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Literatura Comparada Introdução à Literatura Comparada Prof. Dr. Lucas Toledo de Andrade • Unidade de Ensino: 1. • Competência da Unidade: Introduzir os principais tópicos sobre a Literatura Comparada. • Resumo: Nesta aula, busca-se introduzir as discussões acerca da Literatura Comparada, por meio da apresentação das abordagens clássicas e contemporâneas, dos conceitos fundamentais da disciplina e do desenvolvimento dos Estudos Comparatistas. • Palavras-chave: Literatura Comparada. Conceitos Fundamentais. Desenvolvimento dos Estudos Comparatistas. • Título da Teleaula: Introdução à Literatura Comparada. • Teleaula nº: 1. Contextualização Quais são as definições de Literatura Comparada? Que contexto envolve a história da Literatura Comparada? Como se compõem as teorias comparatistas clássicas e contemporâneas? Quais são os conceitos fundamentais de Literatura Comparada? Definições de Literatura Comparada Literatura Comparada • O binômio Literatura Comparada pode nos induzir a um certo equívoco ao assumir que seu conceito-chave está na comparação. • A comparação, isoladamente, é um procedimento basilar de todo o pensamento e, portanto, de toda a crítica literária. • A presença da comparação é recorrente em análises literárias, constituindo desde movimentos mais pontuais a uma metodologia crítica em si. “E o sentido da expressão ‘literatura comparada’ complica-se ainda mais ao constatarmos que não existe apenas uma orientação a ser seguida, que, por vezes, é adotado um certo ecletismo metodológico. Em estudos mais recentes, vemos que o método (ou métodos) não antecede à análise, como algo previamente fabricado, mas dela decorre. Aos poucos torna-se mais claro que literatura comparada não pode ser entendida apenas como sinônimo de ‘comparação’.” (CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2010, p. 7.) 1 2 3 4 5 6 “Pode-se dizer, então, que a literatura comparada compara não pelo procedimento em si, mas porque, como recurso analítico e interpretativo, a comparação possibilita a esse tipo de estudo literário uma exploração adequada de seus campos de trabalho e o alcance dos objetivos a que se propõe. Em síntese, a comparação, mesmo nos estudos comparados, é um meio, não um fim.” (CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2010, p. 8.) História da Literatura Comparada Surgimento da Literatura Comparada 1. Definição das fronteiras nacionais • Particularização da identidade estética das literaturas nacionais. • Constituição das historiografias literárias nacionais. • Consolidação da ideia de “literaturas”. 2. Pensamento cosmopolita • Trocas de ideias e de informações. • Relações entre diversas culturas. Consolidação dos estudos comparatistas • França 1ª cátedra de Literatura Comparada em Lyon, em 1887, seguida pela criação da cátedra de Sorbonne, em 1910. Curso de Literatura Comparada (1816), de Nöel e Laplace. Panorama da Literatura Francesa do século XVIII (1828 – 1829), de Abel-François Villemain. Consolidação dos estudos comparatistas • Discurso sobre a história da poesia (1830); História da literatura francesa na Idade Média comparada às literaturas estrangeiras (1841), de J. J Ampére. • Philarète Chasles, em cursos do Collège de France, em 1841. • Alemanha Moriz Carrière Max Koch • Inglaterra Hutcheson Macaulay Posnett • Itália De Sanctis • Estados Unidos Irving Babbitt • Portugal Teófilo Braga Consolidação dos estudos comparatistas 7 8 9 10 11 12 Indicação de leitura “A construção da literatura comparada na história da literatura” (1994), de Lúcia Helena. Teorias comparatistas clássicas e contemporâneas Linha Francesa e Linha Americana Distinção entre a “escola” americana e a “escola” francesa realizada por Henry H. H. Remak. Linha francesa Corrente positivista. Problemas com a subjetividade da análise literária. Linha americana Relação das literaturas e de outros domínios. Absorção de outras noções teóricas. Linha Francesa e Linha Americana • A linha francesa, muito purista, interessa-se primordialmente por uma busca nas relações literárias. • A linha americana já demonstra uma inclinação para o estudo dessas relações com as outras áreas do conhecimento, fato coerente com o ulterior desenvolvimento dos estudos culturais. “Qualquer revisão crítica da Literatura Comparada em seu desenvolvimento histórico leva de imediato à percepção de que a disciplina sofreu, de meados dos anos 70 para o presente, considerável transformação, que poderíamos sintetizar, sem riscos de reducionismo, na passagem de um discurso coeso e unânime, com forte propensão universalizante, para outro plural e descentrado, situado historicamente, e consciente das diferenças que identificam cada corpus literário envolvido no processo da comparação.” (COUTINHO, Eduardo. Literatura Comparada, literaturas nacionais e questionamento do cânone. Revista Brasileira de Literatura Comparada, v. 3, n. 3, p. 1996, 67 – 74.) Mudança das teorias clássicas para as contemporâneas • A internacionalização da literatura e a ampliação de horizontes em sua relação com as demais artes e áreas do conhecimento se transformaram em um caldeirão em ebulição na modernidade. • Os estudos culturais, que começaram a se constituir com a Literatura Comparada no início do século XX, são protagonistas dessa mudança ao ampliarem a esfera literária para fatores culturais como categorias de análise. 