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1 O DESENHO PARA CRIANÇA 1 Sumário 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3 2. O DESENHO E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ....................... 5 2.1 O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL .......................................... 6 2.2 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO............................................ 7 2.3 O DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO ......................................... 7 2.4 O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR ....................................... 8 2.5 O DESENVOLVIMENTO SOCIAL................................................... 9 3. O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................ 10 4. LINGUAGEM E EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE ........................... 15 5. O DESENHO INFANTIL E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO ....... 22 6. CONCLUSÃO ....................................................................................... 29 7. REFERÊNCIAS .................................................................................... 31 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1. INTRODUÇÃO O desenho é essencial para o desenvolvimento infantil, além de ser uma atividade muito divertida, é uma forma de comunicação. É por onde a criança expressa seus sentimentos, suas ideias e suas vontades, sobretudo quando ela ainda não consegue se expressar por meio da linguagem oral e escrita. Quando a criança desenha, ela cria pontes entre seu mundo imaginário e o que é real, externando as suas visões de mundo. Por meio do desenho é possível perceber, por exemplo, se a criança é tímida, se ela tem autoconfiança e também quais os interesses dela. Na escola o desenho não deve ser desvalorizado e nem tão pouco limitado. É necessário que ele seja visto como um recurso muito importante, especialmente na Educação Infantil, onde deve ser uma atividade sempre presente, afinal, muitas crianças desenham para demonstrar o que estão sentindo. Ter o espaço do desenho como atividade é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, além de desenvolver o senso de observação, percebendo a variedade de cores, formas e texturas. É por meio do desenho, que a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade. Como possibilidade de brincar, de falar, de registrar, o desenho marca o desenvolvimento da infância e em cada estágio, ele assume um caráter próprio. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar e de registrar marca o desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio, ou seja, a criança apresenta uma linguagem própria relacionada com a construção de seu próprio eu. Estes estágios ou etapas definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. No entanto, não necessariamente a criança tem de “encaixar-se” exatamente na etapa descrita, pois se sabe que algumas se desenvolvem mais lentamente que outras. Esta maneira 4 própria de desenhar de cada idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para cultura. A criatividade de uma criança parece não ter limites, por esta ser uma fase onde o lúdico é muito presente o simples ato de desenhar possui um papel muito importante no desenvolvimento da criança, além de poder revelar a forma como ela enxerga o mundo. O desenho é uma das principais atividades na educação infantil, além é claro das brincadeiras. O desenho revela uma forma de se expressar e contribui em vários aspectos, entre eles: coordenação motora, visão, movimentos das mãos, organização do pensamento, construção das noções espaciais e outros aspectos cognitivos muito importantes para a alfabetização. Ao se deparar com um desenho de uma criança, muitas vezes não é possível ver uma lógica ou sentido. Porém é no desenho que a criança cria uma cópia fiel da realidade, onde ela imprime seus sentimentos e ideais podendo dar pistas de como a mente da criança se encontra. Por isso, muitos psicopedagogos utilizam como método o desenho, para saber o que está acontecendo na mente da criança. Sendo está a maneira mais prática de se obter informações, do que em uma entrevista por exemplo. É através dos traços e cores que a criança faz onde é possível visualizar o que ela sente e o que ela ajuíza sobre determinado assunto. Seja na escola, ou em casa, o simples ato de desenhar é muito importante para uma criança, de modo que ela trabalhará o seu cognitivo e também poderá se comunicar melhor com seus pais através deste método tão ingênuo. 5 2. O DESENHO E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA O desenho como método pedagógico-educacional tem uma importância no cotidiano infantil, colaborando com matérias denominadas fundamentais, não sendo apenas uma mera atividade escolar ou um passa tempo. Quando a criança desenha, cria pontes entre o mundo real e o imaginário, expressando suas concepções e percepções do mundo no qual está inserida. Além disso, o desenho permite à criança retratar em diferentes dimensões, suas experiências pessoais em busca da sua própria identidade. De acordo com Porche (1982, p.25): O que está fundamental em causa da educação artística são valores do meio ambiente, a qualidade de vida. Por meio ambiente devemos entender os valores sensíveis do panorama da vida dos objetos naturais e artificiais, sendo o conjunto dos estímulos sensoriais, formas, cores, cheiros, sabores, movimentos e ruídos, através das quais o espaço se acha ocupado, diferenciado, determinado como espaço familiar para quem o habita. Através dos desenhos as crianças percebem formas de dizer coisas, e podem ser usadas como instrumentos valiosos no dia-a-dia do professor que ao interpretá-los, pode obter resultados que irão facilitar o desenvolvimento e a aprendizagem na sala de aula, já que muitos utilizam o desenho como uma forma de ganhar tempo e distrair as crianças, o desenho pode ser utilizado desde que tenha uma finalidade como descobrir possíveis problemas. Para Almeida (2003, p. 27): [...] as crianças percebem que o desenho e a escrita são formas de dizer coisas. Por esse meio elas podem “dizer” algo, podem representar elementos da realidade que observam, e com isso, ampliar seu domínio e influenciar sobre o ambiente. Quando criança, a arte de desenhar flui espontaneamente e não deve ser comparada a técnicas do adulto. Sendo assim as ideias individuais quefluirão durante o desenho vão depender muito da cultura, dos hábitos, dos desejos, das oportunidades, do modo de vida e do meio em que o indivíduo está inserido. Esta espontaneidade ocorrerá de forma positiva quando a criança sentir vontade e não se sentir pressionada a fazer algo que ela não queira; afinal de contas, desenhar não é um ato imediato, pois é necessária concentração e associar o mundo a sua volta para só assim decodificar o que foi de fundamental e formular o desenho. Segundo Porche (1982, p.102): O desenho é o conjunto das atividades humanas que desembocam na criação e fabricação concreta, em diversos materiais de um mundo figurativo. 