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TÓPICO 4 O ESTADO E A IGREJA NA IDADE MÉDIA - História Medieval

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AS ORIGENS DA IDADE MÉDIA
UNIDADE 1
O ESTADO E A IGREJA NA IDADE MÉDIA
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
O período compreendido entre os séculos V e X, aproximadamente, costuma ser
denominado pelos historiadores de Alta Idade Média. Foi um período marcado
pela criação de reinos que, em um lento processo, promoveriam a integração
entre as culturas tão diferentes dos romanos e dos germânicos, por meio da
religião cristã. Esses reinos, no entanto, não tinham a unidade e a estabilidade que
havia tido o Império Romano, de modo que, por volta do ano 1000, a ordem
política da Europa era claramente fragmentada.
A única instituição que se manteve unida, nesse momento de fragmentação, foi a
Igreja. De fato, a única noção de unidade que havia entre os homens medievais era
a Cristandade. Neste tópico vamos estudar esse duplo processo de desagregação
política e a unidade religiosa.
SUGESTÃO DE LEITURA
Prezado(a) acadêmico(a), uma boa obra de referência para aprofundar seus
conhecimentos acerca dos temas abordados neste tópico é:  LE GOFF,
Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2005.
2 OS REINOS BÁRBAROS
Unidade 1 - Tópico 4 
Como vimos no tópico anterior, a presença dos bárbaros completou o processo de
desagregação do Império Romano do Ocidente. Até o século V, diversos povos
haviam invadido o Império, e começaram a criar domínios relativamente
independentes (inicialmente na condição de foederati), que se tornariam os
chamados reinos germânicos.
Quem eram os POVOS BÁRBAROS?
Constituíam os povos de origem germânica que habitavam as regiões ao
norte, ao nordeste da Europa e noroeste da Ásia, na época do Império
Romano. Os romanos se utilizavam da expressão "bárbaros" para designar
todos aqueles que residiam nas regiões situadas além das fronteiras do
Império Romano, e em especial que não falavam o latim, a língua o�cial do
Império.
Os reinos germânicos enfrentaram grandes di�culdades e dependiam da
cooperação entre romanos e germânicos. Sem tradição de governos centralizados,
os bárbaros con�avam muito mais na autoridade pessoal do líder e na sua
capacidade de manter as tribos unidas do que nos preceitos do Direito Romano. A
assimilação era di�cultada pelas leis romanas, que não permitiam a realização de
casamentos entre romanos e estrangeiros. Sendo assim, em muitas regiões levou
mais de um século para que um processo de miscigenação realmente pudesse se
iniciar.
Outro problema enfrentado pela maioria dos reinos bárbaros era religioso: no
processo de migração, os bárbaros haviam sido, em sua maioria, cristianizados
pela corrente ariana do Cristianismo. Para os católicos romanos, o arianismo era
uma heresia, e os povos germânicos que a adotavam eram vistos, muitas vezes,
como inimigos.
S
Arianismo é o nome que se dá a uma dissidência – ou heresia, na
terminologia usada pelo Catolicismo romano – do Cristianismo que surgiu no
início do século IV. A controvérsia gerada pelo arianismo será estudada em
breve.
Unidade 1 - Tópico 4 
Anglo-Saxões: anglos, saxões, jutos, frísios e outros povos instalaram-se na
foz do rio Reno. Alguns grupos migraram para a ilha da Grã-Bretanha no
século V, dominaram as populações celtas originais e criaram reinos que
durariam até a invasão dos normandos (vikings) em 1066.
Burgúndios: fundaram um reino no início do século V, destruído pelos hunos.
Em 443, criam novo reino que seria destruído pelos francos cerca de um
século depois.
Francos: criaram o mais poderoso e mais importante reino bárbaro, que será
estudado em detalhes a seguir.
Ostrogodos: o maior dos reis ostrogodos, Teodorico, foi educado em
Constantinopla e criou na Itália o primeiro reino que reuniu paci�camente
romanos e germânicos. Com a sua morte, o reino começou a decair e em 553
foi conquistado pelo Império Bizantino.
