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Prévia do material em texto

Kamilla Gonçalves de Melo Paz 
RA 1445608 
Direito Penal - FMU 
 
 
O Aluno deverá ler crítica, analítica e reflexivamente a partir de diferentes suportes de 
conteúdo o livro "O último dia de um condenado" de Victor Hugo. Após, elaborar texto 
de 10-20 páginas que deve ser inserido no ambiente relacionado aos conteúdos e 
institutos jurídicos tratados na disciplina, ou gravar vídeo TED de cinco minutos 
apresentando suas conclusões postando-o na plataforma. 
 
 
 
Victor Hugo foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista 
pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. Esse livro 
contém duas histórias. A primeira é a primeira obra madura de ficção do autor, publicada 
em 1829, e que reflete a aguda consciência social que permearia sua obra posterior. O 
Último Dia de um Condenado teria profunda influência sobre autores posteriores como 
Albert Camus, Charles Dickens e Fiódor Dostoiévski. Claude Gueux, de 1834, é uma 
história documental sobre a execução de um assassino francês, e foi considerada mais 
tarde pelo próprio autor como precursora de sua maior obra sobre a injustiça social (Os 
Miseráveis). 
“E depois, vistas bem as coisas, que é que eu deixo da vida que verdadeiramente deva 
ser lamentado? Na verdade, o dia sombrio e o pão negro da cela, a magra porção de 
caldo tirada da selha dos galerianos, ser rudemente tratado, eu que tive polida 
educação, ser brutalizado por carcereiros e guardas de forçados, não ver um ser 
humano que me creia digno de uma palavra e perceber naqueles a quem me dirijo um 
estremecimento pelo que fiz e pelo que de mim farão: São pouco mais ou menos estes 
os únicos haveres que o carrasco tem para me tirar.” 
O Último Dia de um Condenado conta a história de um personagem sem nome, o que 
traz uma distância do leitor, mas ao mesmo tempo abrange os pensamentos e tormentos 
do ser humano como personagem de um mundo desumano. Estamos diante de um 
cidadão que cometeu um crime, que foi julgado e condenado à morte. O livro 
descreve os seus tormentos e sentimentos durante a jornada, a partir da condenação 
até a execução da sentença. As críticas à situação social, não só nacional, mas também 
mundial, encontram-se em enorme abundância, já que a pena de morte levanta certos 
problemas éticos. 
A princípio distante da ideia de morrer, o personagem vai aos poucos tomando 
consciência de sua condição de condenado. Tudo começa a oprimi-lo, os carcereiros, 
os outros detentos, sua cela e até mesmo o retrato de si que é refletido pelo espelho de 
sua alma. Morrer: o que é morrer? O que o ser humano deixa nesse mundo, se ele já 
nasce com um único destino certo que é o encontro com a morte. O desdém pela última 
dança é quebrado no encontro com sua pequena filha, que pelo tempo e pela sua atual 
situação não mais reconhece o pai. Nesse momento, o personagem se entrega ao seu 
destino. 
“A porta do túmulo não se abre pelo lado de dentro.” 
Mas até mesmo se entregando, a alma do Homem ainda busca um último suspiro de 
vida, e o personagem tenta uma última saída, uma última petição, um último pedido. 
Mas uma execução, assim como poucas outras coisas no mundo, nunca se atrasa. 
Depois da história do personagem sem nome, a história de Claude Gueux toma outro 
significado. Claude Gueux era um homem trabalhador, taciturno, dedicado. Vivendo 
uma vida que beirava a miséria, não encontra outra saída senão o roubo. Roubou para 
se alimentar, foi preso e condenado. 
“Neste momento supremo em que me recolho nas minhas recordações, aí encontro o 
meu crime com horror; mas queria arrepender-me ainda mais. Tinha mais remorsos 
antes da minha condenação; além disso, até parece que não há lugar para outros 
pensamentos que não sejam os da morte. Contudo, bem queria arrepender-me muito.” 