6 Estas figuras podem ser feitas de formas carregadas de emotividade e afetividade de formas codificadas, signos de uma linguagem elaborada. Elas exigem, para a sua fabricação, da colaboração das mãos dos olhos, de instrumentos, de técnicas e de materiais. A partir das produções artísticas a criança desenvolve diferentes sensações. Ao praticar atividades, vão utilizar materiais que podem favorecer o desenvolvimento da percepção infantil, além de permitir diversas sensações táteis, auditivas e visuais, que servem como recurso motivador, onde a criança irá produzir de acordo com as suas próprias conclusões ao utilizar o material apresentado. Sendo assim, para que possamos identificar o seu desenvolvimento, seja ele emocional, cognitivo, perceptivo, psicomotor e social, o desenho é utilizado. 2.1 O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL O desenho exerce forte influência no processo de desenvolvimento emocional infantil, pois as produções gráficas da criança podem vir carregadas de diversos sentimentos, tais como medo, angústia, insegurança e alegria. À medida que o desenvolvimento infantil vai se processando, a criança tende a modificar suas reações emocionais com o convívio social, aonde a criança vai aprendendo a controlar melhor suas emoções. Na idade pré-escolar, o choro, os gritos ou movimentos violentos que fazem parte do contexto sociocultural ou uma forma de libertar suas emoções, são substituídos por outra forma de expressão desses sentimentos que a criança expressará concretamente no ambiente que a cerca, sendo o desenho uma delas, que vão além de registros gráficos, e podem até identificar uma infância atropelada pelos problemas sociais. A linguagem escrita caminha paralelamente, recriando significações, vivemos em contato com grandes imagens, como as revistas nas bancas, fachadas das lojas e muitas outras coisas. 7 As cores formam um belo colorido que a todo instante, bombardeiam o pensamento, criando novas imagens. Segundo, Derdyk (1994, p. 51): O desenho é a manifestação de uma necessidade vital da criança: agir sobre o mundo que a cerca, intercambir, comunicar. A criança projeta no seu desenho o seu esquema corporal, deseja ver a sua própria imagem refletida no espelho do papel. Diante dos relatos apresentados neste capitulo podemos concluir que o ato de desenhar expressa muitas realidades como: medo, emoção, alegria, curiosidade, verdades. Entretanto, a criança passa por inúmeros processos vivenciais, e um contato entre ela e o meio em que vive pode ser expresso no papel, afirmando e contando suas vivências no dia a dia. 2.2 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Neste aspecto, percebemos o desenho como forma utilizada pela criança para expressar concretamente o conhecimento sobre o ambiente que a cerca, sendo também recurso nas mãos do professor, para que junto a outros dados, acompanhe o desenvolvimento cognitivo infantil. Ao construir imagens do mundo real, expressa o que sabe frente ao objeto representado, podendo construir seus conceitos na busca dessa representação da realidade. Dentre diversas razões a serem questionadas, uma delas é o bloqueio emocional que algumas pessoas criam em seu ambiente, onde a falta de motivação para realizar atividades e a carência de envolvimento com objetos é identificada através do desenho. Escrever sobre o desenvolvimento cognitivo da criança de educação infantil é extremamente importante já que existem diferentes concepções a respeito do que seja o processo de desenvolvimento e também de aprendizagem. O processo de desenvolvimento vai variar de criança para criança já que é único dependendo das condições de interação dessa criança com seu meio, resultando na construção de suas estruturas cognitivas. A educação infantil abarca dois períodos necessários e em que a criança passa para que tenha um bom desenvolvimento são eles o período sensório-motor e o pré-operatório. 2.3 O DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO Através das produções artísticas a criança desenvolve diferentes sensações que ao praticar atividades, vão utilizar materiais que podem favorecer o desenvolvimento perceptivo infantil, além de permitir diversas sensações táteis, auditivas, visuais e 8 alifáticas que servem como recurso motivador, onde a criança irá produzir de acordo com as suas próprias conclusões ao utilizar o material apresentado. O professor poderá interrogar os alunos durante o desenvolvimento da atividade, sobre o que sentem ao manuseá-lo, se tem cheiro, se faz barulho, se dá para amassar, dobrar ou rasgar e notar a percepção de cada aluno. Para desenvolver noções relacionadas ás propriedades dos diferentes objetos e suas possibilidades de transformação, o professor pode colocar diversos matérias e objetos na sala, dispostos de forma cessível, objetos que produzam sons, como chocalhos de vários tipos, livros, almofadas e materiais para construção que possam ser empilhados e justapostos. Portanto oferecer diversos materiais com terra, área, farinha etc., que misturados entre si passam por processos de transformação ocasionando diferentes resultados, proporciona às crianças experiências interessantes. Após esta experiência as crianças podem gradativamente desenvolver uma percepção integrada do próprio corpo por meio de seu uso na realização de determinadas ações pertinentes ao cotidiano. A percepção dos elementos que compõem a paisagem do lugar onde vive é uma aprendizagem fundamental para que a criança possa desenvolver uma compreensão cada vez mais ampla da realidade social e natural e das formas de nela intervir. 2.4 O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR O desenho favorece que a criança exercite suas habilidades motoras e desenvolva a sua imaginação. E através de riscos e o uso de diversos movimentos, a criança busca o controle do seu próprio corpo, possibilitando maior autonomia no contato com objetos durante a exploração espacial. Cabe ao professor estimular o desenvolvimento dessas atividades, oferecendo à criança espaço suficiente que possibilite a ampliação dos seus movimentos. A coordenação motora da criança vai se aperfeiçoando, e criando certa facilidade na manipulação de instrumentos como lápis, e pincel, tornando o contato com o mesmo mais firme entre os dedos. A medida que a criança vai rabiscando, suas garatujas sofrem uma roupagem nova, com atribuições de significados. A criança começa a dar nome às garatujas, desenvolvendo tanto a coordenação motora como a linguagem oral, que neste momento encontra-se em formação antes mesmo da linguagem escrita gradualmente, a criança vai se desenvolvendo mentalmente e melhorando sua 9 coordenação motora. Em seus desenhos as linhas fecham, surgindo formas definidas que ela vai interpretando. 