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PRIVACAO DE LIBERDADE_SENAPPEN_Modulo_1


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PRIVAÇÃO DE LIBERDADE 
NO BRASIL: modelo 
institucional e jurídico
MÓDULO 1
Questões históricas e 
introdutórias sobre a prisão
EXPEDIENTE
BY NC ND
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Vice-Presidente da República
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho
Ministro da Justiça e Segurança Pública
Flávio Dino de Castro e Costa
Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN
Rafael Velasco Brandani
Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN
Stephane Silva de Araújo
Equipe ESPEN
Haynara Jocely Lima de Almeida 
Italo Rodrigues dos Santos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Coordenação Geral
Luciano Patrício Souza de Castro 
Financeiro
Fernando Machado Wolf
Consultoria Técnica EaD
Giovana Schuelter
Coordenação de Produção 
Caroline Daufemback Henrique
Francielli Schuelter
Coordenação de AVEA
Andreia Mara Fiala
Revisão Textual
Supervisão: Evillyn Kjellin 
Victor Rocha Freire Silva 
Vivianne Oliveira Rodrigues
 
Design Instrucional
Supervisão: Milene Silva de Castro 
Joyce Regina Borges
Design Gráfico
Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima
Airton Jordani Jardim Filho
Cleber da Luz Monteiro
Giovana Aparecida dos Santos 
Guilherme Comerão Stecca Almeida
Julia Morato Leite Lucas
Renata Cristina Gonçalves
Sonia Trois
Tiago Augusto Paiva
Programação
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Luan Rodrigo Silva Costa
Luiz Eduardo Pizzinatto
Audiovisual
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Angie Luiza Moreira de Oliveira 
Arthur Pereira Neves
Dilney Carvalho da Silva
Eduardo Corrêa Machado
Kimberly Araujo Lazzarin
Marcelo Vinícius Netto Spillere
Marília Gabriela Salomao Dauer
Maycon Douglas da Silva
Apresentação
Áureo Mafra de Moraes
Conteúdo
Carlos André dos Santos Pereira
Todo o conteúdo do curso Privação de liberdade no Brasil: modelo institucional e jurídico, da Secretaria 
Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo federal — 2022, 
está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição — Não Comercial — Sem Derivações 
4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/
by-nc-nd/4.0/deed.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed
ESCLARECIMENTO
 
A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional 
(DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais 
(SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém, 
devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência 
da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN 
é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover-
namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias 
e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma 
nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual.
SUMÁRIO
Apresentação ................................................................................................................................................5
Objetivos do módulo 5
Unidade 1: Questões introdutórias sobre a prisão ..................................8
Unidade 2: Elementos históricos da prisão .....................................................11
2.1 Antiguidade 11
2.2 Idade Média 12
2.3 Idade Moderna 14
Unidade 3: Evolução da prisão no Brasil .............................................................19
Unidade 4: Crítica às prisões ..............................................................................................24
Síntese do Módulo .............................................................................................................................. 29
Referências ...................................................................................................................................................30
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 5
APRESENTAÇÃO
Olá, cursista!
Seja bem-vindo(a) ao primeiro módulo do curso Privação de Liberdade 
no Brasil: modelo institucional e jurídico!
Neste módulo, iremos identificar o modelo de pena aplicada em cada 
período histórico, isto é, nas eras antiga, medieval e moderna, bem como 
caracterizar os aspectos históricos relacionados à evolução desses mo-
delos em cada uma dessas eras. Juntamente a isso, vamos caracterizar 
o surgimento e a evolução da pena de privação de liberdade por meio 
das prisões. Como será relatado a seguir, veremos que nem sempre 
a prisão era, em si, um fim, pois tratava-se de um meio para que se 
chegasse à punição real, ligada principalmente ao castigo aplicado ao 
corpo. Também veremos que o processo de punição evoluiu, e o que 
era meio passou a ser fim, ou seja, alcançamos a era da privação da 
liberdade do indivíduo como punição pelo cometimento de crimes.
