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1 Disciplina: Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Geografia Autora: M.e Joyce Cordeiro Heindyk Garcia Revisão de Conteúdos: M.e Leandra Felícia Martins Designer Instrucional: Esp. Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2020 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Joyce Cordeiro Heindyk Garcia Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Geografia 1ª Edição 2020 Curitiba, PR Faculdade UNINA 3 Faculdade UNINA Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Leandra Felícia Martins Designer Instrucional Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA GARCIA, Joyce Cordeiro Heindyk. Fundamentos teóricos e metodológicos da geografia / Joyce Cordeiro Heindyk Garcia. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020. 90 p. ISBN: 978-65-86092-40-0 1. Alfabetização cartográfica. 3. Ensino Fundamental. 3. Geografia no Brasil. Material didático da disciplina de Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Geografia – Faculdade UNINA, 2020. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio............................................................................................................ 08 Aula 1 – Como aprendemos?........................................................................... 09 Apresentação da aula 1.................................................................................... 09 1.1 O cérebro humano e a aprendizagem............................................ 09 1.2 Informações..................................................................................... 11 Conclusão da aula 1......................................................................................... 13 Aula 2 - Estudo da geografia............................................................................ 13 Apresentação da aula 2................................................................................... 13 2.1 O que é a Geografia?...................................................................... 13 2.2 O que a Geografia estuda?............................................................ 14 Conclusão da aula 2........................................................................................ 17 Aula 3 - A trajetória do Ensino de Geografia no Brasil..................................... 18 Apresentação da aula 3................................................................................... 18 3.1 A origem da Geografia.................................................................... 18 3.2 As correntes do pensamento geográfico........................................ 21 3.3 O ensino tradicional........................................................................ 23 3.4 A escola do século XXI................................................................... 25 Conclusão da aula 3........................................................................................ 26 Aula 4 – A apropriação dos conceitos de Geografia pela criança................... 26 Apresentação da aula 4................................................................................... 26 4.1 Como os conceitos geográficos são entendidos pelas crianças...... 26 4.2 Noções de espaço projetivo e euclidiano........................................ 31 Conclusão da aula 4........................................................................................ 32 Aula 5 – Alfabetização cartográfica.................................................................. 33 Apresentação da aula 5................................................................................... 33 6 5.1 O que devemos observar em uma carta geográfica....................... 33 5.2 Ser elaborador e leitor de mapas e gráficos................................... 35 5.3 Os diferentes tipos de documentos cartográficos........................... 37 5.4 Conceitos estruturadores da Alfabetização Cartográfica................ 39 5.5 Imagem bidimensional e imagem tridimensional............................ 41 5.6 Alfabeto cartográfico e gramática cartográfica................................ 42 5.7 Orientação e localização espacial................................................... 45 Conclusão da aula 5........................................................................................ 48 Aula 6 - O ensino de Geografia no Ensino Fundamental................................. 48 Apresentação da aula 6................................................................................... 48 6.1 Competências Específicas de Geografia para o Ensino Fundamental de acordo com a BNCC............................................................. 51 6.2 Unidades temáticas da Geografia de acordo com a BNCC............. 54 6.3 Objetos de conhecimento e habilidades do ensino de Geografia no ciclo I................................................................................................................ 55 6.4 Exemplos de atividades a serem desenvolvidas no ciclo I............. 60 Conclusão da aula 6........................................................................................ 66 Aula 7 – Ensino e aprendizagem de Geografia no Ciclo II.............................. 66 Apresentação da aula 7................................................................................... 66 7.1 Os objetivos do ensino de Geografia no ciclo II.............................. 67 7.2 Objetos de conhecimento e habilidades do ensino de Geografia no ciclo II............................................................................................................... 687.3 Exemplos de atividades a serem desenvolvidas no ciclo II............ 71 7.4 Formas diferentes para conteúdos iguais....................................... 74 7.5 Escalas no desenho da mão........................................................... 74 Conclusão da aula 7........................................................................................ 75 Aula 8 – O professor mediador, os recursos tecnológicos aplicados ao Ensino de Geografia e a avaliação.................................................................. 76 7 Apresentação da aula 8................................................................................... 76 8.1 O professor mediador..................................................................... 76 8.2 Recursos tecnológicos aplicados ao Ensino de Geografia............. 78 8.3 Avaliação dos processos de ensino e aprendizagem de Geogra- fia..................................................................................................................... 84 Conclusão da aula 8 ....................................................................................... 85 Índice Remissivo.............................................................................................. 86 Referências...................................................................................................... 89 8 Prefácio Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à disciplina Fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. Este material foi pensado e elaborado para você. Tem o objetivo de lhe orientar quanto aos fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. Quando assistimos uma aula na escola ou da nossa própria casa, podemos nos considerar “alunos”. Mas, quando lemos o material didático, pesquisamos, respondemos as tarefas, nos tornamos estudantes. Sempre falo aos meus alunos que estudante é aquele que estuda. E o estudar é individual, você precisa fazê-lo sozinho, ninguém poderá fazer por você! A palavra “estudante” vem do latim studiosus, que designava a pessoa dedicada, que gosta de algo, que é zelosa. O estudante é aquele que ama o que faz, que ama aprender. Espero que você perceba que todas as leituras, as videoaulas, tarefas, serão de grande importância no seu aprendizado, mas a iniciativa de aprender, de buscar, de se comprometer com o ensino é sua! Não adianta ter um excelente material nas mãos daqueles que não apresentam interesse. Vamos lá! 9 Aula 1 – Como aprendemos? Apresentação da aula 1 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à primeira aula da disciplina Fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. Você já ouviu algum comentário como: “este menino é muito inteligente!” Ou “você aprende porque é inteligente!” Esses comentários nos levam a refletir sobre o que é ser inteligente? Como aprendemos? Será que todos podem aprender? Essas são perguntas que você, como futuro professor, irá fazer. 