Suevos: em 410, estabeleceram um reino na Galícia (norte de Portugal e costa
atlântica da Espanha), destruído em 585 pelos visigodos.
Vândalos: após invadirem a Península Ibérica entre 407 e 409, foram
expulsos de lá pelos romanos e visigodos. Invadiram a África do Norte em
FIGURA 7 - OS REINOS BÁRBAROS
FONTE: Disponível em: <http://www.igm.mat.br/homepage/joao_afonso/J.A/�guras_inhumas/reinos%20
barbaros.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2013.
Os principais povos germânicos a estabelecer reinos foram:
Unidade 1 - Tópico 4 
http://www.igm.mat.br/homepage/joao_afonso/J.A/figuras_inhumas/reinos%20barbaros.jpg
http://www.igm.mat.br/homepage/joao_afonso/J.A/figuras_inhumas/reinos%20barbaros.jpg
429, onde fundaram um reino poderoso. (Santo Agostinho morreu durante
essa invasão em Hipona, a segunda maior cidade do novo reino). De lá, em
455, comandaram uma expedição que saqueou Roma. A violência do saque
deu ao termo vândalo o sentido de arruaceiro e violento.
Visigodos: estabelecidos na Península Ibérica a partir de 418, seu reino
duraria até a conquista dos muçulmanos, no século VII. Após a invasão,
muitos atravessaram os Pirineus e se tornaram colaboradores dos francos.
A imagem que se tem dos povos bárbaros como incapazes de criar um reino
organizado, por não conhecerem as tradições e as leis romanas, não é
correta. Observe-se, por exemplo, o caso de Teodorico, rei ostrogodo. Essa
imagem é preconceituosa porque parte da ideia de que os germânicos eram
ignorantes e incapazes de elaborar governos so�sticados, coisa que só os
civilizados romanos teriam condições de fazer.
3 O REINO FRANCO
No entanto, de todos os povos bárbaros, o que teve mais sucesso em criar e
consolidar um reino foram os francos. As razões para isso têm a ver, entre outros
fatores, com a conversão dos francos ao cristianismo católico, que facilitou a sua
aceitação pelas populações galo-romanas.
Os francos eram uma confederação de tribos, nem todas etnicamente
aparentadas, que viviam nos limites do Império Romano pelo menos desde o
século III. No �nal do século V, Clóvis, o primeiro rei franco, adotou o cristianismo
católico e tornou os francos aliados naturais da Igreja de Roma. Clóvis ampliou os
domínios francos e, após sua morte, os domínios foram divididos em dois reinos,
Nêustria e Austrásia. O costume franco de dividir o reino entre todos os herdeiros
enfraqueceu aos poucos os reinos e permitiu o fortalecimento político dos
prefeitos do palácio (ou mordomos, do latim major domus).
De meros administradores do palácio, com o tempo passaram a cobrar os
impostos, administrar o exército e nomear os condes e duques; eram inclusive os
tutores dos herdeiros do trono. O cargo terminou por se tornar hereditário. Os reis
merovíngios dessa época, sem poder, �caram conhecidos como os reis indolentes.
Em 732, o prefeito do palácio Carlos Martel derrotou os muçulmanos que, após
destruírem o reino visigodo e ocuparem quase toda a Península Ibérica,
Unidade 1 - Tópico 4 
avançaram sobre os francos. A vitória em Poitiers deu a Martel um enorme
prestígio, que lhe permitiu centralizar o poder sobre todos os reinos francos. Seu
�lho, Pepino, o Breve, venceu os lombardos e doou terras à Igreja, que viriam a se
tornar os Estados Pontifícios. Em 751, ele destronou Childerico III, o último rei
merovíngio, e criou a nova dinastia Carolíngia.
Com a morte de Pepino, o Breve, seu �lho Carlos assumiu o trono. Seu reinado foi
caracterizado por uma grande ampliação nos domínios francos (ver mapa a seguir)
e por uma valorização da cultura. Carlos Magno, como �cou conhecido, consolidou
a aliança entre os francos e a Igreja e, como um prêmio à sua lealdade e às suas
conquistas e forma de garantir a predominância do papado sobre o governante
mais poderoso do Ocidente na época, o Papa Leão III coroou-o “imperador
romano” no Natal de 800.
