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1 LEILYANNE BRANDÃO FEITOSA RealizaçãoApoio MÓDULO 9 Controle Social das Contas Públicas RESPONSABILIDADE FISCAL E SOCIOAMBIENTAL FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidente Luciana Dummar Diretor Administrativo-Financeiro André Avelino de Azevedo Gerente-Geral Marcos Tardin Gerente Editorial Lia Leite Gerente de Marketing e Design Andréa Araújo Gerente de Audiovisual Chico Marinho Gerente de Criação de Projetos Raymundo Netto Analistas de Projetos Aurelino Freitas e Fabrícia Góis Analista de Contas Narcez Bessa UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerente Educacional Deglaucy Jorge Coordenadora Pedagógica Jôsy Braga Cavalcante Coordenadora de Cursos e Secretária Escolar Marisa Ferreira Desenvolvedora Front-End Isabela Marques TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO CEARÁ (TCE) Presidente José Valdomiro Távora de Castro Júnior Vice-Presidente Edilberto Carlos Pontes Lima Corregedora Patrícia Lúcia Mendes Saboya Ouvidor Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior Conselheiros Luís Alexandre Albuquerque Figueiredo de Paula Pessoa Soraia Thomaz Dias Victor Rholden Botelho de Queiroz Conselheiros Substitutos Itacir Todero Paulo César de Souza David Santos Matos Fernando Antônio Costa Lima Uchôa Júnior Manassés Pedrosa Cavalcante Ministério Público junto ao TCE/CE Procurador-Geral de Contas Leilyanne Brandão Feitosa Procuradores de Contas Gleydson Antônio Pinheiro Alexandre Eduardo de Sousa Lemos José Aécio Vasconcelos Filho Júlio César Rola Saraiva Cláudia Patrícia Rodrigues Alves Cristino Diretor-presidente do Instituto Plácido Castelo Ernesto Saboia de Figueiredo Júnior Diretor Geral do Instituto Plácido Castelo Luis Eduardo de Menezes Lima TCE - Educação e Cidadania Concepção e Coordenador Geral Cliff Villar Coordenadora de Operações Vanessa Fugi Coordenadora de Projetos e Relacionamento Larissa Viegas Coordenador de Conteúdo Daniel Oiticica Coordenadora Editorial Lia Leite Revisora May Freitas Projeto Gráfico e Editora de Design Andréa Araújo Designer Gráfico Welton Travassos Ilustrador Carlus Campos Analista de Marketing Henri Dias Analista de Projetos Hérica Paula Morais Social Media Letícia Frota T249 TCE Educação e Cidadania / vários autores ; ilustrado por Carlus Campos. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2023. 372 p. : il. ; 1080px x 1920px. – (TCE Educação e Cidadania ; 10 v.) Inclui índice e bibliografia. ISBN: 978-65-5383-091-2 1. Administração pública. 2. Prestação de contas. 3. Orçamento público. I. Campos, Carlus. II. Título. III. Série. CDD 350 2023-2807 CDU 35 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Índice para catálogo sistemático: 1. Administração pública 350 2. Administração pública 35 5 SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................6 2. Responsabilidade Fiscal e Socioambiental ...9 3. Por que uma Lei de Responsabilidade Socioambiental? ................................................... 11 4. A Responsabilidade Socioambiental e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ............................................................ 15 5. Ética e Meio Ambiente ....................................... 21 6. O exercício da cidadania e o futuro do Planeta ...................................................................28 Perfil do autor ......................................................39 Referências Bibliográficas ...............................40 Glossário ................................................................ 44 6 1. INTRODUÇÃO Desde as últimas décadas do século XX, considerando o cenário econômico mundial (BM), com desequilíbrios fiscais, despesas superando as receitas arrecadadas, desvalorização de moeda, dentre outros fatores, o papel do Estado se reforçou para desempenhar ações de controle fiscal. Com isso, vários dispositivos legais foram introduzidos na Constituição Brasileira de 1988. O objetivo era evitar uma dotação orçamentária que não estivesse respaldada em uma estimativa de receita. Ou ainda que pudesse desequilibrar as contas governamentais. Isso criou, naquele momento, uma nova tarefa estatal, a de controlar os gastos públicos. Inserida como uma das principais ações do Estado, a responsabilidade fiscal passou a representar uma série de medidas e programas econômicos. Respaldados