Ao longo do módulo, também iremos identificar aspectos históricos 
e legislações relacionadas à evolução das prisões no Brasil, de modo 
a compreender a construção de presídios como temos hoje. Por fim, 
vamos avaliar criticamente a pertinência das prisões como forma de 
reduzir a violência. É importante destacar desde já que não há intenção 
de esgotar, por meio deste módulo, os aspectos históricos da prisão, 
pois a literatura sobre o tema é vasta, assim como o entendimento sobre 
os acontecimentos que justificam a pena de prisão como conhecemos 
nos dias de hoje.
Bons estudos!
Objetivos do módulo
• Demonstrar o modelo de pena aplicada em cada período histórico.
• Caracterizar os aspectos históricos relacionados à evolução do modelo 
de pena aplicada em cada período histórico.
• Caracterizar o surgimento e evolução da pena de privação de liberdade 
por meio das prisões.
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 6
• Apresentar aspectos históricos e legislações relacionadas à evolução 
das prisões no Brasil.
• Demonstrar a justificativa do modelo de prisão adotado pelo Brasil.
UNIDADE 1
Questões introdutórias 
sobre a prisão
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 8
1. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE A PRISÃO
A prisão surge como subterfúgio em meio ao processo de demonstração 
de poder do soberano sobre o indivíduo, sem quase nenhuma justifi-
cativa teórica. 
Assim, o surgimento da prisão procede ao momento histórico em que 
os meios punitivos e coercitivos existentes avançavam sobre o castigo 
do corpo sob a forma de demonstração do poder do soberano, que via 
na prática do crime uma ofensa à sociedade e à sua figura de poder.
Relatos de Foucault (1999) apontam que o castigo não pode ser iden-
tificado nem medido como reparação do dano; deve haver sempre na 
punição pelo menos uma parte, que é a do príncipe, ou seja, implica de 
um lado na reparação do prejuízo que foi trazido ao reino, mas de outro, 
na vingança de uma afronta a pessoa do rei.
Vejamos a seguir um exemplo de punição nessa época, descrito por 
Foucault (1999).
“[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir perdão 
publicamente diante da poria principal da Igreja de Paris [aonde 
devia ser] levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, 
carregando uma tocha de cera acesa de duas libras; [em seguida], 
na dita carroça, na praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será 
erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, 
sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, 
queimada com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado 
se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e 
enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado 
e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consu-
midos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas aovento.” 
(FOUCAULT, 1999, p. 8). 
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 9
Depois de mais de dois séculos, houve mudanças no estilo de pena, com o 
desaparecimento dos suplícios e a aplicação da prisão como resposta social.
Dessa maneira, a prática punitiva que descarregava a fúria e vingança 
do soberano no corpo do condenado como forma de punição deixa de 
existir. Assim, desaparece o corpo supliciado, esquartejado, amputado, 
dado como espetáculo nas praças públicas.
Esse movimento significou uma nova redistribuição da maneira de punir, 
devido aos escândalos da justiça tradicional e às exigências sociais aos 
projetos de reforma, pois o suplício passou a ter cunho negativo.
PODCAST
A função da prisão à época consistia em um instrumento através do 
qual administrava-se a moralidade da vida social cotidiana e obti-
nha-se o controle de grupos para a garantia da ordem na sociedade.
Nesse contexto, surge a pena de prisão e o indivíduo passa a 
ser submetido a punições cujo castigo não é oferecido ao corpo, 
a relação castigo-corpo deixa de existir, e com isso desaparece 
a punição à carne. A dor que se almeja a partir de então está 
relacionada com o castigo que alcança a alma do condenado.
A interioridade do ser humano através de sua “alma” é o que precisa 
ser atingido na prisão para que o sistema punitivo seja eficaz. 
Foucault (1999) analisa o surgimento da prisão como parte de uma trans-
formação das relações de poder do final do século XVIII, estendendo-se até 
o século XIX, relacionando-a como uma nova configuração da sociedade 
baseada em disciplina, que age sobre as pessoas.
A prisão é a representação mais pura da perda da liberdade do indivíduo, 
como resposta do poder do soberano.
Suplício
Castigo corporal infligido a 
alguém, ou o tormento, 
ou a tortura, aplicada 
a uma pessoa. Pena de 
morte, ou cumprimento da 
pena de morte (SILVA, 2007). 
