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Reproduzindo o experimento de Eratóstenes Alexssandro Oliveira de Matos CEFET/RJ – campus Nova Friburgo Resumo Esse relatório aborda um experimento realizado por mim mesmo, cujo objetivo central era reproduzir o método utilizado por Eratóstenes para calcular a circunferência da terra. Para chegar em um valor bem próximo do exato usei a mesma ideia de Eratóstenes, acrescido de alguns recursos tecnológicos e estatísticos para diminuir a margem de erro das medidas obtidas. Ao fim do experimento obtive o valor de (40.003,89 ± 117,65) km, valor bem próximo do exato que é de 39.916 km (se encontra dentro do intervalo de incerteza). Palavras-chave: Eratóstenes. Experimento. Circunferência. Introdução Apesar de diversas afirmações de que a Terra é plana atualmente, estudos científicos de mais de dois mil anos já provavam que a terra possui um formato esférico com os polos um pouco achatados. Um dos principais estudos foram feitos por Eratóstenes de Cirene (256 a.C - 194 a.C), chefe da Biblioteca de Alexandria, que foi o responsável por calcular a circunferência da terra. Eratóstenes não possuía muitos recursos na época que realizou o experimento, no entanto, ele conseguiu obter o valor de 39.700 km de circunferência do Equador. Esse valor é bem próximo do exato que é de 40.075 km Modelo teórico Primeiramente, temos que considerar as ferramentas utilizadas por Eratóstenes para calcular a circunferência da terra. Através de documentos da biblioteca de Alexandria, Eratóstenes descobriu que o zênite solar (momento em que o sol está no ponto mais alto no céu) estaria na cidade de Siena no dia 21 de junho as 12h. Eratóstenes sabia que nessa data e hora em Siena os raios solares estavam exatamente paralelos a um poço e, consequentemente, não fazia nenhuma sombra. Ao fincar uma estaca perpendicular ao solo em Alexandria no dia e na hora do zênite em Siena, Eratóstenes percebeu que a estaca produzia sombra. Com essas informações, ele usou conceitos básicos de geometria para realizar o cálculo da circunferência. Figura 1 – Esquema geométrico da ideia de Eratóstenes. Figura retirada do site guiatech. Eratóstenes formou um triângulo retângulo, onde a altura H da estaca e o comprimento X da sua sombra representava os catetos. Com isso ele utilizou a tangente para obter um dos ângulos que era igual ao ângulo formado pelo arco AÔS, na qual A é a cidade de Alexandria, S é a cidade de Siena e O é o centro do planeta. tan θ = (𝟏) θ = tan (𝟐) Após obter o ângulo θ e saber o valor de L, que é a distância de Alexandria a Siena, Eratóstenes utilizou uma relação trigonométrica para encontrar a circunferência da terra. L C = θ 2π Onde C é o valor da circunferência da terra. Resolvendo a regra de três, obtem-se: C = 2πL θ (𝟑) Vale destacar que Eratóstenes não utilizou nenhum método estatístico para mensurar o quão preciso o valor encontrado foi. No entanto, no experimento que eu realizei, levei em consideração os cálculos de incertezas para as medidas encontradas. Chamei de 𝜎 , 𝜎 , 𝜎 , 𝜎 e 𝜎 as incertezas do comprimento da sombra do objeto, da altura do objeto, da distância entre o zênite e o local do experimento, do ângulo e da circunferência da terra nessa ordem. Para calcular a incerteza do ângulo, vamos utilizar a seguinte equação: σ = . σ (4) , onde θ representa a função (2) É importante mencionar que a incerteza do ângulo será apenas em relação à altura do objeto medido. Para o cálculo da incerteza da distância, usamos a noção de média e a de desvio padrão: (𝟓) σ = 1 (n − 1) (x − x ) , Com 𝐿 = ∑ 𝐿 𝑛 (𝟔) Por fim, para calcular a incerteza da medida da circunferência, temos: 𝜎 = 𝜕𝐶 𝜕𝐿 . 𝜎 + 𝜕𝐶 𝜕𝜃 . 