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Movimentos negros na história do Brasil

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07/11/2023, 00:26 Movimentos negros na história do Brasil
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04606/index.html# 1/63
Movimentos negros na história do Brasil
Prof.ª Renata Figueiredo Moraes
Descrição
A presença do movimento negro na história do Brasil desde as primeiras
décadas do século XX até a contemporaneidade.
Propósito
A história do Brasil foi feita por homens e mulheres negros que não
apareciam nos livros. Por isso, estudar os diferentes movimentos
negros que apareceram na história do país ajuda a refletir sobre a
exclusão dessa parcela da sociedade e a construção de alguns mitos –
entre eles, o da democracia racial, importante instrumento de opressão
de regimes políticos que se abstiveram de pensar a sociedade como um
tudo.
Objetivos
Módulo 1
O conceito de raça e o racismo no Brasil
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Reconhecer o conceito de raça para aprofundar a discussão sobre
racismo.
Módulo 2
As ações dos movimentos negros (1930-1970)
Identificar o surgimento dos movimentos negros na República.
Módulo 3
O movimento negro uni�cado – ações e
sujeitos
Identificar as diferentes estratégias de ação do MNU na segunda
metade do século XX.
Módulo 4
O século XXI – novas e antigas questões
Reconhecer avanços, retrocessos e desafios para o futuro do
movimento negro nas primeiras décadas do século XX.
Introdução
Ao falarmos do movimento negro, precisamos ampliar nosso
olhar para o século XIX e, principalmente, para o século XX.
Primeiramente, porque a movimentação social de homens e
mulheres negros existiu desde os tempos da escravidão e foi

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primordial para a lei que acabou com esse regime de mais de três
séculos. Em segundo lugar, porque a diversidade existente entre
eles produziu inúmeras formas de atuação política.
Não é uma tarefa fácil inserir dentro de um mesmo conceito a
ideia de movimento negro devido à multiplicidade de ações de
homens e mulheres negros. Desse modo, este texto é um
caminho para entendermos a movimentação política, cultural e
social de uma parte da sociedade brasileira que lutou por muito
tempo para ser reconhecida como pertencente a ela.
Por isso, ao pensar em sociedade brasileira, é fundamental
entender o processo de racialização ocorrido após o fim da
escravidão a fim de ver a “raça” como um conceito político e um
fator essencial na luta do movimento negro. Os diferentes
projetos de mobilização de homens e mulheres negros mostram
até que ponto tais ações não foram homogêneas e como
diferentes regimes políticos sofreram as demandas dessa
parcela da população.
As ações culturais, a produção de escritos e a atuação das
mulheres precisam ser vistas como um dos fatores de
desenvolvimento de uma identidade negra durante o período
republicano no Brasil. Afinal, o movimento negro mais
contemporâneo é o resultado de um processo de luta de mais de
100 anos que atualmente enfrenta novos desafios – e um deles é
a derrubada do mito da democracia racial.
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1 - O conceito de raça e o racismo no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de raça para aprofundar a
discussão sobre racismo.
A mobilização
O fim da escravidão em 1888 representou a continuidade da
mobilização de homens e mulheres negros para uma vida com direitos
políticos e sociais retirados deles no período da escravidão.
Se antes da libertação muitos se reuniram em irmandades negras,
gerando laços de solidariedade e políticos, no período do pós-abolição
novas identidades foram construídas na ocupação de diferentes
espaços. No entanto, o processo de racialização da sociedade se
aprofundou no período pós-abolição, criando barreiras para aqueles que
fossem não brancos. Desse modo, é essencial discutir como o conceito
“raça” foi visto por intelectuais e governos em diferentes épocas, o que
oferece suporte para se entender algumas dinâmicas criadas pelo
movimento negro na resistência ao racismo.
Manchete do jornal Gazeta de Notícias no dia 13 de maio de 1888.
A “raça” surgiu como um subproduto do processo de expansão europeia
iniciado no século XV, já que os europeus passaram a estabelecer
distinções sistemáticas entre eles próprios e os povos fisicamente
diferentes. A própria ideia de europeu, até então inexistente, foi
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construída a partir da comparação e da dominação do outro. Desse
modo, “raça” passa a ser uma categoria analítica necessária para
organizar a resistência ao racismo.
A categoria “classe” não é suficiente para explicar o racismo sofrido
pelos negros no Brasil, pois as discriminações e as desigualdades estão
ligadas majoritariamente à noção de “cor” (GUIMARÃES, 1999, p. 11).
As “raças sociais”, portanto, constituem construções permanentes
sobre as quais se organiza a luta antirracista. Nesse caso, é importante
ler a definição de Antonio Sérgio Guimarães acerca da estrutura do
racismo brasileiro:
O racismo brasileiro está umbilicalmente
ligado a uma estrutura estamental, que o
naturaliza, e não à estrutura de classes, como
se pensava. Na verdade, também as
desigualdades de classe se legitimam por
meio da ordem estamental. O combate ao
racismo, portanto, começa pelo combate à
institucionalização das desigualdades de
direitos individuais. Ainda que o racismo não
se esgote com a conquista das igualdades de
tratamento e de oportunidades, esta é a
precondição para extirpar as suas
consequências mais nocivas.
(GUIMARÃES, 1999, p. 16)
Como as desigualdades de classe aprofundam as diferenças sociais, no
Brasil, ocorre uma institucionalização de tais desigualdades fortemente
ligada à cor dos indivíduos. Nesse caso, até em condições iguais de
classe negros serão alvos de preconceitos, seja de forma individual ou
institucional, como é o caso das ações policiais.
Atenção!
Discutir raça é identificar a existência de um problema, e não de
reafirmar uma diferença entre os homens pela sua origem biológica.
A diferença que emperra o ir e vir de muitos cidadãos brasileiros foi
determinada institucionalmente a partir da cor da pele e da ideia de que
não brancos podem receber tratamento diferenciado. Desse modo, o
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conceito de raça age como um dos critérios mais relevantes na
regulação dos mecanismos de recrutamento para ocupar posição na
estrutura de classes (HASENBALG, 1979, p. 192).
Entretanto, identificar a existência de um racismo ou de diferenças
raciais entre cidadãos brasileiros nunca foi uma ação do Estado
brasileiro no século XX. Pelo contrário: o Estado sempre reforçou a ideia
de que brasileiros viviam em uma harmonia racial na qual o sucesso da
miscigenação contribuía para a construção de uma identidade brasileira,
sem ódios raciais tais como os vividos pelos afro-norte-americanos.
Monumento em homenagem à Zumbi dos Palmares.
Diferentes orientações políticas silenciaram o racismo e a violência
gerada pelo Estado e incentivaram uma produção intelectual disposta a
defender a harmonia racial no Brasil. Ao longo do século XX, diferentes
governos fecharam os olhos para uma parcela significativa da
sociedade cujos membros não se reconheciam como brancos e que não
tinham direitos sociais por serem negros.
O caso brasileiro
A década de 1930 deu margem para a construção do conceito de
“democracia racial”, encabeçado por intelectuais, por exemplo, Gilberto
Freyre, que, ao interpretar a origem do Brasil e não identificar nela ódiosraciais, louvou a miscigenação, que seria um sinal da boa convivência
entre as “raças”. Como não havia um sistema legalizado de segregação
racial no país no período pós-abolição, acreditava-se na sua inexistência
de fato.
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Gilberto Freyre.
O mestiço, a partir dos anos 1930, tornou-se o ícone nacional e a cultura
mestiça, a representação oficial da nação. Para isso, foi necessário um
investimento de intelectuais e do próprio Estado na construção de uma
“autêntica” identidade brasileira baseada na mestiçagem que gerava a
verdadeira nacionalidade (SCHWARCZ, 2013). Um dos tipos de
investimento se deu por meio da educação, em que formas de vida do
grupo social se tornaram hegemônicas em detrimento das diferenças de
língua, cultura e história, o que evitaria uma nação cindida, como a dos
Estados Unidos (SISS, 2003, p. 68).
Porém, a depender do grupo que tenha sofrido a violência da
discriminação, podemos pensar que também existe no Brasil uma cisão
velada ou evidente. Desse modo, resta a pergunta:
Quais foram os efeitos das políticas que não propuseram de fato uma
pretensa harmonia racial a partir da identificação das diferenças
existentes na sociedade brasileira?
Essa questão poderá ser respondida à medida que formos tratando dos
movimentos negros existentes em diferentes épocas. Uma primeira
resposta à questão está em Carlos Hasenbalg, o qual, na década de
1970, em seu livro Discriminação e desigualdade racial, indicou alguns
motivos para a permanência da desigualdade. Para ele, “brasileiros de
cor” sofriam formas de dominação, além de uma desqualificação
peculiar e das desvantagens competitivas que provêm de sua condição
racial (HASENBALG, 1979, p. 20).
