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- sistema porta O sistema porta é sinônimo de veia porta, isto, é, é um tipo de circulação no qual duas veias se interpõem: veia mesentérica superior (que drena o intestino grosso e se divide em ramos direito e esquerdo antes de entrar no fígado) e veia esplênica (que drena o baço). A veia porta recebe sangue do baço, dos cólons (ascendente, descendente e sigmoide), no intestino delgado e um pouco de sangue do pâncreas. Todo sangue desses órgãos vai passar pelo sistema porta, isto é, passar pelo fígado. Pensando nisso, uma trombose na veia porta gera alteração no fluxo do intestino, pâncreas e baço inicialmente. A veia porta é responsável por 80% do fluxo sanguíneo do fígado. Os outros 20% são provenientes da artéria hepática. A veia porta passa por dentro do fígado. Entra, se ramifica em dois ramos (direito e esquerdo), se ramifica em vênulas e passa pela veia centro lobular, veias hepáticas. Nos sinusoides (canais sanguíneos localizados no reticuloendotélio) o sangue das vênulas portais terminais se mistura com o sangue proveniente das arteríolas hepáticas. O sangue então segue dos sinusoides, via vênulas hepáticas, para a veia cava inferior. Hipertensão portal Propedêutica clínica 2 Hipertensão portal É o aumento patológico da pressão em algum ponto do sistema porta hepático. Consequentemente, o gradiente (a diferença) de pressão entre a veia porta e a veia cava inferior encontra-se elevado, já que alguma coisa no meio do trajeto está atrapalhando o fluxo. Ou seja, o problema pode estar na veia porta, nos sinusoides ou na veia cava. Na hipertensão portal o problema está em uma obstrução da veia porta para trás e não para frente. Como calcular a pressão da porta-cava? P= Q x R P é o gradiente da pressão portal, Q é o fluxo sanguíneo e R é a resistência. Os valores de referência para o gradiente porta – cava: • Normal: 1-5 mmHg; • Hipertensão portal: acima de 5 mmHg; • Hipertensão portal significativa: por volta de 10-12 mmHg. - fisiopatologia da hipertensão portal A hipertensão portal sempre vai ocorrer por aumento da resistência, que pode ocorrer na porção pré, intra e pós-hepática. A fisiopatologia e o fluxo sanguíneo acometido vão variar conforme região acometida do sistema porta hepático: • Hipertensão porta pré-hepática (fora do fígado): causada por trombose da veia esplênica ou da veia porta e por esplenomegalia maciça, por exemplo; o Veia porta, veia mesentérica superior, veia esplênica e veia mesentérica inferior. • Hipertensão porta intra-hepática (tudo que está dentro do fígado): ela pode ser dividida em 3: o Pré-sinusoidal: esquistossomose, fibrose hepática congênita ou sarcoidose; o Sinusoidal: cirrose; o Pós-sinusoidal: síndrome veno-oclusiva. • Hipertensão porta pós-hepática: síndrome da ICD (importante). Nesse caso é um evento tardio, já que existe a necessidade de uma falência hepática importante. Também pode ser causada pela síndrome de Budd Chari e obstrução da veia cava inferior. HIPERTENSÃO PORTA INTRA-HEPÁTICA Ela pode ser mecânica e irreversível, como na cirrose, que é causada por fibrose, acometimento dos sinusoides e formação de nódulos de regeneração. Ou funcional e dinâmica, que ocorre por aumento do tônus vascular. CIRROSE HEPÁTICA É um acometimento que gera hipertensão porta intra- hepática funcional (dinâmica) por aumento do tônus vascular: • Aumento dos vasoconstritores: endotelina, norepinefrina, angiotensina, vasopressina e tromboxano; • Diminuição dos vasodilatadores: óxido nítrico (NO) e prostaciclinas. Quadro clínico - ascite A ascite é o acúmulo do líquido de origem patológica na cavidade peritoneal. Embora a origem do líquido que se acumula na cavidade peritoneal possa variar, a grande maioria das ascites tem como causa a cirrose hepática, com o líquido formado derivando do plasma. Há três teorias para tentar explicar a fisiopatologia da formação da ascite na cirrose: a do underfill (ou baixo enchimento/hipovolemia), a do overflow (ou superfluxo/hipervolemia) e a da vasodilatação periférica. A ascite vai ser causada tanto pelo aumento da hipertensão porta como pela hipoalbuminemia, visto que o fígado está em falência e não consegue mais produzir essa proteína. MACICEZ MÓVEL Ocorre em casos de ascite de médio volume (0,3-1L). Quando o paciente está em decúbito dorsal o líquido acumula-se na região lateral do abdome, revelando timpanismo na região anterior. Quando o paciente se posiciona em decúbito lateral, o líquido se desloca para o mesmo lado, onde fica maciço e a região acima fica timpânica. É chamada de “móvel” porque muda de acordo com a posição em que o paciente está. Propedêutica clínica 3 SEMICÍRCULO DE SKODA Pacientes com ascites maiores que 1-3L já formam o círculo de Skoda. Consiste em deixar o paciente em decúbito dorsal, em que ao percutir a região central do abdome se obtém o som timpânico, enquanto na periferia há som maciço