Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CAMPUS DE CURITIBANOS CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA Angelica Jacqueline Rosa Horta escolar: promotora de educação alimentar e nutricional Curitibanos 2023 ANGELICA JACQUELINE ROSA Horta escolar: promotora de educação alimentar e nutricional Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao curso de Agronomia do Campus de Curitibanos da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel (a) Agronomia. Orientador (a): Prof. (a) Dr. (a) Elis Borcioni. Curitibanos 2023 ANGELICA JACQUELINE ROSA Horta escolar: promotora de educação alimentar e nutricional Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de Engenheiro Agrônomo, e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Agronomia. Curitibanos, 12 de junho de 2023. Prof. Dr. Djalma Eugênio Schmitt Sub Coordenador do Curso Banca examinadora Profa. Dra. Elis Borcioni Orientadora Universidade Federal de Santa Catarina Profa. Dra. Mônica Aparecida Aguiar dos Santos Universidade Federal de Santa Catarina Eng.ª Agrônoma Paola Ribeiro Universidade Federal de Santa Catarina Ao meu pai, Oscar Rosa (in memoriam), que nos deixou recentemente, gratidão pela contribuição na formação do meu caráter. AGRADECIMENTOS A Deus, Todo Poderoso, Criador do céu e da terra, único digno de toda honra e toda glória, que esteve ao meu lado em todos os momentos da minha vida, por guiar os meus passos, dar forças durante toda caminhada, por permitir que eu tivesse saúde е determinação para não desanimar. Sem Ele eu nada seria. À Universidade, essencial no meu processo de formação profissional e aos professores pelos ensinamentos, qualidade e excelência do ensino. A Professora Elis Borcioni, por me orientar e desempenhar tal função com paciência, dedicação e amizade. À minha querida mãe, que sempre esteve ao meu lado, me apoiou, me incentivou, me ensinou a ter fé, guerreira, se esforçou para nos proporcionar a melhor educação, aqui estão os resultados do seu esforço. Às minhas irmãs, irmão e sobrinho, pelo simples fato de existirem, pelo apoio, carinho, afeto, companheirismo e união, apesar das dificuldades, sempre fizeram com que eu não me sentisse sozinha. Muito obrigada! RESUMO A alimentação é uma necessidade do ser humano, através dela são ingeridos os nutrientes necessários para a manutenção das atividades diárias. A alimentação é influenciada por costumes familiares, tradições, região, colegas e atualmente, cada vez mais pela mídia. A escola é o local onde as crianças passam parte do dia e realizam algumas refeições, logo pode exercer influência no que diz respeito ao assunto. Utilizar a horta escolar é uma estratégia que, através da promoção da educação alimentar nutricional, estimula o consumo de hortaliças e auxilia no ensino-aprendizagem. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico para verificar se a utilização de hortas escolares irá promover a adoção de hábitos alimentares saudáveis. Para nortear a pesquisa, foi definida a seguinte pergunta: a utilização de uma horta escolar, como ferramenta de ensino, pode influenciar na mudança de hábitos alimentares? Para analisar a produção científica a respeito de hortas escolares nos últimos dez anos, foi realizado um levantamento bibliográfico em publicações científicas, teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso e artigos. A partir da pesquisa foram encontradas milhares de publicações, as quais após seleção, conforme os objetivos, foram selecionadas 29 publicações. Após análise das publicações selecionadas, pode-se inferir que, as atividades didáticas, como a utilização da horta, associada a educação alimentar nutricional, no ambiente escolar, se mostram importantes na promoção de hábitos alimentares saudáveis e mudanças no estilo de vida das crianças e adolescentes. Palavras-chave: Alimentação; Escola; Conscientização. ABSTRACT Food is a basic need for the human being, through it the nutrients necessary for the maintenance of the activities developed are ingested. Diet is influenced by family customs, traditions, region, peers and now, increasingly, the media. The school is the place where children spend part of the day and prepare some meals, so it can exert influence in this regard. Using the school Garden is a strategy that, through the promotion of nutritional food education, encourages the consumption of vegetables and helps in teaching and learning. Therefore, the present work aimed to carry out a bibliographic survey to verify whether the use of school gardens can promote the adoption of healthy eating habits. To guide the research, the following question was defined: can the use of a school garden, as a teaching tool, influence changes in eating habits? In order to analyze the scientific production regarding school gardens in the last ten years, a bibliographic survey was carried out in scientific publications, theses, dissertations, course completion works and articles. From the research thousands of publications were found, which after selection, according to the objectives, 29 publications were selected. After analyzing the selected publications, it can be inferred that didactic activities, such as the use of the vegetable garden, associated with nutritional food education, in the school environment, are important in promoting healthy eating habits and changes in the lifestyle of children and teenagers. Keywords: Food; School; Awareness. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Variação no consumo de frutas e hortaliças entre as POFs 2008-2009 X 2017- 2018 .......................................................................................................................................... 24 Tabela 2 - Aquisição alimentar per capita anual kg entre os anos 2017-2018 (frente a 2007- 2008) nas regiões do Brasil ...................................................................................................... 24 Tabela 3 - Trabalhos selecionados segundo o título, autores/ano de publicação, periódico, tipo de estudo e objetivo. ................................................................................................................. 30 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. DCNT - Doença Crônica Não Transmissível EAN - Educação Alimentar Nutricional IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IMC – Índice de Massa Corpórea OMS - Organização Mundial da Saúde PHE – Programa Horta Educativa PENSE - Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar PNAE - Política Nacional de Alimentação Escolar PNSAN - Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional POF - Pesquisa de Orçamentos Familiares SUS - Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................. 14 1.1.2 Objetivo geral ............................................................................................................ 15 1.1.2 Objetivosespecíficos ................................................................................................. 15 1.2 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................... 15 2 . REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 16 2.1 COMPORTAMENTO ALIMENTAR ......................................................................... 16 2.2 EDUCAÇÃO ALIMENTAR NUTRICIONAL ........................................................... 19 2.3 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR...................................................................................... 20 2.4 A IMPORTÂNCIA DE CONSUMIR FRUTAS E HORTALIÇAS ............................ 23 2.5 A HORTA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA DE ENSINO ............................ .....25 3 . METODOLOGIA ......................................................................................................... 28 4 . RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 30 5 . CONCLUSÃO ............................................................................................................... 41 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 42 12 1. INTRODUÇÃO A alimentação é uma necessidade do ser humano, através dela são ingeridos os nutrientes necessários para a manutenção das atividades diárias. Além de suprir as necessidades biológicas, alimentar-se dependerá da vontade, da disponibilidade e de sensações causadas pelo alimento, o que implica diretamente na saúde e na qualidade de vida do indivíduo (PIASETZKI; BOFF, 2018). Para manter uma boa alimentação é necessário adotar refeições coloridas diariamente, compostas pelos diferentes grupos de alimentos, a fim de manter o sistema imunológico em boas condições e consequentemente ajudar na prevenção e tratamento de doenças (FILGUEIRA; ARAÚJO; SILVA, 2018). A alimentação é influenciada por costumes familiares, tradições, região, colegas e atualmente, cada vez mais pela mídia (LAROCA; CAMARGO, 2016). Além disso, outros fatores devem ser levados em consideração, no que se refere à interferência nos hábitos alimentares, como as relações sociais, a influência da mídia, a falta de conhecimento e informações em relação à importância da nutrição para o organismo (ANDREOLI, 2016). O consumo de produtos processados e ultra processados vêm aumentando em todas as faixas etárias, porém em crianças e adolescentes se torna mais preocupante, pois, esses alimentos, quando consumidos em excesso, podem provocar danos à saúde, ocasionando um aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como, por exemplo, a desnutrição e obesidade. (ALMEIDA et al., 2021). Com o passar dos anos, a mudança no consumo alimentar resultou em um baixo consumo nutricional e de alto valor energético, através da variedade de produtos industrializados oferecidos, fazendo com que seja necessário adotar estratégias educativas que estimulem o consumo de alimentos saudáveis (BARBOSA et al., 2016). A formação dos hábitos alimentares inicia-se na infância, consequentemente refletirá na adolescência e na vida adulta (REGERT; REGERT, 2020). Nesta perspectiva, a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) voltada às crianças e adolescentes, é uma estratégia utilizada na prevenção e controle de problemas alimentares e nutricionais, visando promover a conscientização sobre a alimentação nutricional, através do ensino da importância de manter hábitos saudáveis em relação à alimentação. Quanto mais cedo iniciar a educação alimentar, maior será a chance de conscientizar a criança e o adolescente a manter bons hábitos alimentares durante toda sua vida (PEREIRA; MOREIRA; NUNES, 2020). 