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Escrituração e Demonstrativos Contábeis Aplicados à Administração Pública Contabilidade Pública Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO DAYANNA DOS SANTOS COSTA MACIEL AUTORIA Elaine Christine Pessoa Delgado Possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (2007) e pós-graduação em Direito Administrativo pela Faculdade Campos Elíseos (2020). Com experiência técnico-profissional na área de gerência de empresas por mais de dez anos, Elaine também é professora conteudista na empresa Modular Criativo. Dayanna dos Santos Costa Maciel Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da UFPB (2019), área de concentração Administração e sociedade e Mestre em Recursos Naturais, pelo Programa de Pós- Graduação em Recursos Naturais da UFCG (2014), com ênfase na linha de pesquisa Sustentabilidade e Competitividade. Dayanna possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (2010) e Atua como pesquisadora no Grupo de Estudos em Gestão da Inovação Tecnológica (GEGIT) – UFCG, cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq – na linha de pesquisa Inovação e Desenvolvimento Regional l, com foco nos seguintes temas: administração geral, gestão da inovação, desenvolvimento regional. Atuou como pesquisadora do Grupo de Estratégia Empresarial e Meio Ambiente (GEEMA) – cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq – na linha de pesquisa Estratégia Ambiental e Competitividade com ênfase em Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental com foco nos seguintes temas: administração geral e gestão ambiental. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de apresentar um novo conceito; NOTA: quando necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando uma competência for concluída e questões forem explicadas; SUMÁRIO Plano de Contas e Escrituração ............................................................ 12 Plano de contas ................................................................................................................................ 12 Atributos das contas contábeis ......................................................................... 16 Regras de integridade ............................................................................................. 17 Escrituração ......................................................................................................................................... 19 Balanço Orçamentário e Balanço Financeiro ..................................22 Instrumentos de divulgação das informações públicas ....................................22 Balanço orçamentário ................................................................................................................24 Balanço financeiro ..........................................................................................................................28 Demonstrações das Variações Patrimoniais e dos Fluxos de Caixa ................................................................................................................. 33 Demonstrações das variações patrimoniais ................................................................33 Demonstrações do fluxo de caixa ......................................................................................37 Balanço Patrimonial e Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido .....................................................................................43 Balanço patrimonial .......................................................................................................................43 Demonstrações das mutações do patrimônio líquido ....................................... 50 9 UNIDADE 04 Contabilidade Pública 10 INTRODUÇÃO Você sabia que os registros contábeis precisam estar estruturados de maneira padronizada e que as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público são importantes instrumentos de transparência das movimentações financeiras das entidades públicas? Ou sabia que temos várias demonstrações contábeis a serem utilizadas pelas entidades para a divulgação das informações financeiras e orçamentárias da Administração Pública? O Plano de Contas Aplicado ao Setor Público tem como função fazer o ordenamento das contas utilizadas pelas entidades públicas para que, assim, possa ser possível analisar e interpretar os resultados constantes nos instrumentos contábeis. Por isso, as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público devem seguir as orientações do PCASP na sua elaboração. Além disso, contamos com demonstrações contábeis, como o balanço orçamentário, o balanço financeiro, as demonstrações das variações patrimoniais, o balanço patrimonial, as demonstrações dos fluxos de caixa e as demonstrações das mutações do patrimônio líquido, como forma de divulgação da movimentação financeira das entidades públicas, sendo cada um desses instrumentos possuidores de particularidades que demonstram sua importância para esses entes bem como a forma como eles devem ser estruturados. Por isso, é imprescindível que sejam compreendidos os principais aspectos relacionados com essas demonstrações tão relevantes para as entidades públicas. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo! Contabilidade Pública 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4 - Escrituração e demonstrativos contábeis aplicados à Administração Pública. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Descrever o plano de contas e a sua escrituração. 2. Interpretar o balanço orçamentário e o balanço financeiro, discernindo sobre as suas diferenças conceituais e práticas. 3. Examinar as demonstrações das variações patrimoniais e as demonstrações dos fluxos de caixa. 4. Analisar o balanço patrimonial e as demonstrações das mutações do patrimônio líquido. Contabilidade Pública 12 Plano de Contas e Escrituração OBJETIVO: Neste capítulo, vamos descrever o plano de contas e entender seus objetivos e sua importância para a compreensão dos registros contábeis. como Ainda, entender como ocorre a escrituração das contas públicas. Então, vamos lá. Avante! Plano de contas Durante o nosso estudo, vimos que a Contabilidade Aplicada ao Setor Público possui particularidades quanto ao seu regime contábil. Dessa forma, é necessário que exista um norteamento para que os fatos e atos contábeis sejam registrados em suas devidas contas. Daí, surge a necessidade do plano de contas que se refere a estruturar de forma organizada e padronizada as contas que a entidade utiliza (SILVA, 2015). Figura 1 – Plano de contas Fonte: Elaborada pelo autor com base em Silva (2015). Por meio do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP), é respeitado o art. 85 da Lei nº 4.320/64,que dispõe sobre a organização da contabilidade para que seja possível acompanhar a execução orçamentária, conhecer a formação patrimonial, o levantamento das demonstrações financeiras, além de analisar e interpretar os resultados econômicos e financeiros. Contabilidade Pública 13 De acordo com o MCASP (BRASIL, 2021), o plano de contas possui como objetivos: • Fazer com que os registros contábeis da Administração Pública sejam padronizados. • Diferenciar os registros quanto a sua natureza: patrimonial, orçamentária e de controle. • Atender a toda a Administração Pública, direta e indireta, até mesmo em relação às particularidades inerentes às empresas estatais dependentes e aos regimes próprios de previdência privada. • Possibilitar que as contas contábeis sejam detalhadas. • Proporcionar uma consolidação das contas públicas. • Possibilitar a elaboração das demonstrações contábeis e dos demonstrativos do RREO e do RGF. DEFINIÇÃO: O RREO trata-se do Relatório Resumido de Execução Orçamentária, obrigatório segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal e deve ser publicado bimestralmente, contendo o balanço orçamentário e os demonstrativos de execução orçamentária e financeira. O RGF é o Relatório de Gestão Fiscal, também obrigatório segundo a LRF, deve ser publicado a cada quadrimestre, contendo informações relacionadas com as gestões fiscais e com os limites impostos pela lei. • Proporcionar uma adequada prestação de contas, bem como o levantamento de relatórios úteis à gestão. • Colaborar para uma tomada de decisão acertada