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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 PRFÁTICAPEDAGÓGICA INTESDISCIPLINAR: SUPERDOTAÇÃO E ALTAS HABILIDADES 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Fabiana Miraz de Freitas Grecco Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Carla Jordânia G. de Souza Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você encontrará ícones ao lado dos textos. Eles chamama sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes aos quais você deve ter atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. Esclarecem o significado de determinados termos/palavras mostrados ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão das questões citadas em cada unidade, associando-as a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA E SUA HISTÓRIA ............... 10 1.1 BREVE HISTÓRICO DO AUTISMO ..............................................................................10 1.2 KANNER E O PROCESSO DE CULPABILIZAÇÃO DAS MÃES EM CASOS DE AUTISMO ............................................................................................................... 11 1.3 BRUNO BETTELHEIM E A CULPA DAS MÃES ......................................................... 13 1.4 BRUNO BETTELHEIM E KANNER, ENCONTROS E DESENCONTROS ..................... 15 FIXANDO O CONTEÚDO ...........................................................................................20 O TEA E SEUS FUNDAMENTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS ................... 25 2.1 CONHECENDO O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - TEA ........................ 25 2.2 O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E SUAS CARACTERÍSTICAS................ 27 2.3 NÍVEIS DE GRAVIDADE NO AUTISMO ................................................................. 30 2.3.1 Interação/Comunicação Social .................................................................. 32 2.3.2 Comportamento Restritivo/Repetitivo......................................................32 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 34 O ESPETRO AUTISTA E AS MUDANÇAS CONCEITUAIS .......................... 38 3.1 MUDANÇAS CONCEITUAIS.................................................................................. 38 3.2 IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO...................................................................... 40 3.3 DIFICULDADES NO DIAGNÓSTICO CLÍNICO...................................................... 42 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 44 AS PRÁTICAS TERAPÊUTICAS E PEDAGÓGICAS UTILIZADAS NO TEA.... 49 4.1 O ABA COMO PRÁTICA TERAPÊUTICA ............................................................... 49 4.2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ESCOLARES .............................................................. 51 4.3 ADAPTAÇÕES CURRICULARES............................................................................. 52 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 56 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E A INTERAÇÃO SOCIAL ........... 60 5.1 INTERAÇÃO SOCIAL............................................................................................. 60 5.2 COMUNICAÇÃO .......................................................................................................62 5.3 PADRÕES REPETITIVOS DE COMPORTAMENTO E INTERESSES RESTRITOS .......... 66 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 69 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: ROTINA E DIAGNÓSTICO......... 72 6.1 A IMPORTÂNCIA DA ROTINA NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA ........ 72 6.2 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NO TEA ................................................................. 74 6.3 O DIAGNÓSTICO E A ESCOLA ............................................................................ 75 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 78 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 UNIDADE 06 6 LINHA DO TEMPO – BRASIL E MUNDO SOBRE A TRAJETÓRIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ................................... 83 6.4 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 83 6.5 PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E OS SUPERDOTADOS NO DECORRER DO TEMPO ................................................................................................................... 83 6.6 O SUPERDOTADO NA CONTEMPORANEIDADE: CONCEITO, ETIOLOGIA E TIPOLOGIA ............................................................................................................ 88 6.7 MOVIMENTO EDUCACIONAL VOLTADO À EDUCAÇÃO ESPECIAL .................. 91 FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................95 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA...................................................................... 101 7.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 101 7.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL, LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL E LEGISLAÇÕES ESPECÍFICAS ........................................................ 101 7.3 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA..................................................................................... 106 7.4 A INTELIGÊNCIA COMO PATRIMÔNIO SOCIAL ............................................... 110 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 114 O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NO ENSINO FUNDAMENTAL .......................... 120 8.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 120 8.2 REFERENCIAL TEÓRICO DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO....................... 122 8.3 ESPECIFICIDADES DA INFÂNCIA DAS CRIANÇAS COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO E SONDAGEM E OBSERVAÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO INICIAL DA SUPERDOTAÇÃO............................................................................. 127 8.4 ESPECIFICIDADES DA ADOLESCÊNCIA DOS ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO ...................................................................... 130 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 134 O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO NO ENSINO MÉDIO.................................................................................................... 138 9.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 138 9.2 REFERENCIALTEÓRICO PARA O TRABALHO COM ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO NAS ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA....... 138 9.3 ADEQUAÇÕES CURRICULARES DE PEQUENO, MÉDIO E GRANDE PORTES PARA O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO................................ 143 9.4 A SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS........................................................ 145 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 150 AÇÕES EDUCATIVAS PROMOTORAS DA INCLUSÃO DE ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO............................................... 155 10.1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 155 10.2 ADEQUAÇÕES CURRICULARES ....................................................................... 155 10.2.1.Sistemas De Agrupamento Específico:.................................................. 157 10.2.2.Flexibilização Ou Aceleração ................................................................. 157 10.2.3.Enriquecimento .......................................................................................... 159 10.3 REMOVENDO BARREIRAS NO COTIDIANO DA SALA DE AULA..................... 161 10.4 O SUPERDOTADO NA ESCOLA REGULAR ....................................................... 164 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 166 UNIDADE 07 UNIDADE 08 UNIDADE 09 UNIDADE 10 UNIDADE 11 7 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM PARA AS CRIANÇAS COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO............................................... 171 11.1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 171 11.2 ENCORAJAMENTO E POTENCIALIDADES ....................................................... 171 11.3 TIPOS DE ATENDIMENTOS ....................................................................................174 11.4 A FAMÍLIA E O CONTEXTO SOCIAL JUNTO AOS ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO E O ACOMPANHAMENTO FAMILIAR NAS ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA ...................................................................... 176 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 182 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 187 REFERÊNCIAS......................................................................................... 