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TEMA 1-Corporeidade e Motricidade

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DESCRIÇÃO
A corporeidade e seus conceitos fundamentais e a sua relação com a motricidade humana e a
Educação Física.
PROPÓSITO
Compreender o conceito de corporeidade, sua relação com a motricidade segundo as teorias e
fenomenologia de Merleau Ponty. Discutir o olhar da motricidade humana e sua influência para a
Educação Física sob a perspectiva de Manoel Sérgio.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha à mão um dicionário etimológico para entender termos
específicos da área. Sugerimos o dicionário online gratuito Priberam.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever conceitos gerais de corporeidade e suas características
MÓDULO 2
Identificar as diferenças entre a corporeidade e a motricidade humana a partir dos conceitos de cada
uma
MÓDULO 3
Relacionar aspectos da corporeidade e da motricidade humana que contribuem para a formação e
intervenção do profissional de Educação Física
INTRODUÇÃO
Neste tema, vamos conhecer os conceitos que definem o termo corporeidade e identificar as
semelhanças e diferenças do que chamamos motricidade. A Educação Física sempre entendeu
como a corporeidade poderia contribuir para a formação e atuação do profissional da área?
Falaremos sobre isso e veremos as contribuições importantes para os nossos estudos, entendendo
como os aspectos socioculturais e suas interações interferem no contexto em que atua o profissional
de Educação Física.
Sabemos que as práticas motoras e corporais, os jogos e as brincadeiras, além das atividades
físicas, fazem parte da vida de milhares de pessoas e devemos prestar atenção ao diálogo que o
corpo tem com o mundo. Isso mesmo! Nosso corpo se expressa e nos mostra emoção e sensação,
mesmo quando não dizemos nada.
Esse olhar mais amplo, considerando movimento e emoção, é o resultado de muita história e
estudos. Aprenderemos como os estudos sobre a motricidade humana avançaram e contribuíram
para a aplicabilidade de vários conceitos nesse campo de trabalho.
Não podemos esquecer, porém, que visões diferentes contribuem para uma perspectiva melhor,
mais ajustada e mais humana. Por isso, também veremos diversas perspectivas acerca da
corporeidade e da motricidade humana, que, certamente, contribuirão para que possamos ampliar
as nossas. Vamos lá!
MÓDULO 1
 Descrever conceitos gerais de corporeidade e suas características
CORPOREIDADE E SUAS CARACTERÍSTICAS
Antes de iniciarmos os nossos estudos sobre a corporeidade, vamos refletir um pouco sobre como
esse conceito pode ser definido e interpretado. Para algumas pessoas, a corporeidade está
relacionada apenas a questões biológicas do ser humano, mas, na realidade, está muito além dessa
dimensão.
Corporeidade é a maneira pela qual o homem se expressa no mundo, ou seja, como interage com
as coisas e com as pessoas. A corporeidade tem como foco principal o ser humano, estando
relacionada, portanto, com a cultura, as ideologias, a religião, a política, enfim, com características,
individuais ou coletivas, do sujeito. Assim como observamos as semelhanças e as diferenças entre
os povos e as civilizações.
A corporeidade naturalmente faz parte do homem, não sendo apenas um aspecto biológico, mas
também de caráter social que se expressa por meio de códigos e valores de cada ser humano.
Assim, valorizar esse conceito como uma linguagem e a sua expressão e interpretação é importante
para o processo pedagógico em qualquer área da educação, o que agrega valor e qualidade às
aprendizagens unindo a esse processo as vivências corporais. Essas vivências estão presentes e
fazem parte da expressão individual de cada pessoa. É de extrema relevância o conhecimento
desses conceitos para a Educação Física, tendo em vista que, por meio de brincadeiras, danças e
jogos, movimentos e relações interpessoais, exercitamos a troca de conhecimento e ampliamos
nossas experiências.
Fonte: Shutterstock.com
A Educação Física e a corporeidade estão em sintonia à medida que consideramos as
particularidades e a corporeidade dentro do sujeito, caminhando lado a lado com uma educação
corporal, que favorece o processo de autonomia por meio de aprendizagem que tenha relação
com a realidade. Cada indivíduo expressa, por meio de seu corpo, a história de sua vida,
acumulada dentro de um contexto social e marcada por valores, normas, ideias e
sensações.
Podemos nos remeter ao que dizia Foucault (1987, p. 124) em seu estudo Vigiar e Punir, que, nos
espaços de trabalho dos operários das fábricas, havia o “quadriculamento”, ou seja, espaços
delimitados e corredores onde era possível que fossem vigiados em tempo integral e
individualmente. Foucault demonstra o poder sobre o corpo visto como subsidiário à mente, à
inteligência e que influencia toda uma sociedade até os dias de hoje.
Essa reflexão nos lembra de que, durante muitos séculos, punições e torturas fizeram parte do
contexto do corpo. No entanto, as punições para o corpo não se resumem a castigos, mesmo sendo
um corpo físico, e sim a toda e qualquer forma de controle e de detenção. Existe um poder contra o
corpo que está inserido na sociedade, mesmo que de várias formas este “poder” seja mascarado ou
oculto. A corporeidade irá, de maneira antropológica, exprimir o comportamento que se
busca e que se tenta de forma ideal promover em uma conduta, modelando o indivíduo para
que seja “passivo e conformado”.
Fonte: Shutterstock.com
Observamos isso nas reproduções ideológicas que temos hoje na maioria das escolas, onde seus
alunos passam por horas “acorrentados” às suas carteiras, sendo privados da interação com
colegas. Há uma privação de vivências e experiências com o espaço, com a natureza, fazendo de
conta que existe uma igualdade entre as pessoas. Mantém-se, assim, a “docilidade” entre esses
corpos e uma separação “coerente” apenas de acordo com a faixa etária. Enquanto o aluno
permanece sentado, ele não pode fazer quase nada. Manter o seu corpo controlado dá a impressão
de que todos são iguais e essa igualdade, de certo modo, reforça a relação de poder de um corpo
sobre o outro.