por normas de finanças públicas, visava a prevenção de riscos e a correção de desvios que poderiam vir a comprometer o equilíbrio das contas públicas em todas as esferas do governo. Em paralelo, na conjuntura mundial, instituições internacionais, tais como o Fundo Monetário 7 Internacional (FMI), o Banco Econômico Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), começaram a recomendar políticas de equilíbrio fiscal como contrapartida a possíveis acordos a serem firmados. Assim, a responsabilidade fiscal passou a se moldar como o conjunto de medidas necessárias para assegurar a confiabilidade do Brasil perante o mundo. Além disso, se constituiu como um mecanismo legal de exigir compromisso e atribuir honestidade aos administradores públicos. Estes gestores passaram a ser submetidos a prestar contas do quanto e como usam os recursos da sociedade, garantindo assim a boa condução da gestão das contas públicas. Ao mesmo tempo, a preocupação ambiental tem ocupado a agenda internacional com cada vez mais intensidade. Fatores como o aquecimento global, a necessidade de políticas públicas sustentáveis e o próprio envolvimento das empresas e da sociedade civil organizada em torno do tema levantam a necessidade da criação de uma Lei de Responsabilidade Socioambiental. Assim como um governante não pode gastar mais do que arrecada, não deveria poder planejar e promover políticas públicas que não contemplem o tema ambiental, com a devida importância que ele apresenta hoje, pensando também nas gerações futuras. 8 Neste módulo, você vai aprender um pouco mais sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), vai entender o porquê de uma Lei de Responsabilidade Socioambiental e as obrigações do Poder Público e da coletividade com o meio ambiente. Você também vai compreender os conceitos de meio ambiente e ética ambiental e sua importância. Que esta jornada seja enriquecedora rumo ao aprimoramento da gestão pública e à construção de uma relação sólida e confiável entre os gestores e a sociedade que eles servem. Boa leitura! 9 A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) surgiu no Brasil para atender à necessidade de manter as contas públicas equilibradas em todas as esferas de governo, para garantir acordos internacionais e baseando-se no interesse coletivo. Esta lei passou a nortear o controle dos gastos gerais da União, estados, Distrito Federal e municípios, incluindo aqueles resultantes dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Condicionou os gastos à capacidade de arrecadação de tributos desses entes políticos. Promoveu a transparência das condutas relacionadas à realização de despesas, introduzindo como obrigatórios os aspectos de planejamento, controle, responsabilidade e transparência. Além disso, determinou que houvesse a apresentação detalhada dos atos de gestão junto aos Tribunais de Contas. Na conjuntura atual, podemos perceber que os parâmetros estabelecidos pela LRF, derivados da noção de prudência na gestão de recursos públicos, permanecem sendo a principal âncora que garante a situação financeira regular dos entes federativos. 2. RESPONSABILIDADE FISCAL E SOCIOAMBIENTAL 10 Ela determina a apresentação de relatórios e demonstrativos contábeis que informam a aplicação fidedigna e adequada dos recursos financeiros e a perpetuação dos atos de gestão. Assim, garante uma administração contínua e apta para sucessores e exercícios subsequentes. Em síntese, pela norma, ficam estipulados oslimites para todos os gastos públicos, englobando aqueles com pessoal e dívida pública. A LRF também determina as metas fiscais para controle de receitas e despesas. Impede a criação de despesas continuadas, sem indicação de receitas ou sem redução das despesas existentes. E assegura o compromisso com os orçamentos prévios e futuros. 11 Antes de entrar no tema da responsabilidade socioambiental é importante ressaltar que os olhares da gestão pública à preservação do meio ambiente tornaram-se fundamentais e obrigatórios com a Constituição de 1988. Seu artigo 225 estabelece que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Ele impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. PARA ENTENDER MELHOR Obrigações do Poder Público com o meio ambiente A Constituição de 1988 determina que, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabe ao Poder Público, entre outras obrigações, preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas. Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético. 3. POR QUE UMA LEI DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL? 12 Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade. Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Proteger a fauna e a flora, proibindo as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Você já aprendeu que pela Lei de Responsabilidade Fiscal um governante não pode gastar mais do que lhe permite o montante dos impostos recolhidos. Isso melhorou significativamente a gestão pública. Se pensarmos no acúmulo de desastres socioambientais ocorridos no Brasil e em outras partes do mundo, fica fácil entender a necessidade da criação de uma Lei de Responsabilidade Socioambiental. Um grande passo neste sentido já foi dado pela iniciativa privada. A conceituação da Responsabilidade Socioambiental nas empresas é uma realidade. Está caracterizada como um compromisso em manter um comportamento ético, contributivo para o desenvolvimento econômico. A Responsabilidade Socioambiental nas empresas melhora, paralelamente, a qualidade de 13 vida de funcionários, famílias, comunidade local e, consequentemente, de toda a sociedade. Assim, na mesma linha das condutas exigidas da gestão privada, e para obter bons resultados ao longo do tempo, a exemplo da Lei de Responsabilidade Fiscal, a sociedade passou a cobrar a necessária discussão e criação de uma Lei de Responsabilidade Social e Ambiental no Brasil. Ela deveria conjugar normas já existentes sobre o tema. Mas sobre quais temas exatamente essa lei deveria tratar? Um conjunto de ações e metas, com o intuito de combater as desigualdades sociais, educar e responsabilizar as entidades públicas e privadas pela preservação do meio ambiente, regulamentar o controle social e estipular definições de crimes pelo descumprimento da norma. Ou seja, deveria prestigiar as questões ambientais que afetam diretamente a vida de cada cidadão. Seguindo as premissas básicas de planejamento, controle, educação, transparência e responsabilização, uma possível Lei de Responsabilidade Socioambiental regulamentaria a criação de programas e projetos sobre o tema. Deveria ter como núcleo a inclusão social e digital, alfabetização, assistencialismo social, coleta de lixo, reciclagem, coleta de esgotos e dejetos, lixo industrial, reflorestamento, desmatamento, utilização de agrotóxicos, poluição, entre outros. É importante você entender que uma política socioambiental coerente depende diretamente de recursos orçamentários da União para sua efetiva implementação e execução. 14 Essa política deve ser composta pela multiplicidade de programas e ações intersetoriais, pela coordenação entre os órgãos e os ministérios competentes, pela vinculação da sociedade e entes federativos e pelo constante fortalecimento das capacidades institucionais. E, muito importante, deveria contar com a sua participação como cidadão. PARA ENTENDER MELHOR A Constituição e a defesa do meio ambiente Como você já aprendeu, a defesa do meio ambiente, como tutela dos direitos sociais, é prevista na Constituição Federal. Seu artigo 170 assegura a todas as pessoas a proteção ao meio ambiente, combinada com a ordem econômica, “mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação”. Assim como a responsabilidade fiscal, já regulamentada em lei, a normatização da responsabilidade socioambiental é muito importante. Por quê? Basicamente, porque ela nortearia o desenvolvimento financeiro. Também amenizaria os impactos decorrentes dos processos produtivos e de consumo, atrelando a responsabilidade pública e privada, rumo à proteção do meio ambiente e à garantia dos interesses sociais e econômicos da nação. 