2.5 O DESENVOLVIMENTO SOCIAL A escola de educação infantil deve ser um espaço pronto para favorecer o aperfeiçoamento dos processos cognitivos, perceptivos, psicomotores, emocionais e sociais da criança através da exploração e experimentação, valorizando a descoberta do novo para a reconstrução de conhecimentos, pois, a criança é um sujeito social e como tal tem o direito as mais diversas experiências culturais (brincadeiras, literatura,música, desenhos, pintura). Desta forma, o desenho serve como instrumento utilizado pela criança para retratar o contexto sociocultural do qual faz parte, sendo uma forma de reprodução de acontecimentos da sua vida social e política. Ao aliar o desenho feito pela criança com interpretação pode-se conseguir instrumento de compreensão da influência do meio social externa à escola e de como as crianças percebem tanto o contexto histórico quanto o social. Dessa forma, começa-se a desenvolver o processo educacional que levará a construção da língua escrita. O desenho infantil é uma atividade envolvente que possui um papel importante no desenvolvimento cognitivo, afetivo e na aprendizagem, expressando a fantasia da criança e sua personalidade. 10 3. O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL É por meio do desenho, que a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade. Como possibilidade de brincar, de falar, de registrar, o desenho marca o desenvolvimento da infância e em cada estágio, ele assume um caráter próprio. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar e de registrar marca o desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio, ou seja, a criança apresenta uma linguagem própria relacionada com a construção de seu próprio eu. Estes estágios ou etapas definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. No entanto, não necessariamente a criança tem de “encaixar-se” exatamente na etapa descrita, pois se sabe que algumas se desenvolvem mais lentamente que outras. Esta maneira própria de desenhar de cada idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para cultura. No início, o que se vê é um emaranhado de linhas, traços leves, pontos e círculos, que, muitas vezes, se sobrepõem em várias demãos. Poucos anos depois, já se verifica uma cena complexa, com edifícios e figuras humanas detalhados. O desenho acompanha o desenvolvimento dos pequenos como uma espécie de radiografia. Nele, vê-se como se relacionam com a realidade e com os elementos de sua cultura e como traduzem essa percepção graficamente. Toda criança desenha. Pode ser com lápis e papel ou com caco de tijolo na parede. Agir com um riscador sobre um suporte é algo que ela aprende por imitação - ao ver os adultos escrevendo ou os irmãos desenhando, por exemplo. "Com a exploração de movimentos em papéis variados, ela adquire coordenação para desenhar", explica Mirian Celeste Martins, especialista no ensino de arte e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A primeira relação da meninada com o desenho se dá, de fato, pelo movimento: o prazer de produzir um traço sobre o papel faz agir. 11 Os rabiscos realizados pelos menores, denominadas garatujas, tiveram o sentido ampliado sob o olhar da pesquisadora norte-americana Rhoda Kellogg, que observou regularidades nessas produções abstratas. Observando cerca de 300 mil produções, ela analisou principalmente a forma dos traçados (rabiscos básicos) e a maneira de ocupar o espaço do papel (modelos de implantação) até a entrada da criança no desenho figurativo, o que ocorre por volta dos 4 anos. No período de produção de garatujas, ocorre uma importante exploração de suportes e instrumentos. A criança experimenta, por exemplo, desenhar nas paredes ou no chão e se interessa pelo efeito de diferentes materiais e formas de manipulá-los, como pressionar o marcador com força e fazer pontinhos. Essa atitude de experimentação tem valor indiscutível na opinião de Rhoda: "Para ela 'ver é crer' e o desenho se desenvolve com base nas observações que a criança realiza sobre sua própria ação gráfica", ressalta Rosa Iavelberg, especialista em desenho e docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), no livro O Desenho Cultivado da Criança: Práticas e Formação de Educadores. Esse aprendizado durante a ação é frisado pela artista plástica e estudiosa Edith Derdyk: "O desenho se torna mais expressivo quando existe uma conjunção afinada entre mão, gesto e instrumento, de maneira que, ao desenhar, o pensamento se faz". O DESENHO E O MUNDO EXTERIOR Na faixa etária de 4 a 7 anos, as crianças começam a vincular os seus desenhos com o mundo exterior e as pessoas e coisas que desenham já têm formas mais definidas. No entanto, há crianças que ainda não correlacionam as coisas entre si, apenas as dispersam no papel. Na maioria dos casos, a criança, por si mesma, adquire a necessária experiência e o estímulo, que a levará à descoberta das “relações espaciais” sem precisar de nenhum apoio adicional ou interferência de adultos. Isso acontece, gradativamente, a partir de suas próprias experiências, tanto que as motivações são necessárias para que a criança desenvolva a sua sensibilidade. AS CORES E AS PROPORÇÕES 12 É também nesta faixa etária, que a criança começa a relacionar as cores com os objetos reais, a partir da relação de significado emocional que ela estabelece com os objetos. Um aspecto importante que se evidencia é a questão da proporção, pois essa está relacionada ao lado emocional da criança, ou seja, a criança desenha de acordo com suas percepções e não com o tamanho real das coisas. O DESENHO E A ESCRITA Há uma relação muita próxima entre o desenho e o desenvolvimento da escrita. A escrita exerce uma verdadeira fascinação sobre a criança, e isso bem antes de ela própria poder traçar verdadeiros signos. Muito cedo, ela tenta imitar a escrita dos adultos. Porém, mais tarde, quando ingressa na escola, verifica-se uma diminuição da produção gráfica, já que a escrita (considerada mais importante) passa a ser concorrente do desenho. REGISTRO DO MUNDO NA VISÃO DA CRIANÇA Uma das principais funções do desenho no desenvolvimento infantil é a possibilidade que oferece de representação da realidade. Trazer os objetos vistos no mundo para o papel é uma forma de lidar com os elementos do dia a dia. "Quando a criança veste uma roupa da mãe, admite-se que ela esteja procurando entender o papel da mulher", explica Maria Lúcia Batezat, especialista em Artes Visuais da Universidade Estadual 13 de Santa Catarina (Udesc). "No desenho, ocorre a mesma coisa. A diferença é que ela não usa o corpo, mas a visualidade e a motricidade." Esse processo caracteriza o desenhar como um jogo simbólico (veja abaixo o comentário de Yolanda, 5 anos, sobre seu desenho). "Esse aqui não é um coelho. Não me diga que é um coelho porque é um boi bebê. Eu estou fazendo uma galinha que foi botar ovo no mato. Quer dizer, uma menina que foi pegar plantas no mato para dar ao marido" Yolanda, 5 anos Muitos autores se debruçaram sobre as produções gráficas infantis, analisando e organizando-as em fases ou momentos conceituais. Embora trabalhem com concepções diferentes e tenham chegado a classificações diversas, é possível estabelecer pontos em comum entre as evolutivas que estabelecem. Pesquisadores como Georges-Henri Luquet (1876-1965), Viktor Lowenfeld (1903-1960) e Florence de Mèridieu oferecem elementos para a compreensão dos desenhos figurativos das crianças, destacando algumas regularidades nas representações dos objetos. Desenhar é uma forma de a criança lidar com a realidade que a cerca, representando situações que lhe interessam. Mais cedo ou mais tarde, todos os pequenos se interessam em registrar no papel algo que seja reconhecido pelos outros. No começo, é comum observar o que se convencionou chamar de boneco girino, uma primeira figurahumana constituída por um círculo de onde sai um traço representando o tronco, dois riscos para os braços e outros dois para as pernas. Depois, essa figura incorpora cada vez mais detalhes, conforme a criança refine seu esquema corporal e ganhe repertório imagético ao ver desenhos de sua cultura e dos próprios colegas. 