13 A escola é o local onde as crianças passam parte do dia e realizam algumas refeições, muitas vezes, somente essas refeições são realizadas de forma adequada. Neste sentido, é fundamental desenvolver projetos educativos, considerando, aspectos como hábitos alimentares e sua influência no ensino-aprendizagem, promovendo a formação de hábitos saudáveis que atuarão na prevenção de doenças como diabete, hipertensão e obesidade (CASTRO; BELFORT, 2021; SILVA, 2015). Desta forma, a execução e manutenção de hortas escolares visam promover a conscientização em relação aos bons hábitos alimentares. A horta escolar é um espaço educador onde pode-se transmitir conhecimentos sobre o ambiente, alimentação, sustentabilidade, entre outros conteúdos. Sua utilização estimula a participação dos estudantes, visando proporcionar reflexões através do processo de construção, discussões, diálogos e atividades. (PRODOSSIMO, 2018). Considerando os fatores mencionados, que influenciam na mudança dos hábitos alimentares e que é necessário o uso de estratégias educacionais para reverter à situação atual a respeito da saúde alimentar da criança e do adolescente, o presente trabalho teve como objetivo, realizar uma revisão da literatura sobre os fatores que podem influenciar o comportamento alimentar e analisar como a utilização de hortas escolares, vinculadas à importância do consumo de hortaliças, pode contribuir para uma alimentação saudável. 14 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral Realizar um levantamento bibliográfico para verificar se a utilização de hortas escolares pode promover a adoção de hábitos alimentares saudáveis. 1.1.1 Objetivos específicos Avaliar se a utilização da horta escolar pode ser considerada uma estratégia no ensino da educação alimentar nutricional; Identificar os fatores que influenciam na formação dos hábitos alimentares das crianças e adolescentes; Verificar os possíveis motivos que levam ao baixo consumo de frutas e hortaliças. 15 1.2 JUSTIFICATIVA A alimentação saudável tem sua importância em vários aspectos no decorrer da vida, uma delas é no desenvolvimento cognitivo individual do ser humano (CUNHA, 2014). Conhecer a composição nutricional dos alimentos e a sua importância na manutenção do organismo, facilita compreender o porquê devemos ingeri-los. A falta de informação, a influência da mídia e social, a condição socioeconômica leva a uma carência nutricional que podem acarretar prejuízos a curto e a longo prazo, por isso, é importante não só conhecer, mas se alimentar de diferentes alimentos como frutas e hortaliças, pois possuem vários benefícios e são essenciais para uma alimentação adequada (SILVA, 2020). A alimentação de crianças e adolescentes, geralmente, é composta de alimentos atrativos em relação à aparência, cor, cheiro e ao sabor. Atualmente, devido à modernização, redução do tempo disponível para o preparo de alimentos e ao crescente aumento de produtos industrializados processados e ultra processados, sua alimentação tem sido composta de produtos com baixo valor nutritivo e prejudiciais ao organismo (TORRES et al., 2020). A alimentação inadequada pode interferir no desenvolvimento de atividades diárias e prejudicar o desempenho escolar (ALVES; CUNHA, 2020). Os hábitos alimentares na infância é resultado do convívio social, mais precisamente familiar, logo, é necessário haver um trabalho conjunto, da família com a escola, pois ela desempenha importante papel na formação de hábitos alimentares saudáveis, por ser os locais onde as crianças e os adolescentes passam a maior parte do seu dia, a família e a escola tem o papel de orientá-los na escolha de uma alimentação adequada (FERREIRA, 2018). A educação alimentar nutricional, junto a união de projetos educacionais, são estratégias importantes que podem ser utilizadas nas escolas, pois possibilitam a compreensão e uma maior reflexão a respeitoda importância de ter uma alimentação saudável. A implantação de uma horta no ambiente escolar permite o desenvolvimento de atividades teóricas e práticas, que podem contribuir na conscientização e consumo de alimentos saudáveis. Nesta perspectiva, é fundamental mensurar os estudos científicos que associam a alimentação e a utilização de hortas escolares como ferramenta educacional para formação de hábitos alimentares saudáveis, promoção da saúde e prevenção de doenças. 16 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. COMPORTAMENTO ALIMENTAR O comportamento alimentar está relacionado à forma que as pessoas se alimentam e sua relação com os alimentos, iniciando ao optar por ingerir ou não, horários e modo de preparo. Este comportamento pode interferir na qualidade de vida a curto e longo prazo, na prevenção e no tratamento de doenças. Cada fase da vida está relacionada a determinada mudança no comportamento alimentar, portanto, estimular crianças a ingerir alimentos saudáveis é importante, pois, está associada ao crescimento e desenvolvimento, consequentemente influenciará sua vida adulta (KLOTZ-SILVA; PRADO; SEIXAS, 2016). A formação do comportamento alimentar é um ato social, determinado primeiramente pela família, responsável pelo primeiro contato com os alimentos. As crianças são influenciadas a ingerir alimentos pelos pais, por costumes familiares diários, amigos, pela forma como os alimentos são preparados e também pelas sensações percebidas pelos sentidos. Quando o ambiente familiar é desfavorável, não só pela dificuldade em adquirir o alimento, mas também por maus costumes alimentares, poderá levar a condições de desenvolvimento de distúrbios alimentares e doenças. (YASSINE; ORDOÑEZ; SOUZA, 2020). As crianças devem ser incentivadas a cultivar bons hábitos alimentares desde cedo. Por isso, os pais devem criar um ambiente familiar favorável ao consumo de alimentos saudáveis, estimulando seus filhos a manter uma alimentação de qualidade que se perpetuará ao longo da sua vida. Outro fator a ser considerado no que se refere à influência no comportamento alimentar é a mídia, sendo compreendida como um conjunto de meios de comunicação responsável pela divulgação de informações, é capaz de exercer influência direta na alimentação de crianças e adolescentes, na vida familiar, nas escolhas dos alimentos e no comportamento social. Um exemplo, bastante comum, é relacionar brinquedos ou personagens a anúncios de comidas e bebidas a fim de atrair o público infantil, alimentos esses que na maioria das vezes são industrializados, ricos em gorduras e açúcares (DEISS; CINTRA, 2021). Nesta perspectiva, ter uma alimentação saudável é indispensável para o desenvolvimento do ser humano em todas as etapas da vida, principalmente na infância. Percebe-se que com o passar dos anos vem aumentando o consumo de alimentos de alto valor energético e um baixo consumo de alimentos saudáveis, como frutas e hortaliças. Atualmente, 17 a alimentação das pessoas, tem sido à base do consumo de refeições prontas, congeladas, de fácil preparo, alimentos processados e ultra processados ricos em açúcares, gorduras e sódio, fastfood, gerando comportamento alimentar inadequado e consequentemente prejudicial à saúde (OLIVEIRA, 2020). Segundo o Guia Alimentar para a população brasileira, os alimentos processados são produtos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar, como, por exemplo, legumes em conserva e frutas em calda. Já os alimentos ultra processados são produtos no qual a fabricação envolve diversas etapas e técnicas de processamento e vários ingredientes, muitos deles de uso exclusivamente industrial, como os refrigerantes, biscoitos recheados e salgadinhos, ricos em gorduras e açúcares (BRASIL, 2014). Devido ao crescente aumento da industrialização, tornou-se necessário o acesso a informações sobre os alimentos, para que as pessoas sejam conscientizadas, a fim de diminuir o consumo de alimentos processados e aumente o consumo dos alimentos saudáveis, principalmente frutas e hortaliças, com o intuito de reduzir os casos de doenças relacionadas ao excesso de peso. A obesidade é uma doença crônica resultado do acúmulo de gordura no organismo, que pode ser causada por fatores genéticos, ambientais e comportamentais (LACERDA et al., 2014). No Brasil, houve um aumento de 72% nos últimos treze anos, em 2006 eram 11,8% saltando para 20,3% em 2019. Estimativas apontam que em 2025 cerca de 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estarão acima do peso (ABESO, 2019). Entre 2003 e 2019, o excesso de peso em adolescentes de 15 a 17 anos, aumentou mais de 12%, os fatores que contribuíram para esse aumento significativo, é a baixa qualidade nutricional da alimentação e a falta de atividades físicas (CAMPOS, 2020). Segundo o relatório público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, mais de 340 mil crianças de 5 a 10 anos até setembro de 2022 foram diagnosticadas com obesidade. Na região Sul está o maior índice de obesidade do País, em torno de 11,52% de crianças obesas nessa faixa etária. A região sudeste, com 10,41%; Nordeste, 9,67%; centro-oeste, 9,43%; e norte, 6,93% das crianças acompanhadas pelo Sistema Único de Saúde, foram diagnosticadas com obesidade. Diante disso, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, reconhece a obesidade como um problema de saúde pública, portanto, torna-se necessário fazer intervenções que levem a conscientização promovendo mudanças em seu comportamento alimentar e consequente redução das DCNTs (BITTAR; SOARES, 2020, LIMA, 2022; SOUSA, 2019). 