Na prisão, manteve a retidão de seu caráter. Se tornou um símbolo de resiliência e 
persistência para todos os outros detentos. Trabalhava na oficina da detenção com 
afinco, mantinha a rotina e o respeito da cadeia apenas com as suas ações. Mas o 
diretor da oficina era um homem sem piedade, um homem que estando feliz causava a 
desgraça do outro. E ao separar Claude Gueux de seu melhor amigo na oficina apenas 
por sadismo, virou em Claude Gueux uma chave, que após virada nunca mais retorna 
a sua origem: a chave da vingança. 
Claude Gueux organizou sua vingança. Arquitetou um plano com a ajuda dos outros 
detentos e no momento certo e determinado, executou o diretor da oficina. Sem 
qualquer piedade ou remorso, foi levado novamente à presença de um júri. Mas algo 
nele havia mudado e suas perguntas aos jurados certamente ecoaram por muitos e 
muitos anos depois. 
“Uma vida infame. Um monstro, com efeito. Claude Gueux tinha começado por viver em 
concubinagem com uma mulher de má vida, depois tinha roubado, depois tinha matado. 
Tudo isso era verdade. Na altura de mandar reunir os jurados, o presidente perguntou 
ao réu se tinha alguma coisa a dizer sobre a posição das questões. – Pouca coisa – 
disse Claude. – Contudo, vejam. Eu sou um ladrão e um assassino; roubei e matei. Mas 
porque é que roubei? Por que é que matei? Ponham estas duas questões ao lado das 
outras, senhores jurados.” 
Duas histórias sobre condenados. Duas histórias com perspectivas diferentes e que se 
complementam. Na primeira história, um homem condenado que se arrepende, no 
último instante, de ter desdenhado de sua vida. Na segunda, um condenado que na 
verdade é uma vítima, da sociedade, da política, do governo. 
As objeções de um condenado levantam sérios questionamentos ainda hoje. As críticas 
feitas pelo autor e as reflexões imanadas dessas críticas, no mínimo nos levam a 
questionar não apenas o caminho que a sociedade atual trilha, mas o vislumbre de uma 
sociedade desigual sem precedentes. 
Em um romance de surpreendente modernidade, o grande escritor do romantismo se 
joga de corpo e alma contra a pena de morte. Composta de um texto principal – o diário 
dos últimos dias da vida de um condenado –, de uma peça na qual personagens 
inventados por Victor Hugo criticam ferozmente a obra (prefácio à edição de 1829) e de 
um longo panfleto em defesa da causa (prefácio de 1932), esta edição vem contribuir 
para um debate em torno de uma discussão que alguns ainda tentam reviver no Brasil. 
Redigida em primeira pessoa, sentimos como um soco no estômago a voz de alguém 
que compartilha nossa existência por um tempo determinado. Logo sua cabeça será 
ceifada pela famosa engenhoca do doutor Guillotin e irá rolar para o cesto que as apara 
após a decapitação. Num ambiente de trevas, assistimos na própria descrição do 
condenado hora a hora aos preparativos de sua morte, à sorte de seus companheiros 
mais felizardos dos trabalhos forçados, à derradeira visita de sua filha que não o 
reconhece e o afasta ("o senhor me machuca com essa barba"), ao despojamento de 
seus últimos pertences para companheiros de "fortuna", etc. A obra foi escrita em menos 
de três meses sob influência de uma execução em Paris à qual Victor Hugo assistiu em 
1825. 
Uma das características que mais me intriga da literatura é a sua universalidade. 
Machado de Assis, escrevendo sobre o Rio de Janeiro do século XIX, Shakespeare, 
inglês no século XV, e Sófocles, na Grécia antes de Cristo, são autores que viveram em 
tempos distantes, mas que ainda têm muito a nos oferecer e ensinar. “O último dia de 
um condenado”, de Victor Hugo, escrito na França, publicado em 1829, é uma dessas 
obras, literatura universal, que serve para pensar o sistema penal brasileiro dois séculos 
depois. 
Muitas vezes alguém é chamado de “bandido” e tem sua existência resumida a isso: um 
ente perigoso, indesejado, que tem que ser combatido. Mas a verdade é que é uma 
pessoa como nós, de carne e osso, que sofre, sonha, ama e tem medos. Além disso, 
muitos inocentes são acusados, mas mesmo os culpados não deixam de sergente. 
