Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Manual de Execução Civil Capítulo 1 ○ Tutela justa: inclui não só o direito de receber a tutela (tutela revelada), mas, especialmente, de poder usufruí-la (tutela satisfeita) em condições mais próximas possíveis daquelas que se teria caso não tivesse ocorrido a crise jurídica que teve de ser debelada no Poder Judiciário → tutela justa é aquela que reconhece e permite a fruição do direito ao litigante que seja dela merecedor. ○ Processo cognitivo vs. Processo executivo: ▻ Processo cognitivo: modelo processual dialético destinado a revelar a norma jurídica concreta; amplo e irrestrito contraditório; ▻ Processo executivo: a função jurisdicional precípua é tornar real e eficaz no mundo dos fatos o direito já reconhecido em favor de algum litigante → tutela executiva - diretamente relacionada às crises de cooperação, quando a atuação da norma concreta revelada num título executivo judicial ou extrajudicial, faz-se mediante a realização de atos processuais de império estatal que incidem sobre o mundo dos fatos, com ou sem a colaboração do vencido que, até então, recusou-se a cooperar cumprindo o dever ou a obrigação representados no título executivo; desfecho único: satisfação do direito do exequente; o contraditório fica reduzido à imposição de limites e verificação da regularidade da atividade executiva propriamente dita. Capítulo 2 ○ Crises jurídicas: ▻ Crise de certeza: conflito de interesses no qual se deseja obter do Poder Judiciário uma certeza jurídica acerca da existência ou inexistência de uma relação jurídica. ▻ Situação jurídica: necessidade de se obter do Poder Judiciário uma situação jurídica nova, diversa, portanto, da situação jurídica em crise. ▻ Crise de cooperação: necessidade de se obter do Poder Judiciário o adimplemento da norma jurídica individualizada que não foi cumprida espontaneamente. Os provimentos constitutivos e declaratórios proporcionam a solução desejada para debelar as crises de situação e certeza jurídica; o mesmo não se diz quando se está diante de crises de cooperação. Enquanto as normas jurídicas concretas constitutivas e declaratórias independem do comportamento do vencido para se efetivarem, não é o que se passa com a norma jurídica concreta revelada a partir de uma crise de cooperação. Portanto, há aí um momento posterior à revelação da norma jurídica concreta oriunda de crise de adimplemento, que é justamente a realização fática de seu comendo declarado. ○ Atividade jurisdicional executiva: por intermédio dela, o Poder Judiciário substitui ou estimula (sub-rogação ou coerção) a vontade do executado, atuando a norma jurídica concreta. ○ Intervalo entre a atividade jurisdicional executiva e a atividade jurisdicional cognitiva nas relações obrigacionais: diante da crise instaurada perante o Poder Judiciário, cabe a este declarar a norma jurídica concreta, reconhecendo a existência da relação obrigacional, bem como o direito do credor de exigi-la, motivo pelo qual outorga ao devedor o "direito" de cumprir espontaneamente a prestação devida. Caso este não a cumpra no prazo assinalado pelo juiz no provimento que impõe a prestação, restará então ao credor insatisfeito a necessidade de atuar, na prática, à norma jurídica concreta. Só depois de não cumprida espontaneamente é que nasce o momento executivo. ○ Procedimentos: ▻ Expropriação: pagamento de quantia; ▻ Transformação: fazer ou não fazer; ▻ Desapossamento: entrega de coisa; ○ Provimentos executivos/Atos processuais executivos: emanam do poder do Estado-juiz e têm por finalidade satisfazer à pretensão do exequente, sujeitando o executado a essa finalidade. ▻ Meios sub-rogatórios: o Estado-juiz substitui a atividade do executado, prescindindo da sua vontade, e realiza o direito de exequente; podem ser divididos em instrumentais e finais; as obrigações de entrega de coisa (execução por desapossamento) sugerem o uso desses meios. ▻ Meios coercitivos: são aqueles que não prescinde da vontade do executado, pois atuam diretamente sobre ela, com função coercitiva de pressão psicológica, como se fosse um estimulante positivo no cumprimento da obrigação inadimplida; as obrigações de fazer e não fazer personalíssimas (execução por transformação) exigem a adoção de meios necessários e adequados de coerção. ▻ Prevalece hoje no direito processual brasileiro o princípio da atipicidade do meio executivo, que permite ao magistrado a escolha do meio executivo necessário e adequado à realização da função executiva, tendo em vista as peculiaridades do caso concreto. Mais do que isso, o juiz poderá cumular meios coercitivos com sub-rogatórios se assim entender necessário para a efetivação da norma jurídica concreta. Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; ⤷ Dizer que é necessário o meio executivo significa reconhecer que ele é imprescindível para a satisfação do direito, e o adequado significa dizer que tal meio é o mais apropriado, o que mais se afina, mais justo para a obtenção daquele resultado. ⤷ Não há que se falar em subsidiariedade do art. 139, IV, como se só pudesse ser utilizado após o insucesso dos meios típicos no roteiro procedimental criado pelo legislador para as obrigações de pagar quantia. ○ Classificações da atividade executiva: ▻ Execução provisória e definitiva: provisório é aquilo que será substituído por um definitivo; apenas os cumprimentos de sentença podem ser provisórios ou definitivos porque apenas os títulos judiciais são provisórios ou definitivos → seria provisória a execução ou o cumprimento da decisão sempre que, estando em curso o processo, a decisão exequenda tivesse sido impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo. ▻ Execução específica e genérica: todas as medidas executivas são desenvolvidas, praticadas e realizadas com um sentido específico, qual seja, no sentido de dar ao credor exata e precisamente o bem (a coisa ou o serviço) que por atitude do devedor lhe deveria ter sido ofertado; a execução genérica – que tipifica as obrigações de pagar quantia em razão da fungibilidade e inespecificidade do dinheiro – é assim chamada porque os meios executivos incidem sobre "qualquer bem" (inespecífico) sujeito à responsabilidade patrimonial, e, a rigor, normalmente, para se alcançar o dinheiro, converte-se antes, juridicamente, um bem no valor devido. ▻ Execução direta e indireta: cumprimento espontâneo ou por meio dos meios de sub-rogação estatais. ▻ Execução singular e coletiva: será coletiva a execução quando se tratar de satisfazer direito difuso ou coletivo consagrado no título executivo; individual é a execução voltada à satisfação de pretensões individuais. ▻ Execução universal e singular: execução por quantia certa contra devedor insolvente e execução por quantia contra devedor solvente. Capítulo 3 ○ Diretivas da execução civil: ▻ A solução integral do mérito engloba a satisfação do direito com eficiência e em tempo razoável: ⤷ A solução integral do mérito não se limita a dizer o direito, mas também de satisfazê-lo. ▻ A busca da maior coincidência possível: ⤷ O sistema processual deve esforçar-se para que o jurisdicionado nele encontre um resultado que seja o mais coincidente possível com aquele que teria caso não fosse necessário o processo. ⤷ Para que se obtenha a tutela específica, o Estado deve fazer o possível a fim de que o próprio obrigado cumpra aquilo que já deveria ter cumprido antes da execução contra si reclamada. ⤷ Será muito comum que na execução para cumprimento de obrigações específicas o juiz se valha de meios executivos coercitivos ▻ Amplitude dos meios executivos (típicos e atípicos): ⤷ Cláusula geral da execução → art. 139, IV: o juiz poderá, em cada caso concreto, utilizar o meio executivo que lhe parecer maisadequado para dar, de forma justa e efetiva, a tutela jurisdicional executiva. Por isso, não estará adstrito ao juiz seguir o itinerário de meios executivos previstos pelo legislador. ⤷ A necessidade e a adequação do meio executivo que consta no procedimento padrão é in re ipsa e não precisa ser justificada, mas a adoção do meio atípico em detrimento do típico implica demonstrar fundamentadamente qual ou quais razões levam a prescindir do meio atípico e adotar o meio atípico. Mais do que justificar a medida atípica escolhida, deve explicitar o porquê de não se valer do procedimento padrão. ⤷ Não há subsidiariedade (incidência do art. 139, IV apenas quando falha o procedimento padrão) e tal raciocínio tem levado a certos problemas envolvendo a escorreita distinção entre medidas atípicas (principalmente as coercitivas) e as medidas punitivas contra atos atentatórios à execução praticados pelo executado. E essa confusão se dá porque – para aqueles que raciocinam com base na subsidiariedade do artigo – o gatilho que destrava a