18 Estima-se que no Brasil 6,4 milhões de crianças estejam com excesso de peso e 3,1 milhões com obesidade. Estudos mostram que crianças obesas têm 75% mais chances de se tornarem adolescentes com sobrepeso, isso se dá devido à exposição precoce das crianças aos produtos processados e ultra processados de baixo teor nutritivo. Esses números são bastante significativos e mostram a importância de promover a educação alimentar, principalmente em crianças e adolescentes, a fim de conscientizá-los sobre a prevenção das DCNTs, consequências da obesidade, como hipertensão e diabetes. (MOUSINHO, 2022, VICTOR, 2022). A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a obesidade um dos maiores problemas da saúde pública atualmente, causada principalmente pela má alimentação e a falta de atividade física da população. Estudos revelam que as crianças e adolescentes passaram a gastar mais tempo em frente às telas e diminuíram ou deixaram de praticar atividade física. Isso ocorreu devido à revolução tecnológica, onde a comunicação passou a ser de forma instantânea, sem precisar sair do lugar, as transmissões de informações passaram a ser por meio de rádio, televisão, vídeos, redes sociais, entre outros. Além de ser uma prática sedentária, fazer uso dessas tecnologias influencia na formação dos hábitos alimentares (MONTEIRO; MONTEIRO, 2021). Além disso, a obesidade pode causar problemas psicológicos como a depressão, distúrbios alimentares, distorção da imagem corporal, baixa autoestima, irritabilidade e agressividade, prejudicando o relacionamento social. A depressão, principal desencadeadora desses outros sintomas, junto a ansiedade, fará com que a condição de obesidade possa piorar, pois a ansiedade leva a um gatilho, em que o indivíduo sente a necessidade de alimentar-se várias vezes ao dia, na maioria das vezes alimentos industrializados, visando amenizar alguns sintomas como a tristeza, devido a algumas sensações boas causadas por alguns alimentos (MENDES; BASTOS; MORAES, 2019). Assim como a obesidade, a desnutrição é outro distúrbio que está associada a má alimentação. Na desnutrição, há carência de um ou mais nutrientes que estão em quantidade insuficiente para o funcionamento adequado do organismo. Esse distúrbionão está ligado apenas à perda de peso, mas sim, ao ganho, uma pessoa obesa ou em condições corpóreas normais não necessariamente estará bem nutrida (JARDIM; DE SOUZA, 2017). 19 2.2. EDUCAÇÃO ALIMENTAR NUTRICIONAL De acordo com Silva et al. (2020), para promover a alimentação saudável é necessário desenvolver ações que promovam a saúde, através do acesso à informação e à implementação de políticas públicas. A Educação Alimentar e Nutricional, conforme o Decreto n.º 7.272, de 25 de agosto de 2010, é uma diretriz da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), abrange aspectos relacionados ao alimento e à alimentação, os processos de produção, abastecimento e transformação dos alimentos. É considerada uma importante estratégia na prevenção e controle de problemas alimentares nutricionais, para promover no indivíduo a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. Sendo assim, é fundamental no enfrentamento das doenças de saúde pública referentes à má nutrição, como o excesso de peso e a obesidade, além de permitir refletir sobre toda a cadeia produtiva dos alimentos saudáveis (SANTOS et al., 2018). Para combater à obesidade infantil, o Ministério da Saúde do Brasil, juntamente com o programa pelo Fim da Obesidade Infantil da OMS, apresentou em 2019 o programa Crescer Saudável, que propõe estratégias, como a regulação da publicidade de produtos ultraprocessados destinados ao público infantil, mudanças na rotulagem de alimentos, promoção de ambientes alimentares saudáveis, promoção do aleitamento materno e desenvolvimento de ações de EAN nas escolas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). Segundo a OMS, a obesidade infantil é um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI, afetando todos os países do mundo, portanto, é importante monitorar crianças e adolescentes em idade escolar. Por meio de ações de políticas públicas em conjunto com a comunidade será possível reduzir o crescimento dessa doença. Outro ponto importante é capacitar professores para o ensino da educação alimentar nutricional, visto que, são essenciais no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes, tornando-se aliados na promoção da alimentação saudável. Estudos mostram que ações de EAN em escolas apresenta impacto positivo, psicossociais e comportamentais nos estudantes, aumentando o consumo de alimentos saudáveis e na prevenção e/ou redução do excesso de peso infantil (URQUÍA, 2020). O desenvolvimento psicológico das crianças e adolescentes influencia diretamente nas suas escolhas alimentares. Como ainda não possuem capacidade intelectual completamente desenvolvida, não são capazes de associar seu comportamento alimentar com os futuros riscos à saúde. Por esse motivo, é importante intervir nestas fases de desenvolvimento, a fim de criar conscientização e continuar a seguir os novos hábitos 20 alimentares. Desse modo, a escola, por meio de atividades, pode estimulá-los a ter uma melhor qualidade de vida (ÁVILA et al., 2019). As estratégias adotadas buscam reduzir o quadro de excesso de peso, para que se alcance o peso ideal e seja adotada uma alimentação e nutrição adequadas, através da mudança de hábitos alimentares. Para atingir tal objetivo, é necessário adotar diferentes ações educacionais e pedagógicas, favorecendo o diálogo e a reflexão sobre alimentação, nutrição e saúde (MAGALHAES; CAVALCANTE, 2019). Uma das estratégias que pode ser aplicada, é a implantação de atividades de EAN nas escolas, levando às crianças e adolescentes a adquirir conhecimentos básicos sobre alimentação e nutrição, além de incentivá-los a mudar seu comportamento alimentar, de modo que beneficiem a sua saúde (OLIVEIRA et al., 2018). A escola tem a responsabilidade de orientar os alunos na adoção de hábitos saudáveis, é um espaço ideal para as ações da educação alimentar e nutricional e para a promoção da saúde. Estimular os alunos a manter hábitos saudáveis poderá contribuir com a aprendizagem e rendimento escolar, além de poder, refletir em seu ambiente familiar, levando aos seus responsáveis o conhecimento adquirido sobre a alimentação saudável. As atividades educativas no ambiente escolar, proporcionam a formação de novos conhecimentos, através da associação do conteúdo ministrado em sala de aula e dos acontecimentos do dia a dia dos alunos (CINTRA, 2018; FERNANDES, 2018, GONÇALVES; DIAS; KAKIJIMA, 2019). 2.3. ALIMENTAÇÃO ESCOLAR A escola desempenha um importante papel na nutrição e na formação dos hábitos alimentares, devendo oferecer, orientar e estimular os alunos para que adotem bons hábitos alimentares ao consumir frutas e hortaliças. Um aluno que costuma ter uma alimentação saudável poderá apresentar maior aproveitamento escolar, crescimento e desenvolvimento (VALLE, 2018). O fornecimento de uma alimentação saudável pelas escolas pode promover a melhoria do estado nutricional e das habilidades cognitivas dos estudantes, além de contribuir para redução da fome (CESAR et al., 2020). Devido ao aumento dos casos de doenças relacionadas ao excesso de peso e obesidade, especialmente entre crianças e adolescentes e na alimentação do brasileiro ser constituída na maioria das vezes de alimentos calóricos, acarretando um quadro que pode ser 21 revertido mediante mudanças nos hábitos alimentares, foi instituída a portaria interministerial n.