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RELIGIÃO FÉ E MODERNIDADE


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RELIGIÃO, FÉ E MODERNIDADE 
Professor Dr. Rafael Moreira Dardaque Mucinhato 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
 
1 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. Religiões e dinâmica demográfica no mundo 
 
Objetivo: 
 
Há inúmeras transformações em curso no mundo contemporâneo. Processos migratórios, 
aumento da urbanização, crescimento populacional em alguns países enquanto outros 
decrescem, etc. Um desses processos está ligado às transformações no perfil religioso da 
população mundial, que será o enfoque desta primeira aula da disciplina. 
 
 
1. Introdução 
 
Durante algum tempo, sob influência do Iluminismo, acreditou-se que a religião perderia 
sua relevância social (Berger, 1999). Associada à modernidade, a mentalidade secular – 
que nega a capacidade explicativa das religiões - se expandiria pelos confins do mundo e 
relegaria à religião, quando muito, a tímida existência no calabouço da intimidade dos 
sujeitos. Grosso modo, aqueles que se sustentavam - e ainda sustentam - a hipótese da 
secularização acreditavam que a religião perderia seu potencial de interpretação do mundo. 
Contudo, a modernização atingiu grande parte do globo com seus meios de comunicação, 
sua ciência, meios de transportes cada vez mais velozes e com governos do tipo 
burocrático-racional sem que isso levasse ao crepúsculo do sagrado e das religiões como 
um todo (Silveira, 2011). 
O sociólogo Peter Berger foi um dos que renunciaram à hipótese da secularização, tão 
enfatizada por ele na década de 1960. O autor entende que, se por um lado, a modernidade 
significou de fato o abandono de determinados quadros religiosos, por outro, ela fez surgir 
inúmeras outras expressões religiosas de resistência, contra-seculares, que 
buscaram/buscam preencher algumas das lacunas oriundas daquilo que nogeral se chama 
de “desencantamento” do mundo. O sociólogo chama esse novo momento de 
“dessecularização do mundo” (Berger, 2009) e reivindica o surgimento de um novo 
paradigma para os estudos da religião, que leve em conta a existência de dois pluralismos: 
a coexistências de diferentes religiões, e a coexistências de discursos religiosos e seculares 
(Berger, 2017). 
Nesse sentido, o estudo dos fenômenos religiosos é imprescindível para o entendimento 
do mundo contemporâneo (Silveira, 2011), haja visto a influência que elas ainda exercem 
sobre a humanidade. Além disso, considerando que as sociedades estão em permanente 
 
 
2 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
transformação, deve-se considerar também o fato de que o perfil religioso da população 
mundial como um todo também está em constante transformação, com algumas religiões 
ganhando terreno enquanto outras encolhem. É sobre essa dinâmica que trataremos nesta 
aula introdutória. 
 
2. A origem das religiões 
 
Do latim religio, que significa reatar, religar, (Campbell, 2008), a religião é um conjunto de 
narrativas e ou saberes que postulam uma realidade unificada e ordenada a partir de forças 
superiores (seja um ser pessoal ou não) cuja natureza é absolutamente diversa da humana. 
Além de explorarem essa natureza, as narrativas religiosas estabelecem caminhos de 
comunicação ou formas de interação entre o plano superior/eterno, no qual habitam deuses, 
espíritos e outras tantas forças sobre-humanas, com o nosso mundo, o mundo da 
contingência, da finitude e da precariedade (Berger, 2009). 
A origem das religiões está associada à chamada Era Axial. A proposição de uma era axial, 
durando aproximadamente entre 800 e 200 a.C. e ocorrendo nas principais civilizações do 
mundo antigo (China, Índia e Oriente Próximo), independentes umas das outras, foi 
primeiramente introduzida por Alfred Weber e Karl Jaspers (Schuluchter, 2017). Axial diz 
respeito a eixo. Foi, portanto, quando o homem começou “a buscar o seu eixo” ou, segundo 
Jaspers, quando passamos a prestar atenção em nós mesmos. Segundo a escritora inglesa 
Karen Armstrong, uma das mais respeitadas estudiosas sobre as religiões, nessa época as 
pessoas discutiam sobre espiritualidade com o mesmo entusiasmo com que hoje se discute 
futebol1. 
 
1ht tps:/ /super.abr i l .com.br /h is tor ia/o-pr incipe-hindu-s idarta-gautama-o- i luminado/ 
 
 
3 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Representação de Sidarta Gautama 
Fontes: https://www1.folha.uol.com.br/webstories/cultura/2021/09/buda-a-historia-de-sidarta-gautama/ 
 
Os historiadores ainda não sabem o que causou esse despertar para a religião e para a 
filosofia, nem por que ele se concentrou na China, no Mediterrâneo Oriental, na Índia e no 
Irã. Acredita-se que com as sociedades agrícolas, mais estáveis, o homem ganhou tempo 
extra para dedicar-se à contemplação. A título de exemplo, foi nesse período em que a 
Índia vivia em ebulição cultural que nasceu Sidarta Gautama, mais conhecido como o Buda, 
fundador histórico do Budismo (Paula, 2002). 
 
Porém, o cenário religioso global nos dias de hoje é muito diferente daquele da Era Axial. 
Com o passar dos séculos, novas religiões foram surgindo, associadas a diferentes 
culturas, e que passaram a se espalhar pelo mundo conforme as correntes migratórias 
passaram a se expandir e as trocas comerciais entre os diferentes continentes passaram a 
se tornar mais densas e frequentes. Com o processo de globalização, não existem mais 
 
 
4 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
limites geográficos para as grandes religiões mundiais. Passemos agora a uma análise do 
atual cenário demográfico das religiões e como elas estão em transformação. 
 
3. Transformações contemporâneas do perfil religioso no mundo 
 
Globalmente, mais de 8 a cada grupo de 10 pessoas se identifica com alguma filiação 
religiosa, enquanto cerca de 1,2 bilhão de pessoas (ou 16 % da população global) não se 
identifica com nenhuma religião. 
Os cristãos (incluindo católicos romanos, ortodoxos e protestantes) são o grupo religioso 
mais numeroso do mundo, com 2,3 bilhões de pessoas (PewResearch Center, 2017). Eles 
são o grupo mais equilibradamente distribuído por todos os continentes, e as Américas, 
assim como a Europa e a África subsahariana, são o lar da maioria dos cristãos do planeta. 
Porém, cabe destacar que todo o continente americano atravessa um processo de 
pluralidade religiosa cada vez maior. Os cristãos também possuem a maior quantidade de 
países no qual são o grupo religioso majoritário, como se pode ver no mapa abaixo. 
Religião majoritária por país 
Fontes: https://www.pewresearch.org/wp-content/uploads/sites/7/2012/12/20_religionCountryMap.png 
 
A religião islâmica (incluindo sunitas e xitas) é atualmente a segunda maior religião do 
mundo, sendo a religião adotada por cerca de 1,8 bilhão de pessoas. A maioria dos seus 
fiéis está localizada no continente africano e no continente asiático. Contrariamente ao que 
muitos imaginariam os mais populosos países muçulmanos do mundo não se encontram 
 
 
5 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
no Oriente Médio, mas sim na Ásia. O maior país muçulmano do mundo é a Indonésia, com 
uma população total de mais de 260 milhões de habitantes, seguido por outros três países 
asiáticos: Paquistão, Índia e Bangladesh. Pelo menos nos dias atuais: em 2050, calcula-se 
que o país com a maior comunidade islâmica do mundo será a Índia, que hoje tem como 
maior grupo religioso o hindu (PewResearch Center, 2017). Porém o islã vai além desses 
continentes. 
A fé islâmica está em expansão em outros continentes, como a América do Norte e a 
Europa e é a religião que mais cresce no planeta. Segundo alguns estudos de projeção 
demográfica, a população de muçulmanos crescerá 73% entre 2010 e 2050, em 
comparação com um aumento de 35% dos cristãos, e 37% da população mundial. Sendoassim, se ambas as religiões mantiverem o atual índice de evolução, os seguidores do islã 
serão mais numerosos na década de 2070 (PewResearch Center, 2017). 
Fonte: https://network.grupoabril.com.br/wp-content/uploads/sites/4/2018/01/pag23.png 
 
Por sua vez, o hinduísmo, com toda sua pluralidade de deuses, deusas, e vertentes 
internas, representam o terceiro maior grupo religioso do mundo contemporâneo. São 
atualmente cerca de 1,1 bilhão de hindus (15,1% da população mundial), altamente 
concentrados na região da Ásia – Pacífico (PewResearch Center, 2017). 97% dos hindus 
vivem nos únicos três países em que são maioria: Nepal, Índia e Ilhas Maurício. 
Hinduísmo é uma expressão originária da palavra hindu, derivada de sindhu, um termo 
comum para dar nome ao rio Indo, região em que a civilização do Vale do Indo se 
desenvolveu, até se tornar o Estado moderno da Índia. Seus cidadãos foram chamados de 
hindoo pela primeira vez no século XVIII e, ainda que o hinduísmo seja um título dado pelos 
ocidentais, observe que se trata de uma palavra coerente para expressar a cultura indiana. 
 
 
6 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O hinduísmo cresceu e se desenvolveu no decorrer dos últimos 4 mil anos, disseminado 
em toda a Índia e em alguns outros lugares do mundo por meio de uma grande variedade 
de seitas e há literalmente milhões de deuses e deusas hindus. 
 