FIGURA 8 – O REINO FRANCO DE CLÓVIS A CARLOS MAGNO
FONTE: Disponível em: <http://fr.wikipedia.org/wiki/Image:Frankish_empire.jpg>. Acesso em: 20 fev.
2013.
A coroação foi controversa, porque o papa ignorou a existência do Império
Bizantino, formalmente  era  o legítimo continuador do Império Romano. Noentanto, o papa alegou que o trono bizantino encontrava-se vago (pois era
ocupado por uma mulher), para consolidar seu poder no Ocidente.
Unidade 1 - Tópico 4 
http://fr.wikipedia.org/wiki/Image:Frankish_empire.jpg
É claro que a explicação para a atitude do papa vai muito além do “machismo” e da
“prepotência ocidental”. A coroação de Carlos Magno que atendia a um duplo
propósito: o desejo dos governantes francos de expandir seu poder e a intenção
dos papas de consolidar sua versão de religiosidade cristã como hegemônica.
E os adversários eram os mesmos: internamente, os povos bárbaros com seus
reinos rivais e seu cristianismo ariano, e externamente, muçulmanos. Depois, os
próprios bizantinos, com seu desejo de expandir seus domínios e suas
divergências político-religiosas com Roma. A coroação de Carlos Magno consolidou
uma vinculação muito próxima entre a autoridade papal e o poder no Ocidente e
separou irreversivelmente os domínios e os rituais religiosos de cristãos católicos e
ortodoxos.
3.1 O REINADO DE CARLOS MAGNO
Para melhor administrar seu reinado, Carlos Magno dividiu-o em condados e, nas
fronteiras, as marcas, que delegou a nobres de sua con�ança (os condes e
marqueses, respectivamente), com amplos poderes em suas regiões. O rei tentou
criar um sistema imperial organizado, com uma reforma monetária e funcionários
que �scalizavam a atuação dos nobres, os missi dominici.
No entanto, essa estrutura não conseguiu centralizar o poder em suas mãos: aos
poucos, os vínculos de doação e vassalagem se tornaram mais importantes do que
a lealdade ao rei e o poder na Europa Ocidental tornou-se cada vez mais
fragmentado.
FIGURA 9 - MAPA: REINO FRANCO EM 814, MOSTRANDO SUAS DIVISÕES
TRADICIONAIS E AS CIDADES QUE SERVIAM DE PARADA AO REI
Unidade 1 - Tópico 4 
FONTE: Disponível em: <http://www.moneymuseum.com/imgs/ximages/image/
2010/8/I_EN_63655_8.jpg>. Acesso em: 20 out. 2012.
3.1.1 O Renascimento Carolíngio
Durante os reinados de Carlos Magno e de seu �lho, Luís, o Piedoso, surgiu um
movimento de renascimento cultural e intelectual que �cou conhecido como
Renascimento Carolíngio. Carlos Magno trouxe estudiosos (em sua maioria
religiosos) para sua corte em Aachen (Aix-la-Chapelle, em francês) e copiou muitos
manuscritos antigos usando a recém-criada caligra�a carolíngia. Quase toda a
herança greco-romana que era conhecida durante a Idade Média se deve a essa
iniciativa. Os livros ganharam um cuidado especial, com encadernações
riquíssimas e muito elaboradas.
Carlos Magno, ele próprio analfabeto até a idade adulta, entendeu bem a
importância da educação. Seus estudiosos, comandados por Alcuíno de York,
instituíram os currículos do trivium (gramática, lógica e retórica) e do quadrivium
(aritmética, geometria, música e astronomia) e criaram obras literárias originais em
latim medieval.
FIGURA 10 – MANUSCRITO DO SÉCULO X. EXEMPLO DA CALIGRAFIA
CAROLÍNGIA
Unidade 1 - Tópico 4 
http://www.moneymuseum.com/imgs/ximages/image/%202010/8/I_EN_63655_8.jpg
http://www.moneymuseum.com/imgs/ximages/image/%202010/8/I_EN_63655_8.jpg
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/7/72/CarolingianMinuscule.jpeg>.
