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Jornalismo Impresso Aula 3: Critérios de Noticiabilidade Apresentação A seleção e hierarquização de acontecimentos que podem se transformar em notícia é uma das principais funções do jornalista. A escolha do que será noticiado é realizada com base em ângulos e classi�cações, os quais determinam a importância da informação ou fato. É um modo de atribuir valor aos acontecimentos. Nesta aula, vamos conhecer esses critérios que de�nem se um determinado fato ou acontecimento pode ser noticiado nos mais diversos meios de comunicação, destacando alguns conceitos e entendimentos fundamentais que todo pro�ssional do jornalismo precisa saber. A nossa meta é abordar os critérios de noticiabilidade a partir da empregabilidade dos seus conceitos na produção jornalística, partindo da compreensão de cada um deles e como se estruturam como instrumentos que devem nortear as escolhas do que vai tornar-se notícia ou não, seja pelos pro�ssionais ou empresas de comunicação. Objetivo Identi�car os critérios de noticiabilidade e sua empregabilidade na produção jornalística; De�nir alguns conceitos chaves acerca do valor-notícia e agendamento. Primeiras palavras Na aula anterior aprendemos a distinguir a informação da notícia. Fizemos uma breve análise histórica a respeito das fases do jornalismo e como, de fato, se estabeleceram as técnicas de apuração da notícia, principalmente no tratamento da informação. Essas observações foram importantes justamente para nos atentarmos à organização e apuração de informações na produção do que vai ser noticiado. Diante disso, é importante nos perguntarmos: o que torna um fato e/ou informação em uma notícia? Todos os acontecidos devem virar notícia? Há algum padrão para a escolha e seleção dos fatos noticiosos? Ou simplesmente é o jornal que escolhe o que quiser publicar? Se voltarmos à aula anterior, muitos de vocês provavelmente diriam que essas escolhas têm a ver com a noção de jornalismo publicista e sensacionalista, já que muitos veículos de comunicação da contemporaneidade têm trabalhado sob um viés capitalista, buscando apenas vender suas notícias. Mesmo se considerarmos que isso é possível e mais frequente do que imaginamos, não basta para justi�car a seleção e a hierarquização dos acontecimentos que acabam se tornando importantes para serem noticiados. É sobre isso que vamos trabalhar nesta aula. Fonte: Freepik. Noticiabilidade O jornalista e pesquisador Nelson Traquina (1999) de�ne noticiabilidade como um conjunto critérios que julgam se determinado fato/acontecimento merece receber o tratamento jornalístico ou se possui valor como notícia. Agora chegamos exatamente no ponto da nossa observação inicial. Uma notícia ganha valor porque ela precisa ter interesse do público, caso contrário não é lida e nem vendida. Conseguiu compreender? Bom, continuemos... Todo pro�ssional do jornalismo tem a responsabilidade de saber o que deve ser ou não considerado como notícia. Se considerarmos que o jornalista é um contador de histórias, logo, ele precisa ser bom na escolha das histórias que deve contar, sejam elas do seu bairro, da sua cidade, do seu estado, do país ou do mundo. Para alguns(as) autores(as), os critérios de noticiabilidade envolvem alguns aspectos pro�ssionais e mercadológicos que acabam in�uenciando as opções editoriais dos veículos de comunicação. É, portanto, nessa escolha que são levados em consideração alguns apontamentos importantes para entender o que de fato é de interesse do público e o que será bem visto e consumido. Os jornalistas ou “pro�ssionais da notícia” atuam como porteiros da informação, deixando passar algumas e barrando outras, na medida em que escolhem o que é notícia e o que não é. Esse pro�ssional nós chamamos de gatekeeper. O gatekeeper é o pro�ssional que de�ne o que será notícia de acordo com os critérios de noticiabilidade e a linha editorial do jornal em que trabalha. Você já deve ter ouvido diversas vezes que o Jornalismo é a arte de fazer escolhas. Mesmo que os critérios de noticiabilidade sejam aplicados pelo jornalista, às vezes, isso acontece inconscientemente. No momento em que se avalia acontecimentos, o jornalista vai identi�car aqueles que têm valor como notícia, pois muitos dos critérios são entendidos como universais, já que não é o pro�ssional que os de�ne. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Os critérios funcionam conjuntamente com todo o processo de produção e difusão das notícias e, por vezes, dependem da forma de organização e articulação de cada veículo de comunicação, da sua hierarquia pro�ssional e da maneira como ela enxerga a realidade, levando em consideração à sua linha editorial. Geralmente, no processo de produção e organização do trabalho, o primeiro �ltro especí�co por parte do jornalista e/ou da empresa de comunicação tem a ver com as características que mais agradam ao público, os leitores do referido jornal. É a partir daí que é levada em consideração como segunda característica a linha editorial. Fonte: Freepik. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Linha editorial do jornal Você sabe o que é linha editorial? Já se perguntou alguma vez sobre o signi�cado deste termo? A linha editorial é a linha política determinada por cada veículo de comunicação ou pela diretoria da empresa. Sua função é organizar e articular a lógica pela qual a empresa jornalística enxerga o mundo, indicando valores e decisões na construção e disseminação das suas mensagens. Digamos que a linha editorial de cada veículo já trabalha como uma espécie de �ltro inicial. Fonte: Recortes realizados nos acervos de cada jornal. É necessário fazer uma separação dos fatos mais relevantes e importantes para determinar quais acontecimentos devem ser publicados ou descartados. Também é importante que não se confunda seleção de notícia com valor-notícia. A seleção de notícia é a hierarquização das informações, e o valor-notícia é o fato e suas características. Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge (1999) foram os primeiros autores a chamarem a atenção para a existência de critérios de noticiabilidade dos acontecimentos. Ambos �zeram uma lista de critérios que in�uenciavam na decisão do jornalista para determinar o valor daquela informação como notícia. São eles: 1. Proximidade Quanto mais próximo (geográ�ca, emocional, culturalmente, por exemplo) ocorrer o fato do público, mais probabilidade dele se tornar notícia. 2. Momento do acontecimento Quanto mais recente, mais chances de se tornar notícia. 3. Signi�cância Quanto mais intenso ou relevante for um acontecimento, quanto mais pessoas estiverem envolvidas ou sofrerem consequências, quanto maior for a sua dimensão, mais probabilidade tem de se tornar notícia. 4. Proeminência social dos sujeitos envolvidos Quanto mais proeminentes forem as pessoas envolvidas num acontecimento, mais hipóteses ele tem de se tornar notícia. 5. Proeminência das nações envolvidas nas notícias Quanto mais proeminentes forem as nações envolvidas num acontecimento internacional, mais probabilidade ele tem de se tornar notícia. 6. Consonância Quanto mais agendável (mais provável de cair na boca do povo) for um acontecimento, quanto mais corresponder às expectativas e quanto mais o seu relato se adaptar ao meio, mais probabilidade tem de se tornar notícia. 7. Imprevisibilidade Quanto mais surpreendente for um acontecimento, mais hipóteses terá de se tornar notícia. 8. Continuidade Os desenvolvimentos de acontecimentos já noticiados têm grandes probabilidades de se tornarem notícia. 9. Negatividade Quanto mais um acontecimento se desvia para a negatividade, mais probabilidade tem de se tornar notícia. 10. Con�ito e controvérsia Quanto mais con�ituoso e controverso for o acontecimento, mais provável que vire notícia. Atenção É importante mencionar que os critérios, por vezes, variam de acordo com o tempo e podem sofrer modi�cações. Hoje, por exemplo, o poder da mídia (aimprensa) de determinar o que a população vai discutir é questionado. A evolução das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), em destaque as redes sociais digitais na internet, muitas vezes, vem determinando a agenda, ou seja, esse poder não está mais somente nas mãos da mídia tradicional. A sociedade civil vem determinando a agenda em suas discussões na rede, e os memes, por exemplo, ganham destaque na sociedade: Fonte: Revista Fórum (2019). Há algumas controvérsias e questionamentos, entretanto. Quem, de fato, de�ne o que vai ser discutido na sociedade? O apontamento a respeito das TICs ainda não é su�ciente para responder essas questões. Maxwell MacCombs e Donald Shaw (2009), na década de 1970, chamaram a atenção para o poder da mídia de determinar a pauta para a opinião pública, ou seja, quando ela destaca a divulgação de determinados temas e ignora outros tantos. Essa é a teoria do agendamento ou simplesmente Agenda Setting. Você já ouviu falar? Em breve resumo acerca da temática, vamos entender o conceito principal desta teoria. Desde já, lançaremos algumas provocações e cabe a você interpretá-las e buscar mais para, de fato, entender melhor como funcionam a escolha do que será abordado pela mídia. Ou, caso contrário, se é o público o responsável pela escolha dos fatos. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A teoria do Agendamento defende que é a mídia quem dita o que iremos falar, já que o público tende a dar mais importância aos assuntos que ganham maior visibilidade nos meios de comunicação. Para chegar a essa conclusão, McCombs e Shaw (2009) realizaram uma pesquisa em 1968, durante a campanha eleitoral presidencial dos Estados Unidos, fazendo uma análise comparativa entre os temas mais relevantes para os eleitores e os mais enfatizados pelos meios de comunicação. A conclusão foi que os temas que ganharam mais exposição na mídia eram semelhantes aos temas que os receptores consideravam importantes. Fonte: Freepik. Atividade 1. Todos os dias as redações dos veículos contemporâneos de imprensa recebem diferentes sugestões de pauta do público. Contudo, a seleção e hierarquização de acontecimentos que podem se transformar em notícia seguem alguns critérios de noticiabilidade no momento em que o veículo de comunicação avalia acontecimentos que têm valor como notícia. Enumere pelo menos três desses critérios e explique suas funções. 