Fonte: Shutterstock.com
Esse controle também é refletido nos cuidados da estética. A cultura corporal pede isso. É uma
inversão do processo anterior, pois agora há uma necessidade ser visto pelo próprio corpo. A fim de
se enquadrar na cultura corporal, as pessoas se submetem a tratamentos estéticos, dietas e
academias, por exemplo.
Esse comportamento de se fazer visto pelo corpo pode ser observado também em atos que
buscam transgredir essa igualdade “imposta” aos homens, ressaltando no cotidiano as diferenças
que, durante anos, eram rejeitadas. Contudo, nem todas as diferenças são aceitas pela sociedade,
algumas características ainda permanecem imutáveis. Ainda assim, os sujeitos passaram a
manifestar seus desejos, e algumas instituições começam a perceber uma necessidade de
mudança. O “diferente” começa a ser respeitado.
Fonte: Shutterstock.com
A corporeidade, portanto, interliga emoções e pensamentos que passam na mente de um
indivíduo ao seu diálogo corporal com o mundo. Implica uma inserção em um mundo significativo a
partir de uma relação dialética do corpo com ele mesmo, com o corpo do outro e com os objetos
ao seu redor. Assim, nossas marcas sociais e históricas estão inseridas e podem ser lidas em nosso
corpo, porque isso faz parte das questões culturais, sociais e de gênero de cada um.
 RESUMINDO
A corporeidade, então, é a maneira como o indivíduo interage e se comunica consigo mesmo, com
os outros e com o mundo por meio dos movimentos e das experiências motoras que permitem sua
expressão de forma intencional, mas sendo necessariamente um diálogo constante com o mundo
exterior. A corporeidade é então uma forma de estar no mundo, de existir e não simplesmente
passar por ele.
CORPOREIDADE E PERCEPÇÃO
A Educação Física tem o corpo como objeto de estudo. Para que possamos avançar nos estudos da
corporeidade, da motricidade e da relação entre esses conceitos, é necessário que observemoso
corpo com a construção e os olhares de outras áreas do conhecimento. O corpo como objeto de
estudo ultrapassa áreas da Fisiologia, Antropologia, Psicologia; por isso, não podemos considerá-lo
apenas em uma perspectiva orgânica. Para dar embasamento teórico às nossas construções feitas
neste tema, iremos nos pautar nos fundamentos da Fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty
(1908-1961), tendo em vista que seu entendimento do corpo tem uma perspectiva muito importante
para o desenvolvimento da Educação Física.
Merleau Ponty foi um filósofo francês que olhava o ser humano de uma forma subjetiva e
contextualizada com a realidade de cada um. Para ele (1994), quando um organismo era incitado
por um determinado grupo de estímulos e experimentava variadas sensações, era necessário olhar
para este corpo e considerá-lo como um todo. Isso significa dizer que, quando algo se apresentava
diante de uma pessoa, também era apresentado à sua “consciência”. Esse algo é observado e
percebido de acordo com sua forma, sua totalidade e, a partir daí, segue em direção à consciência
perceptiva.
Fonte: Shutterstock.com
Após a percepção, esse algo observado já estará na consciência e isso passa a ser um fenômeno.
Para ele, o homem está presente no mundo do corpo e do espírito, e será o centro da discussão
sobre o conhecimento do ser humano. Esse foco no ser humano nos levará à busca da compreensão
do que é essencial. Chamamos de Fenomenologia o estudo que define a essência da consciência,
da percepção, dos problemas. Ela dá sentido à existência. Segundo Merleau-Ponty (1994), o corpo
e o mundo formam um sistema, tornando a compreensão do homem e do mundo a partir de sua
facticidade.
Facticidade é a qualidade do que é “factual”, ou seja, dos fatos, daquilo a que estamos submetidos
no nosso dia a dia, em nossa vida, nas nossas dificuldades e facilidades do cotidiano, nas relações
com os outros. É tudo aquilo que somos obrigados a passar, superar, que compõe nossa vida e
nossas circunstâncias.
A consciência não é transparente a si mesma, mas influenciada e marcada por experiências e fatos
vividos no mundo. Essas vivências são possíveis apenas a partir do corpo e da sua relação com o
outro. A capacidade humana de se colocar no lugar do outro, os hábitos corporais, o espaço que
esse corpo ocupa no mundo, ao qual o esquema corporal vai além do organismo para se impregnar
na motricidade, na linguagem e na historicidade, marca o que chamamos de atitude
fenomenológica.
Fonte: Shutterstock.com
Para Merleau-Ponty (1994), não estamos diante do nosso próprio corpo, mas estamos em nosso
corpo ou, antes, cada um é “o seu próprio corpo”, ou seja, rompe-se com a ideia de “objeto de
estudo” e passamos a compreender o corpo na esfera da existência em nossa condição humana de
sermos corpos vivos. Vamos evidenciar os conceitos de corpo e motricidade de acordo com as
perspectivas de Merleau-Ponty. Isso é importante a fim de observar quais as implicações dessas
percepções para a Educação Física.
FENOMENOLOGIA
Vejamos o que é a Fenomenologia, a sua origem enquanto movimento filosófico e seu conceito
essencial para a compreensão do próprio corpo e da motricidade. De acordo com Dartigues (2008,
p. 9), a “Fenomenologia é o estudo ou a ciência do fenômeno.” A consciência humana pode
transcender como existência, como essa consciência irá conduzir e reconduzir o fenômeno psíquico,
compreendendo, assim, que o “corpo” não é um objeto, e sim uma forma de existência, de
compreensão e de escolhas, para que cada um em sua essência e individualidade compreenda o
mundo ao redor.
Mas, afinal, o que é Fenomenologia?
Segundo Merleau-Ponty (2011), é uma filosofia que repõe tudo o que é essencial à nossa existência,
ou seja, a Fenomenologia permite que o homem se compreenda e compreenda o mundo a
partir dos fatos, de seus problemas. Isso só será possível por meio da percepção.