 
 
O budismo é uma religião politeísta e extremamente plural que se orienta 
pelos “vedas”. A palavra veda significa “sabedoria” na antiga língua indiana do 
sânscrito, e ela compõe o título dos quatro livros de versos e hinos sagrados 
do hinduísmo, que são os escritos mais antigos da espiritualidade indiana 
(Ruppell Junior, 2020) compreendidos como “os livros do conhecimento”: Rig-
Veda,Yajur-Veda, Sama-Veda e Atharva-Veda. No entanto, sempre que 
citamos essa palavra e título – vedas – não estamos nos referindo somente aos 
livros de versos, pois os assim chamados “livros dos vedas” são compostos 
igualmente pelos comentários e reflexões relacionados a cada um dos livros 
de hinos, que são os bramanas, os aranyakas, e os upanishads (idem ibidem). 
Nesse sentido, cada um dos quatro vedas é uma coleção de livros distinta, e 
tem os seus próprios livros e versos (samhitas), seus próprios manuais 
(brâmanas), além de seus particulares aranyakas e upanishads, que são os 
textos de reflexão. 
Fonte: Ruppel Junior, 2020. 
 
 
Brahma, deus hindu da criação. 
Fontes: https://segredosdomundo.r7.com/wp-content/uploads/2020/07/deus-brahma-a-historia-do-deus-
hindu-responsavel-pela-criacao-1.jpg 
 
 
 
 
7 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Por fim, cabe destacar os budistas, que são o quarto maior grupo religioso do mundo 
contemporâneo. São 500 milhões de seguidores de alguma vertente budista mundo afora, 
o que representa cerca de 6,9% da população global. Assim como os hindus, os budistas 
estão altamente concentrados nas regiões da Ásia e do Pacífico, onde estão 99% dos seus 
seguidores, com a especificidade de viverem majoritariamente em países onde eles são 
uma minoria religiosa. Apenas 3 em cada 10 vivem em um dos sete países onde os budistas 
são a maioria religiosa: Butão, Myanmar, Camboja, Laos, Mongólia, Sri Lanka e Tailândia. 
Mas curiosamente o maior templo budista do mundo não esta localizado em nenhum 
desses países, mas sim na Indonésia. 
 
Templo Borobudur, o maior templo budista do mundo, localizado na 
Ilha de Java, na Indonésia 
Fontes: https://st3.depositphotos.com/16392590/33272/i/450/depositphotos_332728206-stock-photo-world-
biggest-buddhist-temple-aerial.jpg 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
As religiões surgiram para a humanidade durante o período chamado de Era 
Axial. Desde então elas se transformaram e se espalharam pelo mundo, 
levando a um cenário de profunda pluralidade no mundo moderno, no qual 
convivem lado a lado, muitas vezes dentro das mesmas fronteiras de um país, 
múltiplas práticas religiosas e um contingente significativo de pessoas sem 
qualquer filiação religiosa. 
 
 
 
 
 
 
Almeida, M.R.H.2005. Religião e modernidade: algumas conclusões acerca do 
processo de secularização no ocidente. Cadernos de Campo: Revista de 
Ciências Sociais, n. 11; 
Berger, P. 1999. (org.) The desecularization of the world: resurgment religion 
and world politics. Washington D.C.: Ethics and Public Policy Center; 
GrandRapids, Michigan: Willian B. Eerdmans Publishing Company; 
___________2009.O dossel do sagrado. Trad. José Carlos Barcellos. São Paulo: 
Paulus, 2009; 
___________2017. Os múltiplos altares da modernidade. Petrópolis: Editora 
Vozes; 
Campbell, J. 2008. As máscaras de Deus: mitologia ocidental. São Paulo: Palas 
Athena; 
Paula, C. de 2002. O príncipe hindu Sidarta Gautama, o iluminado. Revista 
Superinteressante; 
Pew Research Center, 2017.“The Changing Global Religious 
Landscape”.Disponível em: https://www.pewresearch.org/religion/wp-
content/uploads/sites/7/2017/04/FULL-REPORT-WITH-APPENDIXES-A-AND-
B-APRIL-3.pdf ; 
Ruppel Junior, I. S. 2020. Dos vedas ao hinduísmo. Curitiba: Editora 
Intersaberes; 
Silveira, J. P.P. 2011. Narrativas religiosas e a modernidade tardia: entre a 
adesão e a rejeição do mundo. MNEME – REVISTA DE HUMANIDADES, 11(29), 
2011 – JAN / JULHO. Disponível em 
http://www.periodicos.ufrn.br/ojs/index.php/mneme; 
Schluchter, W. 2017. A modernidade: uma nova era axial? Política & 
Sociedade; Florianópolis Vol. 16, Ed. 36,(May-Aug 2017): 20-43. 
 
 
 
 
https://www.pewresearch.org/religion/wp-content/uploads/sites/7/2017/04/FULL-REPORT-WITH-APPENDIXES-A-AND-B-APRIL-3.pdf
https://www.pewresearch.org/religion/wp-content/uploads/sites/7/2017/04/FULL-REPORT-WITH-APPENDIXES-A-AND-B-APRIL-3.pdf
https://www.pewresearch.org/religion/wp-content/uploads/sites/7/2017/04/FULL-REPORT-WITH-APPENDIXES-A-AND-B-APRIL-3.pdf
http://www.periodicos.ufrn.br/ojs/index.php/mneme
 
 
9 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. Religiões e dinâmica demográfica no Brasil 
 
Objetivo: 
Apresentar aos estudantes os processos de transformação que estão em curso atualmente 
no perfil religioso da população brasileira, com destaque para a queda na proporção de 
católicos e o crescimento dos evangélicos, sobretudo os neopentecostais, o que mantem o 
país como sendo de maioria cristã desde o período da colonização do seu território. 
 
 
1. Introdução 
Como vimos na aula passada, o perfil religioso da população global está em permanente 
transformação. Enquanto os cristãos seguem sendo o maior grupo religioso do mundo, em 
alguns países há uma queda na proporção de católicos dentro deste grupo. Já em outros 
países, a quantidade de seguidores da religião islâmica está em crescimento, assim como 
de outras religiões, tal como o budismo, o que tem levado a mudanças no perfil religioso de 
algumas nações. Mas como se encaixa o Brasil nessas transformações? 
O Brasil está no topo do ranking de países onde mais se acredita em Deus2, num ranking 
de 26 países elaborado pelo Ipsos, com base em uma plataforma online de monitoramento 
que coleta informações sobre o comportamento destas populações. O Brasil aparece 
empatado com África do Sul, que teve os mesmos 89%, e Colômbia, com 86% - um empate 
técnico dada a margem de erro de 3,5 pontos percentuais da pesquisa. Expressões como 
"Vai com Deus.", "Graças a Deus!", "Deus me livre.", e "Só Deus sabe…" talvez sejam 
algumas das mais ouvidas em nosso cotidiano, num país onde fé, espiritualidade e cultura 
estão intimamente relacionadas, das altas esferas de poder ao cotidiano do cidadão 
comum. 
 
 
 
2https://www.bbc.com/portuguese/art icles/c29r21r69j8o 
 
 
10 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília- Educação a Distância 
Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c29r21r69j8o 
 
Porém, esses dados, se não forem analisados de maneira mais pormenorizada, escondem 
profundas transformações que estão em curso no perfil religioso da população brasileira, 
com implicações inclusive na nossa esfera política (Mucinhato, 2014). Transformações 
estas que iremos analisar nas próximas seções. 
 
2. Crescem os evangélicos, diminuem os católicos 
 
Tal como os demais países do Ocidente, o Brasil é uma nação com histórica predominância 
cristã, possuindo – em consonância com o restante da América Latina – sua maioria 
populacional católica. No primeiro recenseamento nacional em que o quesito religião foi 
considerado, em 1872, praticamente toda a população (99,72%) assim se identificou, 
 
 
11 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
apontando algo que perduraria por muito tempo: a conjugação entre a identidade católica 
e a brasileira (Souza, 2019). 
A religião voltaria a fazer parte do censo demográfico em 1940, já sob a condução do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), criado na década anterior. Naquele 
primeiro levantamento da série histórica, passadas sete décadas desde o anterior, o 
catolicismo prosseguia reinando quase que absoluto, com 95,2% da população nacional, 
quase sem haver conversão ao protestantismo, então com crescimento vegetativo, cifra 
total de 2,6% e grande predominância de sua vertente histórica (ou a 1ª “onda do 
protestantismo”), abarcando: luteranos, anglicanos, presbiterianos, batistas e metodistas. 
Ainda era modesto o avanço das duas igrejas pentecostais que haviam sido aqui 
implantadas na primeira década do século: Congregação Cristã do Brasil (1910) e 
Assembleia de Deus (1911). 
 