1.1 O cérebro humano e a aprendizagem Sancho et al (2006, p.18) diz que “a maioria das pessoas que vive no mundo tecnologicamente desenvolvido tem um acesso sem precedentes à informação, isso não significa que disponha de habilidades e do saber necessário para convertê-los em conhecimento”. Essa abundância de informações e a facilidade de acesso não garantem que as pessoas estejam mais ou melhores formadas. Esse é o grande desafio da escola, “levar as pessoas a transformarem as informações em conhecimento” (GARCIA, 2017, p. 46). Para adquirir conhecimento é preciso sistematizar. Devemos organizar as diversas informações que recebemos em sistemas, de modo que nosso cérebro os armazene e processe. Assim, o que era informação, passa a ser um conhecimento interiorizado (GARCIA, 2017, p. 46). Já aconteceu alguma vez com você de alguém lhe informar um número de celular e você esquecer depois de alguns minutos? Ou, em sala de aula, o professor estar trabalhando um conteúdo e no meio da explicação contar uma piada? Depois de um tempo, você lembra da piada, mas não se recorda do conteúdo. Essas coisas acontecem, pois temos alguns “filtros” no cérebro e apenas algumas informações ficam retidas na memória. 10 Reflita Mas então, como fazemos para que informações importantes, como conteúdos disciplinares, fiquem guardadas em nosso cérebro? O professor Pieluigi Piazzi (s/d), em suas palestras, dizia que as pessoas aprendem um pouco de cada vez. Para ele, o conhecimento e a inteligência são construídos aos poucos, todos os dias. Ele comparava essa aprendizagem a uma escada. Todos os dias, você pode subir apenas um degrau ou permanecer no mesmo degrau. Escada do conhecimento Fonte:https://www.shackletontowers.com/wp-content/uploads/2015/11/Career-Ladder .jpg Se você dedicar-se a estudar, rever um conteúdo da aula, associando a algum fator de sua vida, naquele dia, você terá subido um degrau. Mas, no dia que você não estuda, você permanece no mesmo degrau. Como tem sido a sua escada do conhecimento? Espero que, a partir desta aula, você se dedique a realmente aprender os conteúdos. https://www.shackletontowers.com/wp-content/uploads/2015/11/Career-Ladder%20.jpg https://www.shackletontowers.com/wp-content/uploads/2015/11/Career-Ladder%20.jpg 11 “A aprendizagem se produz graças à ação simultânea de uma série de processos químicos e elétricos. Toda informação que é captada por nossos sentidos se dirige ao cérebro [...]” (ANTUNES, 2010, p.15). Durante o sono, é que o cérebro desenvolve os processos químicos que captam as informações e as salva no seu sistema ou as descarta. Dormir pelos menos oito horas por dia se torna essencial para as pessoas, principalmente os estudantes, pois é durante o sono que ocorre a aprendizagem. Durante o dia, o cérebro recebe um grande volume de informações e precisa selecionar o que de fato será arquivado e o que será descartado. Logo, são estabelecidas algumas defesas, que funcionam como obstáculos e impedem a aprendizagem total e completa. Equivale afirmar que tudo quando chega ao cérebro passa por alguns “filtros que censuram” o que deve ou não deve ser guardado. Esses “filtros defensores” ajudam a discriminar e colocar a atenção ao que realmente importa aprender (ANTUNES, 2010, p. 15). Esses filtros são conhecidos pela sigla RAD, que significa: Radicular, Amígdala e intervenção da Dopamina. Para Antunes (2010), para a informação passar pelo primeiro filtro “R”, precisa ser uma novidade. As informações consideradas chatas, sem graça, repetitivas, são imediatamente bloqueadas nesse filtro. O segundo filtro (A), que é a amígdala, está ligado ao afetivo. Se a informação for interessante, mas não ser agradável ou emocionante, fica bloqueada aqui. Por fim, a dopamina (D) é o neurotransmissor do prazer e é assim assimilada. Por isso, o grande desafio do professor é tornar os conteúdos interessantes, surpreendentes, coloridos, criativos e agradáveis. 1.2 Informações Quando as informações passam pelos filtros, durante o sono, são armazenadas no cérebro e logo você terá realmente aprendido e não esquecerá mais. Será como andar de bicicleta, você pode até passar um tempo sem andar, 12 mas se pegá-la novamente saberá andar, pois você aprendeu. Assim é o conhecimento sistematizado, você não esquecerá mais se realmente aprender. A seguir, você pode observar um pequeno esquema que ilustra esse processo: Esquema dos filtros da aprendizagem Fonte: elaborado pelo autor (2017), com base (ANTUNES, 2010). Importante Quero desafiar você a prestar atenção em cada aula que assistirou a cada material didático que ler. Assim, você estará dizendo para seu cérebro que isso é importante. Logo após, procure associar as aulas com sua vida, traga emoções que o façam lembrar do conteúdo. Fazendo isso, você permitirá que os conteúdos passem pelos filtros e fiquem guardados em seu cérebro! O grande desafio do professor é levar o estudante a sistematizar as informações e transformá-las em conhecimento individual. “Pois, para que haja transformação de uma pessoa ou de um país, não basta ter acesso a muitas 13 informações, é preciso que se construa o conhecimento a partir delas” (GARCIA, 2017, p. 46). Conclusão da aula 1 Nesta aula, foram abordadas questões sobre como as pessoas aprendem, a diferença de informação e conhecimento, assim como a diferença de memorizar ou aprender. Espero que você reflita, pois esses conceitos lhe ajudarão como estudante e futuro professor. Vimos também o entendimento como o cérebro aprende, a diferença de informação e conhecimento, portanto convido você a subir as escadas do conhecimento em cada uma das aulas. Atividade de aprendizagem Faça um esboço de tudo o que você aprendeu na aula de hoje, aproximando os conteúdos da sua realidade de vida, de forma que tenha significado para você. Procure ligar as palavras do esboço com emoções e prazer. Aula 2 – Estudo da geografia Apresentação da aula 2 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à segunda aula desta disciplina. Nela aula você estudará o que é a geografia e o que ela estuda. Veremos as definições de autores e entenderemos a importância do ensino dessa disciplina na Educação Básica. Vamos lá? 2.1 O que é a Geografia? Quando você pensa na palavra Geografia, provavelmente lhe vem à mente os tempos de escola, dos mapas, das regiões, dos rios. Mas será que a 14 geografia é isso ou só isso? Nesta aula, vamos entender a origem da sua palavra e o que ela representa. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Geografia é a “ciência que estuda a superfície da terra. Ela descreve e analisa como os fenômenos físicos, biológicos e humanos variam no espaço”. O IBGE realiza seus estudos percorrendo e medindo o território. O resultado desse trabalho é a produção de mapas e a realização de estudos e pesquisas sobre relevo, solo, clima, geologia, recursos hídricos, fauna, flora e as condições do meio ambiente. A origem etimológica do termo vem da palavra GEOGRAPHIA, que derivada dos radicais gregos GEO: "Terra" e GRAPHEIN: "descrever". A palavra geografia quer dizer “descrição da Terra” ou estudo da Terra. Para Andrade (2008, p.15): A Geografia tem grande aproximação com as mais diversas ciências sociais, se analisa a intervenção desta sociedade na natureza, tem naturalmente a necessidade de manter contatos, de trocar conhecimentos e experiências com muitas das ditas ciências naturais. Devido à aproximação da Geografia com as demais ciências, há casos em que elas são confundidas. Com você já aconteceu isso? Você vê um determinado conteúdo e fica na dúvida sobre qual disciplina ele se encaixa? A seguir, veremos o objeto de estudo da Geografia. 2.2 O que a Geografia estuda? Essa não é uma questão fácil de responder, pois a Geografia em sua história passou por crises de identidade em relação a tal objeto. Mendes (2010) diz que, em cada época histórica pela qual passou a disciplina, ela apresentou diferentes definições acerca de seu campo de estudo, de acordo com o tempo e a forma de pensamento dos geógrafos de cada época. Nos aprofundaremos mais nesse assunto na próxima aula. A Geografia, como vimos anteriormente, é uma ciência que se preocupa com o espaço. Mas, o que é espaço? 15 Para Santos (1992), o espaço constitui uma realidade objetiva, um produto social em permanente processo de transformação. O espaço impõe sua própria realidade, por isso a sociedade não pode operar fora dele. Assim, a sociedade é definida por meio do espaço, que é resultado da produção, da história dos processos produtivos. Logo, o espaço é a delimitação em que os processos irão ocorrer. Faz parte do espaço geográfico os objetos naturais e sociais. Os objetos naturais estão relacionados com a natureza, os rios, as montanhas e relevo. Já os objetos sociais estão relacionados com a organização humana como: igrejas, escolas, indústria, economia, política e cultura etc. O esboço abaixo é um resumo do que a Geografia estuda: Resumo do que a geografia estuda Fonte: elaborado pelo autor (2019). Como explicar o conceito de espaço para o estudante? Para introduzir esse assunto em sala de aula, o professor pode ser criativo, trazendo ou confeccionando uma maquete, o globo terrestre, uma música, um prato típico de alguma região, enfim, algo que desperte a curiosidade das crianças. Mendes nos diz que: Para o desenvolvimento de uma atividade com educandos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, é possível selecionar textos (poemas, artigos de jornal, letras de músicas, fotos, ditados populares, etc.) Que apresentem conceitos relacionados ao clima, vegetação, hidrografia, economia, população (MENDES, 2010, p.19). Aprofundaremos os exemplos de atividades que podem ser trabalhadas no Ensino Fundamental nas próximas aulas. Desde os primeiros meses de vida, o bebê começa a desenvolver as impressões e percepções referentes ao domínio espacial por meio da interação com o meio. Almeida e Passini afirmam que “o desenvolvimento da concepção da noção inicia-se antes do período de escolarização da criança” (1991, p.11). 