A percepção é uma interpretação daquilo que sentimos, ou seja, a partir das nossas sensações,
captadas através dos nossos sentidos, nossa mente e nossa consciência geram uma interpretação,
chamada de percepção. Nessa percepção, teremos a essência da consciência, por exemplo. Assim,
a Fenomenologia é uma filosofia que transcende a compreensão e as afirmações daquilo que,
naturalmente, poderíamos chamar de atitude natural. É uma filosofia para qual o mundo já está
sempre ali, antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço consiste em
reencontrar esse contato ingênuo com o mundo para dar-lhe, enfim, um estatuto filosófico
(MERLEAU-PONTY, 2011, p. 1).
Entenderemos a Fenomenologia de Merleau-Ponty como uma possibilidade de perceber o corpo
como a manifestação de sua existência, de estar vivo. Por meio do corpo, o ser humano se relaciona
diretamente com os outros e com o mundo. Assim, o movimento será compreendido como uma
linguagem sensível, que por si só é intencional. Logo, o indivíduo se movimenta quando deseja.
O movimento será comunicação sensível e intencional que implica habitar o mundo, o espaço, o
tempo, a fala, a expressão, sendo compreendido como uma linguagem.
As sensações não são apenas um dado físico, mas a forma como qualquer pessoa se afeta
emocionalmente e afetivamente nos mais variados contextos em que vivem.
A partir da experiência sensível, o indivíduo dará um sentido que poderá conhecer o mundo.

Os “fenômenos” são simplesmente fatos, acontecimentos que podemos observar. Sendo assim,
além dos fenômenos, as situações e as relações terão um sentido para cada pessoa de acordo com
o modo que se sentirão afetadas e trarão um sentido afetivo. Não haverá então uma sensação física
isolada, mas, sim, uma interpretação ligada à emoção.
A emoção existe a partir de uma situação que vivemos. Quando consideramos seus aspectos
fisiológicos, abrimos espaço para o sentir e a compreensão dos afetos e das emoções, que
justamente fazem com que nós possamos existir com as nossas características, nosso
temperamento e nossas emoções.

Merleau-Ponty ampliará a compreensão de corpo a partir de fatos fisiológicos, psíquicos e
existenciais, apresentando a noção do esquema corporal e a relação com a noção de espaço e
movimento. Para ele, as relações ordinárias do espaço não podem transpor o contorno que o próprio
corpo faz, ou seja, as atitudes que tomamos, a nossa postura e o nosso tônus serão a expressão
daquilo que estamos vivendo corporalmente. A partir daí, seremos capazes de dar um significado à
proprioceptividade e interoceptividade por meio dos conteúdos cinestésicos e articulares. Ou
seja, com o olhar da Educação Física, entendemos a disponibilidade corporal do outro a partir de
sua postura, seu movimento e sua receptividade, portanto de suas emoções expressas por meio do
movimento.
PROPRIOCEPTIVIDADE
Palavra derivada de propriocepção que é a capacidade que o próprio corpo tem de avaliar em
que posição se encontra a fim de manter o perfeito equilíbrio parado, em movimento ou ao
realizar esforços.
INTEROCEPTIVIDADE
A interocepção corresponde aos próprios processos neuropsíquicos, como desejos,
sentimentos, emoções e sensações. Não se pode descartar que a interocepção tenha uma
dimensão consciente e/ou inconsciente.
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Fonte: Shutterstock.com
RELAÇÃO ENTRE A PERCEPÇÃO E AS
AÇÕES
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A EDUCAÇÃO DO CORPO É A EDUCAÇÃO ESTÉTICA NO HOMEM PELA
VISÃO E PELA EMOÇÃO. A PARTIR DESSA CONCEPÇÃO, ENTENDE-SE A
CORPOREIDADE MUITO ALÉM DO CONTROLE MOTOR. ASSINALE A
ALTERNATIVA ABAIXO QUE DEFINE CORRETAMENTE O CONCEITO DE
CORPOREIDADE:
A) Corporeidade é a maneira como o mundo integra as percepções e interocepções se
comunicando com os outros por meio dos movimentos, da linguagem e das experiências motoras.
B) Corporeidade é a sensação captada pelos sentidos e interpretada pelo indivíduo. Integra os fatos
do presente e do futuro e não tem relação com a intencionalidade, sendo algo inconsciente e
imprevisível.
C) Corporeidadeé a maneira como o indivíduo interage e se comunica de forma intencional consigo
mesmo, com os outros e com o mundo por meio dos movimentos e das experiências motoras.
D) Corporeidade é a forma intencional de se usar os movimentos e as experiências motoras para
melhorar a capacidade motora e as habilidades cognitivas.
E) Corporeidade é a maneira como a criança interage e se comunica de forma acidental consigo
mesma e com os outros, não tendo contato com o mundo por meio dos movimentos e das
experiências motoras.
2. DE ACORDO COM A FENOMENOLOGIA DESCRITA POR MERLEAU-PONTY,
O “CORPO” NÃO É UM OBJETO, MAS, SIM, UMA FORMA DE EXISTÊNCIA
ESSENCIAL QUE PERMITE AO HOMEM A COMPREENSÃO DO MUNDO. ISSO
SÓ É POSSÍVEL PORQUE:
A) A Fenomenologia permite que o homem amplie suas dúvidas e entenda o mundo a partir de sua
propriocepção, suas análises e sua capacidade de viver sozinho.
B) A Fenomenologia é um estudo que dificulta a compreensão de si mesmo e do mundo a partir dos
fatos vividos, de seus problemas, suas emoções, seus sentidos e a interpretação do que observa no
mundo.
C) A Fenomenologia impede que o homem compreenda a si mesmo e ao mundo, pois sua
percepção sobre fatos, seus problemas, suas emoções, seus sentidos e a interpretação do que
sente é distorcida dos padrões estabelecidos pela sociedade em que está inserido.
D) A Fenomenologia permite que o homem compreenda a si mesmo e ao mundo a partir de sua
percepção sobre fatos, seus problemas, suas emoções, seus sentidos e a interpretação do que
sente.
E) A Fenomenologia permite que as sensações e a percepção sobre os fatos não gerem emoções
destrutivas, permitindo sempre uma interpretação positivas do que o indivíduo sente.