15 4. A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL E OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Durante muitos anos, o sistema capitalista preconizou o progresso econômico sem assegurar um adequado uso dos recursos ambientais. Isso resultou, inevitavelmente, em uma série de desigualdades sociais e ambientais. Também enraizou uma má educação e condução jurídica sobre a matéria junto à sociedade. Como você aprendeu no capítulo anterior, a responsabilidade socioambiental surgiu carregando em si o compromisso de alavancar o desenvolvimento social e econômico do país, resguardando, em contrapartida, o direito a uma vida digna e a um meio ambiente equilibrado para os que desfrutam do momento atual e as gerações futuras. E é nesse processo de evolução, refutando o modelo antigo, que se observa o desenvolvimento sustentável, em que as necessidades presentes são supridas de forma eficaz, sem comprometer a capacidade das gerações futuras. Ocorre que, segundo o escritor Tobias Kronenberg, em seu livro - The curse of natural resources in the transition economies - há uma correlação negativa entre a abundância de recursos naturais e o crescimento econômico. 16 O autor retrata que os países em desenvolvimento são afetados diretamente por altos níveis de corrupção. Isso acarreta a falta de investimentos em educação e, inclusive, dada a insuficiência dos recursos naturais disponíveis, em políticas públicas capazes de promover melhores condições de vida para a população. Nesse sentido, apesar de o Brasil ser um país de extensa biodiversidade, ainda registra um considerável consumo de recursos naturais para realizar seu crescimento financeiro. Por essa razão, tem-se aumentado a pressão social sobre o Estado para que esse consumo desenfreado reduza seu impacto na natureza. Essa pressão também ocorre no sentido de que sejam implementadas ações de fiscalização e controle sobre o uso do meio ambiente, respeitando, no mínimo, a previsão constitucional quanto ao tema. Você aprendeu neste módulo que, segundo a Constituição Federal de 1988, o desenvolvimento econômico, fundado na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem de ocorrer em conjunto com a preservação ambiental (art. 170, VI). Ou seja, deve atender aos preceitos da justiça social, de modo a preservar a defesa do meio ambiente. Segundo Vladimir Passos de Freitas (2008, p. 241), os inovadores direitos socioambientais“rompem com os paradigmas da dogmática jurídica tradicional, contaminada pelo apego ao excessivo formalismo, pela falsa neutralidade política e científica e pela excessiva ênfase nos direitos individuais”. E mais, esses direitos “não se enquadram nos estreitos limites do dualismo público-privado, inserindo-se dentro de um espaço público não-estatal”. 17 Nesse contexto, o Estado exerce um papel fundamental na promoção, proteção e perpetuação dos direitos socioambientais. Eles só se efetivam mediante a ativa promoção de políticas públicas e a instauração de instrumentos de controle e normatização. A legislação ambiental brasileira, apesar de recente (remonta há pouco mais de 30 anos) é muito vasta. Isso inviabiliza a tomada de consciência para questões que compreendem a preservação. No entanto, não podemos negar o avanço de mecanismos para a mitigação dos impactos do empreendedorismo sobre o meio ambiente. Como exemplo, você deve aprender sobre o artigo 225 da Constituição Federal. Em seu parágrafo terceiro, ele determina: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (BRASIL, 2023, on-line). Em outras palavras, além da responsabilização penal e de multa administrativa, é possível também exigir a reparação do dano ambiental. Você vai aprender mais sobre o artigo 225 da Constituição nesta aula. O licenciamento ambiental é outro instrumento público de prevenção de gestão pública, criado pela Lei nº 6.938, de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Ele reúne um conjunto de normas para a preservação ambiental. Segundo Machado (2012, p.2), licenciamento pode ser entendido como “o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia e acompanha a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras dos recursos naturais, consideradas 18 efetiva ou potencialmente poluidoras. É obrigação do empreendedor buscar o licenciamento junto ao órgão competente, desde as etapas iniciais do seu planejamento e instalação até a sua efetiva operação”. Outra referência é a obrigatoriedade do respeito ao meio ambiente por ocasião das contratações públicas. A Lei Nacional de Licitações e Contratos nº 8.666/93, utiliza a expressão “promoção do desenvolvimento nacional sustentável”. Sobre licitações sustentáveis, Furtado e Furtado (2012, p. 70) asseguram: “a alteração inseriu de forma sutil no processo licitatório o princípio constitucional da promoção do desenvolvimento sustentável. Sutil, uma vez que, no primeiro momento, o gestor, na sua atividade diária não percebeu a grande mudança e quebra