Acesso em: 14 fev. 2013.
3.1.2 A divisão do Império
Após a morte de Luís, o Piedoso, em 840, seus �lhos lutaram para organizar a
sucessão. Pelo Tratado de Verdun (843), a parte ocidental �cou com Carlos, o
Calvo; a oriental com Luís, o Germânico; e a região central com Lotário. Após a
morte de Lotário, em 855, as lutas entre seus herdeiros fragmentaram todo o
Império, garantindo ainda mais poder para a nobreza rural. No leste, o reino de
Luís deu origem ao Reino da Alemanha, mais tarde o Sacro Império Romano-
Germânico.
FIGURA 11 – DIVISÃO DO IMPÉRIO CAROLÍNGIO APÓS OS TRATADOS DE
VERDUN (843) E MEERSEN (870)
Unidade 1 - Tópico 4 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/7/72/CarolingianMinuscule.jpeg
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/843-870_Europe.jpg>.
Acesso em: 15 fev. 2013.
O Sacro Império Romano-Germânico surgiu como uma tentativa de manter a
vinculação entre o poder temporal (do rei) e o poder da Igreja. Apesar do
nome, era politicamente fragmentado, aproximando-se muito mais de uma
confederação de domínios feudais do que de um reino. O governante
recebia o título de imperador romano, e o posto não era hereditário: o
imperador era eleito pelos principais nobres. O império sobreviveu ao �m da
Idade Média e foi desfeito apenas em 1806, durante as conquistas
napoleônicas.
3.2 NOVOS INVASORES
No �nal do século IX, nova onda de invasões aterrorizou a Europa. Do Oriente
vieram os magiares, que se �xariam mais tarde na Hungria. Do norte, os temíveis
vikings (ou normandos, os “homens do norte”) atingiram toda a região da
Inglaterra e França até serem cristianizados e se assentarem na região conhecida
Unidade 1 - Tópico 4 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/843-870_Europe.jpg
como Normandia (na França). Sua presença, como piratas ou comerciantes,
estendeu-se por toda a região do Báltico, Mar Mediterrâneo e mesmo o Oriente
Médio: os vikings estabeleceram contatos comerciais com os muçulmanos e estão
ligados à formação da Rússia de Kiev e da Liga Hanseática.
4 A IGREJA NA ALTA IDADE MÉDIA
O Cristianismo surgiu na Palestina, no início do Império Romano, e aos poucos
começou a se tornar uma força signi�cativa dentro da sociedade romana. As ideias
de salvação da alma, igualdade entre os homens e caridade tinham muita
repercussão entre as camadas mais pobres da sociedade, especialmente entre os
escravos. As perseguições feitas pelos imperadores romanos, pela recusa dos
cristãos a venerarem os deuses imperiais, aumentavam a simpatia ao movimento
que, no século IV, já era majoritário entre a população do Império.
Em vista disso, o Imperador Constantino proibiu as perseguições aos cristãos e,
mais tarde, converteu-se ele próprio à religião. A conversão de Constantino pode
ou não ter sido uma jogada política, mas o fato é que ele conseguiu, dessa forma,
manter um controle sobre a religião, associando-a aos interesses do Estado
romano. Em meados do século VIII, essa relação seria invocada e invertida, e a
coroação de Carlos Magno simbolizava o domínio da Igreja sobre a Monarquia.
4.1  SANTO AGOSTINHO
Uma das �guras mais importantes para o desenvolvimento da Cristandade
medieval foi Santo Agostinho de Hipona (354-430), que elaborou grande parte dos
fundamentos religiosos do Cristianismo. Para elaborar sua teologia, Agostinho
baseou-se, principalmente, na �loso�a de Platão e dos neoplatônicos, adaptando-
as às preocupações religiosas.
FIGURA 12 - REPRESENTAÇÃO TRADICIONAL DE SANTO AGOSTINHO DE
HIPONA
Unidade 1 - Tópico 4 
FONTE: Disponível em: <http://lifeondoverbeach.�les.wordpress.com/2011/06/augustine-of-hippo.jpg>.
Acesso em: 23  out.  2012.