189 UNIDADE 12 8 CONFIRA NO LIVRO Iniciaremos a primeira Unidade conversando sobre a história do Transtorno do Espectro Autista – TEA, e algumas implicações acerca de sua descoberta por alguns estudiosos. Na segunda unidade conversaremos acerca de alguns conceitos básicos sobre o TEA, sem perder de vista a importância do corpo de profissionais envolvidos que desenvolvem ações e colaboram para o diagnóstico e tratamento do autismo. Conversaremos, nesta terceira unidade, sobre as mudanças conceituais do Transtorno do Espectro Autista, a ideia da doença para o paradigma da neurodiversidade reconhecido como diferença, e não como doença. Nesta unidade dialogaremos sobre as práticas pedagógicas, a importância e os desafios enfrentados pelas crianças com Transtorno do Espectro Autista ao chegar na escola. Nesta unidade conversaremos um pouco mais sobre a dificuldade de socialização como a base do funcionamento autístico. Nesta unidade discutiremos a importância da rotina na vida de crianças com TEA, e questões relativas ao diagnóstico precoce. UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 UNIDADE 06 9 Na sétima unidade, estudaremos sobre a criança com altas habilidades e superdotação e como eles são conhecidas atualmente e tratadas pela sociedade. Na oitava unidade, aprofundaremos nosso conhecimento acerca da legislação brasileira sob a perspectiva de uma educação inclusiva voltada para as crianças superdotadas. Aqui, veremos mais sobre o aluno, criança e adolescente, com superdotação, estratégias de observação e identificação dessas habilidades. Nesta unidade, estudaremos mais sobre o jovem com superdotação no Ensino Médio e as adequações curriculares necessárias para esse aluno. Na décima primeira unidade, veremos abordagens e intervenções curriculares, previstas pela Base Nacional Comum Curricular, direcionadas ao aluno com superdotação. Por fim, na última unidade, entenderemos como explorar e encorajar os alunos com superdotação em uma tratativa em que a família é aliada e agente motivador. UNIDADE 07 UNIDADE 08 UNIDADE 09 UNIDADE 10 UNIDADE 11 UNIDADE 12 10 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TEA E SUA HISTÓRIA 1.1 BREVE HISTÓRICO DO AUTISMO Iniciaremos a Unidade 1 conversando sobre a história do Transtorno do Espectro Autista – TEA, e algumas implicações acerca de sua descoberta por alguns estudiosos. Historicamente, os primeiros estudiosos que buscaram informações acerca do autismo pertenciam à medicina. Eugene Bleuler se referiu ao autismo pela primeira vez em 1916, como um tipo de esquizofrenia, devido à equivalência das características e sintomas (SCHMIDT, 2013). Vinte nove anos após os estudos de Bleuler surgiram novas publicações e estudos. O autismo foi descrito em 1943 pelo médico psiquiatra austríaco Kanner, que o considerou como um problema do desenvolvimento humano. Em seus trabalhos, o pesquisador desenvolveu 11 estudos de casos de pessoas que apresentavam dificuldades para se relacionar com outras pessoas. Concluiu que essas pessoas apresentavam o que ele chamou de “distúrbios autísticos do contato afetivo”. Um ano após, o médico Hans Asperger realizou uma pesquisa em que as crianças apresentavam características muito próximas às descritas por Kanner, todavia, sua pesquisa foi escrita em alemão, o que inviabilizou, por um longo período, ser reconhecida. Como referência, temos hoje Kanner e Asperger como os primeiros pesquisadores a identificarem o autismo. Atualmente, estudos relatados foram primordiais para a construção dos conceitos e características utilizadas no diagnóstico do autismo. No passado a palavra autismo era originada do grego (autos), que significava “por si mesmo”, e utilizada na psiquiatria para explicar os comportamentos humanos em que a pessoa se volta para si mesma, sem estabelecer contato com o outro (ORRU, 2012). Se buscarmos na literatura outras definições para o autismo encontraremos questões relacionadas a fatores genéticos durante o desenvolvimento da criança ainda no útero. Essa definição ainda é um enigma e infelizmente não contribui para UNIDADE 01 11 um diagnóstico precoce e assertivo acerca do TEA (CUNHA, 2010). Um fato curioso em relação à descoberta do autismo é que durante as décadas de 50 e 60, a partir das pesquisas de Kanner, muitos pesquisadores concluíram que o comportamento autista poderia ter origem nas relações entre pais e filhos, ou seja, pais e mães que estabeleciam laços de afetividade frágeis com os filhos. Algumas teorias psicogênicas construíram hipóteses para justificar o autismo nas relações pouco afetivas entre pais e filhos. A ausência de afetividade estaria vinculada à origem do TEA, hipótese que encontrou discrepância entre alguns autores e pesquisadores. Na década de 40 alguns estudos que abordaram o autismo, explicaram estes fenômenos: as teorias psicogenéticas, as teorias biológicas e as teorias psicológicas (CASTELA, 2013). As teorias psicogenéticas foram as primeiras a buscar informações sobre o autismo. Elas o definiram como uma perturbação afetiva, originada devido ao mal relacionamento entre mãe e filho. Mesmo que o ambiente familiar fosse identificado como um ambiente “ruim, ou adoecido” o foco estava na figura/função materna, definidas em alguns momentos como “rígida e perfeccionista”, e em outros como “indiferente” e “emocionalmente fria” (CASTELA, 2013). 1.2 KANNER E O PROCESSO DE CULPABILIZAÇÃO DAS MÃES EM CASOS DE AUTISMO Mencionado anteriormente, Kanner, médico psiquiatraaustríaco, foi um dos primeiros profissionais da área da saúde a realizar estudos sobre as crianças e seu desenvolvimento infantil, nos Estados Unidos (CIRINO, 2001). Kanner se sentia intrigado ao perceber que as crianças não se comunicavam e como eram afetadas pela ausência da comunicação. Ele observou, analisou e estudou 11 crianças no Hospital Johns Hopkins, em Baltimore nos Estados Unidos. Os resultados dos estudos foram publicados na revista The Nervous Children, em um artigo intitulado “Autistic disturbances of affective contact, em 1943 (LOPES, 2017). Nos resultados da sua pesquisa, ele esclareceu que havia variações nos sintomas de cada criança estudada, e que a literatura até então não descrevia esses sintomas e suas consecutivas variações. Kanner defendeu a ideia de que o “[...] problema central era afetivo e não 12 cognitivo” (LIMA, 2014, p. 110). Para o pesquisador, o autismo não era adquirido, mas inato, contudo, existia uma possibilidade de que a influência familiar promovesse o desencadeamento da síndrome. Ainda, nos estudos de Kanner, ele descreveu e apresentou o perfil das famílias das crianças participantes do estudo. Apresentou os membros das famílias como pessoas “inteligentes”, “obsessivas” e “pouco amorosas”, que valorizavam e priorizavam estudos científicos e filosóficos em detrimento do convívio afetivo com os demais familiares e convívio social (LIMA, 2014). Outro ponto destacado por Kanner refere-se aos casamentos em que havia distanciamento emocional entre o casal. Para ele a: [...] questão, a saber, é, em que medida, este fato tem contribuído para a condição das crianças. A solidão delas desde o início da vida faz com que seja difícil atribuir o quadro inteiro exclusivamente ao tipo das primeiras relações parentais com o nosso paciente (KARNNER, 1943, p. 250). Em 1949, Kanner publicou outro estudo com foco no autismo, e atribuiu que as possíveis causas ao TEA estavam relacionadas à personalidade dos pais e das mães (LIMA, 2014). A partir desse estudo surge a teoria “mãe geladeira”, que identifica e culpabiliza a mãe pelo autismo nos filhos. Kanner (1943, p. 111) descreve: Na maioria dos casos, a gravidez não havia sido bem-vinda e ter filhos era nada mais que uma das obrigações do casamento. A falta de calor materno em relação ao filho ficaria evidente desde a primeira consulta, pois a mãe demonstrava indiferença, distanciamento físico ou mesmo incômodo com a aproximação da criança. A dedicação ao trabalho, o perfeccionismo e a adesão obsessiva a regras seriam outros dos traços dos pais, e os dois últimos explicariam o seu conhecimento de detalhes do desenvolvimento do filho. Mais que isso, os pais muitas vezes se dedicariam a estimular a memória e o vocabulário de sua criança autista, tomando o filho como objeto de “observação e experimentos”. Mantido desde cedo em uma “geladeira que não degela”, o autista se retrairia na tentativa de escapar de tal situação, buscando conforto no isolamento. Sabemos que a teoria de Kanner não se sustenta na atualidade. Estudos posteriores demonstraram que a “mãe geladeira” não é a causadora do autismo. Contudo, o médico austríaco contribuiu muito para a construção de novos estudos acerca do autismo e do psiquismo humano. Vale destacar que as pesquisas de Kanner responsabilizavam as mães pelo fracasso do desenvolvimento dos filhos, principalmente no que diz respeito às questões emocionais. 13 De acordo com Lima (2014) Kanner associou a sua pesquisa à ideia de maternidade inadequada, dificuldades no comportamento e problemas emocionais oriundas de estudos realizados pela psicanálise a respeito da importância da função materna para o desenvolvimento psíquico da criança. Assim, além de Kanner, outros teóricos da época asseveravam que a maternidade inadequada estava relacionada também à negligência, ausência de atenção, afeto e de tempo para a realização de cuidados básicos que em muitos casos promoviam o laço afetivo entre a mãe e a criança, além de um abandono velado (LIMA, 2014). Nesse contexto e período histórico do autismo, diversos teóricos se incumbiram de construir manuais para ensinar as mulheres a serem mães, e impor um tipo de maternidade baseada no saber científico psiquiátrico. A partir daí, estabeleceu-se a associação mãe/culpa (FORNA, 1999). Assim, Lima (2014) destaca que, naquele período, os argumentos de Kanner iam de encontro com o que a psiquiatria norteava em termos de pesquisas sobre o autismo, a valorização da infância e da criança associada às teorias psicanalíticas. 