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APG 06 - Cadê o cálcio que estava aqui Objetivos Revisar o metabolismo ósseo entendendo o eixo neuro-hormonal). Compreender a fisiopatologia, etiologia, fatores de risco e diagnóstico da osteoporose (diagnóstico diferencial). Diferenciar memória metabólica de memória muscular. Metabolismo ósseo O metabolismo ósseo normal – crescimento no jovem e remodelação óssea no adulto – depende de vários fatores, como a ingestão por meio de dieta adequada de minerais e vitaminas, além de níveis suficientes de alguns hormônios. 1.Minerais. Grandes quantidades de cálcio e fósforo são necessárias durante o crescimento dos ossos, assim como quantidades menores de magnésio, fluoreto e manganês, que também são necessários durante a remodelação óssea. 2.Vitaminas. A vitamina A estimula a atividade dos osteoblastos. A vitamina C é necessária para a síntese de colágeno, a principal proteína óssea. A vitamina D ajuda a construir osso aumentando a absorção do cálcio proveniente dos alimentos do trato gastrintestinal para o sangue. As vitaminas K e B12 também são necessárias para a síntese de proteínas ósseas. 3.Hormônios. Durante a infância, os hormônios mais importantes para o crescimento ósseo são os fatores de crescimento insulina-símiles (IGFs), produzidos pelo fígado e tecido ósseo. Os IGFs estimulam os osteoblastos, promovem a divisão celular na lâmina epifisial e no periósteo e intensificam a síntese das proteínas necessárias para construir osso novo. Os IGFs são produzidos em resposta à secreção do hormônio de crescimento do lobo anterior da glândula hipófise. Os hormônios da tireoide (T3 e T4) secretados pela glândula tireoide também provocam o crescimento ósseo por estimulação dos osteoblastos. Além disso, o hormônio insulina do pâncreas promove o crescimento ósseo pelo aumento da síntese de proteínas ósseas. Na puberdade, a secreção de hormônios sexuais causa um efeito profundo sobre o crescimento ósseo. Os hormônios sexuais englobam os estrogênios (produzidos pelos ovários) e androgênios como a testosterona (produzido pelos testículos). As glândulas suprarrenais de ambos os sexos produzem androgênios. Outros tecidos, como o tecido adiposo, conseguem converter androgênios em estrogênios. Esses hormônios são responsáveis pela intensificação da atividade dos osteoblastos, pela síntese de matriz extracelular óssea e pelo “estirão de crescimento” que ocorre durante a adolescência. Os estrogênios também promovem alterações no esqueleto típicas das mulheres, como alargamento da pelve. Por fim, os hormônios sexuais, sobretudo os estrogênios nos dois sexos, cessam o crescimento nas lâminas epifisiais (de crescimento), interrompendo o alongamento dos ossos. Em geral, o crescimento em comprimento dos ossos termina mais cedo nas mulheres do que nos homens devido aos níveis mais elevados de estrogênios. Ciclo do remodelamento ósseo O osso maduro é composto por unidades denominadas ósteons, nas quais as lamelas (camadas ósseas) concêntricas circundam um canal de Havers central. O remodelamento ósseo é formado por uma sequência de reabsorção óssea dentro de um ósteon realizada pelos osteoclastos, seguida pela formação de um osso novo pelos osteoblastos. No adulto, a duração de uma sequência (i. e., reabsorção e formação ósseas) é de cerca de 4 meses. Idealmente, o osso substituído deve ser igual ao osso reabsorvido; caso contrário, há perda óssea líquida. Caso a reabsorção e a formação óssea deixem de apresentar uma correspondência perfeita, e ocorre perda de massa óssea, por exemplo, em idosos. • Reabsorção óssea Os osteoclastos, são células de reabsorção óssea derivadas de precursores de monócitos e macrófagos. A sequência de reabsorção e formação ósseas é ativada por muitos estímulos, incluindo a ação do paratormônio e da calcitonina. Tem início com a reabsorção osteoclástica do osso existente, durante a qual os componentes orgânicos (matriz proteica) e inorgânicos (minerais) são removidos, criando um espaço no ósteon semelhante a um túnel. Os fatores solúveis liberados durante a reabsorção auxiliam no recrutamento dos osteoblastos até o local, relacionando, desse modo, a reabsorção à formação óssea. • Formação óssea Após a interrupção da atividade osteoclástica, os osteoblastos começam a depositar a matriz orgânica (osteoide) sobre a parede do canal do ósteon. À medida que sucessivas lamelas de osso vão