º 1010, de 8 de maio de 2006, onde dispõe: “Art. 1º - Instituir as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes pública e privada, em âmbito nacional, favorecendo o desenvolvimento de ações que promovam e garantam a adoção de práticas alimentares mais saudáveis no ambiente escolar. Art. 3º - Definir a promoção da alimentação saudável nas escolas com base nos seguintes eixos prioritários: ações de educação alimentar e nutricional, considerando os hábitos alimentares como expressão de manifestações culturais regionais e nacionais; estímulo à produção de hortas escolares para a realização de atividades com os alunos e a utilização dos alimentos produzidos na alimentação ofertada na escola”. (BRASIL,2006). Para auxiliar na questão alimentar em escolas, a fim de fornecer alimentos que atendam às necessidades nutricionais durante o período letivo, por meio de políticas públicas de alimentação e nutrição, o governo criou o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), tendo como objetivo contribuir no crescimento e desenvolvimento biopsicossocial, na aprendizagem, no rendimento escolar, na adoção de práticas alimentares saudáveis, através do desenvolvimento de ações de educação alimentar e nutricional a estudantes em todas as etapas da educação básica pública (BICALHO; VILLAR, 2019; RAMOS et al., 2020). Diante disso, a refeição escolar é a forma com que os alunos terão acesso aos alimentos. É necessário haver um planejamento do cardápio elaborado por um nutricionista, para que assim seja oferecida uma alimentação saudável e adequada, garantindo que atenda às necessidades nutricionais dos alunos, pelo menos no período em que estiverem no ambiente escolar, promovendo a educação alimentar nutricional e estando segundo os objetivos do PNAE (CASAGRANDE; CANCELIER; BELING, 2021, FNDE, 2009). A Resolução n.º 06, de 08 de maio de 2020, dispõe sobre a alimentação escolar aos alunos da educação básica em relação ao Programa Nacional de Alimentação Escolar, onde: “Art. 2º Entende-se por alimentação escolar todo alimento oferecido no ambiente escolar, independentemente de sua origem, durante o período letivo. Art. 5º São diretrizes da Alimentação Escolar: I – o emprego da alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento dos alunose para a melhoria do rendimento escolar, conforme a sua faixa etária e seu estado de saúde, inclusive dos que necessitam de atenção específica; II – a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida na perspectiva da segurança alimentar e nutricional” (FNDE, 2020). No entanto, além dos alimentos saudáveis oferecidos na refeição escolar, os estudantes, tem acesso a alimentos industrializados, devido à comercialização em algumas escolas, através das cantinas escolares ou ainda nos seus arredores no comércio ambulante. 22 Estes alimentos são inadequados, normalmente possuem altos teores de gorduras, açúcares e sódio. Muitos estudantes acabam consumindo estes alimentos, o que dificulta a implementação das práticas alimentares saudáveis. (BILA; SILVA; GUSMÃO, 2019). Por esta razão, é necessário que as cantinas escolares sejam regularizadas conforme as políticas públicas de alimentação escolar, essas alterações são essenciais e auxiliam o combate às DCNTs (AGUIRRE et al., 2021). Além disso, diversos estados possuem legislações específicas sobre a comercialização de alimentos e bebidas no ambiente escolar, apesar de existir ações punitivas, não há fiscalização efetiva para tais irregularidades (HENRIQUES et al., 2021). Em Santa Catarina encontram-se leis válidas para todos os municípios do estado, em relação ao tipo de alimentos que não podem ser comercializados nas cantinas escolares, a Lei Estadual 12.061, de 18 de dezembro de 2001 regulamenta: Art.1° - Os serviços de lanches e bebidas nas unidades educacionais públicas e privadas que atendam a educação básica, localizadas no Estado de Santa Catarina, deverão obedecer a padrões de qualidade nutricional e de vida indispensáveis à saúde dos alunos. “Art. 2º Atendendo ao preceito nutricional e conforme o artigo anterior, fica expressamente proibida, nos serviços de lanches e bebidas ou similares, a comercialização do seguinte: bebidas com quaisquer teores alcoólicos; balas, pirulitos e gomas de mascar; refrigerantes e sucos artificiais; salgadinhos industrializados; salgados fritos; e pipocas industrializadas”. (FLORIANÓPOLIS, 2001). Recentemente, em 16 de setembro de 2022, foi publicada a instrução normativa referente a educação alimentar nutricional n.º 2364: Art. 1º Estabelecer orientações para a promoção da Educação Alimentar e Nutricional, nas escolas de Educação Básica da rede estadual, com o intuito de formar hábitos alimentares saudáveis aos alunos atendidos na rede pública estadual de Santa Catarina, favorecendo o desenvolvimento de ações que promovam e garantam a adoção de práticas alimentares e nutricionais saudáveis no ambiente escolar. Art. 3º Definir a promoção da educação alimentar e nutricional nas escolas com base nos seguintes eixos prioritários: I - ações de educação alimentar e nutricional, considerando os hábitos alimentares como expressão de manifestações culturais regionais e nacionais; II -implantação de projeto de horta de pedagógica, concebida como ferramenta no processo de ensino e aprendizado, nas Unidades de Ensino, destinando como doação, a produção orgânica da mesma aos escolares/famílias e/ou utilizando como ingrediente em receitas contempladas nos planejamentos de ensino dos professores; III -incentivo às ações de boas práticas de manipulação e preparo de alimentos; IV -fomentar ações que promovam o consumo de alimentos in natura (frutas, legumes, verduras); alimentos livres de agrotóxicos, orgânicos e minimamente processados, além de restringir o comércio de produtos ultra processados no ambiente escolar; V - monitoramento do estado nutricional dos escolares; VI - incentivo ao desenvolvimento de ações ambiental, econômica e socialmente sustentáveis de produção, abastecimento, distribuição e comercialização de alimentos; VII - promoção da autonomia e autocuidado, orientando os escolares para que adotem, modifiquem ou mantenham comportamentos que contribuam para uma vida saudável e sustentável (SANTA CATARINA, 2022). 23 Complementar a instrução normativa n.º 2364, em 20 de setembro de 2022, foi publicada uma nova instrução normativa n.º 2397, que proíbe a comercialização de alimentos industrializados ou preparações culinárias realizadas dentro do ambiente escolar. A recomendação é que sejam ofertados alimentos ou preparações à base de frutas e hortaliças, a fim de incentivar o consumo e promover a formação de hábitos alimentares saudáveis. (SANTA CATARINA, 2022). O art.2º da instrução normativa nº 2364, que proibia a entrega de chocolates e ou guloseimas em datas comemorativas, foi revogado em 10 de março de 2023, segundo a Portaria n.º 578: Art.2º- As restrições previstas nesta portaria também se aplicam às comemorações festivas realizadas nas Unidades Escolares. Parágrafo Único: O educando não poderá trazer para consumo na escola, bebidas e alimentos e preparações culinárias ricos em gordura saturada, açúcar e sódio conforme descritos. (SANTA CATARINA, 2023). A escola como promotora de hábitos alimentares saudáveis, visando a conscientização por parte de toda a comunidade escolar, necessita que o trabalho seja realizado em conjunto, principalmente com às famílias, para ocorrerem mudanças significativas a fim de promover saúde e prevenir doenças. A comunidade escolar deve ser agente multiplicador de conhecimento (VITAL, 2019). 2.4. A IMPORTÂNCIA DE CONSUMIR FRUTAS E HORTALIÇAS Os alimentos possuem nutrientes (carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais) essenciais na geração de energia para manutenção do corpo e consequente desempenho das atividades diárias. Ter uma alimentação à base de frutas e hortaliças, desde os primeiros anos de vida é essencial, pois são alimentos ricos em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes, ajudam no fortalecimento do organismo, retardam os processos que resultam no aparecimento de doenças degenerativas, além de ser compostas em sua maior parte por água, auxiliam na hidratação do corpo (EMBRAPA, 2012). A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) determina que o ideal para uma dieta saudável é o consumo de no mínimo 400 gramas de frutas ou hortaliças por dia. No Brasil o consumo de frutas e hortaliças está abaixo do recomendado, apenas 141 gramas. (EMBRAPA HORTALIÇAS, 2020). A recomendação é que frutas e hortaliças sejam consumidas cruas e não sejam armazenadas por muito tempo para um melhor aproveitamento de vitaminas e minerais, pois passam por alterações bioquímicas e fisiológicas, levando a perda de alguns nutrientes em seu 24 preparo. O consumo em níveis adequados é importante na prevenção contra doenças crônicas, cardiovasculares, hipertensão, diabetes e alguns tipos de câncer. (CANELLA et al., 2017). O consumo de frutas e hortaliças no Brasil de 2008 a 2018 reduziu 8% e 11% respectivamente (tabela 1). Uma das consequências, foi o enfraquecimento da economia que afetou o poder de compra da população e as mudanças nos hábitos do consumidor. Estudos mostram que tem se mantido o valor gasto, mas a quantidade adquirida diminuiu devido ao aumento dos preços dos produtos (HORTIFRÚTI BRASIL, 2021). Tabela 1. Variação no consumo de frutas e hortaliças entre as POFs 2008-2009 X 2017-2018. Consumo de HF (kg/pessoa/ano) 2008-2009 (%) 2017-2018 (%) Variação (%) Frutas (total) 28,86 26,41 -8 Hortaliças (total) 24,87 22,1 -11 Fonte: HF Brasil. Segundo a pesquisa de orçamento familiar de 2008-2009 e 2017-2018 (tabela 2), o brasileiro praticamente manteve sua preferência de consumo por hortaliças e frutas. Apesar disso, houve queda no consumo per capita em quase todas as frutas e hortaliças, justificado novamente pela alta nos preços.A renda familiar é um dos principais fatores que influenciam o consumo de hortifrútis, sendo que quanto maior a renda familiar, maior será o consumo (HORTIFRÚTI BRASIL, 2021). Tabela 2. Aquisição alimentar per capita anual kg entre os anos 2017-2018 (frente a 2007-2008) nas