1.3 BRUNO BETTELHEIM E A CULPA DAS MÃES Sobre a culpa das mães, não foi apenas Kanner que pesquisou sobre o autismo. Outro pesquisador conhecido nas décadas de 50 a 70 foi o psicanalista Bruno Bettelheim, que esteve nos campos de concentração nazista entre 1938 a 1939 (FEINSTEN, 2010). De acordo com Lima (2014, p. 4): Bettelheim apresentava-se à comunidade acadêmica e ao público em geral enquanto um intelectual vinculado à psicanálise freudiana capaz de associar experiências pessoais com reflexões sobre os processos de desumanização aos quais muitas pessoas eram submetidas, defendendo que o autismo seria um mecanismo de defesa elaborado pela criança diante de situações por ela considerada ameaçadoras. Desde 1950 Bettelhein escrevia e pesquisava sobre o autismo, entretanto, em 1967 ele publicou o livro “A Fortaleza” que trouxe o reconhecimento como especialista em crianças, principalmente as autistas (FEINSTEN, 2010). Bettelhein realizou três estudos-casos (Laurie, Marcia e Joy) e os apresentou na obra citada. A partir desses estudos, concluiu e defendeu a ideia de que o autismo seria uma 14 patologia de cunho emocional e que as crianças, de um modo geral, ao não serem acolhidas e amparadas pelos pais ou cuidadores, prefeririam se colocar em um lugar de não existência, uma “fortaleza vazia” (LIMA, 2014). Segundo a autora, Bettelhein trata de questões familiares no livro, porém seu foco está na figura materna, dedicando exclusivamente um tópico da obra para discutir o papel na mãe em casos de autismo: Gostaria de fazer mais uma digressão, pois a razão pela qual começamos por imputar o colapso de Laurie à ambivalência das figuras maternas parece ter importância teórica considerável, sobretudo pelo fato de, na literatura, as atitudes da mãe serem consideradas como fator etiológico do autismo infantil. Ao longo deste livro mantenho minha convicção de que, em autismo infantil, o agente precipitador é o desejo de um dos pais de que o filho não existisse (BETTELHEIM, 1987, p. 137) Segundo Bettelhein (1987) quando a mãe não conseguia reconhecer, antecipar e responder às demandas da criança, ela estaria privando-a do acolhimento, da presença materna e do investimento afetivo, indispensáveis na constituição do eu da criança nos anos iniciais da vida. Ressalta que Laurie, uma das crianças do estudo de caso, sofria com o afastamento da mãe, que ao retornar para as funções laborais deixava-a aos cuidados de uma cuidadora “indiferente” às suas necessidades. Para o pesquisador, essa mãe poderia ser classificada ou considerada uma pessoa “completamente dona de si” além de ser “[...] uma pessoa narcisista, que provavelmente se debatia para manter um tênue vínculo com a realidade” (BETTELHEIM, 1987, p. 109). Podemos perceber que Bettelhein não estava discutindo apenas o comportamento da mãe em relação aos cuidados com Laurie, mas, colocava no centro da problemática. Diante dos resultados de sua pesquisa Bettelhein, compreendeu que as ações mais assertivas a serem tomadas seria o afastamento das crianças do convívio familiar, assim, evitava-se que pudessem entrar em uma “Fortaleza vazia”, já que o convívio familiar com mães que não investiam afetos em seus bebês poderia provocar o autismo (GRINKER, 2010). Sua tese chegou a ser colocada em prática. Em Chicago, a escola Ontogenética apoiou o estudo do psicanalista, colocando em prática o que ele intitulava de proposta terapêutica.Seu tratamento incluía a restrição das visitas das 15 mães e pais às crianças, transformando a escola, no olhar de Bettelhein, em um espaço de segurança e acolhimento, em que as crianças estavam protegidas das ações de abandono provocados pelos pais (LIMA, 2014). 1.4 BRUNO BETTELHEIM E KANNER, ENCONTROS E DESENCONTROS Sabemos que Kanner foi o primeiro médico pesquisador a escrever e descrever o autismo como um quadro de adoecimento, com um diagnóstico diferenciado em que supostamente a família poderia contribuir para o aparecimento do fenômeno, nomeando as mães como “mãe-geladeira”. Por outro lado, Bruno Bettelhein, a partir de alguns pontos do estudo de Kanner, continuou suas pesquisas, contudo, abordando percepções distintas. Podemos inferir e afirmar que apesar de pontos coincidentes nos estudos dos dois autores, o autismo a que cada um deles se referia eram discrepantes. Diferenciemos os pontos de vista de cada um dos pesquisadores. A primeira diferença encontra-se na etiologia. Ainda que as relações familiares acentuadas pela ausência de afetividade, principalmente da “mãe” seja um ponto marcante entre os dois estudos, Kanner em “Autistic disturbances of affective contact”, asseverou que o autismo apresentava um quadro de problemas comportamentais, ou seja, uma síndrome do comportamento com origens genéticas (LIMA, 2014). Todavia, Bettelhein apresentou em seus estudos que apesar de se tratar de uma patologia genética, suas bases ancoravam-se nas questões de convivência familiar, na verdade o afastamento proposital da mãe pela criança. Para o estudioso psicanalista, Kanner ao ignorar a hipótese de que as experiências traumáticas emocionais na infância pudessem ser consideradas a causa primeira do autismo, transformando-o em uma condição inata, ele estaria ignorando os conhecimentos produzidos pelo pai da psicanálise, Freud. Para Bettelhein (1987, p. 417). Infelizmente, por Kanner concluir ser esse distúrbio inato, não chegou a levantar a questão que, especialmente a partir de Freud, consideramos essencial para a compreensão de uma conduta psicológica, a saber: Por que se comportará uma pessoa de uma determinada maneira e não de outra? Essa questão não pode ser evitada, a menos que presumamos que o comportamento é assumido sem que a pessoa tenha uma oportunidade de opção no assunto, como nos movimentos espasmódicos de um paraplégico. 16 Mas se não conseguimos levantar essa questão, não conseguiremos compreender a motivação da pessoa e somos facilmente tentados a imputar qualquer anomalia inerente o que obviamente não faz sentido em termos de conduta convencional. O psicanalista ia além em suas discordâncias de Kanner não acreditando que o autismo já poderia ser observado logo após o nascimento, conforme afirmava Kanner. Para o médico psiquiatra, crianças acometidas pelo autismo jamais conseguiriam/poderiam estabelecer uma interação social, dadas as dificuldades inatas de manter o contato afetivo. Bettelhein, por sua vez, contestava essa ideia a partir de observações de que o isolamento da criança se dava mediante a frustação de não ter sido atendida em suas demandas de aproximação (GRINKER, 2010). Para Grinker (2010) Kanner sofreu muitas pressões por parte dos psicanalistas, contudo, permaneceu na defesa de que o autismo apresentava um caráter inato. Insistiu também na ideia de que apesar dos pais das crianças analisadas não demonstrarem afetividade, era possível pensar que isso estava relacionado à genética de cada um deles. Concomitante às ideias de Kanner Bettelhein permaneceu afirmando que problemas emocionais de pais e mães representavam fortes indícios de que eles não seriam bons pais e que prejudicariam os filhos na convivência familiar, ou seja, a genética estava na base do distúrbio (GRINKER, 2010). Dos três casos de crianças analisadas por Bruno Bettelhein em que ela integra autismo à imperfeição da maternidade Grinker (2010, p. 93) nos aponta que: De acordo com Bettelheim, a mãe de Laurie causou autismo na filha por trabalhar durante a infância da menina, deixando-a aos cuidados de babás. A mãe de Márcia, viúva com pouco tempo de casada, casou-se depois com um homem que não amava de verdade e que não queria filhos. Ele cedeu, no entanto, apesar de ter dito à equipe de Bettelheim que “o bebê realmente não me interessa”. Joey, o terceiro caso, falava muito mais que Laurie e Márcia, mas era quase completamente incapaz de se comunicar. Isso se deveria a sua mãe “pensar nele mais como se fosse um objeto que uma pessoa” [...]. Esses pais supostamente doentes eram, de acordo com seu ponto de vista, capazes de superar as próprias psicopatologias para criar uma criança normal de forma adequada. Quando lhe diziam, por exemplo, que não queriam filhos, ou que se dividiam entre a vida profissional e doméstica, Bettelheim supunha que eram mentalmente perturbados. Forna (1999)compreende que todo o processo de culpabilização da mãe 17 pelo autismo, na perspectiva de Bettelhein, está associado à “cultura da culpa da mãe”. Para a autora acreditar que diversos problemas familiares de cunho ou não do adoecimento está enraizado na cultura e, consequentemente, foi naturalizado pela sociedade. Isso pode ser observado desde o início da gravidez, momento em que a mãe tem seu corpo regulado por convenções médicas e sociais: o que pode comer, beber, qual será o tipo de parto, como será o pós-parto e, posteriormente a educação das crianças. Ou seja, mulher/mãe é julgada por si e pelos outros em suas ações e cuidados com a gestação, tudo que ocorrer pode depender de como ela permitiu e contribuiu para que essa criança fosse gestada. Lima (2014) argumenta que a expressão “mães do autismo” está relacionada ao controle paternalista social, com bases no discurso da ciência que elaborou e difundiu a ideia de que as mães podem ser más e provocar distúrbios em seus filhos. Percebemos ao longo da história que a diferença entre patológico e normal ganhou importância no período pós-guerra. Muitas pesquisas foram desenvolvidas com o intuito de compreender o desenvolvimento emocional da criança, bem como suas relações afetivas com os pais e as dificuldades de aprendizagem apresentadas no período escolar. A produção científica nesse campo não isolou as mulheres do seu papel em relação à maternidade e, consequentemente, suas ações como mães. Embora as pesquisas apontassem para um caminho em que os fatores neurobiológicos ganhavam desataque sobre o autismo, infelizmente isso não poderia ser entendido