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Hospitalidade e turismo Introdução O termo hospitalidade tem sido usado, tanto no meio acadêmico como no mercado de trabalho, para descrever o conjunto de atividades do setor de serviços associado à oferta de alimentos, bebidas e acomodação. A oferta e a administração dos serviços de hospitalidade são mais bem enfocadas quando apoia- das por um entendimento amplo da hospitalidade e de sua relação com o turismo. O objetivo desta aula é apresentar o assunto hospitalidade, mostrando um breve histórico e suas características principais. Histórico A hospedagem, ou seja, o ato de hospedar, de acolher o outro, agregá-lo a uma sociedade que difere de suas origens surgiu na sociedade muito antes do surgimento do fenômeno do turismo. Desde a Antiguidade, a hospitalidade era entendida como sendo a hospedagem gratuita que era oferecida aos viajantes. Hoje em dia, devido a novas condições da sociedade, tais como o capita- lismo, o desenvolvimento da sociedade industrial, o desenvolvimento da tecnologia etc., a definição de hospitalidade foi se alterando. O que antes era uma forma espontânea e gratuita de acolhimento, hoje essa atividade vem se tornando uma atividade econômica, que vai além dos limites de hotéis e de restaurantes. A hospitalidade tem suas raízes no provimento aos viajantes, por meio do atendimento das ne- cessidades básicas de alimentos, bebidas, abrigo e repouso. Desse modo, os serviços e produtos no cenário da hospitalidade variavam de lugar para lugar ao longo do tempo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 32 | Hospitalidade e turismo Segundo Walton (2004), há evidências de que havia locais especializados que ofereciam repouso e acomodação nos tempos romanos, e esses locais reaparecem no século XVIII. Os serviços ofereciam be- bidas alcoólicas ou somente acomodação. Nesse período, iniciou-se a regulamentação dos negócios. No final do século XII, em Londres, muitos estabelecimentos comerciais – hospedarias que ofe- reciam estábulos, e tabernas que vendiam vinho e cerveja – emergiram em virtude das diferentes ne- cessidades dos mercadores e de outros tipos de viajantes. A partir do século XVI, com o aumento da população e com a expansão do comércio interno, o aumento do interesse do governo na manutenção da ordem e da produtividade do trabalho, e a pre- ocupação religiosa de ordenar a moralidade do comportamento público, o negócio da hospitalidade tornou-se cada vez mais importante. As modalidades mais antigas da hospitalidade foram declinando, dando espaço às viagens por prazer, ao interesse e à busca de saúde física. No final do século XVI, na Inglaterra, a hospitalidade assume caráter de “casa aberta” para pa- rentes e passantes. Persistiu durante um tempo, mas foi considerado um fato em desuso para a época, segundo alguns estudiosos sobre o assunto. Segundo Walton (2004, p. 83), “em 1577, um censo da atividade do comércio de bebidas na Ingla- terra e no País de Gales revelou a existência de 24 mil estabelecimentos, além de mais de 2 000 hospe- darias e 400 tabernas. A proporção era de um local licenciado para cada 30 casas”. O número e o tamanho das hospedarias passa a aumentar significativamente, trazendo prosperida- de e oportunidades de colocação no mercado de trabalho para as profissões liberais (WALTON, 2004). Tais hospedarias ofereciam acomodações de estábulos, bem como para hóspedes e seus criados; também possuíam instalações de grande porte para refeições. Em meados do século XVII, houve o crescimento de cafés sofisticados, que se difundiram por várias províncias inglesas, em consequência do crescimento e do desenvolvimento da sociedade urbana. No final do século XVIII e início do XIX, houve um crescimento urbano e esses estabelecimentos de prestação de serviços começaram a prosperar e aumentar em quantidade. Como se pôde observar, à medida que houve crescimento da população e, consequentemente, da economia, houve também o crescimento e o desenvolvimento da hospitalidade. Além disso, perce- be-se que a hospitalidade não consiste apenas em receber outra pessoa. O ato de hospedar (e de ser hospitaleiro) é muito mais complexo que simplesmente receber o visitante, ou seja, consiste na aproxi- mação entre culturas, costumes e pessoas diferentes. Trata-se de uma relação de troca de valores entre o visitado e o visitante. Os domínios da hospitalidade Segundo Lashley (2004), a hospitalidade pode ter os seguintes domínios: social, privado ou co- mercial. No domínio social, as atividades de hospitalidade sugerem um estudo do contexto social, :::: onde elas