16 Ao chegar na escola, o estudante já traz um repertório de espaço de suas vivências e esse repertório deve ser explorado e valorizado pelo professor “[...] o trabalho de orientação, localização e representação deve partir do espaço próximo para o distante [...]” (ALMEIDA; PASSINI, 1991, p.12). É por isso que os conteúdos de Geografia começam explorando a família, a casa, a escola, a vizinhança, o bairro e depois vão ampliando para a cidade, estado, país, continente e mundo. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) diz que estudar Geografia é uma maneira de entender o mundo em que se vive e contribui para a formação do conceito de identidade, expresso de diferentes formas: [...] Na compreensão perceptiva da paisagem, que ganha significado à medida que, ao observá-la, nota-se a vivência dos indivíduos e da coletividade; nas relações com os lugares vividos; nos costumes que resgatam a nossa memória social; na identidade cultural e na consciência de que somos sujeitos da história, distintos uns dos outros e, por isso convictos das nossas diferenças (BRASIL, 2017, p. 359). Para se ter essa leitura de mundo, é preciso que os alunos pensem espacialmente, que desenvolvam o raciocínio geográfico. Para isso, a BNCC traz determinados princípios para desenvolverem esse raciocínio geográfico, conforme mostra a tabela abaixo. Princípio Descrição dos princípios do raciocínio geográfico Analogia Um fenômeno geográfico sempre é compatível a outros. A identificação das semelhanças entre fenômenos geográficos é o início da compreensão da unidade terrestre. Conexão Um fenômeno geográfico nunca acontece isoladamente, mas sempre em interação com outros fenômenos próximos ou distantes. Diferenciação É a variação dos fenômenos de interesse da geografia pela superfície terrestre (por exemplo, o clima), resultando na diferença entre áreas. Distribuição Exprime como os objetos se repartem pelo espaço. Extensão Espaço finito e contínuo delimitado pela ocorrência do fenômeno geográfico. Localização Posição particular de um objeto na superfície terrestre. A localização pode ser absoluta (definida por um sistema de 17 coordenação geográficas) ou relativa (expressa por meio de relações espaciaistopológicas ou por interações espaciais). Ordem Ordem ou arranjo espacial é o princípio geográfico de maior complexidade. Refere-se ao modo de estruturação do espaço de acordo com as regras da própria sociedade que o produziu. Princípios do raciocínio geográfico Fonte: BNCC (BRASIL, 2017, p. 360). Assim, a Geografia contribui para o pensamento espacial, estimulando o raciocínio geográfico para representar e interpretar o mundo em permanente transformação, relacionando componentes da sociedade e da natureza. A BNCC está organizada com base nos principais conceitos da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis de complexidade. O conceito mais amplo e complexo é o espaço, mas é necessário que os alunos dominem outros conceitos mais operacionais e que expressam aspectos diferentes do espaço geográfico como: território, lugar, região, natureza e paisagem (BRASIL, 2017). O conceito de espaço deve ser pensado juntamente com o conceito de tempo, pois estão interligados. O tempo é uma construção social, que se associa à memória, às identidades sociais dos sujeitos. “Assim, pensar a temporalidade das ações humanas, das sociedades por meio da relação tempo-espaço representa um importante e desafiador processo na aprendizagem de Geografia” (BRASIL, 2017, p.361). Para dar conta desse desafio, o componente de Geografia, da BNCC, foi dividido em cinco unidades temáticas comuns ao longo do Ensino Fundamental, em uma progressão das habilidades. Na aula 6, nos aprofundaremos melhor nesse tema. Conclusão da aula 2 Nesta aula vimos o que é geografia e o que ela estuda. Compreendemos os conceitos de espaço geográfico, que é a soma dos espaços naturais e sociais. Aprendemos os princípios do raciocínio geográfico, de acordo com a BNCC. 18 Atividade de aprendizagem Agora que você já viu o que é Geografia e o que ela estuda, elabore uma síntese de como você explicaria ao estudante, em seu primeiro dia de aula, sobre o que é Geografia. Aula 3 - A trajetória do Ensino de Geografia no Brasil Apresentação da aula 3 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à terceira aula desta disciplina. Como foi sua experiência, em relação às aulas de Geografia, quando você era criança? Procure trazer a memória essas recordações. Talvez você tenha se lembrado de ter que copiar mapas, decorar as capitais, o nome dos rios. Todas essas coisas eram práticas de um ensino voltado a um outro contexto, a um outro tempo, que podemos chamar de Geografia Tradicional. Nesta aula, convido você a se aprofundar um pouco mais sobre a história do ensino da Geografia. Vamos lá? 3.1 A origem da Geografia Curiosidade Você sabia que as principais ideias defendidas por Hitler, na Alemanha Nazista, foram baseadas em um geógrafo? A seguir você verá um pouco da história da Geografia. A Geografia surgiu com o homem primitivo. Seu conhecimento sobre buscar abrigos em cavernas, descobrir as áreas propícias à caça e à pesca, seus 19 conhecimentos diários sobre aspectos do meio foram se acumulando, permitindo ampliar as áreas de domínio e de adaptação as suas necessidades. “As origens da Geografia se relacionam ao homem primitivo e à ampliação do domínio técnico e expansão das áreas de atuação na superfície terrestre” (MENDES, 2010, p.10). Na Grécia, os conhecimentos geográficos eram misturados e abordados dentro da filosofia. Os intensos intercâmbios comerciais desenvolvidos na Grécia, por povos das áreas banhadas pelo Mar Mediterrâneo, aguçaram as pesquisas sobre os fenômenos naturais e as relações com os aspectos humanos. Como resultado, surgiu a elaboração de mapas (ainda sem escalas), obtenção de informações sobre povos e a forma como alteravam a natureza. Nessa época, Eratóstenes (276 a.C. – 194 a.C.) comprovou, por meio de medições e cálculos, que a terra tinha forma esférica. Estrabão foi o primeiro estudioso a atribuir a palavra Geografia, em uma obra de 17 volumes acerca dos conhecimentos da Terra. Ainda na Antiguidade Clássica, as contribuições dos romanos e árabes foram relevantes envolvendo mapeamento de caminhos, relatos de viagens, descrição de paisagens, elaboração de hipóteses e cálculos para explicar os fenômenos observados. Na Idade Média, entre os séculos V a XV, o desenvolvimento dos conhecimentos geográficos foi incipiente. A cartografia, por exemplo, teve um retrocesso, incluindo seres imaginários ou de histórias bíblicas e do paraíso aos mapas. Os estudos descritivos traziam junto com as informações concretas e verdadeiras ideias falsas e fantasiosas, como a existência de monstros. Para Andrade (2008, p. 28), essa época foi um “desserviço ao avanço do conhecimento científico”. “No século XV, contexto das Grandes Navegações, houve uma sistematização com certa cientificidade, mas, o caráter descritivo e o registro de dados, nomes e localização de fenômenos geográficos foram mantidos” (MENDES, 2010). Nas décadas finais do século XIX, o capitalismo se expandiu para sua fase imperialista. “A burguesia, no poder, necessitava conhecer os distintos recursos naturais dessas ‘novas terras’ [...]” (MENDES, 2010, p. 13). Como 20 resultado dessa fase, os conhecimentos passam a ser pensados por meio das aplicações de métodos científicos. Foi no século XIX, que foram sistematizados os conhecimentos da Geografia, tornando-a uma ciência autônoma, com as obras dos geógrafos Alexander Von Humboldt (1769 -1859) e Karl Ritter (1779 -1859). Humboldt contribuiu para o desenvolvimento da Geografia física, pesquisando sobre clima, vegetação e relevo. Ritter escreveu acerca da Geografia dos continentes e países, explicando as particularidades do desenvolvimento econômico, social e suas relações com os fatores naturais. As pesquisas eram voltadas aos interesses da burguesia imperialista. Os governos dos Estados-Nações estavam comprometidos com a expansão, patrocinando expedições científicas nas colônias da América e da África. Os trabalhos de Humboldt e Ritter foram continuados e aprofundados por Frederic Ratzel (1844 - 1904). Nesse tempo, a Alemanha necessitava de uma Geografia que fornecesse subsídios a uma política de domínio e expansão espacial. Frederic Ratzel (1844-1904) Fonte: https://live.staticflickr.com/7330/9802653803_3e5ec87a61_b.jpg Ratzel lutava pela consolidação da unidade alemã. Suas ideais eram baseadas em Darwin e defendia que as sociedades “mais capazes” poderiam dominar as sociedades “inferiores”. Dessa forma, se a seleção natural das espécies, de acordo com Darwin, se realiza por meio da luta entre elas e vencem as mais capazes, então as sociedades capitalistas, por serem “mais capazes”, poderiam