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Epistemologia Arqueológica, Racionalista, Crítica e Cognitiva Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria FRANCINE HEIDEN RIOS AUTORIA Franciane Heiden Rios Olá! Sou formada em Pedagogia, Mestre em Educação, Especialista em Educação Especial e Inclusiva e Tecnologias Educacionais. Estou nesta área desde o início da minha vida profissional, cursei Magistério, ingressei como estagiária e da escola nunca mais sai. Esse espaço rico de aprendizagens humanas me oportunizou pensar sobre diferentes questões e perceber as pessoas em suas diferentes necessidades. Durante dez anos fui servidora concursada, professora, do Município de São José dos Pinhais, também atuei como educadora pela Prefeitura Municipal de Curitiba e, atualmente, sou supervisora do curso de Pedagogia da UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo - e diretora pedagógica da CuriosaIdade, instituição que atua em parceria com redes de ensino para desenvolvimento de boas práticas educativas tendo como subsídio a perspectiva do Desenho Universal para a Aprendizagem. Acredito no princípio básico da inclusão e no respeito pela diversidade, portanto, escrever, palestrar, capacitar ou qualquer outra ação ou prática profissional relacionada ao tema são hoje meu foco de atuação. Desejo que tenhamos juntos um caminho rico de aprendizagens significativas, que o material aqui proposto em suas ideias, reflexões e discussões permitam a você construir-se enquanto um profissional interdisciplinar, que navega entre as mais diversas áreas do conhecimento em prol de uma melhor prática educativa, avançando para a qualidade na educação e consequente transformação social. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Epistemologia Arqueológica de Foucault ........................................ 12 Foucault: Uma Breve Biografia .............................................................................................. 12 Conceitos-chave da Epistemologia Arqueológica de Foucault ................... 14 Epistemologia Racionalista Crítica de Popper ..............................20 Popper: Uma Breve Biografia ................................................................................................ 20 Conceitos-chave da Epistemologia Racionalista Crítica de Popper ......... 22 Epistemologia Crítica de Habermas ...................................................28 Habermas: Uma Breve Biografia ..........................................................................................28 Conceitos-chave da Epistemologia Crítica ................................................................. 30 Psicologia Cognitiva .................................................................................. 35 História e Fundamentos da Psicologia Cognitiva ....................................................35 Conceitos-chave da Psicologia Cognitiva ................................................................... 38 9 UNIDADE 03 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 10 INTRODUÇÃO Nesta unidade continuaremos em busca de respostas para as questões: O que é ciência? Será que a ciência necessita de verificações sistematizadas e comprovações a partir de princípios científicos? Será ciência uma organização do conhecimento empírico? Será ciência uma “roupagem” para o senso comum? Será ciência aquele conhecimento produzido em laboratório? Transitaremos por quatro outras Teorias do Conhecimento que, nesse momento, você já sabe que são sinônimos de Epistemologia. Dentre essas discussões, veremos que, por exemplo, é possível compreender o processo de construção do saber a partir da “falseação”, ou seja, que a boa teoria é aquela que permite ser contestada e, a partir dessas contestações, apresenta respostas coerentes. É fato que estamos em um “local” que parece distante da neuroeducação, porém, não é. Afinal, a crítica, reflexão e análise são habilidades indispensáveis em uma área que ganha projeção na atualidade e que, estando em destaque, acaba por trazer diversas “verdades” que, quando confrontadas, não passam de mera especulação e acabam por desacreditar os profissionais que buscam uma prática séria, coerente com os princípios éticos. Portanto, nessa unidade buscamos não apenas definições, buscamos que você ao final possa ser ativo e consciente das próprias escolhas que orientam suas ações. Seguimos com o objetivo de desvelar as possíveis concepções de como se produz o conhecimento em áreas que não “são duras”, que permitem e necessitam de interpretações e narrativas. Assim, esperamos que você estudante e entusiasta da área, mantenha sua curiosidade para que juntos, possamos ampliar a concepção que temos de ciência e, consequentemente, da produção do conhecimento. Vamos lá? Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 11 OBJETIVOS Olá, seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar, conceituar e discutir a Epistemologia Arqueológica de Foucault, uma das principais linhas epistemológicas contemporâneas. 2. Identificar, conceituar e discutir a Epistemologia Racionalista Crítica de Popper, uma das principais linhas epistemológicas contemporâneas. 3. Identificar, conceituar e discutir a Epistemologia Crítica de Habermas, uma das principais linhas epistemológicas contemporâneas. 4. Identificar, conceituar e discutir a Psicologia Cognitivista, uma das principais linhas epistemológicas contemporâneas. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 12 Epistemologia Arqueológica de Foucault OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender os principais conceitos da Epistemologia Arqueológica de Foucault. Esses conhecimentos são essenciais para a ampliação de seu campo teórico, permitindo a você uma visão ampla e geral das epistemologi as/teorias do conhecimento que habitam o campo da educação e, consequentemente, da neuroeducação. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Foucault: Uma Breve Biografia Paul-Michel Foucault nasceu em 15 de outubro de 1926 e faleceu no dia 25 de junho de 1984. Em 1946, iniciou seus estudos na École Normale da rue d’Ulm. Licenciado em Filosofia pela Sorbone em 1948 e em Psicologia, em 1949. No ano de 1952 cursou o Instituto de Psychologie e obteve diploma de Psicologia Patológica. Figura 1 - Paul-Michel Foucault Fonte: Wikipedia Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 13 Sua obra era profundamente influenciada por Heidegger e, também, por Nietzsche e Bachelard.Seu pensamento é localizado no debate sobre a modernidade, com destaque para a razão iluminista. Foucault aprofundou-se nos estudos de Kant, considerando que sua perspectiva consistia como uma crítica a esse autor principalmente à noção do sujeito como mediador e referência de todas as coisas. Para Foucault, o homem é produto das práticas discursivas, sendo resultado de uma produção de sentido, da prática discursiva e das relações de poder. Sendo assim, em suas discussões o homem é sujeito e objeto do conhecimento em três procedimentos, em domínios diferentes: a arqueologia, a genealogia e a ética. Desses procedimentos, por meio do método arqueológico, Foucault aborda os saberes que falam sobre o homem, as práticas discursivas, não tendo como objetivo discutir as verdades em relação a este homem. Portanto, busca estabelecer inter-relações conceituais dos diferentes saberes e não, apenas, de uma ciência. Em sua obra “As palavras e as Coisas”, define episteme que consiste na possibilidade de se explicar as condições para a construção dos conhecimentos, esses que se localizam em uma determinada época e se estabelecem em uma forma determinada. Figura 2 - Síntese da Epistemologia Arqueológica de Foucault Fonte: Elaborada pela autora (2019). Conforme a figura, podemos concluir que a Arqueologia do conhecimento, busca-se saber como se “sabe”, já a genealogia indica como as relações de poder interferem nesse “fazer saber” e a Ética, como o sujeito lida com o “saber” em sua esfera pessoal diante das práticas sociais. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 14 Figura 3 - Saber, poder e indivíduo Fonte: Elaborada pela autora (2019). Para Foucault, o método é constituído diante do objeto e não ao contrário, ainda afirma não ser possível compreender a epistemologia das Ciências Humanas por critérios de positividade e cientificidade. Para ele é necessário compreender a relação que a epistemologia estrutura com o conhecimento e a cultura do saber pré-científico, opinião ou episteme. Portanto, Foucault pretende definir uma teoria do conhecimento da formação das Ciências Humanas com base na razão e no método científico. Conceitos-chave da Epistemologia Arqueológica de Foucault O primeiro conceito que se destaca na obra de Foucault é o que ele denomina “Triedro dos saberes”, que consiste em sua perspectiva o sistema das ciências humanas. Esse triedro, por definição, consiste em um espaço epistemológico de três dimensões, definido a partir de três eixos principais da racionalidade que as organiza. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 15 Figura 4 - Triedro dos Saberes Fonte: Elaborada pela autora com base em Foucault (1995). Conforme vimos, a composição do Triedro dos Saberes segue: • Eixo da Matemática e Física - que abarca as Ciências exatas e os protótipos da cientificidade. • Eixo da Economia, Biologia e Linguística - que abarca as Ciências da Vida, da Produção e da Linguagem. • Eixo da Filosofia - que abarca as reflexões filosóficas, desenvolvendo- se como pensamento e análise da finitude do conhecimento. Esses eixos do saber, na realidade, estão inter-relacionados e, nessa dinâmica, resultam os campos epistemológicos que permitem a Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 16 epistemologia das Ciências Humanas. Dessa relação, dois a dois, conforme é possível identificar na figura, os eixos estabelecem três planos. Entretanto, as ciências humanas não se enquadram em nenhum desses planos, mas, para Foucault, isso não quer dizer que elas não estejam no Triedro dos Saberes, para ele, as ciências humanas participam do intervalo dessas dimensões, em seu “volume”, definindo três regiões de saberes: Figura 5 - Regiões de saberes Fonte: Elaborada pela autora (2019). Portanto, podemos afirmar que para Foucault as ciências humanas são disciplinas que participam de variadas formas e com diversificadas funções nos três planos, com determinadas características comuns e modelos de organização do saber, que são, portanto, as três grandes regiões compreendidas na relação histórica na qual se estabelecem. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 17 SAIBA MAIS: Para saber mais assista ao vídeo “Conhecimento, verdade e discurso em Foucault”, produzido pelo canal Colunas Tortas, que discute: O que é o conhecimento e como ele se relaciona com o discurso e com o conceito de verdade, em Foucault? Disponível aqui. Na perspectiva de como se dá a construção do conhecimento, há outros conceitos importantes na perspectiva foucaultiana. São eles: Episteme - consiste no paradigma que estrutura os múltiplos saberes, em determinado período, na relação como diferentes tipos de discursos, podem ser: filosóficos, técnicos, institucionais, sociais, econômicos, políticos, entre outros. Dispositivo - ampliação do conceito de episte inicial adota por Foucault, configurando-se como: episteme e o todo social não discursivo (discursos, práticas, instituições e táticas). IMPORTANTE: Discursivo se refere aos documentos literários e não-literários que registram, descrevem, analisam e documentam determinada época. Não-discursivo, está relacionado às práticas: modos de ser, de comportar-se, de avaliar, de agir. Saber/Conhecimento - em sua perspectiva, o saber inclui os conhecimentos formais e sua trajetória de construção racional, as instituições e práticas das atividades do conhecimento não-formal, que são as percepções e saberes não científicos. Decifração - é a premissa de que, para a compreensão da historicidade, é necessário revelar e descobrir e não estabelecer verdades. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação https://www.youtube.com/watch?v=zSwCYDM8Dh8 18 Enunciado - consiste no conjunto de signos, é o que permite o saber. Descrições enunciativas - é o enunciado que estabelece a pesquisa, apontando seus caminhos e percursos. Regras - consiste na prática social que significa os signos. Estão pautadas na condição de existência e de permanência de elementos discursivos. É inegável a contribuição de Foucault para as ciências humanas, porém, vários outros teóricos discutem as limitações e insatisfações de suas análises, principalmente no que tange à limitação de sua abordagem ao propor uma representação reduzida do campo epistemológico há três positividades: vida, trabalho e linguagem. Afinal, será que a física e a matemática não exprimiriam também a experiência ordenativa? Outra questão pertinente é que para ele as ciências humanas não falam “do homem”, mas propõe a análise das normas, regras e conjuntos de significados que esse estabelece ou possui, sendo considerado esse “homem estudado pela ciência” um fenômeno humano preso à uma linguagem. Para Foucault “o homem é uma invenção cuja arqueologia de nosso pensamento” tão antigo e inconstante quanto os problemas do saber humano, sendo alienados pela cultura e por seus resultados. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que para Foucault o homem é tão antigo e inconstante quanto os problemas do saber humano, sendo alienados pela cultura e por seus resultados. Que suas obras são profundamente influenciadas por Heidegger e, também, por Nietzsche e Bachelard. Que seu pensamento é localizado no debate sobre a modernidade, com destaque para a razão iluminista. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 19 Que em suas discussões, Foucault aprofundou-se nos estudos que tecem críticas à Kant, principalmente à noção do sujeito como mediador e referência de todas as coisas. Afinal, ele considera o homem como produto das práticas discursivas, sendo resultado de uma produção de sentido, da prática discursiva e das relações de poder, é, portanto, sujeito e objeto do conhecimento em trêsprocedimentos, em domínios diferentes: a arqueologia, a genealogia e a ética. Utiliza-se do método arqueológico para abordar os saberes que falam sobre o homem, as práticas discursivas e não tem como objetivo discutir as verdades em relação a esse. Portanto, busca estabelecer inter-relações conceituais dos diferentes saberes e não, apenas, de uma ciência. Foi possível concluir que a Arqueologia do conhecimento proposta por Foucault busca saber como se “sabe”, já a genealogia, as relações de poder interferem nesse “fazer saber” e, por fim, a Ética, representa como o sujeito lida com o “saber” em sua esfera pessoal diante das práticas sociais. Ainda, afirma que o método é constituído diante do objeto e não ao contrário, mesmo não sendo possível compreender a epistemologia das Ciências Humanas por critérios de positividade e cientificidade. Para ele é necessário compreender a relação que a epistemologia estrutura com o conhecimento e a cultura do saber pré- científico, opinião ou episteme. Portanto, Foucault pretende definir uma teoria do conhecimento da formação das Ciências Humanas com base na razão e no método científico, essas que são disciplinas que participam de variadas formas e com diversificadas funções nos três planos, congregando em um grupo de ciências humanas com determinadas características comuns e modelos de organização do saber, que são, portanto, as três grandes regiões compreendidas na relação histórica na qual se estabelecem. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 20 Epistemologia Racionalista Crítica de Popper OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender os principais conceitos da Epistemologia Racionalista Crítica de Popper. Esses conhecimentos são essenciais para a ampliação de seu campo teórico, permitindo a você uma visão ampla e geral das epistemologias/teorias do conhecimento que habitam o campo da educação e, consequentemente, da neuroeducação. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Popper: Uma Breve Biografia Karl Raimund Popper nasceu em Viena, em 28 de Julho de 1902 e faleceu em Londres, em 17 de Setembro de 1994. Filósofo e professor, concluiu seu doutorado em Psicologia em 1928, atuando em escolas secundárias entre 1930 e 1936. Em decorrência da ameaça nazista, mudou- se para Nova Zelândia, passando a lecionar Filosofia na Universidade de Canterbury, em Christchurch. Em 1946, quando já residente da Inglaterra, ministrou aulas na London School of Economics. Figura 6 - Karl Popper Fonte: Wikipedia Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação https://pt.wikipedia.org/wiki/Viena https://pt.wikipedia.org/wiki/28_de_Julho https://pt.wikipedia.org/wiki/1902 https://pt.wikipedia.org/wiki/Londres https://pt.wikipedia.org/wiki/17_de_Setembro https://pt.wikipedia.org/wiki/1994 21 Sua obra resultou no racionalismo crítico, concebido como um sistema filosófico para o conhecimento científico. Essa teoria tem como conceito central a necessidade da falseabilidade dos sistemas teóricos, pois afirma que todo o conhecimento é provisório, refutável e corrigível. Para ele, torna-se mais assertivo verificar se a teoria é falsa do que provar que ela é legítima e correta. Sendo assim, cada teoria deveria passar por testes rígidos para comprovar sua validade ou não. Porém, como todo processo filosófico, cabe lembrar que, mesmo que durante essa verificação não seja possível refutar a teoria, isso não significaria que ela é uma verdade absoluta. IMPORTANTE: A epistemologia racional crítica tem como mote a seguinte questão: Como os problemas, sejam eles metódicos, racionais, sociais, políticos ou científicos, podem ser investigados e resolvidos? Pressupõe que a crença do senso comum consiste na capacidade humana na busca pelo conhecimento e é, portanto, limitada, sendo que qualquer ação na resolução desses problemas pode estar equivocada. Essa é a premissa da “consciência da falibilidade”, que permite uma análise crítica de crenças e suposições, mas também, permite uma abordagem metódica e racional para a resolução dos problemas postos. Assim, o racionalismo crítico não busca provar o “acerto” de uma teoria, mas sim, permite saber se ela está errada e, diante do erro, como proceder. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação https://pt.wikipedia.org/wiki/Falseabilidade 22 Conceitos-chave da Epistemologia Racionalista Crítica de Popper Como vimos, o critério de falseabilidade é eixo estruturante da Epistemologia Racionalista crítica de Popper, premissa que propaga a ideia de que, como toda teoria precede a experiência, toda explicação científica é hipotética. EXEMPLO: Observe a figura a seguir: Figura 7 – Bebê chorando Fonte: Pixabay A partir dela, seriam possíveis as seguintes falseações: 1. O bebê está chorando, porém, ele não deseja nada. 2. O bebê está chorando porque está com fome. 3. O bebê está chorando porque quer atenção. 4. O bebê está chorando não porque está com fome, mas sim, porque precisa ter sua fralda trocada. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 23 Foram possíveis, a princípio, quatro hipóteses viáveis. Popper, portanto, buscaria validá-las, não pelo que está certo, mas, pelo que não está, veja: 1. O bebê não tem porquê chorar se não deseja nada. Afinal, utiliza o choro para demonstrar e comunicar suas necessidades. 2. O bebê, quando da hipótese de fome, foi alimentado, mas, mesmo assim seu choro persiste. 3. O bebê recebeu colo e aconchego, entretanto, percebeu-se que sua fralda precisa ser trocada. Seria, então, o choro por outro motivo do que apenas a atenção que recebeu? 4. O bebê recebeu alimento e sua fralda precisa ser trocada, portanto, não é possível afirmar qual dos eventos, de fato, originou seu choro. Dessa forma, duas ações seriam desenvolvidas para Popper: indução e dedução. Figura 8 - Indução e dedução Fonte: Elaborada pela autora (2019). Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 24 Nessa perspectiva, a indução partiria do particular para o universal e, a dedução, do sentido contrário – do universal para o particular. Por meio da dedução seria possível prever e explicar os fatos e, da indução, refutar essa previsão e explicação. Veja: 1. É oferecido alimento ao bebê desde seu nascimento a cada 2 horas – Esse é o dado. 2. O bebê criou uma rotina de alimentação: sou alimentado a cada 2 horas – Essa é a teoria. 3. O bebê compreende que a cada 2 horas será alimentado – Essa é a previsão. 4. No entanto, na madrugada, o relógio não despertou e o bebê não chorou, portanto, a mãe não acordou e o bebê não foi alimentado – Essa seria a “falha” da teoria. A questão que emerge primeiramente desse sistema filosófico é: E o que acontece se a lei e a teoria falharem? Popper afirma que não aconteceria nada, pois, a natureza não tem o dever seguir nossas leis científicas. Portanto, não é da observação das experiências que emergem os conhecimentos, pois, essa observação é diferente de sujeito para sujeito. Assim, caberia ao pesquisador investigar as leis da natureza e não as submeter ao sistema de análise que estruturou. Popper tece críticas ao princípio indutivo, principalmente por ele ter como objetivo comprovar teorias mediante a experiência, sendo, portanto, conjectural poder resultar de diferentes condições e de várias situações. Para ele, o princípio dedutivo hipotético, que permitiria pensar sobre o que “direciona” ou “interfere” na observação, seria mais coerente, afirmando que a hipótese científica deve anteceder à submissão de sua validade. Retornando ao exemplo: para saber o porquê de o bebê estar chorando, precisaria, antes, levantar hipóteses do que poderia ter ocasionado o choro: alimentação, abandono, troca de fraldas etc. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 25 Dessa perspectiva, Popper organiza três momentos para o processo de pesquisa: Figura 9 - Trêsmomentos da pesquisa em Popper Fonte: Elaborada pela autora (2019). Nessa relação, ele afirma que o conhecimento científico não é “descoberto” a partir de dados, é sim, criado/construído, sendo falho o método indutivo para se obter conhecimentos de dados empíricos, afinal, para ele, todo novo conhecimento é a modificação de algum Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 26 anterior. Assim, a essência da natureza científica estaria em duvidar dos pressupostos teóricos apresentados. IMPORTANTE: Quanto mais uma teoria resiste aos erros do processo de falseabilidade, mais consistente ela é. Sendo critérios para uma “boa teoria”: • Clareza e precisão, limando espaços para interpretações variadas. • Permitir o maior número de falseações possíveis. • Progredir em busca de um conhecimento mais aprofundado. SAIBA MAIS: Para saber mais assista ao vídeo “Indutivismo e falsificacionismo”, no qual há uma discussão geral sobre as possibilidades de comprovação do conhecimento científico. Com as discussões e análises propostas por Popper, podemos então, considerar que tudo que é produzido como ciência precisa ser “falseado”, colocado em prova. No campo da neuroeducação, essa premissa é fundamental, principalmente diante da apropriação de saberes de outras áreas pela Educação, afinal, o problema deve ser ponto de partida para a aprendizagem e só é possível avançar por meio da falseabilidade e da tentativa de “eliminar” os erros das propostas que se apresentam. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 27 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que, para Popper, a essência da natureza científica estaria em duvidar dos pressupostos teóricos apresentados. Dessa premissa resultou no racionalismo crítico, concebido como um sistema filosófico para o conhecimento científico. Essa teoria tem como conceito central a necessidade da falseabilidade dos sistemas teóricos, que afirma que todo o conhecimento é provisório, refutável e corrigível. Sendo assim, para ele, torna-se mais assertivo verificar se a teoria é falsa do que provar que ela é legítima e correta, devendo cada teoria passar por testes rígidos para comprovar sua validade ou não. Porém, como todo processo filosófico, cabe lembrar que, mesmo que durante essa verificação não seja possível refutar a teoria, isso não significaria que ela é uma verdade absoluta. Assim, foi possível identificar a questão central da epistemologia racional crítica: Como os problemas, sejam eles metódicos, racionais, sociais, políticos ou científicos, podem ser investigados e resolvidos? Dessa pergunta, foi possível pressupor que a crença do senso comum consiste na capacidade humana na busca pelo conhecimento e é, portanto, limitada, sendo que qualquer ação na resolução desses problemas pode estar equivocada. Essa é a premissa da “consciência da falibilidade”, que permite uma análise crítica de crenças e suposições, mas também, permite uma abordagem metódica e racional para a resolução dos problemas postos. Assim, o racionalismo crítico não busca provar o “acerto” de uma teoria, mas sim, permite saber se ela está errada e, diante do erro, como proceder. Por fim, foi possível identificar que Popper tece críticas ao princípio indutivo, principalmente por ele ter como objetivo comprovar teorias mediante a experiência, sendo, portanto, conjectural poder resultar de diferentes condições e de várias situações. Para ele, o princípio dedutivo hipotético, que permitiria pensar sobre o que “direciona” ou “interfere” na observação, seria mais coerente, afirmando que a hipótese científica deve anteceder a submissão de sua validade. Ainda que, quanto mais resiste aos erros do processo de falseabilidade, mais consistente ela será. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação https://pt.wikipedia.org/wiki/Falseabilidade 28 Epistemologia Crítica de Habermas OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender os principais conceitos da Epistemologia Crítica de Habermas. Esses conhecimentos são essenciais para a ampliação de seu campo teórico, permitindo a você uma visão ampla e geral das epistemologias/teorias do conhecimento que habitam o campo da educação e, consequentemente, da neuroeducação. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Habermas: Uma Breve Biografia Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo, nasceu em Düsseldorf, em 18 de junho de 1929. Seu pensamento pode ser localizado na tradição da teoria crítica e do pragmatismo, inclusive, é um dos membros da Escola de Frankfurt. SAIBA MAIS: Para saber o que é a Escola de Frankfurt, leia o artigo “Escola de Frankfurt e a psicologia”, de autoria de Antonio Gomes Penna, disponível aqui. Sua vida foi dedicada ao estudo da democracia, principalmente, ao se centrar nas questões da ação comunicativa, da política deliberativa e da esfera pública. Faz crítica ao positivismo lógico e desenvolve sua teoria na relação ao interesse emancipatório, transitando no campo da categoria da interação. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abp/article/viewFile/19243/17979 29 Figura 10 - Habermas Fonte: Wikipedia Seu trabalho trata dos fundamentos da teoria social e da epistemologia, tecendo análises da democracia nas sociedades capitalistas, do Estado de direito no contexto de evolução social. Para ele, a racionalização do mundo ocorre na relação com a ação comunicativa, na qual o “entendimento sobre as coisas” ganha frente às “normas sobre as coisas”. Em seu sistema teórico, indica as possibilidades para a razão, emancipação e comunicação racional-crítica. Acerca da ciência, tece críticas sobre as ciências que se propunham a ser exclusivamente instrumentais, avançando na elucidação dos aspectos filosóficos e epistemológicos que contribuem para a construção do conhecimento. Para ele, faltava ao positivismo a autorreflexão, que impedia o desenvolvimento do conhecimento emancipatório, pois, diante da ciência normativa e “exata” o sujeito perderia sua referência cognoscente, restringindo a possibilidade do conhecimento crítico mediante a reflexão de si. Nesse sentido, aponta a Psicanálise como a ciência que rompe com esse objetivo, sendo [...] relevante como único exemplo disponível de uma ciência que reivindica metodicamente o exercício autoreflexivo. Com o surgimento da psicanálise abre- se, através do caminho peculiar à lógica da pesquisa, a perspectiva de um acesso metodológico a esta dimensão disfarçada pelo positivismo. (HABERMAS, 1998, p. 233-234) Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 30 Para Habermas, a Psicanálise ao trazer para seu interior a racionalidade diverge epistemologicamente e metodologicamente das ciências objetivas, mudando o que está “em jogo”: não mais as verdades prováveis, mas sim, a oportunidade de desvelar um conhecimento que é subjetivo, que é permeado por emoções, aspirações e frustrações de um sujeito real e concreto. Nesse sentido, ela se desenvolve no campo subjetivo em duas faces: a consciente e a inconsciente. IMPORTANTE: Habermas evidencia a importância da Psicanálise enquanto epistemologia, principalmente, pela possibilidade de autorreflexão como caminho metodológico, vigorando o caráter emancipatório do saber, o qual, permitiria a liberdade do homem frente ao problema. Trata-se, portanto, da possibilidade de um diálogo analítico que não busca a matematização das verdades, mas sim, o rompimento da visão fragmentada de “sujeito-objeto do conhecimento”. Conceitos-chave da Epistemologia Crítica Como principal contribuição de Habermas, teremos