de paradigma que a expressão ‘desenvolvimento sustentável’ trouxe na elaboração dos processos licitatórios”. Assim, a elaboração de critérios rigorosos de contratação com empresas fornecedoras comprometidas socioambientalmente, que prestam serviços e fornecem produtos sustentáveis, demonstra que o Estado se torna guia de orientação para uma sociedade de consumo consciente. Com essa linha de raciocínio, sob o prisma político, observa-se que o desenvolvimento sustentável é um conjunto de atos de gestão que objetivam reunir e usufruir de interesses econômico-sociais atuais, sem comprometer propósitos futuros. Daí a necessidade de adoção de políticas públicas que elaborem estudos dos impactos sobre as contratações, avaliem seus resultados e elaborem meios que devam reduzir e evitar os danos ambientais. 19 A responsabilidade socioambiental, principalmente no que se refere ao enfoque público, prevê a adoção de ações positivas com o intuito de se comprometer com a sustentabilidade. Ela deve ser seguida à risca pelos gestores públicos, para o bem de todos os cidadãos, como também garantir uma herança ambiental favorável às gerações futuras. Já em relação às entidades privadas, a responsabilidade socioambiental não trata de adotar o assistencialismo como medida de compensação pelo uso intenso do meio ambiente. Ela deve tratar do compromisso contínuo das empresas, para aliar o crescimento econômico próprio com a garantia da qualidade de vida das pessoas. Então, sob a perspectiva empresarial, a responsabilidade social, de acordo com Dias (2007, p. 154 apud Barsano, 2017, p.118), consiste em: “estratégias pensadas para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta, além do lucro e da satisfação de seus clientes, o bem-estar da sociedade. A empresa está inserida nela e seus negócios dependerão de seu desenvolvimento. Portanto, esse envolvimento deverá ser duradouro. É um comprometimento”. Diante dessa junção de esforços, tendo em vista que a responsabilidade socioambiental deve ser meta geral de atuação de entidades públicas e privadas, o Estado também age prevendo penalidades àqueles que causam prejuízo ao meio ambiente. 20 Estado, empresas e sociedade almejam a consolidação de objetivos presentes e futuros para se obter o desenvolvimento sustentável. O papel do Estado, portanto, deve se caracterizar como formulador, executor e regulador de políticas públicas socioambientais, que visam o bem-estar de toda a sociedade. Por isso, como você aprendeu anteriormente, torna- se importante a criação de uma Lei de Responsabilidade socioambiental que aborde, por exemplo, a definição de crimes de responsabilidade, ao mesmo tempo em que defina a criação de metas, bem como a aplicação de rigorosas sanções legais, em caso de descumprimentos. Nesta lei também devem ser tratados temas específicos da responsabilidade pública e privada pela preservação do meio ambiente e regulamentação do acesso social. 21 5. ÉTICA E MEIO AMBIENTE Como você viu nos capítulos anteriores, a responsabilidade socioambiental ultrapassa uma relação de direitos e obrigações. Ela se caracteriza como um comprometimento sensato com o futuro, algo que não se constituiu como objeto na realidade, mas que estipula e direciona a ação humana. Separadamente, a concepção de meio ambiente, sob uma visão axiológica (noção de escolha do ser humano pelos valores morais, éticos, estéticos e espirituais), resulta na compreensão da natureza como um nicho vital que conduz a consciência do homem a ser protetora e vigilante (NALINI, 2015). A ética, analisada de forma isolada, é o estudo das faculdades referentes à conduta humana. No plano ambiental, ela deve ser entendida como conjunto de princípios morais que orientam o comportamento humano. Guarda estreita relação com a responsabilidade socioambiental, sob a qual as decisões de gestão dos recursos naturais devem visar ao consumo presente, sem prejuízo para as gerações futuras. De fato, a ética desempenha um papel de grande relevância na proteção do meio ambiente. Diante da adoção de decisões que possam afetá-lo, deve-se considerar as eventuais consequências e impactos para as gerações futuras e para outras formas de vida. Você vai entender este conceito com um exemplo prático. Imagine a decisão de se construir uma rodovia. Antes de realizar qualquer execução estrutural, é necessário um estudo técnico