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Para Hasenbalg, era preciso tirar a ênfase do legado do
escravismo como uma explicação das relações raciais
contemporâneas. O sistema educacional também teria
uma parcela de culpa, já que, segundo o autor,
reproduzia o caráter elitista e aristocrático da
sociedade, produzindo símbolos de status e de
diferenciação social.
No entanto, uma prática de negação do racismo e de exaltação da
miscigenação se fez presente no campo das letras e dos estudos
sociológicos e literários com Silvio Romero e João Batista de Lacerda,
autores que enalteceram a mestiçagem como um instrumento de
assimilação racial dos supostos grupos inferiores.
Já outros, como Manoel Bonfim e Alberto Torres, fizeram críticas às
teorias raciais, expondo seus aspectos políticos, imperialistas e
falaciosos, enquanto intelectuais negros, como Juliano Moreira,
Monteiro Lopes e o professor Hemetério dos Santos, por exemplo,
sustentaram posições antirracialistas e antirraciais.
Revistas do movimento negro mostravam mulheres usando vestidos da moda do início do
século XX.
Identidade nacional
Como pensar em uma identidade nacional diante da diversidade étnica
e cultural existente? Esse conceito de identidade nacional é válido, uma
vez que, para haver a existência de uma identidade, outras são
anuladas?
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Para tais respostas, vale a pena conhecer uma reflexão sobre as
identidades no mundo contemporâneo. Trata-se do autor Stuart Hall,
cujo questionamento sobre a pós-modernidade pode nos ajudar.
Segundo Hall (2006), não existe uma identidade plena
e unificada. Por conta disso, como se pode definir o
que é nacional em um quadro de mobilidade vivido, na
visão do autor, pelo sujeito desses novos tempos? Para
Hall, a identidade é formada e transformada no interior
da representação.
Existem elementos que identificam uma pessoa a uma nacionalidade.
Além disso, as identidades nacionais não subordinam todas as outras
formas de diferença. Outra coisa para a qual o autor chama a atenção é
a forma como as “culturas nacionais contribuem para ‘costurar’ as
diferenças numa única identidade” (HALL, 2006, p. 65).
Para ele, a identidade nacional e as outras “locais” ou particulares estão
sendo reforçadas pela resistência à globalização. Se a identidade
nacional está em declínio, isso significa que novas identidades híbridas
estão tomando seu lugar. Para alguns teóricos, aponta Hall, um dos
efeitos dos processos globais é o enfraquecimento das formas
nacionais de identidade cultural.
A diversidade de identidades nacionais.
Em compensação, também haveria um reforço de outros laços e
lealdades culturais. As identidades locais, regionais e comunitárias,
assim, têm se tornado mais importantes. Vejamos!
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[...] o fortalecimento de
identidades locais pode ser
visto na forte reação
defensiva daqueles membros
dos grupos étnicos
dominantes que se sentem
ameaçados pela presença de
outras culturas.
(HALL, 2006, p. 85)
Sobre tal fortalecimento, é importante destacar as demais identidades
existentes dentro de uma nação – entre elas, a negra e indígena. Entre
outras formas, isso pode ser feito por meio do ensino da origem dessas
identidades e da forma com que elas se conjugam.
Para entender as ações de alguns sujeitos, é preciso ter uma
compreensão sobre o impacto das identidades e da raça para a
construção política de ações de combate à discriminação. Dessa
maneira, o fortalecimento que Hall vê para as identidades locais e
étnicas nada mais é do que uma resposta à violência sofrida por
determinados grupos durante anos.
Se a ideia de nacional não satisfaz a todos, é preciso
construir novos laços identitários, que podem ser
vistos no aprofundamento de movimentos sociais
(entre eles, o negro) ao longo das décadas.
O movimento negro resistiu ao processo de construção da identidade
nacional feita no Brasil por meio de métodos eugenistas que visavam ao
embranquecimento da sociedade (MUNANGA, 2019).
Mesmo com o fracasso do projeto de embranquecimento, porém, houve
a permanência de mecanismos psicológicos que propunham um
embranquecimento das identidades, da cultura e de outros fatores. A
falha de um não destruiu a perpetuação de outro – e o racismo é um
desses métodos.
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Exemplo de prática eugenista.
Em seu livro Antirracismo, liberdade e reconhecimento (2006), Jacques
d’Adesky indicou que o racismo aspira impor uma uniformização da
humanidade pela diluição das diferenças mediante a assimilação
cultural, a educação escolar e a mestiçagem física, conduzindo também
ao menosprezo cultural e às violências físicas, morais e psicológicas.
Uma forma de combatê-lo, assim como à sua violência, seria a adoção
de cotas e políticas públicas, a qual, ao mesmo tempo que provoca um
debate e expõe quem se opõe a tais medidas, põe em evidência
argumentos perigosos para a condução da sociedade e a eliminação
das diferenças.
Um dos argumentos contrários era de que as ações afirmativas
racializavam o Brasil e o problema social. No entanto, de acordo com
d’Adesky, os críticos às cotas não entendiam que:
[...] uma política consistente de luta
antirracista passa por ações específicas, sem
prejuízo de soluções tradicionais que
focalizam a luta contra a pobreza. Além
disso, alguns tendem a evitar a discussão
alegando que, no Brasil, não se sabe direito
quem é negro. Subentende-se dessa forma
que a mistura racial tem diluído tanto a
população que torna-se difícil discernir quem
é pardo, mulato, preto, negro etc. Diante
dessa realidade difusa, o bom senso
recomendaria mesmo em preocupar-se com
os problemas sociais e econômicos, e não
com o racismo.
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(D’ADESKY, 2006, p. 60)
O discurso da miscigenação, portanto, será benéfico quando houver
propostas de políticas públicas específicas para uma parcela da
sociedade. Para d’Adesky, os que criticam um reconhecimento
adequado da imagem de negros e indígenas o fazem por um desejo de
cultivar o ideal de homogeneização racial, acreditando nas virtudes da
assimilação cultural como soluções para diluir as diferenças étnicas e
as desigualdades socioeconômicas.
Não há dúvidas de que houve um esforço público e intelectual para a
promoção de uma pretensa igualdade racial e um projeto de
assimilação e eliminação de identidades, principalmente das que
fossem divergentes de um projeto maior de sociedade. Contudo, muitas
gerações de homens e mulheres enfrentaram de diferentes formas os
fundamentos da ideologia racial elaborada desde o século XIX.
Repare no quadro, como a ideia de que os descendentes de Cam -
equivocadamente entendidos como negros, ou marcados pela cor na
história bíblica - vão se livrando dessa marca pelo branqueamento.
A Redenção de Cam, do pintor Modesto Brocos. Registro do embranquecimento como solução de
melhoria para o povo brasileiro.
Essa ideologia racial que pregava a miscigenação (e,
consequentemente, o branqueamento da sociedade) colocou em lados
opostos negros e mestiços. Ao fazê-los diferentes, dividiu a força que
eles poderiam ter para combater o racismo, o qual, aliás, atinge os dois.
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Por isso, historicizar as ações desses movimentos é fundamental para
entender os diferentes instrumentos de luta e sua adequação a projetos
políticos vigentes (e quase sempre racistas).
Conceito de raça e o racismo
Assista agora uma análise sobre o conceito de raça para aprofundar a
discussão sobre racismo.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No senso comum, resultado de um processo de apagamento, o fim
da escravidão é descrito como um momento que se concretizou
pela atuação da princesa Isabel em 1888. Essa descrição falaciosa,
no entanto, não dá conta do processo de luta abolicionista ou
estimula o conhecimento sobre o período pós-abolição. Sobre tal
período, avalie as alternativas:
I - O fim da escravidão representou uma continuidade da
mobilização de homens e mulheres negros quanto a seus direitos
políticos e econômicos suprimidos no período de escravidão.
II - O fim da escravidão representou o fim das demandas e
mobilizações de homens e mulheres negros quanto a seus direitos
políticos e econômicos suprimidos no período da escravidão.
III - Se, no período da luta abolicionista, as irmandades negras
geraram laços de solidariedade e políticos, no pós-abolição, elas
constituíram um espaço de construção de identidade.
Marque a alternativa correta.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
O fim da escravidão em 1888 representou a continuidade da
mobilização de homens e mulheres negros para uma vida com
direitos políticos e sociais retirados deles no período escravagista.
Se, antes da libertação, muitos se reuniram em irmandades negras,
gerando laços de solidariedade e políticos, no período pós-abolição,
novas identidades foram construídas na ocupação de diferentes
espaços.
Questão 2
O conceito de democracia racial é um debate intelectual formulado
na década de 1930. Qual intelectual brasileiro interpretou a origem
do Brasil por meio da democracia racial?