 
 
O Brasil atravessou três ondas de crescimento do pentecostalismo em sua 
história. Na “primeira onda”, que se deu nas quatro primeiras décadas do 
século XX, temos o chamado “pentecostalismo clássico” ou “histórico”; a 
“segunda onda” ocorreu nas décadas de 1940 a 1980; a “terceira onda” 
ocorreu a partir dos anos 1980 com a predominância do que se denominou 
“neopentecostalismo”. 
Na Primeira Onda (décadas de 1910 a 1950), as duas principais igrejas 
pentecostais no Brasil foram Congregação Cristã no Brasil (CCB), fundada em 
1910, e Assembleias de Deus (ADs), fundadas em 1911. Ambas têm 
similaridades, pois foram fundadas por migrantes europeus pobres que 
conheceram a doutrina pentecostal nos EUA. Contudo, ironicamente, são 
visceralmente distintas. São idênticas na pentecostalidade (ainda hoje), mas 
absolutamente diferentes modelos dos pentecostalismos (muito mais hoje). 
Durante a Segunda Onda, considerada como os “Pentecostalismos de 
transição” (décadas de 1950-1980), o Brasil se urbanizou, industrializou e 
iniciou a expansão dos meios de comunicação. As três igrejas que se 
destacaram foram marcadas pela presença na mídia, como a Igreja Brasil para 
Cristo (1955), Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962), ambas brasileiras, e a 
Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), vinda dos EUA. Não é possível 
delimitar, nesse período, o número de igrejas, suas características, se a 
heterogeneidade dos pentecostalismos se acentuou ou se houve mudanças 
até na pentecostalidade. 
Por fim, na Terceira onda conhecida como os Neopentecostalismos (década de 
1980 em diante) o prefixo neo não dá conta da complexidade que representa 
 
 
12 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
estas formas de pentecostalismo pois muito do que apareceu não era novo, 
mas antigas práticas remodeladas. Se nas décadas anteriores foi difícil 
delimitar, no Brasil urbano e pós-ditadura militar, é impossível saber quantos 
pentecostalismos ou quantas igrejas pentecostais existem. 
No entanto, em função da visibilidade midiática e presença quantitativa, 
indicamos as seguintes representantes do neopentecostalismo: Igreja Nova 
Vida (1960), Igreja Universal do Reino de Deus (1977), Igreja Internacional da 
Graça de Deus (1980), Igreja Apostólica Renascer em Cristo (1986) e 
Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra (1992). Além dessas foram criadas 
centenas ou milhares de outras igrejas, mas muitas com vida curta de duração. 
Fonte: https://religiaoepoder.org.br/artigo/pentecostalismos-no-
brasil/#:~:text=Na%20%E2%80%9Cprimeira%20onda%E2%80%9D%2C%20qu
e,que%20se%20denominou%20%E2%80%9Cneopentecostalismo%E2%80%9
D. 
 
 
Entretanto, em décadas mais recentes, o crescimento das igrejas evangélicas e seus 
seguidores, sobretudo aquelas neopentecostais, se acelerou. O desenvolvimento da 
vertente neopentecostal, de fato, teve um grande impacto não só no meio evangélico, mas 
em todo o campo religioso brasileiro e com desdobramento em outros países, dado o forte 
ativismo proselitista de suas denominações, contribuindo maciçamente para que a 
proporção nacional de evangélicos em 2010 chegasse a 22,2% (Souza, 2019). Resta agora 
aguardarmos pelos resultados do Censo mais recente para verificarmos se essa tendência 
se manteve ou mesmo se ela se acelerou. 
 
 
13 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
Fontes: https://conteudo.imguol.com.br/2012/06/28/distribuicao-dos-grupos-religiosos-no-brasil-censo-2010-
1340930164627_600x378.jpg e 
https://www.researchgate.net/publication/323330139/figure/fig1/AS:596678482616320@1519270644193/Figura-1-
Distribuicao-das-religioes-no-Brasil-numeros-absolutos-Fonte-IBGE-Instituto.png 
https://conteudo.imguol.com.br/2012/06/28/distribuicao-dos-grupos-religiosos-no-brasil-censo-2010-1340930164627_600x378.jpg
https://conteudo.imguol.com.br/2012/06/28/distribuicao-dos-grupos-religiosos-no-brasil-censo-2010-1340930164627_600x378.jpg
https://www.researchgate.net/publication/323330139/figure/fig1/AS:596678482616320@1519270644193/Figura-1-Distribuicao-das-religioes-no-Brasil-numeros-absolutos-Fonte-IBGE-Instituto.png
https://www.researchgate.net/publication/323330139/figure/fig1/AS:596678482616320@1519270644193/Figura-1-Distribuicao-das-religioes-no-Brasil-numeros-absolutos-Fonte-IBGE-Instituto.png
 
 
14 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A expansão evangélica – acelerada, como visto, peloneopentecostalismo – impactou não 
apenas o catolicismo, mas também as religiões afro-brasileiras, fortemente combatidas por 
tais igrejas, principalmente a IURD. Isso fez com que a umbanda, nascida nos morros 
cariocas no início do século XX, quase desaparecesse desse cenário ao final do centenário, 
um tema que será analisado de maneira mais pormenorizada nas próximas aulas. 
Enquanto algumas igrejas católicas têm padres rezando missas para 
cada vez menos fiéis... 
Fontes: https://zh.rbsdirect.com.br/imagesrc/19146402.jpg?w=580 
 
... algumas igrejas evangélicas estão cada vez mais cheias 
Fontes: https://saodesiderio.ba.gov.br/wp-content/uploads/2018/08/3.jpg 
 
 
 
https://saodesiderio.ba.gov.br/wp-content/uploads/2018/08/3.jpg
 
 
15 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. Aumenta a pluralidade religiosa 
 
O fenômeno do crescimento das igrejas neopentecostais dentro do segmento evangélico 
está relacionado a outro processo mais amplo que está em curso: o crescimento da 
pluralidade religiosa no Brasil, principalmente dentro do campo cristão. Acompanhando as 
mudanças globais, a partir da década de 1970, o campo religioso do Brasil começou a se 
diversificar (De Assis, 2023) e a oferta de novas igrejas e religiões é cada vez maior. Em 
meados do século passado o panorama religioso brasileiro começou a ser caracterizado 
por uma pluralidade muito notadamente cristã e um mercado competitivo entre igrejas, algo 
que veio a se consolidar na última década mediante a explosão neopentecostal (Souza, 
2019), descrita na seção anterior. Essa pluralidade, porém,vai além do campo cristão. 
Nota-se, por exemplo, um crescimento expressivo do segmento espírita, que passou de 
1,3%para 2% da população nacional. Seus adeptos têm perfil predominante de classe 
média, bastante letrada e residente nas grandes e médias cidades, sobretudo do Sul e do 
Sudeste. Reivindicando identidade tanto religiosa quanto filosófica e científica, o espiritismo 
padece de um questionamento de parcela de seus seguidores que não o reconhecem como 
religião, o que de algum modo puxa para baixo sua proporção demográfica (Souza, 2019). 
A emergência das religiões afro-brasileiras (que são aquelas que têm origem nas tradições 
dos negros africanos trazidos para o Brasil como escravos) como uma opção cultural, diante 
do fortalecimento da luta antirracista no país, também é um fenômeno em curso. A luta 
contra o racismo em nosso país, atrelado ao crescimento das pessoas que se auto 
identificam enquanto “pretas ou pardas” (caracterizações que somadas compõem o grupo 
dos “negros” segundo o critério do IBGE)3, têm levado cada vez mais jovens a conhecerem 
as religiões de matriz afro-brasileira, no caso, o candomblé e a umbanda. Além disso, nota-
se também outro fenômeno, em menor dimensão e que ainda carece de mais estudos: o 
crescimento da religião islâmica na periferia de grandes centros urbanos4. 
 
3ht tps:/ /oglobo.g lobo.com/bras i l /not ic ia/2022/07/ ibge -populacao-autodeclarada-
preta-cresce-324percent-no-bras i l -em-10-anos.ghtml 
4https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/01/isla -ganha-adeptos-
nas-periferias-de-sp-sem-ligacao-com-a-comunidade-arabe.shtml 
 
 
16 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Fonte: https://f.i.uol.com.br/fotografia/2021/11/25/163788047161a0129703912_1637880471_3x2_lg.jpg 
 
4. Crescem os sem religião 
O Brasil acompanha, mesmo que timidamente, uma tendência global de aumento do 
número de pessoas que não tem religião. No Censo de 2010 (IBGE, 2012), os sem religião 
eram 8% da população brasileira, ou mais de 15 milhões de pessoas. Esse percentual vem 
crescendo década após década: os sem religião eram 0,5% da população brasileira em 
1960, 1,6% em 1980, 4,8% em 1991 e 7,3% em 2000. 
Porém, é preciso ter clareza que apenas uma minoria dos "sem religião" no Brasil são ateus 
ou agnósticos. Os ateus são pessoas que não acreditam na existência de Deus, já os 
agnósticos avaliam que não é possível afirmar com certeza se Deus existe ou não. No 
Censo de 2010, por exemplo, dos 15,3 milhões de brasileiros que se diziam sem religião, 
apenas 615 mil (4% dos sem religião) se consideravam ateus e 124 mil se afirmavam 
agnósticos (0,8%). 
 
 
17 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61329257 
 
O crescimento dos brasileiros que se dizem "sem religião" é ainda mais marcante 
particularmente entre os jovens. Em São Paulo, os jovens de 16 a 24 anos que se dizem 
sem religião chegam a 30% dos entrevistados, superando evangélicos (27%), católicos 
(24%) e outras religiões (19%).No Rio, os sem religião nessa faixa etária chegam a 34%, 
também acima de evangélicos (32%), católicos (17%) e demais religiões (17%)5. 
Para alguns pesquisadores, a explicação para esse fenômeno está intimamente ligada ao 
que vimos na seção anterior: o crescimento da pluralidade religiosa em território brasileiro. 
Segundo Regina Novaes, pesquisadora do ISER (Instituto Superior de Estudos da 
Religião), a fase dos 16 aos 24 anos, onde os "sem religião" são mais presentes, se dá pelo 
fato de ser uma fase de experimentação. Segundo ela “há uma trajetória de busca e 
experimentação que foi colocada para as novas gerações que não era colocada para as 
antigas". Ela observa que, atualmente, muitos jovens crescem em famílias plurirreligiosas, 
por exemplo, com avó mãe de santo, pai católico não praticante e mãe evangélica. Esses 
jovens não sentem a obrigação de seguir uma religião de família e tendem a buscar uma 
religiosidade própria. 
Essa fase de experimentação pode seguir dois caminhos: uma busca que resulta mais tarde 
na escolha de uma religião; ou a construção de uma síntese pessoal, em que a pessoa se 
 
5ht tps: / /www.bbc.com/por tuguese/bras i l -61329257 
 
 
18 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
diz "sem religião" por não pertencer a nenhuma igreja, mas combina diversos elementos de 
fé6. 
 
