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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 2 GRAMÁTICAS PRESCRITIVA, DESCRITIVA E INTERNALIZADA ........................ 5 2.1 Gramática prescritiva (normativa) ....................................................................... 6 2.2 Gramática descritiva ........................................................................................... 8 2.3 O gerativismo e a gramática internalizada ........................................................ 10 2.4 Interpretando fenômenos de linguagem ........................................................... 12 2.5 Refletindo sobre os fenômenos linguísticos ...................................................... 14 3 CONCEITOS E INTERFACES: SINTAXE E MORFOLOGIA ................................ 16 3.1 Estrutura interna das palavras .......................................................................... 17 3.2 Formação de palavras e suas implicações para o ensino ................................ 18 3.3 Contribuições históricas para os estudos de morfologia ................................... 20 3.4 Morfologia vs. Sintaxe ....................................................................................... 22 3.5 Estrutura morfológica ........................................................................................ 24 3.5.1 Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra. ....................... 24 3.5.2 Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu significado. ......................................................................................................... 24 3.5.3 Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo)...... 25 3.5.4 Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido.............. .................................................................................................. 25 3.5.5 Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um novo significado. ................................................................................................ 25 3.6 O que é sintaxe? ............................................................................................... 26 3.6.1 Análise sintática .............................................................................................. 27 3.7 Procedimentos de análise sintática no nível oracional ...................................... 28 2 3.7.1 Termos da oração ........................................................................................... 29 3.7.2 Tipos de oração .............................................................................................. 33 3.7.3 Período ........................................................................................................... 33 4 CLASSES DE PALAVRAS E FUNÇÕES SINTÁTICAS ........................................ 34 4.1 Relação entre morfologia e sintaxe ................................................................... 39 5 SINTAXE E SEMÂNTICA ..................................................................................... 41 5.1 Semântica ......................................................................................................... 45 5.2 Relações semânticas entre as palavras ........................................................... 45 6 PALAVRAS E SINTAGMAS .................................................................................. 47 6.1 Itens lexicais na análise morfossintática ........................................................... 48 6.2 Mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em classes........................................................................................................................50 6.3 Principais categorias lexicais ............................................................................ 51 6.4 Sintagma nominal e sintagma verbal ................................................................ 52 6.4.1 Sintagma nominal ........................................................................................... 52 6.4.2 Sintagma verbal .............................................................................................. 54 7 MORFEMAS ......................................................................................................... 54 7.1 Unidades morfológicas e estrutura interna das palavras .................................. 55 7.2 Morfemas da língua portuguesa ....................................................................... 57 7.3 Os tipos de morfema: radical e afixos ............................................................... 57 7.4 Vogal temática: o tema ..................................................................................... 58 7.5 Morfemas livres e presos .................................................................................. 59 7.6 Características dos morfemas e diferenças dos sintagmas .............................. 60 8 ENSINO DE SINTAXE .......................................................................................... 62 8.1 As metarregras de coerência ou metarregras de Charolles .............................. 63 8.2 Articuladores que introduzem orações coordenadas ........................................ 66 3 8.3 Articuladores que introduzem orações subordinadas ....................................... 66 9 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO ................................................................... 67 9.1 O novo acordo ortográfico da língua portuguesa .............................................. 68 9.2 Um pouco da história do construção do acordo ortográfico .............................. 71 9.3 O que mudou, afinal? ........................................................................................ 74 9.4 Algumas regras ortográficas do novo acordo ................................................... 76 9.4.1 Eixo I – Alfabeto .............................................................................................. 76 9.4.2 Maiúsculas e minúsculas ................................................................................ 77 9.4.3 Acentuação gráfica ......................................................................................... 77 9.4.4 O hífen ............................................................................................................ 79 9.4.5 Qual é a importância global de seu uso com proficiência? ............................. 83 10 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 86 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porquehá uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 GRAMÁTICAS PRESCRITIVA, DESCRITIVA E INTERNALIZADA A primeira gramática da língua portuguesa foi publicada em 1536 por Fernão de Oliveira, em Lisboa. A Gramática da linguagem portuguesa não seguia o modelo das gramáticas que até aquele momento eram produzidas, apesar de ter um caráter normativo, que buscava “[…] propor uma norma para o português do século XVI” (PINTO, 2004, documento on-line). Tinha também um caráter linguístico e cultural, aludindo ao modo de falar dos portugueses daquele período. A obra era composta de 50 capítulos, contendo normas gramaticais, fonéticas, lexicológicas e, sobretudo, estudos etimológicos e sobre a sintaxe. Tinha o objetivo de ser um primeiro registro da língua portuguesa, a fim de perpetuá-la. Naquela época, Portugal estava buscando por uma “autonomia nacional”. A gramática, então, seria uma forma de afirmar a identidade do povo português, da nação portuguesa (PINTO, 2004). Hoje, o conceito de gramática é muito amplo e debatido por teóricos, que possuem distintas concepções sobre ela. É impossível falar de gramática sem pensar em língua e sem trazer à tona a necessária relação entre elas. As diferentes formas como a língua é concebida apontam para diferentes concepções de gramática. Uma das acepções de gramática é aquela que designa um livro, que possui como assunto “[…] uma apresentação de elementos constitutivos de uma língua” (FARACO; VIEIRA, 2016, p. 293). No entanto, os próprios autores alertam para a abrangência do termo e da definição, refletindo sobre a necessidade de se manter aberta a pergunta o que é gramática? Isso ocorre porque a língua é um objeto de estudo muito amplo e complexo, que suscita diferentes reflexões e enfoques. Para estudar a língua, é necessário estudar o seu funcionamento. Segundo Nasi (2007), as formas como as diferentes correntes teóricas dos estudos da linguagem estudam os processos de fala e de escrita demonstra suas concepções de língua e de gramática. 6 Fonte: http://mundocarreira.com.br/ Como pode ser observado, as concepções de língua e gramática andam juntas. Por isso, é essencial que você compreenda as diferenças entre as formas como a língua é compreendida em cada teoria para entender os tipos de gramática que delas derivam. A seguir, você vai conferir a distinção entre as gramáticas prescritiva (ou normativa), descritiva e internalizada, ao mesmo tempo em que vai conhecer os entendimentos sobre a língua que as sustentam (NOBLE, 2020). 