13 14 15 16 17 18 Indicação de leitura “Teorias em Literatura Comparada” (1994), de Tânia Franco Carvalhal. História da Literatura Comparada Situação-Problema Você é professor universitário e, pela primeira vez, ministrará a disciplina de Literatura Comparada. Esse fato faz que diversas dúvidas surjam no momento de elaboração do material e das aulas da disciplina. Situação-Problema Como desenvolver um cronograma histórico e, ao mesmo tempo, contemporâneo? Como dar conta do contexto de surgimento dessa teoria crítica e do desenvolvimento dela até os dias de hoje, além das discussões em curso atualmente? Situação-Problema • Discussão sobre a formação da Literatura Comparada e a formação das literaturas nacionais. • Transformação da disciplina de acordo com a mudança do sistema literário. • “Comparação” como uma metodologia de estudo complexa. • Teorias clássicas e contemporâneas. • Relação entre literatura e sociedade. O Surgimento da Literatura Comparada 19 20 21 22 23 24 Hora de refletir... Quais motivos fazem que a Literatura Comparada se difunda, mais rapidamente, em território francês? Conceitos fundamentais de Literatura Comparada: parte I Texto polifônico • Publicação de Problemas da Poética de Dostoievski (1963), de Bakhtin. “A compreensão de Bakhtin do texto literário como um ‘mosaico’, construção caleidoscópica e polifônica, estimulou a reflexão sobre a produção do texto, como ele se constrói, como absorve o que escuta. Levou-nos, enfim, a novas maneiras de ler o texto literário [...].” (CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2006, p. 48-49.) Existência do leitor “Ao final dos anos 60, surge a chamada ‘teoria da recepção’, também conhecida como ‘estética da recepção’, que desloca o foco de interesse da crítica moderna para a figura do leitor. Terá sido essa, talvez, a reação mais forte contra a posição de leitura ‘imanente’ proposta pelos formalistas e seguida, depois, pelos estruturalistas mais ortodoxos.” (CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2006, p. 70.) Intertextualidade “Será com esse percurso teórico que Julia Kristeva chegará, em 1969, justamente ao conceito de intertextualidade: ‘Todo texto é absorção e transformação de outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, se instala a de intertextualidade, e a linguagem poética se lê, pelo menos, como dupla.’.” (KRISTEVA,1969 apud CARVALHAL, 2010, p. 80.) (COELHO, Elisa Domingues. Introdução à literatura comparada. Editora e DistribuidoraEducacional S.A: Londrina, 2019, p. 24.) Intertextualidade 25 26 27 28 29 30 Conceitos fundamentais de Literatura Comparada: parte II Dependência cultural, fonte e influência Para os comparatistas clássicos, a relação de influências de diferentes obras partia de uma ideia fixa: identificar a semelhança ou a identidade entre obras aproximadas. Isso, segundo Carvalhal (2010), levava a uma relação de créditos e de débitos. • Conceito de “fonte”. • Visão vertical e hierárquica. • Faceta colonialista. “Ao empreenderem a investigação da ‘fortuna de um verso’ ou das ‘fontes remotas’ de determinado texto, os comparativistas clássicos tinham uma ideia fixa: identificar a semelhança ou identidade entre as obras aproximadas. Daí a formação dos longos paralelismos, já referidos e criticados. Mas havia nesse procedimento uma outra intenção: estabelecida a analogia, instalava-se o débito. E a relação se convertia num saldo de créditos e débitos.” (CARVALHAL, 2010, p. 75.) Transculturação e hibridismo cultural • Subversão da noção de “fonte” e dependência cultural. • Metáfora antropofágica = devoração crítica do outro para a construção de uma nova produção. • Relação de mão-dupla: hibridismo cultural. Indicação de leitura: O entre-lugar do discurso latino-americano (1978), de Silviano Santiago. Intermediação cultural • Não há relações pacíficas e “naturais” entre os textos, por isso é preciso olhar para os textos a partir de uma lógica dialética e dinâmica. • Paródia • Tradução Literatura Comparada em outros contextos e intersecções 31 32 33 34 35 36 Formas e temas • A discussão em torno dos gêneros literários (formas), que remontam à