UNIDADE 2
Elementos históricos da prisão 
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 11
2. ELEMENTOS HISTÓRICOS DA PRISÃO
Nesta unidade, vamos caracterizar os elementos da prisão consubstan-
ciando os episódios em que essa aparece no tempo a partir da divisão 
dos períodos históricos da antiguidade, da idade média e moderna. 
Diferente da gênese da prisão, na evolução dos períodos históricos a 
prisão vai ganhando relevância e lentamente vai ganhando protagonismo 
como modelo de punição, superando a fase do castigo sobre o corpo, 
de sua utilização como ferramenta de privação subsidiária a punição final 
para constituir-se no modelo de punição institucional. 
2.1 Antiguidade
Cárcere, prisão, calabouço, masmorra, enxovia, ergástulo são sinônimos 
de estruturas utilizadas na Idade Antiga para o aprisionamento e tinham 
como objetivo manter o sujeito sob o domínio físico para que então a 
pena fosse aplicada.
Masmorra medieval. 
Foto: © [ArtMari] / Shutterstock.
Nessa época, o aprisionamento não carrega característica da pena, mas de 
meio para qual a punição viesse a ser executada. As estruturas serviram como 
encarceramento para a aplicação de medidas como os suplícios. 
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 12
De acordo com Carvalho Filho (2002), a descrição que se tem daqueles 
locais revela sempre lugares insalubres, sem iluminação, sem condições 
de higiene, “inexpurgáveis”. As masmorras são exemplos desses mode-
los de cárcere infectos nos quais os presos adoeciam e podiam morrer 
antes mesmo de seu julgamento e condenação, isso porque as prisões, 
na época do seu surgimento, se caracterizavam apenas como um aces-
sório de um processo punitivo, que se baseava no tormento físico.
A palavra-chave sobre prisão na antiguidade, portanto, é o castigo 
do corpo, em ambientes insalubres e austeros que precediam a 
condenação final à pena de morte, à pena corporal e infamante.
2.2 Idade Média
Na Idade Média, de acordo com Bitencourt (2020), a ideia de pena 
privativa de liberdade não aparece. Há, nesse período, um claro predo-
mínio do direito germânico. A privação da liberdade continua a ter uma 
finalidade custodial aplicável àqueles que seriam submetidos aos mais 
terríveis tormentos exigidos por um povo ávido de distrações bárbaras 
e sangrentas.
Ainda nessa época a prisão continua a ser um meio ao processo de 
punição em espetáculos públicos marcados por sofrimento do corpo 
e morte. Carvalho Filho (2002) apresenta algumas punições utilizadas 
no período medieval. 
A função da prisão como contenção 
para posterior suplício
Segundo 
Bitencourt (2020), 
até fins do século 
XVIII, a prisão 
serviu somente à 
contenção e 
guarda de réus 
para preservá-los 
fisicamente 
até o momento 
de serem julgados.
Recorria-se, durante 
esse longo período 
histórico, 
fundamentalmente, 
à pena de morte, 
às penas corporais 
(mutilações e açoites) 
e às infamantes.
A prisão foi sempre 
uma situação de 
grande perigo, 
um incremento 
ao desamparo e, 
na verdade, 
uma antecipação 
da extinção 
física do indivíduo.
Por isso, a prisão 
era uma espécie de 
“antessala” de 
suplícios, pois se 
usava a tortura, 
frequentemente, 
para descobrir 
a verdade.
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 13
Bitencourt (2020) discorre acerca do surgimento da prisão de Estado, 
com o recolhimento apenas dos inimigos do poder, real ou senhorial, 
que tivessem cometido delitos de traição, ou, ainda, aplicada aos ad-
versários políticos dos governantes.
A prisão desse período apresentava duas modalidades, veja mais de-
talhes a seguir. 
Formas de punição no período medieval
A amputação dos braços
A degola
A forca
O suplício na fogueira
As queimaduras a ferro em brasa
A roda
A guilhotina
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 14
Também constitui espécie de prisão a eclesiástica, destinada aos clérigos 
rebeldes, e respondia às ideias de caridade, redenção e fraternidade da 
Igreja, dando ao internamento um sentido de penitência e meditação.