2.1 Gramática prescritiva (normativa) A gramática prescritiva, ou normativa, é aquela a que você provavelmente foi exposto ao longo de sua escolarização. Isso porque, em geral, é essa a abordagem usada para refletir sobre a linguística na disciplina de língua portuguesa. No entanto, essa gramática pressupõe uma visão de língua homogênea, ou seja, um modelo de língua que todo falante de uma língua deve seguir para estar de acordo com suas regras. A gramática que acompanha essa visão de língua é a prescritiva, ou normativa, aquela que dita normas e regras de um certo modelo de língua como se ele fosse o único possível (NOBLE, 2020). Conforme Franchi (2006, p. 16), alguns professores consideram que a gramática seria “[…] o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever, estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons 7 escritores. Dizer que alguém sabe gramática significa dizer que esse alguém conhece essas normas e as domina”. É nesse ponto que reside o maior problema da abordagem prescritiva da gramática na escola. Ao considerá-la o padrão de excelência, a escola leva seus alunos a perseguirem esse modelo ao longo da vida escolar. Porém, se esse é o único ponto de vista gramatical ao qual se tem acesso, passa-se a acreditar que todo o resto que produzimos como falantes em nosso dia a dia está errado. Nesse caso, o aluno passa a vida acreditando que fala errado, que a língua é difícil, e duvida de sua competência internalizada. Prioriza-se, nessa abordagem, a norma- -padrão e, portanto, deixa-se de lado as variações da língua, que são muitas e dependem de inúmeros fatores — sociais, econômicos, geográficos, entre outros. Isso não quer dizer que a gramática normativa não tenha valor escolar, mas o ensino de língua baseado somente na norma-padrão não pode desconsiderar as variações e uma profunda reflexão linguística que passa, inclusive, pelas regras da gramática normativa. Entra em jogo, nesse ponto, outra questão: muitos professores afirmam compreender a variação linguística, mas consideram que ela deve ficar apenas no âmbito da fala, sendo a escrita normatizada pela gramática da norma- padrão. No entanto, os exemplos presentes em Franchi (2006) mostram que a escrita escolar também não pode ser somente pautada nos padrões de certo e errado da gramática normativa. 8 Nesse exemplo, a concepção de gramática dos professores citados por Franchi (2006) está associada à gramática normativa, que segue uma concepção de língua dos escritores e de uma linguagem que seria mais culta e bela do que a falada no dia a dia. O “bom português”, no entanto, como mostra Franchi (2006), nem sempre garante um texto criativo. No Texto 1, apesar dos desvios gramaticais, é possível notar uma maior criatividade e, no Texto 2, uma maior contenção. Além disso, Franchi (2006, p. 26) ressalta que o texto 1 não deixa de mostrar um “[…] razoável grau de amadurecimento linguístico e textual”, considerando a capacidade do aluno escritor do Texto 1 de construir uma série de operações complexas com a língua, como em “Era uma vez um passarinho que vivia em uma árvore na frente da casa de João”, enquanto o Texto 2 tem estruturas bastante simples como “Eu gosto muito dos animais”. Para Franchi (2006), portanto, esses exemplos evidenciam que o aluno do Texto 1 demonstra um “controle” da língua muito superior, de certa forma, ao demonstrado pelo aluno do Texto 2. 2.2 Gramática descritiva A proposta da gramática descritiva tem como base o princípio da observação dos fenômenos linguísticos. Ao contrário da gramática prescritiva, ela não tem o intuito de prescrever regras, de ditar como a língua deve ser, mas sim de observar e descrever como a língua tem sido utilizada pelos falantes. Para Ferraz e Olivan (2011), a gramática descritiva é um conjunto de regras que descrevem os fatos da língua. Analisando e descrevendo a língua real que os falantes utilizam, é possível observar quais fenômenos linguísticos ocorrem, como a língua se estrutura, o que é aceitável ou não em termos de língua. Essas regras ajudam a observar o que é gramatical e o que é agramatical. Gramatical é aquilo que atende “[…] às regras da língua segundo determinada variedade linguística” (FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2236). Em outras palavras, gramaticais são aquelas estruturas e frases comuns à comunidade de falantes. Veja o exemplo a seguir. 9 É necessário eleger certos fatos da língua para observar, já que seria impossível dar conta da totalidade de fatos da língua. Estudam-se, então, os fatos sintáticos, aqueles de particular interesse à teoria, uma vez que a sintaxe é a parte da gramática de organização da língua. Na descrição de um fato sintático, como a posição linear que os elementos de uma frase ocupam, como no exemplo dado, é possível observar que a língua permite certos posicionamentos e não outros. Com o exemplo, nota-se que a gramática descritiva considera o falante, sua intuição, sua língua internalizada, isto é, as possibilidades e impossibilidades da língua por meio de fatos que são bastante intuitivos. O autor explica que: “[…] os falantes têm muitas vezes intuições bem definidas […] em outroscasos as intuições não são claras, e é preciso lançar mão de outros recursos, como tentar observar o comportamento sintático de uma sequência em outras frases” (PERINI, 2005, p. 45). Toda gramática descritiva, portanto, pressupõe hipóteses e observação e, consequentemente, constitui-se como resultado de uma pesquisa, argumentando e justificando o caminho tomado. Por isso, do ponto de vista descritivo, não é possível estudar gramática sem, ao mesmo tempo, fazer gramática, no sentido de refletir, investigar e pensar nos fenômenos da língua. Além disso, o trabalho de descrever uma língua inclui a descrição dos seus aspectos formais somados aos significados que eles veiculam. Primeiro, é realizada a descrição do aspecto formal e do semântico separadamente, posteriormente realizando-se um confronto entre ambos (PERINI, 2005). 10 2.3 O gerativismo e a gramática internalizada A gramática internalizada é entendida como aquela que todos os falantes possuem de maneira inata. Essa seria uma predisposição genética que permite não somente a aquisição da linguagem, mas também o desenvolvimento de uma lógica interna de organização da língua (NOBLE, 2020). De acordo com essa perspectiva, a linguagem humana, expressa por meio de uma língua natural, é entendida como um fenômeno cognitivo. A língua é tomada como produto da mente humana, e é este entendimento que sustenta a teoria sobre a gramática internalizada. Segundo Kenedy (2013), a linguagem é um conhecimento implícito, inconsciente no conjunto da cognição humana. Um indivíduo é capaz de produzir uma infinidade de sentenças na sua língua materna sem se dar conta de que está realizando isso, ou seja, ocorre de maneira inconsciente. Por isso, a linguagem é entendida como um conhecimento tácito que os indivíduos possuem. Essa concepção está ancorada no gerativismo, que tem como expoente principal o cientista Noam Chomsky. Surge nos anos de 1950, quando o Chomsky, então professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, formula suas ideias sobre a “natureza mental da linguagem humana”. A teoria propunha a descrição dos procedimentos mentais que “[…] geram as estruturas da linguagem, como as palavras, as frases e os discursos”, sendo as frases organizadas por meio de regras inconscientes na mente dos indivíduos (KENEDY, 2013, p. 17). 11 Além disso, a teoria gerativista entende que as línguas naturais não só são produto da mente humana, mas também possuem uma exterioridade; elas só se tornam úteis como línguas naturais se puderem ser compartilhadas pelos indivíduos. Para que uma língua exista, seu léxico precisa ser compartilhado pelos falantes. Assim, pode-se dizer que há duas dimensões da língua, as quais foram denominadas por Chomsky de língua-I (interna, individual e intencional), ou seja, a língua enquanto faculdade cognitiva, e língua-E (externa e extensional), a língua como código linguístico. É a língua-I, portanto, o principal objeto de estudo da concepção gerativista, uma vez que esta faz parte do sistema cognitivo do indivíduo. O estudo da língua-I é o estudo da capacidade humana de colocar em prática os códigos da língua, como fonemas, morfemas, palavras, frases. Entendendo que a língua-I está presente em todos os indivíduos, Chomsky percebeu que, em vez de buscar uma descrição de cada língua separadamente, era possível investigar as características universais das línguas. Publicou, então, em 1965, Aspectos da teoria da sintaxe, em que explica os conceitos de competência e desempenho. Competência linguística é o que permite ao falante “[…] produzir o conjunto de sentenças de sua língua”. É por meio de sua capacidade inata de linguagem que o falante desenvolve essa competência. Por outro lado, o desempenho é o comportamento linguístico, são os fatores externos ou não linguísticos, de ordens variadas, como inserção social, crenças, interlocutores, e também o diferente “[…] funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados” (PETTER, 2015, p. 11). Isso quer dizer que o a competência está internalizada no falante, enquanto o desempenho depende de outros fatores. Por exemplo, você sabe falar em português, tem a competência linguística. Porém, está apresentando um trabalho a uma turma cheia de alunos e 12 começa a esquecer palavras e gaguejar; seu desempenho está afetado pelo nervosismo. A teoria desenvolvida por Chomsky para explicar e analisar os dados foi denominada de gramática gerativa, uma vez que, segundo ela, o falante pode, por meio de um limitado número de regras internas que possui, gerar um infinito número de sentenças. A gramática gerativa, portanto, tem por objetivo explicar e analisar as frases potencialmente realizáveis em uma língua, cuja intuição do falante é o “[…] critério da gramaticalidade ou agramaticalidade da frase” (PETTER, 2015, p. 11). Observe a frase a seguir. Problema este muito seu difícil é. Neste exemplo, como falante, você consegue perceber que algo não está bem na construção da sentença. Você não precisa ser um especialista em linguística para perceber isso. É esse estranhamento que Chomsky entende como a intuição do falante. Por menos escolarizado que o falante seja, ele é capaz de organizar os elementos linguísticos que compõem esta sentença, tornando-a novamente gramatical. Uma sequência de palavras é agramatical quando, segundo Petter (2015), não respeita as regras gramaticais internalizadas pelo falante. Um falante pode utilizar sua competência inata para organizar o exemplo acima como: Este seu problema é muito difícil. Todo falante de uma língua natural possui competência para refletir sobre a língua. Dessa forma, na escola, o professor de língua pode fazer valer essa competência para proporcionar uma verdadeira reflexão sobre o objeto de estudo da sua disciplina, utilizando-se de situações e exemplos do cotidiano dos alunos. No entanto, não é isso que ocorre geralmente nas aulas de língua. 