ocorrem mais especificamente. No passado, havia a presença de forasteiros junta- mente com a inclusão de hóspedes-amigos, formando um sistema de clientela, que permanece Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 33|Hospitalidade e turismo até hoje. A hospitalidade desempenhava papel importante na sociedade e a redistribuição de alimentos e bebidas ajudava a construir a coesão social. No domínio privado, o cenário doméstico prevalece. A recepção de hóspedes em ambien-:::: tes domésticos proporciona a oportunidade de situar o indivíduo e a família no contexto da “civilidade”. Nas sociedades pré-industriais, a recepção e o tratamento cordial em relação aos forasteiros eram comuns e valorizados. O vínculo entre o espaço doméstico e as atividades relacionadas com a hospitalidade é bem claro tanto na origem histórica dos meios de hospe- dagem (hospedarias, hotéis, albergues, alojamentos etc.), de restauração e entretenimento (restaurantes e bares), quanto na prática atual da hospitalidade. No domínio comercial, a hospitalidade ocorre de modo a não ocupar uma posição central no :::: sistema de valores. As características do relacionamento com o estabelecimento comercial permitem ao cliente uma postura, que não seria aceita num ambiente doméstico de hospi- talidade. O anonimato e a falta de hospitalidade dos meios de hospedagem comerciais são características bastante atraentes para o cliente, visto que para ele não haverá nenhuma outra obrigação, além daquela exigida pelo relacionamento comercial, ou seja, pagar a conta. É claro que existe a preocupação de proporcionar ao cliente um ambiente agradável, com característi- cas semelhantes à hospitalidade doméstica, oferecendo serviços de qualidade. Porém, no caso da hospitalidade comercial, tanto o provedor do serviço de hospitalidade quanto o receptor desse serviço apresentam um reduzido senso de reciprocidade e obrigação mútua. Ao mesmo tempo, muitos provedores de serviços de hospitalidade comercial desejam estabelecer uma base sólida de clientes cativos, ou seja, obter a lealdade desse cliente. Por fim, as organizações prestadoras de serviços de turismo e de hospitalidade não podem mudar as características sociais da hospitalidade, nem tampouco personalizar a prestação do serviço, como no domínio privado. Resta a essas organizações criar condições para o estabelecimento de uma comunida- de de clientes mais leais, se considerarem esses aspectos. As formas de hospitalidade Segundo Camargo in Denker (2003), há várias formas de hospitalidade. Destacam-se a hospedagem doméstica, a hospedagem pública e a hospedagem comercial. A seguir, essas formas serão detalhadas. Hospitalidade doméstica A hospitalidade doméstica tem por objetivo receber pessoas na própria residência, de forma in- tencional ou casual. Faz parte dessa recepção a oferta desinteressada da hospedagem, de alimentos e bebidas, e até de entretenimento ao visitante, ou seja, esse tipo de hospitalidade está relacionado prin- cipalmente a aspectos como o aconchego e a intimidade, com as pessoas que nos são íntimas. Com relação à hospedagem, esse tipo de hospitalidade busca oferecer abrigo para as pessoas na própria casa. Além disso, também se recebem as pessoas para oferecer refeições e banquetes (aspectos relacionados à alimentação), e parafestas, comemorações e recepções (aspectos relacionados ao entre- tenimento). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 34 | Hospitalidade e turismo Hospitalidade pública Quando se trata da recepção das pessoas, a hospitalidade pública o faz em espaços públicos cujo acesso é livre para todas as pessoas. A hospedagem geralmente é proporcionada pela cidade, pelo estado ou pelo país, dependendo do visitante. Quando se trata da alimentação, a gastronomia local (bares, restaurantes, lanchonetes etc.) atende aos visitantes. E o entretenimento acontece por meio de eventos públicos, que podem ser eventos de lazer, comemorativos etc. Hospitalidade comercial A hospedagem comercial é semelhante à hospitalidade doméstica no que se refere à oferta de serviços relativos a comida, bebida e acomodação. Tanto a hospitalidade comercial quanto a doméstica começa com a intenção de oferecer o mes- mo tipo de experiência, usando técnicas similares e tecnologia potencialmente semelhante. Desse modo, algumas diferenças podem ser destacadas, fazendo-se uma comparação entre ambas: enquanto a hospitalidade doméstica é movida pela oferta, a hospitalidade comercial é movida :::: pela demanda; a hospitalidade doméstica é ocasional, a hospitalidade comercial é ininterrupta; :::: a hospitalidade social