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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 33 Roteiro de estudo 6 Assunto: Composição e estrutura dos principais minerais de argila do solo OBJETIVOS Ao final o aluno deverá ser capaz de: -Relacionar os principais minerais de argila que podem ocorrer nos solos brasileiros -Diferenciar minerais 1:1 e 2:1 -Diferenciar minerais de argila de argilo-minerais -Esquematizar a estrutura dos minerais 1:1 e 2:1 -Diferenciar argilas expansivas e não expansivas e exemplificar NOÇÕES A palavra argila tem sido e é utilizada em dois sentidos: granulométrico e mineralógico. Granulométrico (tamanho) para denominar material de qualquer composição cujo tamanho médio da partícula seja inferior a 0,002 mm (2) (minerais de argila). Mineralógico para referir-se a um grupo de minerais com composição específica e um tipo particular de estrutura cristalográfica denominados de argilo-minerais. Os argilo-minerais são silicatos hidratados de alumínio pertencentes ao grupo dos filossilicatos (filo = folha), podendo conter Fe, Mg, Ca, Na e K. De uma maneira geral as argilas (rochas ou argilas do solo) são constituídas predominantemente por argilo-minerais. A maioria das argilas é cristalina e a confirmação desse fato é corroborada através o emprego de raios-x e por meio de fotomicrografias eletrônicas que mostram as formas geométricas das partículas. Principais minerais constituintes da fração argila dos solos Argilo-minerais Caulinita, haloisita Esmectita (montmorilonita), vermiculita, ilita, clorita, vermiculita-Al, mica Alofanas Óxidos e hidróxidos de ferro - Goetita, hematita, ferridrita, lepidocrocita Hidróxidos de alumínio - gibbsita Estrutura cristalina dos minerais de argila Argilo-minerais Como o nome indica, são minerais pertencentes a classe dos filossilicatos (filo = folha). - silicatos hidratados de alumínio, sendo os principais constituintes da fração argila (< 0,002 mm) do solo e possuem formato laminar. O conhecimento da estrutura cristalina desses minerais permite entender como se formam, suas propriedades e a influência no comportamento físico e químico dos solos. Unidades fundamentais da estrutura dos argilo-minerais As unidades fundamentais da estrutura são grupos tetraédricos e grupos octaédricos com os quais são construídos todos os tipos de estrutura dos argilo-minerais. Tetraedro de sílica: constituído por íon de silício rodeado por 4 oxigênios. Os tetraedros ligam-se entre si pelos oxigênios de suas bases, formando uma folha contínua geralmente denominada de folha de tetraedros (T)(Figura 1) FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 34 Figura 1. A) Tetraedro de silício e B) Folha de tetraedros Octaedro de alumínio: consiste de íons O e OH- envolvendo íon Al numa configuração octaédrica, ligando-se entre si pelo O e OH-, compartilhados para formar folhas de octaedros (O) contínuas em 2 direções (Figura 2). Figura 2. Octaedro de alumínio e folha de octaedros Essas folhas tetraédricas e octaédricas são contínuas nas direções dos eixos cristalográficos a e b e estão empilhadas umas sobre as outras na direção do eixo c (Figura 3 ). Figura 3. Empilhamento da folhas de tetraedros e folha de octaedros O empilhamento de folhas octaédricas e tetraédricas entre si forma os tipos fundamentais da estrutura cristalina dos argilo-minerais. União das folhas tetraédricas e octaédricas A união das folhas octaédricas e tetraédricas não é um encaixe perfeito entre si ocorrendo esforços de tração e compressão que influenciam o tamanho e morfologia dos argilo-minerais. A ligação entre as folhas T e O é feita pelo compartilhamento de alguns íons de O comuns às duas folhas. Camada - denomina-se de camada o resultado do empilhamento de uma folha T com uma folha O, ligadas pela chamada ponte de H, ou seja ligação entre os H dos T e OH dos O. É uma ligação muito firme e não permite