dominar as sociedades “menos capazes”. Essa teoria 21 justifica, então a vitória dos dominadores como resultado de sua capacidade superior e as fraquezas das sociedades dominadas em função de sua incapacidade (MENDES, 2010, p.15). A teoria do “espaço vital”, de Ratzel, dizia que o progresso ou a decadência de um Estado dependeria de sua capacidade de expansão, justificando as guerras de conquistas e a dominação dos povos fracos pelos fortes. Esse princípio foi adotado mais tarde por Adolf Hitler, que justificava a procura de territórios para expansão, como a África, já que a Alemanha chegara tarde na “partilha do mundo” (MENDES, 2010). Nesse contexto, a Geografia servia como estratégia de dominação política, econômica e cultural. A França, também derrotada na Guerra, como a Alemanha, começou a considerar as contribuições dessa ciência para a ampliação do domínio territorial, valorizando esses conhecimentos. As ideias de Ratzel foram amplamente discutidas e mescladas à Teoria do Positivismo. Assim, a Geografia naFrança é levada ao status de ciência e Paul Vidal de La Blache (1845 -1918) concebe a Teoria do Possibilismo. Entre as principais ideias dessa teoria está: “a visão de sociedade enquanto um todo formado de partes; cada parte tem uma função e para manter seu ‘equilíbrio’ é necessário haver seu controle” (MENDES, 2010, p.16). La Blache também desenvolveu o conceito de gênero de vida, em que cada povo, com suas técnicas e suas relações com o meio, criaria um gênero de vida próprio. Cada região seria marcada por uma paisagem singular, o que definiria as diferentes regiões do Planeta. Sua preocupação era a descrição do meio. 3.2 As correntes do pensamento geográfico Humboldt, Ritter, Ratzel e La Blache marcaram a chamada Geografia tradicional ou clássica. Nessa corrente, o objeto de estudo eram as “paisagens e as regiões, tendo como método científico a descrição minuciosa de cada porção regional da planta, até se conhecer todo ele” (MENDES, 2010, p.17). 22 O foco da corrente tradicional estava nas descrições físicas dos lugares, os estudos se concentravam em identificar os componentes da paisagem (tipos de vegetação, relevo e clima), o número de habitantes e o nome das cidades e rios importantes que banhavam a região. De acordo com Blache, citado por Moço (2008), a Geografia era “a ciência dos lugares e não dos homens”. As aulas no ensino tradicional eram focadas em aulas expositivas apoiadas no conhecimento enciclopédico, que deveria ser decorado. A Geografia cultural foi uma corrente criada na Alemanha no fim do século XIX. Defende um relacionamento mais próximo das outras ciências como História, Antropologia, Sociologia, Filosofia e Psicologia. Tinha o foco a cultura e as representações que o homem faz de si, dos outros e do espaço. Tem como referência o alemão Otto Schlüter (1872 - 1959). O objeto de estudo era as distribuições das manifestações culturais. Nessa vertente, consideram-se os estudantes como fontes de informação assim como os moradores locais, podendo ser fontes de estudo. As aulas dão ênfase em saídas de campo, debates e análises. A Geografia teorética quantitativa caracterizou-se pela aplicação de métodos estatísticos em larga escala, com modelos, diagramas, gráficos. Tinha em vista a teorização do conhecimento geográfico. Para Andrade (2008), esses serviços eram prestados a governos autoritários que procuravam o crescimento econômico sem dar importância aos custos sociais e ecológicos desse desenvolvimento. O surgimento do IBGE é um exemplo da Geografia voltada a dados estatísticos. Essa corrente criticava a descrição das paisagens e regiões e adotava o espaço como seu conceito-chave. Ela contribuiu com empresas e governos provendo estudos sobre maneiras de organizar o sistema produtivo no espaço geográfico (MENDES, 2010). Surge também nesse período a Geografia humanística ou da percepção. Essa corrente aborda as relações entre os aspectos psicológicos e o meio natural. Se preocupa com o papel desempenhado pelos seres humanos como indivíduos independentes, com a subjetividade de cada um e sua relação com o lugar. Assim, “o espaço é sempre um lugar carregado de significações” (MENDES, 2010, p.17). 23 Em 1960 alguns geógrafos, em especial os franceses, passaram a defender que o estudo deveria se posicionar criticamente frente à realidade e à ordem constituída, fazendo do geógrafo um agente de transformação social, comprometido com a justiça social, as desigualdades na distribuição de renda e a correção das desigualdades econômicas entre os países. Essa corrente que se opunha à tradicional é chamada de Geografia crítica ou radical. Destacam-se os trabalhos de Yves Lacoste, sendo o principal “A Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra” (1976). O autor fazia críticas à pretensa neutralidade política da Geografia e seu uso como ferramenta ideológica dos Estados e como estratégia miliar. Lacoste é o marco do advento da geografia crítica. Outro geógrafo renomado foi Milton Santos, especialmente por seu livro “Por uma geografia nova”, publicado em 1978, no qual analisa a evolução do pensamento geográfico, apontando para posturas críticas. Rompendo com a neutralidade científica, houve uma ressignificação do quadro conceitual, retomando e ampliando os conceitos de paisagem, região, território, lugar e surge o conceito de sociedade. Dessa forma, admitiu-se como objeto de estudo o espaço geográfico, que é resultante “das relações sociais, econômicas, políticas e culturais que se estabelecem nas mais diversas escalas geográficas [...]” (MENDES, 2010, p.18). 3.3 O ensino tradicional Observe a foto a seguir: Sala de aula tradicional Fonte: http://www.123rf.com/apicore/storage/54f89b484d075ef6cd3af00afff307c2.jpg http://www.123rf.com/apicore/storage/54f89b484d075ef6cd3af00afff307c2.jpg 24 A foto retrata uma sala de aula clássica, em um tempo mais antigo. Na imagem, podemos ver carteiras enfileiradas em direção ao quadro de giz, ou quadro negro, como é conhecido. Podemos ver um aluno em pé lendo, provavelmente a pedido da professora. Nesse modelo de sala de aula, percebemos que os predomínios das aulas eram tradicionais. No ensino tradicional ou clássico, como é chamado, o professor era o detentor do saber e ele tinha a responsabilidade de repassar o seu conhecimento ao aluno. O discente era visto como uma “página em branco” que precisava ser preenchida pelo conhecimento do professor. Nesse modelo de escola, os alunos deveriam permanecer sentados, sem falar, sem interagir com os colegas. Seu papel era decorar os conteúdos sem questionar ou argumentar. No ensino de Geografia, era normal os alunos estudarem os afluentes dos rios, decorar nomes de cidades, capitais, rios, fazer cópias de mapas. Muitas vezes, o estudante realizava o que era solicitado, mas não via significado no que fazia. Não podemos dizer que a Geografia clássica não teve valor. Se pensarmos que na época não existiam satélites, o Google, o GPS. Era necessário ter uma Geografia descritiva, com acervo de mapas. A Geografia clássica foi boa e relevante, pois construiu os dados que temos hoje. O IBGE é um exemplo da Geografia dos anos 60 a 80, que era pautada na estatística e na matemática, procurando descrever e quantificar as informações. Reflita Até que ponto devo utilizar esse modelo de Geografia em sala de aula? Será que hoje é preciso decorar nomes de rios, afluentes, entre outros? Isso ainda é relevante? Que estudantes são esses que estão chegando à escola? Refletiremos a seguir sobre a escola do século XXI. 25 3.4 A escola do século XXI Paulo Freire dizia que “a escola deve estar à altura do seu tempo” (PAPERT; FREIRE, 1995). Mas que tempo é esse que temos vivido? Provavelmente você já deve ter percebido que as crianças de hoje não são iguais às crianças do passado. Elas estão mais agitadas e são atraídas pelo meio eletrônico e midiático. Reflita O professor em sala pode reclamar que os estudantes são inquietos, mas devemos refletir: os estudantes são inquietos para quê? Será que o professor também consegue ficar sentado, parado, todo o tempo de aula? Os estudantes já chegam com uma determinada leitura de mundo, do seu bairro, do trajeto da casa e escola etc. Esses conhecimentos devem ser aproveitados em sala, portanto o docente precisa ter sensibilidade para valorizar o conhecimento prévio do estudante, não priorizando apenas o ler e o escrever. A sala de aula, que antes era direcionada ao quadro de giz, hoje pode estar em um formato diferente, como mostra o exemplo a seguir. Exemplo de sala de aula do século XXI Fonte: https://www.bing.com/images/blob?bcid=TuxihQQS.IkBYQ 26 Nesse modelo de escola, muda-se o modelo padrão de salade aula. Os trabalhos são direcionados para o coletivo, com atividades em grupos em que a colaboração ou a cooperação fazem parte. O professor deixa de ser o detentor do saber para ser um mediador da aprendizagem, instigando os estudantes com perguntas, levando-os a pesquisarem, a questionarem, a refletirem sobre o conhecimento. Conclusão da aula 3 Nesta aula foi visto sobre a origem da Geografia, as correntes de pensamento que permearam o estudo