utilização deste dispositivo é o mesmo gatilho que destrava a identificação de um comportamento ímprobo, culminando com a incidência do inc. III do mesmo art. 139. Isso porque só se usaria o inc. IV (medidas atípicas) se o procedimento padrão tivesse falhado, mas houvesse indício de ocultação do patrimônio, portanto, conduta que, se confirmada, atenta contra a dignidade da justiça. ▻ Probidade das partes na execução: ⤷ Arts. 5º, 139, III, 77, 772, II e 774. ▻ Sujeitabilidade do patrimônio e menor sacrifício possível: ⤷ Art. 805 → menor sacrifício possível; cláusula geral de proteção do executado contra os excessos da execução; limite jurídico à tutela processual do exequente a qualquer custo. ▻ O procedimento executivo de desfecho único: ⤷ O procedimento executivo não é voltado para ser o mesmo palco dialético do processo cognitivo. Seus atos, sua destinação e seu ritmo são construídos para que o seu desfecho típico seja único: satisfação do direito exequendo. ⤷ Uma das consequências de se ter um modelo estruturado e vocacionado à satisfação do direito é a de que o legislador criou uma espécie de "isolamento"da função executiva (em processo autônomo ou em módulo executivo no cumprimento de sentença), de forma que, uma vez iniciada a tutela executiva, há uma sequência ordenada e ininterrupta de atos voltados à execução e satisfação do direito exequendo. ⤷ Obs: o desfecho único adotado pelo CPC em matéria executiva não é impeditivo nem avesso às soluções consensuais no curso da execução. ▻ A liberdade/disponibilidade na execução: ⤷ A pretensão à satisfação do direito reconhecido no título executivo judicial ou extrajudicial depende de manifesta provocação do interessado. ⤷ O sujeito pode, a qualquer tempo, desistir da execução, seja ela prestada mediante processo autônomo, seja por meio de simples atos executivos de cumprimento da sentença. ⤷ O legislador permite que o exequente faça a cessão de seu crédito no curso da demanda, podendo assumir o polo ativo independentemente de consentimento do executado. ⤷ É possível que exequente e executado, desde que plenamente capazes e versando a execução sobre direitos que admitam autocomposição, possam estipular mudanças no procedimento para ajustá-los às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo, respeitando as prescrições dos arts. 190 e 191. Capítulo 4 ○ Débito e responsabilidade: ▻ Obrigação: situação jurídica caracterizada por uma relação jurídica em que se estabelece um vínculo jurídico entre credor e devedor e cujo objeto desse vínculo consiste numa prestação de dar, fazer ou não fazer. ▻ Schuld (débito) e Haftung (responsabilidade): fenômenos distintos, mas atrelados à relação obrigacional → o débito representado pelo dever de prestar a responsabilidade, na sujeitabilidade do patrimônio do responsável pelo inadimplemento. ⤷ É possível haver débito sem responsabilidade e responsabilidade sem débito → autonomia do débito em relação à responsabilidade patrimonial: nem sempre os dois fenômenos recaem sobre o mesmo sujeito, ainda que se trate de uma mesma obrigação. ▻ Função da responsabilidade patrimonial: garantir o adimplemento. Ela é norma secundária (sanção), que, por isso mesmo, depende da existência de uma norma primária (prestação de uma obrigação) → caráter instrumental da responsabilidade: direito potestativo de submeter o patrimônio do devedor (ou outro garantidor) ao adimplemento da obrigação. ▻ Objeto da execução: toda execução incide sobre bens que compõem o patrimônio do devedor ou de terceiro responsável pela garantia da dívida inadimplida. ▻ Execução indireta: utilização de técnicas processuais que atuam sobre a vontade do executado de forma a pressioná-lo a cumprir a obrigação não adimplida → forma de relativizar a regra de que toda execução recai sobre o patrimônio. ○ Natureza substancial da responsabilidade patrimonial: na relação obrigacional, além do dever de cumprimento da obrigação, há também a responsabilidade patrimonial que vincula os bens do devedor para garantir o direito do credor à custa desses bens. ○ Responsabilidade patrimonial: caráter subsidiário da execução: ▻ Pressupostos lógicos da sujeitabilidade do patrimônio do devedor: ⤷ Regra geral, a situação de sujeição do patrimônio vincula-se a uma relação obrigacional em que os bens do devedor têm uma finalidade sempre subsidiária, que é satisfazer a obrigação inadimplida → execução