Essa semana li de Débora Diniz e Ana Terra, sobre autores de textos acadêmicos que 
cometeram plágio, que “devemos resistir às teses de que os indivíduos são seus erros; 
os erros são desvios de rota”, e esse raciocínio se aplica a quem é criminalizado. 
Victor Hugo nos faz perceber a mesma coisa em “O último dia de um condenado”: é um 
diário de um criminoso sem nome que relata o que viveu imediatamente antes da 
execução de sua pena de morte. Não se sabe o que ele fez, seus motivos, nada, apenas 
que é culpado, não está arrependido e foi condenado à morte no começo século XIX na 
França. Por conta disso, a história retrata todo e qualquer condenado à morte, não se 
limitando a casos mais palatáveis para o leitor, como de crimes pouco relevantes ou de 
condenação de um inocente. Trata-se de uma defesa explícita da abolição da pena de 
morte, para todo e qualquer indivíduo, independente do que tenha feito, conforme o 
próprio autor explicitou em um prefácio de 1832, chamando execuções judiciais de 
“crimes públicos”. 
Acompanhamos o condenado em seus últimos dias de vida, enjaulado em sua cela. 
Conforme um dos prefácios do autor, escrito em forma de diálogo, o livro: 
"nos força a olhar dentro das prisões, nos campos de trabalhos forçados, no Bicêtre. É 
extremamente desagradável. Sabe-se muito bem que são cloacas. Mas o que importa 
à sociedade?" 
Logo no segundo capítulo, o condenado narra que momentos antes do anúncio de sua 
sentença os juízes estavam satisfeitos por o julgamento ter se encerrado rapidamente, 
enquanto os jurados pareciam cansados pela falta de sono. Mas ele escreveu, sobre 
estes últimos: “Nada na expressão deles anunciava homens que traziam uma sentença 
de morte; e nos rostos daqueles bons burgueses, tudo que eu percebia era o desejo de 
uma bela noite de sono” (p. 14-15). Nos últimos momentos do livro, o personagem 
também descreve que o padre encarregado de o consolar em seus últimos momentos 
é “apático”, por já estar “acostumado há bastante tempo àquilo” (p. 111). Para este 
padre, o personagem-narrador é apenas “uma unidade a ser acrescentada ao número 
de execuções” (p. 112). 
Embora seja uma história ocorrida na Europa há cerca de 200 anos, parece-me existir 
muita semelhança com o Brasil contemporâneo. Lembro-me que durante a graduação 
assisti dezenas de audiências de custódia para fins de pesquisa acadêmica e uma das 
constatações mais evidentes era a pressa dos magistrados, todos ansiosos para 
terminar o seu trabalho, bem como a inexistência de qualquer comoção ao tomar 
decisões que teriam imenso impacto na vida do indivíduo sentado à sua frente. O 
procedimento parece ser guiado por um espírito burocrático e blasé, uma formalidade 
que tem que ser observada para a punição do indivíduo, mas que não merece uma 
preocupação substancial. Isso me parece especialmente verdadeiro no caso das 
audiências de custódia pois elas acontecem aos montes: são dezenas feitas por um 
único juiz diariamente. 
Em relação ao júri, é um ritual muito mais demorado e cansativo, principalmente para 
os que participam. Assim, mesmo para um defensor comprometido, é necessário 
esforço para não sucumbir ao cansaço físico e mental. Não são poucas as histórias de 
jurados dormindo durante o julgamento. 
Lembro ainda de um relato da advogado Alexandra Szafir em seu livro “DesCasos”: a 
primeira história é a de um Desembargador que acordou no meio de uma sessão de 
julgamento e interrompeu um advogado que estava realizando sustentação sentado 
para lhe dizer que deveria falar de pé. Ocorre que o advogado estava sentado em uma 
cadeira de rodas, fato que passou despercebido devido ao sono do Desembargador. 