Antiguidade Clássica, por meio das reflexões trazidas por Platão e por Aristóteles, mostram- se como um terreno fecundo para os estudos comparatistas. • A discussão em torno dos temas literários, de acordo com Baldensperger (1994), remonta às origens da literatura comparada: estudos de fontes e de influências. História Literária e História Cultural “Segundo as definições geralmente aceitas, na medida em que a história cultural pretende ser a ‘história cultural das representações’, das maneiras pelas quais os homens se representam e representam o mundo que os rodeia, o encontro com a história literária foi inevitável, tal como o esforço para com ela estabelecer um diálogo mais ou menos construtivo.” (MOLLIER, J.-Y. História cultural e história literária. Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 3, dez. 2016. Disponível em: https://bit.ly/2MzT7qD. Acesso em: 26 jun. 2023.) Estudos Culturais “Os estudos culturais, como seu próprio nome sugere, vêm com a proposta de estudar a cultura em suas diversas expressões, destituindo o texto literário do pedestal no qual o tratamento como ‘alta literatura’ o colocou, e estabelecendo-o como um produto cultural em meio a tantos outros e fruto dessas relações entre arte e sociedade, trazendo para sua esfera outros sujeitos e expressões não originalmente elitizados, que era o único status admissível na literatura canônica.” (COELHO, Elisa Domingues. Introdução à literatura comparada. Editora e Distribuidora Educacional S.A: Londrina, 2019, p. 42.) Literatura e outras artes “O interessante é aproximar os campos, pois em se tratando da Literatura Comparada, esta ‘colabora para o entendimento do outro’ (Carvalhal, 1997, p.8) e sobre os Estudos Culturais, Canclini (2005, p.154) esclarece: ‘O que lhes dá maior abertura e densidade intelectual é atrever-se a manejar materiais conexos, que não eram considerados conjuntamente para falar de um tema.’.” (OLIVEIRA, S. C. de. Estudos culturais e literatura comparada: relações na contemporaneidade. Darandina Revisteletrônica, Juiz de Fora, v. 5, n. 2, 2012. Disponível em: http://www.ufjf.br/darandina/files/2012/12/artigo_SimoneContideOliveira.pdf. Acesso em: 26 jun. 2023.) Literatura e sociedade 37 38 39 40 41 42 Situação-Problema O responsável por um cursinho comunitário preparatório para vestibulares entrou em contato com você para ministrar uma palestra aos alunos. Ele tem medo que os alunos estejam encarando a literatura como um sistema distante deles, sem relação com a realidade. Você, que está em franco estudo da disciplina de Literatura Comparada com esse viés crítico, é a pessoa mais capacitada para entender que a literatura não é esse sistema de valores fixos já determinados e está e sempre esteve relacionada com a história e com a sociedade. Diante disso, algumas reflexões se fazem necessárias. Situação-Problema Como as atuais discussões da Literatura Comparada, protagonizadas principalmente pelos estudos culturais, têm aproximado cada vez mais literatura e sociedade? Como as discussões da Literatura Comparada com o apoio dos Estudos Culturais refletem no questionamento do sistema literário eurocêntrico? Há espaço para uma reformulação contemporânea do cânone estabelecido? Resolução da Situação-Problema É preciso refletir sobre alguns aspectos. • Entendimento da construção do cânone literário. • Reflexões sobre o sistema literário e o cânone como elementos dinâmicos. • Perspectiva histórica da literatura. Relação entre Literatura e outras artes Hora de refletir... Por que é importante pensar a literatura como pertencente a um conceito mais amplo da cultura? Vamos Revisar? 43 44 45 46 47 48 Revisando... Definições de Literatura Comparada. História da Literatura Comparada. Teorias comparatistas clássicas e contemporâneas. Conceitos fundamentais de Literatura Comparada. Literatura Comparada em outros contextos e intersecções. Referências Referências ARANTES, Adriana Andrade Junqueira de Brito; COELHO, Elisa Domingues; GUERRA, Bruna Tella. Literatura comparada. Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. São Paulo: Ática, 2010. COUTINHO, Eduardo. Literatura Comparada, literaturas nacionais e questionamento do cânone. Revista Brasileira de Literatura Comparada, v. 3, n. 3, p. 1996. Educacional S.A: Londrina, 2019. MOLLIER, Jean-Yves. História cultural e história literária. Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 3, dez. 2016. Disponível em: https://bit.ly/2MzT7qD. Acesso em: 26 jul. 2023. OLIVEIRA, Simone Conti de. Estudos culturais e literatura comparada: relações na contemporaneidade. Darandina Revisteletrônica, Juiz de Fora, v. 5, n. 2, 2012. Disponível em: https://bit.ly/2K7RRJo. Acesso em: 26 jun. 2023. 49 50 51
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