sendo depositadas, o canal enfim alcança as proporções relativas do ósteon original. Na formação e na manutenção do osso, os osteoblastos proporcionam uma grande parte do controle local, não somente por produzirem a nova matriz óssea, mas também por desempenharem um papel essencial na mediação da atividade osteoclástica. Muitos estimuladores primários da reabsorção óssea, como o paratormônio, apresentam efeitos diretos mínimos ou nenhum efeito sobre os osteoclastos. Depois que o sinal apropriado é recebido pelo osteoblasto, que contém receptores para essas substâncias, ele secreta um mediador solúvel denominado ligante do receptor ativador de fator nuclear kappa-B (RANKL), que induz a atividade osteoclástica. • Controle do metabolismo e do remodelamento ósseos A via central que relaciona a reabsorção óssea mediada pelos osteoclastos à formação óssea mediada pelos osteoblastos é composta por um sistema parácrino, incluindo o RANKL, seu receptor RANK, e uma proteína solúvel denominada osteoprotegerina (OPG). O RANKL é produzido pelos osteoblastos e por seus precursores, liga-se ao RANK e promove a diferenciação e a proliferação dos osteoclastos. A molécula solúvel de OPG, produzida por muitos tecidos, atua como decoy receptor que bloqueia a ação do RANKL. Esse sistema assegura a estreita correspondência entre formação e reabsorção óssea, proporcionando aos diversos mediadores biológicos (p. ex., hormônios, citocinas, fatores de crescimento) um meio de influenciar a homeostase do osso. • Homeostasia do cálcio Os ossos são o principal reservatório de cálcio do corpo, armazenando 99% do cálcio corporal total. Controlar as taxas de reabsorção de cálcio do osso para o sangue e de depósito de cálcio do sangue no osso é uma maneira de manter o nível de cálcio sanguíneo. Tanto as células nervosas quanto as musculares dependem de um nível estável de íons cálcio (Ca2+) no líquido extracelular para funcionar de maneira adequada. A coagulação sanguínea e algumas enzimas também dependem do cálcio para funcionar adequadamente. Por isso, o nível plasmático de Ca2+ é muito bem regulado entre 9 e 11 mg/100 mℓ. A função do osso na homeostasia do cálcio é ajudar a “tamponar” o nível de Ca2+ sanguíneo, liberando Ca2+ no plasma sanguíneo (usando os osteoclastos) quando o nível diminui e absorvendo Ca2+ (usando os osteoblastos) quando o nível aumenta. A troca de Ca2+ é regulada por hormônios, sendo o paratormônio (PTH), secretado pelas glândulas paratireoides o mais importante deles. Esse hormônio aumenta o nível de Ca2+ sanguíneo. A secreção de PTH opera via sistema de retroalimentação (feedback) negativa. Se algum estímulo faz com que o nível sanguíneo de Ca2+ caia, as células da glândula paratireoide (receptores) detectam essa alteração e intensificam sua produção de uma molécula conhecida como monofosfato de adenosina cíclico (AMP cíclico). O gene para o PTH no núcleo de uma célula da glândula paratireoide (o centro de controle) detecta o aumento intracelular do AMP cíclico. Em consequência disso, a síntese de PTH aumenta e mais PTH é liberado no sangue. A presença de níveis mais elevados de PTH aumenta a quantidade e a atividade dos osteoclastos (efetores), acelerando o ritmo de reabsorção óssea. A liberação resultante de Ca2+ do osso para o sangue trás devolta o nível sanguíneo de Ca2+ ao normal. O PTH também atua nos rins (efetores) para diminuir a perda de Ca2+ pela urina, aumentando a calcemia. Além disso, o PTH estimula a formação de calcitriol (a forma ativa da vitamina D), um hormônio que promove a absorção de cálcio dos alimentos do sistema digestório para o sangue. Essas duas ações também ajudam a elevar o nível de Ca2+ do sangue. Um outro hormônio atua para diminuir o nível de Ca2+ sanguíneo. Quando o Ca2+ do sangue sobe acima do normal, células parafoliculares na glândula tireoide secretam calcitonina (CT). A CT inibe a atividade dos osteoclastos, intensifica a captação de Ca2+ sanguíneo pelo osso e acelera a deposição de Ca2+ nos ossos. O resultado final é que a CT promove a formação óssea e diminui o nível de Ca2+ do sangue. Apesar desses efeitos, a função da CT na homeostasia do cálcio normal é incerta, pois pode estar completamente ausente sem causar sintomas. Quando o nível sanguíneo de calcitonina está elevado, ocorre queda da concentração sanguínea de cálcio e fosfatos, com inibição da reabsorção óssea (degradação da matriz óssea