regiões do Brasil. Região Frutas Variação Hortaliças Variação Brasil 26,414 -8% 22,095 -11% Norte 13,851 -34% 10,745 -35% Nordeste 23,876 -11% 18,907 -5% Sudeste 28,610 -4% 23,810 -10% Sul 31,931 -14% 28,962 -16% Centro-Oeste 27,136 4% 23,894 -3% Fonte: HF Brasil. Contudo, a diminuição no consumo de frutas e hortaliças não deve ser associada apenas ao valor. Existe uma diversidade de produtos que variam conforme a disponibilidade 25 regional e a sazonalidade, permitindo que o indivíduo os adquira mesmo possuindo uma renda inferior. Para estimular o consumo, é importante promover ações de conscientização, incentivando principalmente crianças e adolescentes a mudar seus hábitos alimentares e os manter ao longo da vida (HORTIFRÚTI BRASIL, 2022). Ainda segundo a POF, grande quantidade das calorias consumidas são dos alimentos in natura ou minimamente processados, 15,6% de ingredientes culinários processados, 11,3% de alimentos processados e 19,7% de alimentos ultraprocessados. Entre os adolescentes a frequência de ingestão de frutas e hortaliças é inferior à dos adultos e idosos, além de consumir o dobro de sanduíches, quatro vezes mais pizzas, nove vezes mais bebidas lácteas e vinte vezes mais salgadinhos (RIOS NETO, 2020). Atualmente, tem aumentado a preocupação quanto à alimentação de crianças e adolescentes em idade escolar, devido à baixa qualidade dos alimentos ingeridos, à preferência por alimentos ricos em energia, produtos industrializados, processados e ultraprocessados, à alta ingestão de frituras, salgadinhos, refrigerantes e doces, em relação aos alimentos ricos nutricionalmente como as frutas e hortaliças. (SILVA; CARVALHO, 2018). Carências nutricionais em crianças, podem levar a deficiências de crescimento e de cognição, além de tornar o organismo mais suscetível a doenças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Neste sentido, incentivar o hábito de ingerir frutas e hortaliças é essencial na infância, para que as crianças desenvolvam seus hábitos alimentares e se tornem adultos saudáveis (FNDE, 2019). Alimentos funcionais, além das suas funções nutricionais básicas, produzem efeitos metabólicos, fisiológicos ou efeitos benéficos à saúde, devido à ação de substâncias que atuam no organismo. Alguns dos compostos funcionais são os probióticos, presentes em leite fermentado, iogurtes, auxiliam no equilíbrio da flora microbiana no intestino; os carotenoides, flavonoides, licopeno, presentes em vegetais como cenoura, pimentão, feijão e tomate, atuam como antioxidantes, entre outros. Para auxiliar na ingestão dos nutrientes necessários ao organismo, visando prevenir DCNTs, a indústria passou a produzir alimentos nutracêuticos, onde compostos funcionais encontrados em óleos vegetais, cereais integrais, frutas e hortaliças são encapsulados. (ROCHA et al., 2021). 2.5. A HORTA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA DE ENSINO É possível observar que, atualmente, as pessoas substituíram os hábitos tradicionais pelos modernos, na alimentação, na comunicação, nos costumes e igualmente na educação, 26 fazendo com que os métodos educacionais tradicionais pareçam estar ultrapassados. Portanto, é necessário criar estratégias a fim de fazer com que os estudantes tenham maior interesse em aprender os conteúdos curriculares (MOREIRA et al., 2021). Uma das estratégias de incentivo que pode ser utilizada no ambiente escolar é a horta, pois necessita de pequenas áreas para o cultivo das plantas, como hortaliças, temperos e ervas medicinais, que podem ser consumidos na merenda escolar, em possíveis oficinas de culinária, possibilitando o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas. Os alunos passam a ter o contato prático na condução da horta, do planejamento, a execução e a manutenção, cuidando diariamente da semeadura, a colheita, são estimulados a provar os alimentos produzidos, através das atividades passam a adquirir consciência quanto à alimentação saudável (CRUZ et al., 2021; SANTANA, 2021). A horta escolar permite que o estudante selecione melhor os alimentos, proporcionando-os aquisição de conhecimento sobre a condução e produção de diversas hortaliças, inclusive em sua residência. Somado a isso, poderá empreender, utilizando os conhecimentos adquiridos para construir sua própria horta, produzindo hortaliças para o consumo próprio e comercializar os produtos excedentes, para aumentar a renda familiar (RAMOS et al., 2020; SCHEFFER; SILVA, 2016). Em locais onde não há espaço disponível para a construção de uma horta, é possível fazer adaptações e construí-la com garrafas pet, canos de PVC, paletes, fios de nylon, ou outros objetos que proporcionem suporte às plantas cultivadas e permitam ser suspensos, são as chamadas hortas verticais. (MARONN, 2019). As atividades pedagógicas através da horta auxiliam o processo de ensino- aprendizagem, a adquirir consciência ambiental, através do contato com as plantas, além de influenciar os estudantes a mudar seus hábitos alimentares, adquirem consciência de que as hortaliças melhoram a qualidade das refeições, em consequência do contato diário com a horta, do conhecimento adquirido quanto ao valor nutricional, das aulas expositivas e dos debates (SANTOS et al., 2014). Além disso, a utilização da horta escolar possibilita o desenvolvimento de diferentes atividades didáticas, a interdisciplinaridade minimiza as barreiras entre as disciplinas beneficiando professores de várias áreas de conhecimento, relacionando seus conteúdos com as práticas desenvolvidas, pode promover maior entendimento e compreensão dos conteúdos abordados, ao relacionar o clima, a fotossíntese, a água, os tipos de solo, a saúde, o meio ambiente, a educação ambiental, a sustentabilidade, o crescimento das plantas, a estações do 27 ano, os poluentes, englobando várias disciplinas do currículo escolar. (CANCELIER; BELING; FACCO, 2020). Por exemplo, na disciplina de geografia poderá ser abordada a formação e as características do solo, o clima; em ciências, os microrganismos maléficos e benéficos, práticas conservacionistas; em matemática, cálculos dos espaçamentos dos canteiros, quantidade de sementes, figuras geométricas (formatos dos canteiros), em educação ambiental, aproveitamento de materiais para compostagem, reciclagem, aplicação de produtos agroecológicos, entre outros. Para complementar, os professores podem desenvolver projetos sobre alimentação saudável, permitindo aos alunos a oportunidade de conhecer melhor os alimentos que serão produzidos. (SANTOS, 2014). As escolas devem buscar diferentes maneiras para trabalhar a horta como ferramenta de ensino, considerada um laboratório vivo, proporciona aos estudantes a ampliação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula, possibilita o consumo de alimentos naturais, frescos e saudáveis, além de instruí-los a desenvolver visões críticas e transformar o meio no qual estão inseridos. Esse contato se torna cada vez mais importante atualmente, visto que, as crianças em sua maioria, residem na cidade e possuem pouco contato com a natureza. (SANTOS, 2021). 28 3. MATERIAL E MÉTODOS O estudo é um levantamento bibliográfico, sobre as influências que podem interferir no comportamento alimentar dos indivíduos e as estratégias que podem ser utilizadas na conscientização, a fim de melhorar os hábitos alimentares de crianças e adolescentes. Para nortear a pesquisa, foi definida a seguinte pergunta: a utilização de uma horta escolar, como ferramenta de ensino, pode influenciar na mudança de hábitos alimentares? Deste modo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica,durante o período de junho de 2022 a maio de 2023, por meio de uma busca computadorizada na base de dados eletrônica Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online Brasil (Scielo), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS, Ministério da Saúde, Brasil) e em sites institucionais, para a busca de publicações científicas, teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso e artigos, visando maior embasamento teórico sobre o assunto. O período analisado foram os últimos dez anos. Por meio de leitura, as publicações científicas foram pré-selecionadas pelos títulos e pelos respectivos resumos, conforme ilustra a figura 1. Figura 1 – Fluxograma de seleção das publicações. Fonte: autor, 2022. Devido à grande quantidade de publicações, foram utilizadas as palavras-chave (combinadas ou não): “hortas escolares", educação alimentar e nutricional de estudantes”, “alimentação escolar”, “comportamento alimentar de adolescentes”, “obesidade infantil”, “consumo alimentar de crianças e adolescentes”, “Programa Nacional de Alimentação Escolar”, “alimentação saudável nas escolas”, “má alimentação de crianças e adolescentes”, “consumo de hortaliças e frutas por crianças e adolescentes”, “influência das mídias na alimentação”. 29 Como critério de inclusão, as publicações deveriam citar: crianças e adolescentes, independente do gênero, preferencialmente de escola pública, com referências à educação alimentar, obesidade, mídias, comportamento alimentar, alimentação escolar e hortas escolares, como ilustra a figura 2. Figura 2. Metodologia utilizada para busca de publicações. Fonte: autor, 2022. Foram excluídos todos os artigos que não correspondiam aos critérios de inclusão, artigos publicados anteriores a 2012, de língua inglesa, sobre indivíduos adultos, além de textos que não continham informações suficientes para a composição deste trabalho. Os resumos que não apresentavam informações suficientes para decisão quanto à inclusão ou exclusão na revisão da literatura, foram lidos por completo, após, alguns artigos foram excluídos. Após a leitura das publicações selecionadas, a descrição dos estudos foi realizada a partir das seguintes informações: público-alvo, avaliação da horta como estratégia de ensino, hábitos alimentares de crianças e adolescentes, identificação dos fatores que influenciam a alimentação e verificação do baixo consumo de alimentos saudáveis. 