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Resumo Livro Animal agonizante

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O animal agonizante, de Philip Roth – Dica de Gládis Ludwig 
A novela “O animal agonizante”, do escritor Philip Roth, publicada em 2001, apesar contar uma história de sexo, também aborda os temas da liberdade, do desejo e da razão, da decadência física e da degradação psicológica do ser humano e sobre a hipocrisia da sociedade norte-americana.
David Kepesh, um professor aposentado, com 70 anos, relembra e narra sua dramática relação com uma aluna, Consuela, oito anos antes, quando lecionava, num curso livre da Universidade, a disciplina de Crítica Prática e fazia sucesso com um programa cultural na televisão.
Kepesh era um obsessivo sexual e a cada curso escolhia uma aluna para seduzir. Ele diz ser um produto dos anos sessenta, quando os jovens buscavam liberdade total. Liberdade para falar e ouvir o que queriam, votar em quem queriam, ou não votar, de não ir à guerra e, sobretudo, de fazer sexo da forma que queriam, com quem queriam e quantas vezes desejassem, sem necessariamente haver vínculos afetivos entre as partes.
Toda essa liberdade vivida por Kepesh despertou a revolta de seu filho Kenny, agora com 42 anos. Pai e filho se desprezam. O filho porque culpa o pai pela vida desgraçada de sua mãe e pelo seu próprio fracasso emocional, que o levou ao adultério. O pai porque considera a vida casta do filho uma hipocrisia, já que Kenny trai a esposa e só não tem coragem de assumir. Kenny representa o puritanismo dos Estados Unidos. 
Além da relação difícil com seu filho, outro conflito vivido por Kepesh é quando se percebe envolvido por Consuela Castillo, uma de suas estudantes, de 24 anos, filha de imigrantes cubanos (ricos), contrariando sua regra de nunca se comprometer emocionalmente. Sempre mantinha o controle de tudo. Ele é quem escolhia a mulher que ia seduzir. No entanto, Consuela, com seus seios perfeitos e pelos pubianos lisos, torna-o dependente com sua indiferença e passa a controlar a situação e ele passa a sofrer estando ou não junto dela, pelo ciúme ou pela falta. 
Racionalmente, Kepesh recusa-se a sentir ciúmes e com isso sofre duas vezes: uma por sentir e outra por recusar-se a sentir, por estar se sujeitando a uma banalidade. Recusa a sentimentalidade do amor/paixão. Como diz Roland Barthes em Fragmentos de um discurso amoroso é o obsceno do amor: "Desacreditada pela opinião moderna, a sentimentalidade do amor deve ser assumida pelo sujeito amoroso como uma transgressão forte, que o deixa sozinho e exposto; por uma reviravolta de valores, é justamente essa sentimentalidade que constitui hoje o obsceno do amor" (p. 269). 
Reviravolta histórica: não é mais o sexual que é indecente, é o sentimental – censurado em nome daquilo que não passa, no fundo, de uma outra moral. E como diz o próprio Kepesh (p. 62): Não é o sexo que é corrupção – é o resto. Sexo não é só atrito e diversão superficial. É também a maneira como nos vingamos da morte. 
Kepesh é movido pelos instintos, pela luxúria e considera todas as conversas e atos de sedução uma “deliciosa imbecilidade do desejo” (pág. 19/20). Pensa que nada disso seria preciso, que tudo serve apenas para disfarçar o desejo simples e puro. O que lhe interessa é o “impulso selvagem”: “Na hora do sexo, todos nós voltamos para a selva. Voltamos para o pântano” (p. 24). 
O título da novela refere-se ao conflito entre o desejo pulsante e a decadência física da personagem e foi inspirado nos versos “Consome meu coração; febril de desejo/ E acorrentado a um animal agonizante/ Já não sabe o que é.” (pág. 87) do poeta William Butler Yeats, nascido em 13/06/1865, representante máximo do Renascimento irlandês e um dos escritores mais destacados do século XX. 
Kepesch, nos anos 1960, ao contrário dos jovens, 15 ou 20 anos menos que ele, não podia se dar ao luxo de viver aquela revolução de modo inconsciente. Ele precisava pensar, embora quisesse fazer parte daquele repúdio enlouquecido, bagunçado e barulhento. Atualmente, aos 70 anos, ele acredita que pagou caro ao responder essas perguntas na sua vida prática, cotidiana, e o preço foi o ódio do filho. Ao mesmo tempo em que defende suas idéias, sente-se culpado pela rejeição de seu filho ao seu tipo de vida. 
Pode-se estabelecer um paralelo entre esta novela contemporânea e a de Dostoievski “O homem do subsolo”, escrita em 1864, pois ambas parecem levantar questionamentos em comum, como por exemplo, o conflito humano entre razão e sentimento; a natureza do amor; se o amor pode ser racionalizado; se as pessoas quando se apaixonam se completam ou se os efeitos do amor é a fracionamento delas; se o desejo nasce no indivíduo ou é imposto de fora para dentro, pelo corpo social homogeneizador. Enfim, questionam se o homem é livre ou não em seus desejos e o quanto usa da sua capacidade racional.
Em 2008, foi lançado o filme "Fatal", com Ben Kingsley e Penélope Cruz, baseado neste livro de Philip Roth.
Livro: O animal agonizante
Autor: Philip Roth
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2001
Número de páginas: 128

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