subsidiária (genérica). ⤷ O sujeito responsável pelo patrimônio que garantirá a execução deve ser titular dos bens expostos à execução, pois é a responsabilidade patrimonial que dá fundamento e suporte ao poder do Estado de invadir o patrimônio do executado para dele retirar os bens adequados para satisfazer a obrigação inadimplida. ▻ Aspectos fundamentais do vínculo entre a responsabilidade patrimonial e o inadimplemento do devedor: ⤷ Essa situação jurídica de responsabilidade do patrimônio do devedor não se confunde com o vínculo obrigacional. ⤷ A responsabilidade patrimonial está prevista em lei e não pode ser excluída ou ignorada, senão pela própria lei nos casos e situações em que ela, lei, entender como pertinentes. ▻ O inadimplemento do devedor é o fato jurídico (indesejável) que faz que a responsabilidade patrimonial deixe de ser uma norma jurídica abstrata e passe a ser uma norma jurídica concreta → com o inadimplemento, há o fenômeno de incidência da responsabilidade patrimonial (norma secundária). ○ Responsabilidade patrimonial, execução por expropriação e execução real: ▻ Em qualquer modalidade de prestação existe a responsabilidade patrimonial. ▻ Apenas no caso de impossibilidade prática de cumprimento da obrigação específica, ou em algumas situações de opção do credor, é que se parte diretamente para o poder de excutir o patrimônio do devedor impondo-se a garantia da responsabilidade patrimonial. ▻ A responsabilidade patrimonial está ligada à tutela executiva expropriatória para pagamento de quantia. ○ Momento de formação da responsabilidade patrimonial: ▻ Devedor: o sujeito passivo da responsabilidade patrimonial não é, necessariamente, o devedor, mas qualquer pessoa, inclusive ele, que pode estar na condição de titular do patrimônio responsável. ▻ Responde com todos os seus bens: ao dizer que o devedor "responde com todos os seus bens", o que pretende o legislador é deixar claro que o patrimônio responsável, conjunto de seus bens e direitos dotados de valor econômico, responde (se submete à expropriação) pelo inadimplemento da obrigação ao qual ele está vinculado. ⤷ Limite: a dívida → todos os bens do patrimônio do responsável estão sujeitos à garantia da dívida no seu exato limite; todos os bens necessários para garantir a integralidade da dívida. ⤷ O estado de sujeitabilidade do patrimônio do responsável nasce com a obrigação, mas incide com o inadimplemento do devedor, e nãoacarreta para tal responsável o congelamento do seu patrimônio ou sua constrição formal. ▻ Bens presentes e futuros: os bens presentes e futuros que se submetem à responsabilidade patrimonial têm como marco temporal (presentes e futuros) a obrigação assumida pelo devedor pois é desde esse momento que existe a responsabilidade patrimonial → são os presentes e os futuros em relação à obrigação assumida, e não em relação à instauração da tutela executiva. ○ Responsabilidade patrimonial e limitação à propriedade do devedor: ▻ Responsabilidade patrimonial como limitador do direito de propriedade: o responsável patrimonial sabe, de antemão, que, no caso de inadimplemento da dívida, são os seus bens que deverão garantir que a obrigação inadimplida seja satisfeita. ▻ Sujeitabilidade: o devedor não só se sujeita a prestar o fato ou ato que constitui o objeto imediato do vínculo jurídico, como ainda deverá saber que estará assumindo outra posição jurídica passiva, de ordem subsidiária àquela → implica uma conduta inibitória do responsável patrimonial no sentido de que não poderá desfalcar o seu patrimônio aquém do nível de equilíbrio entre os seus bens e as suas dívidas → limitador ao livre exercício da propriedade. ▻ O devedor poderia abrir mão da proteção legislativa que lhe foi conferida e permitir, por exemplo, que seu "bem de família" pudesse ser expropriado judicialmente, ofertando-o, ele mesmo, à penhora? "Em nosso sentir, independentemente da verificação da natureza do crédito exequendo, é preciso fazer a precisa hermenêutica da natureza da limitação estabelecida em prol do bem de família. ○ Garantia patrimonial geral e garantia real: ▻ A responsabilidade patrimonial (garantia geral prevista em lei) não afasta a possibilidade de que no mesmo negócio jurídico sejam tomadas outras garantias, reais ou fidejussórias, que assegurem ao credor uma tranquilidade para o caso de inadimplemento do devedor. ○ Responsabilidade patrimonial sobre