O sistema de punição medieval guardava grande influência do poder 
da Igreja Católica, cujo modelo de punição continha aspectos que ser-
viam de base para justificar e inspirar o que conhecemos como prisão 
nos dias de hoje.
Nada obstante, o sentido de penitência, como propósito da pri-
são eclesiástica, exceção da prisão-custódia, visou substituir as 
penas cruéis de castigo ao corpo pela reclusão do infrator como 
cumprimento de uma penitência. Aliás, o termo “penitenciária” 
tem precedentes desse período, constituindo-se como fonte 
primária das prisões para o modelo que se conhece hoje. 
QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou ta-
blet) no QR Code ao lado para assistir à animação sobre a prisão 
na Idade Média, ou acesse o link: https://youtu.be/WirLAKxOY4I.
2.3 Idade Moderna
A constituição do Estado com o desenvolvimento dos modelos político, 
econômico e social organizado sob a lógica do capitalismo reflete a posição 
da Idade Moderna da pena, marcada, por exemplo, pelas dificuldades 
econômicas que afetaram a população.
Modalidades de prisão
Período
medieval
Prisão-custódia
Detenção
temporal
Onde o réu 
aguarda pela pena 
a ser aplicada.
Até segunda 
ordem, podendo 
ser perpétua.
https://youtu.be/WirLAKxOY4I
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 15
Foto: © [AkulininaOlga] / Shutterstock.
A miséria predominava e culminava no aumento significativo da pobre-
za, o que gerava o cometimento de delitos cada vez mais acentuados, 
principalmente os patrimoniais.
Na segunda metade do século XVI, iniciou-se um movimentode grande 
transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade: 
a criação e construção de prisões organizadas para a correção dos apena-
dos. Segundo Bitencourt (2020), a finalidade da instituição, supostamente, 
consistia na reforma dos delinquentes por meio do trabalho e disciplina.
Assim, a pena privativa de liberdade surgia como meio mais eficaz de 
controle social, em substituição à pena de morte e ao suplício, que já não 
respondiam aos anseios de visão de justiça.
Foucault (1989), no livro intitulado “Vigiar e Punir”, descreve a nova con-
sideração da época sobre pena-castigo:
“Pode-se compreender o caráter de obviedade que a prisão-cas-
tigo muito cedo assumiu. Desde os primeiros anos do século XIX, 
ter-se-á ainda consciência de sua novidade; e, entretanto, ela sur-
giu tão ligada, e em profundidade, com o próprio funcionamento 
da sociedade, que relegou ao esquecimento todas as outras pu-
nições que os reformadores do século XVIII haviam imaginado.” 
(FOUCAULT, 1989, p. 261). 
Transcendência
Aquilo que ultrapassa os 
limites do considerado 
normal ou aceitável. 
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 16
A natureza da prisão assumiu caráter de estabelecimento público de 
privação de liberdade a partir do século XVIII. 
Carvalho Filho (2002) vincula o surgimento da pena de privação de li-
berdade ao surgimento do capitalismo, concomitante a um conjunto de 
situações que levaram ao aumento dos índices de pobreza em diversos 
países e ao consequente aumento da criminalidade, distúrbios religio-
sos, guerras, expedições militares, devastações de países, extensão dos 
núcleos urbanos, crise das formas feudais e da economia agrícola etc.
Vejamos a seguir o comentário de Foucault (1989) acerca da relação entre 
as novas formas de acumulação de capital e de relações de produção e 
o sistema de punição da época. 
“Com as novas formas de acumulação de capital, de relações de produ-
ção e de estatuto jurídico da propriedade, todas as práticas populares 
que se classificavam, seja numa forma silenciosa, cotidiana, tolerada, 
seja numa forma violenta, na ilegalidade dos direitos, são desviadas à 
força para a ilegalidade dos bens.” (FOUCAULT, 1989, p. 107).
A concepção trazida por Foucault no trecho mencionado assevera a trans-
formação do sistema de punição para o que temos hoje na atualidade, 
momento em que se deu a criação e construção de prisões organizadas 
com o fim da correção dos apenados.
O suplício, portanto, passou a ser intolerável, visto da perspectiva do 
povo, onde ele revela o excesso e a sede de vingança, e o castigo passa a 
ter a função da humanidade como medida, onde a justiça criminal puna 
ao invés de se vingar.
