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A disfagia é a dificuldade em deglutir o alimento ingerido no trajeto da orofaringe até o estômago, dificultando a passagem do líquido até o estômago. Esse distúrbio pode estar localizado na orofaringe e/ou no esôfago e pode ser um distúrbio primário da anatomia ou motilidade (distúrbio funcional) da orofaringe e/ou esofágica ou ser secundário a uma doença sistêmica (neuromuscular ou alteração da motilidade ou peristaltismo). - epidemiologia • No Brasil, a esofagopatia chagásica é uma importante causa de disfagia: há destruição ou ausência do plexo nervoso da camada muscular lisa do esôfago, gerando perda da motilidade (capacidade de empurrar o alimento para baixo). Logo após o esôfago, temos o EEI, que se relaxa e o alimento sai para o estômago. Nesse quadro, o relaxamento pode estar comprometido pelo quadro chamado de acalasia; • O câncer de esôfago é o 8º tipo de câncer mais comum no mundo: por obstrução ou lesão que gera cicatrização e estenose; • 20% das disfagia são idiopáticas. A anamnese cuidadosa permite o diagnóstico de cerca de 80% das causas de disfagia. - relembrando a deglutição A deglutição é dividida em três estágios: • Fase oral - voluntária, movimento do bolo alimentar da cavidade oral até a orofaringe; • Fase faríngea - involuntária, movimento do bolus da orofaringe até o esôfago; • Fase esofágica - involuntária, movimento do bolus pelo esôfago e até o estômago. FASE DA DEGLUTIÇÃO MECANISMO FISIOLÓGICO Fase oral Preparatória: entrada do alimento na cavidade oral. Mastigação e formação do bolo alimentar Propulsiva: língua empurra o bolo alimentar para a orofaringe, abertura do esfíncter palatoglosso Fase orofaríngea Elevação do palato mole para ocluir a nasofaringe Movimentação da laringe e do osso hioide para cima e para a frente Movimentação da epiglote para trás e para baixo para oclusão Relaxamento e abertura do esfíncter superior do esôfago com relaxamento dos músculos cricofaríngeos e contração dos músculos supra-hióideos Propulsão do bolo alimentar pela língua ao esôfago Contração da faringe, desobstruindo-a e fechando o esfíncter superior Reabertura da laringe Fase esofágica Contração sequencial do esôfago Relaxamento do esfíncter inferior do esôfago Chegada do bolo alimentar ao estômago O paciente tem dificuldade para iniciar a deglutição, podendo apontar para a região cervical como local dos sintomas. Síndrome disfágica CONCEITOS • Disfagia – dificuldade em deglutir • Odinofagia – dor durante a deglutição • Globus – desordem funcional do esôfago, sem alteração estrutural. Provoca sensação de caroço, aperto ou que o alimento impactou • Regurgitação – retorno do alimento não digerido ou parcialmente digerido à orofaringe e boca • Pseudodisfagia – percepção da passagem do alimento, sem dor Propedêutica clínica 2 • A disfagia alta é pela fase da orofaríngea e a baixa é uma esofágica. - classificação • Disfagia orofaríngea; • Disfagia esofágica: mecânica ou neuromuscular. Disfagia orofaríngea O paciente apresenta dificuldade para iniciar a deglutição. O local que ele apresenta como local dos sintomas é na região cervical. A deglutição pode ser acompanhada de refluxo para nasofaringe (refluxo nasal), aspiração e sensação de resíduo de alimento na faringe. Podem ser apresentados sialorreia (perda não intencional de saliva pela boca – “baba”), regurgitação nasal, tosse, engasgos durante deglutição, disfonia e disartria (dificuldade para articular as palavras) - causas mecânicas • Infecções: abscesso retrofaríngeo, estomatite, faringite, amigdalite – são as mais comuns; • Aumento da tireoide (bócio); • Linfadenopatia; • Divertículo de Zenker: saculação da mucosa e submucosa da hipofaringe; • Neoplasias de cabeça e pescoço/intervenção cirúrgica; • Radioterapia: pode causar esofagite, alterações orofaringe visto que no processo de cicatrização fica a estenose; • Corpo estranho. - causa