2.4 Interpretando fenômenos de linguagem 13 A linguagem é um fenômeno que permeia nossa vida social em diversos aspectos e é de fundamental importância em nosso dia a dia. É necessário, então, entender a gramática como uma forma de refletir sobre o funcionamento da linguagem (e não somente como um amontoado de regras em um livro). Dessa forma, estudar gramática na escola é importante, porque proporciona um espaço de reflexão e pesquisa, podendo inclusive promover a autonomia, a criticidade e a curiosidade científica dos alunos (PERINI, 2005). Uma vez que se passe a enxergar a gramática como meio de observar e interpretar os fenômenos da linguagem que ocorrem no cotidiano, o sentido e a significação do ensino de gramática tomam outro rumo e abrem caminho para diversas oportunidades. No exemplo a seguir, é possível realizar uma interpretação muito simples de um fato da linguagem. De acordo com Perini (2001, p. 13), todo falante “[…] possui um conhecimento implícito, altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar esse conhecimento”. No Brasil, especialmente, em virtude da distinção muito evidente 14 entre a língua brasileira falada e a norma culta do português, é possível perceber que esse conhecimento da língua é algo naturalmente adquirido, e não fruto da instrução escolar. A interpretação dos fenômenos linguísticos pode se dar em vários aspectos, que compõem as gramáticas de uma língua: a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica. No entanto, esses aspectos não esgotam as possibilidades de interpretação, pois ainda se poderia observar a história das formas linguísticas, por exemplo. Esses aspectos “[…] constituem o estudo da estrutura interna de uma língua — aquilo que a distingue das outras línguas do mundo, e que não decorre diretamente de condiçõesda vida social ou do conhecimento do mundo” (PERINI, 2005, p. 50). 2.5 Refletindo sobre os fenômenos linguísticos Na escola, como você já viu anteriormente, não ocorre efetivamente uma interpretação dos fenômenos da linguagem. Na maioria das vezes, na aula de língua portuguesa, ensinam-se regras que não fazem sentido para o aluno. Utilizam-se exemplos de grandes escritores, que geralmente não são do século XXI. Portanto, o aluno tem acesso a uma gramática e a exemplos de língua que não condizem com a língua conhecida por ele. Muito diferente do que muitos estudiosos defendem ser o ideal: […] o que deveríamos esperar do aluno ingressante no ensino médio é a capacidade de lidar com os aspectos da língua de modo reflexivo, sendo apto a selecionar os recursos linguísticos e a estrutura gramatical adequados às atividades de produção oral e escrita (FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2238). Em relação a essa postura reflexiva de língua e às concepções de gramática que você viu até o momento, considere o fenômeno da regência verbal. A regência é a relação entre um elemento, considerado regente e outro que o complementa. De acordo com a gramática prescritiva, o verbo é o regente, e seus complementos variam de acordo com o que o verbo “pede”. De acordo com a gramática descritiva, a regência de um verbo é variável, dependendo do contexto. Além disso, varia segundo ao longo do tempo, “[…] porque os falantes passam a interpretar de forma diferente o significado dos verbos” (TENÓRIO; SILVA; SILVA, 2018, p. 233). Considera-se, portanto, a gramática internalizada do falante. O verbo “assistir”, por exemplo, tem na regência uma importante variação da significação. Que variações são essas e como 15 as diferentes linhas teóricas sobre gramática a interpretam? No ponto de vista da gramática normativa, o verbo “assistir” é apresentado como transitivo indireto ou direto, observando-se a mudança de sentido conforme a mudança na transitividade. Observe a seguir: 1. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de presenciar, ver, observar; rege a preposição a e não admite a substituição do termo regido pelo pronome oblíquo lhe, mas sim o (s) e a (s); 2. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de caber (direito a alguém), pertencer; rege a preposição a e admite a substituição do termo regido pelo pronome oblíquo lhe (s); 3. verbo transitivo direto: aponta para o sentido de socorrer, prestar assistência e não rege qualquer preposição (A REGÊNCIA…, [200-?], documento on-line). Assim, quando “assistir” for empregado para indicar os sentidos apontados em (1) e (2), é obrigatória a presença da preposição regida. Nesse caso, a gramática trata da regência e da transitividade do verbo como uma prescrição, informando o que é admitido ou não como complemento do verbo. Além disso, prescreve como obrigatória a presença da preposição regida pelo verbo nos casos 1 e 2. A distinção e a prescrição da regência desse verbo é semanticamente determinada, como por exemplo, em: Assistimos ao jogo (1) Não lhe assiste dizer se isto é certo ou errado (2) Pela gramática descritiva, por outro lado, é possível entender o verbo “assistir” também em suas ocorrências como transitivo direto, que rege um objeto direto, sem preposição. Um possível exemplo é a própria acepção de assistir em “Assistimos o jogo”. Isso porque observou-se, analisando os fenômenos linguísticos, que o uso de grande parte dos verbos vem modificando a normatização. Notou-se também que há uma relação mais direta entre o falante e a pessoa ou objeto a que ele se refere. Por outro lado, o verbo “assistir” com o sentido de ajudar, auxiliar, socorrer, já é normatizado como um verbo transitivo direto e é assim utilizado pelos falantes. É possível também observar a forma como a gramática internalizada dos falantes organiza esses usos. Podemos refletir sobre a voz ativa e a voz passiva em relação ao verbo “assistir”. Observe que, pelas regras da gramática normativa, um verbo só possui voz passiva quando é classificado como transitivo direto ou bitransitivo 16 (direto e indireto). No entanto, é perfeitamente coerente e bastante utilizada pelos falantes a ocorrência passiva, como na frase a seguir: O filme de terror foi assistido pelas crianças. Se, pelo viés da gramática normativa, “assistir” com sentido de ver, olhar, deve ser transitivo indireto, tal ocorrência não poderia existir. No entanto, pela gramática internalizada do falante, é perfeitamente corriqueira a ocorrência da voz passiva nesse caso. Pode-se concluir que há uma discrepância entre aquilo que a gramática normativa prescreve e aquilo que o falante entende intuitivamente como adequado. Por fim, conhecer as regras gramaticais e saber como usá-las é também importante. Por meio desse estudo, é possível ensinar as diversas configurações da língua para preparar os alunos para as também diversas situações com que vão se deparar na vida. Como explica Ferraz e Olivan (2011, p. 2236): […] saber gramática depende da ativação e do amadurecimento progressivo de hipóteses sobre o que é a linguagem e quais seus princípios e regras. Nela, o que pode ocorrer é uma inadequação da variedade linguística em um dado momento de interação comunicativa, mas não o erro linguístico. Para que possam se adequar às variedades linguísticas, portanto, os alunos precisam conhecê-las, como todas as suas diversidades. No entanto, deve-se ter como premissa que o aluno já tem conhecimento sobre a língua mesmo antes de entrar na escola para ser alfabetizado. Considera-se, assim, sua gramática interna, sua capacidade de produzir linguagem a partir do que já conhece. Além disso, é fundamental incentivar o estudo da gramática por meio da reflexão dos fenômenos linguísticos, que, como vimos, pode ser feita em certo grau por pessoas que não são especialistas em linguística. Mais importante do que apontar erros e acertos, é promover a reflexão sobre a língua. 3 CONCEITOS E INTERFACES: SINTAXE E MORFOLOGIA Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de sintaxe e morfologia, duas ciências que propõem, respectivamente, a análise da função sintática e da classe gramatical dos termos de uma oração como forma de estabelecer conexões e significados no texto. Você também vai entender como se dá o funcionamento da 17 formação de palavras, base da morfologia, que serve de ferramenta para adaptar palavras em relação ao significado que queremos comunicar. 