2. Sobre os critérios de noticiabilidade, julgue as a�rmativas a seguir com um (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas. a) Apesar dos critérios de noticiabilidade, cabe ao repórter decidir a melhor maneira de enquadrar o assunto para se comunicar com o seu público. b) Imprevisibilidade é um dos critérios de noticiabilidade. Sua função é explicitar que quanto mais surpreendente for um acontecimento, mais hipóteses terá de se tornar notícia; c) Todos os critérios, no processo de produção e a organização do trabalho, só serão levados em consideração se estiverem de acordo com a Linha editorial do veículo. d) Cada veículo de comunicação possui seus próprios critérios para de�nir o valor notícia. e) Diante das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), a escolha do que deve ou não ser noticiado, por vezes, depende do próprio público. 3. Sobre o conceito de noticiabilidade, é correto a�rmar que: a) Cada critério age isoladamente na definição do que será notícia nos veículos de comunicação. b) A noticiabilidade é um conjunto de regras que definem se um fato ou acontecimento pode ser noticiado e não possui nenhuma relação com a linha editorial do meio. c) Na contemporaneidade, os critérios de noticiabilidade não são levados em consideração, visto que agora são as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) que definem o que vai ser noticiado. d) Também são chamados de valor-notícia e se configuram como filtros de escolha cotidiana, diante de um número tão imprevisível quanto indefinido de acontecimentos, do que será noticiado ou não. e) Os critérios de noticiabilidade são indicativos de quanto determinada notícia pode render de retorno comercial para o veículo de comunicação. 4.Julgue as a�rmativas a seguir: i. O pro�ssional da notícia que atua como porteiro da informação é denominado de gatekeeper. ii. Geralmente, o primeiro �ltro especí�co por parte do jornalista e/ou da empresa de comunicação tem a ver com as características que mais agradam ao público. iii. A linha editorial nada mais é que a linha política e sua função é organizar e articular a lógica que sua empresa jornalística enxerga o mundo, indicando valores e decisões na construção e disseminação das suas mensagens. Assinale a alternativa correta: a) apenas as afirmativas I, II estão corretas. b) apenas as afirmativas II e III estão corretas. c) apenas a afirmativa III está correta. d) todas as alternativas estão corretas. e) nenhuma das alternativas estão corretas. 5. Quais foram os primeiros autores a chamarem a atenção para a existência de critérios de noticiabilidade? Quantos critérios foram de�nidos? Todos se aplicam a atualidade? Notas Pictogra�a 1 A palavra pictogra�a é fruto da junção de dois termos gregos pictus = pintado; e grafe = descrição. Terceira Idade 2 Você sabia que o uso da expressão “terceira idade” teve sua origem na França, na década de 1960, com a função de descrever a idade em que a pessoa se aposentava? As fases cronológicas da vida eram categorizadas em três etapas. A primeira idade corresponderia à infância, envolvendo uma ideia de improdutividade, mas com possibilidade de crescimento. A segunda idade seria a vida adulta, etapa produtiva. A terceira idade referia-se a pessoas que continuavam ativas depois da aposentadoria, que, na França, ocorria por volta dos 45 anos. No entanto, com o aumento da expectativa de vida, a expressão “terceira idade” passou a designar a faixa etária intermediária, entre a vida adulta e a velhice. Feeds de notícias 3 O que é um feed de notícias? É um tipo de ferramenta da internet que faz com que não seja preciso correr atrás de determinado site para descobrir quando ele vai atualizar um conteúdo especí�co. Eles vão até os endereços que você mais gosta e trazem até a sua área de trabalho aquele texto, vídeo ou música tão esperados. Servem para manter você conectado com pessoas, locais e assuntos importantes. As publicações que aparecem primeiro são in�uenciadas por suas conexões e atividades no Facebook. São atualizados a partir daquilo que a internet entende ser de seu maior interesse. Fonte: https://www.tecmundo.com.br/rss/252-o-que-sao-feeds-.htm Referências GALTUNG, J.; RUGE, M. H. A estrutura do noticiário estrangeiro – A apresentação das crises do Congo, Cuba e Chipre em quatro jornais estrangeiros. In: TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo: questões, teorias e estórias. 2. ed. Lisboa: Veja, 1999. LAGE, N. Ideologia e Técnica da Notícia. 3. ed. Florianópolis: Insular-Edufsc, 2001. LIPPMAN, W. Opinião Pública. Trad. Jacques A. Waimberg. Petrópolis: Vozes, 2008. MACCOMBS, M. A Teoria da Agenda: a mídia e a opinião pública. Petrópolis: Vozes, 2009. PINTO, A. E. de S. Jornalismo diário: re�exões, recomendações, dicas, exercícios. São Paulo: Publifolha, 2009. SHOEMAKER, P. J. Gatekeeping: Communication concepts 3. Newbury Park: SAGE, 1991. SOUSA, J. P. Elementos de Jornalismo Impresso. p. 121-124. Disponível em: www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro- elementos-de- jornalismo-impresso.pdf. Acesso em: 01 ago. 2019. Próxima aula A construção da notícia; Principais técnicas utilizadas pelos jornalistas na sua rotina pro�ssional. Explore mais Leia o texto A teoria da conspiração e a teoria do agendamento de Ana Karla Farias. Leia o artigo Critérios de noticiabilidade no Brasil e no mundo de Jussara Borges Alves. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);
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