A partir de então, a disciplina passa a constituir o objeto da punição, 
sem reflexos da humilhação moral e física do sujeito, em busca da rea-
daptação do indivíduo delituoso, considerando a busca do atingimento 
da alma do infrator. A prisão passa, portanto, a fundamentar-se na pri-
vação da liberdade do indivíduo para que ele possa refletir, através do 
isolamento, acerca de seu ato delitivo. 
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 17
QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou 
tablet) no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre a 
transformação da pena na Idade Moderna, ou acesse o link: 
https://youtu.be/ygW2lJjo08k.
https://youtu.be/ygW2lJjo08k
UNIDADE 3
Evolução da prisão no Brasil 
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 19
3. EVOLUÇÃO DA PRISÃO NO BRASIL
De modo a tornar o estudo mais efetivo e com isso atingir diretamente 
o momento do nascimento da prisão no Brasil, a análise a seguir busca a 
compreensão a partir do primeiro marco do aprisionamento como modelo 
de punição do Estado, tendo em vista que os períodos anteriores tinham 
relação direta com o castigo do corpo, com a aplicação de penas cruéis, 
como: açoite, amputação de membros, as galés e o degredo até a morte.
Nesse período já é possível identificar as primeiras casas de cumprimento 
de pena de privação da liberdade, assim como elucida Aguirre (2009. 
p. 38), durante o período colonial, as prisões e cárceres não constituíam 
em espaços organizados, seguros, higienizados ou que promovesse efeitos 
positivos sobre os presos. Para o autor, as cadeias não eram instituições 
importantes dentro dos esquemas punitivos para as autoridades colo-
niais, servindo apenas como mero lugares de detenção para suspeitos 
que estavam sendo julgados ou para delinquentes já condenados que 
aguardavam a execução da sentença. 
Degredo
Exílio; punição. 
Os primórdios da penalização no Brasil
Antes do domínio português, na primitiva 
civilização brasileira, adotava-se a vingança 
privada, sem qualquer uniformidade nas 
reações penais.
Os primórdios da 
penalização no Brasil 
antes e depois do 
domínio português
No Brasil Colônia, em 1500, passou a 
vigorar em nossas terras o direito lusitano. 
Nesse período, vigoravam em Portugal as 
Ordenações Afonsinas, publicadas em 1446, 
sob o reinado de D. Afonso V, consideradas 
como primeiro código europeu completo.
Em 1521, foram substituídas pelas Ordenações 
Manuelinas, por determinação de D. Manuel I, 
que vigoraram até o advento da Compilação 
de Duarte Nunes de Leão, em 1569, realizada 
por determinação do rei D. Sebastião, 
conforme leciona Bitencourt (2020).
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 20
Feitas essas considerações, somente em 1824 foi outorgada a primeira 
Constituição brasileira, com a previsão da necessidade de elaboração 
de um Código Criminal. Em 1830, o imperador D. Pedro I sancionou o 
Código Criminal, primeiro código autônomo da América Latina.
Esse Código Criminal contemplava a pena de morte, a pena de galés e a 
pena de degredo, que eram mais direcionadas para os escravos, porém a 
pena predominante do novo sistema penal passa a ser o de prisão.
Ainda, em que pese a prisão ter sido adotada com o Código Criminal de 
1830, a efetividade de sua aplicação só viria a ocorrer a partir de 1850 
com a inauguração da Casa de Correção da Corte do Rio de Janeiro, 
baseada no modelo panóptico. 
Um panóptico consiste em um edifício circular, em que os prisioneiros 
ocupavam as celas, todas devidamente separadas, sem qualquer comu-
nicação entre elas, sendo que os agentes de segurança ocupavam um 
espaço no centro, com perfeita visão de cada cela.
Pena de Galés e Pena de Degredo
Pena de Galés
Era a punição na qual os condenados cumpriam a 
pena de trabalhos forçados. Era uma espécie de 
antiga sanção criminal. O código criminal de 1830 
adotou este tipo de sanção, determinando, 
no artigo 44, os réus a andarem com calcetas nos 
pés e correntes de ferro, e a empregarem-se nos 
trabalhos públicos da província onde ocorrera o 
delito, ficando assim, à disposição do governo 
(BITENCOURT, 2020, p. 649-650).
