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Conteudista: Prof.ª M.ª Rosa Maria Neves Abade Revisão Textual: Me. Luciano Vieira Francisco Objetivos da Unidade: Adquirir conhecimentos sobre o ajuizamento da peça inicial na ação penal privada; Saber elaborar a defesa inicial de mérito para o réu na fase processual penal; Analisar problemas e propor soluções jurídicas. Material Teórico Material Complementar Referências Queixa-crime e Resposta à Acusação Introdução Nesta Unidade veremos duas peças processuais importantes na área penal: a queixa-crime e a resposta à acusação. A queixa-crime é uma peça apresentada pela vítima para iniciar uma ação penal privada; já a resposta à acusação é uma importante peça intermediária, apresentada pela defesa em favor do réu sobre o mérito da causa. Vamos conhecê-las? Então comecemos com a queixa-crime. Queixa-crime Como dito, a queixa-crime é a peça inicial na ação penal privada, apresentada pelo querelante (vítima no processo) com o objetivo de iniciar a ação penal e ver o acusado processado e condenado pelo crime cometido. A ação penal, levando-se em conta o sujeito que a promove, pode ser pública ou privada, vejamos: 1 / 3 Material Teórico Ação penal pública é promovida pelo Ministério Público, com o oferecimento da denúncia e constitui a regra do nosso Direito. A denúncia oferecida pelo Ministério Público é a petição inicial da ação penal pública, de modo que será incondicionada ou Para relembrar, a queixa-crime subsidiária tem cabimento quando houver inércia do Ministério Público para oferecimento da denúncia, nos termos do artigo 29 do Código de Processo Penal (CPP) e do 100, § 3º do CPP. Assim, as peças iniciais no processo penal é a denúncia ou queixa-crime, dependendo do tipo de ação penal. Conceito Queixa-crime, repetimos, é a peça que inicia ação penal privada – tanto faz se é exclusivamente privada, personalíssima ou subsidiária da pública. Aquele que foi vítima de um crime, em que a ação penal seja privada, deve assim oferecê-la, através de seu advogado. Identificação Agora identifiquemos quando uma ação penal é pública ou privada. A ação penal pública incondicionada é a regra. Será ação penal pública condicionada à representação quando o crime sofrido pela vítima fizer a descrição “somente se procede mediante representação”. Será a ação penal privada quando o crime sofrido pela vítima (querelante) fizer a descrição “somente se procede mediante queixa”. Atente-se que, às vezes, a descrição não está no próprio condicionada à representação, requisição do ministro da Justiça; Ação penal privada é promovida pelo particular. Sua peça inicial é a queixa-crime oferecida pelo ofendido ou pelo seu representante legal, por meio de seu advogado; será privada exclusiva, personalíssima ou subsidiária da pública. Importante lembrar que além da ação penal privada exclusiva é possível que a ação penal privada seja subsidiária da pública e neste caso, a ação penal também será iniciada por meio de queixa-crime – chamamos também de queixa-crime subsidiária. artigo que descreve o crime, mas sim no final do capítulo em que o crime está disposto. Por exemplo, o Artigo 179 do Código Penal (CP): Fundamento Legal Quando a ação penal for privada exclusiva: artigo 30 do CPP e artigo 100, § 2º do Código Penal. Quando a ação penal for subsidiária da pública: artigo 29 do CPP e artigo 100, § 3º do Código Penal. Legitimidade A queixa-crime será oferecida pelo ofendido ou seu representante legal. Será ajuizada através de um advogado, nos termos do artigo 100, § 2º, do CP e artigo 30 do CPP. - (grifo nosso) “Fraude à execução Art. 179. Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo único – Somente se procede mediante queixa.” Em caso de morte ou declaração judicial de ausência do ofendido, a queixa-crime poderá ser proposta pelo Cônjuge, Ascendente, Descendente ou Irmão (Cadi), conforme previsão do artigo 31 do CPP e artigo 100, § 4º, do CP. Importante! Ação penal privada exclusiva – legitimidade: - (Art. 33 do CPP, grifo nosso) | (Art. 37 do CPP) “Legitimidade do ofendido ou seu representante legal e, em caso de morte ou ausência deste, cônjuge, ascendente, descendente ou irmão poderão se habilitar para ajuizamento ou prosseguimento da ação penal. Se for ofendido menor, sem representante legal, ou vítima incapaz com representante, mas interesses conflitantes será nomeado um curador pelo juiz. Se a vítima for pessoa jurídica, o direito de queixa deverá ser exercido pela pessoa que estiver indicada no contrato social ou no estatuto. No caso de não constar indicação, a legitimidade para representar a pessoa jurídica será de um dos diretores ou sócios-gerentes.” O que Deve Conter na Queixa-crime A queixa-crime deve conter os mesmos requisitos da denúncia e sua regra para ajuizamento também estão descritas no artigo 41 do CPP, sob pena de rejeição (indeferimento) pelo juízo, conforme previsão do artigo 395 do CPP: Ação penal privada personalíssima – legitimidade: é a ação intentada apenas pelo ofendido. O único exemplo é o crime do artigo 236 do CP – nesse caso, somente o próprio ofendido, não havendo possibilidade de atuação de substituto processual. Importante! Na queixa-crime é necessária a instrução da queixa-crime com procuração com poderes especiais para habilitar o advogado, conforme previsão do artigo 44 do CPP. Desta forma, sempre indique, “Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.” Em resumo, uma queixa-crime deve, então, conter: Prazos para Oferecimento da Queixa-crime (Prazos Decadenciais) O prazo de oferecimento da queixa é, em regra, de 6 meses, contados da data do conhecimento do autor dos fatos (CPP, art. 38 e CP, art. 103). O prazo é decadencial. em sua peça de queixa-crime, alguma expressão que demonstre o cumprimento desse requisito como, por exemplo, “procuração com poderes especiais em anexo”. Qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa o identificar; Exposição do fato criminoso e de todas as suas circunstâncias; Classificação do crime sofrido; Rol de testemunhas – se houver; Data e assinatura do advogado. Glossário Decadência: é a perda do direito de ação em face do decurso de prazo Alguns prazos não são contados da data em que a vítima tem conhecimento de quem