Em verdade, nos Tribunais de todas as instâncias, não é incomum o sono dos julgadores 
durante o processo de julgar, o que pode até decorrer do excesso de trabalho e da falta 
de descanso pela noite, mas não deixa de revelar que a legitimidade da intervenção na 
liberdade do indivíduo é um aspecto secundário da jurisdição. 
No livro, o anônimo reflete sobre a insensibilidade dos julgadores que o condenam à 
guilhotina: “Será que eles jamais consideraram a ideia pungente de que, no homem que 
eles cortam, há uma inteligência, uma inteligência que contava com a vida, uma alma 
que não se dispôs a morrer? Não. Em tudo isso, eles veem tão-somente a queda vertical 
de uma lâmina triangular, decerto pensando que, para o condenado, não há nada antes, 
nada depois” (p. 27). Na sequência, sustenta que o seu relato (que constitui o próprio 
livro) deteria os julgadores por alguns instantes, pois perceberiam seu sofrimento, que 
existe mesmo com a guilhotina, sendo uma falácia que ela é um método de matar 
indolor: “o que é a dor física perto da dor moral” (p. 27). 
A obra diz respeito à pena de morte, que não é uma prática estatal legalizada no Brasil 
atualmente (a despeito de ser recorrente), mas também pode ser ponto de partida para 
refletir sobre as prisões. Inclusive, o condenado pondera em diferentes passagens sobre 
qual seria o melhor desfecho de seu processo, a morte ou prisão com trabalhos forçados 
nas galés, e num primeiro rejeita a segunda opção: 
“mil vezes a morte, antes o cadafalso que as galés, antes o nada que o inferno” (p. 59) 
A fala é assustadoramente parecida com o que disse José Eduardo Cardozo, quando 
ainda era Ministro da Justiça no Brasil: “se fosse para cumprir muitos anos em alguma 
prisão nossa, eu preferia morrer”. O personagem só parece mudar de ideia em seus 
últimos momentos, quando fica desesperado pela proximidade de seu próprio fim. 
Há um contexto histórico bem diverso, mas muitas das afirmações do livro podem ser 
perfeitamente aplicadas ao Brasil contemporâneo, como as descrições sobre a prisão 
como um lugar que não produz nada de bom e não tem um efeito educador, que deveria 
ser o seu objetivo: 
“como a prisão é abjeta! Há nela um veneno que tudo suja. Tudo é maculado em seu 
interior. [...] Quando se encontra um pássaro na prisão, há lama em sua asa; quando se 
colhe e se cheira uma bela flor, ela fede” (p. 66) 
No prefácio o autor argumenta que não se “deve punir para se vingar”, mas “corrigir para 
melhorar”. Com esse pensamento, defende a abolição da pena de morte, ressaltando 
que o crime não é uma qualidade inata do indivíduo, mas, muitas vezes, consequência 
de uma vida desafortunada: “Por acaso o punis porque a sua infância rastejou pelo solo 
sem amparo, nem tutor! Imputais-lhe a viva força o isolamento em que o deixaste? 
Fazeis um crime da sua desgraça! Ninguém lhe ensinou a conhecer o que fazia. Esse 
homem ignora. A sua falta é do seu destino”. Além disso, salienta que matar um homem 
que possui uma família implica em fazer sofrer também seus parentes. 
Na história essa discussão se apresenta por um outro condenado que o narrador-
personagem encontrou na prisão: ele relata que, depois de ficar quinze anos preso, 
decidiu que queria ser um homem honesto, mas que não teve meios de seguir pelo 
caminho pretendido, pois as pessoas tinham medo dele e ninguém queria lhe dar 
trabalho: “ofereci um dia de trabalho por quinze soldos, dez soldos, cinco soldos. Nada”. 
Então, tentou roubar um pão, sem sucesso, e por ser reincidente foi condenado à pena 
perpétua, o que nos leva a refletir não apenas sobre a abolição da pena de morte, mas 
sobre o próprio papel que as prisões exercem de estigmatização do indivíduo. Me 
lembrou de um caso pro bono em que auxiliei uma mulher a retirar tornozeleira 
eletrônica porque impedia ela de conseguir emprego. 
