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1 REVISÃO 2a. Fase – FUVEST – 2019 Disciplina: Literatura Prof. Binh Texto para a próxima questão: O amor elide a face... Ele murmura algo que foge, e é brisa e fala impura. O amor não nos explica. E nada basta, nada é de natureza assim tão casta que não macule ou perca sua essência ao contacto furioso da existência. Nem existir é mais que um exercício de pesquisar de vida um vago indício, a provar a nós mesmos que, vivendo, estamos para doer, estamos doendo. Mas, na dourada praça do Rosário, foi-se, no som, a sombra. O columbário já cinza se concentra, pó de tumbas, já se permite azul, risco de pombas. ANDRADE, Carlos Drummond de. "Claro enigma". In:_____Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. 1. a) Pode-se considerar que as estrofes do poema “Relógio do Rosário” manifestam uma visão pessimista da existência? Justifique sua resposta. b) O poema de Drummond explora as características formais que consagraram a poesia do Modernismo de 1922? Justifique sua resposta. 3. (Fuvest 2018) Leia o texto e responda ao que se pede. – É por isso que faço confiança nos angolanos. São uns confusionistas, mas todos esquecem as makas* e os rancores para salvar um companheiro em perigo. É esse o mérito do Movimento, ter conseguido o milagre de começar a transformar os homens. Mais uma geração e o angolano será um homem novo. O que é preciso é ação. Pepetela, Mayombe. *“makas”: questões, conflitos. a) A fala de Comandante Sem Medo alude a uma questão central do romance Mayombe: um objetivo político a ser conquistado por meio do Movimento. Qual é esse objetivo? b) As “makas” e os “rancores” dos angolanos repercutem no modo como o romance é narrado? Explique. 4. (Fuvest 2018) Leia o texto e atenda ao que se pede. A MÁQUINA DO MUNDO E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas 2 lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado, a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.* (...) Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. *carpir-se: lamentar-se. a) O ponto de vista do eu lírico em relação à “máquina do mundo” ilustra as principais características de Claro enigma? Justifique. b) Transcreva o verso que sintetiza o evento sublime de que trata o texto. 5. (Fuvest 2017) Leia o excerto de Mayombe, de Pepetela, no qual as personagens “dirigente” e Comandante Sem Medo discutem o comportamento do combatente chamado Mundo Novo. As indicações [d] e [C] identificam, respectivamente, as falas iniciais do “dirigente” e do Comandante Sem Medo, que se alternam, no diálogo. [d] (...) A propósito do Mundo Novo: a que chamas tu ser dogmático? [C] – Ser dogmático? Sabes tão bem como eu. – Depende, as palavras são relativas. Sem Medo sorriu. – Tens razão, as palavras são relativas. Ele é demasiado rígido na sua conceção da disciplina, não vê as condições existentes, quer aplicar o esquema tal qual o aprendeu. A isso eu chamo dogmático, penso que é a verdadeira aceção da palavra. A sua verdade é absoluta e toda feita, recusa-se a pô-la em dúvida, mesmo que fosse para a discutir e a reforçar em seguida, com os dados da prática. Como os católicos que recusam pôr em dúvida a existência de Deus, porque isso poderia perturbá-los. – E tu, Sem Medo? As tuas ideias não são absolutas? – Todo o homem tende para isso, sobretudo se teve uma educação religiosa. Muitas vezes tenho de fazer um esforço para evitar de engolir como verdade universal qualquer constatação particular. a) Que relação se estabelece, no excerto, entre a forma dialogal e as ideias expressas pelo Comandante Sem Medo? b) No plano da narração de Mayombe, isto é, no seu modo de organizar e distribuir o discurso narrativo, emprega-se algum recurso para evitar que o próprio romance, considerado no seu conjunto, recaia no dogmatismo criticado no excerto? Explique resumidamente. 6. (Fuvest 2017) Considere o excerto em que Araripe Júnior, crítico associado ao Naturalismo, refere-se ao “estilo” praticado “nesta terra”, isto é, no Brasil. O estilo, nesta terra, é como o sumo da pinha, que, quando viça, lasca, deforma-se, e, pelas fendas irregulares, poreja o mel dulcíssimo, que as aves vêm beijar; ou como o ácido do ananás do Amazonas, que desespera de sabor, deixando a língua a verter sangue, picada e dolorida. a) O modo pelo qual o crítico explica a feição que o “estilo” assume “nesta terra” indica que ele compartilha com o Naturalismo um postulado fundamental. Qual é esse postulado? Explique resumidamente. b) As características de estilo sugeridas pelo crítico, no excerto, aplicam-se ao romance O cortiço, de Aluísio Azevedo? Justifique sucintamente sua resposta. 