é o autor do crime, vejamos: Vamos Aprender a Fazer a Peça Prática de Queixa-crime? Se a peça for para elaboração do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), atente-se ao seguinte: No corpo da peça é bom que seja mencionado que a queixa-crime foi oferecida dentro do prazo decadencial, com menção aos dois dispositivos aqui citados – pode ocorrer de a Fundação Getulio Vargas (FGV) atribuir algum ponto a isso. Além disso, pode ser que a OAB solicite que a queixa-crime seja oferecida no último dia de prazo. Se isso ocorrer, lembre-se: por ser prazo decadencial penal, deve ser contado o dia de começo e descartado o último dia. Feriados e finais de semana não prorrogam o prazo, por exemplo, o ofendido descobre a autoria do delito no dia 4 de agosto de 2022. Como o prazo é penal, ou seja, conta-se o primeiro dia e exclui-se o último dia, de modo que o prazo se encerra no dia 3 de sem o oferecimento da queixa. Se for ação penal privada subsidiária da pública: será de 6 meses, mas conta-se do término do prazo para o promotor oferecer a denúncia; Se for ação penal privada personalíssima: é porque o ofendido foi vítima do crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento, descrito no artigo 236 do Código Penal. Nesse caso, conta-se 1 mês do trânsito em julgado que anulou o casamento no âmbito cível; No caso de morte ou ausência do ofendido: o prazo deve ser contado do momento em que o sucessor tomar conhecimento da autoria. fevereiro de 2023. Pouco importa se o dia 3 será um feriado ou se corresponderá ao final de semana, não será prorrogado para o dia útil seguinte. Nomenclatura Na peça de queixa-crime deverá ser utilizada a seguinte nomenclatura às partes: Endereçamento Em regra, o ajuizamento da queixa-crime é feito ao Juízo Criminal, devendo ser observadas as disposições do CPP e da Constituição Federal de 1988 (CF) a respeito da competência (art. 69 do CPP e 109 da CF). Portanto, a regra é que a ação penal seja ajuizada no local em que ocorreram os fatos. Todavia, no caso da ação penal privada, o ofendido/querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. Por ser peça inicial, deverá ser oferecida ao juiz criminal. Se for crime de menor potencial ofensivo, será encaminhado ao Juizado Especial Criminal. Vítima (ofendido) = querelante; Acusado (autor dos fatos, ofensor) = querelado. Em Síntese Regra geral: Vara Criminal. Para facilitar, o endereçamento completo fica, então, assim: Identificação das Partes e da Peça (Preâmbulo) Crimes de menor potencial ofensivo – Lei 9.099/1995: Juizado Especial Criminal; Crimes e violência doméstica e familiar contra a mulher: Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher; Nos casos em que houver inércia do Ministério Público para oferecer denúncia nas hipóteses de crimes dolosos contra a vida, poderá, sim, o ofendido oferecer queixa- crime subsidiária – Vara do Tribunal do Júri. Justiça Estadual: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de... do Estado de... [UF unidade federativa]; Justiça Federal: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Criminal Federal da Seção Judiciária de... [UF]; Violência Doméstica: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara De violência doméstica e familiar contra a mulher da Comarca de... do Estado de [UF]; Juizado Especial Criminal: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal do Juizado Especial Criminal da Comarca de... do Estado de... [UF]; Tribunal do Júri Estadual: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara do Tribunal do Júri da Comarca de... do Estado de... [UF]; Tribunal do Júri Federal: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara do Tribunal do Júri da Seção Judiciária de... do Estado de... [UF]. Primeiro, deverá ser efetuado o preâmbulo, ou seja, a qualificação das partes. Depois, a qualificação do querelante e para isto deve-se incluir o nome completo, a nacionalidade, o estado civil, a profissão, o número de Registro Geral (RG), no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) – ou, no caso de pessoas jurídicas, o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) – e o endereço completo atual. Em seguida, dever-se-á deixar claro de que tipo de peça se trata e a quem ela é dirigida – por isso é essencial especificar quem oferece a queixa-crime. Por último, detalha-se quem é o alvo da ação penal que a queixa-crime visa iniciar – o querelado. Da mesma forma como ocorreu com o querelante, o querelado deve ser identificado por meio de seus dados pessoais. Em havendo mais de um querelado é importante que a queixa-crime os identifique – a todos – em sequência. Exposição dos Fatos Primeiramente, você deverá expor os fatos. A apresentação dos fatos criminosos é um elemento essencial da queixa, conforme prevê o artigo 41 do CPP. Desta forma, cabe ao advogado, a partir do relato e das provas apresentados pelo querelante, realizar um relato suscinto e cronológico dos fatos que caracterizam o crime em questão. A descrição do ato criminoso, data e horário em que foi praticado, bem como do momento em que o crime se tornou conhecido pelo querelante são elementos essenciais de uma seção “Dos fatos”. Como é peça de acusação, a tese está restrita a demonstrar a prática do delito. É igualmente importante demonstrar que a queixa-crime deve ser recebida nos termos do artigo 395 do CPP. Assim, basicamente é necessário fazer a descrição dos fatos, narrando o crime que o acusado supostamente praticou e, ainda, a imputação da autoria. Fundamentos Legais A queixa-crime é a peça inicial da ação penal privada e, portanto, deve dar ao juiz conhecimento sobre o que se passou e justificar, com base na Lei, os motivos pelos quais se requer a atuação do Poder Judiciário. Assim, deve-se especificar com clareza em quais artigos do Código Penal o ato criminoso pode ser classificado. Cabe, ainda na seção “Dos direitos”, detalhar se há elementos subjetivos ou qualificadoras para o crime. Deverá ser demonstrado que a conduta criminosa praticada pelo acusado está descrita na Lei como infração penal. Desse modo, torna-se necessário o início da ação penal para que seja aplicada a Lei ao caso concreto. Apresentação dos Pedidos e Requerimentos Após a exposição dos fatos e do direito