As consequências que a pena tem para com terceiros é outro tema abordado 
explicitamente. Em várias passagens o personagem lamenta que sua filha de três anos 
será não apenas órfã, mas órfã de pai condenado à morte, o que lhe causará vergonha 
e desprezo: “não se deve matar o pai de uma criança de três anos [...] Que crime cometi, 
e que crime faço a sociedade cometer!” (p. 101). Hoje, ter umparente preso também é 
motivo de vergonha e todo o processo de visita gera humilhação. 
Mas talvez o ponto que mais chamou minha atenção foi a espetacularização da 
execução da pena. Em diferentes momentos na história a pena é motivo para reunião e 
entretenimento de terceiros, principalmente no final, quando o personagem principal 
está sendo levado para o seu cadafalso. Esse tema, que nos parece tão 
contemporâneo, está perfeitamente retratado ali, inclusive com menção a pessoas que 
se beneficiavam economicamente. 
Em verdade, lendo a história, tive a triste impressão de que hoje o fenômeno de usar o 
sistema penal como espetáculo para o público acontece de modo muito pior. Pensei nos 
programas de televisão que expõe o “combate ao crime”, nos noticiários de execuções 
sumárias pela polícia, no governador que comemorou a morte de um sequestrador. 
Muito próximo do que é retratado na história: 
“todo esse povo rirá, baterá as mãos, aplaudirá” (p. 147), “a praça está ali, e abaixo da 
janela há o povo horrível que berra, me espera e ri” (p. 150), “e os mais próximos de 
mim aplaudiram. Por mais que se ame um rei, para ele a festa não seria tanta” (p. 154). 
Essa reação do público (e até de autoridades) à execução de criminosos se mantém, a 
diferença é que a pena de morte não é mais uma prática legalizada e ocorre sem ordem 
de uma sentença judicial. De resto, a alegria e comemoração não parece ter mudado 
tanto, sendo o sistema penal e a violência estatal uma forma macabra de entretenimento 
com engajamento considerável. 
Outros pontos interessantes: a Guilhotina como um avanço humanitário, uma forma de 
execução supostamente indolor e rápida; a utilização da pena de morte com fins 
políticos em momentos de revolução (inclusive, tive a impressão de que o personagem 
era justamente um intelectual que cometera algum fim político e estava convicto de que 
fizera certo); etc. 
É de se pensar, ainda hoje, o quão legítimas são as violências exercidas pelo Estado. 
A obra tem como ponto central a pena de morte, explorando principalmente o sofrimento 
psicológico pelo qual o personagem passa ao ver a sua morte se aproximar a cada 
segundo. Mas serve para instigar uma reflexão ampla sobre o sistema penal 
contemporâneo, em questões como prática de execuções sumárias, os efeitos da 
criminalização de certas condutas (como o tráfico de drogas), as condições das prisões 
brasileiras, a espetacularização do sistema penal e a exploração econômica da mídia 
sobre isso, entre outros. Todas essas violências, por serem promovidas pelo Estado, 
são dadas como legítimas, assim como a pena de morte no século XIX (a esse respeito, 
a leitura do artigo Violência e teoria social, de Michel Misse, publicado na Revista de 
Estudos e Conflitos Sociais, em 2016, também foi um ótimo adendo à obra). Mas Victor 
Hugo nos convida a uma reflexão em busca de um avanço humanitário que reconheça 
toda pessoa como digna e detentora de direitos. 
O enredo dessa história se passa na França do século XIX, quando execuções públicas 
eram comuns, e mostra o que se passa na cabeça de um homem que é condenado a 
morte, onde não se sabe que crime ou que motivação levou este condenado a levar 
essa punição. O livro descreve os tormentos e sentimentos durante a jornada de 
presidiário, a partir da condenação até a execução da sentença. 
Victor Hugo traz nesta obra um grande apelo que engloba a questão da vida humana 
contra a pena de morte, porém sem trazer uma história de sofrimento na vida do 
protagonista, pois o que nos leva a entender é que o escritor não gostaria de ganhar o 
público com uma trajetória triste, a qual são levadas pelo sentimentalismo ou 
particularidades do caso ou do personagem, mas sim rejeição a uma das penas mais 
cruéis que já existiram no mundo, trazendo sua postura humanista ao caso. 