 
 
O Brasil chegou ao último quartel do século XX com um mercado religioso já 
consolidado em face de grande crescimento evangélico, impulsionado pelo 
neopentecostalismo. Dada a grande predominância das instituições cristãs, 
ainda mais se consideradas as espíritas também neste conjunto, verifica-se 
que a tão propalada diversidade religiosa se restringe, em boa medida, ao 
pluralismo cristão, mas isso sem descartar outros fenômenos religiosos que 
estão em curso em nosso país, como o crescimento dos sem-religião. 
 
 
 
 
 
 
De Assis, T.S. 2023. A religiosidade hindu no Brasil como movimento e como 
experiência. Disponível em: http://xiram.com.uy/ponencias/GT-
80/Tha%C3%ADs%20Silva%20de%20Assis_%20A%20religiosidade%20hindu%
20no%20Brasil%20como%20movimento%20e%20como%20experi%C3%AAnc
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Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística (IBGE). Censo Brasileiro de 2010. 
Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística 
(IBGE); 
MARIANO, R. 1999. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no 
Brasil. São Paulo, Loyola; 
_____________2003. “Guerra espiritual: o protagonismo do diabo nos cultos 
neopentecostais”, in Debates do NER, v. 4, n.4, 2003, pp. 21-34; 
Mucinhato, R. M. D. 2014. Quem são os deputados brasileiros? Um balanço do 
perfil biográfico de 1986 a 2012. In: José Álvaro Moisés. (Org.). O Congresso 
Nacional, os partidos políticos e o sistema de integridade: representação, 
participação e controle 
Interinstitucional no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Fundação Konrad 
Adenauer,2014, v. 1, p. 61-88; 
Pierucci, A. F. 2006. Religião como solvente – uma aula. Novos Estudos, n. 75, 
julho; 
Souza, A. R. 2012. “O pluralismo cristão brasileiro”, in Caminhos, v. 10, n. 1, pp. 
129-41; 
 
6ht tps: / /g1.g lobo.com/sp/sao -paulo/not ic ia /2022/05/09/ jovens -sem-re l ig iao -superam-
cato l icos-e-evangel icos -em-sp-e-r io .gh tml 
http://xiram.com.uy/ponencias/GT-80/Tha%C3%ADs%20Silva%20de%20Assis_%20A%20religiosidade%20hindu%20no%20Brasil%20como%20movimento%20e%20como%20experi%C3%AAncia.pdf
http://xiram.com.uy/ponencias/GT-80/Tha%C3%ADs%20Silva%20de%20Assis_%20A%20religiosidade%20hindu%20no%20Brasil%20como%20movimento%20e%20como%20experi%C3%AAncia.pdf
http://xiram.com.uy/ponencias/GT-80/Tha%C3%ADs%20Silva%20de%20Assis_%20A%20religiosidade%20hindu%20no%20Brasil%20como%20movimento%20e%20como%20experi%C3%AAncia.pdf
http://xiram.com.uy/ponencias/GT-80/Tha%C3%ADs%20Silva%20de%20Assis_%20A%20religiosidade%20hindu%20no%20Brasil%20como%20movimento%20e%20como%20experi%C3%AAncia.pdf
 
 
19 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
_____________2018. “O enfrentamento da intolerância religiosa por 
organizações nacionais ecumênicas”. Trabalho apresentando no 42º Encontro 
Anual da Anpocs, Caxambu; 
_____________2019. Pluralidade cristã e algumas questões do cenário 
religioso brasileiro. Revista USP • São Paulo • n. 120 • p. 13-22 • 
janeiro/fevereiro/março; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. Sincretismo religioso no Brasil 
 
Objetivo: 
 
Apresentar aos estudantes a formação étnica da sociedade brasileira, e suas matrizes que 
levaram às manifestações culturais existentes em nosso país ao longo de sua história, e 
como isso se reflete no sincretismo religioso no Brasil. 
 
 
1. Introdução 
 
 
Assimcomo apontou um dos maiores intelectuais brasileiros da história, o antropólogo 
Darcy Ribeiro: 
 
“O Brasil e os brasileiros surgiram da confluência, do entrechoque e do caldeamento do 
invasor português com índios (sic) silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e 
outros aliciados como escravos. Nessa confluência, que se dá sob a regência dos 
portugueses, matrizes raciais díspares, tradições culturais distintas, formações sociais 
defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo, num novo modelo de 
estruturação societária. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada 
culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma 
cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos.” 
(Ribeiro, 1995). 
 
Esse breve excerto retirado da sua obra “O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do 
Brasil” apontou para o surgimento de um dos países mais miscigenados do mundo. De um 
modo geral, podemos dizer que a composição étnica brasileira é basicamente oriunda dos 
três grandes e principais grupos étnicos citados pelo autor. Além das matrizes apontadas 
pelo autor (a branca europeia/portuguesa, a negra africana, e a indígena/povos originários), 
novas levas de imigração trouxeram a essas terras também árabes (sírios e libaneses em 
maior quantidade, mas também iemenitas, iraquianos, etc), asiáticos (japoneses num 
primeiro momento, e chineses e coreanos num segundo), latinos hispânicos (como 
bolivianos e peruanos), além de outras nacionalidades. 
 
 
21 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Nesse caldeirão multiétnico, resultado de uma profunda miscigenação (às vezes ao acaso 
e harmônica, às vezes violenta e forçada, patrocinada pelo Estado brasileiro), surgiram ou 
se incorporaram centenas (ou milhares) de manifestações artísticas e culturais distintas, 
que influenciaram diretamente no sincretismo religioso existente em nosso país e que 
iremos tratar nesta aula. 
 
A obra “Operários” (1933), de Tarsila do Amaral, expressa a pluralidade 
cultural e étnica brasileira 
Fontes: https://laart.art.br/blog/pinturas-famosas-brasileiras/ 
 
2. As três matrizes étnicas do Brasil 
 
Como dito na Introdução, somos o resultado da confluência de três matrizes étnicas que 
chegaram ou que já estavam no território que atualmente compõe o Brasil. 
Desde os tempos mais remotos do período colonial, o Brasil sofreu forte influência da 
cultura portuguesa, seja na língua, na culinária, no traçado das cidades, na arquitetura, na 
religião, nas artes decorativas e em tantas outras manifestações existentes. Estamos 
falando de uma cultura que já trazia, em Portugal, a herança de outros povos, marcada 
desde o início por processos migratórios, de miscigenação e sincretismo. Destas 
civilizações, duas foram as que mais deixaram contribuições para o povo português: os 
https://laart.art.br/blog/pinturas-famosas-brasileiras/
 
 
22 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
romanos e os mouros (Matosinho, 2016). Esse sincretismo proveniente de uma cultura 
europeia no Brasil foi exposto a outras culturas, que se refletiram diretamente nas 
manifestações religiosas aqui praticadas. 
 
 
 
Mouro era o nome dado pelos cristãos às pessoas de pele escura e de religião 
muçulmana que habitaram a Península Ibérica, do século VIII ao XV.O termo 
vem dos romanos que nomearam Mauritânia a uma de suas províncias na 
África. Com a invasão dos árabes muçulmanos neste continente, os habitantes 
dessa região adotaram o Islã também como sua religião. Desta forma, 
"mouro", aos olhos dos cristãos, passou a ser sinônimo de uma pessoa 
muçulmana e de pele escura. Os mouros, no entanto, não constituem um 
povo, nem uma etnia e sim uma generalização que os cristãos europeus 
fizeram dos muçulmanos tanto africanos, como árabes. Os mouros chegaram 
à Península Ibérica (Espanha e Portugal) por volta do séc. VIII e ali 
permaneceram vários séculos deixando sua marca na cultura e no idioma. 
Fonte: 
https://www.todamateria.com.br/mouros/#:~:text=Mouro%20era%20o%20
nome%20dado,de%20suas%20prov%C3%ADncias%20na%20%C3%81frica. 
 
 
Mas quando os portugueses chegaram ao nosso território e deram início ao processo 
colonizador eles não chegaram a um local desabitado. Estima-se que, na época da chegada 
dos europeus, existiam mais de 1.000 povos indígenas aqui vivendo, somando entre 2 e 4 
milhões de pessoas. Atualmente encontramos no território brasileiro 256 povos, falantes de 
mais de 150 línguas diferentes. 
Os povos indígenas somam, segundo o Censo IBGE 2010, 896.917 pessoas. Destes, 
324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde 
aproximadamente a 0,47% da população total do país. A maior parte dessa população 
distribui-se por milhares de aldeias, situadas no interior de 726 Terras Indígenas, de norte 
a sul do território nacional7. Os indígenas representam assim uma multiplicidade de povos, 
originários do continente americano antes da invasão territorial por parte dos povos 
europeus a partir do século XVI em nosso atual território. 
 