GABARITO
1. A educação do corpo é a educação estética no homem pela visão e pela emoção. A partir
dessa concepção, entende-se a corporeidade muito além do controle motor. Assinale a
alternativa abaixo que define corretamente o conceito de corporeidade:
A alternativa "C " está correta.
Os movimentos e as experiências motoras permitirão que o indivíduo se expresse corporalmente,
por sua própria vontade a partir do que sentiu, das suas emoções. A expressão é intencional e
demanda necessariamente um diálogo constante com o mundo exterior, uma vez que está associada
com a relação com o meio e com os outros. A corporeidade é a forma de existir e se expressar no
mundo.
2. De acordo com a Fenomenologia descrita por Merleau-Ponty, o “corpo” não é um objeto,
mas, sim, uma forma de existência essencial que permite ao homem a compreensão do
mundo. Isso só é possível porque:
A alternativa "D " está correta.
A percepção é uma interpretação daquilo que sentimos e foi captado pelos nossos sentidos e levado
à nossa mente e à nossa consciência. Nessa percepção, teremos a essência da consciência e a
Fenomenologia irá para além da compreensão, pois permite que a expressividade e a corporeidade
de uma pessoa expressem o que ela vive e sente.
MÓDULO 2
 Identificar as diferenças entre a corporeidade e a motricidade humana a partir dos
conceitos de cada uma
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE
Neste módulo, estudaremos os conceitos de movimento humano e motricidade humana e sua
relação com a Educação Física. Essa abordagem é necessária para que possamos evitar alguns
equívocos que ocorrem nesta área de construção científica: a dificuldade para se diferenciar
consciência, vontade e intenção, como também a condição de sujeito e objeto no movimento
humano.
Fonte: Shutterstock.com
O movimento humano refere-se ao deslocamento do corpo em um determinado espaço, e não à
intencionalidade operante que é invisível. Quando um indivíduo se movimenta sem saber a intenção
ou qual o objetivo desse deslocamento, significa que está agindo de maneira mecânica. O
desenvolvimento da consciência permite que o sujeito tenha a vontade que será responsável pela
intencionalidade operante da sua realidade e da sua dimensão invisível e causal.
CONCEITOS
A Idade Contemporânea, no início do século XVIII, foi marcada pela Revolução Industrial e todas as
modificações importantes decorrentes dessa época. As relações sociais se modificaram na mesma
proporção em que a produção industrial ocupou seu lugar com a mecanização dos meios de
produção, provocando êxodo rural e modificando de forma brusca o tempo, o trabalho e,
principalmente, o ritmo e as relações com o corpo. A cultura, a economia, a produção e o acúmulo de
bens estimulam ainda mais o trabalho em longas jornadas e as atividades diárias pouco a pouco
impõem a esse corpo uma nova forma de existência.
Fonte: Shutterstock.com
Tempos depois, essa transformação social atinge seu ponto máximo com o desenvolvimento do
individualismo, modificando as relações e as trocando por quantificação, em que a percepção do
tempo para o homem passa a ser completamente alterada, interferindo no respeito ao corpo e aos
seus limites, aumentando a carga de trabalho e a fadiga.
Fonte: Shutterstock.com
Compreendemos o conceito de motricidade primordialmente como uma expressão orgânica e
psíquica que antecipa o movimento. O ato motor é então o gesto de forma complexa que
representa cinestésica e articularmente a tradução do que foi visto. De modo permanente, a
motricidade humana revela o ser humano a partir de sua experiência traduzida em movimento. O
homem, a partir do seu movimento, desenvolve sua própria compreensão.
Fonte: Shutterstock.com
A Educação Física tem como objeto de estudo o movimento humano, entendendo que a cultura de
movimento, o espaço de intervenção social, é sempre refletida no corpo.
A motricidade, portanto, é o aspecto fundamental da vida humana, integrando a sensibilidade e a
intenção motora naquele corpo, formando uma integração plena e sólida, mas, ao mesmo tempo,
complexa. Podemos observar a motricidade em diversas esferas da vida cotidiana ou específica de
um atividade laboral: nos momentos de lazer, voltada para a saúde, a motricidade que se expressa
através da dança, do folclore, das atividades circenses, a motricidade do alto rendimento, a
motricidade terapêutica, funcional e de reabilitação e ainda a motricidade da formação humana, que
representa a educação.
Todas essas possibilidades são importantes e constroem quem somos. São fundamentais para a
construção do corpo e a evolução em sua construção, principalmente, para a Educação Física, tendo
em vista que a construção do corpo e da motricidade é fundamental para a nossa profissão.
A MOTRICIDADE HUMANA EM MANOEL SÉRGIO
Manuel Sérgio (1995) era um filósofo português preocupado com os problemas ontológicos,
epistemológicos e políticos, deixados pela tradicional Educação Física. Ele propôs outro olhar para a
Educação Física, pensando sobre a forma como os profissionais da área do conhecimento humano
poderiam atuar e se desenvolver, além de considerar a perspectiva de visão do corpo e do homem,
integrando o esporte, as lutas, a ginástica, os jogos e a dança.
Fonte: Shutterstock.com
Na ciência da motricidade humana (CMH), temos a motricidade como o movimento com a
intencionalidade (vindo de Merleau Ponty) que transcende, pois o movimento é intencional. Os
primeiros estudos e relatos da Educação Física têm suas origens nas ciências naturais e passaram
a representar a defesa e o discurso do racionalismo. À medida que o estudo evoluiu e se consolidou,
houve a separação das duas realidades que se servem, ou seja, ontológicas: “ser humano como
sendo uma conexão indissolúvel das ontologias res cogitans (alma) e res extensa (o corpo), ou seja,
uma complexidade” (PEREIRA, 2006, p. 140) e não apenas um físico tão-só.