 Em muitos momentos do livro é retratado os carcereiros e até mesmo os outros 
detentos zombando da situação do presidiário, o que transparece o que na verdade 
é a sociedade de antigamente e até mesmo a moderna, sempre julgando e 
apontando o dedo para os marginalizados, fazendo valer a frase “bandido bom é 
bandido morto”, lembrando que muitos cidadãos querem que os direitos humanos sejam 
só para uma parcela de pessoas. 
 Depois de um certo tempo refletindo em sua cela tudo começa a oprimi-lo desde seu 
próprio cárcere ao retrato de si que é refletido pelo espelho de sua alma. Com todo esse 
sofrimento ele ainda se lembra de sua família com pesar, pois ele que cometeu o crime 
desconhecido e sua família que está pagando pelos seus atos, uma vez que sua mãe 
ficará sem filho, sua esposa sem marido e principalmente sua filha que não recorda mais 
dele, porém que ele ama tanto ficará órfã. 
Portanto, é possível concluir que a morte de um homem não mata apenas o condenado, 
mas mata também sua família inteira, e a deixa desamparada. Essa é uma questão 
social muito forte que o autor expõe, a qual ocorria na época e que, ainda hoje, ocorre 
e precisa de atenção. 
Este livro vem para retratar a realidade francesa da época utilizando-se de um homem 
sem nome, com um crime desconhecido e sem arrependimento sob seus atos. Trazendo 
uma forma de ativismo velado, é perceptível a forma que Vitor Hugo traz os 
pensamentos e situações passadas por um homem com sua morte anunciada, 
mostrando como a vingança privada e coletiva evolui desde o século XIX. Em 
paralelo podemos trazer essa situação para o Brasil e vemos que apesar de este estilo 
de pena estar longe de acontecer no Brasil é possível ver que a sociedade está 
cada vez mais pendendo para a repercussão dos atos praticados no livro. 
O autor da obra, fez esse livro com a intenção política de demonstrar a sociedade, que 
já estava acostumada a penas capitais desde a monarquia, a barbaridade que é a pena 
de morte, ainda mais porque ela era feita pela guilhotina e porque se tornava um 
espetáculo administrado pelo Estado com a intenção de horrorizar a população. 
Victor Hugo, no entanto, não caracterizou o condenado como um coitado, alguém 
inocente que fora condenado a morte por algo que não fizera. Mas sim o colocou como 
um homem, rico, letrado, alguém que a população francesa da época chamaria de alta 
sociedade, que tinha cometido o crime de matar alguém, e por isso foi condenado. Tal 
opção do autor foi vital na articulação da ideia de que, mesmo que a pena de capital 
fosse aplicada ao criminoso que realmente tenha cometido o ato ilícito, ainda sim essa 
é excessivamente desumana, cruel e brutal. 
Tal mensagem dado por Victor Hugo não foi bem aceita pela população da 
França na época, pois era vista como subversiva a ordem social vigente, uma 
vez que trazia diferentes reflexões sobre assuntos que não eram comentados 
cotidianamente, tais como: violência estatal, direitos humanos e vontade popular por 
sangue. 
Entretanto, mesmo que hoje, dois séculos dessa obra, já em um mundo 
contemplado pelos direitos humanos, existem grupos sociais, bem como países inteiros, 
que utilizam ou defendem a utilização de métodos brutais de punição à criminosos. 
O Brasil, segundo 5° XLVII a da Constituição Federal, não aplicará pena de morte em 
época de paz, entretanto, existem grupos político-sociais que defendem a 
introdução da possibilidade de pena de morte no ordenamento jurídico brasileiro. Dito 
isso, mesmo com toda a bagagem evolutiva do ponto d e vista d os direitos 
humanos, parte da sociedade ainda está desejando que nosso Estado se torne 
um abatedouro humano. 
Além disso, a de se considerar que o a justiça brasileira, bem como qualquer 
poder judiciário do mundo, comete erros. Entretanto, se esse erro for cometido.

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