neuromusculares • Doenças do SNC: AVC, Parkinson; • Distúrbios contráteis: distrofia muscular, drogas anticolinérgicas, anti-histamínicos por alterar o plexo nervoso dessas estruturas. Disfagia Esofágica Neuromuscular As causas de disfagia esofágica dividem-se em dois grandes grupos: • Neuromusculares: originadas de anormalidades do funcionamento da musculatura do esôfago; • Mecânicas: com comprometimento da luz do órgão por lesões da sua própria parede ou por compressão extrínseca. Esse quadro afeta a musculatura lisa do esôfago, sua inervação, a peristalse e/ou o relaxamento do esfíncter esofágico inferior. • A alteração do peristaltismo pode ser: o Idiopática; o Secundário a neoplasia; o Secundário ao Chagas; • Pode ser secundário a colagenases: o E pela presença espasmos esofágicos. - quadro clínico Como evoluir o paciente com disfagia esofágica neuromuscular? É um paciente com evolução progressiva. Se inicia com dificuldade para sólidos e posterior evolução para líquidos e sólidos. Piora com alimentos gelados e, com alimentos mornos, há uma melhora. É um fator de melhora também repetidas deglutições, manobra de Valsalva e alterações de posição. A disfagia esofágica neuromuscular é um dos sintomas frequentes de pessoas que sofrem com a miastenia gravis, no qual anticorpos atacam os receptores da acetilcolina, gerando destruição da membrana pós- sináptica. • São sintomas mais comuns da miastenia gravis: ptose palpebral, diplopia (visão dupla) e fraqueza generalizada associada à disfagia. Disfagia Esofágica Mecânica A disfagia mecânica surge quando a elasticidade ou o diâmetro do esôfago é reduzido a menos de 50% da sua luz por causa de um corpo estranho, por exemplo. Também pode ser causado por obstrução do esôfago por invasão direta, compressão ou linfadenomegalias. Exemplos: tumores (linfoma, câncer de pulmão), infecção (tuberculose), aneurisma da aorta e átrio dilatado. Doenças da mucosa também podem ser responsáveis pela disfagia esofágica mecânica: refluxo gastroesofágico (por estenose), lesões causticas (medicação ou ingestão de soda caustica) e estenose actínica causada por radioterapia (principalmente por radioterapia de cabeça e pescoço por causar alteração inflamatória secundária e por processo cicatricial que evolui para estenose). Geralmente, o paciente apresenta disfagia para sólidos e não para líquidos e muitas vezes só consegue deglutir fazendo a manobra de Valsalva – diferente da neuromuscular em que os sintomas vão progredindo e a disfagia é para sólidos e líquidos. Propedêutica clínica 3 Quando a disfagia é de progressão rápida, com evolução em apenas alguns meses, devemos pensar em carcinoma de esôfago – principalmente se o paciente for mais idoso ou maior que 50 anos. Anamnese A disfagia deve ser caracterizada pelo tipo de alimento que desencadeia o sintoma, pela progressão dos sintomas no tempo e sintomas associados. • Tipo de alimento: devemos perguntar para que tipo de alimento o paciente está apresentando dificuldade de deglutição (sólido, líquido ou ambos). o Disfagia que inicia com alimentos sólidos e líquidos ou para ambos os alimentos é provavelmente relacionada a distúrbios neuromusculares. Disfagia somente para sólidos sugere obstrução mecânica. • Progressão dos sintomas: como foi a evolução? Foi rápida? Foi gradual? o Intermitente: é sugestivo de quadro secundário à espasmos esofagianos, anéis esofágicos. Fica um período bem e depois volta a ter sintomas. É intermitente e não contínuo; o Gradualmente progressiva: disfagia que ocorre de forma progressiva inicialmente para sólidos e depois para líquidos geralmente é causada por estenose ou lesão obstrutiva; o Progressão rápida: é sugestivo de carcinoma. Mas também pode ser aguda por presença de corpo estranho. Pacientes com alterações neuromusculares podem apresentar disfagia progressiva (exemplo: acalasia)ou intermitente (exemplo: espasmo esofágico). • Sintomas