Diante de tudo isso, foi necessário um momento em que se descontinuasse tudo o que já havia sido
pensado para dar início a uma mudança, uma inovação, sendo uma forma de acompanhar as
evoluções no âmbito das ciências e fazer com que a área denominada Educação Física pudesse
avançar do ponto de vista qualitativo, sendo assim um campo do saber. Diante disso, foi feito um
corteepistemológico, com o intuito de se definir novos olhares e horizontes que até então não
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haviam sido estudados ou abordados na Educação Física tradicional. Isso foi necessário devido a
uma falha, uma lacuna no âmbito da cientificidade, uma carência de conhecimento dos profissionais
que já atuavam na área da Educação Física.
ONTOLÓGICAS
Ontologia (do grego ontos, que significa "ente", e logoi, que significa "ciência do ser") é a parte
da metafísica que trata da natureza, realidade e existência dos entes. A ontologia trata do ser
enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos
e a cada um dos seres objeto de seu estudo.
A motricidade humana é, então, uma ciência do homem, que compreende tudo o que acontece
socialmente, ou seja, seus fenômenos sociais. As transformações consagram o sentido da vida e
suas potencialidades, que são observadas em uma linguagem nova e com um olhar de uma prática
mais autêntica.
A CMH terá então a ação motora como sendo seu objeto de estudo, o corpo em movimento.
Esse movimento está relacionado ao ser humano que tem suas carências e é finito, que não é
especializado e faz parte de um todo buscando a sua transcendência. Sendo um estado contínuo, a
motricidade humana busca métodos de diferentes ramos do saber científico, avaliando sua trajetória
de vida e sua validade cognitiva, entendendo a relação da sociedade com a história baseada em
teorias científicas. Isso significa que o ser humano tem uma natureza em que o corpo não é
físico, e sim multidimensional, e cria seus significados a partir do que é pré-reflexivo e o que é
reflexivo. Lembramos que o corpo faz parte de um sistema de interrelações, e justamente essa crise
entre estar apoderado porque não é empoderado se discute dentro da perspectiva do existir, do
saber absoluto e da atitude inusitada do ser humano.
Fonte: Shutterstock.com
Fonte: Shutterstock.com
Definindo melhor a ciência da motricidade humana, vamos entender que seus estudos são centrados
na ação e na conduta motora, tanto em suas buscas e modificações internas como externas, a
partir de sua intenção e da superação de sua própria condução. Ou seja, a educação motora poderá
ser desenvolvida e ensinada à criança desde a primeira infância até que se torne um idoso. Por
meio da motricidade, o indivíduo pode desenvolver e melhorar as habilidades e as capacidades
motoras.
A motricidade humana, então, é a ciência que explica e compreende as condutas motoras. O ser
humano vive em constante movimento, é capaz de ultrapassar seus limites e essa característica
pode ser estudada a partir de uma ciência a fim de alcançar um objetivo.
A Educação Física se apropria e se beneficia do conhecimento de outras ciências de forma
interdisciplinar e transdisciplinar. Considerando as diversas possibilidades da conduta motora, o ser
do homem implica um olhar para a sua corporeidade e a sua motricidade em uma perspectiva
ontológica, êntica, ôntica e antropologicamente concebida, a partir daquilo que o homem tem
como suas carências físicas, emocionais, biológicas, psicológicas, sociais além de outras inerentes
ao ser humano. A CMH terá seus estudos e pressupostos pautados em três pilares: o homem, a
sociedade e o corpo.
Vemos o homem como um ser único e singular que trará consigo seus medos, suas angústias e seus
sonhos, mas, principalmente, seus valores. Dessa maneira, podemos dizer que o ser humano
transcende a sua realidade. Isso significa que nascemos incompletos e biológicos e será a
necessidade de conviver em uma sociedade que dará ao homem a condição de ser um ser social,
sem deixar de ser biológico. Destacamos aqui que a cultura modifica a sua biologia através de
medicamentos, movimento, gasto energético e outras coisas.
ÊNTICA
Na ontologia, estudamos a existência do homem ao qual chamaremos de "Ser". Este homem
(Ser) em uma constituição particular será "ente" que nessa perspectiva ontológica reflete o
"Ser do Homem". Assim, observamos a motricidade humana singular em cada indivíduo.
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ÔNTICO
Ôntico (do grego ὄν, flexão ὄντος: "do que é") é a existência física, real e factual. Refere-se à
dimensão concreta, específica e local do ente. Trata-se de uma ontologia “regional” ou limitada
que se ocupa exclusivamente do campo dos entes, excluindo a questão do ser, que é o campo
da ontologia.
A ciência da motricidade humana, então, estuda o movimento que transcende por ser um movimento
intencional. Assim como aprendemos com Merleau-Ponty, essa ciência se constitui a partir da
percepção e da tomada de consciência do indivíduo, ou seja, isso possibilita uma superação e se
preocupa com a complexidade e a integralidade do indivíduo, tendo em vista que representa sua
corporeidade. Entendemos, assim, que a CMH favorece a educação humana, dando-lhe um
significado e um sentido, preocupando-se com o indivíduo em sua totalidade, possibilitando sua
superação e representando a sua corporeidade.
Tanto a corporeidade vista em Merleau-Ponty como a CMH vista sob a perspectiva de Manoel Sérgio
(2000) são olhares importantes para o crescimento e o desenvolvimento da Educação Física. Em
ambas as perspectivas, nossos estudos e desenvolvimentos enquanto profissionais são
direcionados para uma melhor compreensão desse “corpo” que pertence a uma “consciência” e se
expressa a partir de suas emoções e pode ser estudado, desenvolvido e aprimorado a partir da
ciência. Esse estudo considera também as características físicas e biológicas, além de aspectos
sociais, seus valores e suas necessidades, ou seja, suas carências.
A RELAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA COM A
SAÚDE E A QUALIDADE DE VIDA DAS
PESSOAS
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. DE ACORDO COM EXPOSTO NESTE MÓDULO, ASSINALE A ALTERNATIVA
QUE DEFINE A CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA.
A) Pode ser definida como a ciência da compreensão e da explicação das condutas motoras,
visando à motricidade humana e à alma humana, comparando-as ao desenvolvimento antropológico.
B) Pode ser definida como a explicação das condutas motoras, visando ao estudo e às constantes
tendências do movimento e da sociedade, não tendo como fundamento os aspectos físico, biológico
e antropológico.