3.1 Estrutura interna das palavras O léxico é definido, tradicionalmente, como o conjunto de palavras de certa língua. Em sua abordagem clássica, o estudo do léxico tem por objetivo uma ampliação dos conhecimentos das características e propriedades de cada palavra. Isso no passado e no presente, uma vez que há mudança de acordo com o espaço, o tempo e a história de constituição de uma língua, uma vez que esta não é estática, ela se movimenta conforme as sociedades evoluem. Pense, por exemplo, em palavras como: internet, imprimir, escanear, tuitar. Há inserção delas no vocabulário de língua portuguesa — algumas ainda sem registro formal, por enquanto — pelo senso comum. Na tradição dos estudos gramaticais, a morfologia concentra-se em estudos da flexão. Os diferentes processos de derivação e de mudança, bem como de extensão de palavras, servem para funções predeterminadas, as quais se traduzem em estruturas morfológicas lexicais. Lembre-se de que a morfologia não existe por acaso, ela é historicamente a subdivisão mais antiga da gramática, mas reconhecida como tal apenas na segunda metade do século XIX. Os linguistas que iniciaram os estudos sobre morfologia não se percebiam, até então, como morfologistas. Dessa forma, o léxico representa um depósito de elementos de designação, pois fornece unidades básicas para a construção de enunciados e também comporta os processosde formação das palavras (HOFF, 2014). Aqui, o objetivo é fornecer para você, leitor, estudioso da língua, professor de português, uma visão articulada dos principais processos de formação de palavras. Você sabe por que esse conhecimento é relevante? Porque as estruturas morfológicas constituem um instrumento fundamental tanto para a aquisição como para a expansão do léxico individual e coletivo. Agora, pense: de que forma o léxico se constitui na língua? Cada novo conceito passa a ser registrado? Mas, assim, teríamos uma combinação de sequências que não conseguiríamos realmente dar conta de guardar na memória? Portanto, para máxima eficiência, a expansão do léxico acontece através dos processos de formação 18 de palavras. Ou seja, a partir de fórmulas padronizadas de construção de novas palavras a partir do que já existe no léxico. Para Basílio (2006, p. 10), o léxico é “ecologicamente correto”, pois tem um banco de dados em permanente extensão, mas utilizando material já existente, assim, reduzindo a dependência de memória e garantindo a comunicação automática. Por exemplo, em palavras como: computacional, globalização, etc., percebe-se formas novas de palavras já existentes: o verbo computar, por exemplo, já existia, e serviu de base para a formação de computador; o sufixo –ção, também já existente, possibilita a construção da palavra computação, e assim por diante. 3.2 Formação de palavras e suas implicações para o ensino O conhecimento acerca dos processos de formação de palavras (que pode ocorrer através da reflexão sobre o funcionamento da nossa língua portuguesa) possibilita que os indivíduos percebam que a língua existe como meio de comunicação entre homens; sendo que as significações linguísticas estão na base dessa comunicação. Quanto mais se compreende o funcionamento da língua como um sistema vivo e mutante, mais habilitados os sujeitos estarão para compreender o 19 contexto no qual estão inseridos e aumentam-se as possibilidades de interpretação e amplia-se a noção do certo e do errado e passamos então a perceber a língua como algo que demarca historicamente um povo e um tempo. Diz-se com muita intensidade que vivemos na sociedade da comunicação e da informação, na qual a palavra dita e, sobretudo, escrita é utilizada com grande intensidade. As redes sociais modificaram as relações dos indivíduos com o uso da palavra, o domínio dela, por conseguinte, é possibilidade de ocupar diferentes espaços de forma adequada e fazendo uso da riqueza que a língua oferece (HOFF, 2014). O processo de formação de palavras traz implicações para o ensino, uma vez que é preciso constante atualização e contextualização para que não se limite o espaço do aprendiz. Se você parar para pensar, podemos citar inúmeras novas palavras na nossa língua: agito, xingo, desmate, carreata, entre outras (ROCHA, 1998). A partir dessas novas criações podemos nos perguntar: por que algumas causam estranheza e outras não? Por exemplo, a palavra desmorrer, já que a forma desmerecer é aceita. Por que razão a palavra atingimento não é considerada como uma palavra existente na língua, mas possível de ser criada? Por que uma palavra proferida por uma figura pública causa tanto comentário? Pense na palavra imexível e o que ela gerou após ter sido pronunciada por um ministro do Estado. Por que no Rio Grande do Sul temos como forma consagrada lavagem e em Santa Catarina lavação? Estas e outras perguntas devem ser discutidas no âmbito da morfologia. No decorrer do processo de ensino é necessário levantar alguns questionamentos com os alunos: ▪ Qual o objetivo de formar novas palavras? ▪ De que maneira formamos novas palavras? ▪ Quando parece ser emergente apropriar-se de novas palavras ou de palavras de outras línguas? ▪ Quais são as partes integrantes de uma palavra? ▪ A partir de que critério(s) podemos dizer que uma palavra existe em uma língua? 20 Portanto, para os processos de ensino e aprendizagem, uma teoria morfológica da língua objetiva definir como e quais novas palavras podem ser formadas. Assim, um falante que escuta uma palavra, quer seja pela primeira vez, tem capacidade de reconhecê-la como uma palavra de sua língua e assim permite a intuição sobre a estruturação dela e de seus possíveis significados. Dessa forma, uma teoria morfológica descreve esses fatos, sobretudo os mecanismos formais que criam novas palavras e a análise de palavras que já circulam nessa língua. É imperativo que a língua precisa ser ensinada na escola. A gramática normativa, então, traz as regras. Mas a norma não pode ser uniforme e rígida. Ela precisa ser elástica e contingente, evidenciando a sua adaptação de acordo com cada situação social específica em que está inserida. Pense: o professor fala em casa da mesma e exata forma que fala em sala de aula ou em uma conferência? Se a língua é variável no espaço e na hierarquia social, como definir uma única representação como a correta? Reflita sobre essa questão. 3.3 Contribuições históricas para os estudos de morfologia Qualquer gramática de língua portuguesa que seja consultada dedica um capítulo ao estudo da morfologia, isso quando consideramos as gramáticas do tipo normativas. No contexto da linguística, ou seja, no que se refere ao estudo científico do funcionamento da linguagem, a morfologia como campo de estudo tem, historicamente, dias de valorização e de esquecimento. No período da gramática estrutural, ela foi centro de atenção e, portanto, alcançou um progresso. Já no período da linguística gerativo-transformacional, a morfologia ficou esquecida se comparada à sintaxe e à fonologia. Observe o que diz Bauer (1983 apud ROCHA, 1998, p. 7): No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a sua própria teoria e procedimentos à medida que caminham. Porém, com o percurso histórico das sociedades e um ensaio cada vez maior de compreensão dos fenômenos que estão postos no mundo, este pensamento tem dado lugar para estudos cada vez mais aprofundados sobre morfologia. No âmbito da língua portuguesa, autores se consagram nesse campo e ampliam a visibilidade e a importância do estudo da ciência das linguagens. Margarida Basílio, por exemplo, tem 21 uma relevante obra publicada no Brasil, com o título: Estruturas Lexicais do Português: uma abordagem gerativa, evidenciando assim o interesse crescente pela disciplina. Quatro são as escolas que estudam e analisam o componente morfológico da língua: o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. Para as gramáticas tradicionais, este tema é de menor relevância. No entanto, no período de influência do estruturalismo houve um maior interesse, este logo ultrapassado pela teoria gerativista (HOFF, 2014). 22 No Brasil, em meados da década de 1960, até inícios da década de 1970, identificam-se os estágios iniciais da consolidação desse campo, isso com a obrigatoriedade do ensino da linguística nos cursos de Letras. Em sua segunda fase, a disciplina passa a integrar com as demais um campo desenvolvido de pesquisa na graduação e na pós-graduação no país. Trabalhos começam a se destacar, entre eles os do estudioso Mattoso Câmara Júnior (1970, 1971). É em meados da década de 1970 que a morfologia volta a ser legitimada como objeto de estudo na Teoria Gerativa, destacando-se o nome de Noam Chomsky (1970). Neste período de consolidação não poderia ser diferente, como o estudo das estruturas internas da palavra, a morfologia se confronta com dificuldades de definição do seu objeto de estudo. Com o decorrer das pesquisas em torno dessa temática melhores definições são estabelecidas. Passa-sea trabalhar com regras de formação de palavras. A partir dessa interpretação, historicamente, consolida-se o foco na competência linguística. Ou seja, parte-se da possibilidade de pensar não apenas nas formas existentes das formas lexicais, mas potencializar o estudo da ciência linguística a partir da valorização da potencialidade das línguas para a formação do novo, com o objetivo principal de atender as necessidades comunicativas. 