e para que os custos da Administração Pública sejam racionalizados. • Colaborar para que exista uma efetiva transparência da gestão fiscal como também o controle social. Contabilidade Pública 14 Assim, podemos perceber que o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público proporciona a realização de relatórios e a disponibilização adequada dos registros contábeis para que esses dados possam ser mais facilmente demonstrados, possibilitando uma melhor prestação de contas. Cabe à Secretaria do Tesouro Nacional (STN) a competência para instituição e manutenção do plano de contas do setor público, o qual poderá editar normas gerais para consolidação das contas, bem como criar, especificar, excluir as contas contábeis, entre outras competências (BRASIL, 2021). IMPORTANTE: O PCASP realiza o registro das transações que elevam ou reduzem o patrimônio líquido, as quais devem ser reconhecidas nos períodos a que se referirem de acordo com o seu fato gerador. Além disso, o plano é único para os vários sistemas de administração, devendo, assim, ser flexível para que possa abranger o detalhamento de contas e suprir as particularidades dos seus usuários (SOBRINHO, 2021). Toda a Administração Pública deverá utilizar o PCASP, o qual possui como estrutura uma classificação conforme a natureza das informações, segundo o MCASP (BRASIL, 2021), abrangendo o registro, processamento e a evidenciação dos atos e fatos de acordo com a sua natureza, que podem ser: Contas com informações de natureza patrimonial – compreende os fatos financeiros e não financeiros referentes à constituição do patrimônio público e suas variações. Contas com informações de natureza orçamentária – referentes ao planejamento e à execução orçamentária. Contas com informações de natureza de controle – referentes aos atos de gestão que possam modificar o patrimônio da entidade, como também os que possuem funções próprias de controle. Contabilidade Pública 15 Figura 2 – Estrutura do PCASP Fonte: Elaborada pelo autor base no MCASP (2021). IMPORTANTE: Todos os órgãos e as entidades dos Três Poderes devem utilizar o PCASP, inclusive as entidades da administração indireta. A utilização só é facultativa para Conselhos Regionais de Classe, como a OAB, e as entidades que não são consideradas como públicas, até mesmo as empresas estatais independentes. Assim, estas utilizam caso prefiram ou o se for determinado pelos seus órgãos reguladores. A consolidação das contas de acordo com a natureza das informações que as distinguem faz com que os registros patrimoniais não modifiquem os registros orçamentários e vice-versa (SOBRINHO, 2021). Conforme o MCASP (BRASIL, 2021), o plano de contas é dividido em oito classes: 1 Ativo. 2 Passivo. 3 Variações patrimoniais diminutivas. 4 Variações patrimoniais aumentativas. Contabilidade Pública 16 5 Controles da aprovação do planejamento e orçamento. 6 Controles da execução do planejamento e orçamento. 7 Controles devedores. 8 Controles credores. As classes de 1 a 4 são de natureza patrimonial, as 6 e 7 são de natureza orçamentária, e as 7 e 8 de natureza de controle. Atributos das contas contábeis As contas contábeis possuem atributos que servem para diferenciá-las de outras contas. Esses atributos podem ser resultados de conceitos, de lei, ou do sistema operacional empregado. Figura 3 – Atributos Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Os atributos conceituais são formados por código, título, função e natureza do saldo, ou seja, se é saldo devedor, credor ou misto. Os atributos legais compreendem as informações adicionais da conta contábil, isto é, aquelas que não podem ser retiradas da codificação da conta, mas estão interligadas a ela, levando em conta controles individualizados e complementares. Temos como atributos legais: O superávit financeiro, em que são registrados os ativos e passivos financeiros (F) e permanentes (P). Contabilidade Pública 17 IMPORTANTE: O superávit financeiro é conceituado pela Lei nº 4.320/1964, art. 43, § 2º: Entende-se por superávit financeiro a diferença positiva entre o ativo financeiro e o passivo financeiro, conjugando-se, ainda, os saldos dos créditos adicionais transferidos e as operações de crédito a eles vinculadas (BRASIL, 1964, on-line). O outro atributo legal é o indicador da dívida consolidada líquida que controla os passivos que foram empregados no cálculo da dívida consolidada líquida. Para se apurar a DCL, é só descontar a disponibilidade de caixa e os outros haveres financeiros da dívida consolidada bruta (BRASIL, 2021). Regras de integridade O PCASP também possui algumas regras de integridade a serem observadas e que são estabelecidas pelo MCASP (BRASIL, 2021). Essas regras são: Figura 4 – Regras de integridade Fonte: Elaborada pelo autor com base no MCASP (2021). Contabilidade Pública 18 Regra 1 – Lançamentos contábeis Os lançamentos contábeis devem ser registrados com o uso de contas da mesma natureza de informação. Dessa forma, devem ser registrados débitos e créditos na mesma natureza e de igual valor entre eles. Com isso, os lançamentos devem ocorrer dentro das classes, ou seja, patrimonial, orçamentária ou de controle. • Lançamentos de natureza patrimonial só podem ser registrados nas classes de 1 a 4; • Lançamentos de natureza orçamentária só podem ser registrados nas classes 5 e 6; • Lançamentos de natureza de controle só podem ser registrados nas classes 7 e 8. IMPORTANTE: Essa regra impede que um lançamento de uma conta de natureza orçamentária ocorra em contrapartida de uma conta de natureza de controle, por exemplo. Regra 2 – Pagamentos e recebimentos Quando falamos sobre as informações de natureza patrimonial, vimos que ela compreende os registros financeiros e patrimonial. Desse modo, as contas que possuem o permanente só podem ser movimentadas em contrapartida a: Conta de Variação Patrimonial Aumentativa (VPA); ii. Conta de Variação Patrimonial Diminutiva (VPD); iii. Outra conta marcada com o atributo Permanente (P), para reclassificação do ativo ou do passivo; e iv. Conta marcada com o atributo Financeiro (F), para troca do atributo, exclusivamente quando houver a respectiva execução orçamentária da despesa. v. Conta marcada com o atributo Financeiro (F), exclusivamente quando houver a respectiva execuçãoorçamentária da receita (BRASIL, 2021, p. 480). Contabilidade Pública 19 De acordo com a ocorrência da execução orçamentária, são registrados e acompanhados os atos e fatos contábeis pela CASP. Regra 3 – Desenvolvimento de equações contábeis Para realizar a conferência e validação das informações constituídas, podem ser utilizadas equações. Essas conferências podem estar relacionadas com saldos das seguintes contas: • De natureza patrimonial. • De passivo financeiro e de execução orçamentária. • De disponibilidade de recursos. E, ainda, em relação à fixação de despesa orçamentária. Regra 4 – Consistência dos registros e saldos de contas As unidades responsáveis pela gestão dos recursos públicos devem, também, analisar, acompanhar e verificar a consistência dos registros e saldos das contas. Além disso, também devem observar os impactos provocados nesses demonstrativos. Escrituração Na escrituração do CASP, o registro deve ser realizado pelo método das partidas dobradas de todas as ocorrências que causem ou que venham a causar modificações no patrimônio, seja de ordem qualitativa ou quantitativa (SILVA, 2015). Assim, para um crédito, deve existir um débito correspondente. Figura 5 – Escrituração Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Contabilidade Pública 20 A escrituração é realizada em um único livro, mesmo utilizando contas de sistemas contábeis diferentes, como patrimonial, orçamentário, custos e compensação. Além disso, todos os registros devem possuir seus respectivos documentos comprobatórios, complementa o autor. Diante disso, devemos compreender o que é o sistema contábil. Trata-se da estrutura de informações voltada para atividades que buscam identificar, avaliar, registrar, evidenciar os fatos e atos de gestão do patrimônio público, para que, assim, possam servir como instrumento de auxílio para as decisões governamentais, prestação de contas e controle social. Ele é constituído por subsistemas que são orçamentários, custos, compensação e patrimonial. A Lei de Responsabilidade traz no