Essa “cristianização de Platão” pode ser entendida como um símbolo da
adaptação que �zeram os homens da Antiguidade Tardia e da Alta Idade
Média do pensamento clássico, embora há quem veja nisso um sinal
inequívoco de decadência. A Leitura Complementar, no �nal deste tópico,
ajudará você a re�etir melhor sobre o assunto.
4.2 O ARIANISMO
A Igreja, criada como uma analogia do Império, tinha uma estrutura rígida, que se
fundou cada vez mais  na primazia do bispo de Roma, considerado o sucessor de
São Pedro (desde Leão I, em meados do século V), sobre os demais. Isso signi�cava
a necessidade de se manter uma única autoridade suprema na Terra, assim como
havia uma única divindade no Céu.
Unidade 1 - Tópico 4 
http://lifeondoverbeach.files.wordpress.com/2011/06/augustine-of-hippo.jpgv
Isso levou a Igreja a se defrontar com algumas questões bastante delicadas, não só
pela necessidade de explicá-las de um ponto de vista teológico, como pelas
implicações políticas que elas traziam. Na época, não havia a separação, nem
política nem �losó�ca, entre religião e poder, e as ameaças à doutrinaeram
também ameaças ao poder do papa. Era necessário combater as dissidências – em
grego, heresias – a �m de preservar a unidade da religião.
Não estamos querendo dizer, com isso, que a motivação para combater as
heresias fosse simplesmente política, ou  seja, que os papas estivessem
preocupados apenas em manter o seu poder diante das ameaças. Entender
o combate às heresias apenas do ponto de vista político é tão incorreto
quanto entendê-lo apenas do ponto de vista teológico. Como dissemos, não
havia uma separação clara entre as duas categorias.
Uma das heresias mais importantes da Idade Média foi o já mencionado
arianismo, nome dado em razão de seu fundador, Ário de Alexandria (c. 250–336).
O ponto mais controverso da teologia de Ário era a sua ideia de que Jesus Cristo
tinha sido criado por Deus, não igual a Ele. Da mesma forma, o Espírito Santo seria
uma criação de Deus, e estaria subordinado a Cristo, como Cristo a Deus. Em
outras palavras, o arianismo negava a ideia da Santíssima Trindade, o que era
potencialmente destrutivo para a Igreja Católica.
Para tentar solucionar a controvérsia gerada pelo arianismo, o Imperador
Constantino convocou o primeiro Concílio Ecumênico da história do Cristianismo,
em Niceia (325), na atual Turquia. O resultado do Concílio foi avassalador: dos 250
a 318 bispos que se estima que compareceram (de acordo com as várias
contagens), apenas dois apoiaram Ário. O Concílio estabeleceu o chamado Credo
Nicênico, que rea�rmava toda a doutrina católica e que, com modi�cações, é
recitado até hoje, em praticamente todas as denominações religiosas do
Cristianismo.
Caro(a) acadêmico(a), veja a seguir uma tradução do conteúdo original do Credo
Nicênico (em itálico, os trechos que hoje não fazem parte do Credo regular, mas
que eram, como se verá, os pontos centrais):
Creio em um Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as
coisas visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus,
gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro
Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de uma só substância com o Pai; pelo
Unidade 1 - Tópico 4 
qual todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e por nossa salvação,
desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria, e foi feito
homem; e foi cruci�cado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos. Ele padeceu e foi
sepultado; e no terceiro dia ressuscitou conforme as Escrituras; e subiu ao céu e
assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para julgar os vivos e os
mortos, e seu reino não terá �m. E no Espírito Santo, Senhor e Vivi�cador, que
procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e
glori�cado, que falou através dos profetas. Creio na Igreja una, universal e
apostólica, reconheço um só batismo para remissão dos pecados; e aguardo a
ressurreição dos mortos e da vida do mundo vindouro.
FONTE: Extraído de ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p.
179-80. 
