2015) considera que no plano interno é importante implantar 
sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos ou uma gestão de logística 
Sociedade de consumo e cidadania8
reversa, conseguir certificações ambientais e ainda desenvolver e implantar 
uma contabilidade ambiental.
Ponto importantíssimo é que uma empresa não carregue consigo os de-
feitos naturalizados em tantos espaços de negociação. Por exemplo, como 
uma empresa poderá ser considerada legítima no tema cidadania se cede à 
corrupção para ganhar uma licitação? Com que autoridade poderá “educar” 
um consumidor se atropela a meritocracia em uma rotina de favores pessoais 
ou mesmo ilegais, como assédio sexual e moral? É adotar uma abordagem, 
na visão de Jones e George (2012), proativa, ao usar os recursos da empresa 
para promover os interesses de todos, e não o contrário.
Muitos desses pontos podem ser norteados por um código de ética, mas, 
tal qual o greenwashing, devem sair das palavras e se manifestar na rotina 
diária empresarial, sendo constantemente monitorados. Além disso, desvios 
de conduta não podem ser tolerados sob pena de perda de legitimação e des-
controle do que ocorre internamente.
Por fim, é preciso demonstrar liderança consciente, dar mostras concretas 
de um propósito além do lucro e do discurso e, acima de tudo, demonstrar a 
importância de respeitar a legislação e ir além do que esta preconiza, contri-
buindo para formar, e não deformar, o cliente. 
Confira, a seguir, um trecho da campanha “Manifesto pelo Bom, São e Local”, do 
Grupo Auchan, uma empresa francesa de distribuição comercial que assumiu um 
compromisso pela sustentabilidade humana e ambiental:
Humana, numa lógica de maior justiça no mercado de trabalho e da 
preocupação pelo bem-estar físico e psicológico do indivíduo visto 
como um todo – trabalhador, pai, filho, ser livre. Ambiental, porque 
nunca, até então, se assistiu a uma energia tão alinhada daquilo que 
são os interesses para o nosso planeta, regido pelo respeito pelas 
práticas de não-poluição e não-destruição. Neste esforço mundial 
pela defesa dos direitos humanos e ambientais, é evidente o papel 
da Grande Distribuição no equilíbrio dos ecossistemas, não só pela 
forma como consumimos, mas também como nos relacionamos. Foi 
ciente da sua quota parte de responsabilidade que a marca Auchan 
desafiou toda a equipa a pensar em soluções construtivas. Eis que 
nasceu o Manifesto do Bom, São e Local (É UMA..., 2019, docu-
mento on-line).
9Sociedade de consumo e cidadania
AGENDA 21. Rio de Janeiro: [S. n.], 1992. Disponível em: http://www.direitoshumanos.
usp.br/index.php/Table/Agenda-21-RIO-92-ou-ECO-92/. Acesso em: 12 abr. 2020.
BARBIERI, J. C. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à 
prática. Porto Alegre: Saraiva, 2015.
BAUMAN, Z. A ética é possível num mundo de consumidores?. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor 
e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8078.htm/. Acesso em: 12 abr. 2020.
CLEGG, S.; KORNBERGER, M.; PITSIS, T. Administração e organizações. Porto Alegre: Book-
man, 2011.
É UMA marca, é consciente e quer mudar o mundo. Sabe qual é? In: OBSERVADOR. [S. 
l.: s. n.], 2019. Disponível em: https://observador.pt/2019/09/23/manifesto-do-bom-sao-
-e-local-tambem-quer-mudar-o-mundo/. Acesso em: 12 abr. 2020.
JONES, G. R.; GEORGE, J. M. Fundamentos da administração contemporânea. Porto 
Alegre: AMGH, 2012.
NAÇÕES UNIDAS. Conheça os novos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. [S. 
l: s. n.], 2017. Disponível em: https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-
-de-desenvolvimento-sustentavel-da-onu/. Acesso em: 12 abr. 2020. 
SANTOS, F. de A. Ética empresarial: políticas de responsabilidade social em 5 dimensões. 
São Paulo: Atlas, 2015.
Veja o Quadro 1.
 Quadro 1. Manifesto pelo “Bom, São e Local” do Grupo Auchan
Bom
Propondo produtos e serviços de qualidade ao melhor preço, de forma 
transparente, para permitir decisões conscientes.
São
Atuando de forma ética com os colaboradores e clientes, no sentido de 
promover o equilíbrio e o bem-estar do indivíduo e da sua família.
Local
Valorizando os produtores e produtos locais, evidenciando o que é ca-
racterístico de cada região. Assim, neste círculo de prazer de quem serve 
e quem compra, a ideia é que tudo se encaixe na perfeição e funcione 
como motivação para uma economia global sustentável, em que o indiví-
duo está no centro de tudo.
Fonte: Adaptado de É uma... (2019). 
Sociedade de consumo e cidadania10
Os links para sites da web fornecidos neste capítuloforam todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
11Sociedade de consumo e cidadania

Continue navegando