Pena de Degredo 
É a pena que se impõe a alguém à saída de uma 
pessoa da terra em que reside. Imposto por sentença 
condenatória (BITENCOURT, 2020, p. 423).
1
2
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL: 
MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 21
Exemplo de estrutura conforme o modelo panóptico. 
Foto: Sabedoria Política.
Primeira penitenciária do Brasil, a Casa de Correção do Rio de Janeiro foi 
fundada em 1850. Ao longo do tempo, se viu transformada no Complexo 
Penitenciário da Frei Caneca – demolido em 2010.
Casa de Correção do Rio de Janeiro. 
Foto: JOTA.
Com o advento da República, foi aprovado o Código Penal de 1890, 
que apresentou graves defeitos de técnica, revelando-se atrasado em 
relação à ciência de seu tempo. 
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE NO BRASIL:MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 22
QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) 
no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre o Histórico de 
Códigos Penais, ou acesse o link: https://youtu.be/Qp-Zn_f9fJc.
Histórico de Códigos Penais
3
O Código de 1940 ainda está vigente, todavia, sofreu várias 
modificações ao longo do tempo, principalmente quanto às 
alterações na parte geral e na pena de prisão, nos termos da 
Lei n.° 7.209, de 11 de junho de 1984, anotando uma nova 
política criminal mais aproximada aos direitos humanos, 
eliminando, por exemplo, a prisão perpétua, a partir da 
limitação da pena máxima em 30 anos.
2
A elaboração de um novo Código Penal, em projeto 
apresentado em 1938, foi submetido a uma comissão de 
revisão composta por Nelson Hungria, Roberto Lyra, Narcélio 
de Queiroz e Vieira Braga, com promulgação em 1942.
1
Em 1932, foi aprovada a consolidação das Leis Penais de 
Vicente Piragibe. Mas, somente em 1940, foi aprovado o 
decreto que vigora até os dias de hoje, com regras de direito 
penal, conforme ensina Bitencourt (2020).
4
Posteriormente, nasce a Lei n.° 7.210/1984, conhecida como 
Lei de Execução Penal, marco importante na história das 
prisões brasileiras, que regula e disciplina o Sistema 
Penitenciário, consagrando como marco a ressocialização 
do apenado como principal objetivo.
https://youtu.be/Qp-Zn_f9fJc
UNIDADE 4
Crítica às prisões 
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MODELO INSTITUCIONAL E JURÍDICO
MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 24
4. CRÍTICA ÀS PRISÕES
Colocados os marcos históricos da prisão no Brasil, que trazia a pena 
como instituto de encarceramento com fim em si mesma, ou seja, 
de caráter meramente retributivo, os dias atuais nos trazem um modelo 
de privação da liberdade como método de reparação do mal causado 
ao bem jurídico protegido, adicionado à previsão da necessidade de 
ressocialização do preso para seu retorno à sociedade.
Primeiro, o texto de Thompson, em “A questão penitenciária” (2002), 
é um importante marco para a “sociologia criminal”. Tanto o é que, 
ainda na parte introdutória, enfatiza duas importantes vertentes para 
uma necessária reforma penitenciária. 
Estudos do direito penal, criminológicos 
e sociológicos sobre a prisão
Baseando-se nos estudos introdutórios, 
o início da prisão, como fenômeno a ser 
compreendido, tem efetivamente sua 
base explicada pela criminologia e direito 
penal, sob o enfoque da preocupação 
com a identificação de características 
que permitissem identificar os indivíduos 
tendentes a praticar crimes.
Como complemento dos estudos penais 
e criminológicos, a sociologia faz apontamentos 
importantes sobre as prisões, trazendo 
relevantes literaturas sobre o tema, agora 
do ponto de vista crítico, na perspectiva 
de Thompson (2002) e Ramalho (2002).
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MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 25
O aprofundamento nas razões da prisão e no fracasso de sua institui-
ção como ferramenta de consecução da recuperação do preso ou da 
necessidade de construir tantas celas quanto necessárias para alocação 
de pessoas condenadas é a crítica que o autor apresenta.