acontece em pequena escala, a hospitalidade comercial em grande es-:::: cala; a hospitalidade doméstica é autoadministrada, a hospitalidade comercial é administrada por :::: terceiros; na hospitalidade doméstica as instalações não são inauguradas;:::: na hospitalidade comercial, as instalações são inauguradas;:::: na hospitalidade comercial a atividade é de economia de escala; na hospitalidade doméstica, :::: há a experiência social e não se visa ao lucro; já a hospitalidade comercial preocupa-se com a experiência de serviço e visa à sustentabilida-:::: de financeira. Quando se trata da recepção das pessoas, a hospitalidade pública o faz por meio de serviços pro- fissionais de recepção (também chamado de receptivo turístico). A hospedagem geralmente acontece em hotéis, pousadas, hospedarias, alojamentos, spas, colônias de férias etc. Além disso, esse tipo de hospedagem também pode acontecer em hospitais, casas de repouso e até em presídios. Quando se trata da alimentação, bares, restaurantes, lanchonetes etc. atendem aos visitantes. O entretenimento acontece por meio de eventos privados, que podem ser shows, espetáculos, apresentações, festas etc. A hospedagem comercial pode ser dependente ou independente. Nos empreendimentos de hospitalidade independente, o estabelecimento não faz parte de uma rede (ou cadeia), e geralmente a administração é familiar. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 35|Hospitalidade e turismo Nos empreendimentos de hospitalidade dependente, o estabelecimento faz parte de uma rede (ou cadeia), da administração profissional. Conclusão Retornando aos objetivos, foram apresentados o conceito, um breve histórico e as formas de hos- pitalidade. Percebeu-se que a hospitalidade é mais que uma prestação de serviço, consumo de alimentos e bebidas ou acomodação em um hotel ou restaurante. A hospitalidade, em qualquer domínio que esteja, proporciona um relacionamento de convivência, amizade e respeito entre aquele que recebe e aquele que é recebido. Os estudos das áreas de turismo e hospitalidade também têm a finalidade de desenvolver, prin- cipalmente no que se refere à hospitalidade comercial, as práticas para a geração de receitas e desen- volvimento regional. Texto complementar O tempo da hospitalidade ou... sobre a necessidade de dar tempo ao tempo (BAPTISTA, 2007) Desafiada por mais de uma vez a escrever umas linhas para a Página, chego de novo à data limi- te sem o texto prometido. Não sei bem porquê [sic], mas por mais que corra o tempo nunca me che- ga. Foi, pois, sobre esta aflitiva falta de tempo que resolvi escrever. Mais do que a aproximação das férias, mais do que a antecipação do gozo dessas horas de liberdade em que, finalmente, vamos ter tempo, interessa-me reflectir sobre o sentido, ou ausência dele, desta corrida diária contra o tempo. Vivemos na era tecnológica, a internet permite-nos o acesso quase instantâneo à informação mais longínqua e de dia para dia tudo parece ficar mais perto e mais fácil. Dispomos de aparelhos ultrassofisticados, deslocamo-nos com maior velocidade e até temos televisão em movimento. Continuamos, apesar disso, cheios de pressa e ficamos furiosos quando alguém nos dei- xa pendurado, à espera. As horas mortas enchem-nos de pânico, por isso recorremos a peque- nos truques para entreter o tempo. Porque o tempo entretido custa menos a passar... E quan- do o vazio dessas horas se torna insuportável, podemos sempre adormecê-las, ou afogá-las. Há também horas felizes. Foi numa delas que, a propósito de uma comemoração de vinte anos de curso, reencontrei há dias alguns dos rapazes e das raparigas do meu tempo. Porque na verdade o tempo a que chamamos nosso é o tempo da juventude, o tempo do sonho e da generosidade. O tempo em que acreditamos nas infinitas possibilidades dos amanhãs ainda distantes. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 36 | Hospitalidade e turismo Estes encontros revivalistas são cada vez mais comuns, e ainda bem. Nostalgia relativamente ao que fomos ou ao que nunca chegamos a ser? Falta-nos tempo para nos pormos em questão, para nos interrogarmos. E sem interrogação não há abertura ao infinito ilimitado do tempo. Como subli- nha Emmanuel Levinas, as recordações, à procura do tempo perdido, proporcionam sonhos, mas não devolvem as ocasiões perdidas. A verdadeira temporalidade, aquela em que o definitivo não é definitivo, supõe a possibilidade, não de recuperar tudo o que se teria podido ser, mas de deixar de lamentar as ocasiões perdidas perante o infinito ilimitado do tempo. Não se trata de comprazer-se num qualquer romantismo dos