8. (Unicamp 2000) Em A RELÍQUIA, de Eça de Queirós, várias são as mulheres com quem Teodorico Raposo, o herói e narrador, se vê envolvido. Dentre elas, podemos citar Mary, Adélia, Titi, Jesuína, Cibele. 3 a) Uma dessas personagens é importantíssima para a trama do romance, já que acompanha o narrador desde a infância, e deve-se a ela a origem de todos os seus infortúnios posteriores. Quem é e o que fez ela para que o plano de Raposo não desse certo? b) A qual delas Raposo se refere quando diz "Tinha trinta e dois anos e era zarolha"? Que relações tem essa personagem com Crispim, a quem o narrador denomina "a firma"? 9. (Unicamp 1999) O trecho que segue relata um diálogo entre o narrador-personagem de A relíquia e o Doutor Margaride, e contém referências básicas para o desenvolvimento do romance: Eu arrisquei outra palavra tímida. – A titi, é verdade, tem-me amizade... – A titi tem-lhe amizade – atalhou com a boca cheia o magistrado – e você é o seu único parente... Mas a questão é outra, Teodorico. É que você tem um rival. – Rebento-o! – gritei eu, irresistivelmente, com os olhos em chamas, esmurrando o mármore da mesa. O moço triste, lá ao fundo, ergueu a face de cima do seu capilé. E o Dr. Margaride reprovou com severidade a minha violência. – Essa expressão é imprópria de um cavalheiro, e de um moço comedido. Em geral não se rebenta ninguém... E além disso o seu rival não é outro, Teodorico, senão Jesus Cristo! Nosso Senhor Jesus Cristo? E só compreendi quando o esclarecido jurisconsulto, já mais calmo, me revelou que a titi, ainda no último ano da minha formatura, tencionava deixar a sua fortuna, terras e prédios, a irmandades da sua simpatia e a padres da sua devoção. a) Localize no trecho ao menos uma dessas referências e explique qual a sua relevância para a trama central. b) O trecho fala da importância da figura de Jesus Cristo para a personagem denominada "titi". Descreva essa personagem, segundo o prisma do próprio narrador, Teodorico Raposo, e tente demonstrar como o mesmo trata sarcasticamente o seu "rival" de herança. 10. (Unicamp 1998) Em A RELÍQUIA, de Eça de Queirós, encontramos a seguinte resposta de Lino, comprador habitual das relíquias de Raposo: "Está o mercado abarrotado, já não há maneira de vender nem um cueirinho do Menino Jesus, uma relíquia que se vendia tão bem! O seu negócio com as ferraduras é perfeitamente indecente... Perfeitamente indecente! É o que me dizia noutro dia um capelão, primo meu: 'São ferraduras demais para um país tão pequeno!...' Catorze ferraduras, senhor! É abusar! Sabe vossa Senhoria quantos pregos, dos que pregaram Cristo na Cruz, Vossa Senhoria tem impingido, todos com documentos? Setenta e cinco, Senhor!... Não lhe digo mais nada... Setenta e cinco!" a) Relate o episódio que faz com que Lino dê essa resposta a Raposo. b) Sabendo que o autor usa da ironia para suas críticas, dê os sentidos, literal e irônico, que pode tomar dentro da narrativa a frase: "São ferraduras demais para um país tão pequeno!..." 11. (Unicamp 2009) Conversa de Bois, de GuimarãesRosa, narra acontecimentos de uma viagem no carro de bois, em que estão o carreador Agenor Soronho, Tiãozinho e o corpo de seu pai morto. O trecho a seguir reproduz um dos diálogos entre os bois: — Que é que está fazendo o carro? — O carro vem andando, sempre atrás de nós. — Onde está o homem-do-pau-comprido? — O homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na- ponta está trepado no chifre do carro... — E o bezerro-de-homem-que-caminha-sempre-na-frente-dos-bois? — O bezerro-de-homem-que-caminha-adiante vai caminhando devagar... Ele está babando água dos 4 olhos... (Conversa de Bois, em João Guimarães Rosa, Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, p. 317.) a) Explique o sentido das expressões "bezerro-de-homem" e "babando água dos olhos". Relacione-as com o enredo. b) Explique a expressão "homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta". Que característica do carreador Agenor Soronho ela busca evidenciar? Leia os textos. I – Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com baba – assim como os cachorros, as pedras, as árvores, somos pessoas soltas, com beiradas, começo e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar nelas, crescer, mudar de forma e