14 Uma das primeiras pesquisas dos pequenos, assim que entram na figuração, é a relação topológica entre os objetos, como a proximidade e a distância entre eles, a continuidade e a descontinuidade e assim por diante. Em seguida, eles se interessam em registrar tudo o que sabem sobre o modelo ao qual se referem no desenho, e é possível verificar o uso de recursos como a transparência (o bebê visível dentro da barriga mãe, por exemplo) e o rebatimento (a figura vista, ao mesmo tempo, por mais de um ponto de vista). Assim, a criança se aproxima das noções iniciais de perspectiva e escala, estruturando o desenho em uma cena, sem misturar na mesma produção elementos de diferentes contextos (veja abaixo a produção de Anita, 5 anos, que detém essas características). "Vou desenhar a minha casa. Aqui é o portão e tem uma janela aqui." Anita, 5 anos "Dá para ver a sua mãe dentro de casa?" Repórter "Não, porque a porta parece um espelho. Só daria se a janela estivesse aberta." Anita O DESENHO É ESPONTÂNEO OU É FRUTO DA CULTURA? Entre os principais estudiosos, há uma cizânia. Há os que defendem que o desenho é espontâneo e o contato com a cultura visual empobrece as produções, até que a criança se convence de que não sabe desenhar e para de fazê-lo. E há aqueles que depositam justamente no seu repertório visual o desenvolvimento do desenho. Nas discussões atuais, domina a segunda posição. "A única coisa que sabemos ser universal no desenho infantil é a garatuja. Todo o resto depende do contexto cultural", diz Rosa Iavelberg. Detalhes da figura humana, noções de perspectiva e realismo visual são elementos da evolução do desenho. 15 Essa perspectiva não admite o empobrecimento do desenho infantil, mas entende que a criança reconhece a forma de representar graficamente sua cultura e deseja aprendê-la. Assim, cai por terra o mito de que ela se afasta dessa prática quando se alfabetiza. "O desenho é uma forma de linguagem que tem seus próprios códigos", diz Mirian Celeste Martins. "Para se aproximar do que ele expressa, é preciso fazer uma escuta atenta enquanto ele é produzido." Para Mirian, a relação entre a aquisição da escrita e a diminuição do desenho ocorre porque a escola dá pouco espaço a este quando a criança se alfabetiza - algo a ser repensado em defesa de nossos desenhistas. 4. LINGUAGEM E EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE Para as crianças que estão no estágio da Educação Infantil, muitas vezes o desenho pode servir como uma linguagem da expressão dos sentimentos, os quais ela ainda não consegue expor por meio da fala, ou mesmo pela linguagem escrita. Neste sentido, reportamos que o ambiente escolar, no geral, é para a criança um espaço de muitas novidades, descobertas, aprendizagens e conhecimentos novos. O desenho como forma de expressão subjetiva, e o grafismo faz parte do crescimento físico e, principalmente, do desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. De acordo com Perondi (2001), os desenhos podem ser inspirados por circunstâncias não previsíveis, porém, frequentemente eles se relacionam por acontecimentos próximos ou por circunstâncias similares às experiências já vividas. Reforçando o autor acima, muitas crianças desenham no dia-a-dia o que lhes chama a atenção por apresentar aspectos relevantes na sua vivência familiar, escolar ou social. Portanto, o estudo objetivou-se analisar os aspectos relacionados ao desenho na Educação Infantil como forma de linguagem e expressão da subjetividade da criança, passando por processos de maturação ao longo do desenvolvimento das produções gráficas. 16 Importância do desenho para o desenvolvimento psicofísico de uma criança O desenho faz parte do desenvolvimento de qualquer ser humano, independentemente de sua idade e, portanto, não deixa de ser mais ou menos importante no desenvolvimento psicofísico de uma criança. Toda criança passa por um longo processo de evolução em todos os aspectos, mas para isso necessita passar por uma diversidade de estímulos. Os desafios e as propostas inteligentes são fundamentais no desenvolvimento adequado e saudável das crianças dentro da sua cultura. Segundo o PCN (2000), a arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significado e valores que governam os diferentes tipos de revelação entre os indivíduos na sociedade. A arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais. O desenho é uma dessas formas incitadoras para a construção de olhares estéticos e artísticos da criança social. Além disso, o desenho ainda permite à criança desenvolver o senso de observação, os mínimos detalhes, a diversidade de cores, formas, texturas, e, também, entrar em contato com grande variedade de materiais, muitas vezes utilizados para realização de atividades artísticas, seja no ambiente da escola, ou fora dela. Outro fator importante é fazer com que as crianças explorem a variedade de materiais, que esteja ao seu alcance e entorno, incluindo materiais da natureza, simples, porém que propõem resultados exuberantes, como os materiais industrializados. Também as crianças podem ser desafiadas em diferentes ambientes (familiar, escolar, social). Segundo Porcher (1982), aqui como nos outros campos o objetivo não deve ser a formação de desenhistas profissionais e de especialistas, trata-se de dar a cada um os meios de expressar-se e, através disso, de dotá-lo dos instrumentos sensoriais e mentais necessários para as suas relações com o mundo. Por isso, a necessidade de um profissional qualificado na área das artes. Desenho: linguagem que possibilita novas aprendizagens As crianças, desde pequenas iniciam o processo de produção gráfica. São riscos simples que começam a despertar o interesse da criança quando esta passa a 17 identificar as diferentes formas produzidas com materiais plásticos como papel, canetas, lápis de cera ou tinta, entretanto, muitas vezes produz grafismos a partir de materiais inusitados como alimentos, pedrinhas, brinquedos quebrados