clivagem. FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 35 A união de uma folha de T com uma de O forma, portanto, uma camada e o mineral resultante é denominado do tipo 1:1. A união de duas folhas de T com uma folha de octaedro central forma também uma camada e o mineral resultante denomina-se do tipo 2:1. Caulinita É um argilo-mineral secundário formada por uma folha de T de Si04 e uma folha de O de Al2(OH)6, ligadas entre si em camada unida através de oxigênio em comum. É, portanto, do tipo 1:1 (Figura 4 a) e, de maneira geral, apresenta lamina de formato hexagonal (Figura 4b). Figura 4 a. Estrutura da caulinita Figura 4 b. Microfotografia eletrônica de cristais hexagonais de caulinita Composição química: A fórmula estrutural da cela unitária é Al4 Si4 010 (OH). Composição percentual: SiO2 - 47% Al2 03 - 40% H2 0 - 13% A espessura ou distância vertical entre as camadas basais é de 7,15 angstrons Figura 5. Representação esquemática da caulinita Os planos entre as camadas 1:1 são planos de clivagem. As pontes de H entre camadas dificulta a clivagem e expansão pela entrada de água. A caulinita é a argila mais comum nos solos de todo o mundo, e principalmente daqueles que ocorrem nas regiões tropicais incluindo o Brasil. Pode ser originada pela alteração de minerais primários (feldspatos e plagioclásios principalmente) ou a partir do intemperismo de outras argilas (esmectitas, ilitas). A formação da caulinita é favorecida pela remoção de bases - cálcio, magnésio, potássio e sódio - condição na qual o ambiente fica ácido pela introdução de íons hidrogênio. Possui baixa quantidade de cargas elétricas negativas (CTC de 4 a 12 e.mg) originadas basicamente pelo processo de quebra de arestas. Essas cargas são pH dependentes. Esmectita (montmorilonita) É um argilo-mineral do grupo dos filossilicatos constituído por 2 folhas de tetraedros SiO4 e 1 folha central de octaedros Al2 (OH)6 unidas por oxigênio comum às folhas - tipo 2:1- (Figura 6). FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 36 Figura 6 a. Estrutura da esmectita Figura 6 b. Microfotografia de cristais de esmectita Composição química: Al4 Si8 O20 (OH)4. nH2 O (n=interlamelar) Composição percentual: SiO2 67% (variável) Al2 O3 28% H2 0 5% A espessura varia de acordo com o cátion interlaminar e com a quantidade de água entre as camadas. A monocamada tem 10 angstrons (saturada c/K) e expande para 18 angstrons quando hidratada.. As camadas são ligadas frouxamente pelo oxigênio da base dos tetraedros o que permite fácil clivagem e entrada de água. Esse mineral é encontrado em quantidades maiores nos solos cuja formação e ambiente permitiu acúmulo de bases e sílica, o que pode ser traduzido por material de origem rico em cálcio, magnésio e sílica, além de condições de baixa lixiviação. Essas condições são encontradas algumas vezes em solos jovens (Litólicos/Neossolos), em solos de regiões mais secas, assim como em alguns solos com impedimento de drenagem. Como exemplo podem ser citados os solos com argila de alta atividade tais como alguns Litólicos derivados de rochas básicas, solos Brunos Não Cálcicos, Brunizens e, principalmente, os Vertissolos. Nesses últimos os elevados teores de esmectita confere-lhes uma consistência caracterizada por extrema plasticidade e pegajosidade quando molhados e elevada dureza quando secos tornando-nos, portanto, solos difíceis de serem manejados embora tenham alta fertilidade natural. À medida que aumenta a quantidade desse mineral nos solos, mais problemático torna-se o seu manejo diferentemente, portanto, dos solos com predominância de caulinita em que dificuldades relacionadas com a consistência são menores. Nos solos de zonas tropicais, como é o caso da maior parte do território brasileiro, a presença de esmectitas é pouco comum devido ao alto grau de intemperismo a que foram submetidos.Possui grande quantidade de cargas elétricas negativas originadas por substituição