A Somente I está correta.
B Somente II está correta.
C Somente III está correta.
D I e II estão corretas.
E I e III estão corretas.
A Caio Prado Jr.
B Sergio Buarque de Holanda
C Gilberto Freyre
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Parabéns! A alternativa C está correta.
A década de 1930 deu margem para a construção do conceito de
“democracia racial”, encabeçado por intelectuais como Gilberto
Freyre. Ao interpretar a origem do Brasil e não identificar ódios
raciais, Freyre louvou a miscigenação, a qual, segundo ele, seria um
sinal da boa convivência entre as “raças”.
2 - As ações dos movimentos negros (1930-1970)
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car o surgimento dos movimentos negros na
República.
Anos iniciais da República
Os primeiros anos republicanos, também conhecidos como o pós-
abolição, foram de construção de uma nova ideia de Brasil, distante da
que predominou durante o período do Império, cuja duração, em sua
maior parte, deu-se sob o regime da escravidão. Porém, ao romper com
esse sistema, não houve nenhuma política de inserção desses homens
D Celso Furtado
E Florestan Fernandes
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e mulheres egressos da escravidão em uma política pública de
educação.
Exemplo
Um dado alarmante indica que, em 1918, 2/3 da população negra era
analfabeta.
Grande parte desse contingente servia de mão de obra barata, não
podendo concorrer com os imigrantes europeus por melhores postos de
trabalho. A realidade da população negra no pós-abolição mobilizou
homens e mulheres negros para ações mais efetivas de melhoria de
vida. Tais ações se deram a partir de um associativismo capaz de:
A Frente Negra Brasileira realizava eventos e bailes, como essa festa de aniversário
da entidade em 1935.
Reconstruir laços de solidariedade e políticos
A Frente Negra Brasileira oferecia aulas e palestra aos associados. Tinha até uma
banda, como mostra a imagem da década de 1930.
Gerar mudanças signi�cativas a longo prazo
Na capital da República (à época, Rio de Janeiro), sobrevivia um
passado da escravidão a despeito das obras de embelezamento de uma
cidade que desejava refletir uma cidade europeia.
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João Cândido (primeira fileira, à esquerda do homem com terno escuro), líder da Revolta da
Chibata.
Com isso, enquanto as britadeiras do progresso construíam novas
avenidas, a violência contra a população negra era sistemática. Uma
delas foi a Revolta da Chibata. Liderado por João Cândido em 1910,
esse movimento era formado por marinheiros (no caso, homens negros)
que se revoltaram contra as chibatadas recebidas. Afinal, a prática de
castigo da escravidão não poderia ter sobrevivido no século XX.
Ainda assim, essa prática existia nas costas de homens negros que não
eram e nem nunca tinham sido escravizados.
A República não deixava passar a escravidão. Ao mesmo tempo,
práticas culturais negras, como a capoeira e os batuques, também eram
combatidas. Herança dos tempos da escravização, tais práticas serviam
como um ambiente de reconstrução de identidades durante o Império,
permanecendo fortes na República.
Capoeira no Porto de Salvador.
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Roda de samba no Rio de Janeiro em 1936.
O surgimento do samba é um dos exemplos de práticas negras que
resistiram a despeito das ações policiais e da imprensa, que combatiam
atitudes de trabalhadores (homens e mulheres) negros para o
divertimento.
Ainda no tema divertimento, clubes negros foram criados na capital da
República, já que os clubes brancos, em muitos casos, não aceitavam
como sócios homens e mulheres negros. Há diversos exemplos desse
tipo de associativismo. Chamamos a atenção agorapara as
associações recreativas criadas por trabalhadores negros.
Tais associações reafirmavam uma cultura de ritmos negros, tendo,
entre sócios e fundadores, africanos e seus descendentes. Esse tipo de
organização é uma marca das primeiras décadas do pós-abolição e
mostram até que ponto homens e mulheres negros poderiam se
organizar para defender uma opção de lazer e reconstruir laços sociais
perdidos ou inexistentes por conta dos anos de escravidão.
A necessidade de se organizarem em associações evidenciava a
distinção existente entre homens e mulheres brancos e negros, porque
não era permitido, de forma subliminar, frequentar os mesmos
ambientes de diversão. Essa restrição não era compatível com a
propaganda existente: a de que, no Brasil, reinava um “paraíso racial”.
Nas primeiras décadas do século XX, tal crença começava a ganhar
adeptos, principalmente entre políticos e intelectuais que viam com
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interesse a ideia de um Brasil mestiço, pensado a partir da construção
de uma nacionalidade que pegaria elementos das camadas populares.
Enquanto isso, a cultura popular de homens e mulheres negros era
rechaçada pelas autoridades policiais e pela imprensa, que tentavam
evitar a propagação de algo que, para eles, era bárbaro e do tempo da
escravidão.
Para homens e mulheres negros, sobreviver na
República só seria possível a partir de uma
mobilização entre seus pares. Podemos classificar tal
mobilização como uma espécie de movimento social, o
qual, hoje em dia, caracterizamos como negro.
Institucionalização de batalhas
Na década de 1930, surgiu uma importante iniciativa de movimento
negro, a qual, estabelecida em São Paulo, gerou ressonâncias em outras
cidades. Diante de um processo de urbanização e industrialização
existente na capital paulista que excluía o negro, em 1931, foi criada a
Frente Negra Brasileira (FNB).
Com forte caráter nacionalista, a FNB tinha filiais em
outros estados. Para alguns estudiosos, a Frente Negra
foi o primeiro movimento ideológico e com caráter
eminentemente urbano.
Entre suas ações, destacava-se a criação do Departamento de Instrução
e Cultura para os membros, já que seus fundadores acreditavam que a
educação era um importante requisito para solucionar os problemas da
população negra nas primeiras décadas do século XX.
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Militantes da Frente Negra Brasileira.
Desde esse período, as iniciativas educacionais da FNB identificavam o
problema relativo aos conteúdos ministrados nas escolas, que
colocavam os negros como “desgraçados”, e o preconceito existente
nos livros didáticos sobre a história do negro e sua participação na
formação do Brasil.
Não fazia sentido alunos negros aprenderem uma história que
destacava uma visão dos seus antepassados apenas na esfera do
fracasso. Tal narrativa, afinal, não contribuiria para a formação desse
aluno. Para driblarem isso, os educadores pertencentes ao
Departamento de Instrução da Frente Negra faziam abordagens de
eventos nos quais o negro tivesse destaque. A expulsão dos holandeses
e o Quilombo de Palmares são dois exemplos.
Comentário
Há quase um século, já existia uma demanda do movimento negro por
uma reavaliação dos conteúdos de história ensinados nas escolas.
Tratava-se, aliás, de algo que mais tarde seria a bandeira de movimentos
sociais no final do século XX.
A Frente Negra foi a mais importante organização do movimento negro
do início do século XX, chegando a reunir cerca de 40 mil associados
em diferentes estados. Ela serviu como referencial para a luta contra o
racismo no Brasil e no exterior. Os analistas desse movimento indicam
que sua existência foi o resultado do acúmulo de experiências
organizativas dos afro-paulistas e uma reação à forte discriminação
vivida por eles em anúncios de jornais e associações.
A FNB ainda é vista como o primeiro movimento ideológico que buscou
sintetizar o assimilacionismo e a prática cultural com o caráter urbano.
Antes dela, houve, também em São Paulo, o Centro Cívico Palmares
(1923-1929), que acabou sendo visto como o embrião para a Frente
Negra.
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Outra iniciativa anterior foi a publicação de um jornal que, mais tarde,
entrou para a galeria dos jornais da “imprensa negra” paulista.
O primeiro número de Clarim d’Alvorada foi publicado em janeiro de 1924
e, além de circular pela cidade de São Paulo, era distribuído em outras
cidades. As diferentes fases pelas quais passou o jornal mostrava um
amadurecimento da necessidade de uma consciência política e social
da comunidade negra na busca por uma cidadania plena. O impresso
sobreviveu até o ano de 1933, tendo cerca de 64 edições publicadas. A
Frente Negra também teve seu órgão oficial, A voz da raça, cujo
cabeçalho tinha a seguinte frase: “O preconceito de cor no Brasil só nós
os negros podemos sentir”.
Capa da primeira edição do Clarim d’Alvorada.
Esse periódico circulou entre os anos de 1933 e 1937, totalizando cerca
de 70 edições. Vendido sob um sistema de assinaturas, ele tinha uma
produção em grande escala, pois era distribuído para outras cidades.
Mesmo atenta aos problemas da educação no Brasil, principalmente
quanto à abordagem da história do negro, a Frente Negra não conseguiu
sistematizar uma proposta de política educacional mais abrangente,
muito menos a elaboração de um material didático específico ou de
uma grade curricular. Ainda assim, a FNB foi o prenúncio das críticas ao
ensino do país que excluía homens e mulheres negros da construção da
sociedade brasileira e, consequentemente, da história do Brasil.