3.4 Morfologia vs. Sintaxe Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a classe gramatical a que elas pertencem. As classes gramaticais são: substantivos, 23 artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, preposições, advérbios e numerais. Já a sintaxe estuda a função que as palavras desempenham dentro da oração, isto é: sujeito, adjunto adverbial, objeto direto e indireto, complemento nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros (HOFF, 2014). Quando se trata de análise morfológica, os termos da oração são analisados isoladamente. Já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a sua posição, ou seja, de acordo com a função desempenhada (HOFF, 2014). 24 De acordo com o apresentado pelas gramáticas modernas, você deve considerar que a definição de palavra é uma unidade de som composta por vogais, consoantes, semivogais, sílabas e acentos que compõem enunciados, além de possuírem classificação morfológica. Já a frase trata-se do enunciado em si, com capacidade de comunicar, e é analisada sintaticamente (HOFF, 2014). 3.5 Estrutura morfológica Quanto à estrutura, você precisa conhecer alguns elementos importantes na formação das palavras: 3.5.1 Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra. Considere a palavra “mesinhas”: ▪ mes — elementos básicos da palavra, radical que a identifica. ▪ inh — indica que a palavra está no diminutivo. ▪ a — indica que a palavra é feminina. ▪ s — indica que a palavra é plural. 3.5.2 Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu significado. Considere a palavra “casa”, cujo radical é cas: ▪ casinha ▪ casebre 25 ▪ casarão A partir do radical, você pode constituir várias palavras, acrescentado outros elementos. 3.5.3 Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo). ▪ Desinência nominal — menina, menino, criança, crianças. ▪ Desinência verbal — corri, correu, corremos, correram, correrias, correrá. 3.5.4 Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido. ▪ Atemporal ▪ Contraindicação ▪ Desconfigurado ▪ Refeito 3.5.5 Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um novo significado. ▪ Panfletagem ▪ Casamento ▪ Rinite ▪ Perfeccionismo 26 Fonte: concursosprevistos.com.br 3.6 O que é sintaxe? Sintaxe vem do termo grego syntaxis (ordem, disposição). Tradicionalmente, ela se refere à parte da Gramática que descreve o modo como as palavras são combinadas para compor as sentenças. Essa descrição é organizada sob a forma de regras (FORLI, 2012). A sintaxe trata das relações que as unidades contraem no enunciado. Seu ponto de partida é a combinação de formas livres, que segue dois princípios: a sucessão e a linearidade — ou seja, as unidades se sucedem umas após as outras numa linha temporal. Por exemplo, você só pode explicar a expressão “a menina afaga o seu cachorro” por meio de uma sucessão linear de unidades: a + menina + afaga + seu + cachorro. Você pode perceber que, em português, há uma sequenciação possível: menina + afagar + seu + bichinho + de + estimação, que leva à realização “a menina afaga seu bichinho de estimação”, e não “estimação seu afaga bichinho a menina”. Dessa forma, a própria língua apresenta elementos possíveis a fim de alterar a ordem estrutural. Ou seja, a sua capacidade como falante já é suficiente para que você tenha algumas informações a respeito da estrutura sintática. Ao falar, você automaticamente faz essa relação de ordem das palavras, pois apenas assim será compreendido. O caráter básico da sintaxe é a relação, que resulta na subordinação de um termo a outro. Com isso, temos a hierarquização dos constituintes oracionais. Entretanto, a ordem linear, ou sucessão real, dos elementos na sequência falada não 27 precisa necessariamente coincidir com a sequência determinada por regras de dependência e hierarquização (FORLI, 2012). Por ser um dos componentes básicos da linguagem, a sintaxe tem por objetivo principal fazer certos conteúdos semânticos serem veiculados por meio de sequências. Por isso, os tipos de elementos utilizados para estruturar as sequências e dos quais resultam graus diferentes de coesão entre os constituintes variam muito de língua para língua, mas o esquema e o mecanismo de estruturação do enunciado são constantes. 3.6.1 Análise sintática A análise sintática é o método que você deve utilizar quando quiser compreender a estrutura de uma oração. Para utilizar este recurso de análise, você precisa conhecer os termos da oração e a função sintática exercida por cada um deles. De forma geral, você pode identificar os termos da oração em dois grupos: um contendo os termos essenciais ou fundamentais, que são o sujeito e o predicado; outro contendo os termos integrantes, que são o complemento verbal, o complemento nominal e o agente da passiva, e os termos acessórios, que conhecemos por adjunto adverbial, adjunto adnominal e aposto (FORLI, 2012). Relembre a função dos termos essenciais na oração: A menina bonita afaga seu bichinho de estimação. ▪ Sujeito: a menina ▪ Predicado: afaga seu animal de estimação Ainda nessa frase, você pode identificar alguns termos integrantes, veja: ▪ Núcleo do sujeito: menina ▪ Adjunto adnominal: bonita ▪ Núcleo do predicado verbal: afaga ▪ Complemento verbal (objeto direto): animal de estimação ▪ Adjunto adnominal: de estimação 28 Fazer a análise sintática de uma oração significa separar cada um de seus elementos e classificar de acordo com suas características. A compreensão dessa estrutura da frase vai ajudar você a escrever e pontuar corretamente. 3.7 Procedimentos de análise sintática no nível oracional Um conjunto de palavras não é uma frase. Para ser frase, qualquer construção precisa ter alguns princípios da língua. Esses princípios são percebidos por qualquer usuário, mesmo por aquele com pouca escolaridade. Uma frase precisa, necessariamente, ter significado. Exemplos: ▪ Pare! Socorro! ▪ Silêncio! ▪ As produções textuais estavam adequadas ao tema exigido. ▪ Exigido textuais as tema ao produções estavam. Você percebe claramente que a última construção não pode ser considerada uma frase, pois ela não tem alguns princípios da língua, nem comunica significado algum. Já as construções anteriores comunicam uma ideia; logo, formam uma frase. Você conclui, então, que não basta agrupar palavras para ter uma frase: é necessário que esse agrupamento, esse conjunto, tenha significado para alguém. Você pode dizer que uma oração é uma frase verbal, ou que ela é parte de uma frase que obrigatoriamente contém um verbo expresso ou subtendido. Dessa forma, a oração é diferente da frase por apresentar uma exigência: a presença de um verbo. É em torno do verbo que os outros termos da oração se estruturam. Exemplos: ▪ Socorro! Boa tarde, queridos alunos! ▪ O livro que você me emprestou deixou a desejar. ▪ Paula toca piano, e seu namorado, violão. Nos dois primeiros exemplos, você tem somente frase, pois não há presença de estrutura verbal. Já nos dois seguintes há frase verbal e, portanto, oração,pois os termos estão estruturados em torno de um verbo. 29 As frases que não são orações — ou seja, que não têm verbo — não apresentam estrutura sintática. Isso quer dizer que elas não permitem fazer a análise sintática. Já as orações — em que as palavras (os termos) estão relacionadas entre si —, elas sim constituem o que chamamos de termos sintáticos. Veja, então, quais termos da oração formam uma oração (BARBOSA, 2011). 3.7.1 Termos da oração Os termos da oração são os elementos sintáticos da oração, formados por uma palavra ou um agrupamento — conjunto de palavras que desempenham uma determinada função sintática. Na maioria das gramáticas e manuais de análise sintática, os termos da oração são enumerados desta maneira (BARBOSA, 2011): Termos essenciais Os termos essenciais são aqueles que compõem a estrutura básica de uma oração. Veja a definição e exemplificação de todos esses termos. Sujeito: pode-se representar por diversas classes de palavras e seu papel em uma oração é identificar o responsável pela ação. O sujeito pode ser classificado conforme a seguir. Sujeito simples: caso em que há apenas um núcleo, ou seja, o verbo se refere a somente um substantivo, um pronome, um numeral, uma só palavra substantivada ou uma só oração substantivada. ▪ O gato estava com fome. ▪ Ele passou a roupa toda. ▪ Todos saíram da reunião. ▪ Os quatro colegas compraram os ingressos. ▪ O desapegar é importante nos dias de hoje. 30 Sujeito composto: caso em que há mais de um núcleo, isto é, o sujeito é composto por mais de um substantivo, um pronome, uma palavra substantivada, uma oração substantiva. ▪ O pai e a mãe superprotegiam o filho. ▪ Ela e eu subimos o morro. Sujeito oculto: não está expresso na oração, mas pode ser identificado. ▪ Estávamos esperando por este dia. (nós) ▪ Terminei minhas tarefas. (eu) Sujeito indeterminado: caso em que se desconhece quem executa a ação da oração. ▪ Comia-se bem naquela casa. Predicado: restante da oração (excluindo o sujeito). Pode ser verbal, nominal ou verbo-nominal. Predicado verbal: tem como núcleo principal o verbo. Exemplos: ▪ Eu fiz minha lição. ▪ Corremos a manhã toda. Predicado nominal: tem um nome como núcleo e é composto por um verbo de ligação e um predicativo. Exemplos: ▪ Ela está animada. (Está = verbo de ligação, animada = predicativo do sujeito) ▪ Julia é inteligente. (É = verbo de ligação, inteligente = predicativo do sujeito) 31 Predicado verbonominal: possui dois núcleos, um verbo e um nome, pode ter um predicativo do sujeito ou do objeto e indicar ação do sujeito e também uma característica. Exemplos: ▪ As mulheres deixaram o salão irritadas. ▪ Eles assistiram à peça emocionados. Predicativo: termo na oração que indica uma característica do sujeito ou do objeto. Exemplos: ▪ Murilo está triste. ▪ Os professores julgaram adequado o reforço das aulas. Termos integrantes Os termos integrantes são os que se agrupam a determinadas estruturas, para tornar essas estruturas mais completas. Acompanhe as explicações e os exemplos a seguir. Complemento verbal: composto pelos objetos direto e indireto. Objeto direto: complemento de um verbo transitivo direto, que não precisa de preposição. Exemplos: ▪ Recebeu o pagamento atrasado. ▪ Ela ganhou belos presentes. Objeto indireto: complemento de um verbo transitivo indireto, que precisa de uma preposição para ligar-se ao verbo. Exemplos: ▪ Necessitava de auxílio para as tarefas. ▪ Nunca doou nada aos pobres. 