extracelular) pelos osteoclastos e aceleração da captação de cálcio e fosfatos na matriz óssea extracelular. Osteoporose Osteoporose é definida como um distúrbio esquelético caracterizado pelo comprometimento da resistência óssea, caracterizada por perda da massa óssea mineralizada, causando aumento da porosidade do esqueleto e suscetibilidade a fraturas. A resistência óssea resulta da integração entre a densidade óssea e a qualidade do osso. A densidade óssea é expressa em gramas de mineral por área ou volume, e em um dado indivíduo, é determinada pelo pico de massa óssea e pela quantidade de perda óssea. A qualidade óssea depende da arquitetura, do remodelamento ósseo, do acúmulo de lesão (microfraturas) e da mineralização. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define densitometricamente a osteoporose como a densidade óssea abaixo de -2,5 desvios-padrão (SD) em relação à média para mulheres jovens brancas saudáveis (escore T). Epidemiologia: As estatísticas no Brasil mostram que aproximadamente 10 milhões de pessoas têm osteoporose. Avalia-se que 1 em cada 4 mulheres e 1 em cada 8 homens terão osteoporose e fraturas decorrentes dessa fragilidade óssea. As mulheres apresentam 80% das fraturas de antebraço, 75% das fraturas de úmero, 70% das fraturas do quadril e 58% das fraturas de coluna. Em geral, 61% de todas as fraturas osteoporóticas acontecem em mulheres. Fisiopatologia: O tecido ósseo encontra-se em constante remodelação. Em condições normais, existe um equilíbrio entre o que é formado e o que é retirado. Após a 3a década de vida, a reabsorção começa a superar a formação. Dessa forma, inicia- se a perda de massa óssea, com osteopenia e, em casos mais graves, com osteoporose. Mulheres perdem de 30 a 40% de seu osso cortical e 50% do osso trabecular, enquanto os homens perdem de 15 a 20% do osso cortical e 25 a 30% do trabecular. A osteoporose, atualmente, é classificada como primária quando é hereditária e como secundária quando é consequente a fatores ambientais. A osteoporose pós-menopausa é considerada primária, pela deficiência estrogênica. A osteoporose senil também pode ser considerada primária, devida ao envelhecimento do esqueleto e à deficiência de cálcio. Os ossos podem ser divididos morfologicamente em: trabecular e cortical. Sua composição molecular é a mesma, mas a disposição de suas células e sua localização alteram sua propriedade biomecânica e a velocidade de remodelação do osso. Funcionalmente, o trabecular está mais ligado à função metabólica, enquanto o cortical é o maior responsável pela resistência mecânica. A resistência do osso é dada pelas proteínas colágenas (força de tensão) e pela mineralização do osso osteoide (força de compressão). O osteoblasto, o osteoclasto e osteócito são as principais células envolvidas na formação e reabsorção do esqueleto e, dependendo de sua ação, ocorre mais ou menos formação de massa óssea. Esse é um dos determinantes da resistência do osso. Além dessas células, estão presentes células de revestimento e componentes orgânicos e inorgânicos. As células ósseas não trabalham independentemente umas das outras. Existe um mecanismo interligado de controle para formação, remodelação, crescimento e consolidação de fraturas. A osteoporose é, em essência, uma alteração da remodelação, que tem por objetivo remover o osso que já não está mecanicamente competente. A remodelação é ativada quando existe desuso, deficiência do hormônio estrógeno, insuficiência de cálcio na dieta, microfraturas e na presença de excesso do hormônio da paratireoide. A ativação é suprimida quando os estímulos contrários aos citados ocorrem: aumento da atividade mecânica, reposição hormonal, aumento da dieta com cálcio e normalização do paratormônio. Os osteoblastos, que são as células responsáveis pela formação dos ossos, parecem ser também as células que controlam a reabsorção. Eles são responsáveis pela produção de matriz orgânica que é composta por proteínas e polissacárides e que será posteriormente mineralizada. Existem evidências de que, sob influência do hormônio da paratireoide e de citoquinas locais, liberam-se mediadores que ativam os osteoclastos. Esses osteoblastos seguem um de 3 caminhos: mantêm- se como osteoblastos ativos, transformam-se em osteócitos, ficando rodeados de matriz, ou tornam-se relativamente inativos como células de revestimento. Os osteócitos mostraram ser extremamente