C) Pode ser definida como a ciência da compreensão e da explicação das condutas motoras,
visando ao estudo dos antepassados da motricidade humana, desconsiderando ou comparando ao
desenvolvimento global do indivíduo e da sociedade.
D) Pode ser definida como a ciência que compreende e explica as condutas motoras, estudando
constantemente as tendências da motricidade humana, em ordem ao desenvolvimento global do
indivíduo e da sociedade em que este se insere, e fundamentando simultaneamente o físico, o
biológico e o antropológico.
E) Pode ser definida como a ciência do estudo constante de tendências da motricidade humana,
comparando atrasos e desordens no desenvolvimento global do indivíduo e da sociedade e tendo
como fundamento simultâneo e único o aspecto antropológico.
2. A CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA SE PREOCUPA COM O INDIVÍDUO
EM SUA TOTALIDADE, O QUE SERÁ REPRESENTADO POR MEIO DE SUA
CORPOREIDADE. QUAL DAS ALTERNATIVAS ABAIXO REPRESENTA A
SEMELHANÇA ENTRE ESSAS PERSPECTIVAS PARA QUE HAJA MELHOR
COMPREENSÃO DO CORPO EM RELAÇÃO À CORPOREIDADE E À CMH?
A) O corpo não apresenta uma determinada consciência, logo, não poderá expressar as emoções
de um indivíduo, nem mesmo suas características físicas e biológicas, considerando seus aspectos
sociais e seus valores já desenvolvidos e aprimorados na perspectiva da ciência da motricidade
humana.
B) O corpo pertence a uma determinada consciência que será expressa a partir da percepção e das
emoções de um indivíduo, de suas características físicas e biológicas, considerando que seus
aspectos sociais e seus valores podem ser desenvolvidos e aprimorados na perspectiva da ciência
da motricidade humana.
C) A consciência que será expressa a partir das percepçãoe das emoções de um indivíduo, ao
mesmo tempo em que suas características físicas e biológicas se transformam, não poderá se
desenvolver concomitantemente à motricidade humana, tendo em vista que consciência e movimento
não caminham ou se desenvolvem em um único indivíduo.
D) O corpo pertence a uma determinada emoção que será expressa a partir das percepções de um
indivíduo, em um tempo totalmente diferente de suas características físicas e biológicas,
desconsiderando seus aspectos sociais e seus valores e desenvolvendo suas emoções distante da
perspectiva da ciência da motricidade humana.
E) A consciência que será expressa pelas emoções de um indivíduo, não terá o mesmo tempo de
modificação que suas características físicas e biológicas e assim poderá ser prejudicial à
motricidade humana, tendo em vista que consciência e movimento não caminham ou se
desenvolvem em um único indivíduo.
GABARITO
1. De acordo com exposto neste módulo, assinale a alternativa que define a ciência da
motricidade humana.
A alternativa "D " está correta.
De acordo com o que foi proposto por Manuel Sérgio em um olhar voltado para a Educação Física,
considerando a perspectiva de visão do corpo e do homem, a ciência da motricidade humana
(CMH), em que teríamos a motricidade como movimento intencional, será a conduta motora e o
desenvolvimento humano físico, global e antropológico.
2. A ciência da motricidade humana se preocupa com o indivíduo em sua totalidade, o que
será representado por meio de sua corporeidade. Qual das alternativas abaixo representa a
semelhança entre essas perspectivas para que haja melhor compreensão do corpo em
relação à corporeidade e à CMH?
A alternativa "B " está correta.
A ciência da motricidade humana favorece a educação humana, amplia a percepção do sujeito de si
mesmo, de seu corpo, dando um significado e um sentido à sua existência e representando, assim, a
sua corporeidade. Traz a melhor compreensão desse “corpo” que pertence a uma “consciência” e se
expressa a partir de suas emoções analisando suas características físicas e biológicas, aspectos
sociais, seus valores e suas necessidades e carências, a partir da ciência.
MÓDULO 3
 Relacionar aspectos da corporeidade e da motricidade humana que contribuem para a
formação e intervenção do profissional de Educação Física
MOTRICIDADE HUMANA E EDUCAÇÃO FÍSICA
No módulo anterior, vimos que a ciência da motricidade humana é independente e estuda a
transcendência do movimento intencional no ser humano. Foi a partir dela que se propôs uma
reconstrução epistemológica para a Educação Física, de forma que uma nova ciência do homem
fosse consolidada e um novo objeto de estudo para essa área do conhecimento fosse instituído: a
própria motricidade humana.
Fonte: Shutterstock.com
A ciência da motricidade humana favoreceu a educação humana, dando-lhe sentido e significado e
possibilitando a superação, preocupando-se em compreender o indivíduo em sua complexidade,
representando a sua corporeidade. Reconhece a Educação Física como sua pré-ciência e
apresenta a educação motora como seu ramo pedagógico. Desse modo, a motricidade humana
contribui com a educação e com a formação do ser humano crítico e autônomo. Vejamos
agora como a corporeidade e a motricidade humana contribuem para formação e intervenção do
profissional de Educação Física.
CONCEITOS
A Educação Física encanta por estudar o movimento executado em um jogo recreativo, em uma
dança ou em um esporte de alto rendimento. Analisar o movimento de maneira segregada,
considerando apenas aspectos fisiológicos, como o consumo de calorias, ou simplesmente os
aspectos psicológicos, como o nível de estresse ou ansiedade, não é suficiente para expressar o
que, de fato, acontece em um corpo em movimento. Esta visão é bem reducionista e exclui a
complexidade do ser humano enquanto indivíduo físico, psicológico, social e cultural, ou seja, toda
sua interação complexa e interdependente.