7ht tps:/ /p ib.soc ioambienta l.org/pt /Quem_s%C3%A3o 
 
 
23 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Por fim, cabe destacar a contribuição dos africanos para a cultura, as religiões e as artes 
no Brasil, que também se dá a partir de uma multiplicidade de etnias e culturas. Entre os 
anos de 1525 e 1851, mais de cinco milhões de africanos foram trazidos para o Brasil na 
condição de escravos, não estando incluídos neste número, que é uma aproximação, 
aqueles que morreram ainda em solo africano, vitimados pela violência da caça escravista, 
nem os que pereceram na travessia oceânica. Não se sabe quantos foram trazidos desde 
que o tráfico se tornou ilegal (Prandi, 2000). 
Os africanos trazidos ao Brasil incluíram membros das etnias banto, nagô e jeje, todos da 
África subsaariana, cujas crenças religiosas deram origem às religiões afro-brasileiras, e os 
hauçás e malês, de religião islâmica e alfabetizados em árabe. Não se tratava então de um 
povo em específico, mas de uma multiplicidade de etnias, nações, línguas, culturas e 
religiões, que se misturaram às outras matrizes que habitavam o nosso território. 
3. O sincretismo religioso 
 
Primeiramente cabe aqui definir o que se entende por “sincretismo”. Segundo o sociólogo 
e historiador de arte Marcos Horácio Gomes Dias, doutor em história social, "o sincretismo 
sempre significa uma mistura, a troca simbólica que dá como resultado uma terceira coisa. 
É uma fusão cultural que traz valores de uma cultura para outra, que por vezes tem esses 
'símbolos disfarçados' "8.Podemos definir sincretismo religioso então como qualquer prática 
religiosa que provém da fusão de outras, e são vários os tipos de sincretismo que pode ser 
encontrados pelo mundo: 
 Sincretismo africano-americano: esse tipo de sincretismo surgiu na América 
Latina e no Caribe, onde as religiões africanas foram combinadas com o catolicismo 
romano. Os exemplos incluem o candomblé e a umbanda no Brasil, além da santeria em 
Cuba; 
 Sincretismo asiático: na Ásia, o sincretismo religioso envolveu a fusão de diferentes 
tradições religiosas, como o budismo, o taoísmo, o confucionismo e o xamanismo. Um 
exemplo é o sincretismo religioso japonês, que combina elementos do xintoísmo e do 
budismo; 
 Sincretismo cristão: esse tipo de sincretismo ocorreu quando o cristianismo foi 
introduzido em regiões onde outras religiões já estavam estabelecidas. Para facilitar a 
 
8ht tps:/ /www.uol .com.br/ecoa/u lt imas -not ic ias /2021/09/01/s incret ismo-qual-a-
re lacao-entre-santos-cato l icos-or ixas-e-colonia l ismo.htm 
 
 
24 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
conversão, elementosdas religiões locais foram incorporados às crenças cristãs. Um 
exemplo é o sincretismo religioso mexicano, que combina elementos do catolicismo romano 
com as crenças indígenas; 
 Sincretismo oriental: esse tipo de sincretismo envolve a fusão de elementos de 
diferentes tradições religiosas orientais, como as do sincretismo asiático mencionadas. Um 
exemplo é o sincretismo religioso coreano, que combina elementos do budismo, do taoísmo 
e do confucionismo; 
 Sincretismo “paganismo”: esse tipo de sincretismo envolve a fusão de elementos 
de diferentes “religiões pagãs”, como as religiões dos antigos gregos, romanos e celtas. Um 
exemplo é o sincretismo religioso neopagão, que combina elementos das religiões antigas 
com crenças modernas9. 
O ponto de partida do nosso sincretismo religioso no Brasil então foram as influências das 
três matrizes étnicas formadoras da nossa sociedade no perfil religioso da população 
brasileira, somado às sucessivas ondas de imigração que vieram depois disso. Judaísmo, 
Cristianismo Católico, Cristianismo Protestante, Cristianismo Espírita Kardecista, 
Islamismo, Budismo, Hinduísmo desembarcaram nos milhares de navios que vieram para 
cá entre 1500 e 1950. Os cultos africanos Angolas, Congos, Fons, Malês e Iorubás também 
desembarcaram nesse contexto, mas enquanto escravizados, e encontraram aqui os Tupis, 
os Guaranis, os Tapuias e muitos outros. Ao longo dos anos tudo se misturou em 
manifestações diversas e complexas. 
 
9ht tps:/ /www.pol i t ize.com.br/s incret ismo-re l ig ioso/ 
 
 
25 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Sem ignorar a violência do processo colonizador no Brasil, foi a partir 
dessa pluralidade cultural e étnica que surgiu o sincretismo religioso 
brasileiro 
Fontes: https://radiopeaobrasil.com.br/wp-content/uploads/2020/10/rugendas.-indios-
bandeirantes.jpg 
 
Perante a religiosidade cristã dos colonizadores, baseada em um catolicismo fincado na 
Inquisição e num repúdio a quaisquer outras manifestações religiosas, os africanos, em seu 
afã por sobrevivência, lançaram mão, consciente ou inconscientemente, de um refinado 
estratagema para driblar a vigilância de seus senhores e poder professar seus cultos 
originais: o sincretismo religioso. Mas esse procedimento não foi simples: os escravos 
provinham de diversas regiões africanas e seguiam religiões - em geral politeístas - às 
vezes semelhantes, outras vezes bastante distintas entre si. Embora estivessem 
misturados em grupos étnicos variados, os africanos, apesar dos sofrimentos e das sevícias 
de que eram vítimas, buscaram - de forma consciente ou inconsciente - soluções práticas 
para resolverem problemas cotidianos, como o exercício de seus rituais religiosos. Ao longo 
do tempo, foram familiarizados com o contexto católico e assim puderam inferir 
transferências, adaptações e recriações culturais e religiosas. Essa forma de traduzir dois 
mundos religiosos distintos ajudou-os a manter vivas suas tradições religiosas ancestrais, 
ainda que mescladas com o sistema hagiológico católico (Romão, 2018). 
Além disso, o panorama religioso na encruzilhada brasileira fica ainda mais complexo, se 
pensarmos, por exemplo, na existência de etnias africanas islamizadas, que não mais 
partiam religiões politeístas. Cabe lembrar aqui a insurreição protagonizada por escravos 
islamizados, a maioria de origem ioruba, notadamente hauçá, que se opunham à conversão 
ao catolicismo. O episódio ocorreu em 1835 na noite de 25 para 26 de fevereiro e ficou 
conhecido como Revolta dos Malês. Como as forças do governo eram mais numerosas e 
melhor equipadas, os revoltosos foram derrotados. Alguns foram mortos, outros 
condenados a açoites ou a retornar à África (Freitas, 1985). Isso demonstra a complexidade 
do panorama de culturas, línguas e religiões inscrita na diversidade de etnias africanas no 
Brasil. 
Um exemplo de sincretismo religioso no Brasil é o caso da Lavagem das Escadarias do 
Bonfim. Trata-se de uma tradição incorporada pela Igreja Católica que data de quando os 
escravos, que reverenciavam Oxalá (o maior de todos os orixás), eram obrigados a lavar 
https://radiopeaobrasil.com.br/wp-content/uploads/2020/10/rugendas.-indios-bandeirantes.jpg
https://radiopeaobrasil.com.br/wp-content/uploads/2020/10/rugendas.-indios-bandeirantes.jpg
 
 
26 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
os degraus da Igreja antes da festa de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador. Hoje a 
lavagem dos degraus é feita por baianas tradicionais e filhas de santo. 
 
Fonte: https://buzzfeed.com.br/post/10-momentos-incriveis-da-lavagem-do-bonfim-em-salvador 
 
4. A Umbanda como exemplo do sincretismo religioso brasileiro 
 
Quando se fala em sincretismo no Brasil logo se associa as religiões Afro-brasileiras, pois 
foram construídas após a colonização, e um exemplo perfeito disso é a Umbanda. 
A Umbanda é uma junção de diversas religiões que chegaram ao Brasil, como o catolicismo, 
espiritismo e as religiosidades africana, indiana e indígena. Bastante confundida com o 
candomblé, a Umbanda possui três princípios básicos que são: fraternidade, caridade e 
respeito ao próximo. 
Seus fundamentos são: 
• Existência de um único Deus, supremo e onipotente, conhecido como Zambi, Olorum ou 
simplesmente Deus; 
• Existência dos orixás, seres do Plano Superior que representam, cada um à sua forma, 
elementos da natureza, do planeta ou das próprias características humanas; 
• A mediunidade como forma de comunicação entre as esferas física e espiritual; 
• Crença na alma imortal e na reencarnação; 
• Crença na Lei Cármica, no qual se baseiam as ações do homem e suas consequências; 
 
 
 
 
27 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
O caldeirão étnico e cultural por meio do qual o Brasil foi formado levou tanto 
à miscigenação que nos caracteriza, quanto ao sincretismo religioso, no qual 
múltiplas religiões e formas de culto se misturaram levando a novas práticas 
religiosas em nosso território. 
 
 
 
 
 
 
 
Freitas, D.1985. A revolução dos malês. Insurreições escravas Porto Alegre: 
Movimento; 
Freyre, G. 2005. Aspectos da influência africana no Brasil Revista del CESLA, 
núm. 7, 2005, pp. 369-384UniwersytetWarszawskiVarsovia, Polônia; 
Matosinho, T. 2016. Azulejaria e a influência portuguesa nas cidades 
brasileiras. Lugar Comum–Estudos de mídia, cultura e democracia, (46), 111-
118; 
Prandi, R. 2000. De africano a afro-brasileiro: etnia,identidade, 
Religião. REVISTA USP, São Paulo, n.46, p. 52-65, junho/agosto 2000; 
Ribeiro, D.1970.
 As
 Américas
 e
 a
 civilização
‐
Processo de formação e 
causas do
desenvolvimento
desigual
dos
povos
americanos.
Rio
de

Janeiro,
Civilização
Brasileira;
 
_________1995. O povo Brasileiro - a formação e o sentido do Brasil. São 
Paulo: Companhia das Letras; 
Romão, T. L. C.. 2018. Sincretismo religioso como estratégia de sobrevivência 
transnacional e translacional: divindades africanas e santos católicos em 
tradução. Trabalhos Em Linguística Aplicada, 57(1), 353–381. 
https://doi.org/10.1590/010318138651758358681; 
 
 
 
 
28 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
4. Preconceito e intolerância religiosa 
 
Objetivo: 
Debater sobre uma das consequências sociais negativas do sincretismo e da diversidade 
cultural e religiosa existente em nosso território: o preconceito e a intolerância religiosa. 
 
