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Julia zonta de moura- medicina legal -prof: Matheus -2023.2 Asfixiologia Forense CONCEITOS INICIAIS · Baseia-se no estudo das energias de ordem físico-químicas. · Segundo França, asfixiologia forense se enquadra no estudo da traumatologia forense, no que tange aos fenômenos de ordem físico- química. · O termo “asfixia” é extremamente abrangente e pode englobar várias causas de morte. Para a medicina legal, interessa três espécies de asfixias: primitiva, violenta e mecânica. ASFIXIA PRIMITIVA OU PRIMÁRIA · A asfixia é a causa primária ou direta da morte. · Não é efeito de fenômeno orgânico prévio (doença cardíaca, fibrose pulmonar). ASFIXIA SECUNDÁRIA ASFIXIA VIOLENTA · Modo como a morte por asfixia se concretizou, por consequência de violência. · Modalidade não natural. · Importância médico-legal. • Extremamente importante estabelecer o nexo causal. ASFIXIA VIOLENTA ASFIXIA MECÂNICA · É classificada quanto ao meio (ambiente escasso em oxigênio). · Ocorre por privação de oxigênio ocasionada por um obstáculo mecânico à penetração do ar atmosférico. · Déficit da ventilação pulmonar. · Apresenta diversas fases por meio do aparecimento de diferentes manifestações clínicas. ASFIXIA – 1º FASE · Conhecida como “etapa cerebral”, caracterizada pelo aparecimento de · enjoos, vertigens, sensação de angústia e lipotimias. · Ao redor de um minuto e meio, ocorre a perda da consciência de forma brusca e rápida. · Surge a bradipneia e taquisfigmia (duração de 1 a 2 minutos). ASFIXIA – 2º FASE · Fase de excitação cortical e medular. · Convulsões generalizadas, contração da musculatura acessória da respiração e da face. · Relaxamento esfincteriano. · Surge a bradicardia e aumento da pressão arterial (3 a 4 minutos). ASFIXIA – 3º FASE · Fase de respiratória. · Lentidão e superficialidade dos movimentos respiratórios. · Insuficiência ventricular direita. · 5 a 6 minutos. ASFIXIA – 4ºFASE · Fase de cardíaca. · Sofrimento do miocárdio, bradicardia severa, arritmia, pulsos quase ausentes. · Tênues contrações auriculares, sem ejeção sanguínea. · 7 a 15 minutos. SINAIS EXTERNOS DE ASFIXIA · Face cianótica (máscara equimótica azulada, cianose cervicofacial de Le Dentut). · Globos oculares proeminentes (hemorragia na conjuntiva ocular) · Língua projetada. · Cogumelo de espuma (bolhas de espuma que cobrem a boca) – comum em troca de ambiente, como afogamento – meio gasoso para o líquido. CIANOSE CERVICOFACIAL DE LE DENTUT OU MARCA DE MORESTIN SINAIS INTERNOS · Sangue escuro nas cavidades cardíacas e acúmulo de sangue no fígado e rins. · Pulmões com pequenas manchas avermelhadas (hemorragia secundária à hipertensão arterial). · Essas pequenas “manchas” pulmonares ganham o nome de Manchas de Tardieu. MANCHAS DE TARDIEU SINAIS INTERNOS - CARÓTIDAS · Em certos tipos de asfixia so exame das carótidas poderá ser realizado. · Presença de sufusão hemorrágica na túnica externa(sinal de Friedberg). · Secção transversal na túnica interna, próximo à bifurcação (sinal de Amussat). · Rupturas longitudinais em meia lua(marcas de França). INTERESSE JURÍDICO · A asfixia é considerada meio cruel de matar, pois o processo asfíxico somente produz a morte com cerca de cinco minutos, sendo meio demorado de produzir a morte, com intenso sofrimento da vítima, o que nos mostra o inequívoco dolo de matar. · A consequência jurídica é que a morte em legítima defesa através da asfixia, é muito difícil de ser aceita, uma vez que vindo a pessoa a desfalecer no primeiro minuto, tem o agressor mais quatro minutos para arrepender-se e sustar o processo asfíxico, o que em regra, não ocorre. ASFIXIAS POR CONSTRIÇÃO CERVICAL · Enforcamento. · Estrangulamento. · Esganadura. ENFORCAMENTO · Constrição do pescoço por intermédio de uma força aplicada pelo próprio corpo que pende sobre o laço. · Enforcamento completo (os pés não tocam o chão) e incompleto (os pés tocam o chão). · O “sulco” (depressão linear na pele – lesão ou marca da corda na pele) no enforcamento completo tem as seguintes características: - Oblíquo ascendente e descontínuo. - Apergaminhado. - Com profundidade desigual (a profundidade do sulco é maior na região oposta ao nó e interrompida na altura do nó). - por cima da cartilagem tireoide FRATURA DO ENFORCADO • HIPEREXTENSÃO E DISTRAÇÃO DE C2 (QUEDA MÍNIMA DE 1,5 M / ALTURA). ASPECTOS GERAIS DO CADÁVER · Cabeça voltada para o lado contrário do nó · Face branca ou arroxeada · Espuma sanguinolenta em boca e narinas, · Língua cianótica e projetada para fora · Pavilhão auricular violáceo · Olhos protrusos · Otorragia ocasional · Posição dos membros típica – estendidos ao longo do corpo · Manchas de hipóstase na metade inferior do corpo SINAIS ENCONTRADOS NO SULCO DA LESÃO DE ENFORCAMENTO · Sinal de Ponsold: livores cadavéricos em placas, por cima e por baixo das bordas dos sulcos. · Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco. · Sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes por cima e por baixo das bordas do sulco. · Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas punctiformes no fundo do sulco. · Sinal de Ambroise Parê: pele enrugada e esconada no fundo do sulco. · Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco. · Sinal de Bonnet: marcas de trauma do laço. Rupturas dos ligamentos cricóideo e tireóideo. · Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea. ENFORCAMENTO ESTRANGULAMENTO · Constrição do pescoço por corda ou outro mecanismo acionado por força que não seja o próprio peso da pessoa. · Caracterizado por uso de laço ou mecanismo similar, como chave de braço, gravata, etc. · Há interrupção da passagem de ar para os pulmões (traqueia), parada de fluxo sanguíneo cerebral (carótidas, vertebrais e jugulares) e compressão dos nervos cervicais. · É característico do homicídio. · Extremamente incomum no suicídio. · Sulco cervical transversal e horizontal, contínuo (não há nó típico) e de profundidade homogênea, podendo ter mais de uma volta. · Face tumefeita e violácea devido à obstrução da circulação arterial e venosa. · Lábios e orelhas arroxeados. · Língua se projeta além das arcadas dentárias e é extremamente escura. · Equimoses de pequenas dimensões na face, conjuntiva, pescoço e face anterior do tórax. ESTRANGULAMENTO ESGANADURA · Constrição do pescoço produzida pela ação direta das mãos do agente. · Asfixia essencialmente homicida, via de regra existindo superioridade das forças. · Comum no infanticídio e estupros qualificados pela morte. · Não existe sulco, no seu lugar há os estigmas ungueais que são as marcas das unhas no pescoço da vítima (região ântero-lateral). · Podem estar presentes equimoses localizadas bilateralmente na região do pescoço, secundário à ação compressiva dos dedos das mãos do agressor. · Pode ocorrer fratura do hioide. · Morte é decorrente de: -Compressão do pescoço (inibição vagal). -Asfixia. FRATURA DE HIOIDE ESGANADURA · Mecanismos de morte: -respiratório. -circulatório. -nervoso. · A obstrução respiratória é a mais importante e resulta da compressão direta exercida sobre a laringe, fechando a glote, seja do seu deslocamento para cima e posterior, de modo a fechar a passagem do ar na faringe. · Geralmente, essa obstrução ocorre de forma intermitente por causa da “luta”. · Assim, há prolongamento da asfixia por um tempo maior do que o que observa nas outras formas de constrição cervical, porque a vitima consegue fazer algumas inspirações. · O mecanismos nervoso é mais relevante em comparação ao enforcamento, o fator nervoso é a excitação dos seios carotídeos, que produz resposta reflexa através do nervo vago. PECULIARIDADES CADAVÉRICAS NAS ASFIXIAS MECÂNICAS · Livores de decúbito mais extensos, mais escuros e mais precoces. · Esfriamento do cadáver severifica em proporção mais lenta. · A rigidez cadavérica, mesmo sendo mais lenta, mostra-se intensa e