A ideia de Thompson, rompendo com a tradição existente, cuja análise 
baseava-se em estudos dos elementos biológicos, raciais ou sociais para 
a prática do crime, propõe identificar na própria instituição, na cultura 
prisional e no seu sistema de ação as causas para explicar o seu fracasso.
Veja que o estudo indica, diferente do que vimos na evolução da prisão 
quanto ao sentido retributivo da pena, que essa também tem como 
fundamento a recuperação do criminoso para que não volte a delinquir e 
seja reintegrado à sociedade. Contudo, é mesmo assim um instituto falho.
O autor estabelece uma análise crítica sobre a instituição da 
prisão, tomando-a a partir de paradoxos inerentes à instituição 
prisional. A contradição é apontada, sobretudo no contexto 
de que para ensinar o indivíduo a viver em sociedade, deve-se 
isolá-lo do convívio social. Portanto, prisionização é, para ele, 
a condição essencial de possibilidade para que o indivíduo preso 
cumpra sua pena e, ao mesmo tempo, o principal obstáculo para 
que ele possa voltar a viver na sociedade livre.
Vertentes para uma reforma penitenciária
Propiciar à penitenciária condições de 
realizar a regeneração dos presos.
Dotar o conjunto prisional de suficiente 
número de vagas, de sorte a habilitá-lo a 
recolher toda clientela que, oficialmente, 
lhe é destinada.
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No entanto, a dimensão de sua crítica tem relação com os efeitos que 
a pena causa no individuo, ou seja, o foco dos estudos atuais trazidos 
por Thompson revela sua preocupação com sujeito preso e a falência 
do sistema prisional.
Outro autor da época, José Ricardo Ramalho (2002), na obra “Mundo do 
crime: a ordem pelo avesso”, apresenta a descrição das relações sociais 
estabelecidas na prisão, bem como acerca de críticas desenvolvidas em 
sua pesquisa empírica, cujo cenário foi a Casa de Detenção de São Paulo.
A análise do autor tem como referência a dicotomia mundo do crime/
trabalho, refletida não apenas nos valores e comportamento dos presos 
e servidores da unidade prisional, mas na divisão do próprio presídio. 
Fonte: © [sutadimages] / Shutterstock.
E maneira que o pavilhão 2, reservado aos presos que trabalhavam, 
compunha-se de pessoas mais afastadas do crime, de modo que nos 
pavilhões 8 e 9, o chamado “fundão”, era composto por presos que não 
estariam interessados na recuperação e dispostos a prosseguir no crime 
(Ramalho, 2002). 
De acordo com Ramalho (2002), assim como a diretoria dispunha de 
regras de funcionamento, também a massa do crime reside em regras 
próprias, aplicadas por um preso sobre os outros.
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MÓDULO 1 | Questões históricas e introdutórias sobre a prisão 27
“As regras da cadeia, assim como as leis da justiça de um país, ti-
nham autoridades reconhecidas como tais às quais era atribuído o 
poder de aplicá-las, poder que pairava acima das partes envolvidas.” 
(RAMALHO, 2002, p. 35).
A massa do crime é o “código da malandragem”, e a expressão integra as 
formas de organização da população carcerária, com práticas e valores 
compartilhados entre si. É assim a massa, é assim a prisão. 
Vejamos a seguir o que diz Ramalho (2002) sobre a cadeia.
“Por mais graves que sejam as críticas à cadeia, por mais que se 
chegue à constatação de que ela não cumpre as finalidades bási-
cas pela qual se justifica que ela exista – punição do infrator e sua 
“recuperação” para a sociedade -, por mais que se conclua que ela 
pune em excesso e devolve à sociedade um homem marcado para 
sempre, exatamente por ter passado pela cadeia, ainda assim os 
autores das críticas, eles mesmos, permanecem irremediavelmente 
presos à ideia de que cadeia é vital para a existência da sociedade.” 
(RAMALHO, 2002, p. 115). 
Na sequência, citando Foucault, Ramalho (2002) aponta as críticas sobre 
a prisão e seus métodos. Vejamos a seguir quais são essas críticas.