seu art. 50 algumas normas a serem seguidas pelos entes públicos quanto à escrituração das contas, dentre as quais estão incluídas: •• Registro próprio da disponibilidade de caixa para uma melhor identificação e escrituração. •• O regime de competência prevalecerá para a despesa e assunção de compromisso. •• As transações e operações do Poder Público deverão fazer parte das demonstrações contábeis. •• A apresentação das movimentações previdenciárias deverá fazer parte de demonstrativos financeiros e orçamentários próprios. Entre outros. SAIBA MAIS: Verifique todas as normas voltadas para a escrituração e consolidação das contas públicas constantes na Lei de Responsabilidade Fiscal em seu art. 50. Elas irão auxiliar a sua compreensão sobre esse assunto. Para acessar a Lei nº 101/2000, clique aqui Contabilidade Pública http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm 21 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o plano de contas busca organizar e padronizar as contas das entidades públicas e que possui diversos objetivos, dentre eles o detalhamento das contas contábeis e a consolidação das contas públicas. Entendeu que a Secretaria do Tesouro Nacional é responsável por manter o plano de contas do setor público e que toda a Administração Pública deve utilizar o PCASP, tanto a direta quanto a indireta. Além disso, viu que a estrutura é classificada de acordo com a natureza das informações e podem ser de natureza patrimonial, orçamentária ou de controle. Conheceu as oito classes do plano de contas e os atributos das contas contábeis, que podem ser conceituais, legais ou do sistema operacional, bem como as quatro regras de integridade. Por fim, entendeu que a escrituração das contas públicas é realizada pelas partidas dobradas em um único livro, mesmo contando com quatro sistemas diferentes, e que a Lei de Responsabilidade Fiscal traz normas a serem seguidas no momento da escrituração das contas públicas pelos entes responsáveis. Contabilidade Pública 22 Balanço Orçamentário e Balanço Financeiro OBJETIVO: Neste capítulo, iremos compreender os instrumentos de divulgação de informações orçamentárias e financeiras da Administração Pública, conhecendo como são realizados os balanços orçamentários e o balanço financeiro, bem como as suas análises, interpretações e sua importância para o Poder Público. Instrumentos de divulgação das informações públicas As informações financeiras das entidades públicas devem observar o princípio da transparência, por isso deve ser realizada a prestação de contas junto à sociedade de todas as movimentações financeiras realizadas pela Administração Pública. Alguns dos instrumentos utilizados e que são de grande importância para a divulgação dessas informações são as Demonstrações Contábeis Aplicadas ao Setor Público. VOCÊ SABIA? Segundo o MCASP (BRASIL, 2021), essas demonstrações possuem como propósito representar de maneira estruturada a situação patrimonial e financeira do Poder Público, bem como o seu desempenho. Dessa forma, elas devem possibilitar a divulgação de informações úteis que venham a auxiliar na tomada de decisões e cumprir com o dever de prestar contas em relação ao emprego dos recursos públicos. Contabilidade Pública 23 Por meio das demonstrações contábeis, também é possível antever o montante de recursos que será necessário para a continuidade de programas, como também se os projetos constantes no orçamento aprovado foram realizados. Logo esses instrumentos proporcionam a análise da utilização dos recursos em termos legais, contratuais e obrigacionais. Dentre os instrumentos utilizados, temos: • Balanço orçamentário. • Balanço financeiro. • Demonstrações das variações patrimoniais. • Balanço patrimonial. • Demonstrações dos fluxos de caixa. • Demonstrações das mutações do patrimônio líquido. Figura 6 – Instrumentos de divulgação de informações públicas Fonte: Elaborada pelo autor com base no MCASP (2021). Contabilidade Pública 24 IMPORTANTE: As informações referentes às demonstrações financeiras dos órgãos públicos federais podem ser acessadas no site do governo federal, como o da Controladoria- Geral da União, aqui. No entanto, no site do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi), é possível consultar todas as demonstrações de todas as esferas e de todos os poderes, necessitando apenas preencher os espaços com a declaração que se pretende consultar, podendo ser acessado aqui. Cada um desses instrumentos demonstra uma importância particular. Desse modo, vamos conhecer inicialmente um pouco sobre o balanço orçamentário. Balanço orçamentário A Administração Pública tem uma grande responsabilidade no uso dos recursos públicos, e essa responsabilidade também se estende em relação ao registro das operações orçamentárias envolvendo a previsão e execução orçamentária. Conforme a Lei nº 4.320/1964, art. 102., “o Balanço Orçamentário demonstrará as receitas e despesas previstas em confronto com as realizadas” (BRASIL, 1964). Aqui, devemos nos lembrar que a lei orçamentária determina como será a gestão anual dos recursos públicos, definindo as ações governamentais que serão realizadas naquele exercício. Portanto o balanço orçamentário proporciona verificar se os dados constantes na lei orçamentária foram realmente realizados, como se as despesas consideradas como obrigatórias foram executadas. Deverão ser demonstrados no balanço orçamentário (BRASIL, 2021): Contabilidade Pública https://www.gov.br/cgu/pt-br/acesso-a-informacao/demonstracoes-contabeis https://siconfi.tesouro.gov.br/siconfi/pages/public/declaracao/declaracao_list.jsf25 • A apresentação das receitas de acordo com a origem e a categoria econômica, discriminando as previsões iniciais e atualizadas para o ano, bem como as receitas efetivadas e o resultado, ou seja, se ouve excesso ou escassez de arrecadação. • A apresentação das despesas de acordo com o grupo de natureza e a categoria econômica apontando a dotação inicial e atualizada do ano, bem como os empenhos, as liquidações e pagamentos realizados e o resultado da dotação. Dessa forma, podemos inferir que o balanço orçamentário é constituído por duas seções, na qual a de receitas é composta por quatro colunas e a de despesas, seis colunas (SILVA, 2015), como podemos verificar, de modo resumido, no Quadro 1. Quadro 1 – Balanço orçamentário BALANÇO ORÇAMENTÁRIO Receitas Previsão inicial Previsão atualizada Receitas realizadas Saldo BALANÇO ORÇAMENTÁRIO Des- pesas Dotação inicial Dotação atualizada Despesa empenhada Despesa liquidada Despe- sa Paga Sal- do Fonte: Elaborado pelo autor com base em Silva (2015). Essas informações deverão constar no quadro principal, porém também devem ser elaborados outros dois quadros, sendo um formado pela execução dos restos a pagar processados e outro quadro formado pelos não processados (BRASIL, 2021). Com a exposição de todas as informações no balanço, é possível realizar as devidas análises, sendo uma delas, como explica Silva (2015), por meio da comparação entre as seguintes colunas: • Previsão inicial com dotação inicial. Contabilidade Pública 26 • Previsão atualizada com receita realizada. • Dotação atualizada com despesa empenhada. Outra forma é por meio da relação entre: •• Despesas empenhadas com despesas liquidadas e despesas pagas. Com essas análises, é possível encontrar déficit ou superávit orçamentário que ocorrerá quando a diferença existente entre as receitas e despesas for menor ou maior, respectivamente. Para que seja igualado esse resultado, deve-se incluir a coluna de despesas empenhadas, no caso de superávit, e incluir a de receitas realizadas, no caso de déficit, complementa o autor. Figura 7 – Diferença entre receitas e despesas Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Além do déficit e do superávit, podem ser encontrados vários outros resultados, como explana Silva (2015), dentre os quais podemos citar: • Despesa fixada > Despesa realizada = Economia de despesa (orçamentária). • Despesa fixada < Despesa realizada = Excesso de despesa. • Receita prevista > Receita realizada = Insuficiência ou déficit de arrecadação. Contabilidade Pública 27 • Receita prevista < Receita realizada = Excesso ou superávit de arrecadação. • Receita prevista > Despesa fixada = Desequilíbrio positivo. • Receita prevista < Despesa fixada = Desequilíbrio