isomórfica nos tetraedros (Si x Al) e octaedros (Al x Fe x Mg)e independentes de pH, originando alta capacidade de troca catiônica (T=100 e.mg/100 g). Peculiaridades de sua estrutura conferem a este mineral uma grande capacidade de contração e expansão, além de elevada plasticidade e pegajosidade quando úmido e extrema dureza quando seco. No campo a presença deste mineral pode ser inferida através da consistência.ou pela presença de superfícies alisadas, estriadas e brilhantes nos elementos de estrutura do solo (superfícies de fricção (slikensides). Nas análises químicas sua presença é sugerida pelos altos valores de CTC, descontando-se o efeito da matéria orgânica. Esquematicamente a esmectita pode ser representada conforme a Figura 7. FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 37 Figura 7. Representação esquemática da estrutura da esmectita Vermiculita É um argilo-mineral do grupo dos filossilicatos constituído por 2 folhas de tetraedros (SiO4) e 1 folha central de octaedros (Al2 (OH)6 unidas por oxigênio comum às folhas (tipo 2:1). Composição química: (Mg,Fe)3 (Alx Ai4-x) (OH)2 4H2O . Mgx Composição percentual: SiO2 34% Al2 O3 15% MgO 23% H2O 20% Fe2O3 8% É um mineral originado a partir da alteração da mica e pouco comum nos solos tropicais devido ser bastante instável nessas condições, intemperizando-se para outros minerais como esmectitas que, por sua vez, também é instável, e degrada-se originando a caulinita e óxidos de ferro. O mais comum, entretanto, é a ocorrência de intercalação de alumínio entre as lâminas de vermiculita originando a vermiculita com alumínio interlamelar (V-Al), muito comum nos solos tropicais e bastante resistente à degradação. Possui cargas negativas originadas por substituição isomórfica nos tetraedros (Si x Al) e nos octaedros(AlxMgxFe). Apresenta espessura de 10 angstrons quando desidratada, e 14 angstrons quando hidratada, sendo portanto um mineral com capacidade de contração e expansão. Vermiculita-Al É uma vermiculita com hidróxido de alumínio interlamelar. É produto do intemperismo da vermiculita. Muito comum em solos. Mica (Al, Si, K, Fe, Mg) É um argilo-mineral do grupo dos filossilicatos constituído por 2 folhas de tetraedros (SiO4) e 1 folha central de octaedros (Al2 (OH)6 unidas por oxigênio comum às folhas (tipo 2:1). Não expansiva. Espécies: Micas ígneas - moscovita, biotita Micas metamórficas - flogopita, sericita Ilita - é uma mica empobrecida em K e enriquecida em água. Composição percentual: SiO2 57% Al2 O3 19% K2O 5% Fe2 O3 5% H2 O 9% Possui espessura de 10 angstrons e cargas negativas originadas por substituições isomórficas (CTC + 40 e.mg/100 g). A mica é um mineral herdado do material de origem. Pela remoção parcial do potássio e enriquecimento em água, origina um mineral denominado de ilita. Este, por sua vez, intemperiza-se para caulinita. Embora a mica e a ilita sejam minerais do tipo 2:1, não possuem capacidade de contração e expansão devido presença de potássio. Esquematicamente pode ser representada conforme Figura 8. FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 38 Figura 8. Representação esquemática da estrutura da mica. Haloisita Estrutura semelhante à caulinita Espécies: Haloisita 2H2O (metahaloisita) - camada de água separa camadas da estrutura. Haloisita 4H2 O - (endelita) Não ocorrem substituições isomórficas. Possui forma de tubos o que permite diferenciar da caulinita por microscopia eletrônica, a qual tem formato de laminas hexagonais. Pouco comum em solos. Clorita É um silicato de magnésio e alumínio hidratado composta por uma camada do tipo da mica e uma camada de brucita Mg3 (OH)6. Composição química: Mg12 Si8 O20 (OH)16 Origina-se pela alteração de silicatos com Fe, Al, Mg como biotita, piroxênios e anfibólios, podendo ser de origem metamórfica (cloritaxisto) ou sedimentar. Pouco freqüente em solos e, quando presente ocorre no horizonte C. Tem baixa