e objetos de cozinha, enquanto brinca. Também ao brincar é que as crianças dão início ao desenho do seu próprio entorno. No geral, esse processo ocorre de forma prazerosa, proporcionando aprendizagens em cada traço elaborado. Sendo assim, desenhar é uma necessidade, tanto pelo aspecto da comunicação como pelo prazer que esta atividade proporciona. Para Moreira (2008), toda a criança desenha tendo um instrumento que deixa uma marca: a varinha na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e nas calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando a sua marca, criando jogos, contando histórias. Desenhando, cria em torno de si um espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço de criação. O desenho desperta a criança para a aprendizagem, a descoberta, o prazer, o novo, o diferente. Segundo os estudos da autora citada abaixo, não é possível uma educação intelectual, formal ou informal, de elite ou popular, sem arte, pois para ela, é impossível o desenvolvimento integral da inteligência sem o desenvolvimento do pensamento divergente, do pensamento visual e do conhecimento presentacional (BARBOSA, 1991). O desenho, como linguagem artística, proporciona à criança oportunidades que possibilitam com que ela expresse aqui e agora seus sentimentosa respeito de algo. E em alguns casos, até mesmo mostrar suas angústias e seus medos. 18 O desenho como forma de expressão pessoal enquanto ainda não há o domínio da linguagem escrita e oral Pode-se dizer que o desenho é uma das maneiras mais eficientes de comunicação. Desde os nossos ancestrais essa técnica já era utilizada com eficácia, fosse para se comunicar com seus pares, ou expressar e registrar fatos ocorridos ou ainda exercer alguma influência sobre os inimigos. Muitos são os estudos apontando que, antes mesmo do surgimento da escrita e da oralidade, o esboço gráfico já era desenvolvido como uma importante forma de comunicação. De acordo com o autor abaixo, a arte é entendida como um terreno permissivo ante um currículo repleto de números e de palavras. É a arte que encoraja a criança a colocar sua visão pessoal e sua assinatura em seus trabalhos. As escolas são dominadas por tarefas curriculares voltadas ao professor e que, frequentemente, oferecem apenas uma solução para os problemas, uma resposta certa para as perguntas. A arte não pode tornar-se algo sem vida, mecânico, como tem ocorrido com o que ensinamos em todos os níveis da educação (EISNER, 1999). Muitas vezes nas escolas é esquecido que nossos ancestrais podiam nem mesmo saber o significado real do desenho e a importância que o mesmo representava como forma de registro, mas já o utilizavam como um poderoso meio de expressão. Entretanto, Derdick (1989), relata que o desenho assumiu para o homem das cavernas, seja no desenvolvimento para a construção de maquinários no início da era industrial, seja na sua aplicação mais elaborada para o desenho industrial e a arquitetura, seja na função de comunicação que o desenho exerce na ilustração, na 19 história em quadrinhos, o desenho reclama a sua autonomia e sua capacidade de abrangência como um meio de comunicação, expressão e conhecimento. Pode-se dizer que o grafismo é uma linguagem capaz de possibilitar a representação da realidade e do imaginário de uma pessoa. Ou ainda, o esboço gráfico pode desenvolver a criatividade, proporcionar autoconfiança, ampliar a bagagem cultural e facilitar o processo de sociabilidade. Desse modo, a produção gráfica de uma criança pode ser a única maneira que ela encontra para se comunicar, ou seja, pode ser o momento dela deixar o seu inconsciente falar e através dele poder desvendar aspectos da sua personalidade, da sua vida social e familiar. Segundo Morgenstern (1977) nos momentos difíceis da sua vida, a criança evade-se num mundo imaginário onde nada a impede de realizar os seus desejos. As manifestações visíveis desta fuga são os jogos, os contos e os desenhos. Assim, considera-se que o grafismo é, na maioria das vezes, um esboço livre onde crianças podem expressar o que estão sentindo naquele momento. O que se pode “ler” no desenho da criança, que muitas vezes pode ser um sinal de alerta para educadores? O desenho, por fazer parte do desenvolvimento físico, cognitivo e emocional do ser humano pode apresentar em qualquer esboço, tanto os aspectos positivos, quanto as dificuldades enfrentadas naquele momento. Na perspectiva de Moreira (2008), o que é preciso considerar diante de uma criança que desenha é aquilo que ela pretende fazer: contar-nos uma história e nada menos que uma história, mas devemos também reconhecer, nesta intenção, os múltiplos caminhos de que ela se serve para exprimir aos outros a marcha de seus desejos, de seus conflitos e receios. Por isso, o profissional precisa ter olhos cuidadosos para perceber detalhes que a criança busca representar de um determinado momento, porque o modo como são feitas certas interpretações podem ser equivocadas, já que nem sempre o que é “entendido” pode ser o que os pequenos buscaram representar. Nicolau (1995), completa que os desenhos, as pinturas e as realizações expressivas das crianças não apenas representam seus conceitos, percepções e sentimentos em relação ao 20 meio, como também possibilitam ao adulto sensível e consciente uma melhor compreensão da criança. Em muitos casos é com o educador que a criança de educação infantil passa a maior parte do seu tempo. Para Horn (2004), o olhar de um educador atento é sensível a todos os elementos. Por isso, há necessidade de um profissional da educação qualificado e eficaz dentro de uma sala de aula, ou seja, que tenha conhecimento sobre o assunto. Pois, é a formação e também sua capacidade de ser amável, flexível, generoso e compreensivo que faz a grande diferença de um profissional que atua como educador de crianças. Entretanto, quando a criança está inserida num meio em que lhe é permitida ter acesso aos instrumentos de experimentos gráficos, não é só o educador e a escola que precisam fazer seu papel, mas também os pais precisam ter a responsabilidade de observar a construção do processo de ensino-aprendizagem que faz parte do desenvolvimento de seu filho, tanto ao apresentar aspectos positivos, quanto ao apresentar aspectos que demonstrem dificuldade. Por meio do desenho podem-se identificar possíveis problemas, relacionados às deficiências, ou até, situações que a criança vem sofrendo em casa, ou em outros lugares que frequenta. Nesse contexto de cuidados e atenções feitas em parceria entre a escola e a família é que o desenvolvimento da criança germina, uma vez que escola e família produzem processos concomitantes e necessários para um bom desempenho do método de ensino-aprendizagem de uma criança. Seguindo os estudos de Lowenfeld (1977) através da compreensão da forma como o jovem desenha, e dos métodos que usa para retratar seu meio, podemos penetrar em seu comportamento e desenvolver a apreciação dos vários complexos modos como ele cresce e se desenvolve. Considerando o que já foi apontado, pode-se analisar que desenhar, seja com que material for, faz parte do desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das crianças. 