“À prisão que se resumiam nos seguintes pontos: - as prisões não 
diminuem a taxa de criminalidade; - a detenção provoca a reinci-
dência; - a prisão não pode deixar de fabricar delinquentes, - a prisão 
torna possível, ou melhor, favorece a organização de um meio de 
delinquentes, solidários entre si, hierarquizados, prontos para todas 
as cumplicidades futuras; - as condições dadas aos detentos liberados 
condenam-nos fatalmente à reincidência; - a prisão fabrica indire-
tamente delinquentes, ao fazer cair na miséria a família do detento. 
Na verdade, estas formulações críticas têm se repetido até hoje, e se 
verificam no Brasil.” (FOUCAULT, 1977apud RAMALHO, 2002, p. 115).
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Nessa mesma direção, o autor retoma a problemática proposta por 
Foucault na identificação da função que a prisão exerce na sociedade 
capitalista, a de demarcação e produção da delinquência.
Portanto, há que se pensar em outros meios de responsabilização dife-
rentes da prisão, por mais difícil e complexo que isso pareça.
Veja a seguir uma retomada dos principais pontos deste módulo.
A função que a prisão exerce na sociedade capitalista
Na medida em que o próprio sistema 
– e a própria instituição – define limites 
e demarca quem se considera que é 
recuperável e quem não é, instituindo 
práticas e atividades diferentes para 
cada um desses grupos, ela própria 
contribui de forma decisiva para 
construir a delinquência, separando, 
distinguindo, delimitando.
Diante de tantas críticas que a prisão 
recebe, precisamente quanto ao 
modelo de sistema que não funciona, 
Ramalho apresenta uma consideração 
importante ao apontar que, mesmo 
diante de tantas soluções práticas e 
manifestações de especialistas, que 
essa (a prisão) continua sendo a 
solução para o permanente fracasso 
da prisão (RAMALHO, 2002, p. 119).
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O fato é que a privação da liberdade 
acelera a cultura do aprisionamento 
como medida de diminuição da violência 
e de retribuição do mal, mas, na prática, 
nunca funcionou. Ninguém, assim como 
na época em que a prisão refletia o 
castigo sobre o corpo, deixa de cometer 
delitos em razão da pena instituída.
SÍNTESE DO MÓDULO
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Em suma, identificamos neste módulo que a pena de prisão, 
desde os tempos antigos, esteve associada ao processo de punição, 
no entanto, aparecia como meio, através do qual os indivíduos eram 
mantidos até a execução da pena principal, cruel e fatal, consagrando-se 
como prisão-custódia.
Somente com a aparição do direito canônico, com a prisão eclesiástica, 
que a concepção da prisão como pena ficou mais perceptível, visto que 
as prisões eram utilizadas como meio de arrependimento do indivíduo, 
momento em que ficou conhecida a penitência e o termo penitenciária.
Esse período da história apresentava como principal característica da 
pena a imposição de um sofrimento para aqueles que praticassem algo 
que fosse considerado como um comportamento mal.
Com o desenvolvimento do comércio, após o fim do feudalismo, 
ocorreu o crescimento de pessoas sem trabalho, o que provocou o empo-
brecimento e o aparecimento de pessoas em situação de rua. Esse excesso 
de pobreza necessitou do estabelecimento de rígido controle social.
A sequência do processo de punição advinda do absolutismo enfatizou a 
pena acometida em espetáculos populares, com a aplicação do suplício, 
que tinha como objetivo o castigo cruel.
Com o passar do tempo, houve menos punição de violência contra o 
corpo e mais privativa de liberdade, com exploração da mão de obra e 
o aparecimento das casas de trabalho e correição.
A decorrência – resumida, diga-se – dos fatos, ensejou e garantiu a pena 
privativa de liberdade como meio solução de conflitos sociais.
Nos dias de hoje, a privação da liberdade é embasada em um discurso 
humanitário e apresenta objetivo ressocializador. 
Você finalizou o Módulo 1! 
No Módulo 2 apresentaremos uma visão panorâmica da criminologia.
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	Apresentação
	Objetivos do módulo
	2.3 Idade Moderna
	2.2 Idade Média
	2.1 Antiguidade
	Síntese do Módulo
	Referências

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