Fonte: Shutterstock.com
O movimento se relaciona com a compreensão e o entendimento de que o mundo interage com o
corpo e com o sujeito. Manoel Sérgio pontua que a motricidade nasce com um sinal da
corporeidade, a disponibilidade do homem a outros sujeitos e ao mundo o liberta, em certa medida,
da solidão. “Não estou diante do meu corpo, estou no meu corpo, sou o meu corpo”, essa afirmação
de Manuel Sérgio (1989) nos dá uma ideia da complexidade de tudo o que compõem o indivíduo,
como suas experiências e a interrelação dessas vivências com o seu sistema nervoso. A motricidade
humana envolve aspectos diferentes de áreas diversas que tratam do ser humano. Isso é refletido,
por exemplo, na vontade que observamos em atletas, que não apenas reproduzem movimentos, mas
se movimentam com o objetivo sempre de se superar. Isso revela o que chamamos de
intencionalidade operante.
No âmbito da Educação Física, não se pode observar o corpo somente como uma estrutura de
músculos, ossos e articulações. O movimento produzido pelo sujeito, que deseja e age, reflete sua
intenção e manifesta por meio do próprio corpo o entendimento daquilo que percebeu e extraiu do
mundo.
Destacamos aqui que a motricidade humana é um acontecimento complexo e não nasce pronta.
Essa é uma importante condição a ser observada no desenvolvimento e na atuação pelo profissional
de Educação Física. Não existe uma ordem cronológica exata e nem um estágio em que cada
movimento será construído, tendo em vista que isso é influenciado e depende de uma interação com
o meio social. Note que não nos referimos às fases de desenvolvimento motor humano, nem mesmo
aos tipos de movimentos (reflexos, rudimentares, fundamental), pois estes têm um tempo cronológico
estimado para que ocorram mudanças. Nós nos referimos aos movimentos intencionais produzidos
pelo sujeito que deseja e age. O homem apresenta múltiplas dimensões que influenciam a sua
motricidade, e a construção desse corpo pode ser feita em infinitas possibilidades.
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A motricidade é a corporeidade representada pela intenção de um movimento. Vamos então
direcionar nosso olhar para o foco de estudo da Educação Física, o que ele compreende e o que
intervém. Já sabemos que o corpo humano é o objeto de nosso estudo. Durante muito tempo, o
corpo foi analisado de maneira segregada e dividida em áreas distintas de atuação, como
Anatomia, Biologia, Psicologia, Fisiologia humana, entre outras. Havia uma visão dualista do homem
na Educação Física, principalmente, quando nos remetemos à visão dicotômica do filósofo francês
René Descartes (1596-1650) que traz a ideia de corpo máquina ou corpo objeto, onde o corpo se
movimentaria sem nenhum tipo intencionalidade.
Descartes relacionava o movimento corporal a um trabalho mecânico e sem reflexão. Neste caso,
quando o corpo apresentasse algum “defeito”, poderia ser simplesmente “consertado” ou ter suas
peças substituídas. Essa não é a visão que o profissional de Educação Física deve ter acerca de
seu objeto de estudo. Ao mesmo tempo que os saberes das diversas áreas são importantes de
maneira separada, entendendo que o aprofundamento específico é muito rico e válido, não podemos
perder de vista a totalidade do ser humano. Nesse sentido, a Educação Física deve cuidar do
corpo e considerar que a sua intencionalidade caracteriza a sua corporeidade.
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É preciso uma reflexão profunda nesse sentido. A visão de corpo objeto ainda pode ser encontrada
em conceitos estéticos das sociedades modernas, tendo em vista padrões corporais pré-
estabelecidos que estimulam pessoas a seguirem este modelo. Não é à toa que o número de
cirurgias plásticas aumenta a cada ano. Há uma busca pela manipulação desse corpo objeto a fim
de se alcançar uma beleza padronizada.
O corpo objeto faz parte de um sistema social que tem interesses em troca. A divisão desse corpo
em “partes”, como se fosse uma mercadoria, naturalmente, obedece a uma lógica desse sistema e
instiga o consumode bens, tendo a ideia e a meta de um “corpo ideal” que, na maioria das vezes,
é inatingível.
Fonte: Shutterstock.com
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Essa meta não alcançada gera uma enorme angústia e sensação de fracasso, além de interferir em
reflexões da corporeidade. A frustração é uma sensação experimentada quando um corpo não
alcança a meta almejada, vive-se uma corporeidade alterada.
A Educação Física deverá, portanto, a partir de uma abordagem mais biológica, priorizar a
manutenção da saúde corporal, a melhora do condicionamento físico e o desenvolvimento das
capacidades físicas e habilidades motoras. Contudo, de maneira alguma, deve esquecer a
corporeidade, observando o ser humano e seus movimentos. A Educação Física não deve perpetuar
a ideia de um corpo que pode ser uma máquina perfeita, e sim que o ser humano tem uma
corporeidade viva, existencial e sensível.
Assim, o profissional da área deve considerar o sujeito como um indivíduo biológico, que faz parte de
um contexto social, com o qual se relaciona e, muitas vezes, pode não compreender os valores de
onde está inserido.
Cabe à Educação Física compreender esse homem em sua totalidade, a fim de direcionar sua
intervenção na busca de um corpo “possível” em uma prática sistematizada e adequada à saúde de
seus alunos. O profissional deixa de lado o modismo ou os estereótipos criados pela mídia,
procurando contribuir para superação e melhora de cada sujeito dentro de suas carências e suas
possibilidades.
A motricidade humana tem como objeto de estudo o movimento humano intencional, que permite a
transcendência e possibilita a superação do indivíduo em sua totalidade, de forma consciente e
complexa. A corporeidade se insere na Educação Física, superando o dualismo cartesiano e
apresentando a educação motora com um novo olhar. As contribuições da motricidade humana terão
relação com a preocupação em contribuir para a formação de um ser humano capaz de modificar a
si mesmo e ao mundo, sendo um verdadeiro cidadão.
A RELAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA COM A
MOTRICIDADE E A CONSTRUÇÃO DE
ESTEREÓTIPOS
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O QUE PODEMOS CHAMAR DE INTENCIONALIDADE OPERANTE?
A) Quando o indivíduo não tem vontade e intenção de agir, que pode ser expressa pela redução da
mobilidade e repetição de movimento apenas sem ultrapassar os próprios limites.
B) A vontade e intenção em modificar seu pensamento, expressando uma vontade que não pode ser
realizada pela motricidade humana, repetindo movimento, mas sem que possamos nos superar ou
vencer nossos próprios limites.