21 Estereótipo do desenho Muitas vezes, o desenho não é visto como atividade importante na escola, o que acaba desvalorizando e limitando o seu espaço como atividade fundamental para o desenvolvimento cognitivo e também emocional da criança. Mais precisamente na educação infantil, espaço onde o desenho deve estar presente a todo instante, muitas crianças, por não terem a linguagem oral e escrita ainda como forma de expressão, utilizam o desenho para representar o que estão sentindo. Por isso, a importância do mesmo para o desenvolvimento das crianças em todos seus aspectos. A forma como é desenvolvida a arte na educação infantil deveria ser muito bem repensada e valorizada por todos os governantes, sejam eles Federal, Estadual, Municipal ou, ainda, das Escolas Particulares. Muitas instituições ainda trabalham com um ensino tradicional da arte, disponibilizando cópias de imagens xerocadas para as crianças pintarem, ou incentivando retratos estereotipados. Portanto, a forma como é criado o estereótipo de qualquer objeto, imagem, ser humano, animal que seja, em uma criança faz a grande diferença no seu desenvolvimento de assimilação dos modelos e papéis sociais. Como já foi apontando, não necessariamente para fazer um desenho, tem que ser da mesma forma como aprendeu, ou seja, seguir um modelo único. No entanto, apresentar fotografias e imagens desenhadas e pintadas por outras crianças e também por adultos não deixa também de ser importante no desenvolvimento da criança. Elas precisam criar conceitos, compreender e assimilar esses conceitos sobre as imagens para ter ideia do que aquilo significa, porque 22 enquanto, muito pequenas, ainda não tem noção de que a imagem de um caderno é um objeto, denominado caderno, ela precisa aprender isso. Mas o que vem dificultandoé a forma como as instituições de educação infantil e também as instituições posteriores vem desenvolvendo esse processo de ensino- aprendizagem. Deve-se ter em mente que o ensino da arte é muito mais do que produzir apenas trabalhos artísticos como afirmam os PCN (2000) aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve também conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produções artística e individuais e coletivas de distintas culturas e épocas. Desenhos estereotipados é um entrave no desenvolvimento da criatividade de crianças de educação infantil. Inibem a possibilidade de expressão subjetiva; tiram, muitas vezes, a única oportunidade que a criança tem de expressar o que sente e percebe de si e do seu entorno. E estes desenhos existem aos milhares na internet, ou seja, uma situação cada vez mais difícil de “fugir”. Se não é a escola quem oferece estas imagens estereotipadas, é a família que nem percebe que isso é desaconselhável. 5. O DESENHO INFANTIL E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO O desenho é uma das formas humanas de representação do pensamento. Desenhando a criança pode apresentar de que forma vê o mundo, de que maneira esse processo acontece e até mesmo indicar as dificuldades na área da cognição. 23 Também é uma das manifestações do desenvolvimento da criança ao lado da afetividade, pensamento e motricidade. Entender como a criança desenha permite entender seu desenvolvimento global. Muitos autores acreditam que ao passar pelos estágios de evolução do desenho, a criança desenvolve a escrita, já que vai percebendo que pode “desenhar” a fala. Partindo desse pressuposto Wallon (apud, SINCLAIR, 1987, p.77) afirma que o “desenho aparece espontaneamente; seu desenvolvimento baseia-se na interpretação que a criança dá as próprias garatujas. A escrita aparece como uma imitação das atividades do adulto”. Dessa forma, ressaltamos que o desenho e a escrita, apesar de parecerem distintas, são duas linguagens que interagem e muitas vezes se complementam. Acredita-se que o desenho é a primeira escrita da criança, pois ela utiliza dessa linguagem para inventar mensagens e se comunicar com o mundo adulto do seu jeito. Observamos que no decorrer de cada estágio do desenho infantil, a criança evolui graficamente, adquirindo maior capacidade de representar seres humanos, figuras geométricas, entre outros. Chega um momento que as letras misturam-se aos desenhos da criança que elabora diferentes representações gráficas até chegar à escrita alfabética. Através do desenho a criança terá acesso a outras formas de linguagens expressivas presentes no seu cotidiano, assim como a escrita. Além do exposto acima, o desenho antecede, organiza e estrutura o pensamento narrativo. Serve como ponte (zona proximal) entre o desenvolvimento real e o potencial, ou seja, serve como auxiliar de significação do texto verbal e escrito num primeiro momento de aprendizagem da língua escrita. (FASSINA 2007 p.3) Se o desenho é uma construção de um sistema de representação, a escrita também é e assim fica evidente a estreita relação de evolução dos dois. As pesquisas de Emilia Ferreiro indicam que cada pessoa, no processo de construção da escrita, parece refazer o caminho feito pela humanidade, seja ele qual for. A escrita pictográfica: antiga, permitia representar apenas objetos que podiam ser desenhados; a ideográfica: usava um sinal ou marca para representar uma palavra (símbolos diferentes para palavras diferentes); logográfica: a escrita era constituída por desenhos referentes ao nome e não ao objeto em si. 24 Para Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999), assim como as antigas civilizações que “escreviam” para representar objetos, as crianças associam o significante ao significado e ao escrever produzem traços sobre o papel e criam hipóteses sobre o significado da representação gráfica. Desde cedo a criança já tem contato com a escrita através de panfletos, televisão, letreiros, embalagens, entre outros. Admira e imita a escrita do adulto, e por isso quando chega à escola já teve contato com muitas coisas escritas. Sabemos da importância da aquisição da escrita e em especial, do processo de alfabetização, afinal através da leitura e da escrita a criança poderá interpretar os fatos a sua volta sob uma nova visão. A escrita é, não só uma forma de representação, como também de comunicação entre as pessoas em uma sociedade letrada. Pensando na funcionalidade da escrita convém refletir que o processo de alfabetização deve-se configurar como aprendizagem de uma linguagem a partir da interação da criança com o próprio objeto, e não como um processo de tortura que vise apenas à grafia de palavras. Cada criança tem o seu ritmo de aprendizagem e é ativa na construção de seu conhecimento a partir da interação com o ambiente em que está inserida. Por isso ela deve sentir-se motivada a aprender para superar os desafios do processo de alfabetização. Em seus estudos sobre aquisição da linguagem e