Em 1937, a FNB preparava-se para se tornar um partido político a fim de
disputar as eleições. No entanto, com o golpe do Estado Novo, que
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fechou uma série de partidos, a Frente Negra também foi fechada,
encerrando suas atividades.
Livro Casa-grande & senzala, escrito pelo pernambucano Gilberto Freyre.
Ao mesmo tempo que a Frente Negra valorizava a história negra e dava
espaço em seus jornais para textos que abordassem essa temática,
uma importante obra sobre a origem do Brasil – e que marcaria toda a
pauta do movimento negro a partir dali – era lançada. Casa-grande &
senzala, livro escrito pelo pernambucano Gilberto Freyre, foi publicado
em 1933 e privilegiava a história do Brasil colonial.
Em sua abordagem, Freyre identificava elementos do cotidiano de um
grande engenho para exemplificar a sociedade brasileira, em que a
harmonia racial e, consequentemente, a mestiçagem seriam elementos
de construção de tal sociedade. O reforço da inexistência de uma guerra
racial serviu durante muitos anos para que diferentes regimes políticos
justificassem a falta de políticas públicas para uma parte da população
brasileira.
Se não havia guerra racial, o racismo também não existiria e, logo, não
deveria ser combatido. Os efeitos da famosa “democracia racial” estão
até hoje na mentalidade de muitos brasileiros (todos eles brancos), que
acreditam que o grande problema do país é a questão social, a pobreza,
embora não percebam que ela atinge a maioria da população negra, a
qual, por sua vez, não ocupa os principais postos de trabalho – mesmo
que tenha estudos para tal. Quando estão em pé de igualdade, membros
dessa população são preteridos de oportunidades por serem negros.
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Charge de Bira sobre o mito da democracia racial.
A partir da segunda metade do século XX, as principaispautas das lutas
dos coletivos e dos movimentos negros foram marcadas pelo combate
à propagação do “mito da democracia racial”. Seu objetivo é justamente
evitar que essa “democracia” se espalhasse ainda mais nas políticas
públicas, já que elas são as únicas que poderiam reverter o quadro de
desigualdade social no Brasil.
Todos contra o mito
Enquanto combatiam o “mito da democracia racial”, as iniciativas
particulares ou coletivas não deixaram de existir. Perto do fim do
período do Estado Novo, surgiram outras associações negras. Listemos
duas delas:
Escola de música e canto orfeônico da União dos Homens de Cor.
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União dos Homens de Cor
Fundada em Porto Alegre em 1943, ela teve filiais em outros
estados. Privilegiava a assistência médica e jurídica, assim
como a promoção de cursos de alfabetização (SANTOS, 2022,
p. 231).
Teatro Experimental do Negro ensaiando Sortilégio, com Abdias Nascimento e Léa
Garcia, 1957.
Teatro Experimental do Negro (TEN)
Criado por Abdias Nascimento, o TEN surgiu no Rio de Janeiro
em 1944.
Apesar de a iniciativa de Abdias Nascimento ser a formação de uma
companhia teatral, o TEN assumiu outras funções culturais e políticas.
Para seu idealizador, a alfabetização do negro era fundamental,
principalmente no caso das mulheres trabalhadoras, cuja maioria
ocupava a função de empregadas domésticas.
O projeto de Abdias alfabetizou cerca de 600 pessoas. Já no ano
seguinte da sua construção, o TEN encenou a peça O imperador Jones
no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Dessa iniciativa, saíram
importantes atrizes, como Ruth de Souza, Léa Garcia e Mercedez
Batista.
A respeito dos efeitos do TEN, Abdias Nascimento sintetizou:
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Mercedez Batista
Primeira bailarina negra do Municipal, a figura de Batista foi imortalizada
em uma estátua situada em uma praça no bairro da Saúde, importante
lugar de herança africana, na cidade do Rio de Janeiro.
A um só tempo, o TEN
alfabetizava seus primeiros
participantes e oferecia-lhes
uma nova atitude, um critério
próprio que os habilitava
também a ver, enxergar o
espaço que ocupava o grupo
afro-brasileiro no contexto
nacional.
(NASCIMENTO, 2006, p. 211)
Junto com a alfabetização, o TEN tinha outro importante papel: discutir
a situação do negro na sociedade. A companhia dava o protagonismo
de suas apresentações aos negros, ou seja, o papel principal das peças.
Saiba mais
A companhia teatral de Abdias Nascimento influenciou, décadas mais
tarde, outros coletivos negros teatrais. O mais famoso deles é o Olodum,
em Salvador.
O TEN encerrou suas atividades em 1968, no auge da ditadura militar no
Brasil, obrigando seu fundador a se exilar nos Estados Unidos.
O período de existência do TEN e de ações do movimento negro foi
marcado por iniciativas que tentaram incluir a população negra na
sociedade brasileira. Para isso, valorizavam-se as experiências vindas
do exterior e tentava-se afirmar a dignidade, a busca de reconhecimento
social e a igualdade da maioria dos negros. Essa fase também foi
marcada por maior agitação intelectual e política, havendo uma
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presença de representantes dos setores progressistas brancos junto às
entidades negras (GONZALEZ; HASENBALG, 1982, p. 24).
Integrantes do TEN.
Além das iniciativas de coletivos e associações negras, é importante
ressaltar os estudos de intelectuais que tinham como objeto de estudos
a questão racial. Na década de 1950, houve um projeto de apoio a
estudiosos (em sua maioria, brancos) com patrocínio da Unesco. Nesse
projeto, importantes obras foram produzidas, o que permitiu a
ampliação de conhecimentos e questionamentos a respeito da questão
racial no Brasil.
Um desses autores foi Luís de Aguiar Costa Pinto, que publicou em 1953
O negro no Rio de Janeiro. Essa obra destacava a diferença entre as
vidas de pessoas brancas e negras. O autor também apontou a
discrepância relativa aos estudos sobre a população negra. Vejamos:
O negro brasileiro, ou melhor, o brasileiro
negro e o processo de sua integração nos
quadros da sociedade brasileira – da
condição de escravo à de proletário e da
condição de proletário à de negro de classe
média – jamais despertaram o interesse sério
dos estudiosos do negro no Brasil, porque um
arraigado estereótipo os convencera de que
nada havia a estudar em relação ao negro
igual a nós, ao negro não africano, não
analfabeto, não escravo, não trabalhador
rural, não separado do branco pela distância
imensa que separa o vértice da base de uma
pirâmide social rigidamente estratificada. O
que o negro tinha de diferente de nós era o
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que se oferecia ao estudo: suas matrizes
africanas, o drama de sua vinda para o novo
mundo, sua condição de escravo, o estoque
de influência que ele trouxe para cá e
despejou fartamente na argamassa com que
a história cimentou o chão e as vigas da
civilização brasileira.
(COSTA PINTO, 1952, p. 26)
A denúncia feita por Costa Pinto dizia respeito à colocação do negro,
como objeto de estudo, em um nicho que o estereotipava. Ou seja, só
era permitido estudá-lo como alguém na miséria e ligado à escravidão.
Parecia não haver outra posição para o homem e a mulher negro e negra
na história e na sociedade. Por que o negro não poderia, por exemplo,
ser estudado como trabalhador, brasileiro, político e intelectual?
Essa questão de Costa Pinto nos instiga a continuar pensando na força
do movimento negro, o qual, na segunda metade do século XX, parecia
gritar ainda mais para a sociedade. Uma parte desse grito dizia que a
democracia racial não existia – principalmente em um período de
ditadura militar – e que a história do Brasil excluía grande parte da
população da sua própria história.
Junto ao movimento negro, estavam intelectuais como Florestan
Fernandes e Thales de Azevedo. Ambos corroboravam a denúncia da
inexistência não só da democracia, mas também – e principalmente –
de uma democracia racial.
Refletir sobre esse movimento é ver ações contra um mito que, ainda no
século XXI, precisa ser constantemente desmobilizado.
Historicizando o movimento negro
Veja agora uma explicação sobre o surgimento dos movimentos negros
na República.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
No período pós-abolição, a condição de homens e mulheres negros
era muitas vezes marcada pelo analfabetismo e pelo fato de que
eles serviam como mão de obra barata. Tais questões foram pautas
de mobilização desse grupo, o que se deu a partir de:
Parabéns! A alternativa D está correta.
Na primeira metade do século XX, grande parte da população negra
era analfabeta e servia de mão de obra barata. A realidade dessa
população no pós-abolição mobilizou homens e mulheres negros
para ações mais efetivas de melhoria da qualidade de vida a partir
de um associativismo capaz de reconstruir laços de solidariedade e
políticos.