é o momento de apresentar os seus pedidos. Assim, o primeiro pedido é para que a queixa-crime seja “recebida” e autuada pelo juiz. Apenas assim é possível que se dê prosseguimento à ação. Em seguida, pode-se pedir a citação do querelado, a designação de audiência de instrução – em alguns crimes, antes, há uma audiência de conciliação – e por fim, pede-se pela condenação do réu. O pedido de condenação, finalidade pela qual se dá início ao processo, deve vir acompanhado da indicação dos artigos do Código Penal que tipificam o crime e a pena prevista. Por fim, como veremos a seguir, algumas peças de queixa-crime arrolam testemunhas, motivo pelo qual pode-se pedir a intimação das testemunhas para a realização de oitivas. Igualmente, deve ser requerida a indicação do valor mínimo para indenização. Ao final, apresente o rol de testemunhas. Rol de Testemunhas Ao final, se houver, devem ser arroladas as testemunhas (art. 406, § 2º do CPP) ao final da queixa. As testemunhas deverão ser identificadas por meio de seus dados pessoais. Assinatura Ademais, a queixa-crime deverá vir assinada, no mínimo, pelo procurador do querelante – o advogado. Cabe, junto à assinatura, incluir o local e a data da confecção da queixa, bem como o número de inscrição do advogado na OAB. Em alguns casos, como medida de segurança, o advogado pode colher a assinatura do querelante. Caso você for elaborar a queixa-crime para um exame ou concurso (por exemplo, exame da OAB) e se a peça solicitada for a queixa-crime, você não poderá se identificar e, deste modo, deverá colocar a assinatura da seguinte forma: NOME DO ADVOGADO OAB/___ nº_________ [sem qualquer identificação] Queixa-crime – Procuração com Poderes Especiais Geralmente, para a representação de um cliente, o advogado faz uma procuração genérica, outorgando poderes para a atuação em juízo. Entretanto, para o oferecimento da queixa, o CPP (art. 44) exige poderes especiais na procuração, vejamos: Evidentemente, se for solicitada uma queixa-crime no exame da OAB, você não terá de fazer uma procuração na prova; basta dizer, na qualificação, “procuração com poderes especiais anexada, conforme artigo 44 do CPP”. Institutos da Ação Penal Privada A ação penal privada possui alguns institutos, a saber: Perempção: é uma sanção aplicada ao querelante, consistente na perda do direito de prosseguir na ação penal privada, em razão de sua inércia ou negligência processual, qual seja: “Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no Juízo Criminal.” Renúncia do direito de queixa: o direito de queixa pode ser renunciado antes de proposta a ação penal. A renúncia pode ser expressa através de declaração assinada, ou tácita, pela prática de ato incompatível com a vontade de exercer o direito de queixa (art. 104 do CP e 50 do CPP). A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, estender- se-á a todos (art. 49 do CPP). Perdão do querelante: o querelante poderá perdoar o querelado, desistindo da ação penal privada já proposta, de modo expresso ou tácito. Se forem dois ou mais querelados, o perdão concedido a um deles aproveita a todos, face ao princípio da indivisibilidade da ação penal (art. 51 do CPP), não produzindo efeito, todavia, em relação ao que recusou. O perdão é um ato bilateral, podendo ser recusado pelo querelado (art. 106, III do CP). A aceitação do perdão pode ser expressa ou tácita. No caso de o perdão não ser aceito pelo querelado, a ação “Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I – quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II – quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no artigo 36; III – quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV – quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.” penal prosseguirá. O perdão pode ser dado até o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 106, § 2º do CP). Retratação do agente: em alguns casos a pena pode ser afastada pela retratação do agente (art. 107, VI do CP). A retratação cabe nos seguintes casos: na calúnia ou difamação (art. 143 do CP) e no falso testemunho ou na falsa perícia (art. 342, § 3º do CP). Não depende de aceitação do ofendido, devendo ser reduzida a termo nos autos; não se comunica aos coautores. Modelo_QueixaCrime.docx 16.7 KB Exemplo Prático – Modelo de Queixa-crime Importante! Realize o download do arquivo a seguir e veja um exemplo de modelo de queixa-crime. https://articulateusercontent.com/rise/courses/ztEg3f-IFKG8ZBbTr_efhUlrOpOXVgEM/BQoq1hWLaedhcPS--Modelo_QueixaCrime.docx (XV Exame Unificado OAB/FGV, adaptado) Enrico, engenheiro de uma renomada empresa da construção civil, possui um perfil em uma das redes sociais existentes na internet e o utiliza diariamente para entrar em contato com seus amigos, parentes e colegas de trabalho. Enrico utiliza constantemente as ferramentas da internet para contatos profissionais e lazer, como o fazem milhares de pessoas no mundo contemporâneo. No dia 19 de dezembro de 2022, sábado, Enrico comemorou aniversário e planejou, para a ocasião, uma reunião à noite com parentes e amigos para festejar a data em uma famosa churrascaria da Cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Na manhã de seu aniversário, resolveu, então, enviar o convite por meio da rede social, publicando postagem alusiva à comemoração em seu perfil pessoal, para todos os seus contatos. Helena, vizinha e ex- namorada de Enrico, que também possui perfil na referida rede social e está adicionada nos contatos de seu ex-namorado, soube, assim, da festa e do motivo da comemoração. Então, de seu computador pessoal, instalado em sua residência, um prédio na praia de Icaraí, em Niterói, publicou na rede social uma mensagem no perfil pessoal de Enrico. Naquele momento, Helena, com o intuito de ofender o ex-namorado, publicou o seguinte comentário: “Não sei o motivo da comemoração, já que Enrico não passa de um idiota, bêbado, irresponsável e sem vergonha!” E, com o propósito de prejudicar Enrico perante seus colegas de trabalho e denegrir sua reputação acrescentou, ainda, “[...] ele trabalha todo dia embriagado! No dia 10 do mês passado, ele cambaleava bêbado pelas ruas do Rio, inclusive, estava tão bêbado no horário do expediente que a empresa em que trabalha teve