sem a influência da mãe má na “produção de uma criança autista”. Se conversarmos com várias mães cujos filhos apresentem algum transtorno ou deficiência, é possível escutar no discurso delas uma relação com a culpa e com a maternidade, ou mesmo com uma responsabilização maior sobre os cuidados com o filho. Não é incomum vermos nas escolas, em consultórios médicos, unidades básicas de saúde, professores, assistentes sociais etc., um estigma em relação às mães com filhos com transtornos ou deficiências. Discursos que culpabilizam as mães pelo excesso de cuidado com os filhos ou pelas dificuldades apresentadas por eles. Infelizmente sabemos que uma parte da sociedade ainda culpabiliza a mãe, independente do que ela faça. Se recorrem à escola em busca de ajuda e conhecimento dos processos de aprendizagem podem ser consideradas invasivas, 18 ou “querem tomar o lugar do professor”. Se deixa a educação formal a cargo da escola, “não se preocupa com o que acontece com o filho”. De uma forma ou de outra está sempre sendo julgada por suas ações. Tudo isso não é diferente em casos de mães de autistas. Os estigmas culturais acerca do autismo ainda refletem seus danos na atualidade. Atualmente, as mães não são mais intituladas como frias, mães geladeiras ou mães pouco afetivas, causadoras de autismo nos filhos, todavia, as críticas mudaram o foco: são mães que não aceitam seus filhos, que buscam medicamentos e terapias para controlá- los,ou seja, muitas mães, por meio de uma ótica subversiva, ainda continuam sendo más. https://bit.ly/3a29INy 19 20 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Muitos pais reclamam que seus filhos são resistentes na hora da alimentação, mas você sabia que existe até um nome para isso? Trata-se da neofobia alimentar, ou o medo do ingerir alimentos desconhecidos, que afeta principalmente crianças até 7 anos de idade. Entretanto, em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essa fase pode demorar mais tempo para passar. É o caso do pequeno Matheus, de 11 anos, filho da bancária Camila Marzo. “Cada prato novo incluído no cardápio é uma vitória!”, conta a mãe. A mais recente delas foi a aventura para provar um pastel de carne, de que o menino acabou gostando. “Nem sempre são as opções mais saudáveis ou as que gostaríamos que fossem, mas A gente tem que comemorar cada avanço”, explica Camila. A pergunta usada, logo no início do texto, é uma estratégia que visa a: a) Verificar o grau de conhecimento do leitor a respeito do tema discutido. b) Conquistar a simpatia do leitor, estabelecendo com ele uma relação de cumplicidade. c) Romper com a predominância do tipo frasal afirmativo. d) Marcar a assimetria existente entre autor-leitor. e) Explicar as causas do autismo. 2. A Lei 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e que altera o § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, estabelece as seguintes diretrizes para o atendimento deste público: I. A participação da comunidade na formulação de políticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno do espectro autista e o controle social da sua implantação, acompanhamento e avaliação. II. A realização ou continuidade dos estudos de ensino fundamental e médio, em todas as suas modalidades, por meio do ensino domiciliar, que pode ser realizado pelos pais ou, para ensinar aquelas disciplinas que eles não dominam, 21 por professores contratados. III. A atenção integral às necessidades de saúde da pessoa com transtorno do espectro autista, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a medicamentos e nutrientes. IV.O estímulo à pesquisa científica, com prioridade para estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar a magnitude e as características do problema relativo ao transtorno do espectro autista no País. V. A matricula em escolas especializadas, em classes que propiciem o atendimento diferenciado – em nível pessoal, didático ou metodológico – aos estudantes com Transtorno do Espectro Autista. São verdadeiros os itens: a) I, II e III. b) II, IV e V. c) I, III e IV. d) I, IV e V. e) III, IV e V. 3. De acordo com a Lei n° 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, é vedado ao gestor ou autoridade competente, a recusa de matricula de aluno autista ou qualquer deficiência, sob pena de aplicação de multa de: a) 3 (três) a 10 (dez) salário -mínimos. b) 2 (dois) a 5(cinco) salários-mínimos. c) 3 (três) a 6 (seis) salários-mínimos. d) 1 (um) a 3 (três) salários-mínimos. e) 3 (três) a 20(vinte) salários-mínimos. 4. Para a garantia do direito à educação básica e, especificamente, à educação profissional, preconizado no inciso IV, alínea a, do artigo 3º da Lei nº 12.764/2012, os sistemas de ensino devem efetuar a matrícula dos estudantes com Transtorno do Espectro Autista nas classes comuns de ensino regular, assegurando o acesso à 22 escolarização, bem como ofertar os serviços da Educação Especial, dentre os quais: o Atendimento Educacional Especializado e o(a): a) Profissional especialista. b) Material de apoio. c) Profissional de tecnologia. d) Sala de reforço. e) Profissional de apoio. 5. O Transtorno do Espectro Autista é um novo transtorno do DSM-5 que engloba o Transtorno Autista (autismo), o Transtorno de Asperger, o Transtorno Desintegrativo da Infância, o Transtorno de Rett e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação do DSM-IV. Ele é caracterizado por déficits em dois domínios centrais, na: a) Fala e habilidades motoras; gestos estereotipados e repetitivos. b) Comunicação e internalização pessoal; padrões restritos e rítmicos. c) Fala dialógica e integração social; gestos estereotipados e repetitivos. d) Movimentação e domínio corporal; padrões repetitivos e restritos. e) Comunicação e interação social; padrões repetitivos e restritos. 6. Analise as assertivas abaixo: I. A criança com TEA (Transtorno do Espectro Autista) apresenta dificuldade nas habilidades sociais, na interação social, dificuldade no contato visual, pouca expressão facial, alterações na linguagem e de comportamento, como, por exemplo, um atraso na fala, e pode apresentar agressividade sem uma razão aparente. II. Pessoas com altas habilidades/superdotados são os educandos que apresentam notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual superior; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes e capacidade psicomotora. 23 III. A deficiência intelectual é caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual, mas não em comportamentos adaptativos expressos em habilidades sociais, práticas e conceituais, com início antes dos 18 anos, e ressalta “que de acordo com a AAIDD, limitações no funcionamento intelectual estão presentes quando o indivíduo apresentar coeficiente de inteligência (QI) superior a 70". IV.O aluno com mielomeningocele não apresenta deficiência intelectual. Porém, ele pode apresentar a hidrocefalia associada e, nesse caso, poderá ou não apresentar comprometimentos no processo de aprendizagem. V. O aluno com paralisia cerebral apresenta alteração de tônus e a coordenação de movimentos para locomoção apresenta-se comprometida. Sempre apresenta deficiência intelectual associada. Em relação às assertivas propostas, estão CORRETAS apenas: a) I e IV. b) I e III. c) I, II e IV. d) I, II e III. e) II e IV. 7. A reorganização dos serviços da Educação Especial é consolidada no Atendimento Educacional Especializado - AEE, que constitui a principal ação dessa modalidade no âmbito das escolas do ensino comum, de modo a assegurar aos estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação o acesso, a permanência, a participação e o sucesso escolar. Assim, o Atendimento Educacional Especializado – AEE é um serviço da Educação Especial que: a) Identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminam as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas. b) Classifica, com base em modelos médicos que enfatizavam a patologia e a necessidade de tratamentos e medicamentos, os estudantes com necessidades 24 específicas. c) Preconiza a concepção de deficiência ou de transtorno relacionada à inferioridade e à incapacidade dos estudantes com necessidades específicas. d) Utiliza a concepção de deficiência ao focar o fator limitador dos estudantes com necessidades específicas. e) Preconiza a concepção de normalidade relacionada à inferioridade à capacidade dos estudantes. 8. Sobre a educação de pessoas com transtorno do espectro autista, é correto afirmar que: a) Em casos graves e moderados, deve ser realizada, exclusivamente, em instituições especializadas. b) Deve ser realizada exclusivamente pelo professor de AEE, por meio de métodos específicos de ensino. c) Deve privilegiar o controle do comportamento evitando a tendência agressiva. O processo de ensino e aprendizagem deve considerar o nível de deficiência intelectual do estudante. d) Deve garantir a entrada, permanência, participação e aprendizagem em sala de aula comum de escolas regulares.e) Deve ser realizada a partir do método TEACCH, em parceria com APAEs. 