negativo. • Receita realizada > Despesa realizada = Superávit orçamentário. • Receita realizada < Despesa realizada = Déficit orçamentário. • Receita realizada = Despesa realizada = Equilíbrio orçamentário. • Receita corrente realizada > Despesa corrente realizada = Superávit corrente. • Receita corrente realizada < Despesa corrente realizada = Déficit corrente. • Receita de capital realizada > Despesa de capital realizada = Superávit de capital. • Receita de capital realizada < Despesa de capital realizada = Déficit de capital. IMPORTANTE: Um ponto muito relevante em relação ao balanço orçamentário é a ocorrência de desequilíbrio, que pode ser encontrada entre a previsão de receita e a dotação vigente. Isso acontece devido a dois fatores, que são o superávit financeiro de exercícios anteriores como também pela reabertura de créditos adicionais e que acabam sendo introduzidos no orçamento atual (BRASIL, 2021). Para que sejam explicadas essas situações de uso do superávit financeiro e de reabertura dos créditos adicionais, é indicado o emprego de notas explicativas para que, assim, seja possível uma adequada interpretação dos dados. Contabilidade Pública 28 Balanço financeiro O Balanço financeiro tem como propósito demonstrar a situação financeira dos entes públicos conforme o seu período, proporcionando, assim, a identificação do resultado financeiro. Segundo a Lei nº 4.320/1964, art. 103: O Balanço Financeiro demonstrará a receita e a despesa orçamentárias bem como os recebimentos e os pagamentos de natureza extraorçamentária, conjugados com os saldos em espécie provenientes do exercício anterior, e os que se transferem para o exercício seguinte. (BRASIL, 1964, on-line) EXEMPLO: Para relembrarmos os recebimentos e pagamentos extraorçamentários, podemos pensar nas cauções ou nas operações de crédito por antecipação de receita (ARO), por exemplo. O MCASP (BRASIL, 2021) enfatiza que, por meio do balanço financeiro, são evidenciados: • A receita orçamentária conforme a destinação – se são vinculadas ou ordinárias. • A despesa orçamentária executada conforme a destinação – se são vinculadas ou ordinárias. • Os recebimentos extraorçamentários. • Os pagamentos extraorçamentários. • As transferências financeiras que sejam ou não resultantes da execução orçamentária. • O saldo em espécie inicial e final. A estrutura do balanço é formada por um quadro separando duas seções, uma referente aos ingressos e outra aos dispêndios. No Quadro 2, podemos ver essa divisão, segundo Silva (2015). Contabilidade Pública 29 Quadro 2 – Balanço financeiro Balanço financeiro Ingressos Dispêndios Especificação Exercício atual Exercício anterior Especifi- cação Exercício atual Exercício anterior Receita orça- mentária ordinária vinculada Despesa orçamen- tária ordinária vincula- da Transferên- cias financei- ras recebidas Transfe- rências fi- nanceiras concedi- das Recebimen- tos extraorça- mentários Paga- mentos extraor- çamentá- rios Saldo em espécie do exercício anterior Saldo em espécie para o exercício seguinte Total = Total = Fonte: Elaborado pelo autor com base em Silva (2015). Importante compreender que as vinculações demonstram se a destinação pode atender a qualquer tipo de finalidade, no caso da ordinária, ou se ela é voltada para finalidades específicas de acordo com o que é determinado pela legislação, no caso das vinculadas. Existem algumas vinculações que precisam ser detalhadas, como as de saúde, educação, assistência social e previdência social (BRASIL, 2021). Contabilidade Pública 30 A análise do balanço financeiro objetiva preparar os indicadores que auxiliarão na avaliação da gestão financeira das entidades públicas. Assim, é possível demonstrar, por meio desses instrumentos, as entradas e saídas de recursos em um dado exercício financeiro. O balanço financeiro também permite verificar se o disponível é o bastante para conseguir honrar com os compromissos relacionados com os bens e serviços adquiridos e efetuar os devidos gastos com manutenção. De acordo com Silva (2015) o cálculo da apuração do resultado financeiro pode ser realizado das seguintes maneiras: Saldo em espécie para o exercício seguinte – Saldo em espécie do exercício anterior = Ou (Receitas orçamentárias + Transferências financeiras recebidas + Recebimentos extraorçamentários) – (Despesa orçamentária + Transferências financeiras concedidas + Pagamentos extraorçamentários) = Os resultados desse cálculo poderão demonstrar: • Saldo em espécie para o exercício seguinte – Saldo em espécie do exercício anterior = Resultado financeiro positivo (quando saldo para o exercício seguinte > saldo do exercício anterior). • Saldo em espécie para o exercício seguinte – Saldo em espécie do exercício anterior = Resultado financeiro negativo (quando saldo para o exercício seguinte < saldo do exercício anterior). • Soma dos ingressos orçamentários e extraorçamentários diminuindo a soma dos dispêndios orçamentários e extraorçamentários = Resultado financeiro positivo (quando ingressos> dispêndios). • Soma dos ingressos orçamentários e extraorçamentários diminuindo a soma dos dispêndios orçamentários e extraorçamentários = Resultado financeiro negativo (quando ingressos < dispêndios). Contabilidade Pública 31 IMPORTANTE: Normalmente, o resultado financeiro positivo demonstra a existência de equilíbrio financeiro. Contudo é preciso destacar que uma variação positiva na disponibilidade não quer dizer que obrigatoriamente ocorre uma boa gestão financeira, visto que isso pode ocorrer devido a alguns fatores, como no caso de aumento de endividamento público (SILVA, 2015). Isso ocorre do mesmo modo em relação à variação negativa na disponibilidade, que pode não significar uma gestão ruim, pois pode demonstrar uma diminuição do endividamento. Assim, para uma análise mais assertiva nesse sentido, faz-se necessário que sejam analisados em conjunto o balanço financeiro com o balanço patrimonial, complementa o autor. Também é preciso destacar que sempre que uma operação venha a interferir na elaboração do balanço e afetar o resultado financeiro, esse procedimento deverá ser demonstrado nas notas explicativas (BRASIL, 2021). SAIBA MAIS: Veja na prática como é um balanço orçamentário com todos os seus quadros, inclusive os de execução dos restos a pagar processados e não processados, e um balanço financeiro de uma entidade pública, que é a Escola Nacional de Administração Pública. Todas as movimentações financeiras e orçamentárias do exercício financeiro de 2020, bem como as notas explicativas constam nesse documento de acordo com o MCASP e com a Lei nº 4.320/1964 e o Manual SIAFI. É uma ótima fonte de complementação dos seus estudos. Para ter acesso, clique aqui. Contabilidade Pública https://www.enap.gov.br/media_files/documentos/Arquivos/curso_sob_demanda/Demonstra%C3%A7%C3%B5es_cont%C3%A1beis_e_notas_explicativas_2020.pdf 32 RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter compreendido que as entidades públicas obrigatoriamente precisam divulgar suas informações financeiras devido ao princípio da transparência, bem como da prestação de contas perante a sociedade. Essas entidades fazem isso utilizando as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público. Essas demonstrações evidenciam a situação patrimonial e financeira dos entes, bem como auxiliam na tomada de decisões e proporcionam a análise da execução da lei orçamentária. Você conheceu quais são as demonstrações contábeis, que são o balanço orçamentário, o balanço financeiro, as demonstrações das variações patrimoniais, o balanço patrimonial, as demonstrações dos fluxos de caixa e as demonstrações das mutações do patrimônio líquido. Viu que o balanço orçamentário evidencia as receitas e despesas previstas, comparando com as realizadas, para isso conta com um quadro principal em que constam as receitas, e possui a previsão inicial, a previsão atualizada, as receitas realizadas e o saldo, e constam as despesas, contando com a dotação inicial, dotação atualizada, despesa empenhada, despesa liquidada, despesa paga e saldo. Por fim, compreendeu como é o balanço financeiro e que ele evidencia a situação financeira da Administração Pública, demonstrando a receita orçamentária (ordinária e vinculada), as transferências financeiras recebidas, os recebimentos extraorçamentários e