bens que não mais pertencem ao devedor no momento de instauração da atividade jurisdicional cognitiva ou executiva: ▻ Quando o devedor/responsável decide aliená-lo a tal ponto que, no momento da instauração das medidas executivas ou da própria instauração do processo, exista uma situação de insolvabilidade patrimonial que não seja mais possível garantir a dívida inadimplida. Seria possível penhorar para futura expropriação bens que o devedor/responsável alienou para terceiro após a formação da obrigação? A responsabilidade patrimonial é algo que limita o exercício do domínio do devedor/responsável de tal forma que a parcela de bens que compunham o patrimônio do executado que seriam aptos à satisfação do débito inadimplido fica "gravada" com a pecha da sujeitabilidade à futura execução, mas, por envolver a esfera patrimonial de terceiros adquirentes, estes deverão ter a oportunidade de defender seus direitos com um devido processo legal. Presume-se a má-fé do devedor, mas não a do terceiro. Aquele que sabia que não poderia desfalcar o patrimônio, pois todos os seus bens responderiam pelo seus inadimplemento, mas o terceiro, a não ser que se tenha alguma presunção a seu desfavor, poderia desconhecer a situação do devedor. ○ Tutela da responsabilidade patrimonial: ▻ Pode-se dizer que o credor poderá recorrer ao Poder Judiciário para tutelar o seu direito de crédito ou a proteção do direito à responsabilidade patrimonial que deriva do vínculo obrigacional, quando algum destes estiver sendo ameaçado ou lesionado por quem quer que seja, especialmente pelo próprio devedor. ▻ Proteção preventiva: ocorrerá quando o que se pretende obter pela via do processo é um resultado que evite a redução (ou o não aumento) do patrimônio do responsável, de forma que tal redução (ou não aumento) importaria em um desfalque que comprometeria a sua responsabilidade patrimonial (garantia) pelo eventual inadimplemento do devedor. ▻ Proteção repressiva: é aquela que se volta para uma situação em que a responsabilidade patrimonial já foi afetada, reduzida e comprometida, de forma que o processo deve ofertar ao autor uma situação jurídica que restaure a situação jurídica em que a responsabilidade patrimonial não haveria sido lesada. ○ Individualização patrimonial e remédios repressivos: ▻ Ação pauliana ou revocatória: quando a lesão ao patrimônio do responsável aconteceu entre o nascimento da dívida e a instauração do processo que vise a assegurar o inadimplemento. ▻ "Especialização" da fraude contra credores: quando a lesão aconteceu após a instauração do processo e antes de realizada a apreensão e depósito (penhora) do(s) bem(ns) do responsável → in re ipsa → considerando o caráter público do processo e o respeito à atividade jurisdicional, a medida a ser utilizada para reprimir o referido ato poderia ser a interposição de uma simples petição requerendo ao magistrado a declaração de ineficácia do ato de alienação em fraude à execução. ▻ Fraude à execução: quando a alienação fraudulenta foi do bem já penhorado e antes da expropriação propriamente dita. ○ As fraudes contra o credor e contra a execução - hipóteses e tutela jurídica: Fraude contra o credor Fraude contra a execução Quando o ato ilícito de fraude for cometido antes de instaurada a demanda pelo credor → personagens envolvidos em relação a tal ato: credor, responsável e devedor. Trata-se de ilícito civil. Ação pauliana ou revocatória. Consilium fraudis + eventus damni → ciência do terceiro de que a sua aquisição do bem constituiria uma violação (desfalque) da responsabilidade patrimonial (garantia do adimplemento de uma obrigação) + evento do dano. Quando o ilícito praticado pelo devedor for posterior à instauração do processo → personagens envolvidos em relação a tal ato: credor, responsável, devedor e Estado-juiz. Trata-se de ilícito processual → ato atentatório à dignidade da justiça. Simples petição de objeção formulada pelo exequente nos próprios autos de onde se processa a execução. ▻ Tutelas jurídicas: ⤷ Preventiva: tem por finalidade evitar o desfalque patrimonial indevido. ⤷ Tutela de remoção do ilícito cometido antes de contra ele ter sido instaurada a demanda condenatória ou executória→ ação pauliana. ⤷ Tutela de remoção do ilícito cometido após ter sido instaurada pelo credor a demanda condenatória ou executória → fraude à execução: instauração de um incidente cognitivo. ⤷ Técnica processual destinada ao terceiro adquirente ou em favor de quem foi onerado o bem que, em tese, estava submetido à responsabilidade patrimonial para garantia de outra obrigação → embargos de terceiro. ○ Impenhorabilidade: ▻ Impenhorabilidade X Inalienabilidade: não é correto afirmar que todo bem impenhorável é, também, inalienável, mas o inverso é verdadeiro. ▻ Justificativa para a impenhorabilidade: resguardo da dignidade do executado, conservando um mínimo no patrimônio do devedor, que mantenha a sua dignidade, evitando que a tutela jurisdicional executiva satisfaça o exequente à custa da desgraça total da vida alheia. ▻ Art. 833. ▻ Impenhorabilidade absoluta: bens que estão absolutamente excluídos da responsabilidade patrimonial. ▻ Impenhorabilidade relativa: bens que só serão penhorados se outros não existirem. ▻ Parece existir uma impossibilidade de que o próprio executado (embora seja incomum) disponha do benefício que lhe foi concedido pelo legislador, admitindo a penhora sobre bem tido por impenhorável, se esse for o seu interesse. Estando no campo dos direitos patrimoniais, é permitido a sua disposição pelo próprio executado, embora a jurisprudência seja uníssona em sentido contrário por entender que o motivo do referido rol é proteger a dignidade do executado, e, por isso, indisponível por ele mesmo. ○ Benefício de ordem: direito que tem o fiador de exigir que a ordem de excussão dos bens se inicie, primeiro, com os bens que integrem o patrimônio do devedor; o fiador pode dispor desse instituto; se o fiador assumir a condição de devedor solidário,estará renunciando expressamente ao benefício de ordem. Capítulo 5 ○ Título executivo: representação documental de uma norma jurídica concreta, judicial ou extrajudicial, cujo conteúdo é formado por um sujeito passivo, um sujeito ativo, um objeto e um vínculo jurídico de dever legal ou de obrigação. ○ O intrínseco e o extrínseco do título executivo: ▻ Intrínseco: é a norma jurídica concreta, judicial ou extrajudicial, que em tese deverá ter aspectos objetivos e subjetivos → conteúdo, substância. ⤷ Subjetivos: os sujeitos ativos e passivos do dever ou obrigação. ⤷ Objetivos: compreendem o objeto (o que se deve ou quanto se deve) e o vínculo jurídico que une os sujeitos (existência do dever ou obrigação). ▻ Extrínseco: é o documento físico ou eletrônico (ou o conjunto deles) que exterioriza a norma jurídica concreta → forma. ○ A eficácia executiva abstrata: diz-se que o título executivo é dotado de eficácia executiva abstrata porque a autorização para atuar a norma concreta mesmo contra a vontade do executado (atuar o poder estatal sobre sujeição do executado) não está atrelada à existência do direito material supostamente contido no referido documento → para que ocorram o início e o desenvolvimento da atividade executiva, abstrai-se qualquer análise sobre a existência ou inexistência do suposto direito contido no documento representativo do título executivo. ○ Classificação - judicial e extrajudicial: ▻ Judicial: títulos hauridos em processos jurisdicionais nos quais, de rigor, sua formação terá sido precedida de todas as garantias inerentes ao devido processo legal → cumprimento de sentença → sem necessidade de instauração de um processo autônomo de execução; regra geral é a de que o juízo competente é aquele mesmo de onde emanou o provimento judicial executivo; só será possível impugnar a execução nos limites previstos nos limites do art. 525; ▻ Extrajudicial: títulos hauridos em mecanismo não jurisdicional, e, como tal, sem a chancela do devido processo legal em sentido processual → deverá ser instaurado um processo formalmente autônomo mediante o exercício de ação executiva; porque não foi precedido de um devido processo legal jurisdicional, a norma jurídica concreta nele contida fica sujeita a todo e qualquer argumento ou fundamento que o impugnante poderia opor como defesa no processo de conhecimento. ○ Liquidez, certeza e exigibilidade: são aspectos fundamentais exigidos nos arts. 783 e 784 do CPC apenas como fatores condicionantes e viabilizadores da tutela jurisdicional executiva, pois, sem eles, não será possível realizar os atos de execução forçada, pois não se saberá a espécie da execução a ser empregada, a favor de quem e contra quem deve ela acontecer; não se saberá se já é o momento de se executar; ou ainda qual o quantum da execução.
Compartilhar