C) A vontade e a intenção de agir, a representação da vontade que pode ser expressa pela
motricidade humana para que não sejamos apenas repetidores de movimento, mas também
capazes de vencer nossos próprios limites.
D) Quando o indivíduo tem vontade e intenção de agir, mas se sente impedido de se expressar
devido à redução da mobilidade, gerando dificuldade de movimentos e sendo limitado pelo próprio
corpo.
E) A vontade e a intenção de agir, sem a representação da vontade expressa pela motricidade
humana, para que sejamos repetidores de movimento apenas, sem a necessidade de se superar ou
vencer os próprios limites.
2. A DICOTOMIA ENTRE CORPO E MENTE SEMPRE SIGNIFICOU UMA
FORMA EQUIVOCADA DE OLHAR A EDUCAÇÃO FÍSICA. O CORPO ERA
RELEGADO A UM PAPEL SECUNDÁRIO E DESPROVIDO DE VONTADE E
INTENCIONALIDADE. DE QUE FORMA O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO
FÍSICA PODERÁ INTERVIR RESPEITANDO O SUJEITO EM SUA
MOTRICIDADE E SUA CORPOREIDADE?
A) Considerando os princípios da sobrecarga do treinamento e adequando as atividades aos
objetivos e metas para um corpo perfeito.
B) Considerando seus aspectos físicos, financeiros e seus valores, respeitando rigorosamente o
tempo de aula e evitando qualquer tipo de ajuste adaptação individual, principalmente no trabalho em
grupo.
C) Respeitando as diferenças individuais, como composição corporal e força, fundamentais aos
esportes, e sugerindo ao aluno sempre um corpo mais prefeito possível.
D) Considerando seus aspectos sociais, afetivos e seus valores, respeitando obrigatoriamente as
diferenças individuais e a subjetividade de cada um.
E) Considerando a ludicidade e a forma física dos alunos, sabendo que a execução de movimentos
deve ser melhorada diariamente, com o objetivo da perfeição e melhora da postura.
GABARITO
1. O que podemos chamar de intencionalidade operante?
A alternativa "C " está correta.
A intencionalidade operante é quando a motricidade humana envolve aspectos diferentes de áreas
diversas que tratam do ser humano. Representar a vontade que observamos, por exemplo, em
atletas, que não apenas reproduzem movimentos, mas também se movimentam com o objetivo
sempre de se superar.
2. A dicotomia entre corpo e mente sempre significou uma forma equivocada de olhar a
Educação Física. O corpo era relegado a um papel secundário e desprovido de vontade e
intencionalidade. De que forma o profissional de Educação Física poderá intervir
respeitando o sujeito em sua motricidade e sua corporeidade?
A alternativa "D " está correta.
O profissional de Educação Física deverá considerar o sujeito como um indivíduo biológico que faz
parte de um contexto social, compreendendo esse homem em sua totalidade, considerando seus
afetos e suas carências, para que a sua intervenção busque um corpo possível em uma prática
sistematizada e adequada à saúde de seus alunos, considerando, ainda, as características
individuais de cada um e, principalmente, a sua subjetividade.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme aprendemos, a forma como percebemos o mundo tem sempre a relação com o outro, o
mundo humano e o mundo da cultura. O sujeito é constituído a partir de sua relação com o presente e
com sua história, incluindo a familiar. À medida que entendemos o processo do homem na história,
compreendemos a conotação do corpo e a importância da saúde, nos aspectos estéticos, laborais e
de performance. A identificação desse corpo depende de várias vertentes, porém, o âmbito da
saúde será o foco da Educação Física, sendo importante para todo e qualquer corpo.
O sentido da vida permite focar no fenômeno da motricidade no cotidiano, na motricidade do treino
de alto rendimento do esporte, na motricidade especializada do trabalho, na motricidade do lazer, na
motricidade da saúde, na motricidade expressiva da arte (capoeira, folclore, dança e atividades
circenses), na motricidade funcional terapêutica e de reabilitação e na motricidade da educação e
da formação humana. Isso torna necessário um olhar que considera a subjetividade e a corporeidade
do sujeito, sem esquecer que a ciência é o respaldo que precisamos para a manutenção e obtenção
da saúde na totalidade de seu significado, seja no psicológico, corporal, espiritual, político e social.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? São Paulo: Centauro, 2008.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1987.
MERLEAU-PONTY, M. A dúvida de Cézanne. In: Cadernos de Filosofia, Coimbra, Ideias e
Comunicação, 1994.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
PEREIRA, A. M. Motricidade Humana: a complexidade e a práxis educativa. 2006. Tese (doutorado
em Motricidade Humana) Universidade da Beira Interior. Covilhã – Portugal.
SÉRGIO, M. Educação Física ou ciência da motricidade humana. Campinas: Papirus, 1989.
SÉRGIO, M. Motricidade Humana: Um Paradigma Emergente. Blumenau: FURB, 1995.
SÉRGIO, M. Para uma Epistemologia da Motricidade humana. 3. ed. Lisboa: Compendium,
2000.
EXPLORE+
Para aprofundar os seus conhecimentos no assunto deste tema, recomendamos a leitura dos
seguintes artigos:
Considerações sobre corporeidade e percepção no último Merleau-Ponty, de Danilo Saretta
Verissimo, publicado pelo departamento Estudos de Psicologia da UFRN, em 2013.
A ciência da motricidade humana e as suas possibilidades metodológicas, de Ana Maria
Pereira, encontradono Portal de Periódicos Eletrônicos Científicos da UNICAMP.
Estudo da motricidade humana como fonte de ordem para um tema científico, uma profissão,
e um componente do currículo escolar, de Luis Augusto Teixeira, publicado na Revista Paulista
de Educação Física, em 1993.
Motricidade humana como tema de produção em periódicos brasileiros da educação física
brasileira, de Cae Rodrigues e outros autores, publicado na Revista Motrocidade, em 2018.
CONTEUDISTA
Marina Guedes de Oliveira Lopes
 CURRÍCULO LATTES
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