que chamar uma ambulância para socorrê-lo!” Imediatamente, Enrico, que estava em seu apartamento e conectado à rede social por meio de seu tablet, recebeu a mensagem e visualizou a publicação com os comentários ofensivos de Helena em seu perfil pessoal. Enrico, mortificado, não sabia o que dizer aos amigos, em especial a Carlos, Miguel e Ramirez, que estavam ao seu lado naquele instante. Muito envergonhado, Enrico tentou disfarçar o constrangimento sofrido, mas perdeu todo o seu entusiasmo e a festa comemorativa deixou de ser realizada. No dia seguinte, Enrico procurou a Delegacia de Polícia Especializada em Repressão aos Crimes de Informática e narrou os fatos à autoridade policial, entregando o conteúdo impresso da mensagem ofensiva e a página da rede social na internet onde ela poderia ser visualizada. Passados 5 meses da data dos fatos, Enrico procurou seu escritório de advocacia e narrou os fatos. Você, na qualidade de advogado(a) de Enrico, deve assisti-lo. Informa-se que a Cidade de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, possui varas criminais e juizados especiais criminais. Questão: Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto aqui descrito, redija a peça cabível, excluindo a possibilidade de impetração de Habeas Corpus, sustentando, para tanto, as teses jurídicas pertinentes. A peça deve abranger todos os fundamentos de direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão. Resolução – elaborando o “esqueleto” da peça: 1. Cliente: Enrico. Na peça será o querelante; 2. Crime/pena: haverá concurso formal de crimes (art. 70 do CP): difamação (art. 139 do CP) e injúria (art. 140 do CP); aumento de pena de um sexto até a metade. Aplica-se a causa de aumento de pena prevista no artigo 141, III, do Código Penal, pois foi praticada por meio que facilite a sua divulgação; 3. Ação penal: os crimes são de ação penal privada, conforme se verifica ao final do capítulo dos crimes contra a honra, no artigo 145 do CP; 4. Rito processual: será do Juizado Especial Criminal, procedimento sumaríssimo; 5. Momento processual: está na fase de inquérito, não havendo início da ação penal e está no prazo para oferecimento da peça inicial acusatória. Não houve prazo decadencial. Você poderá fazer um parágrafo para demonstrar a tempestividade, ou seja, que não transcorreu o prazo decadencial de 6 meses; 6. Peça: queixa-crime; 7. Endereçamento: Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal do Juizado Especial Criminal de Niterói do Estado do Rio de Janeiro; 8. Requisitos: colocar a qualificação do querelante (Enrico) e da querelada (Helena), indicar a existência de procuração com poderes especiais (art. 44 do CPP), conforme modelo anterior; fazer exposição minuciosa do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, colocar o enquadramento legal do crime, inclusive, se há qualificadora ou majorantes. Colocar rol de testemunhas (art. 41 do CPP); 9. Tese: efetuar o enquadramento dos atos praticados pela querelada aos tipos penais de difamação e injuria previstos, respectivamente, nos artigos 139 e 140 do Código Penal. Não esquecer que a tese de causa de aumento de pena em razão dos crimes terem sido praticados em meio que facilitou a divulgação (art. 141, III, do CP), bem como a aplicação da majorante pelo concurso formal, nos termos do artigo 70 do Código Penal; 10. Pedido: que seja designada audiência preliminar, na forma do artigo 72 da Lei 9.099/1995. Em caso de impossibilidade de conciliação, requer que seja recebida e processada a presente queixa-crime para que seja citada a querelada para responder à acusação. Requer ainda a procedência do pedido com a condenação da querelada nas penas dos artigos 139 e 140 do Código Penal, com a aplicação da majorante de um terço em razão do artigo 141, III, do Código Penal e a majorante de metade (maior majorante possível) para o concurso formal (art. 70 do CP). A condenação da querelada ao pagamento de custas e demais despesas processuais. Fixação de valor mínimo para indenização, nos termos do artigo 387, IV, do Código Penal. Recebimento do rol de testemunhas (Carlos, Miguel e Ramirez) e da intimação para serem ouvidas em juízo; 11. Encerramento: local, data. Advogado. OAB; 12. Rol de testemunhas: Carlos, Miguel e Ramirez. Aprendeu sobre a queixa-crime? A seguir veremos a resposta à acusação – trata-se de outra peça penal igualmente importante. Vamos lá? Resposta à Acusação Definição Igualmente chamada de defesa escrita ou resposta escrita, a resposta à acusação é a primeira defesa a ser oferecida pelo réu na fase processual, logo após a citação. A finalidade da peça defensiva é rebater todos os argumentos da acusação expostos na denúncia (ou queixa-crime). Através dessa peça, o advogado deve tentar convencer o juiz a absolver sumariamente o réu – nos termos do artigo 397 do CPP. Fundamento Legal A peça deve ser fundamentada no artigo 396-A do CPP. Se o caso apresentado for de crime doloso contra a vida (art. 121 a 127 do CP) o fundamento legal será o artigo 406, § 3º do CPP. Prazo para Apresentação da Resposta à Acusação Após o recebimento da denúncia ou queixa, ou seja, se o juiz “não a rejeitar liminarmente”, esse mesmo juiz receberá a inicial e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 dias (art. 396, Caput do CPP). O prazo é processual e com dias corridos, a contar do primeiro dia útil. Como se trata de prazo processual, se o último dia for um feriado ou final de semana, deverá ser prorrogado para o primeiro dia útil seguinte. Ademais, na contagem deverá ser ignorado o primeiro dia, tal como em qualquer prazo processual – por exemplo, se o réu foi citado no dia 18, o prazo deve ser contado a partir do dia 19, tendo por fim o dia 29. Importante! O prazo da resposta à acusação – mesmo em se tratando de peça defensiva, contestatória – é diferente da contestação apresentada no processo civil. O prazo na resposta à acusação é contado da citação do réu – e não da juntada do mandado aos autos. Se a citação foi realizada por edital, o prazo para defesa começa a fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído (art. 396, parágrafo único). Nomenclatura Como nesse momento processual o juiz já recebeu a denúncia, utilizaremos as seguintes nomenclaturas