pela presença do líquido ascítico. É uma técnica para verificação de uma ascite um pouco mais grave. SINAL DE PIPAROTE Piparote só é positivo em ascite maior que 3L, ou seja, que já é visível durante a inspeção. É realizada por meio da colocação das mãos do paciente ou do médico auxiliador de forma vertical no sentido da linha médio-esternal, enquanto o médico examinador coloca suas mãos nas regiões laterais do abdome. Dessa forma, o examinador com apenas uma mão percute a lateral do abdome, e caso haja ascite, ele sentirá a vibração do líquido ascítico no outro lado do abdome. - shunts portossistêmicos Shunt portossistêmico é uma anormalidade na circulação da veia porta em que ocorre a anastomose desta ou de uma de suas tributárias com a veia cava caudal, de modo que o sangue destinado ao fígado retorna, em grande parte, à circulação sistêmica. Seus sintomas vão variar de acordo com o local acometido: • Submucosa do esôfago (varizes de esôfago): hemorragia digestiva alta, melena; • Submucosa do estomago (varizes de estômago): hemorragia digestiva alta, melena; • Submucosa do reto (varizes do reto): enterorragia; • Parede abdominal anterior (colaterais superficiais, cabeça de medusa). - circulação colateral A presença de circulação colateral é importante para diagnosticar obstrução nos sistemas venosos. Ou seja, é um achado em que é possível visualizar a vascularização do abdome, por conta de um obstáculo na circulação venosa. Ela pode ser classificada baseada na determinação do sentido da corrente sanguínea (etapa de palpação). Isso permitirá saber qual sistema está obstruído, usando a técnica dos dois dedos comprimindo a veia para ver a direção do fluxo. Ela pode ser: • Circulação colateral tipo porta: a obstrução do fluxo venoso proveniente do tubo digestivo, das veias tributárias e da veia porta (veia esplênica e mesentérica superior) leva à formação de vasos colaterais e à recanalização da veia umbilical. É o tipo mais frequente observado na prática clínica e forma a chamada “cabeça de medusa”. Ocorre na hipertensão portal, na cirrose hepática, em tumor comprimindo a veia porta e na síndrome de Budd- Chiari; o Caput Medusae: hipertensão portal com recanalização da veia umbilical, drenagem para a VCS ou VCI e shunt portossistêmico (circulação colateral). Propedêutica clínica 4 • Circulação colateral tipo cava inferior: por obstrução a nível da veia cava inferior. Os vasos colaterais vão em direção ascendente pelo aumento do fluxo venoso nestas e são mais nitidamente observadas no andar inferior do abdome e em suas regiões laterais. A principal causa de obstrução da veia cava inferior é a trombose, além de aderências e de tumor comprimindo a veia cava inferior; • Circulação colateral tipo cava superior: por obstrução ou compressão da veia cava superior levando a aumento do fluxo em vasos colaterais com direção descendente.É visualizado na parte superior do tórax e pescoço e pode ser visto na parte superior do abdome na procura de conexão com a veia cava inferior. Ocorre em obstrução da veia cava superior, aneurisma de aorta e tumores de mediastino e pulmão; • Circulação colateral tipo misto: costuma ser uma associação entre os dois primeiros descritos (portal e cava inferior) e caracteriza-se por ampla rede venosa colateral, com sentido de circulação para cima. SOPRO DE CRUVEILHIER-BAUMGARTEN: É um zumbido venoso que pode ser auscultado em pacientes com hipertensão portal. Resulta de conexões colaterais entre o sistema porta e o remanescente da veia umbilical. É mais bem apreciado quando o estetoscópio é colocado sobre o epigástrio. • Fluxo aumentado e turbilhonado do sangue nos vasos dilatados (após recanalização da veia umbilical); • Presença de murmúrio/sopro ao posicionar o estetoscópio sobre os vasos dilatados. - outros sinais e sintomas Não são tão característicos e nem sempre estão presentes: • Esplenomegalia (traube ocupado); • Edema de membros inferiores. etiologias A principal causa de hipertensão portal é por cirrose, que pode ser causada por ingestão excessiva e crônica de álcool e por vírus da hepatite C e B. Além disso, pode ser causada por IH fulminante e por obstrução ou retardo do fluxo de saída do sangue hepático por pericardite constritiva, síndrome de Budd- Chiari e doença venoclusiva. Observação: no Brasil, uma causa importante intra- hepática e pré-sinusoidal: esquistossomose (“barriga d’água”). É importante não confundir a síndrome da hipertensão porta com a síndrome ictérica, síndrome da insuficiência hepática, síndrome da insuficiência cardíaca e síndrome nefrótica/nefrítica. Isso porque a hipertensão porta não tem icterícia, proteinúria e nem hematúria como manifestação clínica! Além disso, também não apresenta estase jugular na fase inicial – quando surgir, pode ter certeza de que todos os sinais clássicos de hipertensão portal já surgiram antes.
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