possíveis, mas de escapar à esmagadora responsabilidade da exis- tência que se transforma em destino, de voltar atrás na aventura da existência para ser no infinito. Inspirando-se na experiência biológica, mas indo para além dela, este filósofo recorre à noção de fecundidade para descrever a relação do homem com a temporalidade. Na paternidade vive-se a espantosa experiência de relação com outra vida, com outra história, simultaneamente nossa e ra- dicalmente outra. O que define o modo de ser humano no mundo prende-se com essa capacidade de relação com o que nos transcende e nos impele a ir sempre mais além. A verdade do tempo não cabe nos relógios nem nos calendários. Não é redutível à linearidade de instantes equivalentes entre si e totalmente mensuráveis. O essencial do tempo reside na possibilidade de ruptura e de recomeço que a ideia de fecundidade representa. Só que esta abertura à juventude do tempo exige, por parte consciência, paciência e hospi- talidade. Paciência porque é preciso darmo-nos tempo para amarmos a vida com tudo o que ela oferece em termos de fruição. É preciso tempo para preguiçar ao Sol, para apreciar a boa comida, para gozar um bom livro, para ter a conversa em dia e para saborear, no infinito de cada instante, a ternura dos pequenos gestos. É preciso tempo para partir à descoberta da cidade e enamorarmo- -nos dela com a emoção de um primeiro encontro. Eu que vivo há mais de duas décadas nesta cida- de, e que julgo amá-la profundamente, fui noutro dia confrontada com a minha ignorância quando pretendia exibir a cidade a uns amigos de fora. Hospitalidade porque é preciso que a consciência se abra para deixar entrar, para deixar-se ensinar permanentemente. É preciso que a consciência se disponha a acolher a interpelação do tempo, arriscando o seu sossego e a sua comodidade. Sacrificando a segurança dos dias repetidos mas vivendo, em contrapartida,a relação com o diferente como desejo, descoberta, e reinvenção de si. Não é esse afinal o sentido de toda aventura educativa? Ligada à paciência e à hospitalidade, assim definidas, a necessidade de dar tempo ao tempo não significa quietude mas inquietude. No acolhimento da interpelação do tempo está em causa a ruptura com a rotina e com o egoísmo, dimensões que nos envelhecem e empobrecem a vida. Uma interpelação por vezes terrivelmente incômoda que nos é dirigida por rostos marcados pela dor, pela fome e pela violência. Rostos sem brilho de gente demasiado ferida na sua alma, na sua carne, na sua humanidade. Daí que a hospitalidade, enquanto experiência de abertura e de acolhimento, constitua o primeiro movimento em direcção ao compromisso. Um movimento que permite passar do eu sou, celebrado desde sempre pela tradição ocidental, para o eis-me aqui próprio da respon- sabilidade, como salienta Levinas em toda a sua obra. A responsabilidade é sem dúvida uma palavra-chave nos tempos que vivemos. Tempos incer- tos, feitos de privação, de sofrimento e de indiferença. Tempos que nos obrigam a pensar e a agir pa ra lá da esfera das nossas necessidades e dos nossos interesses. Feitos também de esperança e de coragem. É preciso, pois, que as consciências se deixem afectar profundamente pelo espírito Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 37|Hospitalidade e turismo do tempo. Com paciência, hospitalidade e responsabilidade. Com capacidade de desprendimento em relação às formas mais sedentárias da existência, de desprendimento em relação aos peque- nos afazeres que atravancam os nossos dias e estreitam os nossos horizontes. A juventude realiza- -se como amor à vida e como atenção ao mundo e aos outros. Realiza-se na vontade de fazer a diferença, recusando chamar horas mortas a essas horas em que não nos resta mais do que olhar, escutar, ver e sentir. E se tivermos de correr que seja a favor do tempo. Porque a vida é curta e o tempo não perdoa. Atividades 1. Observe o mercado do turismo e da hospitalidade em sua cidade (ou região), e identifique os principais estabelecimentos de hospitalidade comercial. 2. Entre os hotéis identificados, quais são os hotéis dependentes e os hotéis independentes? Gabarito 1. Hotéis, colônias de férias, pousadas, bares, restaurantes, casas de espetáculos, cinemas, teatros, spas, casas de repouso, hospitais etc. 2. Os hotéis dependentes trazem a bandeira de uma rede hoteleira nacional ou internacional. Os hotéis independentes não estão ligados às redes hoteleiras, apresentam uma única unidade e geralmente têm administração familiar. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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