1. Introdução 
 
Como visto nas duas aulas anteriores, o Brasil é um país de grande pluralidade religiosa. 
Ainda que deva ser feita a ressalva de que essa pluralidade esteja muito mais concentrada 
em relação às religiões cristãs do que em relação a outras denominações religiosas, é fato 
que no Brasil são encontradas múltiplas formas de credo: católicos apostólicos romanos, 
católicos ortodoxos,evangélicos, espíritas, testemunhas de Jeová, judeus, hindus, 
budistas, umbandistas, candomblecistas, etc. E isso sem mencionar a infinidade de cultos 
religiosos existentes entre os povos indígenas do nosso território e que são impossíveis de 
serem quantificadas, e também as pessoas que se declaram como sendo “sem religião”, 
mas que ainda assim não se enquadram nas categorias de ateus ou agnósticos. 
Poderia se supor então, dado o tamanho da nossa população e essa quantidade de credos 
existentes sem que houvesse qualquer histórico de profundo conflito religioso em nosso 
país quando comparado a outras nações, que teríamos uma população que convive em 
relativa harmonia religiosa. Porém, não é isso que tem ocorrido. 
Ainda que este não seja um fenômeno recente – como visto na aula anterior, o sincretismo 
religioso muitas vezes foi o caminho encontrado pelos seguidores de religião de matriz afro-
brasileira como resposta às perseguições que sofriam - dados dos últimos anos têm 
mostrado que há um crescimento na quantidade de denúncias de casos de intolerância 
religiosa em nosso país, mostrando que a “liberdade de culto”, um preceito constitucional 
em nosso país, ainda esta longe de ser colocado em prática. Apesar disso, a sociedade 
brasileira e as diferentes religiões têm se organizado e também procurado dar respostas a 
isso. 
 
2. Legislação e conceitos 
 
O Brasil se define enquanto um “Estado Laico”. Ou seja, ao se afirmar como tal o país tem 
o compromisso de separar Estado e religião e de proteger a liberdade religiosa, garantindo 
esse direito a todos os seus cidadãos. Além disso, como Estado laico, o Brasil não deve 
 
 
29 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
influenciar as crenças pessoais de seus cidadãos e não deve permitir que as crenças 
religiosas de seus governantes tenham influência direta na formulação de suas políticas. 
Liberdade religiosa é a liberdade de professar qualquer religião, de realizar os cultos ou 
tradições referentes a essas crenças, de manifestar-se, em sua vida pessoal, conforme 
seus preceitos e poder viver de acordo com essas crenças. Ela é garantida por leis 
específicas, que definem quais são os direitos religiosos dos cidadãos de cada país. Assim, 
elas podem ser diferentes ou tratadas de modo distinto por cada país, conforme sua 
legislação. 
No caso brasileiro, trata-se de um conceito que está assegurado em nossa Constituição de 
1988, atualmente em vigor, que aponta em seus artigos 5º E 19º: 
 
Art. 5: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se 
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
I — homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; 
II — ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de 
lei; 
III — ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
IV — é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
V — é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por 
dano material, moral ou à imagem; 
VI — é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício 
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas 
liturgias; 
 
Art. 19: É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o 
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou 
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; 
II - recusar fé aos documentos públicos; 
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.10 
 
 
10ht tps:/ /const i tu icao.s tf . jus .br / 
 
 
30 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
A Constituição de 1988 é o texto-base que determina os direitos e os deveres 
dos entes políticos e dos cidadãos do nosso país. Ela foi escrita durante o 
processo de redemocratização do Brasil após o fim da Ditadura Militar, sendo 
conhecida por isso como Constituição Cidadã. Foi resultado de um amplo 
debate que se estendeu durante mais de um ano durante a Assembleia 
Nacional Constituinte (187-1988) e simbolizou o início da Nova República. 
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/constituicao-1988.htm 
 
 
Os artigos estão em consonância com o que diz a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, que aponta em seu artigo 18º: “Todo ser humano tem direito à liberdade de 
pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou 
crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo 
culto em público ou em particular. ” 
 
Entretanto, como qualquer outra liberdade, a religiosa também não é totalmente ilimitada. 
Se o exercício da religião de um indivíduo implica na realização de um crime, por exemplo, 
o cidadão não estará livre de pena ou punição por ter agido movido por sua fé. Assim, se 
uma religião hipotética prega o ódio a outras pessoas, violência, realização de sacrifícios 
ou qualquer outro mal a terceiros, suas possíveis ações criminosas serão julgadas e 
punidas. Do mesmo modo, como qualquer outra pessoa seria devidamente julgada e punida 
pelos mesmos crimes, independentemente de suas motivações (Enriconi, 2017). 
 
 
3. A intolerância religiosa 
 
Como dito anteriormente, a intolerância religiosa no nosso país não é um fenômeno 
recente. Nas palavras de Sidnei Nogueira, o Sidnei de Xangô, doutor em Semiótica pela 
Universidade de São Paulo (USP) e autor de Intolerância Religiosa (Jandaíra, 2020), "o 
Brasil sempre teve uma noção frágil de laicidade. O sistema de crenças dos 5 milhões de 
 
 
31 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
pretos e pretas escravizados no Brasil sempre foi satanizado pelos colonizadores 
portugueses"11. 
Ou seja, apesar do Brasil normalmente não se destacar entre os países com mais casos 
de perseguição religiosa ou de crença, isso não quer dizer que estejamos numa conjuntura 
religiosa plenamente harmônica. 
Segundo o “Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo da ACN” 
publicado a cada dois anos, os países em vermelho (28 no total) são 
aqueles onde aparecem mais casos de perseguição religiosa no mundo. 
Fonte: https://www.acn.org.br/analise-global-2023-sobre-a-liberdade-religiosa/# 
 
Como pode ser visto nos gráficos abaixo, os dados consolidados do período de 2015 a 
2019, ou seja, num contexto ainda anterior à pandemia de COVID-19, já era evidente um 
crescimento nesses índices, sobretudo em relação às religiões de matriz afro-brasileira. 
 
 
11ht tps:/ /www.bbc.com/portuguese/brasi l -
64393722#:~: tex t=O%20n%C3%BAmero%20de%20den%C3%BAncias%20de,Grande%20d
o%20Sul%20(51) . 
 
 
32 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Fontes: https://farm66.staticflickr.com/65535/49421885682_b8b2988e48_o.jpg e 
https://farm66.staticflickr.com/65535/49421213068_9db707b7e0_o.jpg 
 
Em anos seguintes, esses dados seguiram mostrando uma piora. O número de denúncias 
de intolerância religiosa no Brasil aumentou 106% em apenas um ano, e passou de 583, 
em 2021, para 1,2 mil, em 2022, uma média de três por dia. O Estado recordista foi São 
Paulo (270 denúncias), seguido por Rio de Janeiro (219), Bahia (172), Minas Gerais (94) e 
Rio Grande do Sul (51). A maior parte das denúncias mais uma vez foram feitas por 
praticantes de religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé. Seis em cada dez 
vítimas são mulheres. Só nos primeiros 20 dias de 2023, o Disque 100, canal para 
https://farm66.staticflickr.com/65535/49421885682_b8b2988e48_o.jpghttps://farm66.staticflickr.com/65535/49421213068_9db707b7e0_o.jpg
 
 
33 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
denúncias de violações de direitos humanos, registrou 58 ocorrências, demonstrando que 
esse número tende a seguir crescendo12. 
Cabe mencionar que o mesmo cenário vem se replicando no ambiente virtual, onde o 
número de casos de intolerância religiosa quintuplicou em um ano. Segundo levantamento 
da Safernet, ONG que mantém uma central de denúncias de violações contra direitos 
humanos, como racismo, misoginia e xenofobia, os ataques online saltaram de 614, entre 
janeiro e outubro de 2021, para 3,8 mil, no mesmo período de 2022, um crescimento de 
522%. 
 
4. As respostas dadas pela sociedade 
 
As respostas que a sociedade brasileira tem dado para combater a intolerância religiosa 
vão além da legislação que integra a nossa Constituição Federal, e um exemplo disso foi a 
criação do Dia Nacional de Combate à intolerância religiosa, criada a partir de uma história 
trágica. 
No dia 21 de janeiro de 2000, faleceu na Bahia a yalorixáGildásia dos Santos e Santos, 
conhecida como Mãe Gilda de Ogum. A religiosa teve a casa e o terreiro invadidos por um 
grupo de outra religião. Após perseguições e agressões verbais a fundadora do terreiro de 
candomblé Axé Abassá de Ogum sofreu um ataque cardíaco após passar por difamações 
que questionavam sua fé e o seu caráter e veio a falecer. Em homenagem a ela, desde 
2007 essa data, 21 de janeiro, celebra no Brasil o Dia Nacional de Luta Contra a Intolerância 
Religiosa13. 
Além disso, uma lei sancionada recentemente em 2023 tornou mais severas as penas para 
crimes de intolerância religiosa. A lei sancionada equipara o crime de injuria racial ao crime 
de racismo e também protege a liberdade religiosa. A lei, agora, prevê pena de 2 a 5 anos 
para quem obstar, impedir ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou 
práticas religiosas. A pena será aumentada a metade se o crime for cometido por duas ou 
mais pessoas, além de pagamento de multa. Antes, a lei previa pena de 1 a 3 anos de 
reclusão. 
 