25 O TEA E SEUS FUNDAMENTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS 2.1 CONHECENDO O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - TEA Nesta unidade, conversaremos acerca de alguns conceitos básicos sobre o TEA, sem perder de vista a importância do corpo de profissionais envolvidos que desenvolvem ações e colaboram para o diagnóstico e tratamento do autismo. Além disso, é preciso considerar que o TEA sofreu, ao longo dos anos, mudanças em sua momenclatura e categorização no DSM, a fim de que fosse classificado numa tentativa abrangente de encaixar diversos transtornos mentais com características e sintomas semelhantes em um só. Recapitulando alguns pontos importantes, o termo austimo foi utilizado primeiramente por Eugene Bleuler em 1916 para descrever a esquizofrenia e seus sintomas. Atualmente, quando estamos falando de autismo o termo correto a ser utilizado é TEA – Transtorno do Espectro Autista, estabelecido pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). O DSM é um manual que reúne informações para auxiliar os profissionais da área da saúde a realizar diagnósticos e propor tramentos para os transtornos mentais. Nesse guia, os transtornos são categorizados e classificados de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial da Saúde. Embora o DSM seja um guia orientador e classificador dos transtornos mentais, vale ressaltar que nem todos podem ser encaixados dentro dos limites de apenas um transtorno por envolver diversas categorias diagnósticas. Anterior ao DSM-5, o Transtorno do Espectro Autista foi nomeado por: Erro! Fonte de referênci a não encontra da. 26 Transtorno Global do Desenvolvimento – TGD; Transtorno Invasivo do Desenvolvimento – TID, DSM-4 (incluindo Transtorno de Rett, Transtorno de Asperger e Transtorno desintegrativo da infância. Se, a partir do DSM-5, vários transtornos foram categorizados em apenas um, faz-se necessário pensar se todos os sujeitos laudados com o transtorno do espectro autista apresentam o mesmo comportamento ou o que os difere está relacionado à intensidade dos sintomas ou à gravidade do acomentimento. Sendo assim, o Transtorno de Asperger passa a ser incluído no TEA e não se apresenta mais como um possível diagnóstico. Todas as pessoas que têm dificuldades de socialização, comunicação e padrões de interesses restritos e estereotipados, são classificadas como aquelas que apresentam transtorno do espectro autista. Essa mudança se justificou porque nos Estados Unidos o tratamento é financiado pelo governo. Como as pessoas com Asperger não conseguiam ser incluídas no plano de saúde porque suas características não eram consideradas como autísticas, para resolver o problema e para que os direitos dessas pessoas fossem respeitados e resguardados, o DSM-5, passou a categorizar o Asperger também como TEA. Nesse contexto, podemos perceber que o autismo vem sendo reconheceido ao longo dos anos por todo o mundo. Isso se comprovou quando, em 2007, a ONU decretou o dia 02 de abril como o dia Mundial da Conscientização do Autismo. No Brasil essa realidade não é diferente, a comemoração desse dia tornou-se tão importante que ganhou destaque nas revistas da Turma da Mônica, não apenas como uma alusão ao dia, mas com a criação do personagem “André”, hoje, símbolo do autismo e do respeito à diferença. No Rio de Janeiro, o Cristo Redentor é todo iluminado na cor azul, para chamar a atenção das mídias e da sociedade para a importância e o respeito para com essas pessoas. Figura 1: Turma da Mônica e o respeito à diferença (Maurício Souza) 27 Fonte: Bracali (2020, online) 2.2 O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E SUAS CARACTERÍSTICAS Recordando, autismo vem do grego “autos”, que significa “voltar para si mesmo”, isso signfica para alguns estudiosos que sujeitos diagnosticados com autismo perdem o interesse pelas pessoas que o cercam e pelo mundo exterior (MORAIS, 2012). De acordo com o DSM-5, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de interação social, comunicação e comportamentos restritos e repetitivos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION , 2014). Segundo a Associação de Amigos do Autista (AMA), o autismo se apresenta muito cedo, antes dos 3 anos de idade, comprometendo áreas da comunicação, interação social, aprendizado e adaptação. As áreas do desenvolvimento humano 28 mais prejudicadas são: habilidades socioemocionais, atenção compartilhada e a linguagem. Por ser caracterizado como um distúrbio do desenvolvimento, é observado pelos pais por volta dos 12 meses aos 18 de idade, quando a criança não apresenta sinais de desenvolvimento da linguagem. É mais comum em meninos do que em meninas, e nas meninas os sinais são menos evidentes. Devido à grande abangência do autismo, optou-se por utilizar o termo “espectro”, uma vez que cada sujeito diagnosticado pode apresentar vários níveis de comprometimento, desde a associação a outras doenças, como deficiência intelectual e até mesmo a uma vida independente. Os sintomas mais comuns apresentados e que servem de alerta para os pais são: O bebê não realiza imitações; Por volta dos 12 meses, não responde quando é chamado pelo nome; Não aponta para mostrar objetos; Não consegue brincar dos jogos de “fingir” ou de “esconder”; Prefere ficar sozinho; Tem dificuldades com mudanças na rotina; Agita com frequência as mãos, balança o corpo ou gira em círculos; Apresenta sensibilidade à luz e cheiros fortes; Evita o colo dos pais; Faz movimentos repetitivos com o corpo ou com as mãos; Manipula objetos repetidamente; Demonstra interesse por determinados objetos; Apresenta hiperfoco; Ausência de contato visual; Não se comunica por gestos; Apresenta déficit na linguagem e na comunicação; Apresenta dificuldade para participar de atividades coletivas; É indiferente às demonstrações de afeto; Ausência de empatia social; Recusa ou restringe alimentos a serem ingeridos; Podem se morder, ou morder as próprias roupas. 29 Ressalta-se que as manifestações citadas são as mais comuns, o que não quer dizer que a presença de alguma delas ou todas seja suficiente para um diagnóstico assertivo. Cada sujeito apresentará algumas dessas manifestações ou até mesmo todas elas entre outras mais, principalmente se o autismo estiver associado a alguma outra comorbidade. O que se sabe é que a dificuldade de comunicação aparece em todos os casos, variando em níveis, podendo até mesmo nem ser desenvolvida ao longo da vida. O TEA não é um transtorno degenerativo, sendo possível a aprendizagem ao longo da vida. Como já dito anteriormente, é na primeira infância e nos primeiros anos escolares que os sintomas se apresentam acentuadamente. De acordo com algumas pesquisas são poucos os sujeitos que apresentam uma deterioração no comportamento na adolescência, ao contrário, em muitos casos existe uma melhora, principlamente se houver intervenções clínicas e psicoterapêuticas (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION , 2014). Ainda segundo o DSM-5 apenas uma minoria de sujeitos diagnosticados com transtorno do espectro autista consegue viver e trabalhar na vida adulta sem depender do apoio da família, fato constatado no DSM-V. Os que conseguem essa autonomia e independência têm a linguagem e as capacidades intelectuais superiores, e buscam atividades que estão dentro de seus interesses e habilidades, ou seja, o hiperfoco. Contudo, mesmo apresentando certa independência, estão sujeitos a desenvolver quadros de depressão e ansiedade, devido às dificuldades de organizar as demandas práticas do cotidiano. Sobre o autismo na velhice, quase nada se sabe (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION , 2014). 30 Como pode ser visto no vídeo citado e no DSM-5, existem pessoas com transtorno do espectro autista que se comunicam normalmente, estudam, trabalham e conseguem levar uma vidaquase dentro da normalidade, entretanto, isso não é uma regra. Por outro lado, algumas podem nunca conseguir se comunicar com alguém, isso reforça a ideia de que o TEA apresenta diferentes intensidades que podem ser classificadas como leves, moderadas e severas, e que cada uma delas formará um quadro diferente. Essa classificação se dá de acordo com a intensidade do sintoma, ou seja, os níveis de prejuízo significativos na comunicação, na interação social, nas estereotipias, nos padrões de interesse e no grau de dependência em relação aos responsáveis. 2.3 NÍVEIS DE GRAVIDADE NO AUTISMO As causas do autismo estão basicamente ancoradas em fatores genéticos, os fatores ambientais correspondem de 1% a 3% das causas, mas, estudos recentes contestam essa possibilidade. Os fatores genéticos correspondem a 97% e 99% dos casos, sendo 81% fatores hereditários. Nos Estados Unidos estima-se que 1 em cada 54 crianças tem autismo e o número de meninos é quatro vezes maior que o número de meninas. De acordo com a OMS, o Brasil deve ter aproximadamente 2 milhões de autistas, contudo, nenhuma pesquisa ainda foi relizada com o rigor da pesquisa realizada nos Estados Unidos. Veja no gráfico abaixo a prevalência dos casos de autismo por nascimentos. 