30 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação aos temas abordados, foram encontradas 24 mil publicações, as quais após seleção a partir dos descritores, segundo os objetivos, foram selecionados 29 trabalhos, sendo listados na tabela a seguir: Tabela 3. Trabalhos selecionados conforme o título, autores/ano de publicação, periódico, tipo de estudo e objetivo. Título Autore s/ Ano Periódico/Re positório Tipo de estudo Objetivo Revisão da Literatura sobre Aprendizagem de Professores em Hortas Escolares Gomes, J. R. de J. e Alves, J. M. (2021) Editora Realize Artigo Caracterizar a contribuição da horta escolar na aprendizagem de professores e alunos. Promoção da alimentação saudável no ambiente escolar: avaliação do Programa Horta Educativa em escolas estaduais de São Paulo Toledo, A. D’A. (2021) Repositório da Biblioteca digital USP Tese Avaliar a Horta Educativa como promotora da alimentação adequada e saudável no ambiente escolar. Avaliação do conhecimento em alimentação e nutrição e a eficácia de atividades de educação alimentar e nutricional em escolares Corrêa R.R. (2018) Repositório da Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas Trabalho de conclusão de curso Avaliar o estado nutricional, o conhecimento em nutrição e consumo alimentar antes e após as atividades de EAN. Ações de educação alimentar e nutricional na prevenção da obesidade e na recuperação da saúde de escolares: uma revisão integrativa Gonçal ves, R. B. et al. (2018) Revista Simbio-logias Artigo Analisar a contribuição das atividades de EAN na prevenção e no combate à obesidade em estudantes. 31 A importância do trabalho com a horta escolar para o ensino de ciências de forma interdisciplinar Pinheir o, C. N. A. (2012) Repositório da Universidade de Brasília Monografia Avaliar o rendimento escolar dos alunos participantes das atividades da horta escolar. A educação ambiental e o papel da horta escolar na educação básica Canceli er, J. W. et al. (2020) Revista de geografia Artigo Analisar o papel da horta escolar no estímulo ao consumo saudável e a sua interdisciplinaridade. Horta escolar: uma alternativa interdisciplinar para a educação ambiental e produção de alimentos sem agrotóxicos Ribeiro, D. das C. de A. et al. (2019) Repositório Lume, Universidade Federal de Rio Grande do Sul Artigo Verificar como a horta escolar promove a melhora do processo de ensino- aprendizagem e contribui para a educação ambiental. Implantação da horta escolar em uma escola pública em Araras - SP Santos, A. P. R. dos. (2014) Repositório da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Monografia Introduzir uma horta escolar com trabalho conjunto de pais, alunos, professores e servidores. Horta escolar: benefícios e desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis. Cardos o, W. S. (2020) Repositório DSpace Trabalho de Conclusão de Curso Analisar os benefícios proporcionados aos envolvidos com as atividades na horta escolar. Projeto educando com a horta escolar: perspectivas e realidade na escola municipal Francisco Marcelino da Silva Costa, M. da P. A. da S. (2014) Repositório da Universidade de Brasília Monografia Avaliar se a horta escolar engloba todas as disciplinas curriculares. A influência dos pais no aumento do excesso de peso dos filhos: uma revisão de literatura Silva, L. R. et al. (2019) Repositório Brazilian Journal Of Health Review Artigo Relacionar o comportamento alimentar da família e sua influência no excesso de peso das crianças. 32 Obesidade infantil: vivências familiares relativas ao processo de aconselhamento nutricional Antune s N. J. (2018) Repositório Semantic Scholar Dissertação Compreender a influência da convivência familiar no comportamento alimentar de crianças com obesidade. Comportamento alimentar de crianças na atualidade: um estudo sob a perspectiva do cuidado Carvalh o P. P. A. (2017) Repositório da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações Dissertação Analisar os motivos que levam ao consumo inadequado e os impactos causados na saúde da criança. Regulamentação da propaganda de alimentos infantis como estratégia para a promoção da saúde. Henriqu es, P. et al. (2012) Revista Ciência e Saúde Coletiva Artigo Avaliar o conteúdo das propagandas de alimentos na televisão voltadas a crianças, sob a ótica da regulação. Avaliação do nível de conhecimento e de consumo de crianças e adolescentes sobre hortaliças e frutas versus guloseimas Felipe S. M. de A. (2018) Repositório da Universidade Federal Rural de Pernambuco Monografia Avaliar o nível de conhecimento e o consumo alimentar de crianças e dos adolescentes participantes do projeto educacional. A visão dos alunos do ensino fundamental sobre a caloria dos alimentos e seu impacto na saúde Travain, S. et al. (2019) Revista Insignare Sciencia - RIS Artigo Analisar as calorias dos alimentos e seu impacto na saúde. Realizar atividadesque promovam os hábitos alimentares e o conhecimento da importância de uma alimentação adequada. Influências da família e da escola no consumo de alimentos com alto teor de açúcar, gordura e sódio entre crianças de classes sociais diferentes Vieira, D.M. (2013) Repositório Institucional da Universidade Federal de Viçosa Dissertação Verificar a influência da família e da escola no comportamento alimentar de crianças em relação aos alimentos com alto teor de açúcar, gordura e sódio. 33 Consumo de alimentos ultraprocessados e perfil nutricional da dieta de adolescentes Soares, A. D. N. et al. (2022) Cadernos da Escola de Saúde Artigo Avaliar o consumo e o impacto de produtos industrializados sobre a qualidade nutricional da dieta dos adolescentes. Consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes de uma escola pública de Petrolina - Pernambuco Messias , C. M. B. de O. et al. (2016) Revista Adolescência e Saúde Artigo Estimar o consumo de frutas e hortaliças por adolescentes de uma escola pública de Petrolina- PE. Padrão alimentar de escolares de uma escola municipal de São Miguel do Oeste, Santa Catarina Ribeiro, A. J. P. et al., (2015) Revista Unoesc e Ciência Artigo Verificar e analisar o padrão alimentar de estudantes de uma escola de São Miguel do Oeste, Santa Catarina. As transformações alimentares na sociedade moderna: a colonização do alimento natural pelo alimento industrial Balem, T. A. et al. (2017) Revista Espacios Artigo Analisar as transformações ocorridas em função do processo de industrialização da alimentação. Evolução dos alimentos mais consumidos no Brasil entre 2008-2009 e 2017- 2018 Rodrigu es, R. M. (2021) Revista de Saúde Pública Artigo Descrever a evolução do consumo alimentar da população brasileira de 2008–2009 a 2017– 2018. Análise do consumo alimentar dos adolescentes brasileiros nos anos de 2015 a 2021 Ribeiro, I. W. e Malaqu ias,P. U. (2022) Repositório Ânima Educação Monografia Analisar e compreender as mudanças ocorridas nos hábitos alimentares dos adolescentes. 34 Avaliação nutricional, consumo alimentar e percepção de hábitos saudáveis entre escolares de 10 a 14 anos. Silva, G. M. F. da. et al. (2018) Revista Brasileira Ciências da Saúde Artigo Avaliar o estado nutricional, o consumo alimentar e a percepção de hábitos saudáveis de adolescentes no município de Guarapuava-PR. Frequência do consumo alimentar de adolescentes Rocha, A. A. F. M. (2018) Repositório da Universidade Federal de Mato Grosso Trabalho de conclusão de curso Analisar a frequência de consumo alimentar de adolescentes de uma escola pública do município de Cuiabá – MT. Influência da educação nutricional no consumo de frutas e verduras de alunos do sertão pernambucano Silva, K. R. G. et al. (2018) Revista Semiárido de Visu Artigo Verificar a influência da educação nutricional no consumo de frutas e hortaliças e os fatores associados ao consumo dos estudantes. Ingestão de alimentos industrializados por crianças e adolescentes e sua relação com patologias crônicas: uma análise crítica de inquéritos epidemiológicos e alimentares Silva, M da C. et al. (2018) Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimen to Artigo Analisar a ingestão de alimentos industrializados por crianças e adolescentes e sua relação com doenças crônicas. Análise do mercado de frutas no município de São Paulo das Missões - RS Oliveira , L. F. de. (2019) Repositório Digital Universidade Federal da Fronteira Sul Trabalho de conclusão de curso Analisar a comercialização de frutas no município de São Paulo das Missões-RS. Relação entre o alto índice de obesidade e o baixo consumo de frutas e hortaliças: uma análise dos bairros Bacacheri e Sítio Cercado no município de Curitiba- PR Cardos o, J. T. et al. (2022) Repositório Ânima Educação Projeto de Pesquisa Identificar as diferenças na oferta de frutas e hortaliças em regiões com diferenças no poder aquisitivo. 