12ht tps:/ /www.bbc.com/portuguese/brasi l -
64393722#:~: tex t=O%20n%C3%BAmero%20de%20den%C3%BAncias%20de,Grande%20d
o%20Sul%20(51) . 
13ht tps:/ /www.defensor iapublica.pr .def .br/Not ic ia/Luta -contra- Into leranc ia-
Rel igiosa-tambem-e-trabalho-da-Defensor ia-Publ ica 
 
 
34 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A punição agora é a mesma prevista pelo crime de racismo, quando a ofensa discriminatória 
é contra grupo ou coletividade, pela raça ou pela cor. A expectativa é de que a nova lei 
ajude a punir quem comete crimes religiosos e ajude proteger a vítima, que muitas vezes 
não encontra amparo quando tenta fazer uma denúncia. 
E por falar em crimes de cunho racial, o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) 
tem, em seu capítulo III, quatro artigos que tratam do direito à liberdade de consciência e 
de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos. O primeiro deles, o artigo 23, assegura 
que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício 
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas 
liturgias”; já o artigo 26 da Lei determina que “o poder público adotará as medidas 
necessárias para o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e à 
discriminação de seus seguidores”. A legislação é importante ao considerarmos que a 
maioria dos casos de intolerância no Brasil ocorre em relação às igrejas de matriz africana. 
Porém, leis não são a única resposta dada pela sociedade brasileira. 
Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/01/21/senadores-lembram-dia-nacional-de-
combate-a-intolerancia-religiosa/whatsapp-image-2022-01-21-at-18-00-07.jpeg 
 
Anualmente, não apenas no Dia de Combate à Intolerância, milhares de brasileiros tem 
marchado nas ruas para mostrar seu repúdio aos crescentes atos de intolerância. As 
marchas têm contado com o apoio de múltiplas religiões e lideranças, mostrando que o 
combate à intolerância se dá também a partir da base da sociedade, e não apena a partir 
de legislações. A Caminhada Pela Liberdade Religiosa realizada todos os anos no Rio de 
janeiro em setembro tornou-se já uma tradição nesse sentido. 
 
 
35 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
Apesar do caldeirão étnico e cultural por meio do qual o Brasil foi formado, a 
miscigenação que nos caracteriza não levou apenas ao sincretismo religioso. 
Uma das consequências sociais dessa pluralidade é a intolerância religiosa em 
nosso país, que tem raízes históricas, e é direcionada principalmente às 
religiões de matriz afro-brasileira. 
 
 
 
 
 
 
DIAS, P., 2022. “Denúncias de intolerância religiosa nos estados aumentam 
45,6% no primeiro semestre”, O Globo, 31 de agosto de 2022, 
https://oglobo.globo.com/brasil/direitos-
humanos/noticia/2022/08/denuncias-de-intolerancia-religiosa-nos-estados-
aumentam-456percent-no-primeiro-semestre.ghtml; 
Enriconi, L. 2017. A liberdade religiosa no Brasil. Disponível em: 
https://www.politize.com.br/liberdade-religiosa-no-
brasil/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjwqZSlBhBwEiwAfoZUIPc
fd4Cmk51csl3ePiKFpq_3l8ggCEncHYxKfjY3auxmgJAHf5e4ZxoCWToQAvD_Bw
E; 
Romão, T. L. C.. 2018. Sincretismo religioso como estratégia de sobrevivência 
transnacional e translacional: divindades africanas e santos católicos em 
tradução. Trabalhos Em Linguística Aplicada, 57(1), 353–381. 
https://doi.org/10.1590/010318138651758358681; 
2023. 16ºRelatório de Liberdade Religiosa no Mundo – ACN, disponível online 
em: https://www.acn.org.br/relatorio-liberdade-religiosa/ 
Santos, Carlos Alberto Ivanir dos; Dias, BrunoBonsanto; Santos, Luan Costa 
Ivanir dos. 2023.II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, AméricaLatina 
e Caribe– 1. Ed. – Rio de Janeiro; CEAP, disponível online em: 
https://static.poder360.com.br/2023/01/relatorio-intolerancia-religiosa.pdf 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.politize.com.br/liberdade-religiosa-no-brasil/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjwqZSlBhBwEiwAfoZUIPcfd4Cmk51csl3ePiKFpq_3l8ggCEncHYxKfjY3auxmgJAHf5e4ZxoCWToQAvD_BwE
https://www.politize.com.br/liberdade-religiosa-no-brasil/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjwqZSlBhBwEiwAfoZUIPcfd4Cmk51csl3ePiKFpq_3l8ggCEncHYxKfjY3auxmgJAHf5e4ZxoCWToQAvD_BwE
https://www.politize.com.br/liberdade-religiosa-no-brasil/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjwqZSlBhBwEiwAfoZUIPcfd4Cmk51csl3ePiKFpq_3l8ggCEncHYxKfjY3auxmgJAHf5e4ZxoCWToQAvD_BwE
https://www.politize.com.br/liberdade-religiosa-no-brasil/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAjwqZSlBhBwEiwAfoZUIPcfd4Cmk51csl3ePiKFpq_3l8ggCEncHYxKfjY3auxmgJAHf5e4ZxoCWToQAvD_BwE
https://www.acn.org.br/relatorio-liberdade-religiosa/
https://static.poder360.com.br/2023/01/relatorio-intolerancia-religiosa.pdf
 
 
36 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
5. Secularização e ateísmo 
 
Objetivo: 
Debater sobre o processo de secularização da sociedade, sobretudo verificado por meio do 
crescimento de ateus e agnósticos, e seus reflexos na sociedade brasileira, assim como no 
campo do fundamentalismo e da intolerância religiosa. 
 
1. Introdução 
Imersas no ideal iluminista, as previsões das ciências sociais e da psicanálise, no início do 
século XX, supunham que o desenvolvimento fervoroso da ciência e a sofisticação 
tecnológica levariam ao declínio da religião (Berger, 1999; Burity, 2008). A esse processo 
dá-se o nome de secularização. O conceito secularização tem diversas definições, mas 
praticamente todas remetem a esta definição: a deslegitimação do poder da esfera 
eclesiástica — defensora e reprodutora dos valores do sagrado — para a legitimação do 
poder da esfera civil elaica, que possui como orientação valores não-sagrados, portanto, 
profanos aos olhos do religioso (Almeida, 2005).A consolidação de Estados Laicos mundo 
afora seria uma evidência nesse sentido, num processo que se consolidaria para além do 
mundo ocidental. 
Entretanto, apesar das previsões iluministas de que o avanço científico levaria ao declínio 
das práticas religiosas, o que se vê na atualidade é a reafirmação da religiosidade. Como 
vimos nas primeiras aulas desta disciplina, uma grande proporção da humanidade se 
identifica com alguma corrente religiosa (PewResearch Center, 2017) e questiona-se hoje 
em dia até que ponto alguns estados são laicos de fato. 
Ainda assim, em comparação a outros períodos da história da humanidade, observa-se um 
movimento crescente de secularização. Ao analisarmos os dados acerca do perfil global 
das religiões, observa-se que O grupo dos que se declaram ateus, agnósticos ou sem 
religião em todo o mundo só fica atrás daqueles que se dizem cristãos e muçulmanos. Esse 
grupo compõe 16,3% da população mundial, percentual superior ao de hindus, 15%, 
budistas (7,1%), seguidores de religiões étnicas ou folclóricas (5,9%) e judeus (0,2%). 
O mesmo fenômeno pode ser observado no Brasil pelo aumento daqueles que se declaram 
“sem religião”, entre eles os ateus e agnósticos, seguindo uma tendência global. A 
diversidade religiosa passou assim a incluir um novo contingente de pessoas, que são 
aquelas que não creem na existência de nenhum Deus (ou deuses), no caso os ateus, ou 
aquelas que argumentam que sua existência não pode ser verificada ou comprovada, os 
agnósticos. 
 
 
37 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Nesse contexto, observa-se o surgimento de um novo discurso de intolerância que circula 
dos religiosos em direção aos ateus e agnósticos e vice-versa, e que se reflete no atual 
cenário político, econômico, social e cultural. 
 
2. O crescimento dos “sem-religião” no Brasil 
Como vimos na segunda aula desta disciplina, nosso país acompanha, mesmo que 
timidamente, uma tendência global de aumento do número de pessoas que não tem 
religião. No Censo de 2010 (IBGE, 2012), os sem religião eram 8% da população brasileira, 
ou mais de 15 milhões de pessoas. Esse percentual vem crescendo década após década: 
os sem religião eram 0,5% da população brasileira em 1960, 1,6% em 1980, 4,8% em 1991 
e 7,3% em 2000. Resta ainda aguardarmos pela consolidação dos dados do Censo mais 
recente, realizado em 2022-2023, para verificarmos se essa tendência se manteve. 
Entretanto, é preciso ter clareza que os ateus e agnósticos representam apenas uma 
parcela daqueles que se declaram “sem religião”. Muitos daqueles que se declaram sem 
ter qualquer religião ainda assim creem em Deus, ou em alguma divindade. Essas pessoas 
apenas não se identificam com alguma religião em específico e muitas vezes frequentam 
cerimônias religiosas em mais de uma. No Censo de 2010, por exemplo, dos 15,3 milhões 
de brasileiros que se diziam sem religião, apenas 615 mil (4% dos sem religião) se 
consideravam ateus e 124 mil se afirmavam agnósticos (0,8%). 
Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61329257 
Porém, não se trata de um contingente populacional que deve ser descartado das análises 
acerca da dinâmica religiosa no Brasil. Em nosso país o número de ateus e agnósticos 
ultrapassa a soma do número de praticantes do candomblé, da umbanda e de outras 
 
 
38 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
religiões afro brasileiras, e também é maior do que o número de judeus e budistas juntos 
(Filla e Fantini, 2016). 
Do ponto de vista conceitual, o ateísmo é definido pela ATEA (Associação Brasileira de 
Ateus e Agnósticos) como a ausência de crença em qualquer divindade (www.atea.org.br), 
ao passo que o agnosticismo acredita na incapacidade do espírito humano de alcançar o 
conhecimento necessário para que se tome juízo sobre a existência ou não de divindades 
(Lima Júnior, 2012).Ambos fazem parte do movimento de descrença, assumindo uma 
posição que reforça a secularização, ao mesmo tempo em que vai contra a consolidação 
das crenças religiosas na atualidade (Filla e Fantini, 2016). 
Esse movimento, porém, em alguns casos pode se refletir até mesmo no campo do 
fundamentalismo, seja ele o religioso para com os ateus e agnósticos ou vice-versa, ou até 
mesmo em práticas de intolerância. 
 