prolongada. · Putrefação é muito mais precoce e mais acelerada que nas demais causas de morte. CONSTRIÇÕES CERVICAIS ASFIXIAS POR SUFOCAÇÃO · Sufocação direta ou ativa. -Oclusão dos orifícios das vias aéreas. -Soterramento (sólidos). -Confinamento (gases). -Afogamento (líquido). · Sufocação indireta ou passiva - Compressão torácica. SUFOCAÇÃO INDIRETA · Canais respiratórios livres e sem compressão torácica. · Pode ser acidental ou homicida. · Exaustão da musculatura respiratória (crucificação). · Paralisia da musculatura respiratória (curare). · Em espasmo: eletroplessão, drogas contraturantes. · Em flacidez: drogas relaxantes musculares. ASFIXIAS POR MUDANÇA DO MEIO · Meio líquido – afogamento. · Meio com gases irrespiráveis - Confinamento. · Meio com sólido granular (grãos, terra) - Soterramento. SOTERRAMENTO · Vítima embaixo de meio granular, mais comumente da terra · Pode ter componente por compressão torácica, TCE, hemorragia (não necessariamente da troca do meio). · Presença de resíduos sólidos pulverulentos (terra, areia, farinha ou outros) nas porções mais internas da árvore respiratória. · Material nas vias aéreas - Indica que a vítima estava viva e aspirou o material – causa morte. CONFINAMENTO · Espaço restrito e sem renovação do ar atmosférico. · Esgotamento do oxigênio. · Aumento gradativo do gás carbônico. AFOGAMENTO · Troca do meio gasoso para o meio líquido. · Água do mar – meio externo hiperosmótico – edema pulmonar extenso. · Água doce – meio de baixa osmolaridade – fibrilação ventricular devido à alterações eletrolíticas do sangue e pela entrada de água nos pulmões indo até o coração. DINÂMICA DE FLUTUAÇÃO · Primeira imersão: Densidade do corpo maior que a da água, ingestão e aspiração de líquido. · Primeira flutuação: Devida à putrefação, com formação de gases e diminuição da densidade do corpo (de 24 horas a 5 dias). · Segunda imersão: Devida à rotura de tecidos moles e pele, com esvaziamento dos gases. · Segunda flutuação: Devida à evolução para adipocera (substância gordurosa de consistência cérea na qual tecidos animais mortos se convertem), com redução do peso específico do corpo. SINAIS EXTERNOS DO ORGANISMO SUBMERSO · Roupa e cabelos molhados. · Retração cutânea, escroto e mamilos. · Corpos estranhos na superfície corporal. · Embranquecimento da pele. · Maceração palmar e plantar. · Destacamento epidérmico. · Cutis anserina (é a contração dos músculos piloeretores promovendo um arrepiamento geral no corpo). · Livores róseos. · Mancha verde se inicia pela face e pescoço (putrefação). · Agigantamento do cadáver devido à putrefação,produção de gases e embebimento aquoso. · Presença de lesões provocadas por animais aquáticos. - Atacam principalmente lábios, partes moles, nariz, pálpebras e orelhas. SINAIS INTERNOS DO ORGANISMO SUBMERSO 1) Sinais gerais de asfixia 2) Líquido nas vias respiratórias (com eventuais corpos estranhos) 3) Pulmões: muito aumentados e cheios de líquido (enfisema aquoso), equimoses subpleurais 4) Diluição do sangue 5) Líquido no sistema digestório; 6) “Mãos de lavadeira” – ondulação da epiderme nos dedos; 7) Líquido no ouvido médio; 8) Hemorragia temporal 9) Hemorragia etmoidal MANCHAS DE PALTAUF · Equimoses vermelhas no parênquima pulmonar – ruptura de paredes alveolares. COGUMELO DE ESPUMA AFOGADO AZUL · Morreu em contato com a água. · Esse é o VERDADEIRO AFOGADO – o afogamento foi a causa morte verdadeira. · Durante necrópsia, o perito encontra os sinais típicos do afogado, com água dentro das vias respiratórias. AFOGADO BRANCO · Morreu por outra causa, antes do contato com a água. · Esse é o FALSO AFOGADO– o afogamento NÃO foi a causa morte verdadeira. · Durante necrópsia, o perito não encontra os sinais típicos do afogado, tampouco água dentro das vias respiratórias. AFOGAMENTO · NÃO É NECESSÁRIO QUE O CORPO INTEIRO ESTEJA SUBMERSO EM ÁGUA. · BASTA QUE AS VIAS AÉREAS SEJAM BLOQUEADAS PELO EFEITO DA ASPIRAÇÃO DE ÁGUA.