4.3 OS BÁRBAROS E A IGREJA
O rei, entre os bárbaros, tinha um papel sagrado: visto como de origem divina, era
o chefe dos ofícios religiosos, muito mais do que um simples líder militar. Por isso,
a conversão dos povos bárbaros era uma tarefa relativamente simples: bastava
converter o líder, e o seu povo se converteria com ele. Isso tornava o trabalho dos
missionários mais fácil, em um primeiro momento, mas exigia um longo trabalho
de catequização para que a nova tradição religiosa fosse assimilada
adequadamente, sem alterações ou deturpações.
O arianismo teve um papel especialmente importante na Idade Média, porque a
maioria dos povos bárbaros que entravam no Império foi cristianizada sob essa
forma. Quando os reinos germânicos foram formados, no século V, alguns de seus
criadores eram arianos havia mais de um século. Os romanos, no entanto, eram
majoritariamente trinitários (católicos), e isso gerou sérias di�culdades de
adaptação com os recém-chegados.
4.4 A REGRA DE SÃO BENTO
Como dissemos, o trabalho de cristianização dos povos germânicos não se
resumia à conversão do rei. Após esse processo, que era antes uma formalidade,
era preciso ensinar a religião a todo o povo, o que levou décadas ou até mesmo
séculos, em alguns casos.
A conversão dos povos germânicos implicava, mais do que o ensinamento de
preceitos religiosos, a introdução de uma cultura completamente diferente, que
terminou por ser mesclada às culturas locais, criando-se uma forma híbrida de
cultura e de práticas religiosas, que passou a ser o modo de vida medieval.
FIGURA 13 - SÃO BENTO DE NÚRCIA, AUTOR DA REGRA QUE ORGANIZAVA A
VIDA DOS MOSTEIROS MEDIEVAIS. A PINTURA É DE FRA ANGÉLICO
Unidade 1 - Tópico 4 
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Fra_Angelico_03
1.jpg/220px-Fra_Angelico_031.jpg>. Acesso em: 23 out. 2012.
Para essa tarefa, foi muito importante a constituição de um clero regular, ou seja,
submetido a regras, a uma rígida disciplina. Em 534, São Bento de Núrcia (480-547)
elaborou a sua Regra, baseando-se em algumas já existentes, mas com muito mais
clareza e simplicidade.
Hilário Franco Júnior (2004, p. 70) faz a seguinte re�exão sobre a Regra:
Por ela, a vida do monge beneditino transcorre em função do preceito do ora et labora.
Oração e trabalho num duplo sentido, numa dupla forma de alcançar Deus: rezar é
combater as forças malé�cas, contribuindo para a salvação não apenas da alma do
próprio monge, mas também de toda a sociedade; trabalhar é afastar a alma de seus
inimigos, a ociosidade e o tédio, é alcançar por meio dessa forma de ascese uma fonte
de alegria. Tanto quanto o trabalho manual, o intelectual, a leitura de textos sagrados,
prepara a alma para a oração. En�m, orar é uma forma de trabalhar, trabalhar é uma
forma de orar.
VOCÊ SABIA?
Unidade 1 - Tópico 4 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Fra_Angelico_031.jpg/220px-Fra_Angelico_031.jpg
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/73/Fra_Angelico_031.jpg/220px-Fra_Angelico_031.jpg
Quando o Papa Bento XVI explicou, dias após a sua eleição, em 2006, a razão
para escolher seu nome, mencionou o trabalho importantíssimo de São
Bento na evangelização da Europa.
Os centros monásticos constituídos dessa forma passaram a ser, então, os locais
onde os monges pudessem conviver com os pagãos (ou com os arianos) e trazer
auxílio e soluções para os seus problemas quotidianos. Assim, os religiosos
ganhavam reputação entre os bárbaros e, de quebra, promoviam a fusão das
culturas de uma forma mais intensa e duradoura.
Os monges que atuavam nessa verdadeira frente de batalha foram muito mais do
que simples transmissores de uma mensagem religiosa, verdadeiros agentes de
transformação cultural. Buscavam completá-la com uma atuação direta e
constante nas comunidades, de modo a demonstrar a superioridade do modo de
vida cristão sobre as antigas práticas pagãs.
Perceba que esses monges serviram como o elo de ligação entre essas duas
culturas tão diferentes, o que explica, em parte, o caráter central que a
religião teve durante a Idade Média.