32 Complemento nominal: termo que está ligado, por preposição ou substantivo, ao adjetivo ou advérbio. Exemplos: ▪ Não aguentava mais a demora do ônibus. ▪ Recebeu notícias dela. Agente da passiva: termo da oração que pratica a ação determinada pelo verbo, em geral é introduzido por uma preposição. Exemplos: ▪ O e-mail foi escrito pela contadora da empresa. ▪ A nova determinação era conhecida por todos. Termos acessórios Os termos acessórios são aqueles que vão acompanhar substantivos, pronomes ou verbos, informando alguma característica ou circunstância. Adjunto adverbial: termo da oração que indica uma circunstância (tempo, lugar, modo, causa, finalidade). Exemplos: ▪ Ela teve uma ideia brilhante. ▪ João não reagiu bem com a situação. Adjunto adnominal: termo que qualifica ou especifica um substantivo, independentemente de sua função na oração. Exemplos: ▪ O menino bonito jogava bola com o irmão. ▪ Arthur e João eram amigos de infância. Aposto: termo da oração que oferece uma explicação referente a um substantivo, pronome, entre outros. Exemplo: 33 ▪ Os professores, atenciosos e dedicados, organizaram a feira de ciências. Vocativo: termo de entonação exclamativa, relacionado com o sujeito, uma forma de chamamento. Exemplos: ▪ Joana, não grite! ▪ Crianças, venham almoçar! 3.7.2 Tipos de oração Os termos da oração que você acabou de conhecer são os termos sintáticos, que fazem parte do que você chama de análise sintática interna — ou seja, são os termos internos que estão sendo analisados. Contudo, existe também a análise sintática externa, que faz a análise das orações. Os tipos de orações que você encontrará na análise sintática externa são os seguintes. ▪ Orações coordenadas: podem ser aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. ▪ Orações subordinadas substantivas: podem ser subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas, predicativas, completivas nominais, apositivas. ▪ Orações subordinadas adjetivas: podem ser restritivas e explicativas. ▪ Orações subordinadas adverbiais: podem ser causais, conformativas, temporais, concessivas, finais, consecutivas, condicionais, comparativas. 3.7.3 Período Você pode denominar que um período é formado por uma ou mais orações. Mas frase e período não são a mesma coisa. Um período deve ser constituído por pelo menos uma oração. Só que nem toda frase é uma oração; logo, nem toda frase 34 pode ser considerada um período. Você pode classificar o período em simples ou composto. O período simples é formado por uma única oração. O período composto é formado por duas ou mais orações. Exemplos: ▪ O teatro estava lotado. → apenas um verbo ▪ O teatro estava lotado e as pessoas aplaudiram com entusiasmo o espetáculo. → dois verbos 4 CLASSES DE PALAVRAS E FUNÇÕES SINTÁTICAS Com a leitura deste capítulo, você vai compreender cada vez mais a morfossintaxe. Você vai conhecer alguns aspectos referentes às classes de palavras, sobretudo no contexto da predicação nominal e dos complementos nominais. Os objetivos estão centrados na determinação da relação entre as classes de palavras e suas funções sintáticas; no estabelecimento da relação entre morfologia e sintaxe e também na análise da construção dos elementos que compõem o predicado nominal e seus papéis temáticos na estruturação dos textos em língua portuguesa. Fonte: https://www.cidadaocultura.com.br/ As classes de palavras, também denominadas categorias lexicais, são elementos que pertencem ao léxico. Dessa forma, em língua portuguesa, são encontradas dez diferentes classes de palavras. São elas: 35 ▪ Substantivo ▪ Adjetivo ▪ Artigo ▪ Pronome ▪ Numeral ▪ Verbo ▪ Advérbio ▪ Preposição ▪ Conjunção ▪ Interjeição A classe de palavras denominada substantivo, por exemplo, é definida desta forma por sua propriedade semântica de designar seres ou entidades. Pela sua propriedade morfológica, apresenta determinação de flexão de gênero e número e pela propriedade sintática ocupa o núcleo do sujeito e complementos. Portanto, cada uma das categorias lexicaisé denominada de acordo com os três critérios: morfológico, semântico e sintático. Nesta análise, vamos nos valer do critério sintático para a caracterização das dez classes gramaticais. Logo, o substantivo é um termo determinado e ocupa o núcleo de uma expressão, ou seja, é sintagma nominal. Os adjetivos, como segunda classe lexical, é composta de termos determinantes, ou seja, é representada por termos que qualificam o substantivo a que fazem referência, portanto, concordam em gênero e número com ele (CASTRO, 2011). Substantivo: termo determinado com posição de núcleo (N) de uma expressão (sintagma nominal). Exemplo: A bola (N) caiu. Adjetivo: termo determinante do substantivo a que se refere; termos, estes, que qualificam o substantivo e concordam em gênero e número com N. Exemplo: A pequena (adjetivo feminino singular que determina o substantivo feminino bola) bola caiu. 36 A terceira classe de palavras engloba outros termos determinantes, são eles os artigos. Estes determinam ou indeterminam o substantivo (N) a que se referem. Esta classe de palavras também concorda em gênero e número com o núcleo do sintagma nominal. Em seguida, temos os pronomes, como quarta classe de palavras. Estes itens especificam o substantivo, e nesta situação são determinantes, ou substituem o substantivo, nesta situação passam a ser termos determinados (BECHARA, 2005). Artigo: termo (in) determinante do substantivo; concorda em gênero e número. Exemplo: A (artigo feminino singular, determina o substantivo feminino bola) bola (N) caiu. Pronome: termo determinante do substantivo a que se refere; termo, este, que qualifica o substantivo e concorda em gênero e número com N. Exemplo: A minha (pronome feminino singular que determina o substantivo feminino bola) pequena bola caiu. Pode substituir o substantivo. Exemplo: Ela caiu. Os verbos como classe de palavras, do ponto de vista sintático, são predicadores que selecionam e relacionam os termos da oração. Mas, podem ser, também, de ligação, e expressar noções gramaticais de tempo, modo, aspecto número e pessoa. Dessa forma, junto com o nome, compõem a predicação. Após os verbos, temos o advérbio como sétima classe lexical. Como termos determinantes, os advérbios especificam a significação do termo a que se referem (BECHARA, 2005). Verbo: predicadores (selecionam e relacionam os termos da oração) ou de ligação (expressam noções gramaticais). Exemplos: (1) A bola quebrou (verbo predicador) o vidro. (2) A bola é (verbo de ligação) pesada. Advérbio: termo determinante do substantivo a que se refere; este tipo de classe, especifica a significação do termo a que se refere. Exemplo: A bola furou ontem (noção de tempo para o verbo furar). 37 A preposição, como classe de palavras, é identificada pela sua característica sintática de conexão dos elementos da oração, subordinando-os. A conjunção também conecta termos, mas pode subordinar ou coordenar elementos. Já a classe lexical composta pelas interjeições tem função sintática de frase, pois apresenta sentido completo (BECHARA, 2005). Preposição: conecta e subordina elementos da oração. Exemplo: A bola da Joana furou. (Preposição de mais artigo a = da, preposição que subordina o elemento bola à Joana). Conjunção: responsável por conectar termos, mas pode subordinar ou coordenar os elementos. Exemplos: Ela perdeu a bola porque foi desatenta. (Conjunção subordinativa adverbial causal; logo, a causa de perder a bola foi a desatenção) Julia gosta de jogar bola, mas também de ler. (Conjunção coordenativa: Julia gosta de jogar bola/Julia gosta de ler; logo, conjunção coordenativa aditiva). Interjeição: estes termos apresentam sentido completo, logo, têm função sintática de frase. Exemplo: Puxa! A bola furou! (Puxa = interjeição que sintetiza uma frase exclamativa). Conforme você pode identificar, as classes de palavras em língua portuguesa são representadas por dez grupos específicos. Cada um deles apresenta determinada classificação conforme critérios semânticos, morfológicos e sintáticos. Nesta etapa de leitura, o estudo está concentrado na análise sintática das classes lexicais. Certo? Com relação às funções sintáticas desempenhadas pelas diferentes classes gramaticais temos algumas definições. Os substantivos exercem por excelência a função de sujeito (ou núcleo do