importantes nesse mecanismo. Formam cerca de 90% das células ósseas do adulto. Eles são osteoblastos que vão sendo circundados pela própria matriz por eles produzida. Localizam- se em espaços ou lacunas, tendo longos processos citoplasmáticos que se projetam pelos canalículos na matriz e fazem contato com células adjacentes. Por possuírem esses filamentos que se interligam, os ostócitos formam uma sensível rede de células, capaz de detectar as deformações mecânicas sofridas pelos ossos durante os movimentos. Por essa razão, os osteócitos são as células responsáveis pela produção de massa óssea, sob o estímulo da atividade física. Os osteoclastos são as células responsáveis pela reabsorção dos ossos comandada pelos osteoblastos. Os osteoclastos agem removendo tanto a fase mineral quanto a orgânica do osso, em condições normais e patológicas. A formação e a reabsorção são, portanto, interligadas. O processo de remodelação de osso é regulado por hormônios, como o PTH (hormônio da paratireoide) e fatores locais como a IL-1 (interleucina) e prostaglandinas. Na infância e na adolescência ocorre maior atividade dos osteoblastos, por serem fases que necessitam de maior produção de massa óssea. Dos 30 anos até o início da menopausa, existe um equilíbrio entre o que é formado e o que é reabsorvido; após a menopausa, nas mulheres, e após os 65 anos, nos homens, existe um predomínio da ação do osteoclasto, fazendo com que haja maior perda de massa óssea que formação. Enquanto os osteoclastos necessitam de algumas semanas para reabsorver o osso, os osteoblastos precisam de meses para produzir osso novo. Por isso, em todos os processos em que ocorre a aceleração da reabsorção, o resultado é uma perda da massa óssea, no mínimo temporária, aumentando o risco de fraturas. MENOPAUSA: Um declínio no estrogênio circulante é o principal responsável pela perda óssea após a menopausa natural e cirúrgica, que é mediada principalmente por regulação positiva de citocinas (mais notavelmente RANKL) e aumento resultante em número, atividade e profundidade dos locais de reabsorção óssea mediadospor osteoclastos. Além disso, a produção de OPG é diminuída, amplificando ainda mais a reabsorção óssea, embora a reposição de estrogênio possa restaurar a produção de OPG enquanto reduz a expressão de RANKL e, assim, ajudar a mitigar a perda óssea durante esse período. Embora a reabsorção e a formação óssea ocorram sequencialmente durante esse período, a reabsorção ultrapassa a formação em razão da potencialização da primeira, auxiliada pela liberação de citocinas solúveis, resultando em desacoplamento significativo da remodelação óssea e perda óssea acelerada. Felizmente, esta fase de rápida perda óssea é normalmente limitada a 5 a 7 anos na maioria das mulheres. RANKL é um determinante crítico do recrutamento, desenvolvimento e sobrevivência de osteoclastos, de modo que a interrupção da sinalização de RANKL resulta em distúrbios da densidade óssea com alta fragilidade (p. ex., osteopetrose). RANK é o receptor desse determinante, presente no osteoclasto. A OPG, é produzida por pré-osteoblastos e osteócitos, é um receptor chamariz para RANK que se liga a RANKL, impedindo a ligação de RANKL a RANK e, portanto, servindo como um supressor endógeno da função dos osteoclastos. A osteoprotegerina (OPG) é um “receptor competitivo”, também produzido pelos osteoblastos, que se liga ao RANKL, impedindo a ligação do RANKL ao RANK e, assim, inibindo a reabsorção óssea osteoclástica. É o equilíbrio de RANKL e OPG que determina a taxa final de reabsorção óssea. Vários distúrbios, doenças e medicamento podem afetar a mineralização óssea. Como esperado, distúrbios endócrinos, incluindo hipogonadismo e síndrome de Cushing, predominam. No entanto, a perda óssea em várias condições é mediada indiretamente por efeitos colaterais no metabolismo da vitamina D (p. ex., má absorção, doença hepática crônica) e é o caso também com certos medicamentos (fármacos antiepilépticos fenitoína e fenobarbital). No caso de deficiência de vitamina D, a submineralização do osso pode confundir o quadro clínico de perda óssea. O mieloma causa perda óssea por meio do desacoplamento da reabsorção e formação óssea. Os medicamentos também causam perda óssea por meio da ativação osteoclástica e da inibição osteoblástica. A redução da formação óssea é o mecanismo pelo qual os glicocorticoides causam perda óssea, tanto por