na peça processual de resposta à acusação: “réu”, “acusado”, “requerente”, “denunciado” ou “defendente”. Endereçamento A resposta à acusação deverá ser endereçada ao juiz que está com o processo, competente para o julgamento da ação penal. Exemplos: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE... [UF] Ou: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE... [UF] Importante! A OAB costuma solicitar que o examinando informe e coloque a data, ao final da peça, no último dia de prazo. Ou ainda: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JÚRI DA COMARCA DE... [UF] Como Identificar a Resposta à Acusação O problema dirá sempre que a denúncia (ou queixa-crime) foi recebida e que o acusado foi citado para defender-se dos fatos a ele imputados na peça inicial. Resposta à acusação é peça obrigatória. A ausência de resposta à acusação é causa de nulidade do processo. Inclusive é o que prevê o artigo 396-A, § 2º: “Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias”. Assim, sempre que o enunciado no problema da OAB ou de outro concurso trouxer como último momento processual o recebimento da denúncia (ou queixa-crime) e a citação do acusado, a peça cabível será a resposta à acusação. Tese e Conteúdo da Resposta à Acusação Trata-se de peça típica da defesa, na qual deverá, o acusado, arguir preliminares e alegar tudo mais que interesse à sua defesa ou lhe favoreça neste sentido, sendo-lhe ainda possível oferecer documentos, justificações, especificar provas pretendidas – tais como a produção de laudos e exibição de documentos que, por quaisquer motivos, não possam ser juntados no momento da apresentação da peça. É o que prevê o artigo 396-A do CPP. Podem ser teses a serem apresentadas na resposta à acusação, vejamos: “1º A rejeição da petição inicial, nos termos do artigo 395 do CPP. Havia entendimento que não poderia ser arguida a rejeição da inicial sob o fundamento de que se o juiz já a recebeu, não poderia voltar atrás. Entretanto, atualmente há maioria nos tribunais que entendem pela possibilidade; 2º A desclassificação do crime para outro menos grave. Igualmente já foi alvo de polêmica a possibilidade de desclassificação em resposta à acusação. Atualmente há posicionamento da jurisprudência favorável à possibilidade. No exame de ordem, na última vez em que figurou resposta dessa natureza, havia uma tese de desclassificação; 3º A anulação de atos processuais. Pode ocorrer no caso de incompetência absoluta do juiz para julgar o processo, nulidade no recebimento da inicial, por violação ao artigo 395 do CPP, ou na citação do acusado; 4º Absolvição sumária. A finalidade em geral é tentar a absolvição sumária do réu. Após o recebimento da resposta à acusação, ou seja, após cumprido o disposto no artigo 396-A e nos §§ do CPP o juiz a analisará e poderá absolver sumariamente o acusado nos termos do artigo 397 do CPP. O juiz absolverá sumariamente o réu quando verificar a existência manifesta de causa excludente da (art. 397 do CPP): I – Ilicitude do fato: se for o caso de estado de necessidade; legítima defesa; estrito cumprimento do dever legal; ou exercício regular de direito; II – Culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade: as causas de exclusão da culpabilidade, ou dirimentes, são as seguintes: i) inimputabilidade; ii) ausência de consciência da ilicitude; iii) inexigibilidade de conduta diversa. Assim, incidirá neste inciso se for o caso de não potencial consciência de ilicitude – erro de proibição (art. 21 do CP) –, inexigibilidade de conduta diversa – coação moral irresistível e obediência hierárquica (art. 22 do CP). O artigo 397 faz ressalva em relação ao inimputável e a razão é a seguinte: caso o réu seja, por exemplo, Se não for caso de absolvição sumária, após receber a denúncia ou queixa, o juiz designará o dia e momento para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. esquizofrênico, a ponto de não ter discernimento do que fez, o juiz o absolverá (absolvição imprópria), porém, ele será submetido a medida de segurança. Para que se conclua pela inimputabilidade é necessário o prosseguimento da ação para o julgamento do respectivo incidente – veja o artigo 149 do CPP. Por esse motivo não é possível absolvê-lo sumariamente, com imposição de medida de segurança, com fundamento em inimputabilidade. Assim, for caso de inimputabilidade não poderá pedir absolvição sumária, pois seria caso de medida de segurança ou se for inimputável por ser menor de 18 anos de idade, deverá remeter os autos para a Vara da Infância ou Juventude, conforme o caso; III – Que o fato narrado evidentemente não constitui crime. Como há um inciso específico para a ilicitude (I) e outro inciso referente à culpabilidade (II), o inciso III é aplicado para absolver o réu quando atípico o fato. Exemplos de incidência do inciso III: quando o fato narrado é formalmente atípico (por exemplo, adultério), ou na hipótese de incidência de crime impossível; falta de materialidade; se ocorrer o princípio da insignificância (atipicidade material); IV – Extinta a punibilidade do agente. Se for o caso de uma das hipóteses do artigo 107 do CP, ou seja, morte do agente; anistia, graça ou indulto; retroatividade de Lei que não mais considera o fato como criminoso; prescrição, decadência ou perempção; renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; retratação do agente, nos casos em que a Lei a admite; perdão judicial, nos casos previstos em Lei. Igualmente, pode ser arguida, por exemplo, no caso de já ter liquidado o débito nas hipóteses previstas no crime de apropriação indébita previdenciária, crimes contra a ordem tributária etc.” Na prática advocatícia, comumente não se vislumbra de imediato uma das hipóteses do artigo 397 do CPP e, assim, para não adiantar sua tese defensiva e facilitar a tarefa da acusação, a tendência é a defesa se limitar a afirmar que o réu é inocente e que apresentará seus argumentos por ocasião das alegações finais. O advogado esgotará todos os meios de defesa aqui apenas se for para tentar convencer o juiz a absolvê-lo sumariamente. Caso contrário é comum, na prática, efetuar uma defesa mais simples sem esgotar o mérito da causa. Rol de Testemunhas É este o momento próprio para que sejam