sujeito) da oração e, no domínio da constituição do predicado, podem exercer função de objeto direto, complemento relativo, objeto indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial. Os adjetivos, como classe de palavras que se relaciona diretamente com os substantivos, podem desempenhar função sintática de adjunto adnominal ou de predicativo. Como predicativo ele é necessário para completar o sentido da oração (CASTRO, 2011). Observe: 38 ▪ O dia está bonito. (O dia está. Neste caso, o adjetivo funciona como predicativo, completa o sentido da oração e qualifica o substantivo dia.) ▪ O dia belo começava com o raiar no horizonte. (Neste caso, o adjetivo desempenha função sintática de adjunto adnominal, não sendo um termo necessário — O dia começava com o raiar no horizonte — e qualifica o substantivo dia.) Os artigos, como terceira classe de palavras, conforme ordem de apresentação neste material, são termos que sintaticamente desempenham função de adjunto adnominal, uma vez que sempre se referem a um substantivo — ou a uma palavra por ele substantivada — e indicam seu gênero e seu número (CASTRO, 2011). Exemplo: Ninguém entendeu o porquê dessa fúria. Os pronomes, como classe de palavras que reúne termos que especificam e que substituem o substantivo, podem desempenhar diversas funções quando estabelecidas relações sintáticas entre os elementos que compõem as orações. Entre elas, podem desempenhar papel de sujeito (CASTRO, 2011). Por exemplo, em uma estrutura como: Eles chegaram cedo. Mas o pronome também pode ser classificado sintaticamente como objeto indireto. Exemplo: Não fale nada para ele. E também como predicativo do sujeito: As culpadas foram elas. Em tempo: os pronomes podem desempenhar função sintática de adjunto adnominal. Exemplo: Muitos viajantes desistiram da viagem por causa do preço do dólar. Com relação aos numerais, é preciso observar, primeiramente, se eles estão substituindo ou acompanhando o substantivo. Nas orações em que o numeral é substantivo, ele pode desempenhar as mesmas funções do substantivo. Logo, pode ser sujeito, objeto direto, complemento relativo, objeto indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial (CASTRO, 2011). Nesta primeira situação, temos o seguinte exemplo de numeral substantivo: Um é pouco e três é demais. Agora, o numeral adjetivo, como aquele que acompanha um substantivo, a função sintática possível é de adjunto adnominal. Neste segundo caso, temos o exemplo: Duas pessoas compareceram à aula. 39 Os verbos, como uma extensa classe de palavras, desempenham função sintática de núcleo do predicado verbal. Todas as orações são organizadas em torno de um verbo (ou ausência de um) ou de uma locução verbal e o verbo sempre faz parte do predicado. Logo, os verbos desempenham função sintática de núcleo do predicado verbal. Nos casos dos verbos de ligação eles não desempenham papel de núcleo do predicado. Neste caso, eles ligam dois elementos da oração: o sujeito e o seu predicativo. Advérbio desempenha na oração papel de adjunto adverbial. Estes termos são de natureza nominal ou pronominal e se referem ao verbo, ou ainda, dentro de um grupo nominal unitário, a um adjetivo ou um outro advérbio (nesse caso como intensificador). Exemplo: (1) Maria é muito boa escritora. (O advérbio refere-se ao adjetivo boa). (2) Maria escreve muito bem. (O advérbio refere-se ao advérbio bem). A preposição não desempenha papelsintático nas orações. Elas estabelecem conexão entre elementos (próximo do descrito anteriormente para os verbos de ligação). É por este fato que são classificadas como conectivas ou palavras relacionais. Mas lembre-se de que as preposições são fundamentais para a coesão textual. Além dessas, as conjunções também desempenham papel de elementos de ligação. Nesse caso, a morfossintaxe da língua identifica as conjunções como conectivos (CASTRO, 2011). A última classe de palavras, ou seja, a das interjeições, faz o fechamento desta etapa da leitura. Esse grupo lexical abrange as expressões com que os indivíduos traduzem os seus estados emotivos. As interjeições têm existência autônoma e, a rigor, constituem verdadeiras orações. Elas podem assumir papel de unidades interrogativas-exclamativas e também de chamamento, desempenhando, neste caso, papel de vocativo. 4.1 Relação entre morfologia e sintaxe Conforme vimos até o momento, a análise desenvolvida para a interpretação das possíveis funções sintáticas das classes de palavras está diretamente relacionada com a análise sintática e morfológica dos elementos que compõem a língua portuguesa. Apenas é possível delimitar a função sintática das palavras, a partir da relação que elas estabelecem com os outros termos da oração. 40 À morfologia cabe o estudo da estrutura, da formação e da classificação das palavras. Neste campo de estudo, olhamos para as palavras de forma isolada. É no contexto da morfologia que identificamos as dez classes de palavras, os seus respectivos integrantes e as suas especificidades (ROCHA, 1998). À sintaxe, por sua vez, investiga a disposição das palavras que compõem as frases e as orações. Ou seja, na relação entre os elementos (relações sintáticas) podemos identificar diferentes funções sintáticas para uma mesma classe gramatical. É por este caráter de análise relacional que um substantivo pode desempenhar função de sujeito e em outra situação pode ser classificado sintaticamente como objeto direto. Logo, a relação entre morfologia e sintaxe é denominada morfossintaxe, ou seja, neste contexto, analisamos as palavras e identificamos as classes as quais elas pertencem (substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição), mas, uma vez complementada pela análise sintática, os elementos das classes de palavras podem ser: sujeito, predicado, objeto direto, objeto indireto, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, complemento nominal, agente da passiva, adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto (CASTRO, 2011). Dessa forma, é na análise simultânea que podemos delimitar as funções sintáticas das classes gramaticais. Morfologicamente, as classes são estáticas, mas sintaticamente se movimentam e um mesmo elemento pode desempenhar diferentes funções. 41 5 SINTAXE E SEMÂNTICA A linguagem é um sistema de signos simbólicos que expressa ideias e sentimentos, e para que haja compreensão entre as pessoas, seus discursos têm que estar semanticamente coerentes. Neste texto, você vai aprender que a semântica prevê a relação mundo-discurso a partir da articulação das palavras com os significados que elas veiculam, bem como a partir das relações que as palavras estabelecem entre si na linearidade do discurso. Fonte: www.stoodi.com.br A sintaxe está relacionada com os aspectos superficiais da linguagem, como estrutura e forma. Ela funciona como um conjunto de regras de combinação para formar palavras, frases e orações. Já a semântica está relacionada com o significado dessas construções sintáticas. Podemos conhecer a estrutura de uma palavra isoladamente, porém é por meio da semântica que entenderemos o seu sentido (BARBOSA, 2010). Por exemplo: Alea jacta est. Essa frase significa “A sorte está lançada”. Esse exemplo mostra que, mesmo você conhecendo a estrutura das palavras e sendo capaz de pronunciá-las, como você não conhece a semântica (ou seja, o seu significado), esse enunciado não faz o mínimo sentido para você. De acordo com a convivência com linguagens tidas como “diferentes” ao nosso léxico, você passa a compreendê-las de maneira mais simples, pois, à medida que o tempo passa, a sintaxe e a semântica vão se articulando de maneira automática em sua mente. 42 Perceba também que, para entender o significado dessa frase, você precisou ir além do sentido literal de cada palavra, não é mesmo? A sorte não é um objeto e não pode ser lançada para algum lugar. Você compreendeu que alguém está dependendo da sorte por experiência pessoal. Veja mais um exemplo: 1. O campeão venceu novamente. 2. A bola venceu novamente. Por mais que a estrutura sintática da frase (2) esteja adequada (sujeito = a bola, predicado verbal = venceu novamente), ela não tem sentido. Você sabe que a bola é um objeto inanimado, logo, não pode efetuar nenhuma ação. A força da “coerência semântica” é tão importante que, mesmo que a organização sintática esteja alterada, a frase ou enunciado ainda possuirá sentido. Para compreender melhor essa afirmação, veja mais um exemplo: Quando 900 anos de idade você atingir, parecer tão bem você não vai. Apesar de a estrutura estar alterada, o falante/ouvinte pode compreender perfeitamente o seu enunciado. Porém, se a estrutura sintática for perfeita e a sua semântica apresentar defeitos, o ato de comunicação é considerado um fracasso (BARBOSA, 2010). Por exemplo: Ideias verdes incolores dormem furiosamente. Além disso, se a estrutura de uma oração for reorganizada, podemos obter um novo enunciado com sentido totalmente diferente, como observado nos seguintes exemplos: (1) Os grevistas pensam que o patrão não percebeu. (2) O patrão sabe que os grevistas não perceberam. Às vezes, as falhas na estrutura podem originar grandes falhas de entendimento (significado semântico), como nos casos de estruturas ambíguas, nas quais, em geral, a pontuação é definitiva para o entendimento adequado. Veja os exemplos: ▪ Não quero saber! ▪ Não, quero saber. ▪ Vamos perder, nada está resolvido. ▪ Vamos perder nada, está resolvido. 