35 Segundo o estudo de Gomes e Alves (2021), a horta escolar contribui no processo de aprendizagem dos alunos, é um local onde os estudantes têm a oportunidade de aprender as disciplinas escolares de uma nova forma. A utilização da horta escolar faz com que o aluno tenha um contato diferente com os alimentos, levando-o a adquirir melhores hábitos alimentares. Toledo (2021) em seu estudo, sobre Horta Educativa, realizado em escolas públicas no estado de São Paulo, observou mudanças significativas nos hábitos alimentares dos estudantes, aumento do conhecimento sobre a alimentação, induzindo os estudantes a alimentar-se frequentemente da merenda escolar. Corrêa (2018), avaliou através da aplicação de um questionário, o estado nutricional, o conhecimento em nutrição e consumo alimentar antes e após intervenções de atividades de EAN, em uma escola municipal de Três Pontas-MG. Os resultados obtidos demonstraram que cerca de 60,9% dos alunos alimentavam-se adequadamente, 21,7% encontravam-se com sobrepeso e 15,9% eram considerados obesos. Também observou que o consumo de frutas, hortaliças, alimentos ultraprocessados e hipercalóricos antes das atividades de EAN eram considerados inadequados, devido à falta de conhecimento, pois após as atividades apresentou melhora, um aumento de mais de 30% em relação ao início das atividades. Nesta perspectiva, é importante que atividades pedagógicas, como exemplo das hortas, tornem-se frequentes nas escolas, pois podem facilitar o entendimento, unindo a teoria e a prática, bem como desenvolve o ensino-aprendizagem sobre os alimentos e possibilita a aproximação com o meio ambiente. Ensinar às crianças a importância da alimentação saudável, pode contribuir para a formação de adultos com bons hábitos alimentares (GONÇALVES; DIAS; CINTRA, 2018). Pinheiro (2012), avaliou o rendimento de alunos participantes das aulas teóricas e práticas da horta em relação aos que participaram apenas das aulas teóricas, em quatro escolas. O autor observou que a horta escolar auxilia no rendimento escolar, os estudantes participantes das aulas teóricas e práticas apresentaram maior rendimento escolar, as médias das notas foram superiores em relação aos que participaram apenas das aulas teóricas. A horta escolar é um recurso pedagógico que deve ser utilizado de maneira interdisciplinar, pois desperta o interesse dos estudantes, promove a alimentação saudável e possibilita um melhor aprendizado através do conhecimento teórico e prático. 36 A utilização da horta escolar não está relacionada apenas ao ensino da educação alimentar, mas a abordagem de uma variedade de temas. Conforme os trabalhos de Cancelier et al. (2020) e Ribeiro et al. (2019), observam que a horta é uma estratégia de intervenção didática, que permite o estudo das diferentes disciplinas curriculares de forma interdisciplinar, relacionando o ambiente, a cultura, a alimentação, entre outros conteúdos, possibilita o desenvolvimento de reflexões. A horta não só promove o incentivo a hábitos alimentares saudáveis dos professores, alunos e de seus familiares, mas, também proporciona a construção de conhecimentos que possibilitem o cultivo em sua residência. Segundo o trabalho de Santos et al. (2014), os professores afirmam que a interdisciplinaridade, produzida pela horta, contribuí no processo de ensino aprendizagem, os alunos apresentam maior interesse às aulas, pois é uma nova forma de dar aulae de aprender, sendo uma fuga das tradicionais e cansativas aulas em sala, as atividades teórico-práticas fazem com que o conteúdo seja mais fácil de ser compreendido, desperta a criatividade, curiosidade e o senso crítico nos estudantes. Além dos benefícios citados, a produção de hortaliças beneficia a merenda escolar, seu excedente pode ser distribuído para os estudantes levarem para casa e consumir com seus familiares. Segundo Costa (2014) e Cardoso (2020), introduzir uma horta escolar beneficia não só estudantes e professores, mas também pode possibilitar o aprendizado aos familiares dos alunos. Para que isso ocorra, a escola deve desenvolver atividades que propiciem a aproximação e o envolvimento dos pais com a horta. Através do conhecimento adquirido junto aos seus filhos, poderão conduzir uma horta em sua própria residência, contribuindo para o consumo da família de alimentos saudáveis. A utilização da horta no ambiente escolar é uma atividade pedagógica que, juntamente com as atividades da educação alimentar nutricional, contribuem para o conhecimento sobre alimentação saudável, proporcionando mudanças positivas no consumo e na formação de hábitos alimentares saudáveis dos estudantes. Além disso, faz com que haja uma aproximação maior dos familiares, tanto com os alunos, quanto com as atividades escolares. Neste sentido, a influência dos familiares nos hábitos alimentares é importante na vida das crianças e adolescentes. Quando os pais têm o hábito de comer alimentos industrializados, consequentemente, seus filhos terão maior predisposição a consumi-los. Por isso, é necessário que os pais sejam exemplo e consumam alimentos saudáveis, no cotidiano com os filhos. A prática de bons alimentares ao longo da vida, pode diminuir os riscos de desenvolver DCNTs (SILVA et al., 2019). 37 As DCNTs não são problemas crônicos isolados presente em uma fase da vida de um indivíduo, mas sim, problemas que a exposição a determinados fatores de risco, como a alimentação inadequada na infância, pode acarretar e comprometer a saúde do adulto ao longo de sua vida (ANTUNES, 2018). A família deve ser a principal influenciadora de bons hábitos alimentares para crianças e adolescentes. É notório que boas práticas alimentares nos primeiros anos de vida são importantes para a construção de bons costumes. A escola deve ser aliada nesse processo, pois, acompanha a criança e ao adolescente durante boa parte do período de seu desenvolvimento até a vida adulta. Dentre os fatores influenciáveis na alimentação saudável, destaca-se o acesso às tecnologias e o convívio social. No ambiente escolar, um estudante pode exercer influência positiva ou negativa no comportamento alimentar de outro, através dos alimentos que leva para sua alimentação. Da mesma maneira, por passarem boa parte do dia conectados às redes sociais, as crianças e adolescentes são submetidos aos efeitos da mídia, através das propagandas atrativas utilizadas pelas empresas, o que poderá refletir em suas escolhas alimentares. (CARVALHO, 2017). A regulação da publicidade e propaganda de alimentos tem como base a promoção da saúde e a prevenção de doenças, busca proteger o consumidor da falta de informação relacionada aos alimentos de baixo valor nutricional, ricos em sódio, gorduras e açúcar e destinados prioritariamente às crianças e adolescentes, pois esses alimentos vão contra o direito a uma alimentação adequada nutricionalmente. Portanto, é necessário que se faça o monitoramento e a fiscalização das propagandas, pois muitas vezes vão contra o processo de promoção da saúde e da alimentação adequada e saudável (HENRIQUES; SALLY; BURLANDY, 2012). Em contrapartida, o trabalho realizado por Felipe (2018), avaliou o nível de conhecimento e de consumo das crianças e adolescentes do Projeto Ações Socioeducativas para crianças do Ensino Fundamental da Rede Pública Municipal do Recife/PE, sobre frutas e hortaliças versus guloseimas. O estudo mostrou que as crianças e adolescentes, apresentaram alto nível de conhecimento sobre os alimentos saudáveis, consumindo raramente guloseimas. Pode-se observar que o consumo de alimentos industrializados por crianças e adolescentes, conforme os estudos, têm reduzido. Mesmo influenciados por diversos fatores atualmente, o conhecimento adquirido com as atividades de EAN, faz com que o indivíduo tenha consciência ao alimentar-se. 38 Outro fator relacionado à utilização de tecnologias, é que a criança e o adolescente passaram a ter um estilo de vida sedentário, ficando muito tempo utilizando celulares, computadores, entre outros aparelhos eletrônicos. Pelo fato de as ruas estarem mais perigosas, maior circulação de automóveis, levando-os a ficar a maior parte do tempo dentro de casa e consequentemente, menos ativos fisicamente. (TRAVAIN; TRAVAIN; ASSIS, 2019). Ao longo dos anos, percebe-se que com o início da industrialização e ao fato de as mulheres deixarem o trabalho doméstico, para trabalharem fora de suas casas, diminuiu-se o tempo para dedicar-se às tarefas domésticas, como, por exemplo, cozinhar. A partir disso, a indústria surge cada vez mais produzindo alimentos que facilitem a vida das pessoas, sejam congelados ou processados. Como consequência, as pessoas passaram a alimentar-se “mal” do ponto de vista nutricional, reduzindo o consumo de frutas e hortaliças, algumas vezes deixando de consumi-los totalmente. Diante disso, os filhos acabam por não se alimentar corretamente, pela falta de influência dos pais, muitas vezes, ocorre de o filho consumir os alimentos saudáveis apenas quando está na escola (VIEIRA, 2013). Um estudo feito por Soares et al., (2022), em alunos de escola pública de Barbacena- MG, mostrou que os adolescentes consomem em média 1969,5 kcal/dia, destas 49,5% são alimentos in natura ou minimamente processados, 10,8% de alimentos processados e 39,7% de alimentos ultraprocessados. Messias et al. (2016), através de um estudo, verificaram que o consumo de frutas e hortaliças por adolescentes de uma escola pública de Petrolina- PE, de ambos os gêneros, apenas 28,6% consumiram porções adequadas. Os adolescentes, independentemente