arroladas testemunhas até o máximo de oito (rito ordinário) e cinco (rito sumário), sob pena de preclusão. Resposta à Acusação Perante a Primeira Fase do Júri – Fundamento Legal no Artigo 406, § 3º do CPP A peça é idêntica à resposta para acusação de crimes comuns. Contudo, se for procedimento do Júri, não poderá pedir absolvição sumária do artigo 397 do CPP, pois na primeira fase do Júri, o juiz não condena ou absolve o réu, mas, sim, profere uma das decisões de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação do crime. Nestes casos, você deverá elaborar a defesa, mas não poderá pedir a absolvição sumária do réu, nos termos do artigo 397 do CPP. Ademais, você não pedirá a absolvição do acusado, mas que o juiz o impronuncie, absolva sumariamente ou desclassifique o delito, enviando-o para o juiz da Vara Criminal. Importante! Se for um caso/problema apresentado pela OAB e se tratar de citação editalícia, considerando-se como peça obrigatória, o prazo somente começará a fluir a partir do comparecimento do acusado ou de seu defensor; Caso o problema da prova cite outras pessoas que conheçam os fatos ou as circunstâncias a esse relacionadas (tal como um álibi, por exemplo), o candidato deverá arrolar essas pessoas como testemunhas. Caso o problema não cite nomes específicos, o candidato deverá, sem inventar dados, demonstrar conhecimento arrolando testemunhas sem as qualificar – bastará mencionar, por exemplo, no espaço dedicado ao rol como: “Testemunha 01; Testemunha 02 e Testemunha 03”; Seja o caso de oferecimento de exceção – de incompetência ou suspeição –, deve ser apresentada seguindo-se o disposto nos artigos 95 a 112 do Código de Processo Penal, em peça própria – e não por meio de resposta à acusação; A apresentação da resposta à acusação será imprescindível para a continuidade do processo. Assim, caso o acusado não apresente a resposta à acusação no prazo legal, após ter sido legalmente citado, o juiz obrigatoriamente deverá encaminhar o processo para a Defensoria Pública, ou nomear um defensor dativo para que possa oferecer a defesa escrita, sob pena de nulidade absoluta; Pedido de rejeição da inicial: como já aprendemos, a resposta à acusação é a peça cabível após o recebimento da petição inicial. Portanto e em tese, não seria possível pedir a rejeição da petição inicial, tal como ocorre com a defesa prévia da Lei de Drogas – aprenderemos a seguir. Todavia, há diversos julgados nos tribunais admitindo o pedido. Inclusive, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) publicou, no Informativo 522, o seguinte: Desta forma, caso o enunciado do problema da OAB traga hipótese de não recebimento da petição inicial, nos termos do artigo 395 do CPP, não deixe de alegá-la em sua resposta à acusação. Pedido O tópico “Do pedido” é consequência lógica do tópico anterior, “Do direito”. Ao elaborar a peça defensiva, atente-se para que nada seja esquecido. Os pedidos são pontuados individualmente. Deve ser requerido o recebimento da resposta à acusação; o reconhecimento da absolvição sumária – se for o caso. Deve ser requerido o acolhimento do pedido que foi formulado e a notificação das testemunhas arroladas. Após colocar: “Nestes termos, pede deferimento”, considere que na prática isso é opcional, de modo que para o exame da OAB também não é obrigatório; contudo, neste caso é bom não se esquecer das formalidades. “O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o juízo de primeiro grau de, logo após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do CPP, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do artigo 395 do CPP, suscitada pela defesa.” Lembre-se, só mencione a comarca se o problema disser onde o processo tramita; senão, diga: “Comarca...”. Não coloque a sua cidade de prova se o problema assim não mencionar. Concernente à data, em resposta à acusação, a FGV costuma pedir que a peça seja datada no último dia de prazo, de modo que fique atento(a) sobre isso. Por fim, não invente número de OAB ou nome para o advogado (por exemplo, “advogado Fulano”), sob pena de anulação da prova. Modelo_RespostaAcusação.docx 14.1 KB Exemplo de Resposta à Acusação solicitada pela OAB (Exame de Ordem, OAB/Cespe, 2008.3, adaptado e atualizado) Importante! Realize o download do arquivo a seguir e veja um exemplo de modelo de resposta à acusação. https://articulateusercontent.com/rise/courses/ztEg3f-IFKG8ZBbTr_efhUlrOpOXVgEM/fRp68K854xHJ_s-i-Modelo_RespostaAcusa%25C3%25A7%25C3%25A3o.docx Alessandro, de 22 anos de idade, foi denunciado pelo Ministério Público como incurso nas penas previstas no artigo 217 do Código Penal, por crime praticado contra Geisa, de 20 anos de idade. Na peça acusatória, a conduta delitiva atribuída ao acusado foi narrada nos seguintes termos: “No mês de agosto de 2022, em dia não determinado, Alessandro dirigiu-se à residência de Geisa, ora vítima, para assistir, pela televisão, a um jogo de futebol. Naquela ocasião, aproveitando-se do fato de estar a sós com Geisa, o denunciado constrangeu-a a manter com ele conjunção carnal, fato que ocasionou a gravidez da vítima, atestada em laudo de exame de corpo de delito. Certo é que, embora não se tenha valido de violência real ou de grave ameaça para constranger a vítima a com ele manter conjunção carnal, o denunciando aproveitou-se do fato de Geisa ser incapaz de oferecer resistência aos seus propósitos libidinosos assim como de dar validamente o seu consentimento, visto que é deficiente mental, incapaz de reger a si mesma”. Nos autos havia somente a peça inicial acusatória, os depoimentos prestados na fase do inquérito e a folha de antecedentes penais do acusado. O juiz da 2ª Vara Criminal do Estado X recebeu a denúncia e determinou a citação do réu para se defender no prazo legal, tendo sido a citação efetivada em 10 de janeiro de 2023. Alessandro procurou, no mesmo dia, a ajuda de um profissional e outorgou-lhe procuração ad juditia com a finalidade específica de ver-se defendido na ação penal em apreço. Disse, então, a seu advogado que não sabia que a vítima era deficiente mental, que já a namorava havia algum tempo, que sua avó materna, Romilda e sua mãe, Geralda, que moram com ele, sabiam do namoro e que todas as relações que manteve com a vítima eram