o saldo em espécie do exercício anterior, além de demonstrar a despesa orçamentária (ordinária e vinculada), as transferências financeiras concedidas, os pagamentos extraorçamentários e o saldo em espécie para os exercícios seguintes. Contabilidade Pública 33 Demonstrações das Variações Patrimoniais e dos Fluxos de Caixa OBJETIVO: Neste capítulo, iremos examinar as demonstrações das variações patrimoniais, compreendendo como elas devem ser realizadas, sua estrutura e os resultados patrimoniais. Além disso, iremos entender como são realizadas as demonstrações do fluxo de caixa, conhecendo a sua estrutura, sua importância para a tomada de decisão e para a transparência da situação financeira pública. Demonstrações das variações patrimoniais A demonstração das variações do patrimônio busca demonstrar as variações patrimoniais que elevam ou reduzem o patrimônio líquido. Desse modo, por meio do confronto entre essas variações quantitativas patrimoniais, pode-se chegar ao resultado patrimonial do exercício. Por isso, ele também é chamado de balanço do resultado (LIMA e MUNIZ, 2016). Devemos nos lembrar que o patrimônio público são todos os bens, direitos e as obrigações que a Administração Pública possui. E existem diversos fatos que podem influenciar a constituição patrimonial dessas entidades, sendo esses fatos chamados de variações patrimoniais. No decorrer do exercício, o patrimônio passa por diversas variações, as quais podem ser de ordem quantitativa ou qualitativa. Quando dizemos que elas são quantitativas é porque elas são resultantes de operações no setor público que aumentam ou reduzem o patrimônio líquido. Esse tipo de variação geralmente é consequente da movimentação oriunda da arrecadação de uma receita. Assim, nos registros contábeis, no momento da arrecadação de uma receita, ocorre um efeito aumentativo e, quando uma despesa é executada, ocorre uma redução patrimonial. No entanto também existem Contabilidade Pública 34 outras variações que podem causar esses efeitos, como a depreciação e reavaliação de ativos, por exemplo, complementa o autor. Já as variações qualitativas acontecem com modificações nos itens patrimoniais, desse modo elas mudam o arranjo desses itens, mas não influenciam o patrimônio líquido. Por isso, quando tratamos de demonstração das variações do patrimônio, devem ser levadas em conta apenas as variações qualitativas que são resultantes das receitas e despesas de capital. Figura 8 – Variações patrimoniais Fonte: Elaborada pelo autor com base em Lima e Muniz (2016). Conforme a Lei nº 4.320/1964, art. 104, “a Demonstração das Variações Patrimoniais evidenciará as alterações verificadas no patrimônio, resultantes ou independentes da execução orçamentária, e indicará o resultado patrimonial do exercício (BRASIL, 1964, on-line). Portanto, nesse instrumento, são levados em consideração todos os itens que provoquem alteração no patrimônio líquido, sendo referente à execução orçamentária ou não. IMPORTANTE: O patrimônio líquido é empregado para reportar a aferição residual referente à diferença existente entre o ativo menos o passivo (BRASIL, 2018). Contabilidade Pública 35 A estrutura da demonstração das variações patrimoniais é dividida em duas seções, sendo uma das variações quantitativas formada pelas variações patrimoniais diminutivas e aumentativas e outra seção formada pelas variações qualitativas (SILVA, 2015). IMPORTANTE: As variações patrimoniais diminutivas e aumentativas abrangem alguns grupos que são formados por despesas e receitas que alteram o patrimônio líquido da entidade. Esses grupos compreendem, no caso das variações aumentativas, as transferências recebidas, os impostos, contribuições, ou seja, são todas as variações que irão provocar um aumento patrimonial. E, no caso das variações diminutivas, envolvem elementos, como benefícios previdenciários, assistenciais, transferências concedidas, tributárias, isto é, quaisquer variações patrimoniais que sejam diminutivas. Quadro 3 – Demonstração das variações patrimoniais Demonstração das variações patrimoniais Variações patrimoniais quantitativas Variações patrimoniais aumentativas Exercício atual Exercício anterior Aqui constarão os grupos pertencentes às variações patrimoniais aumentativas, dentre os quais estão incluídos os impostos, as taxas, contribuições etc. Variações patrimoniais diminutivas Aqui constarão os grupos pertencentes às variações patrimoniais diminutivas, dentre os quais estão incluídos: Pessoal e encargos, tributárias etc. Resultado Patrimonial doPeríodo Fonte: Elaborado pelo autor com base em Silva (2015). Contabilidade Pública 36 As notas explicativas devem constar na demonstração das variações patrimoniais, apresentando separadamente a natureza e os valores dos componentes pertinentes que constituem as variações patrimoniais diminutivas e aumentativas, como em relação às baixas de investimento, a reversão de provisões, dentre outros (BRASIL, 2021). Segundo o MCASP (BRASIL, 2021), a análise das variações patrimoniais diminutivas pode ser apresentada empregando a classificação apoiada em dois métodos alternativos dentro da entidade: • Quanto à natureza – no qual as variações diminutivas são incorporadas na demonstração do resultado conforme a sua natureza, como no caso de despesas de publicidade. • Quanto à função – no qual as variações diminutivas são classificadas conforme o programa ou propósito para o qual elas foram comprometidas, como no caso de entidades que possuem funções associadas ao fornecimento de serviços de saúde. IMPORTANTE: O método da função possibilita uma informação mais pertinente aos usuários, entretanto a designação de despesas às funções pode exigir designações aleatórias e compreender uma capacidade de julgamento considerável. Para efetuar a análise da demonstração das variações patrimoniais, é preciso verificar o resultado patrimonial, que é influenciado por fatos orçamentários e extraorçamentários, avaliando os componentes mais relevantes que afetaram o superávit e o déficit patrimonial (SILVA, 2015). Essas demonstrações proporcionam uma análise de gestão que busca verificar o quanto e de que maneira a gestão interferiu nas modificações patrimoniais quantitativas e qualitativas da Administração Pública. Dessa forma, é possível mensurar se o serviço público ofertado provocou modificações quantitativas nos itens patrimoniais da entidade. Contabilidade Pública 37 Existem alguns resultados que são evidenciados de acordo com a demonstração das variações patrimoniais e que irá se referir ao exercício em que for apurado. Conforme Silva (2015), esses resultados são: • Variações quantitativas aumentativas > Variações quantitativas diminutivas = Superávit patrimonial. • Variações quantitativas aumentativas < Variações quantitativas diminutivas = Déficit patrimonial. • Variações quantitativas aumentativas = Variações quantitativas diminutivas = Resultado patrimonial nulo. SAIBA MAIS: Aprofunde-se mais nesse tema assistindo ao vídeo Contabilidade Pública: variações patrimoniais aumentativas e diminutivas (VPA) e (VPD), disponibilizado no canal do Professor Renato Chaves, no qual ele traz explicações relevantes sobre a demonstração das variações patrimoniais, trazendo exemplos práticos para que você compreenda como fazer a análise nessas demonstrações. Acesse-o clicando aqui Demonstrações do fluxo de caixa Todas as entidades precisam de recursos para efetuar corretamente seus pagamentos e para manter seus serviços de forma adequada. Assim como ocorre com as empresas privadas, a Administração Pública também deve ter um efetivo controle sobre a sua situação financeira. Para isso, precisa analisar como estão as suas entradas e saídas de recursos. Isso é essencial para que as entidades possam honrar com seus compromissos, como também realizar planejamentos futuros em relação às despesas que possam vir a ser geradas. Contabilidade Pública https://www.youtube.com/watch?v=sPHDU_luV5g 38 Essa análise é realizada por meio da demonstração do fluxo de caixa, que evidencia as entradas e saídas de caixa. Isso é de grande importância para que se possa ser observado como está a saúde financeira da entidade. Figura 9 – Fluxo de caixa Fonte: Elaborada pelo autor (2022). O MCASP relata que “a DFC identificará: a. as fontes de geração dos fluxos de entrada de caixa; b. os