Questão 2
A Irmandades religiosas
B Irmandades de ofício
C Universidades
D Associações
E Igrejas
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“Art. 1° - Fica fundada nesta cidade de São Paulo, para se irradiar
por todo o Brasil, a FrenteNegra Brasileira, união política e social da
gente negra nacional, para a afirmação dos direitos históricos da
mesma, em virtude da sua atividade material e moral no passado e
para reivindicação de seus direitos sociais e políticos, atuais, na
comunhão brasileira.” (Estatuto da Frente Negra Brasileira. Diário
Oficial do Estado de São Paulo, 1931.)
Avalie as assertivas sobre a FNB:
I - Tinha um apelo regional no estado de São Paulo.
II - Tinha um caráter nacional com filiais nos estados.
III - Foi um movimento com caráter rural.
IV - Seu principal foco era a educação como solucionadora de
problemas da população negra.
Marque a alternativa correta.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Em 1931, é criada a FNB. Com forte caráter nacionalista e urbano, a
entidade tinha filiais em outros estados. A criação do Departamento
de Instrução e Cultura para seus membros demarcava o principal
intento da entidade: solucionar os problemas da população negra
por meio da educação.
A Somente I está correta.
B Somente II e II estão corretas.
C Somente I e IV estão corretas.
D II e IV estão corretas.
E III e IV estão corretas.
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3 - O movimento negro uni�cado – ações e sujeitos
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as diferentes estratégias de ação do MNU
na segunda metade do século XX.
Respeita minhas vitórias!
Como movimento social, o movimento negro tem como particularidade
a atuação relativa à questão racial e engloba um conjunto de entidades,
organizações e indivíduos que lutam contra o racismo e por melhores
condições de vida. Ele é uma resposta à forma com que a sociedade
brasileira trata a população negra e ao mito da democracia racial, mais
próximo de um senso comum do que obra exclusivamente de Gilberto
Freyre.
No entanto, é essencial que tenhamos a seguinte
noção: os negros não são um bloco monolítico com
características únicas e universais. Houve, afinal,
diferentes tipos de mobilização – e, neste módulo,
falaremos justamente dessa diversidade. A
característica que uniu esses diferentes movimentos
foi a consciência de que apenas com o reforço de uma
identidade negra seria possível encarar o inimigo
comum: o racismo.
Por ser complexo, de acordo com uma própria militante do movimento
negro, Lélia Gonzalez, não é possível falar dele no singular. Na verdade,
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destaca Gonzalez, há uma especificidade comum, o negro, embora
existam divergências quanto à sua mobilização. Por conta disso, o
movimento deve ser visto no plural (GONZALEZ; HASENBALG, 1982, p.
19).
Para Joel Rufino, historiador e intelectual negro, o ideal seria pensar o
movimento negro como um conjunto de entidades e ações iniciadas
após a década de 1930 e que lutaram contra o racismo e a
marginalização. Dessa forma, é interessante pensar nas mobilizações
que aglutinaram homens e mulheres negros na segunda metade do
século XX, período de transformação política e social.
Placa sobre o Renascença Clube.
Uma iniciativa importante promovida pela intelectualidade negra do Rio
de Janeiro foi a fundação do Renascença Clube, em 1951, como um
espaço de sociabilidade de homens e mulheres negros de classe média
que, por conta da cor, não poderiam frequentar clubes ocupados
majoritariamente por brancos.
Entre as atividades realizadas no clube, havia concursos de beleza para
a escolha da mulher negra mais bonita, danças de salão e, da década de
1970 em diante, bailes soul, que ficaram conhecidos como Black Rio.
O Renascença Clube existe até hoje no Rio de Janeiro,
reforçando, com isso, sua ancestralidade e a valorização
da cultura negra.
Em 1976, um grande jornal noticiava a mobilização de jovens negros
para uma música nada parecida com o samba ou o batuque, sons
tipicamente associados à cultura negra. O ritmo do soul, somado a um
orgulho da negritude, veio dos Estados Unidos e tomou conta da
juventude negra no Rio de Janeiro e em São Paulo – mais precisamente,
nas periferias dessas duas cidades.
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Em plena ditadura militar, os bailes black foram um fenômeno da década
de 1970 e uma das facetas do movimento negro do período.
De algum modo, tanto o movimento dos direitos civis dos Estados
Unidos quanto a mobilização dos norte-americanos exerceram
influência sobre os jovens negros brasileiros, que se reuniam em
grandes bailes black para dançar e pensar a questão racial, já que ela
não estava desconectada das ações musicais desses jovens.
Baile soul na década de 1970, no Rio de Janeiro.
Outro ponto de ação dizia respeito a uma estética negra. Ela, afinal,
resgatava o amor a seus traços e cabelos, que passam a ser valorizados
e crescem ao natural, ganhando o nome de “black”. Ao mesmo tempo,
quem aderia a tal estética sofria discriminação. Por conta de suas
roupas e de seus cabelos, esses jovens mobilizavam outros, os quais,
sem perceber, acabavam por fazer política.
Foto da exposição de Carlos Vergara sobre o Carnaval no Rio de Janeiro.
A repressão a essa movimentação foi forte, tendo sido mais uma das
realizadas no período da ditadura, especialmente porque, ao valorizar
uma estética e cultura “black”, ela evidenciava que a democracia racial
pregada por esse regime político era inexistente, assim como o era a
própria democracia.
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Artistas como Toni Tornado e Tim Maia foram testemunhas e
promotores de tais eventos e dessa estética, demarcando para a
contemporaneidade que a arte negra poderia ser diversa – e não apenas
a que vinha do samba e do batuque.
Toni Tornado.
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Tim Maia.
Contudo, as ações desses jovens irritavam os defensores da harmonia
racial, como Ibrahim Sued, o que fez com que o colunista social d’O
globo escrevesse em 1977 sobre o fenômeno:
A tônica do movimento é lançar o racismo no
país, como existe nos States. Eles chamam
uns aos outros de “brother”, e o cumprimento
é com o punho fechado para o alto. Nos
shows que estão promovendo no Rio e em
São Paulo conseguiram a presença de 10 mil
pessoas. Os brancos são evitados,
maltratados e até insultados. As autoridades
estão atentas a esse movimento, pois pode
se tratar de problemas de segurança
nacional. E mais: no Brasil não existe
racismo. Existem pessoas que alcançam
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posições mais elevadas e outras menos. Nos
espetáculos, os negros aproveitam a
oportunidade para a agitação, jogando
negros contra brancos e fazendo a preleção
para o domínio da raça no Brasil, a exemplo
do que acontece nos States.
(PEDRETTI, 2022, p. 86)
A imprensa se esforçava em dizer que não existia racismo no Brasil e
que alguma menção a isso era algo importado. Ao mesmo tempo,
jornalistas se espantavam com a adesão ao movimento musical
promovido por negros que tentavam, aos olhos de Ibrahim Sued,
racializar a sociedade brasileira.
Estudiosos do movimento conhecido como Black Rio negam qualquer
tipo de segregação a pessoas brancas, mas indicam que os bailes eram
oportunidades para a reafirmação de uma identidade negra.
Saiba mais
Foi na década de 1970 que o Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul,
pregou o deslocamento das comemorações do 13 de maio, data de
assinatura da Lei da Abolição, para 20 de novembro, dia de morte do
Zumbi dos Palmares, herói mais apropriado para se pensar a liberdade
em um tempo de ditaduramilitar.
As mulheres negras também começaram a se mobilizar nos
movimentos negros existentes, principalmente no Rio de Janeiro, e
alguns relatos de militantes históricas desses movimentos indicam a
existência de um machismo estrutural que não permitia uma ação
completa delas como articuladoras políticas. A década de 1970 seria de
transformação em muitos sentidos nos movimentos sociais.
Os militantes dos movimentos existentes em diferentes cidades
começaram um profícuo diálogo em meados dos anos 1970,
articulando um movimento de caráter nacional. Como resultado disso,
com uma diferença de 11 dias, houve a fundação do movimento negro
em Salvador em 7 de junho de 1978 e, no dia 18, em São Paulo, do
Movimento Negro Unificado (MNU).
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Ato que deu início ao MNU.
Em novembro desse mesmo ano, foi publicado o manifesto Cadernos
negros, uma publicação do MNU contra a discriminação racial. Nesse
momento, constituía-se uma ampla articulação desses movimentos,
assim como uma denúncia do racismo na sociedade brasileira.
Na segunda Assembleia Nacional do MNU, realizada em Salvador no dia
4 de novembro de 1978, ficou estabelecido o 20 de novembro como dia
de luta e da consciência negra, ao mesmo tempo que se negava o dia 13
de maio, visto como o dia da assinatura de uma lei que havia ficado
apenas no papel e que pouco tinha feito para mudar a situação do negro
(GONZALES, 1982, p. 58). Para os membros do MNU, não era mais
possível acreditar na ideia da democracia racial, já que ela representava
fortes barreiras para a luta contra o racismo.