𝜎 (𝟕) Onde a função C (L,θ) é representada em (3). Também vamos utilizar o teste z, na qual: 𝑧 = 𝐶 − 𝐶 𝜎 (𝟖) Onde 𝐶 é o comprimento exato da circunferência da terra nos polos. Procedimento experimental Diferentemente da época de Eratostenes, nos dias de hoje, podemos encontrar o zênite a qualquer momento do dia através de meios tecnológicos. Portanto, não precisamos esperar até o dia 21 de junho para realizar o experimento. A princípio, para realizar o experimento, esperei até o meio-dia de um dia ensolarado, fixei um pedaço de cano pvc em um solo plano, usei um esquadro para garantir que o objeto estava normal ao solo e utilizei uma fita métrica para medir a altura do cano e o tamanho da sua sombra. Usei o google maps para encontrar o local do experimento e obtive as coordenadas 21°59'12.2"S 42°15'28.4"W. para encontrar o zênite, utilizei o site timeanddate e obtive as coordenadas 19°38'00.0"N 49°53'00.0"W. Por fim usei as informações encontradas para calcular a distância L entre o zênite e o local do experimento por meio do google maps. Como a distância depende de um clique de mouse preciso, calculei a média e o desvio padrão de três distâncias diferentes para obter uma distância média e a sua incerteza. As medidas citadas acima se encontram na tabela a seguir: MEDIDA VALOR Altura do cano pvc (H) (67,5 ± 0,1) cm Sombra do cano pvc (X) (61,0 ± 0,2) cm Distância 1 (𝐿 ) 4.654,5 km Distância 2 (𝐿 ) 4.680,3 km Distância 3 (𝐿 ) 4.701,3 km Tratamento de dados Com os valores mencionados acima, podemos realizar os cálculos necessários. Primeiramente, vamos obter o ângulo θ utilizando a equação (2). θ = tan X H ∴ θ = tan 61,0 67,5 = 0,2339124335π rad Com a equação (4) obtêm-se a incerteza do ângulo θ. Lembrando que a incerteza será apenas em relação à altura do cano pvc. σ = ∂θ ∂H . σ ∴ σ = ∂ (tan X H ) ∂H . σ = = − 61,0 (61,0) + (67,5) . (0,1) = − 61,0 8277,25 . 0,01 = = 0,0000005431 = 0,0007369532𝜋 𝑟𝑎𝑑 Então, θ= (0,2339124335 ± 0,0007369532)𝜋 𝑟𝑎𝑑. Agora vamos obter a medida da distância L e a sua incerteza usando (5) e (6): 𝐿 = ∑ 𝐿 𝑛 = 4.654,5 + 4.680,3 + 4.701,3 3 = 4678,7 σ = 1 (n − 1) L − L = 1 (3 − 1) (4.678,7 − 4654,5) + (4.678,7 − 4.680,7) + (4.678,7 − 4.701,3) 1 2 [585,64 + 4 + 510,76] = 550,2 ≅ 23,5 𝑘𝑚 Portanto, L= 𝐿 ± σ = (4.678,7 ± 23,5) km Possuindo todos esses valores foi possível, finalmente, realizar o cálculo da circunferência da terra de maneira análoga a Eratóstenes. Utilizando a equação (3), obtemos: C = 2πL θ = 2π 4.678,7 0,2339124335π = 40.003,89 Também precisamos calcular a incerteza 𝜎 por meio da equação (7). 𝜎 = 𝜕𝐶 𝜕𝐿 𝜎 + 𝜕𝐶 𝜕𝜃 𝜎 = 2𝜋 𝜃 (23,5) + (2𝜋𝐿 ln 𝜃) (0,0007369532) = , (552,25) + 1.824.008.461,5416 (0,0000005431) = = 12.851 + 1.824.008.461,5416 (0,0000005431) = 117,65 𝑘𝑚 Assim, conseguimos obter a circunferência da terra e a sua incerteza. Por conta de o zênite estar localizado ao norte do local do experimento, a circunferência encontrada está de acordo com os polos do planeta. C= (40.003,89 ± 117,65) km Resultados e conclusão Após obter o valor de (40.003,89 ± 117,65) km para a circunferência da terra nos polos, podemos concluir que o resultado está bem próximo do valor exato, que é de 39.916 km. Note que o valor exato se encontra dento do intervalo de incerteza. Podemos calcular a acurácia da medida através do teste z: 𝑧 = 𝑍 = . , . , = , , ≅ 0,74705 Como z < 1, a medida pode ser considerada compatível. Vale ressaltar que o valor encontrado poderia estar mais próximo do exato se as medidas encontradas fossem ainda mais precisas, isto é, se não houvesse erros no instrumento de medida e nos objetos utilizados. Referências HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/HELIOANDROIDE. Eratóstenes e a Esfericidade da Terra - GuiaTECH. Disponível em: <https://guiatech.net/eratostenes-e-a- esfericidade-da-terra/>. Acesso em: 24 maio. 2022.VUOLO, José Henrique. Fundamentos da teoria de erros. 2. ed. , rev. e amp. São Paulo: Blucher, c1996. 249 p., il. Inclui bibliografia e índice. ISBN 9788521200567 (broch.) DOS, C. matemático, gramático, poeta, geógrafo, bibliotecário e astrónomo grego. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Erat%C3%B3stenes>. Acesso em: 24 maio. 2022. timeanddate.com. Disponível em: <https://www.timeanddate.com/>. Acesso em: 24 maio. 2022. GOOGLE MAPS. Google Maps. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/>. Acesso em: 24 maio. 2022.
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