da disciplina, a trajetória do Ensino dessa matéria no Brasil, a concepção do ensino tradicional e a escola do século XXI, este sendo o modelo de ensino atual. Atividade de aprendizagem Elabore um quadro comparativo entre o ensino tradicional e o ensino no século XXI, coloque exemplos de atividades de Geografia nessa comparação. Aula 4 – A apropriação dos conceitos de Geografia pela criança Apresentação da aula 4 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à quarta aula desta disciplina. Aqui você vai estudar como os conceitos de Geografia são compreendidos pelas crianças. Espero que você aprenda com o que veremos e execute esses conceitos em seu planejamento, nas aulas de Geografia. Os conceitos são imprescindíveis para se fazer a análise geográfica? E como trabalhá-los? Vamos lá? 4.1 Como os conceitos geográficos são entendidos pelas crianças A psicogênese da noção de espaço passa pelos níveis de evolução do conhecimento, próprios da criança. São estudos baseados nas obras de Jean, 27 Piaget e de seus colaboradores que vão do espaço vivido ao espaço percebido e posteriormente ao concebido. “O espaço vivido refere-se ao espaço físico, vivenciado por meio do movimento e do deslocamento” (ALMEIDA, 1991, p. 26). Exemplo: a criança pequena, começa a perceber o lugar vivenciando-o. Desde bebê, os pequenos já vão engatinhando, explorando os espaços, pegando nas coisas, vão vivenciando esse local, por isso a primeira fase é o espaço vivido. As casas dos estudantes são os primeiros espaços vivenciados. Os exercícios rítmicos e psicomotores são muito importantes para o desenvolvimento dessa dimensão espacial, em que o espaço é explorado e conhecido a partir do corpo. A experiência física é fundamental para o conhecimento espacial (GUERRERO, 2012, p. 45). O espaço percebido não necessita mais ser experimentado fisicamente, pois a criança já se apropriou da memória desse local em sua vivência e já consegue identificá-lo. Exemplo: o trajeto da casa até a escola. Como a criança já vivenciou esse percurso, ela já o conhece e pode descrevê-lo ou desenhá-lo. Esse nível de percepção chamamos de espaço percebido. Quando desenvolve a dimensão do espaço percebido, a criança torna-se capaz de distinguir distâncias e localizar objetos em fotografias. Para Almeida (1991), por volta de 11 a 12 anos, o estudante começa a compreender o espaço concebido, estabelecendo relações espaciais por meio de suas representações. No espaço concebido, já se é capaz de raciocinar sobre uma área retratada em um mapa, sem ter visto o lugar antes. “Os esquemas corporais são a base cognitiva sobre a qual a exploração do espaço ocorrerá” (GUERRERO, 2012, p. 46). A criança pequena percebe a localização e o deslocamento de coisas a partir de seu corpo. Os bebês passam a ampliar seu campo visual e a percepção que têm da disposição dos objetos e de seu deslocamento, quando conseguem sentar-se, por exemplo. Crianças pequenas têm dificuldades de distinguir categorias de localização espacial como: perto de, abaixo, no limite de, por exemplo. “O esquema corporal é a base cognitiva sobre a qual se delineia a exploração do espaço que depende tanto de funções motoras, quanto da percepção do espaço imediato” (ALMEIDA, 1991, p. 28). 28 A consciência do próprio corpo e de seus movimentos e postura é um processo que se constrói lentamente na criança. Vai desde seu nascimento até a adolescência, quando ocorre a elaboração completa do esquema corporal. Você já reparou que as crianças pequenas preferem brincadeiras que limitam os espaços? Geralmente você as encontra em parte do pátio da escola, ou debaixo da mesa em casa. Isso ocorre porque elas não conseguem ocupar um espaço tão grande, não conseguem concebê-lo para poderem organizá-lo. É igual quando você entrega uma folha inteira de sulfite branca e as crianças limitam-se a utilizarem apenas uma de suas partes. Como a criança parte de seu corpo como referência, é preciso que a lateralização se realize de forma clara e completa. Conforme Guerreiro (2012): Um elemento fundamental para a construção das noções espaciais é a lateralização do corpo e da percepção do espaço. Nos seres humanos, em sua maioria, predomina um lado do corpo (direito ou esquerdo), pois poucas pessoas são ambidestras (GUERREIRO, 2012, p. 47). A escola deve ajudar o estudante a lateralizar-se, a tomar consciência de seu predomínio lateral para a direita ou para a esquerda. “A análise do espaço, deve ser iniciada com a criança primeiramente com o corpo, em seguida apenas com os olhos e finalmente com a mente” (ALMEIDA, 1991, p. 30). As primeiras relações espaciais que a criança estabelece são chamadas de relações topológicas elementares. São elas: dentro, fora, ao lado, à frente, atrás, perto, longe, etc. Se a criança não tiver sistematizado essas relações, ela não entenderá noções de distâncias, medidas e ângulos posteriormente. Embora as relações espaciais topológicas elementares não envolvam referenciais precisos de localização, elas são a base para o trabalho sobre o espaço geográfico (e cartográfico). A partir delas é que se desenvolvem as noções de limites político-administrativos entre municípios, estados, países e, suas fronteiras, área urbana e rural, para citar apenas alguns exemplos (ALMEIDA, 1991, p. 33). “No plano perceptivo, as relações espaciais se processam na seguinte ordem: de vizinhança, separação, ordem, envolvimento e continuidade” (ALMEIDA, 1991, p. 31). 29 A relação de vizinhança deve ser trabalhada nos pequenos. Os objetos devem ser trabalhados e percebidos no mesmo plano, exemplo: a boneca ao lado da bola, quarto ao lado do banheiro, janela ao lado da porta. A percepção da separação aumenta com a idade e o desenvolvimento da capacidade de análise. O estudante começa a se dar conta de que os objetos próximos em um mesmo plano estão separados. Por exemplo: a porta e a janela estão juntas na mesma parede, porém são separadas, pois há uma parte de parede entre elas. Na relação de ordem ou sucessão, os objetos ocupam uma posição anterior, intermediária ou posterior a partir de um ponto de vista. Exemplo: primeiro temos a porta, no meio temos a parede e depois a janela. “A percepção de cada elemento e sua relação com os demais, leva à relação de envolvimento, que pode ser percebida em uma, duas ou três dimensões” (ALMEIDA, 1991, p. 32). Almeida (1991) cita como exemplos a sequência de paradas de um metrô. Os tubos possuem relação de envolvimento, pois formam trechos que se encaixam, seria o exemplo de uma dimensão. A segunda dimensão pode ser a porta e a janela que estão na mesma parede, a terceira dimensão os objetos e o mobiliário que está dentro de uma sala. O exemplo dos tubos de um metrô, que representam o registro de pontos no espaço, estão em continuidade, pois o espaço é contínuo, não há ausência de espaço. As localizações são contínuas e o espaço forma um todo, uma unidade. [...] a localização geográfica constrói-se à medida que o sujeito se torna capaz de estabelecer relações de vizinhança (o que está ao lado), separação (fronteira), ordem (o que vem antes e depois), envolvimento (o espaço está em torno) e continuidade (a que recorte do espaço a área considerada corresponde) entre os elementos a serem localizados (ALMEIDA, 1991, p. 33). A criança que antesusava seu próprio corpo como referencial para localização dos objetos, passa a perceber que podem ser usados outros referenciais, sem que isso altere a localização. Por exemplo, a mesa pode estar perto da cadeira e ao mesmo tempo longe da posição da criança. Esse processo é chamado de descentralização. 30 A descentralização é a passagem do egocentrismo infantil para um enfoque objetivo da realidade. Surge por meio da construção de estruturas de conservação, que permite que a criança tenha um pensamento mais reversível. Ocorre porque a criança começa a considerar outros elementos para a localização espacial e não apenas sua percepção. Com a ampliação da habilidade de descentralização, desenvolvem-se na cognição da criança a conservação e a reversibilidade. Esse raciocínio desenvolve-se a partir de 7 a 8 anos de idade. Esquema corporal Fonte: elaborado pelo autor (2017), com base em Almeida (1991). A conservação é a percepção de um espaço estático, pois a criança ainda não consegue perceber a reversão de posições no espaço. Já a reversibilidade se manifesta quando a criança começa a pensar o espaço projetando-se nele, percebendo que os objetos apresentam partes menores e lados. Lado direito, esquerdo, em frente, atrás, são referenciais de localização. As relações espaciais organizam-se a partir do esquema corporal, na imagem a seguir pode-se observar esse esquema. 31 No processo de descentralização, a criança projeta esse esquema sobre os objetos para localizá-los, independentemente de sua posição, assumindo a postura de observadora. 