escrita Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (1999) concluíram que havia níveis no desenvolvimento dessa aquisição, são eles: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Durante o nível pré-silábico a criança “pensa que letras e números são a mesma coisa, pois são sinais gráficos muito parecidos para ela” (PILLAR, 1996, p.59); acredita que escrever é imitar os traços de um adulto e ainda que passe a traçar algumas letras, sua escrita ainda não transmite informação. Inicialmente a criança pensa que é possível ler diferentes nomes a partir da mesma grafia e aos poucos muda essa hipótese variando seu repertório de letras. Nesse nível surge também o que Emilia Ferreiro e Ana Teberosky chamaram de eixo quantitativo da escrita, onde a criança acredita que o número mínimo de letras para escrever uma palavra é três. Como para nós, adultos e leitores, é difícil entender esse raciocínio nas crianças, as autoras chamam a atenção para que o processo de alfabetização seja visto do ponto de vista de quem aprende (aluno) e não do de quem ensina. Vale ressaltar também outra característica que aparece nesse nível, o realismo nominal lógico (a quantidade de letras de uma palavra associa-se ao tamanho do 25 objeto, dessa forma coisas grandes terão escritas de nomes maiores do que nomes de coisas pequenas). Além disso, a criança rejeita a escrita de um nome com letras iguais acreditando que para haver leitura é necessária uma variedade de letras. No nível silábico a criança considera que a escrita representa partes sonoras da fala, cada letra que ela escreve representa uma sílaba. Inicialmente as letras são escolhidas aleatoriamente para só depois terem correspondência sonora com letras que compõem a sílaba. As primeiras hipóteses, relacionadas a variedade e quantidade de letras, desaparecem momentaneamente. Porém, se a criança já tiver internalizado a hipótese silábica volta à exigência de variedade de letras desacreditando que uma palavra possa ser lida com apenas caracteres iguais e, discordando escrever com menos de três letras, acrescenta letras no final da palavra. Esse momento de conflito muitas vezes é confundido com uma regressão, posto que a quantidade de letras enquadraria a criança no nível pré-silábico, mas é apenas um momento de transição, em que a criança está procurando soluções para resolver o “problema”. O próximo nível, silábico-alfabético a criança descobre a necessidade de fazer uma análise que vá além da sílaba, comprovando que “uma grafia para cada sílaba não é suficiente para representar as palavras, pois, escrevendo silabicamente, os outros não conseguem ler o que foi escrito” (PILLAR, 1996, p.67). Vai abandonando essa forma de representação da escrita oscilando muito durante esse nível. Como destacaSimas (2011 p.41): Outra característica importante deste nível é que a criança escreve as palavras do jeito que fala, ou seja, o valor sonoro está muito presente neste momento. Ao escrever a palavra “COMIDA”, a criança faz o seguinte registro: “COIDA”. Aqui verificamos que o valor sonoro faz parte desta trajetória escrita. É importante salientar que neste nível de escrita há certa instabilidade na produção da escrita e suas características assemelham-se a etapa anterior. No último nível, alfabético, “a criança abandona a análise silábica na construção de palavras e estabelece uma correspondência entre grafemas e fonemas” (PILLAR, 1996, p.68). Já podemos considerar que a criança venceu as barreiras do sistema de representação da escrita. Isso não significa que todas as dificuldades acabaram, posto que aparecerão os problemas ortográficos, que envolvem outro tipo de dificuldade que não diz respeito ao sistema de escrita que ela já venceu. 26 Claro está que o processo de aquisição da língua escrita é contínuo e passa por constantes evoluções, assim como o próprio desenho infantil, que representam o momento de desenvolvimento em que a criança se encontra. O desenho é a primeira escrita da criança, a primeira representação gráfica. Assim como aponta Mèredieu apud Simas (2011 p.43), “o desenho é essencial na vida de qualquer criança, pois é a ponte para instigar a sua imaginação e permite que ela conheça as regras e práticas adotadas na sociedade em que vive”. Através do desenho a criança consegue revelar sua intimidade que muitas vezes não consegue traduzir na linguagem falada. Assim, a “experiência gráfica é uma manifestação da totalidade cognitiva e afetiva, quanto mais a criança confia em si, mais ela se arrisca a criar e a se envolver no que faz” (OLIVEIRA, 1994, p.41) Fazendo um elo entre as ideias expostas acima e os anos iniciais do ensino fundamental, conseguimos perceber que as práticas pedagógicas não incorporam, no dia a dia escolar, a importância do desenho e sua relação no desenvolvimento da escrita. O desenho fica sem espaço diante de uma variedade de prioridades. Luquet (1969) detalha que o descaso da criança pelo desenho também pode acontecer, e geralmente se dá na concepção do realismo visual, os desenhos que a criança faz já não atendem o pensamento crítico que ela desenvolveu e os desenhos não ficam como ela gostaria que ficassem: Também quando pressionada no tempo e pela mecânica que a faz repetir formas sempre iguais, é que a criança rompe com o seu desenho. Acontece realmente uma quebra, um corte e a criança para de desenhar. (MOREIRA, 2009, p. 70). Esse descaso também pode acontecer pela falta de compreensão dos adultos (pais e professores) em relação às fases do grafismo da criança e procedimentos de intervenção equivocados. As propostas pedagógicas não podem resumir-se apenas ao treino de habilidades motoras e pintura em ilustrações ou a atividades livres sem nenhum tipo de intervenção. Em muitos casos, as atividades de alfabetização são em maioria exercícios repetitivos e de memorização de letras e sílabas, que não ensinam a ler e escrever e criam uma desmotivação no aluno que já não tem tempo de desenhar. Tudo isso vai de encontro ao que foi exposto no primeiro item. A entrada antecipada das crianças no ensino fundamental acabou sendo uma exigência antecipada da alfabetização, que gerou um preenchimento de todo o tempo da 27 criança com atividades que não valorizam as diferentes formas de expressão, mas sim a alfabetização em si. Não se trata de desvalorizar a aprendizagem da língua escrita, mas sim de atribuir a devida importância ao desenho nessa etapa da vida das crianças. Cabe então à instituição escolar aproveitar as formas de expressão, como o desenho, valorizando a experiência de vida das crianças e apresentando gradativamente a escrita de forma natural atribuindo-lhe sua função social e sentido da mesma no cotidiano. Consideramos que o “(...) desenhar e o brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem das crianças” (VYGOTSKY, 1984, p.134). Para Vygotsky por ser um meio de expressão, o desenho é uma linguagem necessária para a aquisição da escrita na alfabetização. Por isso, as crianças introduzidas naturalmente nesse