meio da administração exógena quanto da superprodução endógena. Manifestações clínicas: A diminuição da massa óssea é assintomática, sendo a osteoporose uma doença de evolução silenciosa, e o quadro clínico só se torna evidente por ocasião das fraturas, que ocorrem geralmente nas vértebras, terço distal do antebraço, do fêmur e do úmero. Na história do paciente com osteoporose, devem-se pesquisar fraturas ósseas e avaliar fatores de risco e causas secundárias para perda óssea. A fratura vertebral é a manifestação clínica mais comum da osteoporose. Esta fratura, em dois terços dos casos, é assintomática e diagnosticada na radiografia torácica ou abdominal realizada por outros motivos. Os pacientes podem permanecer assintomáticos até que tenham ocorrido várias fraturas e uma deformidade significativa tenha se instalado. As fraturas vertebrais podem se manifestar com dor aguda nas costas após movimento rápido de flexão, extensão ou mesmo após tossir ou espirrar. A maior parte das fraturas vertebrais ocorre na região torácica baixa ou lombar alta. A dor pode ser leve ou intensa, restrita ao sítio de fratura ou irradiada para a região anterior do abdome. Os episódios agudos de dor desaparecem após 4 a 6 semanas, mas podem recorrer com o desenvolvimento de novas fraturas. Fraturas vertebrais por osteoporose raramente estão associadas a complicações como “dor referida de raiz nervosa”; quando isso ocorre, outras causas de fratura ou dor devem ser investigadas. Nos casos em que a fratura vertebral é indolor, ela pode ser diagnosticada por meio da perda da altura ou por aumento progressivo no grau de cifose dorsal. A perda progressiva da altura resulta no encurtamento progressivo da musculatura paravertebral e na contração ativa dos músculos paravertebrais, resultando em dor e fadiga muscular. Em alguns pacientes, as costelas inferiores podem encostar-se à crista ilíaca, levando ao desconforto, dor contínua e pronunciada distensão abdominal. As alterações esqueléticas que acompanham a osteoporose podem reduzir a capacidade das cavidades torácica e abdominal, com consequente alteração das funções cardíaca, pulmonar, gástrica e vesical, dificultando a respiração e causando hérnia de hiato e incontinência urinária. Essas alterações vertebrais, em alguns pacientes, podem ocasionar limitação dos movimentos que causam impacto na vida diária, como se vestir, sair de casa, além de distorção da consciência do corpo, levando a depressão, ansiedade e redução da qualidade de vida. As fraturas de quadril são relativamente comuns na osteoporose, afetando 15% das mulheres e 5% de homens após os 80 anos de idade. As fraturas femorais são, geralmente, decorrentes de queda, podendo, no entanto, acontecer espontaneamente. Elas ocorrem no colo do fêmur ou são transtrocantéricas, estas últimas mais comuns em indivíduos mais idosos. Outro sítio comum de fratura em indivíduos com osteoporose é o terço distal do antebraço. Tal fratura é causada por queda sobre a mão e também é conhecida como fratura de Colles. Diagnóstico: pode ser feito pela constatação de uma fratura por fragilidade (vertebral ou periférica) ou, antes que isso ocorra, pela medida da DMO. As técnicas de quantificação da massa óssea tornaram possível identificar pacientes com maior risco de desenvolver fraturas, bem como o monitoramento da massa óssea. Densitometria óssea: A densitometria óssea de dupla emissão com fonte de raios X (DXA) ainda é o padrão de referência para diagnóstico, monitoração e investigação clínica do paciente com osteoporose. Na DXA, a massa óssea é relatada como um valor absoluto em g/cm2, uma comparação para a média da massa óssea de um indivíduo jovem adulto saudável (escore T) e uma comparação pareada para idade e sexo de um padrão de referência (escore Z). O escore T é utilizado para predizer o risco de fratura e classificar a síndrome osteoporótica em mulheres pós-menopausadas. Os locais mais comumente avaliados densitometricamente são a coluna e o quadril (DXA central), seguidos por regiões periféricas, como antebraço distal. Na coluna lombar, a DXA mede as vértebras individualmente, assim como a média da DMO de L1-L4. Na região do quadril, o colo do fêmur e o quadril total são as regiões de maior interesse clínico. Em crianças, adolescentes, mulheres pré- menopáusicas e homens entre 20 e 50 anos, deve ser usado o Escore Z. Nesses casos, um escore Z de -2,0 DP ou inferior