de jeito… O homem tem partes mágicas… São as mãos… Eu sei… (João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana.) Um boi vê os homens Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente falta lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dirseia não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade. (...) (Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma.) 10. (FUVEST 2019) a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique essa afirmação com base em cada um dos textos. b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de uma mesma figura de linguagem. Explicite essa figura e justifique sua resposta 9. (Unicamp 2016) “(...) E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura. Tanto assim, que, na despedida, insistiu: – Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a 5 sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.” (João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, em Sagarana. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 380.) “(...) Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de seu rosto subia um sério contentamento. Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrando, sumido: – Põe a bênção na minha filha..., seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo em ordem! Depois morreu.” (Idem, p. 413.) a) O segundo excerto, de certo modo, confirma os ditos do padre apresentados no primeiro. Contudo, “a hora e a vez” do protagonista não são asseguradas, segundo a narrativa, pela reza e pelo trabalho. O que lhe garantiu ter “a sua hora e a sua vez”? b) “A hora e a vez” de Nhô Augusto relacionam-se aos encontros que ele tem com outro personagem, Joãozinho Bem-Bem, em dois momentos da narrativa. Em cada um desses momentos, Nhô Augusto precisa realizar uma escolha. Indique quais são essas escolhas que importam para o processo de transformação do personagem protagonista. Texto para a próxima questão: Todos tiveram muita raiva quando o Floriano o prendeu. Meu pai diz que espera que ele ainda vá ser eleito Presidente do Estado e depois da República. O que eu acho mais engraçado no dia da eleição é o partido que todos tomam e ninguém perdoa o que vota contra nesse dia. É tanta animação na cidade que parece coisa que nos interessa. Acabada a eleição ninguém mais se lembra. Seu Cadete fica tão influente que dá roupa e botinas aos negros para irem votar. Os negros da Chácara, que sabem ler, que são Marciano, Roldão e Nestor, já desde cedo estavam de roupa limpa para a eleição. Vovó lhes recomendou: “Vocês não escutem conversa de ninguém nem aceitem papel nenhum que queiram dar. Fiquem perto de Joãozinho e na hora de votar façam o que ele mandar. Eles saíam muito anchos. Eu gosto de ver a animação da cidade, mas não acredito que isso possa adiantar para nós. 12. a) Qual é o efeito de sentido da recomendação de dona Teodora? Justifique. b) O que se pode depreender da opinião de Helena a respeito da eleição? Justifique a resposta com passagem do texto. Texto para a próxima questão: 6 Texto I: 18 de Agosto de 1895 Parece até um sonho eu ter ficado livre da escola de tia Madge só em dois dias. Graças a Deus a promessa que fiz serviu. Tia Madge concordou em me substituir sem ficar zangada comigo, diz meu pai. Como a chuva não quer passar, vou aproveitar para escrever aqui a tragédia tim-tim por tim-tim, para não me esquecer do que sofri e não ter mais nunca a tentação de ser mestra de escola. Nunca mais na minha vida! [...] — Mestra, olha o que Joaquim ‘tá fazendo! ‘tá me fincando arfinete!’ — Não, ele é bonzinho. Não é história dele, Joaquim? Você não é capaz disso. — É sim, mestra! Ele é muito ruim! A senhora é que não sabe. Volto aos cadernos. — Mestra, olha Joãozinho me pinicando aqui! Outro: — Mestra, Chico enganou a senhora; a lição dele é outra. — Mestra, Elvira mentiu; ela ‘tá mais adiante!’ 7. a) A obra Minha vida de menina, de Helena Morley, retrata a vida de uma adolescente dos 13 aos 15 anos que vida na cidade de Diamantina, entre os anos de 1893 e 1895. Dentre as inovações presentes está a escolha do gênero diário, releia o trecho acima e indique algumas características da escrita que comprovem tratar-se deste gênero. b) Publicado no ano de 1942, muitos anos depois de ter sido escrito, Minha vida de menina, de Helena Morley, antecipou marcas modernistas como o uso de uma “gramática brasileira”. Releia o trecho acima e identifique esta e outras características modernistas presentes na obra.