4.2 Noções de espaço projetivo e euclidiano Observe a imagem a seguir: Trajeto de uma rua Fonte: elaborado pelo autor (2017). Se uma pessoa sai da sua casa, seguindo pela direita, encontrará uma loja, depois uma farmácia e em seguida uma igreja. Mas se essa pessoa voltar pelo mesmo caminho, encontrará a igreja por primeiro, depois a farmácia, a loja e por último a casa. As coisas continuam no mesmo lugar, o que mudou foi a perspectiva, ou a direção de quem observa. “O aparecimento da perspectiva, traz uma alteração qualitativa na concepção espacial da criança, que passa a conservar a posição dos objetos e alterar o ponto de vista até atingir as relações espaciais projetivas” (ALMEIDA, 1991, p. 38). Com o desenvolvimento do raciocínio reversível, a criança percebe que os objetos têm uma ordem, uma sequência no espaço e que se ela mudar de lugar em relação ao objeto, ele permanece na mesma posição. 32 Quando esse processo se manifesta, a criança está desenvolvendo a noção de espaço projetivo. Essas relações se manifestam quando os estudantes percebem o espaço a partir de projeções e de pontos de vista diferentes. As relações espaciais euclidianas surgem junto com as relações projetivas, com o surgimento da noção de coordenadas. Por meio das coordenadas, pode-se situar os objetos e dar orientação de seu deslocamento em função de uma estrutura cujos referenciais são independentes desses objetos. Os estudantes dos anos iniciais não possuem estruturas psicológicas para compreenderem o sistema de localização geográfica de coordenadas, pois somente entre 9 a 10 anos serão capazes de coordenar medidas e referenciais de altura e comprimento, como horizontal e vertical. É por isso que esse conteúdo faz parte do 6º ano do Ensino Fundamental. As crianças de 5 a 8 anos distinguem apenas o que se acha à sua direita ou esquerda, não projetando essas posições para alguém à sua frente, pois exige descentralização e reversibilidade. Para as crianças de 8 a 11 anos, isso já é possível. No entanto, a partir de 11 ou 12 anos, que a criança será capaz de situar os objetos independentemente de sua própria posição, por exemplo: “a janela está à direita da lousa”. Conclusão da aula 4 Nesta aula foi explicitado como acontece a apropriação dos conceitos geográficos pelas crianças, aprendemos como acontece a aprendizagem no cérebro humano, como os conceitos geográficos são entendidos e desenvolvidos na infância e as noções de espaço projetivo e euclidiano. Atividade de aprendizagem Agora que você compreendeu como acontece a aprendizagem no cérebro e como é o desenvolvimento dos conceitos geográficos pelas crianças, elabore um mapa conceitual, colocando com palavras-chave os principais conceitos geográficos desenvolvidos pelas crianças. Comece pelos elementares até chegar no euclidiano. 33 Aula 5 – Alfabetização cartográfica Apresentação da aula 5 Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à quinta aula desta disciplina. Nesta aula, abordaremos sobre a “alfabetização cartográfica”, que é uma metodologia que estuda os processos de construção de conhecimentos conceituais e procedimentais de leitura de mundo. A alfabetização geográfica desenvolve habilidades para que o estudante possa fazer as leituras do mundo por meio das suas representações. “É a inteligência espacial e estratégica que permite ao sujeito ler o espaço e pensar a sua Geografia” (PASSINI, 2012, p. 13). Para Passini (2012), a alfabetização geográfica deve ser entendida e estudada com o mesmo cuidado metodológico com que se toma a alfabetização para a linguagem escrita. De acordo com Guerrero (2012), a cartografia apresenta um sistema de conceitos próprios, cuja aprendizagem requer a alfabetização. Tem como objetivo desenvolver a capacidade de leitura e comunicação oral e escrita de mapas, fotos, desenhos, plantas, maquetes, permitindo que o estudante perceba e domine o espaço. O primeiro passo de um estudante nessa alfabetização é ensiná-lo a “ver” um mapa ou carta geográfica. Aqui diferenciamos o ato de “ver” do ato de “olhar”. O olhar é a função dos olhos, olhamos todas as coisas, mas o “ver” nesse contexto, refere-se ao olhar com interesse, atenção, a olhar com intencionalidade e perceber coisas que o rápido olhar jamais perceberia. Mas o que se deve ensinar os estudantes a “verem” em uma carta geográfica? É o que veremos a seguir. 5.1 O que devemos observar em uma carta geográfica Antunes (2010) aborda alguns tópicos que se deve trabalhar na alfabetização cartográfica com os estudantes, para ele, o professor deve ensinar os estudantes a “verem”: 34 ➢ O título do mapa: verificar se pelo título percebemos a natureza da carta geográfica, pois existem diversos mapas físicos, econômicos, populacionais e gerais; ➢ A escala do mapa: para perceber a extensão da área mapeada e suas distâncias; ➢ A análise da localização da área mapeada: leitura atenta de tudo quanto o mapa revela, compreendendo os sinais convencionais utilizados, percebendo detalhes, explicando semelhanças e diferenças; o sentido da posição geográfica e os fundamentos de uma orientação espacial a partir dela; ➢ As correlações: como interagem os elementos naturais com os elementos humanos e a característica na vida econômica, de produção e dos transportes; ➢ Trabalho de síntese: permite explicar, comparar, classificar, descrever, associar e aplicar em outras situações a paisagem que o mapa ilustra. O trabalho do professor vai além de chamar atenção dos estudantes para os mapas apresentados, sendo preciso trabalhar os elementos para que a criança se desenvolva nos princípios do espaço geográfico. Como já vimos, deve-se começar nos anos iniciais o trabalho com o espaço concreto (aula, escola, bairro), com o objetivo de ajudar o estudante a transferir essa aprendizagem aos espaços mais amplos e maiores (municípios, estado, país) e por fim, completando uma leitura de mundo em que se vive e que se busca compreender. Para Simielli (1999), citado por Antunes (2010), a alfabetização cartográfica deve levar o estudante a dominar: A visão oblíqua e verticalda área mapeada; a percepção tridimensional, a partir da visão de imagem bidimensional; o domínio de palavras e expressões do alfabeto cartográfico; a identificação da escala e, sua projeção em relação ao espaço real; a lateralidade e a orientação (SIMIELLI, 1999 apud ANTUNES, 2010, p. 67). 35 Assim, vemos que durante o processo escolar, o estudante deve desenvolver sua visão vertical e oblíqua, diferenciar imagens bidimensionais e tridimensionais, entender o alfabeto cartográfico, com seus pontos, linhas, áreas, legendas, proporção, escala e também desenvolver sua lateralidade para saber se orientar. 5.2 Ser elaborador, leitor de mapas e gráficos O princípio básico de se formar um leitor de mapas e gráficos é a proposta do “fazer para entender”, como sugere Passini (2012), baseada em Piaget e Inhelder (1993). A criança aprende agindo sobre o objeto, manipulando-o, explorando-o e descobrindo os elementos que o constituem. Por isso a importância de observar e trabalhar com a realidade concreta, selecionando, observando, classificando e codificando elementos desse espaço, o que resultará em um mapa. O mapa elaborado pela criança torna-se um objeto conhecido e vivenciado por ela, o que torna mais fácil o desafio de lê-lo. Diferente dos mapas prontos colocados nas paredes de sala, o mapa elaborado pelos estudantes tem significado para eles. As representações do espaço da casa, da sala de aula, do bairro, da escola, do caminho casa-escola, são importantes porque partem do significado para sua codificação. Nesse trabalho de representar a realidade concreta, os estudantes precisarão reduzir os elementos proporcionalmente às medidas do espaço real no papel, terão que inventar símbolos que demonstrem as coisas. E sem perceberem, estarão construindo e trabalhando com mapas. “A passagem desses ‘mapas-desenhos’ para um mapa cartograficamente sistematizado é o caminho metodológico da Alfabetização Cartográfica” (PASSINI, 2012, p.28). A seguir veremos um exemplo de trabalho com mapas, realizado por uma professora de 4º ano, de uma escola de Maringá, retratado por Passini (2012, p. 32, 33). 36 Representação de mapa-desenho manual Fonte: (PASSINI, 2012, p. 33). Nesse trabalho retratado no mapa desenho, a professora percorreu o quarteirão da escola com os estudantes e pediu que observassem e anotassem os elementos da paisagem que viam. Logo após, pediu que desenhassem. Como resultado, vimos que os estudantes foram minuciosos em suas observações e nas representações (desenho A). Após a primeira fase dos desenhos, a professora pediu para que os estudantes agrupassem as coisas semelhantes, como casa com casa, lojas com lojas e construíssem um símbolo ou cor para cada agrupamento. O desenho B, mostra o desenvolvimento do estudante ao passar do nível elementar para o nível avançado, em sua elaboração de mapa. 37 Nesse exemplo de trabalho, levamos os estudantes a perceberem a importância da leitura da legenda em um mapa. 5.3 Os diferentes tipos de documentos cartográficos Os documentos cartográficos são produzidos com base em normatizações específicas e com base em procedimentos técnicos. Há diferentes conceituações envolvendo os mapas, por haver diversas áreas do conhecimento científico que as utilizam como seu objeto de estudo, como a Cartografia, a Geografia, a Engenharia, a Geologia, a Ecologia e entre outros. É importante sabermos que os mapas não são os únicos tipos de documentos cartográficos. Entre os materiais cartográficos conhecidos, temos as cartas, as plantas, os croquis e as maquetes. As cartas são mapas de grande ou média escala de uma superfície da Terra, geralmente não tem muitos detalhamentos, conforme mostra a figura a seguir. Fonte: (GUERRERO, 2012, p. 61). A planta é um tipo de representação gráfica de grande escala, que fornece informações detalhadas de uma determinada área, como ruas, perímetro urbano, edificações, conforme poderá ser visto no mapa a seguir. 