itens de consumo de caixa durante o período das demonstrações contábeis; e c. o saldo do caixa na data das demonstrações contábeis” (BRASIL, 2021, p. 529). A classificação dessas entradas e saídas será em fluxos que se distinguirão conforme a atividade da entidade e serão (BRASIL, 2021): • De investimentos – correspondem à obtenção e venda de ativos de longo prazo e de investimentos que não são considerados como equivalentes de caixa. • De financiamento – decorrem de alterações no tamanho e na formação do capital próprio e no endividamento. • Operacional – são os fluxos que não são nem de investimentos nem de financiamento. IMPORTANTE: Uma operação pode fazer parte de fluxos de caixa que sejam classificados em mais de uma atividade, como no caso de um pagamento de financiamento em que os juros serão incluídos como operacional e o valor principal como financiamento (BRASIL, 2018). A informação constante nesse instrumento possibilita ao usuário analisar como a Administração Pública adquiriu recursos para financiar suas atividades e o modo como ocorreu o emprego desses recursos de caixa. Contabilidade Pública 39 Por meio dessa demonstração, é possível ter uma melhor gestão e um controle financeiro de toda a Administração Pública, além de proporcionar a transparência da gestão pública (SILVA, 2015). Além disso, são informações que poderão subsidiar a tomada de decisão do Poder Público, bem como projetar cenários futuros e analisar possíveis alterações na capacidade de manutenção dos serviços públicos. De acordo com Lima e Muniz (2016), os usuários das demonstrações do fluxo de caixa podem: • Decidir quanto à destinação de recursos. • Analisar a capacidade do Poder Público de criar fluxos de caixa futuros. • Prever possíveis necessidades de caixa futuros. • Mensurar a capacidade do Poder Público conseguir saldar seus compromissos. Existem dois métodos que podem ser utilizados para a elaboração da demonstração do fluxo de caixa, o direto e o indireto. No entanto o MCASP (BRASIL, 2021) estabelece que deve ser utilizado o método direto para essa elaboração. Essa escolha, segundo Lima e Muniz (2016), ocorre porque o método direto dispõe de mais detalhes de informações para os usuários. Silva (2015) explica que o método direto demonstra as movimentações dos componentes de caixa a partir das principais classes de entradas e saídas brutas. A demonstração do fluxo de caixa é formada por um quadro principal que contém as atividades operacionais, de investimento e de financiamento. E também contará com outros três quadros, sendo um de transferências concedidas e recebidas, outro de desembolsos de pessoal e demais despesas por função e, por fim, um de juros e encargos da dívida (BRASIL, 2021). Vejamos como pode ser o quadro principal pelo método direto: Contabilidade Pública 40 Quadro 4 – Demonstração do fluxo de caixa Demonstração do fluxo de caixa Exercício atual Exercício anterior Fluxo de caixa de atividades operacionais Ingressos Receitas originárias, derivadas e transferências. Desembolsos Despesas com pessoal e outras despesas correntes por função, juros e encargos da dívida e as transferências. Fluxo de caixa líquido das atividades operacionais Fluxo de caixa das atividades de investimentos Ingressos Ingressos referentes ao fluxo de caixa das atividades de investimentos Desembolsos Desembolsos referentes ao fluxo de caixa das atividades de investimentos. Fluxo de caixa líquido das atividades de investimento Fluxo de caixa das atividades de financiamento Ingressos Ingressos referentes ao fluxo de caixa das atividades de financiamentos. Desembolsos Desembolsos referentes ao fluxo de caixa das atividades de financiamentos Fluxo de caixa líquido das atividades de financiamento Apuração do fluxo de caixa do período Geração líquida de caixa e equivalente de caixa Caixa e equivalente de caixa inicial Caixa e equivalente de caixa final Fonte: Elaborado pelo autor com base em Silva (2015). Contabilidade Pública 41 Além disso, é preciso compreenderque esse instrumento também deverá contar com notas explicativas, sendo os dados acompanhados de comentários e referentes a valores expressivos de saldo de caixa e equivalentes de caixa, os quais a entidade não poderá contar para utilização, como no caso de depósito de terceiros considerado como caixa e equivalente (BRASIL, 2021). Existem também algumas transações que não devem fazer parte da demonstração, mas sim das notas explicativas para que sejam disponibilizadas as informações pertinentes sobre essas operações, como as transações de investimento e financiamento que não compreendem a utilização de caixa ou equivalente (BRASIL, 2021). Depois de verificada a demonstração do fluxo de caixa, Silva (2015) explana que é possível realizar a análise do desempenho financeiro e, por meio dessa análise, • Obter um panorama da situação financeira da entidade, permitindo que sejam realizadas comparações entre as entradas e saídas conforme a classificação da atividade e, com isso, examinar as decisões de investimentos e financiamentos públicos. • Verificar a situação atual e futura do caixa, proporcionando um exame da liquidez. • Ter conhecimento da capacidade de elevação das despesas com recursos próprios originados pelas operações. • A avaliação atual da disponibilidade e o impacto que ela provoca nas finanças, quando são inseridas novas despesas na programação. • Verificar um momento preciso para que se possa adquirir novas despesas sem comprometer as finanças da entidade. Essa demonstração também pode proporcionar a avaliação das variações que aconteceram no patrimônio líquido quando empregada junto com as outras demonstrações contábeis, além de aperfeiçoar o confronto dos relatórios de desempenho operacional de entidades distintas. Isso Contabilidade Pública 42 porque, assim, se extingue as consequências que se originam da utilização de critérios distintos para transações iguais (BRASIL, 2018). SAIBA MAIS: Aprofunde-se nos estudos sobre demonstração do fluxo de caixa lendo a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC TSP 12), de 18 de outubro de 2018, a qual traz diversos dispositivos que tratam da estrutura e de como devem ser evidenciadas as informações nesse instrumento, além de demonstrar a sua importância para a Administração Pública e os seus benefícios. Para ter acesso, clique aqui RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter compreendido que as demonstrações das variações do patrimônio podem ser observadas tanto na ordem qualitativa quanto na quantitativa, mas que, quando falamos da quantitativa, são as variações que aumentam ou diminuem o patrimônio líquido da entidade, formadas por despesas e receitas. Além disso, viu que as variações diminutivas são apoiadas nos métodos quanto à natureza e quanto à função e que, por meio da análise dessa demonstração, se pode chegar a alguns resultados que podem significar superávit patrimonial, déficit patrimonial, ou resultado patrimonial nulo. Além disso, conheceu as demonstrações do fluxo de caixa e a importância que essas demonstrações possuem para a transparência das informações públicas e para a tomada de decisão em termos de gestão. Viu que ela se refere à evidenciação das entradas e saídas de caixa e que se distinguirão conforme a atividade da entidade, podendo ser de investimento, de financiamento ou operacional, mas que existem determinadas situações em que uma transação poderá fazer parte de mais de uma atividade. Por fim, entendeu que a elaboração deve ser realizada pelo método direto, contando com um quadro principal e outros três quadros que servirão para análise da situação financeira da entidade. Contabilidade Pública https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/47983559/do1-2018-10-31-norma-brasileira-de-contabilidade-nbc-tsp-12-de-18-de-outubro-de-2018-47983302 43 Balanço Patrimonial e Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido OBJETIVO: Neste capítulo, iremos analisar o balanço patrimonial, compreendendo como ele é formado e como deve ser realizada a sua análise. Além disso, iremos conhecer as demonstrações das mutações do patrimônio líquido, entendendo como devem ser estruturadas e sua importância para as entidades públicas. Balanço patrimonial As entidades também contam com um instrumento que evidencia a posição patrimonial delas