processo, assimilam com mais facilidade a relação existente entre o desenho e a escrita. É necessário pensar no desenho infantil não só como uma forma de expressão, mas como uma linguagem que servirá de base para o desenvolvimento gráfico da criança. O sistema educacional que reconhecer o desenho infantil como linguagem integrante do processo de aquisição da escrita contribuirá para que a criança possa construir as suas hipóteses e desenvolver a sua capacidade intelectiva e projetiva, principalmente, quando existem as possibilidades e condições físicas, emocionais e intelectuais para elaborar estas “teorias” sob formas de atividades expressivas (DERDYK, 1993, p.54). No entanto, o educador tem a responsabilidade de criar um ambiente que estimule o desenvolvimento do desenho assim como a aquisição da escrita. A autora Edith Derdyk ressalta que se o professor reconhecer o processo de aquisição linguagem gráfica, retomando as descobertas e frustrações que envolvem o ato de desenhar, revivendo operações mentais e práticas que são exigidas pelo desenho, surgirá uma forma inédita e pessoal de se relacionar com o universo infantil: a partir da experimentação e da investigação que nascem novos significados no encontro entre o adulto e a criança (1993, p. 50). Moreira (2009) chama a atenção para o fato de que o professor precisa, antes de qualquer coisa, valorizar seu ato de desenhar e experimentar diferentes linguagens (gestos, músicas, danças etc.) para que realmente perceba a importância do desenho para a escrita. O olhar do professor para a produção da criança significa muito para ela e tem o poder de estimulá-la ou até mesmo desmotivá-la. O aprendizado do 28 desenvolvimento do grafismo possibilita ao professor uma “alfabetização” em relação ao desenho da criança, permitindo uma leitura de indicadores no desenho que mostrem a evolução ou não do mesmo e as possibilidades de intervenção que podem ser elaboradas. Vale lembrar que o objetivo do ensino, relacionado ao desenho, não pode estar na aceleração artificial da evolução do mesmo. A criança deve sentir-se livre para desenhar, com traços do realismo visual, quando tiver intenção. Isso deve partir do concreto, de objetos do próprio cotidiano da criança e exercitar o natural, tanto quanto possível. Na visão do autor o professor não deve interferir. A criança tem que sentir-se livre para criar, desenhando de seu modo, sem intervenções ou críticas. O desenho, ao invés de ser perda de tempo, oferece a construção de representações de forma, espaço e de experiências. Palva e Cardoso (2010) enfatizam que é aconselhável que o professor proporcione aos alunos contato com diferentes desenhos e obras de arte para que possam interpretar e também sugira desenhos a partir de diferentes observações (cenas, objetos, pessoas) para que enriqueçam suas informações e o próprio grafismo explorando a criatividade. 29 6. CONCLUSÃO O desenho é uma forma de representação muito importante para a criança e deve ser explorado independentemente da etapa ou ano escolar. A redução dos momentos de desenhar, que geralmente acontecem com a entrada no ensino fundamental, deflagra por vezes, uma crise em ambos os sistemas gráficos, causando até mesmo desencanto pelo desenho e redução da criatividade individual (acentuando a cópia de modelos e padrões). Se o desenho fizer parte do processo de alfabetização poderá se explorar todas suas contribuições: como forma gráfica auxiliar de significação do texto verbal e escrito, como formade comunicação e até mesmo incentivo ao caminho artístico. O desenho é a primeira escrita da criança e servirá como alicerce para a mesma, além de ser uma forma de expressão, e expressar-se é uma necessidade humana. Não significa priorizar o desenho ou a escrita, mas sim compreender que apesar de serem linguagens distintas, elas se complementam e são fundamentais para alfabetização da criança que acontece pela interação de diferentes linguagens e formas de expressão. A alfabetização deve acontecer de forma contextualizada a realidade vivida pela criança, respeitando suas características, seus desejos, brincadeiras, seu jeito de aprender. Assim conseguiremos desenvolver a criação gráfica e consequentemente a alfabetização. Cabe ao professor conhecer as fases do desenho infantil e suas relações com o desenvolvimento da escrita a fim de oferecer aos alunos aulas que contribuam tanto para o desenvolvimento artístico quanto para aquisição da escrita. Buscou-se analisar e compreender a importância do desenho no desenvolvimento de uma criança, como forma de expressão enquanto o domínio da linguagem oral e escrita ainda não predomina. As formas de interpretação do mesmo, dos estereótipos utilizados para a realização das produções gráficas e de outras formas desenhadas pela criança que muitas vezes podem servir como um sinal de alerta para os educadores. O grafismo é parte integrante do desenvolvimento de um ser humano, principalmente de crianças que, na maioria das vezes, utilizam o desenho como forma 30 de expressão dos seus sentimentos. Nessa perspectiva evidencia-se que a interpretação do desenho da criança depende do olhar do intérprete. O estudo contemplou que a interpretação do desenho ocorre de forma consecutiva, a partir de várias análises e observações. Sendo essas, necessárias para um bom desempenho do profissional, pois o ato de desenhar envolve a atividade criadora, e é através destas atividades que a criança desenvolve sua própria liberdade e iniciativa, podendo expressar-se como indivíduo. A pesquisa possibilitou compreender o quanto o desenho liberta a imaginação, a inovação e a produção espontânea, podendo despertar a criatividade na criança. E ser criativo é conseguir associar ideias, produzindo uma diversidade de respostas a tudo aquilo que é estimulado. Além disso, o estímulo é essencial para o desenvolvimento de qualquer pessoa, principalmente de um ser tão pequeno, que terá muitas etapas para superar e progredir. Para finalizar, há de se dizer que o desenho, como linguagem artística, proporciona para a criança oportunidades que possibilitam com que ela expresse no aqui e agora seus sentimentos a respeito de algo, podendo inclusive, em alguns casos, mostrar suas angústias, ou até mesmo os seus medos. Considera-se, então, que o grafismo é extremamente importante no desenvolvimento de uma criança, uma vez que contribui para inúmeras aprendizagens e experiências que auxiliam no seu crescimento físico e emocional. 31 7. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rosângela Doin. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. 2ª. Ed. São Paulo: contexto, 2003. BARBOSA, A.M. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Fundação IOCHPE, 1991. CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis, Vozes, 2008. DERDYK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. 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(11) 4062-5152 (edição esgotada).
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