38 Fonte: (PASSINI, 2012, p. 62). Já o croqui é um esboço que não requer o rigor técnico dos mapas e cartas. Contém informações de uma pequena área. Fonte: (PASSINI, 2012, p. 62). 39 5.4 Conceitos estruturadores da Alfabetização Cartográfica Como acabamos de ver, para que os estudantes se apropriem da linguagem cartográfica, eles precisam desenvolver conceitos estruturadores. A seguir, abordaremos cada um desses conceitos. Representamos cartograficamente uma imagem de acordo com o nosso ponto de vista, ou seja, do posicionamento do observador em relação à imagem representada. Conforme Guerrero, (2012, p.73, 74), temos três tipos de visão: a frontal ou horizontal, a oblíqua e a vertical. Visão frontal ou horizontal: é a que temos quando olhamos um objeto de frente; Visão oblíqua: é a visão que temos de um objeto ou de uma paisagem quando os olhamos de cima e de lado, ou seja, quando estamos na posição inclinada e em perspectiva; Visão vertical: é a visão dos objetos em 90º, ou seja, a que temos de cima para baixo, como em um sobrevoo (GUERRERO, 2012, p.73-74). A seguir, veremos exemplos de visão frontal, de visão oblíqua e de visão vertical. Pirâmides de Giza, Egito, em visão frontal FONTE: (GUERRERO, 2012, p.74). 40 Pirâmides de Giza, Egito, em visão oblíqua Fonte: (GUERRERO, 2012, p. 75). Pirâmides de Giza, Egito, em visão vertical Fonte: (GUERRERO, 2012, p.75). É importante trabalhar as formas de visão, iniciando com a visão frontal e visão oblíqua e ir aumentando a complexidade do trabalho ao longo dos anos. 41 5.5 Imagem bidimensional e imagem tridimensional O mundo contemporâneo está repleto de imagens, principalmente devido ao acesso à televisão, mídias impressas e sobretudo pela internet. A visão de imagem está associada diretamente à representação visual de um ou mais objetos. A imagem representa algo de forma não verbal e são classificadas em grupos: ➢ Imagens estáticas: as que não se movimentam; ➢ Imagens em movimento: as não estáticas. As imagens estáticas são divididas em: pictóricas, figurativas e abstratas. As imagens pictóricas são produzidas pela composição ordenada de pigmentos, como fotografias, desenho, pintura, gravura. As imagens figurativas representam objetos reais da natureza ou supostamente reais, como no caso das figuras mitológicas. As imagens abstratas são responsáveis pela representação de objetos imateriais e imaginários. O trabalho com as imagens e a distinção entre seus tipos são necessários no Ensino Fundamental, pois mapas e outros materiais cartográficos são imagens. “Por isso, o professor necessita do conhecimento sobre o processo de leitura e de interpretação de imagens para planejar suas aulas” (GUERRERO, 2012, p.83). Na cartografia, distinguimos dois tipos de imagens, as bidimensionais ou planas e as tridimensionais: Imagens bidimensionais ou planas: compostas apenas por duas dimensões espaciais, a largura o comprimento, e que podem ser impressas ou digitais, a cujo conjunto estão relacionados materiais como imagens de satélites, mapas, plantas e croquis. Imagens tridimensionais: compostas por três dimensões espaciais: largura, comprimento e altura, em cujo conjunto se encontram as maquetes, que representam partes da superfície terrestre em 3D (GUERRERO, 2012, p. 84). 42 Figura bidimensional e tridimensional Fonte:http://slideplayer.com.br/slide/5635676/2/images/4/Figura+bidimensional+x+Figura+Tridimensional.jpg 5.6 Alfabeto cartográfico e gramática cartográfica A cartografia utiliza símbolos como: formas geométricas, pictogramas, texturas e cores para representar os fenômenos geográficos nos mapas. A principal função desses símbolos é melhorar a assimilação da informação representada. Logo, os símbolos são criados para melhorar a comunicação entre os usuários e os mapas. O geógrafo francês Fernand Joly escreveu uma obra considerada referência nos estudos sobre a comunicação por mapas. Regina Almeida, Ana Lúcia Guerrero e Sérgio Fiori sistematizaram os conteúdos referentes às diversas categorias de símbolos estudados por Joly, são eles: 1. Sinais convencionais: são esquemas gráficos localizados com base na posição real do objeto ou elemento representado, que permitem que este seja identificado mesmo que sua superfície, na escala, seja muito pequena; 2. Sinais simbólicos: são signos que trazem à lembrança o objeto real, localizados ou cuja posição é facilmente determinável; 3. Pictogramas: são símbolos figurativos facilmente reconhecíveis; 4. Ideogramas: constitui um pictograma representativo de um conceito, uma ideia; 5. Símbolo regular: é um conjunto constituído pela repetição regular de um elemento gráfico sobre uma superfície delimitada; 6. Símbolo proporcional: é um símbolo que representa quantidade, cujo tamanho varia de acordo com o valor do que está sendo representado (GUERRERO, 2012, p. 86). 43 Categorias de símbolos Fonte: (GUERRERO, 2012, p. 86). Todo mapa deve ter uma legenda, que identifique ao leitor o assunto representado. As legendas variam de acordo com o tipo de mapa (qualitativo, quantitativo ou de fluxo) e devem ser elaboradas a partir das características de cada fenômeno. Outro fator importante em um mapa é a escala. A escala é um dos conceitos que mais geram dificuldades no trabalho de alfabetização cartográfica. O conhecimento das escalas envolve o domínio do raciocínio matemático, especialmente no que se refere às proporções dos objetos em relação ao espaço. As escalas são responsáveis em indicar o tamanho real dos objetos, proporcional a sua representação no papel. Quando falamos em escala, é preciso ter em mente que se trata da relação proporcional de redução de tamanhos. A duas maneiras de representar a escala de um mapa: a escala gráfica e a escala numérica. Escala gráfica: permite realizar cálculos e medições nos mapas rapidamente. São representadas por uma régua graduada, que traz a unidade de medida usada, em metros ou quilômetros. Cada intervalo da régua compõe o tamanho de 1 cm, isso significa que, para ler a escala gráfica, o estudante deverá entender que 1 cm do mapa corresponde a x cm do mundo real. 44 Escala gráfica Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2020). Nesse exemplo, 1 cm da escala equivale a 1 m do real. A escala total representa uma extensão linear de 5m e cada centímetro do mapa representa apenas 1 m do terreno real. No mapa a seguir, pode-se observar a medida em escala gráfica: Fonte: (GUERRERO, 2012, p. 99). Escala numérica: é a forma fracionária de representação proporcional do tamanho real ao tamanho representado no mapa. Aparecem com mais frequências em documentos técnicos, como as cartas topográficas e os mapas. 45 A escala numérica possui a seguinte estrutura: Escala numérica Fonte: elaborado pelo autor (2020), adaptado pelo DI (2020). O numerador representa a unidade de medida do mapa, nesse exemplo, 1 cm e o denominador representa o tamanho do objeto na realidade Veja alguns exemplos a seguir: 1 : 1.000.000 (um para um milhão), nesse exemplo, 1 cm do mapa equivale a 1.000.000 cm ou a 10 km do real. 1 : 500.000 (um para quinhentos mil), aqui, 1 cm do mapa equivale a 500.000 cm do real ou a 5 km. Para trabalhar com a escala numérica, o estudante precisa conhecer o sistema de medidas de comprimento, conforme representado na tabela abaixo. Km hm dam m dm cm mm Quilômetro hectômetro decâmetro metro decímetro centímetro milímetro Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2020). 5.7 Orientação e localização espacial É importante que o professor trabalhe os conceitos de rotação e translação. Rotação: é o movimento que a terra faz, girando em torno de um eixo inclinado imaginário, que a cruza verticalmente. Esse movimento ocorre de oeste para leste e leva 23 horas, 56 minutos e 4 segundos para ser concluído. 