no final do exercício, chamado de balanço patrimonial. É por meio do balanço patrimonial que é demonstrada a situação patrimonial em um certo momento, representando, assim, a situação financeira da entidade (LIMA; MUNIZ, 2016). IMPORTANTE: É demonstrada de maneira qualitativa e quantitativa a situação patrimonial por meio de contas representativas do patrimônio público, bem como as contas de compensação (BRASIL, 2021). Desse modo, o balanço patrimonial é formado pelo ativo, passivo e patrimônio líquido, além das contas de compensação. Contabilidade Pública 44 Figura 10 – Contas do balanço patrimonial Fonte: Elaborada pelo autor (2022). Essas contas são definidas por Lima e Muniz (2016) da seguinte forma: • Ativos – são os recursos originados de acontecimentos passados e que podem trazer benefícios futuros ou capacidade de serviços. • Passivos – são obrigações decorrentes de acontecimentos passados, no qual seus pagamentos podem gerar desembolsos de recursos que venham a trazer benefícios econômicos ou capacidade de serviços. • Patrimônio líquido – é o resultado existente quando diminuído o passivo do ativo. • Contas de compensação – abrange os atos que venham ou não a atingir o patrimônio. Contabilidade Pública 45 Para a elaboração do balanço patrimonial, deve ser estruturado um quadro principal, em que constarão os ativos, passivos e o patrimônio líquido. Esses ativos e passivos deverão ser apresentados, de maneira preferencial, em circulantes e não circulantes, fundamentados em atributos de conversibilidade e exigibilidade (BRASIL, 2021). Ou seja, os ativos devem ser ordenados de forma decrescente em relação a sua liquidez e os passivos em ordem decrescente, conforme o prazo de vencimento (LIMA e MUNIZ, 2016). Segundo o MCASP (BRASIL, 2021), o ativo será considerado circulante quando preencher algum desses critérios: • Ele seja realizado ou venha a ser vendido ou negociado no decorrer do ciclo operacional normal da entidade. • Ele venha a ser negociado. • Ele apresente a expectativa de realização até o fim do exercício seguinte. • Seja caixa ou equivalente de caixa. EXEMPLO: Como exemplo de ativo realizado no decorrer do ciclo operacional normal da entidade, temos os impostos a receber. Os demais ativos devem ser considerados como não circulantes. Já os passivos serão considerados circulantes quando preencherem um dos critérios (BRASIL, 2021): • Indicarem valores com prazo de vencimento até o fim do exercício. • Forem mantidos com o propósito de serem negociados. • Apresentarem a expectativa de pagamento até o fim do exercício seguinte. • Não exista o direito incondicional de prorrogar a liquidação do passivo durante o exercício seguinte. Contabilidade Pública 46 EXEMPLO: Um exemplo de passivo circulante que possui sua liquidação prevista para os exercícios seguintes é o de dividendos a pagar. Os demais passivos devem ser considerados como não circulantes. Lima e Muniz (2016) explicam que, no patrimônio líquido, deve ser demonstrado: • O resultado do período separado dos resultados acumulados dos exercícios passados. • Os acertos de avaliação patrimonial. • As reservas. • Os adiantamentos para elevação de capital futura. • O patrimônio social. • O capital social. Além do quadro principal, também devem ser elaborados outros três quadros, sendo um de ativos e passivos financeiros, outro das contas de compensação e, por fim, um de superávit/déficit financeiro (BRASIL, 2021). Vejamos um exemplo resumido do quadro principal do balançopatrimonial: Contabilidade Pública 47 Quadro 5 – Balanço patrimonial Balanço patrimonial Ativo Passivo Especificação Exercí- cio atual Exercício anterior Especificação Exercício atual Exer- cício anterior Ativo circu- lante Contas que fazem parte do ativo circu- lante Passivo cir- culante Contas que fazem parte do passivo circulante Ativo não circulante Contas que fazem parte do ativo não circulante Passivo não circulante Contas que fazem parte do passivo não circu- lante Patrimônio líquido Especificação Exercí- cio atual Exer- cício anterior Patrimônio social e capi- tal social Contas rela- cionadas com o patrimônio líquido Reservas de lucros Contas rela- cionadas com o patrimônio líquido Total do patri- mônio líquido Total Total Fonte: Elaborado pelo autor com base em Silva (2015). Contabilidade Pública 48 O balanço patrimonial também deve vir acompanhado de notas explicativas que irão detalhar fatos relacionados com as contas apresentadas, principalmente devido à extensão e natureza dos valores compreendidos nos ativos e passivos, como o detalhamento em relação ao imobilizado (BRASIL, 2021). Além disso, também devem ser observadas as instruções direcionadas para os entes que não possuem parcela de capital representado por ações, bem como aquelas que possuem essa representação (BRASIL, 2021). Por meio da verificação do balanço patrimonial, é possível realizar uma análise de acordo com determinados índices, como de liquidez e endividamento. IMPORTANTE: Quando a análise é realizada observando o endividamento, deve-se levar em consideração a separação das transações que podem ser refinanciadas daquelas que não podem. Silva (2015) menciona alguns índices que podem ser utilizados. Vejamos os principais: • Liquidez imediata = disponibilidade/passivo circulante. • Demonstra a capacidade que o ente possui de cumprir com suas obrigações de maneira imediata, utilizando os recursos que tem em caixa ou bancos. • Liquidez corrente = ativo circulante/passivo circulante. • Aponta o montante que o ente precisa possuir em recursos a curto prazo para conseguir saldar seus compromissos circulantes, como fornecedores. • Índice de solvência = (ativo circulante + ativo não circulante) / (Passivo circulante + Passivo não circulante). Contabilidade Pública 49 • Demonstra se o ente é solvente ou não. Ele será solvente quando consegue honrar com seus compromissos e possui uma situação patrimonial que assegure a sua continuidade no futuro. • Endividamento geral = (passivo circulante + passivo não circulante) / Ativo total. • Indica o grau de endividamento do ente público. Além de conseguir avaliar determinados índices, com o balanço patrimonial também é possível analisar o patrimônio líquido do período, no qual serão apresentados resultados que são demonstrados no balanço. Conforme Silva (2015) esses resultados são: • Soma do ativo (circulante e não circulante) > soma do passivo (circulante e não circulante) = patrimônio líquido superavitário. • Soma do ativo (circulante e não circulante) < soma do passivo (circulante e não circulante) = patrimônio líquido deficitário. • Ativo financeiro > passivo financeiro = superávit financeiro. • Ativo financeiro < passivo financeiro = déficit financeiro. SAIBA MAIS: Aprofunde os seus estudos sobre o balanço patrimonial analisando o balanço Patrimonial da Escola Nacional de Administração Pública do exercício financeiro de 2020. Com ele, você verá na prática todos os lançamentos nas devidas contas do balanço patrimonial conforme o MCASP. Disponível aqui. Contabilidade Pública https://www.enap.gov.br/media_files/documentos/Arquivos/curso_sob_demanda/Demonstra%C3%A7%C3%B5es_cont%C3%A1beis_e_notas_explicativas_2020.pdf 50 Demonstrações das mutações do patrimônio líquido Outro instrumento que é muito útil para as entidades públicas e para a divulgação das informações contábeis e que está diretamente ligado ao Patrimônio Líquido é a demonstração das mutações do patrimônio líquido. Por meio dessa demonstração, é possível compreender todas as movimentações que aconteceram nas contas do patrimônio líquido, e elas servem de complemento para outros instrumentos, como o balanço patrimonial e a demonstração das variações patrimoniais (LIMA e MUNIZ, 2016). Desse modo, será evidenciada a elevação ou redução do patrimônio líquido do ente público durante um determinado período, sendo alguns dos itens evidenciados: • Dividendos. • Resultado do período. • Aumento de capital, entre outros. • Silva (2015) relata que essa demonstração possui como objetivos: • Evidenciar a situação positiva ou negativa patrimonial do período. • Indicar as variações do patrimônio líquido reconhecidas no instrumento. • Demonstrar o efeito resultante da alteração nos critérios contábeis. • Evidenciar o efeito resultante da retificação de erros ocorridos em exercícios