Caro(a) acadêmico(a), apresentamos um trecho de William C. Bark sobre Santo
Agostinho e a difícil tarefa de adaptar a cultura clássica às necessidades medievais.
LEITURA COMPLEMENTAR
A vida intelectual do novo mundo na Idade Média teve um molde inteiramente
diverso da antiguidade clássica — principalmente helênica. Um dos pontos cruciais
da história do pensamento foi o momento em que os gregos não só começaram a
adquirir conhecimento, como ocorrera até então, mas a especular sobre ele, a unir
a ciência e a �loso�a. O legado dessa união não se exauriu nunca, embora os
romanos não o pudessem apreciar devidamente e embora desde o início da Idade
Média os europeus ocidentais o tivessem por vezes utilizado de uma forma que
sem dúvida pareceria estranha aosque originalmente recolheram aquela fortuna.
No Último Império, o fogo grego ardeu muito obscuramente. A ciência perdeu a
vitalidade e a velha união com a �loso�a se dissolveu. Houve novas necessidades a
serem satisfeitas: para os intelectuais, a recordação das glórias da Academia não
Unidade 1 - Tópico 4 
tinha mais utilidade do que para os fazendeiros desapropriados de Salviano a
lembrança da grandeza do nome romano e da liberdade de seus ancestrais.
A �loso�a contraiu nova aliança, dessa vez com a teologia. A partir de então,
durante alguns séculos, a vida intelectual se processaria sob a orientação da Igreja.
O conhecimento do passado foi em parte mantido e transformado, em parte
virtualmente ignorado.
Os líderes cristãos, acima de todos Santo Agostinho, lutaram com energia e êxito
para reorganizar os padrões do pensamento e adaptar o conhecimento clássico e
as realizações intelectuais que se conservaram aos novos objetivos da vida
humana. Uma vida na qual a salvação se havia tornado a principal �nalidade do
homem educado.
Santo Agostinho tem, merecidamente, um lugar de destaque. De todas as tarefas
impostas ao intelecto humano, talvez a mais difícil seja a de perceber, em período
de enormes modi�cações fundamentais, o que está morto e destituído de sentido,
e então conceber, aperfeiçoar e propagar valores mais adequados à nova era.
A maioria dos homens, em todas as épocas, e muito mais em épocas de agitação
do que nas de estabilidade, se apega �rme e cegamente àquilo que lhe é familiar e
aceito, evitando o frio desconforto do reajustamento mental e espiritual. Ao
reconhecer o que estava morto, ou agonizante, e ao dar sentido ao que estava vivo
e nascia, Santo Agostinho teve poucos pares. As Con�ssões e a Cidade de Deus
bastam para nos mostrar como lhe era poderosa a atração do passado. Sua
superioridade está no reconhecimento de que, para a sua geração e para as
gerações futuras, nas condições de vida que deviam imperar, as vozes de Platão e
do resto eram apenas ecos de um túmulo. Não repudiou a inspiração de Platão,
utilizou-a. Mas escolheu apenas aquilo que considerava de valor, adaptou-o às
novas condições e fez dele parte da estrutura intelectual que teria sido
incompreensível à Academia.
É cabível indagar da história se há alguma razão válida para supor que o gênio
humano chamejou com menos brilho quando os homens, por boas razões
pessoais e da época, transferiram o pensamento especulativo da ciência-�loso�a
para a teologia-�loso�a. Presumivelmente, os homens do Último Império e do
princípio da Idade Média nasceram com a mesma capacidade de pensar, inquirir e
evoluir intelectualmente que os homens de qualquer outra época. A questão,
então, não é se tinham capacidade, mas se podiam ou desejavam usá-la, e como a
usavam. Devemos fazer aqui uma distinção entre a atitude de �ns do período
clássico e início do medieval, tal como mencionada na discussão das opiniões de
Pirenne sobre a decadência da cultura clássica.
É perceptível, antes do século IV, um declínio não universal, mas generalizado, da
qualidade das obras intelectuais e literárias pertencentes à tradição clássica. Essa
Unidade 1 - Tópico 4 
tradição perdera muita vitalidade e seus adeptos já não pareciam convictos de que
os assuntos de que tratavam tivessem muito sentido.