de qualquer faixa etária estabelecida, apresentaram baixo consumo de frutas e hortaliças. De acordo com Ribeiro et al. (2015), através de um questionário avaliaram a frequência alimentar e a qualidade das refeições de estudantes de uma escola municipal de São Miguel do Oeste (SC), a maior parte dos alunos respondeu alimentar-se razoavelmente, ter boa alimentação, ou ótima. Cerca de 25% dos estudantes responderam que têm uma alimentação ruim. Os estudos analisados mostram que são necessárias ações de promoção de hábitos saudáveis, a fim de incentivar os indivíduos a alimentar-se adequadamente do ponto de vista nutricional. Pois, apesar de quase equivaler às quantidades, mais de 50% dos alimentos consumidos pelos estudantes são processados ou ultraprocessados, resultando em uma baixa qualidade nutricional. Nota-se que mais de 70% dos adolescentes alimentam-se inadequadamente e 25% apresentam alimentação ruim. 39 Balem et al. (2017), através de entrevista com crianças e adolescentes de 10 a 16 anos, observaram que todos os entrevistados tinham conhecimento que a alimentação de antigamente era mais saudável, pois não existiam tantos alimentos industrializados. Afirmaram que, atualmente, os pais utilizam alimentos industrializados por ser considerados práticos e rápidos no preparo. Entre os alimentos mais consumidos atualmente, estão as bolachas recheadas, salgadinhos, congelados, nuggets, macarrão instantâneo, lasanha industrializada e refrigerantes. Resultado semelhante foi observado por Rodrigues et al. (2021), através da análise da evolução do consumo alimentar da população brasileira de 2008–2009 a 2017–2018, em dois dias não consecutivos em indivíduos com 10anos ou mais de idade. Identificaram que os alimentos mais consumidos são os mesmos considerados base da alimentação dos brasileiros: arroz, feijão, café, pães, hortaliças e carne bovina. Além destes, biscoitos doces/recheados, biscoitos salgados, carnes processadas e refrigerantes, também se mantiveram entre os mais consumidos. Percebe-se que as crianças e adolescentes, destas faixas etárias, têm consciência sobre o que é um alimento saudável que os alimentos industrializados, quando consumidos em excesso, podem ser prejudiciais, porém, não deixam de consumi-los dada sua praticidade. Ribeiro e Malaquias (2022) analisaram o consumo alimentar dos adolescentes brasileiros entre os anos de 2015 a 2021, para observar as mudanças ocorridas nos hábitos alimentares, em 1.141.822 adolescentes entrevistados, nas regiões centro-oeste, nordeste, norte, sudeste e sul. Observou-se que a cada ano que passa, vem reduzindo a quantidade de refeições diárias e o consumo de frutas e hortaliças, em contrapartida, aumentando o consumo de alimentos ultraprocessados. Segundo a pesquisa, independente da região onde residem e das características culturais, os adolescentes passaram a alimentar-se cada vez mais de alimentos processados. As refeições diárias têm sido substituídas por lanches, que na maioria das vezes são compostos por alimentos ultra processados. De acordo com Silva et al. (2018) e Rocha (2018), ambos avaliaram o consumo alimentar e percepção de hábitos saudáveis de estudantes de 10 a 15 anos, observaram que a maioria estava com o índice de massa corpórea (IMC) adequado, porém mais de 30% apresentava sobrepeso, obesidade e obesidade grave. Observa-se que é frequente o consumo diário de feijão, arroz, juntamente com produtos ultra processados, além de elevado o consumo de açúcares e óleos, é menor a frequência no consumo diário de leite e derivados, frutas e hortaliças. 40 As pesquisas mostram que apesar do brasileiro apresentar um estado nutricional adequado, existe uma piora na qualidade da alimentação, comparada há alguns anos. Independentemente de sexo, idade e renda familiar, há aumento no consumo de produtos industrializados, o que, consequentemente, leva a índices com aumento no percentual de excesso de peso. Silva et al. (2018) verificaram os fatores associados ao consumo de frutas e hortaliças e a influência de atividades de educação nutricional, por meio de questionários, em estudantes do sertão pernambucano. O estudo mostrou que, a renda e o comportamento familiar são grandes influenciadores dos hábitos alimentares dos adolescentes. As atividades de educação nutricional tornam o indivíduo consciente, pois passam a compreender a importância da alimentação saudável, logo, faz com que aumente o consumo de frutas e hortaliças. Outro fator relacionado ao baixo consumo de hortaliças e frutas é o poder aquisitivo, pois impacta diretamente na escolha. Devido ao elevado preço de algumas hortaliças e frutas, muitas famílias de baixa renda, acabam suprindo suas necessidades alimentares com carboidratos, lipídeos e proteínas. Muitas vezes acabam adquirindo produtos mais baratos e de baixa qualidade (OLIVEIRA, 2019). De acordo com uma pesquisa de campo realizada por Cardoso et al. (2022), através de questionários, coletaram informações em dois bairros da cidade de Curitiba, um de renda média/baixa e outro de renda média/alta, em estabelecimentos que comercializam hortaliças e frutas, identificou-se que a disponibilidade e qualidade de alimentos in natura diferem. O poder aquisitivo e o comportamento familiar, são os principais fatores levados em consideração na hora de escolher o alimento. Os estudos mostram que, pessoas com maior poder aquisitivo, têm acesso a maior variedade e melhor qualidade de produtos. Os resultados desta pesquisa mostraram que são vários os fatores influenciadores na formação do comportamento alimentar e na redução do consumo de alimentos saudáveis, principalmente, o aumento de produtos industrializados. As atividades didáticas, como a utilização da horta, associada a educação alimentar nutricional, no ambiente escolar, se mostram importantes na promoção de hábitos alimentares saudáveis e mudanças no estilo de vida das crianças e adolescentes. 41 5. CONCLUSÃO Com base na literatura científica apresentada, a partir deste levantamento bibliográfico, é possível concluir que a utilização de hortas escolares para a promoção da educação alimentar nutricional pode ser um método eficaz no combate e prevenção à obesidade e à desnutrição, assim como de doenças resultantes destes problemas de saúde pública. Além de contribuir na promoção da consciência alimentar e nutritiva dos alunos, tanto no ambiente escolar quanto fora dele, a horta escolar, também apresenta como benefício trabalhar a interdisciplinaridade, facilitando o aprendizado dos estudantes em diversas matérias curriculares. É importante ressaltar a necessidade de interação entre a escola e família, pois ambos devem trabalhar juntos para que as mudanças sejam efetivas. O comportamento alimentar infantil é uma consequência do ambiente ao qual a criança está inserida, bem como o convívio social, a mídia, a falta de conhecimento em relação à nutrição e as condições financeiras. Esses fatores exercem influência nas escolhas alimentares. Dentre os principais motivos que justificam o baixo consumo de frutas e hortaliças no Brasil, cita-se o poder aquisitivo, a praticidade dos alimentos industrializados, os costumes familiares e regionais, as relações sociais e a influência da mídia. O que mostra a necessidade de intervenções educativas, a fim de contribuir no conhecimento para a mudança nos hábitos alimentares. 42 REFERÊNCIAS AGUIRRE, Taane de Oliveira. et al. Alimentos vendidos em escolas e no seu entorno: uma análise do acesso e da qualidade dos alimentos no ambiente escolar. Saúde (Santa Maria), [S. l.], v. 47, n. 1, 2021. DOI: 10.5902/2236583443841. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/revistasaude/article/view/43841. Acesso em: 10 jan. 2023. ALMEIDA, Ariane Ferreira de. et al. Educação alimentar e nutricional na infância: aplicação de estratégias em incentivo à alimentação saudável. Revista Conexão Uepg, [S.L.], v. 17, p. 1-12, 2021. Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). http://dx.doi.org/10.5212/rev.conexao.v.17.19608.82. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/conexao/article/view/19608/209209216164. Acesso em: 29 dez. 2022. ALVES, Gabriela Manhães; CUNHA, Tereza Claudina de Oliveira. A importância da alimentação saudável para o desenvolvimento humano. Humanas & Sociais Aplicadas, [S.L.], v. 10, n. 27, p. 46-62, 21 fev. 2020. Institutos Superiores de Ensino do Censa. http://dx.doi.org/10.25242/8876102720201966. Disponível em: file:///C:/Users/Angelica/Downloads/1966-Texto%20do%20artigo-8048-1-10-20200221.pdf. Acesso em: 31 dez. 2022. ANDREOLI, Rejane. Alimentação saudável: prevenção de doenças e cuidados com a saúde. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor. 2016. v.1. (Cadernos PDE). Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2016/20 16_artigo_cien_unioeste_rejaneandreoli.pdf. Acesso em: 30 dez. 2022. ANTUNES, Natália Jürgensen. Obesidade infantil: vivências familiares relativas ao processo de aconselhamento nutricional. 2018. 233 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Saúde Pública, São Paulo, 2018. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/b269/2ccf58da4536e65a81d736f36b029fc6e9f3.pdf. Acesso em: 11 mar. 2023. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. Mapa da Obesidade. 2019. Disponível em: https://abeso.org.br/obesidade-e-sindrome- metabolica/mapa-da-obesidade/. Acesso em: 04 jan. 2023. ÁVILA, Renata Silva de. et al. Educação
Compartilhar