31 Figura 2: Prevalência de casos de autismo nos Estados Unidos 2020 Fonte: Junior (2020) Percebemos que o número de casos vem crescendo ao longo dos anos, um aumento de 10% dos casos em relação ao ano de 2014. A pesquisa revela também que o número de diagnósticos precoces também aumentou. Se há 10 anos sabia- se pouco sobre o autismo, hoje, essas pessoas estão sendo beneficiadas pelas pesquisas e estudos realizados, sendo diagnosticadas precocemente. Isso representa um salto na qualidade de vida. Com relação ao diagnóstico, é preciso lembrar que o diagnóstico do TEA só pode ser realizado por uma equipe multiprofissional ou por um médico especializado, por meio de observações da criança e entrevista com os pais/responsáveis. Quanto mais cedo o diagnóstico for realizado, melhor para a criança, pois a estimulação começará antes mesmo de ela ir para a escola. Como já dito anteriormente, é possível detectar logo no primeiro ano alguns sinais como, por exemplo, a ausência de contato visual, de balbucio, gestos ou quando a criança não atende quando é chamada pelo nome. É possível também aos pais observar se a criança consegue dormir tranquilamente, se é restritiva para se alimentar, se apresenta hipersensibilidade a luz, cheiros fortes ou barulhos, se gosta de compartilhar objetos, se tem dificuldade para desviar o foco de algumas atividades, etc. A demora para engatinhar, falar e andar também são sinais característicos do TEA, bem como a regressão da comunicação verbal entre 12 e 24 meses de idade. O médico ou a equipe multiprofissional farão o diagnóstico pautando-se nas informações fornecidas pelos pais/responsáveis e na organização desses sintomas 32 baseando-se no DSM-5. Não é possível diagnosticar ou confirmar o TEA por meio de exames laboratoriais. A escola poderá auxiliar, fornecendo informações do comportamento da criança em sala de aula e em grupo. O níveis de gravidade podem variar de 01 a 03 conforme o DSM-5: 2.3.1 Interação/comunicação social Nível 1 - “Exigindo apoio”: dificuldade de iniciar e de manter interações e relações sociais, pouco interesse nas interações sociais, as tentativas para fazer amigos não são bem sucedidas. Fala frases completas, consegue se envolver na comunicação; Nível 2 - (necessita de suporte substancial): déficit grave de comunicação verbal e não verbal, dificuldades para dar início a uma conversa. Fala frases pouco complexas, seus interesses são reduzidos e a comunicação não verbal é estranha; Nível 3 - (necessita de suporte muito substancial): déficit grave de comunicação verbal e não verbal. Fala muito pouco ou nada, esboça reações apenas a abordagens diretas, raramente realiza interações sociais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION , 2014). 2.3.2 Comportamento restritivo/repetitivo Nível 1 - “Exigindo apoio”: inflexibilidade, dificuldades para planejamento, mudar de atividade e organizar-se. Pouca autonomia. Nível 2 - (necessita de suporte substancial): inflexibilidade, dificuldade para mudar o foco ou as ações, presença frequente de comportamentos repetitivos/restritos; Nível 3 - (necessita de suporte muito substancial): inflexibilidade, muita dificuldade de mudar o foco e com mudanças no ambiente. Presença frequente de comportamentos repetitivos/restritos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION , 2014). 33 34 FIXANDO O CONTEÚDO 1. São sinais de alerta do Transtorno do Espectro Autista em crianças de 6 meses a 3 anos, a) Sorri e demonstra expressões alegres. b) Responde às tentativas de interação dos outros e busca interagir. c) Não busca, não evita a interação com outras crianças e não gosta muito de padrões. d) Responde ao nome quando chamada. e) Presta mais atenção em pessoas do que em objetos. 2. Para a garantia do direito à Educação Básica e, especificamente, à Educação Profissional, preconizado no inciso IV, alínea a, do artigo 3° da Lei n° 12.764/2012, os sistemas de ensino devem efetuar a matrícula dos estudantes com Transtorno do Espectro Autista nas classes comuns de ensino regular, assegurando o acesso à escolarização, bem como ofertar os serviços da Educação Especial, dentre os quais: o Atendimento Educacional Especializado complementar e o: a) Currículo adaptado. b) Profissional de apoio. c) Apoio tecnológico. d) Professor especialista. e) Acompanhamento psicológico. 3. O diagnóstico é essencialmente clínico, baseia-se nos sinais e sintomas e leva em conta os critérios estabelecidos por DSM–V (Manual de Diagnóstico e Estatístico da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-10 (Classificação Internacional de Doenças da OMS). O Transtorno do Espectro Autista se caracteriza pela presença de um repertório marcantemente restritivo e repetitivo de atividades e interesses e de um desenvolvimento acentuadamente prejudicado na(no): a) Interiorização pessoal e comunicação. 35 b) Interação social e cognição. c) Intencionalidade e comunicação. d) Linguagem e pensamento. e) Interação social e comunicação 4. Dentre os sintomas que fazem parte do conjunto de comportamentos do Transtorno do Espectro Autista, deve ser considerado: I. Dificuldades de atenção e concentração. II. Dificuldades na interação social. III. Comprometimentos na comunicação. IV.Atividades restritas e repetitivas. V. Dificuldades apenas de sociabilidade. Está correto o que se afirma em: a) I, II e IV, apenas. b) II, III e V, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, II, III, IV e V. e) V, apenas. 5. A respeito da Lei Federal n 12.764/2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, cabe asseverar que: a) A pessoa com transtorno do espectro autista não será submetida a tratamento desumano ou degradante, não será privada de sua liberdade ou do convívio familiar nem sofrerá discriminação por motivo da deficiência. b) À pessoa com transtorno do espectro autista preexistente poderá ser negada a participação em planos privados de assistência à saúde, garantido, porém, o amplo e irrestrito acesso a qualquer unidade de saúde da rede pública. c) O gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 2 (dois) a 20 (vinte) salários-mínimos. 36 d) A pessoa com transtorno do espectro autista, inclui-la nas classes comuns de ensino regular, terá direito a acompanhante especializado. e) Para cumprimento das diretrizes da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, o poder público poderá firmar convênio com pessoas jurídicas de direito privado, desde que de caráter associativo. 6. A ResoluçãoCNE/CEB 04/2010 (Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica) determina em seu artigo 13, que a organização curricular da educação básica deve garantir “um conjunto de ações didático-pedagógicas, com foco na aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada pela consciência de que o processo de comunicação entre estudantes e professores é efetivado por meio de práticas e recursos diversos”. Nesse sentido está se referindo: a) À abordagem didático-pedagógica interdisciplinar. b) Às redes de aprendizagem. c) Ao tratamento transdisciplinar na organização do percurso formativo do aluno. d) Ao uso das tecnologias de informação e comunicação na educação. e) À organização da matriz curricular. 7. Telma Weisz, ao analisar a relação entre a disponibilidade da informação externa e a possibilidade de construção interna pela criança, afirma que quando os meninos jogam juntos, há um determinado momento, precioso no processo de cada criança, em que aquilo que seu colega ao lado está fazendo, e que é reconhecido como mais avançado, se torna observável para ela. Para a autora, quando a criança percebe tal situação, é porque: a) O professor reproduz e mostra o que o colega faz melhor. b) Detém o conhecimento que brota de dentro para fora. c) Percebe que o conhecimento existe no mundo, no meio ambiente. d) Já construiu a lógica necessária para poder aprender. e) Já possui a heteronomia necessária para aprender. 37 8. Para Hoffmann, avaliação significa ação provocativa do professor, desafiando o educando a refletir sobre as situações vividas, a formular e a reformular hipóteses, encaminhando-se um saber enriquecido. Nesse sentido, afirma a autora, os professores precisam contemplar dois princípios na avaliação, enquanto mediação, para favorecer o sucesso dos alunos. São eles: a) O acompanhamento reflexivo e o diálogo. b) O estímulo para a aprendizagem e as respostas dadas pelos alunos. c) As explicações claras e o conhecimento adquirido pelos alunos. d) A observação dos resultados e a conversa. e) O acompanhamento passo a passo dos resultados e a compreensão do educando. 38 O ESPETRO AUTISTA E AS MUDANÇAS CONCEITUAIS 3.1 MUDANÇAS CONCEITUAIS Como já sabemos, no passado, o autismo foi considerado uma doença pela comunidade médica e seus sintomas equiparados com os da esquizofrenia. Atualmente, ele não se enquadra mais como doença, pois não leva o sujeito a uma degeneração física ou à morte. Contrariamente à essa ideia, ele é considerado como um paradigma da neurodiversidade, reconhecido como diferença, uma característica singular do sujeito e não como doença (WUO, 2019). Entender o autismo como algo da neurodiversidade possibilita à sociedade compreendê-lo à luz da ideia de saúde e não de doença, embora em diversos casos o sujeito com TEA necessite de reabilitação a fim de estabelecer convívio social e familiar e a permanência na escola. A reabilitação precisa ser vista como uma intervenção, e não como tratamento, como é considerada por muitos profissionais da área da saúde. Se retomarmos a história da deficiência ao longo dos anos, lembrar-nos-emos de que ela sempre foi considerada do ponto de vista médico, ligada a uma proposta clínico-terapêutica e à medicalização, ou seja, um olhar sobre a cura. Vale ressaltar que o TEA, atualmente, não é considerado uma deficiência, pois não apresenta déficits da capacidade cognitiva e intelectual, apesar de alguns casos apresentarem comorbidades (BELO; FONSECA, 2020). Contudo, a partir de 1980, o DSM-3 modificou o conceito de autismo, diferenciando os sintomas, ou seja, as crianças autistas “conversam sozinhas” elas não apresentam as “alucinações” encontradas em quadros esquizofrênicos. A diferenciação dos sintomas representa dizer que o ato de “conversar sozinha” está relacionado às repetições ou à ecolalia e não às alucinações da esquizofrenia. No DSM-4, o autismo foi definido como uma tríade de dificuldades: comunicação, socialização e interesses restritos estereotipados. Nesse momento a categorização e a classificação abria o leque para outras inúmeras possibilidades: Erro! Fonte de referênci a não encontra da. 39 Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Síndrome de Asperger, entre outras. Já no DSM-5, última versão, essas classificações e categorias de tipos de autismo foram excluídas. Classifica-se a partir de então como Transtorno do Espectro Autista. No caso de transtorno do espectro autista associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental ou a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental, registrar o transtorno do espectro autista associado a (nome da condição, do transtorno ou do fator) (p. ex., transtorno do espectro autista associado à síndrome de Rett). Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista. Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a transtorno da comunicação social (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION , 2014, p. 51). O que se percebe nessa nova classificação do DSM-5, são as mudanças nos critérios diagnósticos, pois ampliou-se a identificação dos sintomas, possibilitando uma maior observação no desenvolvimento da comunicação e interação da criança. Assim, os familiares/responsáveis e a escola podem contribuir sistematicamente na construção do diagnóstico. Outro ponto que merece destaque nessa nova versão do DSM-5, está na classificação, classificam-se os transtornos e não mais as pessoas. O novo manual trouxe consigo maior abrangência nos critérios a serem considerados para o diagnóstico, além de permitir a observação do desenvolvimento social e comunicativo da criança. Isso permite à equipe multiprofissional e aos médicos compreender mais claramente os sintomas do TEA, sem perder de vista a necessidade urgente de um diagnóstico precoce a fim de possibilitar à criança as intervenções necessárias precocemente. 40 3.2 IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO Se considerarmos o exposto sobre o DSM-5 que tem como função nortear e direcionar os diagnósticos de TEA, como base nas características apresentadas por cada sujeito, seja criança, adolescente ou adulto, bem como orientar as práticas escolares e clínicas de todos os profissionais envolvidos nas intervenções necessárias na reabilitação de pessoas com TEA, podemos pensar que a mudança não se restringiu apenas ao campo nominal, mas, principalmente, ao campo conceitual. Por admitir diversos graus de gravidade no TEA ele é classificado como “espectro”, isso quer dizer que, é como se fosse uma sombra que não se refere ao sujeito, mas, uma imagem que se forma a partir da intensidade de suas características (BRITES; BRITES, 2018). Os autores afirmam que essa analogia se dá se considerarmos qual é a intensidade da projeção da “sombra”, ou seja, o quanto o objeto está mais perto ou mais distante do sol. Isso quer dizer que entre os sintomas pode haver uma continuidade maior ou menor. Por isso ao realizar um diagnóstico ele pode ser dado como autismo leve, moderado e severo, ou nível 1, 2 e 3, conforme DSM-5. Você já parou para pensar o que significa o termo “espectro” no âmbito do autismo? 41 Portanto, se uma criança é diagnostica precocemente e dependendo da intensidade do TEA, após a realização das intervenções necessárias, é possível que não haja evolução no quadro. Assim, como a “sombra”, o espectro pode se modificar de acordo com as intervenções, possibilitando mudanças significativas no quadro. É de suma importância que ao realizar o diagnóstico, o médico ou a equipe multiprofissional observe se uma criança que apresenta TDAH não apresenta também associadoa ele sinais de TEA. Nesse caso, o autismo não é o quadro principal, contudo, associa-se a outro transtorno conforme já explicitado anteriormente pelo DSM-5. Por outro lado, destaca-se a ideia de que se a mudança conceitual foi importante na elaboração dos diagnósticos e nos processos de intervenção em casos de TEA, é de suma importância que traços autísticos também recebam a devida intervenção quando associados a outro transtorno, mesmo não sendo o quadro primário. Diante do exemplo, não é difícil imaginarmos que muitas crianças podem ter sido prejudicadas na mudança conceitual. Todavia, [...] mesmo quando distúrbios autistas são diagnosticados adequadamente, isto é, utilizando critérios diagnósticos apropriados, há uma variação considerável no perfil sintomático, dependendo da etiologia subjacente. O diagnóstico de autismo requer uma apreciação clínica cuidadosa: avaliações de linguagem e neuropsicológica, bem como exames complementares (por exemplo, estudos de cromossomas incluindo DNA para X-frágil e estudos de neuroimagem ou neurofisiologia, quando apropriados) podem ser necessárias em casos específicos, para permitir identificar subgrupos mais homogêneos, de acordo com o fenótipo comportamental e a etiologia. Somente assim conseguiremos obter uma compreensão da patofisiológica desses distúrbios e estabelecer intervenções e prognósticos mais específicos (GADIAI; TUCHMANII; ROTTA, 2004). Com o aumento da categorização dos traços autísticos, percebeu-se, ao longo dos anos, o aumento do número de diagnósticos. Infere-se que ocorreu um salto na produção de conhecimento sobre o TEA, e atualmente ele é detectado mais precocemente graças aos estudos e divulgação dos primeiros sinais da criança. Tudo isso permitiu o aumento do número de diagnósticos. Anterior ao DSM-5, o DSM-4 hierarquiza o autismo, contudo, em todos os casos 42 o que se predominava eram as características neurológicas. Figura 3: Tipos de Autismo Fonte: Elaborado pela autora (2020) 3.3 DIFICULDADES NO DIAGNÓSTICO CLÍNICO Sabemos que o DSM-5 possibilitou o diagnóstico mais assertivo do TEA, ao excluir as diversas possibilidades como já explicitado. Contudo, sabemos que o diagnóstico conclusivo não é fácil de ser realizado, já que o TEA pode estar associado a outros transtornos ou doenças, que podem levar o profissional a uma direção equivocada. Assim podemos elencar 3 grupos de situações que podem dificultar o diagnóstico: TEA como transtorno principal, existindo outros traços de transtornos 43 secundários; TEA como transtorno secundário existindo, um transtorno ou síndrome principal; TEA como único transtorno, apresentando espectros variados em cada sujeito. Outro ponto que dificulta o diagnóstico TEA, é a classificação em leve, moderado ou severo, pois isso requer um tempo maior de investigação e observação da criança, conforme explicado no vídeo citado anteriormente. Esse é um dos pontos negativos apresentados pelo DSM-5. Quando jogamos uma pedrinha em um lago de água parada, ela gera várias pequenas ondas que formam camadas mais próximas e mais distantes do ponto no qual a pedra caiu. O espectro autista é assim, possui várias camadas, mais ou menos próximas do autismo clássico (grave), que poderia ser considerado o centro das ondas, o ponto onde a pedra atingiu a água. Esse espectro pode se manifestar nas pessoas de diversas formas, mas elas terão alguns traços similares, afinal todas as ondulações derivam do mesmo ponto (SILVA, 2012, p. 29). A comparação feita pelos autores evidencia que encontraremos diversos tipos de autismo, com características semelhantes e ao mesmo tempo diferentes, e que podem conduzir facilmente o profissional ao equívoco. 44 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Em relação ao autismo, é CORRETO afirmar que: I. É um problema psiquiátrico que costuma ser identificado na infância, entre 1 ano e meio e 3 anos de idade, embora os sinais iniciais, às vezes apareçam já nos primeiros meses de vida. II. Tal distúrbio impede que o portador apresente o desenvolvimento físico normal. III. Alguns estudiosos o reportam ao suposto papel de infecções durante a gravidez e mesmo a fatores ambientais, como poluição, no desenvolvimento do distúrbio. IV. O distúrbio pode ser diagnosticado por meio de exames laboratoriais ou de imagem, desde que acompanhado por profissional da área. a) estão corretas as alternativas I e IV. b) estão incorretas as alternativas I e IV. c) estão corretas as alternativas I e III. d) estão incorretas as alternativas I e II. e) estão todas corretas. 2. Durante muitos anos houve uma controvérsia sobre se o autismo era um transtorno separado ou apenas um caso de esquizofrenia na infância. No entanto, atualmente, concorda-se que, em geral, o autismo infantil e a esquizofrenia na infância são transtornos separados. Dadas as afirmativas sobre uma variedade de fatores que distinguem o autismo infantil da esquizofrenia na infância: As crianças com autismo raramente têm uma história familiar de esquizofrenia, mas as pessoas com esquizofrenia frequentemente têm uma história familiar dessa doença. As crianças com autismo frequentemente apresentam uma falta de desenvolvimento intelectual, mas esse não é o caso de crianças que sofrem de esquizofrenia. As crianças com autismo têm fala limitada, enquanto as crianças com esquizofrenia têm habilidade de fala normal. 45 O autismo fica aparente quase ao nascimento, enquanto a esquizofrenia desenvolve-se posteriormente. Verifica-se que está(ão) correta(s): a) I, II, III e IV. b) II, III e IV, apenas. c) I e IV, apenas. d) I e II, apenas. e) III, apenas. 