estabilidade e se altera para vermiculita ou esmectita com alumínio interlamelar. Interestratificados São argilo-minerais de camadas mistas. A ilita, montmorilonita, clorita e vermiculita ocorrem em unidades compostas. A interestratificação pode ser regular ou irregular. São minerais em estágios transionais. Gibbsita Hidróxido de alumínio (Al2O3.3H2O). Muito comum em solos. Originada da alteração de feldspatos e também pela dessilicatização da caulinita. Sua estrutura é constituída por Al sanduichado por 2 placas de OH-. Espaçamento de 4,8 angstrons. Possui cargas dependentes de pH negativas ou positivas. As negativas são originadas pela dissociação de hidroxilas (OH-) da superfície do mineral por elevação do pH, enquanto que as cargas positivas se devem devido ao abaixamento do pH, quando a superfície do mineral adsorve H+. Óxidos e hidróxidos de ferro São muito importantes pois ocorrem praticamente em todos os solos e tem grande influência sobre a cor. Desenvolvem sítios de adsorção de cátions e ânions. Promovem agregação e cimentação. Possuem cargas dependentes de pH (positivas ou negativas). Refletem alguns aspectos de gênese de solos. Os mais freqüentes são a hematita e a goetita. Goetita ( - FeOOH) É o composto de ferro mais freqüente nos solos e também o mais estável. Tem a forma de acículas. A identificação por raios-x é feita pelas reflexões 4,18-2,69-2,4 angstrons. Possui cargas dependentes de pH que podem ser negativas, positivas ou nulas. A CTC é baixa. Confere cor amarela aos solos. Hematita ( - Fe2O3) Depois da goetita é o mais freqüente. A forma é geralmente hexagonal (<0,1 m ). A identificação por raios-x é feita pela presença das reflexões 2,7 - 2,52 - 3,68, sendo esta última FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 39 obtida apenas quando em altas concentrações. As cargas são em pequena quantidade e dependentes de pH (negativas, positivas ou nula). A CTC é baixa. Confere cor vermelha aos solos. Ferrihidrita (Fe5H8 . 4H20) Considerada como precursora da hematita. Freqüente em canais de drenagem e crostas de basalto alteradas. Lepidocrocita ( - FeOOH) Encontrada em ambientes mal drenados. Possui coloração amarela. Alofanas Constituídas por Si, Al e H2O. Características de solos derivados de cinzas vulcânicas. Não apresenta estrutura cristalina definida e sua determinação se faz por métodos químicos. Ocorrência dos principais minerais encontrados na fração argila de solos do Brasil (Rezende,1988). Caulinita - Ocorre praticamente em todos os solos do Brasil, principalmente nos Latossolos com Ki elevado e outros solos com argila de baixa atividade (Tb). Esmectita - Encontrada nos Vertissolos, Rendzinas, Brunizens, Brunos Não Cálcicos e outros solos com argila de atividade alta (Ta). Ilita - Nos solos jovens derivados de rochas que possuem mica, principalmente pelíticas e metapelíticas. Vermiculita - Ocorre associada com a esmectita em muitos solos com argila de alta atividade (Ta). A vermiculita aluminizada é comum em solos ácidos com Ki relativamente elevado. Nas regiões subtropicais ela é mais aluminizada tendo, nesse caso, menor capacidade de troca catiônica. Gibbsita - Nos Latossolos com Ki muito baixo e alguns Cambissolos tropicais de altitude. Goetita - É praticamente o único óxido de ferro nos solos amarelos, mas está sempre presente em maior ou menor quantidade nos solos vermelhos. Hematita - Responsável pela cor dos solos vermelhos. Ocorre nos solos bem drenados de regiões com períodos seco pronunciado, com teores elevados de ferro ou é herdada da própria rocha. .........................................................Bibliografia: Brady, N.C. Natureza e propriedades dos solos. Editora Universitária Freitas Bastos. 1983.647p. Moniz, A .C. (Coord.). Elementos de Pedologia. Editora USP. 1972. 459p. Rezende, M. Caracterização dos solos tropicais. MEC, ABEAS. 1988.181p.
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