46 Dele resulta a divisão do tempo em dias que duram 24 horas, nas quais uma parte do planeta é exposto à luminosidade do sol (dia), enquanto a outra parte permanece na sombra (noite). O movimento de translação: é o movimento que a terra realiza em torno do sol, que se completa em 365 dias, 5 horas e 48 minutos, período que corresponde a um ano. A cada ano excedem 6 horas, que a cada 4 anos dão origem ao ano bissexto, com 366 dias. No ano bissexto, o mês de fevereiro tem 29 dias. Cada período de mudanças de estações do ano recebe um nome específico. Nas mudanças da primavera para o verão e do outono para o inverno, temos os solstícios. Já nos períodos de mudança do verão para o outono e do inverno para a primavera, temos os equinócios. A existência do movimento de rotação da Terra permitiu que os polos fossem estabelecidos. Como o planeta gira em torno de um eixo imaginário e a força da gravidade atrai os corpos para o centro do planeta, a Terra pode ser considerada um grande imã. As extremidades do planeta formam os polos geográficos, conhecidos como polo Norte e polo Sul. As direções relativas do espaço terrestre são representadas na rosa dos ventos. Parte dos eixos principais: o eixo norte-sul e o eixo leste-oeste. A rosa dos ventos é a forma gráfica que usamos para representar a orientação por pontos cardeais, colaterais e subcolaterais, em um plano horizontal. A seguir, um exemplo da rosa dos ventos: Rosa dos ventos Fonte:http://www.123rf.com/apicore/storage/bf414722895a910824e4cd986b1b6be6.jg 47 Pontos cardeais Pontos colaterais N Norte NE Nordeste S Sul SE Sudeste E Leste SO Sudoeste O Oeste NO Noroeste Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2020). Mídias Vamos aprender a fazer uma bússola caseira? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uLC7pgdoYsI https://www.youtube.com/watch?v=XubmK6civis Além da noção de orientação espacial, a localização absoluta dos objetos no espaço terrestre deve ser ensinada no processo de alfabetização cartográfica, principalmente a partir do 6º ano. Para isso, os estudantes precisam aprender os conceitos de linhas imaginárias, paralelos, meridianos, coordenadas geográficas, latitude, longitude e hemisfério. As linhas imaginárias formam uma rede de linhas sobre a superfície da Terra. No cruzamento das linhas, conseguimos localizar qualquer ponto na Terra. As coordenadas geográficas são sistemas de referências que permitem a localização de um determinado ponto. O principal meridiano da Terra é chamado de meridiano de Greenwich, ele divide o planeta em dois hemisférios: oriental (Leste) e ocidental (Oeste). A linha do Equador é a linha inicial para o estabelecimento das medidas dos paralelos. Além da linha do Equador, são importantes os seguintes paralelos: círculos polares (Ártico e Antártico) e trópicos (de Câncer e de Capricórnio). A latitude e a longitude, são as referências para a indicação da posição de um objeto ou de um local no planeta. São medidas por graus. A latitude indica o ponto em relação ao norte e sul. A longitude é estabelecida a partir dos https://www.youtube.com/watch?v=uLC7pgdoYsI https://www.youtube.com/watch?v=XubmK6civis48 meridianos (leste/ oeste). Resumindo, a latitude se mede na vertical e a longitude na horizontal, na leitura do mapa. Conclusão da aula 5 Nesta aula foram abordados os elementos para a alfabetização cartográfica e as metodologias de estudos, e o que é preciso trabalhar para que o estudante saiba fazer a leitura de um mapa, os diferentes formatos de documentos cartográficos, a inteligência espacial e procedimentais de leitura de mundo por meio das suas representações. Atividade de aprendizagem Escolha um mapa e escreva como você faria a leitura dele com os estudantes. Lembre-se de abordar o título e a escala. Aula 6 - O ensino de Geografia no Ensino Fundamental Apresentação da aula 6 Olá, seja bem-vindo (a) à sexta aula desta disciplina. Nesta aula veremos os objetivos do ensino de Geografia para os anos iniciais. Será feito analise do que diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 9.394/96, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia e as Diretrizes Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular. Vamos lá? “A Geografia estuda as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e da paisagem” (BRASIL, 1997, p.109). Isso significa identificar e relacionar na paisagem o que representa sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza. A análise da paisagem deve focar as dinâmicas de suas transformações e não a descrição e o estudo de um mundo estático. 49 A Lei de Diretrizes e Base (LDB) nº 9394/96, em seu Art. 26, aborda que os currículos da educação básica deverão ser constituídos por uma base nacional comum e que poderão ser complementados por uma parte diversificada em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, devido às características locais. No parágrafo primeiro deste artigo, fica claro que os currículos obrigatoriamente deverão abranger o estudo do conhecimento físico e natural e realidade social e política especialmente do Brasil, conforme citação abaixo: Art. 26: os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos; § 1º: os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil (BRASIL, 1996, s/p., grifo nosso). De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, os componentes curriculares obrigatórios do Ensino Fundamental serão assim organizados em relação às áreas de conhecimento (BRASIL, 2010): I Linguagens Língua Portuguesa; Língua materna, para populações indígenas; Língua estrangeira moderna; Arte; Educação Física; II Matemática; III Ciências da natureza; IV Ciências humanas: a) História; b) Geografia; V Ensino religioso. Fonte: (BRASIL, 2010, p.114), adaptado pelo DI (2020). 50 De acordo com a LDB, o ensino de Geografia é obrigatório no Ensino Fundamental e sua formação básica faz-se mediante: I O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV O fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. Fonte: (BRASIL, 1996, s/p), adaptado pelo DI (2020). Assim, o estudo de Geografia possibilita aos estudantes compreenderem suas posições no conjunto das relações da sociedade com a natureza, como e por que suas ações, individuais ou coletivas, em relação aos valores humanos ou à natureza, têm consequências. Também o ensino de Geografia tem o objetivo de mostrar ao estudante que ele faz parte da cidadania, na qual as relações entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado. O estudante deve conhecer e sentir-se como membro participante, afetivamente ligado, responsável e comprometido historicamente. A maneira mais comum de ensinar Geografia tem sido por meio de aulas expositivas do professor ou do livro didático. Mas, abordagens atuais têm buscado práticas pedagógicas que permitam apresentar aos estudantes os diferentes aspectos de um mesmo fenômeno, em diferentes momentos da escolaridade, de maneira que leve os estudantes a desenvolverem a capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade, compreendendo a relação natureza-sociedade. O estudo da sociedade e da natureza deve ser realizado de forma conjunta. “A paisagem local, o espaço vivido pelos alunos deve ser o objeto de estudo ao longo dos dois primeiros ciclos” (BRASIL, 1997, p.116). Mas, o trabalho a nível local não deve estar desassociado ao contexto mundial, pois eles se relacionam. Também, o estudo da paisagem local não deve se restringir à mera constatação e descrição dos fenômenos que a constituem. É preciso que 51 o professor trabalhe as diferentes escalas espaciais e temporais, comparando- as, conferindo-lhes significados. Nos ciclos subsequentes, deve-se intensificar a compreensão dos processos envolvidos na construção do espaço geográfico. A territorialidade e a temporalidade dos fenômenos são aprofundadas. Os problemas socioambientais e econômicos da sociedade já podem ser abordados. O estudo da linguagem cartográfica tem reafirmado sua importância desde o início da escolaridade. Contribui não apenas para compreender a leitura de mapas, mas, para desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. A escola deve criar oportunidades para que os estudantes aprendam a se verem como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores das informações expressas por ela. 6.1 Competências específicas de geografia para o Ensino Fundamental de acordo com a BNCC Considerando as competências gerais da Educação Básica e com as competências específicas da área de Ciências Humanas, o componente curricular de Geografia também deve garantir aos alunos o desenvolvimento de competências específicas. De acordo com a BNCC (BRASIL, 2017, p. 366), são elas: ➢ Utilizar os conhecimentos geográficos para entender a interação sociedade/ natureza e exercitar o interesse e o espírito de investigação e de resolução de problemas; ➢ Estabelecer conexões entre diferentes temas do conhecimento geográfico, reconhecendo a importância dos objetos técnicos para a compreensão das formas como os seres humanos fazem uso dos recursos da natureza ao longo da história; ➢ Desenvolver autonomia e senso crítico para compreensão e aplicação do raciocínio geográfico na análise da ocupação humana e produção 52 do espaço, envolvendo os princípios de analogia, conexão, diferenciação, distribuição, extensão, localização e ordem; ➢ Desenvolver o pensamento espacial, fazendo uso das linguagens cartográficas e iconográficas, de diferentes gêneros textuais e das geotecnologias para a resolução de problemas que envolvam informações geográficas; ➢ Desenvolver e utilizar processos, práticas e procedimentos de investigação para compreender o mundo natural, social, econômico, político e o meio técnico-científico e informacional, avaliar ações e propor perguntas e soluções (inclusive tecnológicas) para questões que requerem conhecimentos
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