 
Ateísmo é a negação na existência de divindades ou de qualquer experiência 
transcendental. Ateísmo é uma palavra que deriva de ateu. Por sua vez, esta 
tem sua origem do grego atheos, ou seja, “sem deus” (prefixo “a” indicando 
negação + “theos”, que significa Deus). 
Foi utilizada a partir do século V a.C., para designar aqueles que não 
acreditavam nos deuses ou que desrespeitavam seus lugares sagrados. Desde 
a Antiguidade, existiram pessoas que não creiam nos deuses que sua 
comunidade acreditava. 
O exemplo mais conhecido é o de Sócrates, que foi condenado à morte, dentre 
outras acusações, por não acreditar nos deuses. 
Com a paulatina cristianização da sociedade europeia, o simples fato de 
duvidar da existência de Deus, já não era bem visto pela Igreja Católica. 
Posteriormente, após a Reforma Protestante, o ateísmo foi rechaçado por 
estas novas correntes. 
Foi a Revolução Científica e o Iluminismo que levantaram, efetivamente, a 
ideia que a Bíblia e a tradição religiosa não tinham todas as repostas para as 
questões humanas. 
A partir de então surgiram ideologias que são abertamente ateias, como o 
socialismo, mas que posteriormente também levaram ao surgimento de 
correntes cristãs, como o socialismo cristão. 
Fonte: https://www.todamateria.com.br/ateismo/ 
 
 
 
39 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. Fundamentalismo(s) 
 
O fundamentalismo é um fenômeno relativamente recente, pelo menos como posição 
articulada e autoconsciente (Paine, 2010). Seu uso costuma ser mais associado àqueles 
que adotam alguma filiação religiosa, e muitas vezes acaba por reproduzir uma visão 
estereotipada dos seguidores de alguma fé, como se todos aqueles que a seguem o 
fizessem de maneira cega. O termo, porém, tem uma origem histórica, e hoje em dia 
debate-se até a sua aplicação a determinados segmentos do campo ateu. 
 
 
Na virada do século XX, há mais de cem anos, algumas décadas já tinham passado na 
notória guerra entre religião e razão, ou entre religião e ciência. Esses conflitos tinham 
começado já no século XVIII, na Grã-Bretanha, com o metodismo e, na América do Norte, 
com o “GreatAwakening” e o revivalismo – ambas reações ao iluminismo e aos primeiros 
filósofos ateus mais conhecidos do séc. XVIII. Seguiram-se a uma dupla tentativa: 
primeiramente, a tentativa de porta-vozes das novas conquistas na área das ciências da 
natureza de tirar conclusões filosóficas e até teológicas (ou ateológicas) dessas conquistas, 
e de contextualizá-las dentro de cosmovisões que nem sempre provinham dos próprios 
achados científicos, e sim de agendas ideológicas alheias (marxismo, fascismo, darwinismo 
social, positivismo lógico etc.). A segunda tentativa veio da parte dos integrantes das 
religiões abraâmicas, em particular do cristianismo protestante, e visou defender as bases 
de fé e certeza religiosa através do uso de certas barreiras. Essas foram erigidas contra 
interpretações ateias ou antirreligiosas provindas do mundo da ciência ou da filosofia e 
cultura modernas (secularismo, historicismo, criticismo bíblico, evolucionismo), ou mesmo 
da própria teologia liberal protestante da época (Paine, 2010). 
O termo “fundamentalismo” surge assim a partir do campo protestante cristão, e ao longo 
do século XX, o termo continuava sendo usado apenas dentro dessa comunidade para 
designar certas correntes mais ligadas à interpretação literal da Bíblia e, frequentemente,a 
atitudes apocalípticas ou milenaristas. Para se ter uma ideia de como a disseminação desse 
termo é um fenômeno recente, até o ano 1950 o verbete “fundamentalism” não figurava no 
Oxford EnglishDictionary, e “fundamentalist” apareceu apenas na edição de 1989 
(OXFORD, 1989), mas não associada ao campo cristão, e sim ao islã. 
A partir de então o conceito passou a se expandir, para incluir seitas menos tolerantes do 
budismo (como a Nichiren, no Japão), de certos partidos políticos na Índia 
(theBharatiyaJanataParty, o BJP, por exemplo) que aderiram a uma versão mais rigorosa 
 
 
40 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
de hinduísmo (chamada de “hindutva”) e, enfim, de qualquer tipo de ideologia que exibiu 
traços semelhantes de firmeza e inflexibilidade de suas convicções (Paine, 2010). 
 
Apesar de contemporaneamente estar mais associado pelo senso 
comum a algumas correntes do Islã, o termo “fundamentalismo” surgiu 
associado a correntes cristãs. 
Fonte: 
https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/0e0d5bc8135d9cb05e09169c6
f4deffa.jpg 
 
4. Fundamentalismo e intolerância ateus 
O crescimento no número de ateus e agnósticos tem levado a um duplo caminho: o 
crescimento dos casos de intolerância e preconceito para com esse grupo, mas também 
desse grupo em relação às correntes religiosas existentes. 
A intolerância do religioso para com o ateu e o agnóstico pode ser observada hoje em dia 
tanto de forma direta, nos atos cotidianos, quanto através das mídias tradicionais -temos 
no Brasil um sem número de emissoras de televisão e rádio estritamente religiosos, além 
de espaços comprados em emissoras laicas. Além disso, os discursos intolerantes circulam 
pelas chamadas novas mídias, cujo maior expoente são as redes sociais, especialmente 
no que diz respeito à laicidade do Estado, ao direito da população LGBTT (Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgênicos) e ao ensino religioso nas escolas. Uma 
pesquisa de opinião realizada pela Fundação Perseu Abramo (www.fpabramo.org.br), em 
2008, revelou que “gente que não acredita em Deus” provoca repulsa e ódio em 17% da 
 
 
41 Religião. Fé e Modernidade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
população brasileira e antipatia em 25%. Os números se equiparam ao sentimento 
provocado por usuários de drogas. Outra pesquisa realizada pela mesma instituição, em 
2010, mostrou que 63% dos brasileiros nunca votariam em um candidato ateu, e 12% 
dificilmente votariam (Filla e Fantini, 2016). 
Por outro lado, a intolerância também se dá por outra via, partindo daqueles que não 
creemem direção àquele que crê, provocando um discurso antirreligioso. Uma das 
principais formas de ação dos ateus e agnósticos para expressar suas ideias é a exposição 
na mídia, principalmente nas redes sociais, que por vezes caracteriza-se pelo ataque ao 
religioso por meio do humor e da agressividade, assumindo uma posição de menosprezo 
em relação à religião (Silva, 2012).As novas mídias são o principal campo dessa luta e, 
nessa tentativa de se afirmar perante a maioria religiosa, o descrente acaba recorrendo, 
muitas vezes, à mesma intolerância da qual se queixa para legitimar sua liberdade de 
descrer (Filla e Fantini, 2016). 
Porém, em alguns casos, o campo ateu se articula em torno de pautas mais concretas, que 
evidenciariam o fato da laicidade do Estado não ser plena no caso brasileiro. Exemplo disso 
seria a utilização de cruzes ou símbolos católicos em órgãos públicos, ou mesmo dentro 
das três esferas de poder, como é o caso do Poder legislativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://www12.senado.leg.br/institucional/presidencia/img/copy_of_Tofolli_capa01.jpg 
 
Diante desse contexto, marcado pela dialética do avanço das práticas religiosas e do 
aumento do movimento articulado por ateus e agnósticos, emerge a questão da 
intolerância, que circula em ambas as direções. Argumenta-se assim pela existência (ou do 
surgimento) de um discurso fundamentalista que parte também do campo ateu ou 
agnóstico, quanto apoiando-se nos resultados da ciência se proclamam além dos limites de 
 
 
42 Religião. Fé e Modernidade 
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competência das próprias ciências, e ousam pronunciamentos filosóficos, até metafísicos, 
sobre assuntos que, metodologicamente, jazem fora do seu campo de pesquisa (Paine, 
2010). 
 
 
 
Apesar do surgimento do conceito de fundamentalismo estar associado ao 
campo cristão em sua origem, ele posteriormente se espalhou. Ainda que 
contemporaneamente ele seja mais associado, até pelo senso comum e pela 
propagação de estereótipos, a religiões orientais, tal como o islã, debate-se a 
pertinência dele ser aplicado também ao campo ateu e agnóstico, que vem 
crescendo, como reflexo de um processo limitado de secularização. 
 
 
 
 
 
 
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6. Tecnologia e as religiões 
 
Objetivo: 
Analisar como se dá a relação entre algumas das religiões que tratamos nesta disciplina e 
as novas ferramentas tecnológicas disponíveis no mundo contemporâneo para a 
propagação da fé no ambiente digital. 
 
1. Introdução 
As religiões se adaptam. Elas não são meros artefatos de um passado estranho e distante 
no tempo. Enquanto indivíduos formados na sociedade ocidental costumamos traçar uma 
divisão entre “tradição” e “modernidade”,