3. Sobre as características da deficiência intelectual e dos transtornos do espectro autista e de déficit de atenção/hiperatividade, assinale a alternativa correta. a) Estudos longitudinais comprovam que a partir da infância, passando pela adolescência e chegando à idade adulta, gradualmente os sintomas de hiperatividade-impulsividade, preponderantes no quadro clínico (TDA/H) nos primeiros anos de vida vão arrefecendo, enquanto os sintomas de desatenção prosseguem e até se tornam mais salientes, conforme as exigências da vida volvem mais complexas. b) O estímulo e o interesse aliado a um ensino superexigente podem auxiliar o rendimento cognitivo das crianças com deficiência mental. c) O conceito de autismo modificou-se consideravelmente, ao longo dos mais de 70 anos, hoje é compreendido como um transtorno do desenvolvimento com intensa base epigenética e como arquitetura de relações e práticas parentais. d) Existem evidências de que sinais precoces do TEA surgem ao longo do desenvolvimento da criança, marcadamente no quarto ano de vida. Um diagnóstico de TEA demanda que o indivíduo exiba todos os quatro sinais a seguir: movimentos repetitivos e estereotipados, tenacidade em rotinas e/ou realizações de rituais, interesses adstritos e com foco ou intensidade anormal e uma hiporresponsividade a estímulos. e) O estímulo e o interesse aliado a um ensino pouco exigente auxiliam o rendimento cognitivo das crianças com deficiência mental. 46 4. No que concerne à inclusão das pessoas com transtorno global do desenvolvimento, em especial a criança com TEA (Transtorno do Espectro Autista), analise as proposições abaixo: 1) Para as crianças com TEA, as escolas não necessitam realizar adaptações curriculares, bastando incluir atividades que facilitem a interação com os outros alunos da sala. 2) Uma forma de auxiliar a inclusão dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), na escola, é o Atendimento Educacional Especializado (AEE), definido como um conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos, organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. 3) Para incluir, a escola deve se adaptar para atender às especificidades desses alunos; para isso, são necessárias mudanças na estrutura e no funcionamento da escola, na formação dosprofessores e nas relações família-escola. 4) Um dos objetivos do Atendimento Educacional Especializado é garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular. 5) Já que os alunos com Transtorno do Espectro Autista são caracterizados como alunos com deficiência intelectual, os professores e a escola podem desenvolver AEE que atendam a esses dois segmentos. a) 2, 3 e 4. b) 3, 4 e 5 c) 1, 2 e 3. d) 1, 3 e 5. e) 1, 2 e 5. 5. Segundo a Associação Psiquiátrica Americana (2002), o autismo é uma condição que afeta as principais áreas do desenvolvimento da criança, quais sejam, a interação social e a linguagem, além da ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados. Suas principais consequências são: a) Na maioria das vezes, a fala não se torna ecolálica. b) O desenvolvimento motor é caracterizado por repetições voluntárias com 47 determinadas funções. c) As manifestações dessas dificuldades não variam de acordo com o nível desenvolvimental e a idade cronológica da criança. d) Quanto maior o comprometimento cognitivo menor a tendência a se isolar e a não se comunicar. e) Comportamentos repetidos e estereotipados se expressam nas brincadeiras, que podem carecer de criatividade e espontaneidade. 6. “Aceita-se, nos dias de hoje, que crianças autistas frequentemente são filhos de mães e pais caracterizados como geladeiras emocionais incapazes de sustar relacionamentos afetuosos, em decorrência da própria imaturidade ou distúrbios severos”. Com relação ao texto, assinale a alternativa que melhor representa a visão atual sobre o Autismo. a) O texto é preciso, pois o autismo infantil é caracterizado por problemas de comunicação dos pais para os filhos. b) O texto representa uma visão correta, já que estudos psicanalíticos atestam a influência patológica dos pais nos filhos autistas. c) O texto representa a visão atual, já que o autismo é tratado a partir de terapias dinâmicas capazes de restabelecer os laços emocionais entre pais não responsivos e incapazes de proporcionar adequado afeto ao filho. d) O texto não representa a visão atual, já que os estudos confirmam a patologia cerebral, eliminam complicações na gravidez ou no nascimento e desconsideram a influência dos pais. e) O texto não representa a visão atual, pois pesquisas após 1960, usando métodos científicos unicamente para evitar observações tendenciosas, sugerem conclusões diferentes. Entre elas estão infecções pré-natais, como rubéola, distúrbios neurológicos herdados e alergia ao próprio tecido cerebral. 7. Quando a criança recebe o diagnóstico de espectro do autismo, a família constata que é preciso fazer adaptações. O processo educativo em geral fica mais fácil quando as pessoas se libertam de seus medos e passam a compreender 48 o que leva a criança a se comportar, algumas vezes, de modo incomum. A respeito dos distúrbios do espectro do autismo, assinale a alternativa correta. a) Os problemas apresentados pela criança com autismo podem aparecer em apenas um de seus contextos desenvolvimentais; por exemplo, podem aparecer na escola, mas não em casa. b) A área social não é prejudicada. A criança com autismo tem facilidade de expressar suas emoções e de compartilhar seus brinquedos. c) Dificuldades de linguagem e comunicação e desenvolvimento precário da imaginação são características essenciais do autismo. d) As crianças com espectro do autismo não gostam de rotinas e procuram sempre alterá-las para evitar a monotonia. e) A criança com espectro do autismo faz sempre uso de linguagem abstrata, por isso, algumas vezes, a comunicação fica prejudicada. 8. Acerca da deficiência intelectual, julgue os itens que se seguem. I. O diagnóstico ocorre, geralmente, durante a adolescência e no início da idade adulta. II. A avaliação engloba, essencialmente, a investigação do nível intelectual e do comportamento adaptativo. III. Uma dificuldade enfrentada durante a avaliação é a escassez de medidas que mantenham suas qualidades psicométricas mesmo nas faixas de escores extremamente baixos. IV.É um transtorno de etiologia bastante específica. V. O diagnóstico diferencial deve descartar, principalmente, casos de transtornos da comunicação e de transtorno do espectro autista. a) 1. b) 2. c) 3. d) 4. e) 5. 49 AS PRÁTICAS TERAPÊUTICAS E PEDAGÓGICAS UTILIZADAS NO TEA 4.1 O ABA COMO PRÁTICA TERAPÊUTICA Nesta unidade conversaremos sobre as práticas pedagógicas, a importância e os desafios enfrentados pelas crianças com Transtorno do Espectro Autista ao chegar na escola. Sabemos que o Transtorno do Espectro Autista, após as mudanças promovidas pelo DSM-5, abrange condições como Asperger, Transtorno Global do Desenvolvimento e autismo em níveis que variam de leve, moderado a severo, além de compreender a tríade: déficits na interação, comunicação social, padrões repetitivos de comportamento e interesses restritos (NUNES; SCHMIDT, 2019). Segundo os autores a Análise do Comportamento Aplicada (ABA – Applied Behavior Analysis) não investiga apenas o comportamento humano, mas as variáveis que o afetam, possibilitando alterações no comportamento por meio da modificação de seus antecedentes, (os comportamentos podem ser acionados por um gatilho, por algo que aconteceu antes) e suas consequências (o que aconteceu depois da ocorrência de um comportamento, se o evento foi agradável ou desagradável, existe a possibilidade de se repetir) (NUNES; SCHMIDT, 2019). Para que essa análise do comportamento seja realizada, a ABA utiliza métodos sistemáticos de observação e mensuração dos comportamentos. A ABA pode ser definida como um sistema teórico para a explicação e modificação do comportamento humano, baseado em evidências científicas, sendo esta uma abordagem rigorosa, tecnológica e profissional. Portanto, o modelo compreende que o comportamento humano é influenciado pelos estímulos ambientais que o antecedem (denominados antecedentes) e são aprendidos em função de suas Erro! Fonte de referênci a não encontra da. 50 consequências. Desta maneira, comportamentos que são seguidos por consequências que são especificamente agradáveis para a pessoa (por exemplo, atenção ou recompensa) tendem a ser repetidos e aprendidos, enquanto comportamentos que tem como consequência situações desagradáveis para o sujeito (por exemplo, uma reprimenda), tendem a não ser repetidos ou não aprendidos (NUNES; SCHMIDT, 2019, p. 7). Em relação ao TEA, sabemos que existe uma necessidade de modificação nos comportamentos, por isso, o tratamento precisa ser intenso, sendo necessária a participação da família/responsáveis/cuidadores e da equipe multiprofissional. A equipe multiprofissional tem um papel fundamental nesse caso, que é realizar uma avaliação, um plano terapêutico que esteja de acordo com as especificidades apresentadas pela criança, adolescente ou adulto e pela família. No caso de crianças que estejam matriculadas na escola, é importante criar condições em que ela possa ter as mesmas oportunidades que os demais estudantes, lembrando que os princípios da ABA podem ser levados para a escola (FILHA et al., 2019). Se os programas da ABA são baseados na análise do comportamento, seus antecedentes e consequências, se faz necessário a verificação meticulosa dos fatores socioambientais, e como eles interferem no comportamento da pessoa/criança com transtorno do espectro autista. Essa observação e análise são fundamentais para a elaboração/acompanhamento das intervenções, bem como a identificação dos fatores que determinam a repetição dos comportamentos (FILHA et al., 2019). ABA apresenta importantes ferramentas para o desenvolvimento de habilidades necessárias para a criança/pessoa no Espectro do Autismo alcançar metas como: independência, socialização e sucesso nas atividades acadêmicas, quando for o caso. As principais técnicas utilizadas são: identificação das distorções cognitivas, controle de atividades e agendas, utilização de cartões de autoajuda,