associados o Regurgitação: retorno do conteúdo que chega até a orofaringe e boca sem presença de esforço ou contração muscular; o Pirose: queixa comum principalmente em pacientes com reflexo, no qual há retorno do conteúdo gástrico, queixando-se de queimação retroesternal; o Perda de peso: perda de peso rápida e involuntária; o Hematêmese: sangue visível no vômito; o Anemia: a esofagite é uma inflamação no qual pode ocorrer perda de sangue crônica, o que pode resultar em anemia; o Sintomas respiratórios: sinais de broncoaspiração (tosse durante a alimentação ou ingestão de bebida, confusão, fadiga). Causa principais - estenose esofágica A disfagia para sólidos com progressão gradual pode estar relacionada a doença do refluxo gastroesofágico, radioterapia e esofagite eosinofílica (reação autoimune aberrante por alergia a determinados alimentos. A reação alérgica causa uma inflamação que irrita o esôfago. Se não for tratada, a inflamação pode acabar causando o estreitamento/estenose crônico do esôfago). Para diagnóstico e avaliação da estenose distal do esôfago é recomendado o raio X contrastado com Bário. - carcinoma Disfagia para sólidos que evolui para líquidos com progressão rápida. Pode estar associada a perda de peso, anemia, anorexia. São fatores de risco: obesidade, doença do refluxo gastrointestinal, esôfago de Barrett, etilismo, tabagismo, acalasia, dieta pobre em vegetais e frutas, má higiene oral e injúria caustica. - teias, anéis esofágicos Disfagia intermitente para sólidos. Os anéis esofágicos podem estar associados à anemia ferropriva (síndrome de Plummer- Vinson ou PattersonKelly). Sua patogenia é desconhecida. Para diagnóstico é recomendada a realização do RX contrastado com bário. - acalasia idiopática Disfagia intermitente para sólidos e líquidos. É causado pela perda da peristalse no esôfago distal e falha no relaxamento do esfíncter esofágico inferior na deglutição. Está associado a regurgitação de alimentos não digeridos. Para diagnóstico é recomendada a realização do RX contrastado com bário: dilatação e afilamento distal. - esofagopatia chagásica Tem evolução longa, de vários anos, e é progressiva. Inicialmente ocorre pela ingestão de sólidos, depois para ingestão de pastosos, chegando a ocorrer inclusive com ingestão de líquidos. Disfagia inicial para sólidos, depois pastoso e líquido. Propedêutica clínica 4 A destruição e a ausência de plexos nervosos do esôfago determinam a ausência de peristaltismo ao nível do corpo do órgão e a não abertura de seu esfíncter inferior (acalásia) em resposta à deglutição. Como consequência, ocorre estase esofágica. A disfagia é a manifestação que leva o doente a procurar o médico e determina o diagnóstico. - espasmo esofágico Disfagia para sólidos e líquidos intermitente, associada dor retroesternal. No RX contrastado com bário observamos o esôfago em “saca rolhas”. - esclerose sistêmica Também é chamada de esclerodermia. É uma doença reumatológica que afeta a camada de músculo liso da parede esofágica causando atrofia e esclerose dos dois terços distais do esôfago com redução da peristalse e baixa ou ausente pressão do esfíncter esofágico inferior. - infecciosa Os pacientes geralmente apresentam disfagia associada à odinofagia. Normalmente são causadas por: herpes simples, candidíase, citomegalovírus, tuberculose. exames • Endoscopia digestiva alta: indicada em todos os casos de disfagia para diagnóstico e biópsia de lesões existentes; • Esofagograma contrastado baritado: define a forma do esôfago, a alteração da motilidade existente e o comprometimento da luz do esôfago; • Videodeglutograma: avalia disfagia orofaríngea. Detalha a deglutição do paciente e avalia o risco de pneumonia aspirativa; • Manometria esofágica: permite o registro das pressões na luz do órgão. É muito importante para diagnóstico dos casos de disfagia neuromuscular.
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