43 A complexidade da linguagem humana não se reduz somente a regras lógicas, pois o discurso pode ser analisado segundo diferentes perspectivas. Você pode analisá-lo do ponto de vista da sua estrutura, por exemplo. Nesse caso, é a sintaxe que analisa as relações entre os signos, independentemente do que eles designam. Um conjunto de letras escritas ao acaso não pode ser considerado uma palavra, como você pode perceber em “aiu”. Para que se torne uma palavra da língua portuguesa, as letras terão de ser estruturadas conforme certa ordem: “joia”. Da mesma forma, uma série de palavras só se constrói como uma estrutura frasal quando as palavras se relacionam de certa maneira, desempenhando, cada uma delas, diferentes funções. As palavras “a”, “está”, “sorte” e “lançada” só representam uma estrutura frasal se apresentarem-se na posição “A sorte está lançada” (BARBOSA, 2010). Nessa mesma reflexão, o discurso exige uma sequência de enunciados que se relacionam entre si de acordo com determinada ordem, obedecendo a regras, estabelecendo-as e analisando-as. Todo esse movimento articulatório é objeto da sintaxe. Por isso, a sintaxe é denominada análise de regras que regem o encandeamento dos signos no interior dos diversos atos de fala ou de discurso. A conexão sintática entre os enunciados é garantida por uma série de termos de ligação. Sem eles, não seria possível relacionar proposições diferentes, mas somente construir proposições isoladas, como “o filme foi surpreendente” ou “o filme é bom porque aborda assuntos importantes”. Para ter proposições e assim construir um discurso, você precisa usar determinados signos – como “e” e “ou”, entre outros – que concedem ao discursoa sua estrutura. Assim, a sintaxe lógica é o estudo das relações entre os signos e as proposições, abstraindo do seu significado; por isso, ela é a teoria da construção de toda a linguagem lógica. Ela trata da determinação das regras que consentem combinar os símbolos elementares de modo a construir proposições adequadas. A análise sintática, ao lado da semântica e da pragmática, corresponde a outro momento de investigação dos signos linguísticos, em que o foco de observação é sua relação com os demais que integram o sistema. Dessa forma, o conceito por meio da análise semântica desloca a investigação linguística para a relação formal com os demais integrantes do sistema; nesse ponto em particular, as regras de sintaxe são representadas, sobretudo, pela gramática (BARBOSA, 2010). 44 Isso acontece porque esses signos linguísticos não são utilizados sem a reflexão do falante. As regras convencionalmente estabelecidas devem ser obedecidas a fim de que, ordenadas, seja possível não só ao falante produzir sua mensagem, como também ao ouvinte decodificar e apreender seu conteúdo. Veja um exemplo na tirinha a seguir: O caráter de coloquialidade se expressa pelo uso da forma verbal composta no pretérito imperfeito do modo indicativo (tinha consertado). De acordo com a norma padrão da língua, dado o tom hipotético da oração, deveria ser utilizado o imperfeito do modo subjuntivo, tendo então “Pensei que você tivesse consertado” (ENEM, 2009). Sendo assim, a análise sintática no trabalho da interpretação tem seu campo restrito à relação dos signos entre si, uma vez que não se preocupa com o significado. Ela se situa apenas no plano estrutural do sistema de linguagem. A expressão oral é feita pela escrita, as regras a serem observadas são as originadas da gramática. Por meio da investigação, você procura verificar se os termos foram corretamente empregados dentro de uma proposição em nível de concordância entre sujeitos, objetos, predicado, advérbios, e assim por diante, de acordo com as regras em vigor para o idioma nacional. Você pode perceber, portanto, que a semântica depende da sintaxe. O emprego inadequado dos termos não só é um equívoco estético, como também pode impossibilitar a adequada interpretação do texto, distanciando o falante, involuntariamente, do sentido da mensagem que pretende transmitir. 45 5.1 Semântica Até aqui, você analisou a relação dos signos (significado + significante) – ou melhor, das palavras com os seus referentes (os objetos por eles designados) ou com outros signos com idêntico ou distinto significado. Agora, você vai estudar os problemas postos pela interpretação do significado dos signos, o estudo denominado semântica. A semântica trata da significação ou do valor de verdade e/ou falsidade das proposições (BARBOSA, 2010). A fim de entender o que o falante quer dizer, você deve conhecer o contexto da enunciação; em outras palavras, precisa conhecer quem disse, em que circunstâncias disse e com qual intenção disse. Para você entender o que um colega comunica em uma conversa, o que o médico fala em uma consulta ou o que um cronista escreve em um artigo de jornal, não basta dominar o código. O domínio da língua é fundamental, mas não é o bastante para você compreender a mensagem produzida pelo falante naquele momento, naquele contexto. Os sujeitos que participam no momento da comunicação empregam o significado do que é falado. Tal significado depende de alguns fatores, como a experiência que a pessoa tem e o modo como as expressões são usadas (BARBOSA, 2010). 5.2 Relações semânticas entre as palavras Como já mencionado, a semântica trata da significação, ou seja, do sentido das palavras agrupadas em uma oração. Quanto ao aspecto semântico da língua, é importante que você conheça especificações desse tipo de avaliação. Acompanhe. Sinonímia 46 A sinonímia é o termo usado para designar palavras que representam a mesma ideia, ou seja, palavras sinônimas. ▪ A casa em que moro é muito aconchegante. ▪ Meu lar é bastante agradável. Perceba que o substantivo “casa” pode ser substituído por “lar” sem que haja perda de sentido ou que o interlocutor perca a ideia transmitida pela frase. O mesmo ocorre com os advérbios “muito” e “bastante” e os adjetivos “aconchegante” e “agradável”. Antonímia A antonímia trata exatamente do oposto da sinonímia, ou seja, é o termo utilizado para designar palavras com sentidos contrários. ▪ Ela administra bem suas finanças e economiza muito dinheiro. ▪ Ela administra mal suas finanças e gasta muito dinheiro. Nessas frases, você pode perceber o sentido de contrariedade nos advérbios “bem” e “mal” e nos verbos “economizar” e “gastar”. Metonímia A metonímia trata da substituição de um termo por outro com sentido semelhante, que fornece a mesma ideia, mas que não tem exatamente o mesmo significado, se posto fora de contexto, por exemplo. 47 ▪ Gosto de Chico Buarque. Aqui, você vê a substituição da obra pela pessoa que a produz. Você consegue entender que ao dizer “gosto de Chico Buarque” não estou me referindo à pessoa, mas à obra produzida por ela. ▪ Usei Bombril para deixar as panelas brilhando. Nesse caso, foi trocado o produto pela marca. Em determinado contexto, país em que se vive, por exemplo, esse tipo de substituição fará sentido, mas talvez em outro não. Lembre-se de que a metonímia só fará sentindo para o interlocutor se ela estiver adequada à realidade e contexto social dele. 6 PALAVRAS E SINTAGMAS Vamos tratar do léxico da língua portuguesa, com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre as características e as propriedades de cada palavra. Observaremos o conjunto arbitrário de palavras e conheceremos a relação que se estabelece entre palavras e sintagmas, analisando o que isso significa para o funcionamento da língua portuguesa. Os objetivos do capítulo estão centrados na descrição dos itens lexicais e nos aspectos que eles englobam na análise morfossintática; na demonstração dos mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em classes; e, por último, no exame das características do sintagma nominal e do sintagma verbal. Fonte: https://conceitos.com/ 48 6.1 Itens lexicais na análise morfossintática Segundo Basílio (2004), o léxico apresenta certo teor de regularidade e é elemento fundamental da organização linguística da língua, seja do ponto de vista semântico ou gramatical. O conhecimento lexical permite analisar certas estruturas da língua, seja em uma abordagem textual ou mesmo estilística. O que ocorre é que os diferentes processos de derivação, de mudança e de extensão das classes das palavras são traduzidos em estruturas morfológicas lexicais. É por essa característica que se destaca a relevância do conhecimento dos itens lexicais e de seus aspectos no contexto da análise morfossintática. Primeiramente, é preciso saber que existe uma vasta possibilidade de nomenclatura. De acordo com diferentes estudiosos, é possível encontrar semelhanças e diferenças na classificação das palavras, dos vocábulos, dos lexemas, das unidades ou itens lexicais. Neste capítulo, o foco se manterá na compreensão da palavra, dos itens lexicais e dos sintagmas. Vamos iniciar com os itens lexicais. Você sabe o que é um item lexical? A língua existe para que possamos nos comunicar. Logo, é necessário identificar as coisas sobre as quais queremos falar. Assim, é possível designar pessoas, lugares, objetos, etc. Identificamos a língua como um sistema de classificação e de comunicação. Nesse contexto, o papel do léxico apresenta dupla função para língua: ele é um banco de dados com uma classificação prévia que fornece unidades básicas para que o falante construa enunciados (BASÍLIO,
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