passados. • Demonstrar as contribuições e distribuições aos proprietários. O quadro a ser elaborado para essa demonstração é formado por várias colunas e linhas, sendo as colunas constituídas por contas contábeis das quais as informações devem ser retiradas, e as linhas definem o par de lançamento dessas contas (BRASIL, 2021). Contabilidade Pública 51 Também devem existir notas explicativas quando houver modificação significativa no patrimônio líquido, tanto pela natureza quanto pelo valor dos dados, informa o Manual. Vejamos como esse quadro deverá ser elaborado: Quadro 6 – Demonstração das mutações do patrimônio líquido Demonstração das mutações do patrimônio líquido Especificação Patrimônio social/ capital social Adian- tamento para futuro aumento de capital Reser- vas de capital Ajustes de aval. pat. Total Constará a especificação das contas como saldo inicial do exercício ante- rior, saldo final, resultado do exercício, entre outros. Saldo final do exercício atual Fonte: Elaborado pelo autor com base no MCASP (2021). Observe que, na imagem acima, não constam todas as colunas preenchidas, isso porque se trata de uma demonstração com muitos itens e que não caberia de forma ordenada no nosso material. Mas, para que você não fique sem saber quais são esses itens, irei citar todos aqui. Eles são, segundo o MCASP (BRASIL, 2021), em ordem: • Especificação. • Patrimônio social/capital social. • Adiantamento para futuro aumento de capital. • Reservas de capital. • Ajustes de avaliação patrimonial. • Reservas de lucros. Contabilidade Pública 52 • Demais reservas. • Resultados acumulados. • Ações/cotas em tesouraria. Pelos dados das contas informadas, podemos perceber uma particularidade que é inerente à demonstração das mutações do patrimônio líquido e que não se refere às demais demonstrações contábeis que estudamos até agora. Essa particularidade se refere a sua obrigatoriedade, visto que ela não abrange todas as entidades públicas. Ela é obrigatória apenas para as empresas estatais dependentes e que possuam a forma jurídica de sociedade anônima (S.A.), como a Empresa Brasileira de Agropecuária e Pecuária (EMBRAPA). Assim, você deve se perguntar: então as demais entidades públicas não devem elaborar essa demonstração? Na verdade, elas não possuem a obrigatoriedade de elaborar, mas podem fazer de forma facultativa. Isso porque ela é muito útil para todas as entidades, pois, pelo fato de com ele ser possível realizar a análise da evolução do patrimônio líquido da entidade, esse instrumento serve como complemento para o Anexo de Metas Fiscais, que exige essa evolução. IMPORTANTE: Aqui, é importante que você se lembre da Lei de Diretrizes Orçamentárias (que falamos em outro capítulo referente às leis orçamentárias) e os seus anexos, pois o Anexo de Metas Fiscais faz parte dessa lei. E nesse anexo deve estar contida a evolução patrimonial da entidadepública. Diante disso, Silva (2015) alerta que a demonstração da evolução do patrimônio líquido deve ter um teor confiável, sendo certos os reconhecimentos, a aferição e avaliação dos ativos e passivos da entidade. Isso faz com que essa demonstração seja importante para todas as entidades que devam seguir as orientações da Lei de Responsabilidade Fiscal em relação à LDO e o Anexo de Metas Fiscais. Contabilidade Pública 53 Além disso, por meio da análise dessa demonstração, é possível avaliar as variações que ocorreram nas contas que constituem o patrimônio líquido da entidade. Essas variações podem ser de várias formas, conforme Silva (2015): Elementos que impactam o patrimônio líquido, como também o ativo e o passivo: • Elevação do patrimônio líquido pelo resultado positivo ou diminuição pelo resultado negativo do período. • Diminuição por dividendos. • Elevação por doações e subvenções para investimentos recebidos. • Elevação por subscrição e integralização de capital. • Elevação ou diminuição por ajuste de exercícios passados. Também podemos ter variações que impactam apenas o patrimônio líquido: • Elevação do capital com emprego de lucros e reservas. • Compensação de prejuízos com reservas. SAIBA MAIS: Vimos que apenas as empresas estatais dependentes e que sejam de sociedade anônima são obrigadas a elaborar a demonstração das mutações do patrimônio líquido. Diante disso, você pode verificar como foi o resultado dessa demonstração da EMBRAPA referente aos exercícios de 2020 e 2021 e compreender na prática como esses dados contábeis são dispostos na página 10 do documento. Acesse-o clicando aqui. Contabilidade Pública https://www.embrapa.br/documents/10180/66689039/Demonstra%C3%A7%C3%B5es+financeiras+e+notas+explicativas+4%C2%BA+trimestre/d4f54bd4-2a8f-6701-f0b8-232d13c7fcd7 54 RESUMINDO: Neste capítulo, você conheceu como é elaborado o balanço patrimonial e que ele é formado pelas contas representativas do patrimônio público, que são os ativos, passivos e o patrimônio líquido, além das contas de compensação. Conheceu a definição de cada um desses elementos como também quando eles podem ser classificados dessa forma, além de compreender como o balanço patrimonial deve ser estruturado e quais os índices que podem ser utilizados para efetuar sua análise. Viu também que os resultados da análise podem demonstrar um patrimônio líquido superavitário, um deficitário, um superavitário financeiro ou um déficit financeiro. Além disso, entendeu o que são as demonstrações das mutações do patrimônio líquido, visualizando a sua utilidade em relação à divulgação das informações contábeis. Além disso, viu quais são os itens que devem ser evidenciados nessa demonstração e os seus objetivos a serem alcançados. Compreendeu que a sua elaboração é por meio de um quadro formado por várias linhas e colunas, cada uma com suas funções, e que esse quadro possui muitos itens, como também viu que ela só é obrigatória para as empresas estatais dependentes com forma de sociedade anônima, mas que as demais entidades públicas são facultativas, só que essa demonstração é essencial para que seja cumprida a determinação da LRF em relação ao Anexo das Metas Fiscais. Por fim, conheceu as variações que podem ser avaliadas por meio da análise das demonstrações das mutações patrimoniais. Desse modo, encerramos nosso estudo sobre a Contabilidade Pública, no qual abordamos diversos temas importantes para que sejam compreendidas a relevância desse tema para a gestão pública, bem como para que sejam realizados os registros contábeis dessas entidades corretamente e conforme a legislação pertinente. Contabilidade Pública 55 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 2000. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Institui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 1964. BRASIL. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. MCASP, 2021. Disponível em: https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/ f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41943 Acesso em: 27 abr. 2022. BRASIL. Norma Brasileira de Contabilidade NBC TSP 12, de 18 de outubro de 2018. Aprova a NBC TSP 12 - Demonstração dos Fluxos de Caixa. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 2018. EMPRESA BRASILEIR DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Demonstrações Financeiras 4º Trimestre de 2021: notas explicativas. Brasília: EMBRAPA, 2021. ESCOLA NACIONAL E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Demosntrações Contábeis e Notas Explicativas. Brasília: ENAP, 2020. LIMA, S. C. de; MUNIZ, J. A. Contabilidade Pública. São Paulo: ATLAS, 2016. SOBRINHO, M. F. Orçamento e custos na Administração Pública. São Paulo: Senac, 2021. SILVA, J. A. F. da. Contabilidade Pública. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método: 2015. Contabilidade Pública Plano de Contas e Escrituração Plano de contas Atributos das contas contábeis Regras de integridade Escrituração Balanço Orçamentário e Balanço Financeiro Instrumentos de divulgação das informações públicas Balanço orçamentário Balanço financeiro Demonstrações das Variações Patrimoniais e dos Fluxos de Caixa Demonstrações das variações patrimoniais Demonstrações do fluxo de caixa Balanço Patrimonial e Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido Balanço patrimonial Demonstrações das mutações do patrimônio líquido
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