Saiba mais
Uma denúncia feita por esse movimento foi o projeto assimilacionista,
que visava ao branqueamento das populações negras e indígenas
(D’ADESKY, 2006, p. 71).
Ninguém solta a mão de ninguém!
Para Joel Rufino dos Santos, a fundação do MNU foi o desfecho de um
caminho que transitou por diversas ações até chegar à organização
política e ideológica, sendo um fruto do “milagre brasileiro” e das suas
frustrações sociorraciais. Ela era também uma resposta ao “mito da
democracia racial” e a todas as imagens que amenizavam a condição
racial no Brasil, criando uma ideologia sobre uma história: a da
escravidão (SANTOS, 1985).
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MNU da Bahia.
O MNU tornou-se uma organização com representações em vários
estados brasileiros e acabou influenciando na criação de outras
organizações negras. O contexto da criação do movimento e das suas
intenções estava totalmente relacionado a um período de ditadura
militar que já dava indícios de abertura política.
Na iminência de uma abertura, era preciso ocupar espaços para garantir
a participação de todos e todas a fim de promover uma verdadeira
transformação social. Ou seja, um caminho para isso era a denúncia e a
derrubada do mito da democracia racial, além de dar uma atenção maior
à complexidade da sociedade brasileira.
Um dos aspectos de reivindicação de transformação da sociedade
passava também pela reavaliação do papel do negro na história do
Brasil e pela denúncia da existência de desigualdades materiais e
simbólicas, gerando desvantagens gritantes entre os brasileiros,
principalmente no caso dos afrodescendentes (D’ADESKY, 2006).
Estudos que problematizavam a questão negra na nação aproveitaram o
ensejo para repensar o papel do negro e do indígena na história do
Brasil.
Exemplo
Esses estudos estão no bojo das reivindicações futuras de
obrigatoriedade de um ensino que ampliasse a abordagem de uma
história do Brasil que há muito tempo privilegiava homens brancos e de
origem europeia.
Fora do Brasil, a Unesco patrocinou a coleção História geral da África. De
seus 8 volumes, 4 saíram primeiramente no Brasil, embora atualmente
todos os volumes estejam digitalizados e disponíveis em português.
Essa coleção reuniu um material escrito por especialistas de diversos
países e abordou diferentes temas, regiões e períodos da história
africana, sendo pioneira na reunião de historiadores, incluindo os
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africanos, dispostos a pensar um projeto maior acerca da história de um
continente.
Livros da coleção História geral da África.
História geral da África representou, por fim, um esforço para combater
uma visão do continente construída durante o período colonial (XIX e
XX), dando um caráter negativo à história do continente europeu e ao
seu direito à história, além de colocar os africanos no papel de sujeitos
dela (LIMA, 2004). A obra de oito volumes também:
Instigou novos estudos.
Gerou um campo de conhecimento inédito até então.
Foi uma base teórica e mais detalhada sobre o continente e sua
formação cultural e histórica.
Serviu àqueles interessados em não só estudar o continente, como
também em conhecer as origens de uma parte do povo ancestral da
sociedade brasileira.
Na década de 1990, anos após a Constituição de 1988 e com um novo
período republicano (dessa vez, distante dos horrores da ditadura), a
questão racial passou a constar na agenda de debates de políticas
públicas de diferentes órgãos, como: sociedade, escolas, universidades
e mídia. Todos eles passaram a discutir o racismo e a discriminação
racial. Essa discussão foi essencial para gerar um movimento de luta
por meio da articulação de políticas públicas efetivas para o combate a
um mal tão secular.
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Convenção Nacional do Negro, de 1986.
Uma das propostas foi a de transformar o 13 de maio em dia nacional
de denúncia contra o racismo. A data – que, em 1988, foi marcada por
protestos diante do centenário da abolição e da ideia de que ela teria
sido uma farsa – passava a ser ressignificada, ficando disponível para
um novo campo de luta.
Uma forma de combater o racismo era educar a população e inserir
mais pessoas negras no ensino superior. Essa constatação fez com que
uma das ações do movimento negro fosse a de criação de pré-
vestibulares comunitários para jovens negros e carentes, servindo como
uma ponte para a universidade.
Apenas por dentro seria possível mudar a estrutura desse sistema de
ensino. As ações da sociedade civil para o reforço na educação de
jovens negros e carentes surgiram na Bahia (mais precisamente, na
periferia de Salvador). Já no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, elas
foram uma iniciativa da Pastoral do Negro (SISS, 2003, p. 157). Essas
ações de pré-vestibulares negros alimentaram as reivindicações por
ações afirmativas cujo resultado mais visível é o das cotas raciais nas
universidades brasileiras.
Desse modo, o movimento negro do século XX foi amplo e complexo,
tendo enfrentado diferentes regimes políticos. Ainda assim, ele foi
essencial para mobilizar a sociedade brasileira e acordá-la para o
problema do racismo, o qual, a despeito de atingir a todos, é vivido
cotidianamente por homens e mulheres negros.
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Marcha "Zumbi está vivo", realizada no Rio de Janeiro em 1983.
O século XXI iniciaria com uma perspectiva de mudança que passava
pela educação. Mais uma vez, ela se revela como um caminho seguro
para a mudança da mentalidade da sociedade.
O movimento negro uni�cado
Assista agora uma apresentação sobre as diferentes estratégias de
ação do MNU com o objetivo de unificar o movimento negro.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar algunsconceitos?
Questão 1
“Funcionando no Lins de Vasconcelos, numa casa antiga, pequena,
com grande quintal arborizado, a sede do Renascença reunia
‘pessoas que apesar de intelectualmente e economicamente
capazes, não tinham acesso a diversos tipos de diversões por
serem negros’. A origem do clube é tema recorrente nas conversas
com os antigos e novos associados“ (GIACOMINI, S. M. A alma da
festa: família, etnicidade e projetos num clube social da Zona Norte
do Rio de Janeiro, o Renascença Clube. Belo Horizonte: UFMG,
2006. p. 28-19).
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No início dos anos 1950, a fundação do Renascença Clube como
espaço de convivência demonstra o(a):
Parabéns! A alternativa C está correta.
Em 1951, uma intelectualidade negra no Rio de Janeiro fundou o
Renascença Clube. Ele era um espaço de sociabilidade de homens
e mulheres negros de uma classe média que, por conta da cor, não
poderiam frequentar clubes ocupados majoritariamente por
brancos.
Questão 2
(IBFC – PM/MG – analista de gestão da Polícia Militar – Pedagogia
– 2015) Ao longo do século XX, em diferentes momentos e lugares
do Brasil, surgiram associações e movimentos organizados em prol
do atendimento às necessidades de populações negras. A intensa
mobilização emergiu em fins dos anos 1970 e, nesse cenário,
aconteceu uma reorganização do movimento negro, podendo-se
considerar como um de seus importantes marcos a criação do
MNU, em 1978, com intuito de articular entidades diversas e
demarcar o caráter político da luta contra a discriminação racial.
Tratou-se, assim, de um momento de rearticulação e instauração de
A
inexperiência associativa que levou a elite negra a
imitar os clubes dos brancos.
B
isolamento da comunidade destacada que ignorava
a democracia racial brasileira.
C
interesse de um grupo de negros na afirmação
social para se livrar do preconceito.
D
existência de uma elite negra imune ao preconceito
pela posição social que ocupava.
E
criação de um racismo invertido que impedia a
presença de pessoas brancas nesses clubes.
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uma nova agenda política de combate antirracista, que passa a se
organizar em frentes de luta, como:
I - A recuperação da autoestima negra por meio da modificação de
valores estéticos, da reapropriação de valores culturais, da
recuperação de seu papel na história nacional e do avivamento do
orgulho racial.
II - O processo de abertura política e a emergência dos movimentos
sociais em consonância com a transição democrática no Brasil.
III - O combate à discriminação racial por meio da universalização
da garantia dos direitos e das liberdades individuais, incluindo os
negros, mestiços e pobres.
IV - O combate às desigualdades raciais por meio de políticas
públicas que estabeleçam, a curto e médio prazo, maior equilíbrio
de riqueza, prestígio social e poder entre brancos e negros.
Assinale a alternativa correta.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Os militantes dos movimentos existentes em diferentes cidades
articularam um movimento de caráter nacional na década de 1970.
Com isso, o MNU foi fundado em 1978. Em novembro do mesmo
ano, é publicado o manifesto Cadernos negros, uma publicação
contra a discriminação racial. Nesse momento, começava a haver
uma ampla articulação e a denúncia do racismo na sociedade
brasileira. Para o MNU, não era mais possível acreditar na ideia da
democracia racial, já que ela representava fortes barreiras para a
luta contra o racismo.