nosso foco de análise na “Teoria do Agir Comunicativo”, que está presente nas teorias sociais, políticas e democráticas.Derivada de sua obra homônima, essa teoria discute o conceito de racionalidade comunicativa; o conceito de sociedade em dois níveis: “mundo da vida” e “sistema”; e, por fim, indica a eminência de uma teoria da modernidade que “deve possibilitar uma conceitualização do contexto social da vida que se revele adequada aos paradoxos da modernidade” (HABERMAS, 2012, p. 11). Como premissa básica, tem-se que os homens são capazes de ação e, para isso, utilizam-se da linguagem na qualidade de recurso para comunicarem-se entre si, em busca do entendimento. Assim, a partir do princípio da razão comunicativa por meio da linguagem, é que as interações sociais acontecem no “munda da vida”. A linguagem seria, Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 31 portanto, o “meio” de toda a relação significativa entre sujeito e objeto, assim, sem ela, não seria possível o acesso ao conhecimento, tampouco, ao mundo. Conforme apontam Berger e Luckmann, vivemos em uma teia articulada de relações humanas, na qual “[...] a linguagem marca as coordenadas de minha vida na sociedade e enche esta vida de objetos dotados de significação” (1973, 39). De forma breve, a teoria de Habermas afirma que é a partir da linguagem que o conhecimento emerge, não no campo individual, mas no consenso do que é coletivo. Com essa premissa, deverá haver o rompimento com o paradigma monológico, aquele que é fundado no discernimento pessoal, avançando para um paradigma de entendimento mútuo, que tem a linguagem e a intersubjetividade como meio. Assim, a ação comunicativa na perspectiva de Habermas pressupõe uma teoria social que se contrapõe à uma ação estratégica regida pela lógica de dominação. Mas, afinal, o que é o “mundo da vida” propagado por Habermas? É o mundo das relações que o sujeito estabelece com a cultura, a linguagem, a sociedade, seu mundo externo e interno. Consiste no ponto de referência para o estabelecimento de formas comunicativas e democráticas. Inclui a totalidade das ações que interpretamos a partir de componentes estruturais como a cultura, a sociedade, a linguagem. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 32 Nesse sentido, é fundamental compreender o conceito de “agir comunicativo” de “agir estratégico” que, apesar ligados entre si, são diferentes e distintos. Figura 11 - Agir comunicativo versus Agir estratégico Fonte: Elaborada pela autora (2019). Portanto, o agir comunicativo entende o sujeito enquanto agente competente por meio da linguagem para agir em busca do consenso. Para tanto, faz-se necessário uma comunicação inteligível, pois, “[...] entender um ‘ato-de-fala’, significa que, pelo menos, dois sujeitos, linguística e interativamente competentes, compreendem identicamente uma mesma impressão” (HABERMAS, 1998), ou seja, é deste entendimento que um consenso válido para os que participam do discurso torna-se possível, tendo como base fundante a ação e a razão comunicativa. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 33 Observe o quadro 1 para uma sistematização para a validez do ato de fala: Quadro 1 - Pretensões de validez do ato de fala Requisito de validez do ato de fala Possibilidade de questionamento Exemplo Verdade (mundo objetivo) O que se diz é verdadeiro? Esse aluno não avançou nesse ano letivo, assim, será reprovado. Sinceridade (mundo subjetivo) O que se diz é coerente com o que se pensa/sente? Estou muito triste com o fato de você ser reprovado. Retidão (mundo normativo) O que se diz é legítimo ou moralmente válido? Você será reprovado, entretanto, receberá todo o apoio e atenção para que aprenda o que precisa ser aprendido. Inteligibilidade O que se diz é inteligível a todos? Todos entenderam o que foi dito? Fonte: Elaborada pela autora com base em Vizeu (2011). Diante dessas explicações sobre a teoria de Habermas, podemos identificar que ele não pretende apenas uma teoria a respeito da comunicação, mas, sim, discutir uma proposta de “agir na sociedade”, essa que prevê o princípio da universalidade na construção dos conhecimentos para a emancipação. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 34 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a proposta de Habermas trata dos fundamentos da teoria social e da epistemologia, tecendo análises da democracia nas sociedades capitalistas, do Estado de direito no contexto de evolução social. Para ele, a racionalização do mundo ocorre na relação com a ação comunicativa, na qual o “entendimento sobre as coisas” ganha frente às “normas sobre as coisas”. Em seu sistema teórico, indica as possibilidades para a razão, emancipação e comunicação racional-crítica. Acerca da ciência, tece críticas sobre as ciências que se propunham a ser exclusivamente instrumentais, avançando na elucidação dos aspectos filosóficos e epistemológicos que contribuem para a construção do conhecimento. Ainda, aponta que o que faltava ao positivismo era a autorreflexão, impedindo o desenvolvimento do conhecimento emancipatório, pois, diante da ciência normativa e “exata” o sujeito perderia sua referência cognoscente, restringindo a possibilidade do conhecimento crítico mediante a reflexão de si. Nesse sentido, aponta a Psicanálise como a ciência que rompe com esse objetivo, sendo “[...] relevante como único exemplo disponível de uma ciência que reivindica metodicamente o exercício autoreflexivo. Com o surgimento da psicanálise abre-se, através do caminho peculiar à lógica da pesquisa, a perspectiva de um acesso metodológico a esta dimensão disfarçada pelo positivismo” (HABERMAS, 1998, p.233-234). Para ele, a Psicanálise ao trazer para seu interior a racionalidade diverge epistemologicamente e metodologicamente das ciências objetivas, mudando o que está “em jogo”: não mais as verdades prováveis, mas sim, a oportunidade de desvelar um conhecimento que é subjetivo, que é permeado por emoções, aspirações e frustrações de um sujeito real e concreto. Nesse sentido, ela se desenvolve no campo subjetivo em duas faces, a consciente e a inconsciente. Portanto, indicava a possibilidade de um diálogo analítico que não busca a matematização das verdades, mas sim, o rompimento da visão fragmentada de “sujeito- objeto do conhecimento”. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 35 Psicologia Cognitiva OBJETIVO: Ao término deste capítulo você terá conhecido os principais elementos da Psicologia Cognitiva, teoria que fundamenta não apenas um, mas vários teóricos que se debruçam a pensar como o conhecimento é produzido. Esses conceitos-base são essenciais para a ampliação de seu campo teórico, permitindo a você uma visão ampla e geral das epistemologias/teorias do conhecimento que habitam o campo da educação e, consequentemente, da neuroeducação. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. História e Fundamentos da Psicologia Cognitiva A Psicologia Cognitiva, como todas as que vimos até essa etapa de estudos, consiste em uma área de conhecimento que se propõe em estudar como as pessoas percebem, aprendem, lembram e pensam sobre as situações da vida. Objetiva estudar, entre outras coisas, a relação entre os processos cognitivos e o comportamento humano. Ou seja, essa corrente de pensamento tem forte aproximação com a neuroeducação ao se debruçar em estudos sobre a mente e sua materialização em comportamentos. Essa área da psicologia que tem por finalidade estudar as funções mentais, tais como: pensamento, percepção, memória, entre outras, a fim de analisar como o sujeito percebe o mundo e como se desenvolvem suas funções cognitivas, tais como: falar, resolver problemas, memorizar, raciocinar, entre outras. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 36 SAIBAMAIS: Indicamos a leitura do artigo “As contribuições da psicologia cognitiva na educação”, de autoria de Maria de Fátima Godinho Morando Kalil Patricio e Eunice Maria Godinho Morando, disponível aqui. Tem como base um modelo positivista como método para a investigação científica, trabalhando com a perspectiva de que há estados mentais internos, como crenças e motivações, que contrariam a perspectiva comportamental que se destacava. Tal abordagem teve origem, principalmente, pelo fracasso do Behaviorismo em explicar os aspectos mais complexos do comportamento humano na relação estímulo-resposta, a qual considera ser um modelo linear limitante, insuficiente e inadequado, para explicar o comportamento humano, propondo sua substituição por um modelo circular da relação organismo- estímulo. O organismo tem papel ativo e, como consequência, é capaz de elaborações complexas, tais como: realizar escolhas, utilizar estratégias, selecionar informações que armazena, ou seja, é capaz de operar na elaboração e não apenas em operações ligadas e determinadas. IMPORTANTE: É fundamental reforçar que a Psicologia Cognitiva não é campo de apenas um teórico, mas, sim de vários, entre eles: Piaget, Wallon e Vygotsky que, se aproximam pela compreensão de que o sujeito é ativo no processo de construção do conhecimento. Assim, apesar de suas teorias apresentarem diferenças entre si, há convergência na busca pela compreensão de como a aprendizagem ocorre no que se refere às estruturas mentais do sujeito e sobre o que é preciso fazer para aprender. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação http://www.ufjf.br/revistaa3/files/2015/09/A308_WEB.53.pdf 37 Figura 12 - Piaget, Vygotsky e Wallon Fonte: Wikipedia Uma das abordagens mais recentes, o Cognitivismo, se apoia na ideia de que o comportamento humano pode ser entendido pelo modo de como as pessoas pensam. Tem como destaque a construção de um arcabouço teórico que visa especificar os processos mentais do organismo, com vistas a indicar as fases e as funções que são desenvolvidas nesse processo. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 38 SAIBA MAIS: Assista ao vídeo “Cognitivismo: Teoria dos Esquemas”, produzido pelo Didatics. Essa teoria afirma que nosso conhecimento sobre o mundo está organizado em nossa mente em uma espécie de rede de saberes, uma rede que é constituída por aglomerados (esquemas) de informação que se interconectam. Disponível aqui. Podemos afirmar, portanto, que a Psicologia Cognitivista é correspondente ao estudo da capacidade de adquirir, organizar, relembrar e usar conhecimentos e informações que guiam e orientam os comportamentos humanos. Ainda, apesar de sua crítica, não rejeita em sua integralidade o behaviorismo, mas, alteram a ordem de sua perspectiva ao estudar como a mente por meio de diversas e variadas inferências resulta em uma atividade observável. Conceitos-chave da Psicologia Cognitiva Como primeiro conceito a ser destacado na Psicologia Cognitiva, temos a proposta de “modelos mentais”, esses que podem ser entendidos como a configuração das imagens, das abstrações, dos pressupostos e histórias que estruturam nossa mente. Operando no campo individual, tais configurações são específicas para cada sujeito e interferem em como ele percebe os outros e o mundo a sua volta, inclusive, operam no campo dos sentimentos. Tais configurações são denominadas cognições. DEFINIÇÃO: Palma (2009) define “cognições” como um conjunto de conhecimentos ou crenças a partir do qual as pessoas estabelecem estratégias para sua relação com o meio. São, portanto, pensamentos de uma pessoa e, também, suas percepções, avaliações, atitudes, lembranças, objetivos, padrões, valores, expectativas e atribuições. Nesse sentido, esses modelos mentais não apenas determinam como entendemos o mundo, mas, também, nossas ações. Ainda, estabelece a relação entre cérebro e cultura, demonstrando que a mente é reflexo da cultura e da história, mesclando em sua proposta o biológico, evolutivo, psicológico individual e cultural para a compreensão do homem. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação https://www.youtube.com/watch?v=N2eaGAg_aVI&t=177s 39 Dentre várias discussões, podemos destacar os seguintes conceitos para essa abordagem: Percepção - relaciona-se com o “recebimento” e o processamento da informação. Esse processamento pode ocorrer por diferentes sentidos: visual, olfativa, tátil, gustativa, auditiva e cinestésica. A percepção e o processamento estão intimamente ligados à cognição, afinal, são a base para a compreensão do mundo. Memória - é definida como a capacidade de registrar, armazenar e recordar as informações recebidas e processadas. Consiste em uma função mental e pode ser dividida em três processos: 1. Codificação - captação e registro da informação. 2. Armazenamento - retenção da informação. 3. Reprodução - recordar e utilizar a memória armazenada. Linguagem - é relacionada com a capacidade emitir, receber e interpretar as informações. É uma habilidade exclusiva da espécie humana e, por meio dela, é possível estabelecer as interações entre sujeito, outros sujeitos e o meio. Seu desenvolvimento está relacionado diretamente com a cognição: na medida em que as funções mentais se desenvolvem, a linguagem se amplia em recursos e complexidade. Pensamento - é a capacidade de compreensão, formação e organização das ideias. É a ação perante aquilo que é “recebido”. Consiste na habilidade de manipular ideias e conceitos, estabelecendo relações, conexões e oposições. E que permite resolver problemas e tomar decisões. Cultura - que consiste no conjunto de ferramentas técnicas para entender seu mundo e agir sobre ele. Narrativa - são estruturas do tempo que decorrência dos eventos e ações humanas de maior relevância. Impera no sentido de que não há apenas uma única interpretação. É a partir dela que é possível construir a realidade psicológica e cultural, que permeia a história real dos participantes. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 40 De forma breve, propusemos conhecer a Psicologia Cognitiva e como ela objetiva seu estudo em relação à construção do saber. Dentre o que foi abordado na Unidade 02 e, agora, na Unidade 03, esperamos que você tenha avançado na compreensão do que é epistemologia e como as diferentes perspectivas permeiam e agem, direta ou indiretamente, na construção dos saberes relacionados à neuroeducação. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a Psicologia Cognitiva, como todas as que vimos até essa etapa de estudos, consiste em uma área de conhecimento que se propõe em estudar como as pessoas percebem, aprendem, lembram e pensam sobre as situações da vida. Que essa teoria objetiva investigar, dentre outras coisas, a relação entre os processos cognitivos e o comportamento humano. Ou seja, essa corrente de pensamento tem forte aproximação com a neuroeducação ao se debruçar em estudos sobre a mente e sua materialização em comportamentos. Ela pode ser entendida como uma área da psicologia que tem por finalidade estudar as funções mentais: pensamento, percepção, memória, entre outras, a fim de analisar como o sujeito percebe o mundo e como se desenvolvem suas funções cognitivas, por exemplo: falar, resolver problemas, memorizar, raciocinar, entre outras. Ainda, vimos que tem por base o modelo positivista como método para a investigação científica, trabalhando com a perspectiva de que há estados mentais internos, como crenças e motivações, que contrariam a perspectiva comportamental que se destacava. Nesse sentido, vimos que o organismo tem papel ativo e, como consequência, é capaz de elaborações complexas, por exemplo: realizar escolhas, utilizar estratégias,selecionar informações Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 41 que armazena, ou seja, é capaz de operar na elaboração e não apenas em operações ligadas e determinadas. Destacamos que é fundamental reforçar que a Psicologia Cognitiva não é campo de apenas um teórico, mas, sim de vários, entre eles: Piaget, Wallon e Vygotsky que, se aproximam pela compreensão de que o sujeito é ativo no processo de construção do conhecimento. Assim, apesar de suas teorias apresentarem diferenças entre si, há convergência na busca pela compreensão de como a aprendizagem ocorre no que se refere às estruturas mentais do sujeito e sobre o que é preciso fazer para aprender. Como principal conceito, vimos as “cognições” que, consiste em um conjunto de conhecimentos ou crenças a partir do qual as pessoas estabelecem estratégias para sua relação com o meio. São, portanto, pensamentos de uma pessoa e, também, suas percepções, avaliações, atitudes, lembranças, objetivos, padrões, valores, expectativas e atribuições. Nesse sentido, esses modelos mentais não apenas determinam como entendemos o mundo, mas, também, nossas ações. Ainda, estabelece a relação entre cérebro e cultura, demonstrando que a mente é reflexo da cultura e da história, mesclando em sua proposta o biológico, evolutivo, psicológico individual e cultural para a compreensão do homem. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação 42 REFERÊNCIAS HABERMAS, J. Comentários à Ética do Discurso. Lisboa: Instituto Piaget, 1998. HABERMAS, J. Más allá del Estado Nacional. México: Fondo de Cultura Económica, 2012. MACEDO, V. M. Definições de prática pedagógica e a didática sistêmica: considerações em espiral. Revista Didática Sistêmica, Volume 1, 1993. PALMA, M.; PEREIRA, B.; VALENTINI, N. O desenvolvimento motor de pré-escolares com diferentes níveis de habilidade. In: RODRIGUES, L. et al. (eds.). Estudos em desenvolvimento motor da criança II. Viana do Castelo: Escola Superior de Educação, 2009b. p. 207-215. SENGE, P. M. A Quinta Disciplina: Arte e Prática da Organização de Aprendizagem, 2 ed. São Paulo: Editora Best Seller Círculo do Livro, 2002. Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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