consentidas. Por fim, Alessandro informou que não havia qualquer prova da debilidade mental da vítima. Questão: Em face da situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de advogado(a) constituído(a) pelo acusado, a peça processual, privativa de advogado, pertinente à defesa de seu cliente. Em seu texto, não crie fatos novos, inclua a fundamentação legal e jurídica, explore as teses defensivas e date o documento no último dia do prazo para protocolo. Solução – peça comentada: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ... [Interessante comentar aqui que, pelo fato de constar no problema em qual Vara foi recebida a denúncia, constata-se este dado no endereçamento; o mesmo não ocorreu com a Comarca, sendo assim, tal dado não pode ser inventado]. ALESSANDRO, nacionalidade, estado civil, profissão, portador do RG sob o nº e inscrito no CPF/MF sob o nº, residente e domiciliado na ... nos autos em epígrafe, que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que a esta subscreve (procuração anexada), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, dentro do prazo legal, oferecer [Sendo a primeira vez em que seu cliente se manifesta nos autos, torna-se necessário juntar instrumento de procuração – faça apenas menção ao documento]. Resposta à Acusação Nos termos do artigo 396-A, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor: [Não deixe de citar o artigo em que se fundamenta a peça. É um ponto relevante explorado pelo examinador]. I – Dos Fatos: Alessandro foi denunciado porque, em agosto de 2022 supostamente teria se dirigido à residência de Geisa e a constrangido a com ele manter conjunção carnal, resultando, assim, na gravidez da suposta vítima, conforme laudo de exame de corpo de delito. Narra ainda a exordial que, embora não se tenha se valido de violência real ou de grave ameaça para a prática do ato, o réu teria se aproveitado do fato de Geisa ser incapaz de oferecer resistência ao propósito criminoso, assim como de validamente consentir, por se tratar de deficiente mental, incapaz de reger a si mesma. [Lembre-se de não usar muito espaço para a narração dos fatos, para a peça não ficar demasiadamente extensa. Faça um pequeno resumo do que é narrado no problema, atentando- se para aspectos relevantes a serem explorados quando da argumentação e sem inventar nenhum dado que não conste no problema]. II – Do Direito: Com efeito, o réu desconhecia a alegada condição de tratar-se a vítima de débil mental, sendo este um dos requisitos previstos em Lei para que a vítima seja vulnerável. Não sendo a debilidade aparente e, portanto, desconhecida pelo réu, os atos sexuais, nas circunstâncias em que foram praticados, deram-se de forma não criminosa por manifesta atipicidade. Estamos diante da figura do erro de tipo, prevista no artigo 20 do CP: Art. 20 – O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Foi o que realmente aconteceu no caso em tela. O réu teve falsa percepção da realidade, já que namorava a vítima havia algum tempo e sua avó materna, Romilda e sua mãe, Geralda, que moram com ele, sabiam do namoro e que todas as relações que manteve com a vítima eram consentidas. O erro, em Direito Penal, é uma errada percepção da realidade. Foi uma falsa percepção do acusado que não poderia prever a ilicitude de sua conduta no momento. Ademais, erro de tipo é o erro do agente que recai sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime (CP, art. 20, Caput, 1ª parte). O erro de tipo exclui sempre o dolo, seja evitável, seja inevitável. No caso em tela, o dolo era inevitável, diante das condições em que o namoro transcorria. Assim, o crime estará excluído se o autor desconhece ou se engana a respeito de um dos componentes da descrição legal do tipo penal, como no caso em tela, onde o acusado não tinha nenhuma intenção delitiva. Portanto, deve ser reconhecida a figura do erro de tipo, excluindo, assim, o crime. Não bastassem tais circunstâncias compulsando os autos, observa-se ainda a inexistência de laudo pericial comprovando a alegada debilidade mental que, aliás, não pode ser presumida. III – Do Pedido: Diante do exposto, requer que seja o acusado absolvido sumariamente nos termos do artigo 397, inciso I do Código de Processo Penal. Entretanto, caso ainda não seja este o entendimento de Vossa Excelência, requer a realização de exame pericial para que se verifique a higidez mental da suposta vítima e sejam ouvidas as testemunhas a seguir arroladas no decorrer da instrução: Testemunha 1 – Romilda, qualificada à fl. ... Testemunha 2 – Geralda, qualificada à fl. ... [Nesse caso, somente citamos os nomes das testemunhas porque trazidos no problema. Não sendo citado nenhum nome na questão, não deixe de apresentar o rol, por ser esta a única oportunidade para a defesa proceder desta forma. Assim, caso não seja possível indicar os nomes na sua peça, aponte apenas: “Testemunha 01 – ___” e demonstre o seu conhecimento sobre a imprescindibilidade]. Nesses termos, Pede deferimento. Local, data. [Somente não foi citada a data de apresentação da peça porque, no caso em tela, não foi esclarecida a data de abertura do prazo – mas cuidado com este requisito. Ademais, caso o problema forneça o local, este deve ser citado neste momento]. Advogado OAB nº [Em nenhuma hipótese você pode se identificar, sob pena de ter a sua prova anulada]. Defesa Prévia (Lei 11.343/2006) e Defesa Preliminar A defesa prévia e defesa preliminar são peças cabíveis em casos específicos. Por serem duas peças semelhantes, serão abordadas aqui ao mesmo tempo. A defesa prévia está prevista na Lei de Drogas e a defesa preliminar, no rito dos crimes funcionais. Em ambas as peças temos a mesma situação: o Ministério Público ofereceu denúncia, mas o juiz ainda não a recebeu. Como não houve, até então, o recebimento da petição inicial, as duas peças estão em fase pré-processual. Fundamento Legal Identificação das Peças Em duas, o Ministério Público terá oferecido denúncia contra o seu cliente, mas ainda não terá ocorrido o recebimento da inicial. Outra forma de se identificar as peças é pelo crime praticado. Na defesa prévia: artigo 55, Caput da Lei 11.343/2006; Na defesa preliminar do rito dos crimes funcionais: artigo 514, Caput do CPP. Defesa