A I, II e III, somente.
B I, III e IV, somente.
C I e III, somente.
D I e IV, somente.
E II e IV, somente.
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4 - O século XXI – novas e antigas questões
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer avanços, retrocessos e desa�os para o
futuro do movimento negro nas primeiras décadas do século XX.
Orgulho de ser preto!
O século XXI teve início com as comemorações voltadas para os 500
anos do Brasil, havendo a crença de que seria um tempo de progresso e
mudanças. No entanto, algumas permanências podem ser sentidas até
os dias de hoje, duas décadas depois do seu início.
O fato é que estamos vivendo tempos de retrocesso e descrença sob a
sombra de um futuro sem igualdade social. Ignorar a presença de
homens e mulheres negros e indígenas na construção da sociedade
brasileira e, consequentemente, da sua história, é recriar velhas
questões.
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III Conferêncial Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Conexa.
Por isso, pensaremos nessas primeiras décadas do século XXI como
uma curva ascendente de conquista de direitos, principalmente dos
raciais, e que teve uma forte queda nos últimos cinco anos. Mesmo que
essa queda seja sentida por eles, os movimentos sociais não
esmoreceram, tendo feito um resgate para a história de homens e
mulheres negros esquecidos que contribuíram para o fortalecimento da
democracia política.
Já no primeiro ano do novo século, o Brasil enviou para Durban, na
África do Sul, uma delegação para a Conferência Mundial das Nações
Unidas de 2001 contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e
a Intolerância. Nosso país foi um signatário do relatório da conferência,
que pregava ações concretas para esse combate.
Apesar de não ser um resultado direto dessa participação, o sistema de
cotas raciais foi estabelecido no Brasil no ano seguinte: a Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi a pioneira dessa ação em
universidades públicas. O Decreto nº 30.766/2002 estabelecia cotas de
até 40% para as populações negra e parda. Atualmente, ele fixa:
Sistema de cotas raciais
Lei nº 3.708, de 9 de novembro, regulamentada pelo Decreto nº 30.766, de 4
de março de 2002.

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20% para negros

20% para alunos da rede pública

5% para pessoas com de�ciência ou
membros de minorias étnicas
A questão racial entraria de vez para a agenda pública nos primeiros
anos do século XX. Ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso
(FHC), em 13 de maio de 2002, foi aprovado o Segundo Plano Nacional
de Direitos Humanos (COSTA, 2011, p. 67).
O primeiro plano, também no governo FHC, alertava para o combate a
injustiças sociais e violações de direitos humanos no país. O segundo,
publicado em data significativa, tinha ações para a população negra e
indígena como um importante enfoque. Entre elas, o Segundo Plano
Nacional de Direitos Humanos pregava a política de ações afirmativas
para o combate à desigualdade social e apontava que os currículos
escolares que deveriam estar atentos à questão da discriminação.
Também em 2002, o Ministério das Relações Exteriores incentivou a
entrada de afrodescendentes na carreira diplomática por meio de
bolsas. No ano seguinte, já no primeiro mês do governo Lula, foi
assinada a Lei nº 10.639/2003, uma importante alteração na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, que estabeleceu a
obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira. Essa lei
resultou de uma ação política e histórica de grupos ligados a
movimentos sociais.
O mesmo ano ainda reservou outras conquistas, como a Criação da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR)
(COSTA, 2011, p. 68) e o estabelecimento do dia 20 de novembro como
Dia da Consciência Negra, com a inclusão da data no calendário escolar.
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A importância do ensino da história e cultura afro-brasileira para todas as idades.
O mesmo ano ainda reservou outras conquistas, como a Criação da
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR)
(COSTA, 2011, p. 68) e o estabelecimento do dia 20 de novembro como
Dia da Consciência Negra, com a inclusão da data no calendário escolar.
Atenção!
Mudança no ensino era pauta do movimento negro, no mínimo, desde a
década de 1930, quando a Frente Negra já alertava para a existência de
uma história na qual o negro tinha papel secundário.
Tais ações afirmativas tiveram como resultado:
Práticas para o reconhecimento sociocultural.
Promoção da igualdade.
Universalização de direitos civis, políticos e sociais (política de
universalização de direitos).
Organizações ligadas ao movimento negro investiram em iniciativas
voltadas para a educação, principalmente na linha do acesso ao ensino
superior e na formação de educadores. Um dos motivos disso é o fato
de tais organizações considerarem a educação um dos mais
importantes mecanismos a se acionar para a redução das
desigualdades sociais e raciais.
Exemplo
Em 2008, a lei inseriu a história e cultura indígena como obrigatória no
currículo escolar, alertando-se para o etnocídio existente na sociedade
brasileira.
Etnocídio
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Destruição da civilização ou da cultura de uma etnia por outro grupo étnico.
As ações do que chamamos de movimento negro se ampliaram. Se
antes elas ficavam restritas a encontros presenciais e ações nas ruas,
nos partidos políticos e nas universidades, atualmente, é possível
identificar mobilizações individuais.
Além disso, alguns coletivos estão atentos a outras necessidades. Uma
delas é pensar o papel da mulher negra e resgatar o protagonismo de
muitas delas, que, atuando nas décadas de 1970 e 1980 nas ações do
movimento negro, foram apagadas de uma história que não individualiza
essas ações.
Exemplo
Um movimento importante para isso foi a sanção, em 2014, por parte da
presidente Dilma Rousseff, da data do 25 de julho como o Dia
Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia
Nacional de Tereza de Benguela.
Por isso, vale destacar algumas dessas mulheres, que falaremos na
próxima seção. Vamos lá?
Pensamento preto!
A primeira dessas mulheres é Lélia Gonzalez (1934-1994). Bacharel em
Filosofia, História e Geografia, ela foi professora do CAP-UERJ e da Puc-
Rio.
No carnaval, o mito da democracia racial é atualizado.
Por ter participado da fundação do MNU nos anos 1970, Gonzalez foi
fortemente vigiada no regime militar. Sua produção intelectual é uma
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crítica ao caráter eurocêntrico das Ciências Sociais e do feminismo
ocidental. Lélia Gonzalez também atuou na assessoria de filmes que
tinham a temática racial e em mandatos políticos, principalmente os da
deputada constituinte Benedita da Silva.
Em sua obra, Gonzalez alertou para o racismo e o sexismo na cultura
brasileira, principalmente no caso do carnaval:
O mito que se trata de reencenar aqui é o da
democracia racial. E é justamente no
momento do rito carnavalesco que o mito é
atualizado com toda a sua força simbólica. E
é nesse instante que a mulher negra
transforma-se única e exclusivamente na
rainha, na “mulata deusa do meu samba”,
“que passa com graça/fazendo
pirraça/fingindo inocente/tirando o sossego
da gente”. É nos desfiles das escolas de
primeiro grupo que a vemos em sua máxima
exaltação. Ali, ela perde seu anonimato e se
transfigura na Cinderela do asfalto, adorada,
desejada, devorada pelo olhar dos príncipes
altos e loiros, vindos de terras distantes só
para vê-la. Estes, por sua vez, tentam fixar
sua imagem, estranhamente sedutora, em
todos os seus detalhes anatômicos; e os
“flashes” se sucedem, como fogos de artifício
eletrônicos. E ela dá o que tem, pois sabe que
amanhã estará nas páginas das revistas
nacionais e internacionais, vista e admirada
pelo mundo inteiro. Isso sem contar o cinema
e a televisão. E lá vai ela feericamente
luminosa e iluminada no feérico espetáculo.
(GONZALEZ, 1984, p. 69)
A autora denunciava a persistência do mito da democracia racial em
momentos nos quais a mulher negra é fortemente sexualizada e objeto
de desejo de todos aqueles que não a enxergam no seu cotidiano. A tal
harmonia racial parecia ocorrer em algumas épocas do ano, e o carnaval
é uma delas.
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Outra historiadora é Beatriz Nascimento (1942-1995). Graduada pela
UFRJ em 1971, ela foi pesquisadora do Arquivo Nacional e da FGV,
além de professora da rede pública. Em 1975, Beatriz Nascimento
organizou na UFF a Semana de estudos sobre a contribuição do negro
na formação brasileira, antecipando as abordagens que hoje são
essenciais para se pensar a história do Brasil. Sua intelectualidade
negra foi influenciada também pelas viagens que fez a Angola e
Senegal na década de 1980 – e podemos ver parte dessa reflexão no
filme Ôrí (1989).