Os pensadores e autores da tradição patrística, ao contrário, estavam imbuídos de
uma completa fé na força daquilo que para eles era vital -, e  sobre isso
escreveram com energia e segurança, na apologética, na exegese, na homilética,
em obras sobre a organização eclesiástica, sobre ascetismo e hagiogra�a, sobre
controvérsias doutrinárias.
Nossa época supõe geralmente que essa produção, particularmente na última
forma, representa uma perda de tempo. Tal não é, porém, a opinião daqueles que
conhecem tais obras bem e reconhecem o lugar que lhes cabe no
desenvolvimento dos processos de pensamento do homem ocidental. Muitas das
controvérsias versaram assuntos fúteis e áridos, muitas foram inspiradas por
motivos econômicos e políticos, ou por interesses pessoais, e seu estilo se reveste
mais de paixões do que de inteligência.
Não obstante, é certo que as polêmicas teológicas frequentemente se ocuparam
de assuntos de imorredouro interesse para a humanidade, que frequentemente
eram cheias de sinceridade e brilhantismo e que deram um estímulo grande ao
desenvolvimento de um método de pensamento que é agudo, inquisitivo e lógico.
Sua contribuição para a formação, nos séculos posteriores, da �loso�a escolástica
— um dos pontos altos na evolução do pensamento ocidental — é bastante bem
conhecida para ser descrita aqui.
Devemos, portanto, ser extremamente cautelosos no julgamento das realizações
intelectuais da Idade Patrística, em comparação com as da antiguidade clássica.
Devemos reconhecer as divergências dos antigos padrões, a simpli�cação e
mesmo o abandono de certas áreas do conhecimento.
Formular, porém, uma condenação geral da vida intelectual da época como
decadente, retrogressiva e obscura é simplesmente abrir caminho para a
deformação da realidade histórica e tornar sua compreensão impossível. Não há
como negar que certos males como pobreza, instabilidade e violência se tornaram
piores após a época de São Jerônimo e Santo Agostinho, antes que melhorassem, e
que os empreendimentos intelectuais sofreram, como todas as outras
manifestações vitais.
O essencial é que pelo século IV uma nova atitude intelectual para com o mundo já
se �rmara, e que essa atitude não era necessariamente superior ou inferior à da
antiguidade clássica, mas simplesmente diferente, e que as circunstâncias e
natureza de seu desenvolvimento eram da maior importância. É de duvidar que
qualquer atitude mental e espiritual menos consistente, agressiva e menos
convencida de sua missão pudesse ter preparado as tempestades que iam
envolver a Europa ocidental nos séculos futuros.
Unidade 1 - Tópico 4 
RESUMO DO TÓPICO
Os reinos bárbaros que se formaram com o �m do Império Romano do
Ocidente tiveram grandes di�culdades por causa do choque cultural com os
romanos, das tradições políticas germânicas e dos con�itos religiosos.
O reino bárbaro mais poderoso foi o dos francos, que conseguiu o apoio da
Igreja e consolidou o seu domínio sobre grande parte do Ocidente.
O maior dos reis francos, Carlos Magno, promoveu um movimento de
recuperação cultural chamado Renascimento Carolíngio.
A Igreja medieval, preocupada em fortalecer seu poder e a�rmar-se como a
única via de salvação, teve que enfrentar diversas heresias; a mais
importante delas foi o arianismo, que questionava a divindade de Jesus
Cristo.
Os grandes responsáveis pela evangelização da Europa foram os monges,
especialmente os beneditinos. Nesse processo, eles ajudaram a desenvolver
uma cultura totalmente nova, fundindo os elementos cristãos, romanos e
germânicos.
AUTOATIVIDADES
FONTE: Bark (1979, p. 102-105)
Neste tópico você viu que:
UNIDADE 1 - TÓPICO 4
1 Quais as razões da forte aliança celebrada entre a Igreja e os reis francos?
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2 Discorra sobre o papel da Igreja na organização da sociedade medieval.
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Unidade 1 - Tópico 4 

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