prévia – cabimento: a defesa prévia é peça cabível nos crimes previstos na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006). Você jamais a escolherá, por exemplo, para a defesa de alguém que tenha praticado um roubo; Eis outra dica para a identificação das peças: o problema dirá que o cliente foi notificado – e não citado. Só se menciona citação na fase processual, ou seja, após o recebimento da inicial. Na fase pré-processual, a comunicação da existência de peça inicial se dá pela notificação. Prazos A defesa prévia tem prazo de 10 dias, após a notificação. A defesa preliminar, 15 dias após a notificação. Sobre a contagem, atenção: o prazo deve ser contado desde a notificação – e não desde a juntada do mandado aos autos. Ademais, por serem prazos processuais, feriado e final de semana os prolongam ao primeiro dia útil seguinte. Teses de Defesa no Procedimento da Lei de Drogas e nos Crimes Praticados pelo Funcionário Público Diferentemente da resposta à acusação em que o juiz já recebeu a inicial, na defesa prévia e na defesa preliminar houve apenas o oferecimento da denúncia. O seu objetivo será, então, convencer o juiz a não receber a denúncia oferecida, com fundamento no artigo 395 do CPP, este que traz três causas de rejeição da inicial: Defesa preliminar – cabimento: a defesa preliminar será a peça cabível quando se tratar de crime praticado por funcionário público contra a administração pública – os chamados crimes funcionais (CP, art. 312 a 326). Segue o procedimento dos artigos 513/518 do CPP. Petição inicial inepta: a denúncia ou queixa é inepta quando, por não estar compreensível, confusa, não preenche os requisitos do artigo 41 do CPP. Se for uma Pedidos Por ser uma peça pré-processual, não há como pedir a absolvição do denunciado. O seu pedido será a rejeição da denúncia, com fundamento no artigo 395 do CPP. É bem provável que a FGV peça mais de uma causa de rejeição. Caso isso ocorra, faça pedidos de rejeição distintos, por exemplo, “requer a rejeição da denúncia, com fundamento no artigo 395, III, do CPP, por falta de justa causa e com base no artigo 395, I, do CPP, por inépcia da petição inicial”. das teses, o enunciado dirá em denúncia genérica, que não descreve com exatidão a conduta de cada um dos denunciados se for crime cometido por dois ou mais réus (concurso de pessoas), ou dirá que o Ministério Público apresentou denúncia incoerente. A ausência de pedido também é causa de rejeição da denúncia por inépcia; Falta de pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal: se a denúncia estiver “contaminada” por algum vício que inviabilize a ação penal. São exemplos: atipicidade (impossibilidade jurídica), ilegitimidade da parte, exemplo, advogado oferece denúncia no lugar do promotor, Ministério Público estadual oferece denúncia no Ministério Público federal ou incompetência do juízo; Falta de justa causa: trata-se de análise do mérito da causa para buscar a absolvição do denunciado. Eis alguns exemplos de teses de falta de justa causa: legítima defesa, estado de necessidade, erro de tipo essencial, erro de proibição inevitável, crime impossível, atipicidade do crime etc. Importante! A seguir é possível realizar o download de um modelo de defesa preliminar. Modelo_DefesaPreliminar.docx 13.9 KB Nomenclatura Correta das Peças Na advocacia prática, podemos adotar resposta à acusação, defesa escrita ou defesa prévia ao nomear a petição defensiva. Todavia, se for para a elaboração de peça no exame da OAB ou qualquer outro concurso jurídico, a inversão dos nomes das peças pode acarretar reprovação. Assim, devemos nomear a peça corretamente para cada procedimento, vejamos: “Resposta à acusação” para a peça dos artigos 396 e 406 do CPP; “Defesa prévia” para a defesa do artigo 55 da Lei 11.343/2006; “Defesa preliminar” ou “resposta escrita” (expressão da Lei) para a peça do artigo 514 do CPP. https://articulateusercontent.com/rise/courses/ztEg3f-IFKG8ZBbTr_efhUlrOpOXVgEM/foWb3eDUokkH0Ylx-Modelo_DefesaPreliminar.docx Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Estrutura da Queima-crime 2 / 3 Material Complementar ESTRUTURA DA QUEIXA CRIME https://www.youtube.com/watch?v=RqDVtIGb94M Queixa-crime (2ª Fase OAB – Como Redigir a Peça) Resposta à Acusação (2ª Fase OAB – Como Redigir a Peça) Queixa-crime (2ª Fase OAB - Como redigir a peça) Resposta à acusação (2ª Fase OAB) | Como redigir a peça https://www.youtube.com/watch?v=7ba7lgc9mGM https://www.youtube.com/watch?v=k0nkYjrU8GM Tudo sobre Resposta à Acusação Leitura Algumas Anotações sobre a Queixa no Processo Penal Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE A Queixa-crime e suas Especificidades na Sistemática do Processo Criminal Tudo sobre a Resposta à Acusação https://rogeriotadeuromano.jusbrasil.com.br/artigos/1508016491/algumas-anotacoes-sobre-a-queixa-no-processo-penal https://www.youtube.com/watch?v=3wTDXmyV7xM Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE É Possível a Rejeição da Denúncia após a Resposta à Acusação? Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Defesa Preliminar (Tráfico de Drogas) Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://freelaw.work/blog/queixa-crime/ https://www.migalhas.com.br/depeso/300558/e-possivel-a-rejeicao-da-denuncia-apos-a-resposta-a-acusacao https://rodrigoglino.jusbrasil.com.br/modelos-pecas/654222772/defesa-preliminar-trafico-de-drogas DEZEM, G. M. et al. Prática jurídica – penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. (e-book) GLOECKNER, R. J. Nulidades no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. (e-book) LOPES JUNIOR, A. Direito Processual Penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (e-book) MARCÃO, R. Curso de Processo Penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (e-book) NUCCI, G. S. Prática forense penal. 1. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2022. NUCCI, G. S. Curso de Direito Processual Penal. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022. (e-book) PACELLI, E. Curso de Processo Penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book) RANGEL, P. Direito Processual Penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book) 3 / 3 Referências
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