Em suas pesquisas, a professora e pesquisadora colocou homens e
mulheres negros como protagonistas e questionou como a negritude
tornava-se sinônimo de escravidão e objetificação:
As manifestações preconceituosas são tão
fortes que, por parte de nossa
intelectualidade, dos nossos literatos, dos
nossos poetas, da consciência nacional,
vamos dizer, somos tratados como se
vivêssemos ainda sob o escravismo. A
representação que se faz de nós em
literatura, por exemplo, é a de criado
doméstico, ou, em relação à mulher, a de
concubina do período colonial. O aspecto
mais importante do desleixo dos estudiosos
é que nunca houve tentativas sérias de nos
estudar como raça.
(NASCIMENTO, 2006, p. 34)
Para Beatriz, não era mais possível ver os negros nos mesmos lugares,
isto é, o da subalternidade, e tendo vivido apenas um período da história
do Brasil: o da escravidão. Ela propunha uma quebra de paradigmas,
propondo como a história deveria ser feita: a partir de um outro olhar e
de novas questões que colocassem o homem negro e a mulher negra no
centro do debate.
Beatriz e Lélia mantinham um diálogo e permaneciam
atentas ao machismo existente (principalmente dentro
do movimento negro) na sociedade. Ambas deixaram
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um importante legado seguido por outras mulheres
negras.
Entre elas, vale destacar Sueli Carneiro. Nascida em 1950, ela é filósofa,
escritora e ativista, tendo recebido em 2002 o título de doutora honoris
causa pela UnB. Carneiro fundou em 1988 o Geledés – Instituto da
Mulher Negra, uma organização da sociedade civil para a denúncia e o
combate ao racismo, ao machismo e à desigualdade social, além de dar
protagonismo às mulheres negras. Para ela, é preciso “enegrecer o
feminismo”:
Com essas iniciativas, pôde-se
engendrar uma agenda específica
que combateu, simultaneamente, as
desigualdades de gênero e
intragênero; afirmamos e
visibilizamos uma perspectiva
feminista negra que emerge da
condição específica do ser mulher,
negra e, em geral, pobre;
delineamos, por fim, o papel que
essa perspectiva tem na luta
antirracista no Brasil.
(CARNEIRO, 2003, p. 11)
Para Carneiro, é urgente haver medidas que tirem a mulher negra do
estrato social mais baixo da sociedade. O feminismo de outrora, para
ela, não é capaz de responder às demandas de mulheres negras; por
isso, a autora defende seu “enegrecimento” para gerar reflexões que
atinjam esse grupo social de forma mais específica.
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Lélia Gonzalez.
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Beatriz Nascimento.
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Sueli Carneiro.
Essas três mulheres são insuficientes para demonstrar a complexidade
de todo o movimento social negro existente no Brasil nas últimas
décadas do século XX e do início do XXI. No entanto, a valorização das
suas biografias tem gerado uma reflexão importante que provoca novos
estudos – entre eles, o da branquitude e dos seus efeitos para a leitura
racial da sociedade.
Desse modo, refletir sobre Lélia, Beatriz e Sueli é ver as muitas mulheres
negras silenciadas e assassinadas, às vezes, apenas por serem
mulheres ou negras.
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O movimento negro no século XXI
Veja agora quais foram os avanços, os retrocessos e quais são os
desafios para o futuro do movimento negro no século XXI.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
(FGV – Prefeitura de Paulínia/SP – coordenador pedagógico – 2021
– adaptada) As leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008 tornaram
obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena
no currículo oficial da rede de ensino. Analise as afirmativas a
seguir a respeito dessas leis:
I - Pretendem inverter a narrativa eurocêntrica, pois a cultura
brasileira é indígena e africana.
II - Constatam que a historiografia sobre o passado brasileiro havia
secundarizado a importância da cultura indígena.
III - Valorizam o estudo do passado dos africanos como aspecto
fundamental para a compreensão da história brasileira.
Está correto o que se afirma em:
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Parabéns! A alternativa D está correta.
A Lei nº 10.639, a qual, por sua vez, é uma alteração na LDB (1996),
estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-
brasileira e indígena. Essa lei é resultado de uma ação política
histórica de grupos ligados a movimentos sociais.
Questão 2
(Fundação Carlos Chagas - educador social - nível superior – 2018)
O termo “ação afirmativa” ficou diretamente relacionado ao sistema
de cotas para a população negra e indígena para acesso às
universidades. Sobre essa temática, é correto afirmar que
A I.
B II.
C I e II.
D II e III.
E I e III.
A
as ações afirmativas potencializam a diversidade,
fortalecendo que todos possam ter o mesmo mérito
educacional.
B
a delegacia da mulher e do idoso não podem ser
consideradas ações afirmativas.
C
as ações afirmativas deveriam se concentrar na
inclusão e no acesso à educação de pessoas em
situações de desigualdades.
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Parabéns! A alternativa E está correta.
As ações afirmativas tiveram como resultado práticas para o
reconhecimento sociocultural, a promoção da igualdade e a
universalização de direitos civis, políticos e sociais, constituindo
uma política de universalização de direitos. As organizações ligadas
ao movimento negro investiram em iniciativas voltadas para a
educação, principalmente na linha do acesso ao ensino superior e
na formação de educadores.
Considerações �nais
Vimos neste conteúdo que os movimentos sociais foram responsáveis
por muitas mudanças políticas. A primeira delas é a própria abolição da
escravidão, que ocorreu por meio de uma lei clamada pelo movimento
abolicionista (hoje em dia, visto como movimento social).
As ações de homens e mulheres negros que vieram depois serviram
para suprir a falta de políticas públicas específicas para uma população
recém-saída da escravidão. Afinal, desde sempre se notou a urgência de
uma nova educação, que não só abrangesse a todos, como também
incluísse todos e todas como sujeitos da história do Brasil.
Nas décadas seguintes, percebemos as manifestações daqueles que,
cientes do seu papel político, não se calaram diante da permanência da
discriminação racial e da reprodução de alguns mitos, como o de que
não havia racismo, de que todos eram irmãos de raça e de que o Brasil
vivia uma democracia racial. Derrubar tais mitos é fundamental – e o
movimento negro tem isso como pauta até hoje.
D
as ações afirmativas podem ser adotadas de modo
espontâneo no combate às desigualdades.
E
as ações afirmativas abrem portas para a
universalização e a participação de todos os
segmentos da população.
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Na segunda metade do século XX (em grande parte vivido em um
período de ditadura), o movimento negro se reconstruiu e se fortaleceu,
principalmente na sua diversidade de papéis. Apesar da forte repressão
às suas manifestações, a cultura negra é um ponto de apoio para essas
ações. O processo da redemocratização no Brasil, com o fim da ditadura
militar, a promulgação da Constituição em 1988 e a eleição democrática
de novos presidentes, alimentou homens e mulheres na busca por mais
direitos sociais e políticos, além de construir medidas mais afirmativas
– entre elas, as cotas.
Por isso, o Brasil do século XXI é resultado direto da mobilização de
homens e mulheres negros insatisfeitos com o papel dado a eles por
uma sociedade racista, machista e homofóbica. A tendência é que nos
transformemos com o fim das ilusões e, ao encararmos a realidade da
desigualdade brasileira, possamos reverter esse quadro nas próximas
décadas.
Podcast
Escute agora uma análise sobre os movimentos negros na história do
Brasil.

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Confira as indicações que separamos para você!
Acesse o YouTube para assistir a quatro vídeos: 25 de julho –
feminismo negro contado em primeira pessoa (canal Do Moro
Produções); 1976 movimento Black Rio (canal TV da Rua); Cultne –
Lélia Gonzalez – Pt 1 (canal Cultne); O outro em branco – reflexo
reverso (canal Lab Afrikas).
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Outra dica é assistir ao documentário Ôrí, de 1989. Basta acessar canal
Curta! e digitar o nome do filme no campo de busca da página.
Acesse o site do Ipeafro para conhecer seus projetos.
Referências
CARNEIRO, S. Mulheres em movimento. Estudos avançados. v. 17. n. 49.
2003.
COSTA PINTO, L. DE A. O negro no Rio de Janeiro: relações de raça
numa sociedade em mudança. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1952.
COSTA, R. C. R. DA; OLIVEIRA, L. F. DE. O pensamento social brasileiro e
a questão racial: da ideologia do “branqueamento” às “divisões
perigosas”. In: COSTA, R.; MIRANDA, C.; LINS, M. (Orgs.). Relações
étnico-raciais na escola: desafios teóricos e práticas pedagógicas após
a Lei nº 10.639. Rio de Janeiro, 2011. 
D’ADESKY, J. Antirracismo, liberdade e reconhecimento. Rio de Janeiro:
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GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista
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GONZALEZ, L.; HASENBALG, C. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Marco
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LIMA, M. Fazendo soar os tambores: o ensino de história da África e dos
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MUNANGA, K. Rediscutindo a

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