é definido como “abaixo da faixa esperada para a idade” e um escore Z acima de -2,0 deve ser classificado como “dentro dos limites esperados para a idade. A medida da DMO pela DXA é o melhor fator preditivo para o risco de fraturas de coluna e quadril. A fratura de coluna é inversamente proporcional ao conteúdo mineral ósseo. Para cada declínio de aproximadamente um desvio-padrão da massa óssea existe o aumento de 1,3 a 2,5 vezes no risco de fratura em qualquer região. As radiografias da coluna torácica (T4-T12) e da coluna lombar (L1-L4), em perfil, devem ser realizadas nos pacientes em investigação para osteoporose, no sentido de identificar fraturas vertebrais assintomáticas. Utiliza-se a análise semiquantitativa de Genant para a classificação das fraturas vertebrais: • Grau I ou deformidade leve: redução de 20 a 25% do corpo vertebral. • Grau II ou fratura moderada: redução de 25 a 40%do corpo vertebral. • Grau III ou fratura grave: redução > 40% do corpo vertebral Os marcadores do metabolismo ósseo podem ser uti- lizados na monitoração da osteoporose e são divididos em marcadores de formação e de reabsorção óssea. Os marcadores de formação óssea incluem a fosfatase alcalina total e a fração óssea (FAL-O), a osteocalcina (OC) e os propeptídios carboxil ou aminoterminais do colágeno tipo I. A FAL-O é uma enzima produzida somente pelos osteoblastos e essencial para a mineralização óssea. A OC é um pequeno peptídio do colágeno com função ainda desconhecida; é sintetizada pelos osteoblastos para ser incorporada na matriz óssea recém-formada. Uma fração da OC recentemente liberada entra em circulação e pode ser medida por radioimunoensaio. Os marcadores da reabsorção óssea mais utilizados são produtos da degradação do colágeno. Os interliga-dores (cross-links) do colágeno tipo I, N- telopeptídio (NTx) e C-telopeptídio (CTx), são produtos da degradação do colágeno tipo I e podem ser medidos por imunoensaio na urina e atualmente também no soro. A piridinolina e a deoxipiridinolina (DPD) são covalentes interligadores (cross-links) encontrados no colágeno tipo I, liberados durante a reabsorção óssea, metabolizados e encontrados na urina livres ou ligados a peptídios. Atualmente, os melhores marcadores para reabsorção óssea são DPD e NTx ou CTx. Tratamento: O objetivo do tratamento da osteoporose é reduzir o risco de fratura. O tratamento ideal ainda é o preventivo, uma vez que nenhuma terapia restaura plenamente a massa óssea perdida. Não farmacológico: Nutrição: A dieta para tratamento (ou prevenção) de osteoporose inclui a ingestão adequada de calorias (evitar desnutrição), cálcio e vitamina D. Oxalatos (frutas ou vegetais) e fitatos (cereais e farinhas) em excesso, tetraciclina, sulfato ferroso e deficiência de vitamina D dificulta a absorção adequada de cálcio. O excesso de sódio, proteínas e uso de diuréticos (não tiazídicos) aumentam a excreção renal, piorando o balanço de cálcio do organismo. As carnes e os alimentos industrializados (congelados, enlatados e refrigerantes a base de cola) apresentam grande quantidade de fosfatos que, se presentes no lúmen intestinal, podem formar cristais com cálcio, impedindo a absorção. Álcool e tabagismo: Constituem dois fatores de risco para a osteoporose, contribuindo para a perda da massa óssea e para as fraturas. Exercício: Nos indivíduos idosos, o exercício pode reduzir a taxa de perda óssea e melhorar a saúde e a força muscular, contribuindo para a prevenção de quedas e para menor risco de fraturas. A inatividade física, a instabilidade postural e a fraqueza muscular são fatores que contribuem independentemente para o risco de fratura. Melhora da força muscular, do equilíbrio, da estabilidade, do tempo de movimento e da reação diminuem a predisposição a quedas. Medidas farmacológicas As medicações utilizadas para prevenção e/ou tratamento da osteoporose podem ser classificadas como antirreabsortivas ou anticatabólicas (alendronato, risedro-nato, ibandronato, ácido zoledrônico, denosumabe, raloxifeno, estrogênio, calcitonina), pró-formadoras ou anabólicas (teriparatida) e duplo mecanismo de ação (ra-nelato de estrôncio). As medicações anticatabólicas diminuem a remodelação óssea preservando a microarquitetura trabecular e cortical. Indicações do tratamento: A decisão do tratamento do paciente com osteoporose baseia-se na análise do risco de fratura, na eficácia e na tolerância às medicações