prévio considerando os 22 impactos que poderão ser causados na paisagem, na fauna e na flora local, assim como, eventualmente, na qualidade do ar e da água. Sob a mesma linha, Garcia (2007, p. 10) descreve a ética ambiental como uma responsabilidade pelo futuro. “Incorporando a inquietação pelo futuro, a ética está presente nos horizontes espaciais onde o homem se encontra, desdobrada numa ética racional ou dos fundamentos e numa ética interdisciplinar, argumentativa (ética do debate). Ambas confluem nesta modelação da justiça, tornando-se cada um responsável, na sua existência, pela ‘humanidade’ do homem’”. A ética ambiental, por sua vez, que versa sobre ocomportamento correto do homem com o meio ambiente, advém da preocupação com o futuro do planeta, ante a necessidade de convivência equilibrada entre os ecossistemas e as necessidades humanas. 23 OUTRAS DEFINIÇÕES Ética ambiental Aranha e Martins (2013), destacam: “A ética ambiental trata das relações do ser humano com a natureza, a fim de garantir sua sustentabilidade. Por sua vez, também se ocupa com as consequências nefastas dessa relação, como a poluição industrial e agrícola, o esgotamento dos recursos naturais, agressões que provocam o desequilíbrio do ecossistema e colocam em risco o destino do planeta. Também entra na discussão sobre ecologia e má distribuição de renda, que obriga grande parcela da população mundial a viver em estado de fome e de miséria”. Nalini (2015) afirma que “a ética ambiental é expressão que tem sido utilizada para alertar sobre a urgência da ação humana coletiva para o interesse comum, para a interrupção da degradação predatória, para que seja possível a manutenção da vida na terra.” Assim, tendo em vista que o avanço econômico ameaça a vida no planeta, torna-se necessária a formação de uma consciência de como agir para mudar o comportamento incorreto do homem e garantir a sobrevivência harmoniosa das necessidades econômicas com os ecossistemas. Neste sentido, é relevante a adoção de uma educação ambiental, formada por princípios éticos, de modo a transformar a mudança de perspectiva que considera ar, 24 animais, florestas, praias, rios, lagos, mares, subsolo etc. em algo com o qual não se tem compromisso, dando a estes elementos reconhecimento de valor. Pelizzoli (2013, p.31) ressalta que é preciso abandonar a visão tradicional sobre a preservação ambiental. Ela deve ser vista como instrumento que conduz à sustentabilidade sob uma perspectiva ética. Desse modo, destaca o referido autor: “A grande dificuldade nessa temática diz respeito às visões contaminadas que separam demais o ambiente e a política, interno e externo, natureza e cultura, saber e sensibilidade”. Milaré (2011) trata da relação da ética com o meio ambiente sob três óticas. Quais são elas? A ótica social, que se refere ao meio ambiente como bem da coletividade. A ótica política, que aborda a relação entre o gestor público e a comunidade com o meio ambiente. E a ótica biocêntrica, uma ética que adota os valores do mundo natural, uma revisão dos valores sociais, culturais e jurídicos (MILARÉ, 2011). É com Freitas (2014) que a ética passa a ser vista sob uma perspectiva de sustentabilidade, devendo ser elevada à posição de valor constitucional, como proteção do direito ao futuro. Daí devem sair as concepções de trabalho, produção e consumo, gerando bem-estar e atendendo às necessidades presentes e futuras. Portanto, o autor pondera a ética sob o enfoque da sustentabilidade como sendo: “o princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente. Tem 25 o intuito de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente e no futuro, o direito ao bem-estar” (FREITAS, 2014, p. 43). No direito brasileiro, o meio ambiente é definido no artigo 3 da Lei nº 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Assim, o meio ambiente pode ser entendido como o espaço onde se conservam todas as formas de vida e a sua interação com diferentes fatores. Ele não é apenas o lugar influenciado pelo homem, como as florestas, mas aquele criado para a sua sobrevivência, alterado de alguma maneira, como as cidades, por exemplo. O meio ambiente, portanto, abrange tanto a natureza física quanto a artificial e a cultural. Na primeira, tem-se a água, a fauna, a flora, o solo. Na segunda, as edificações, as construções, os equipamentos e as alterações feitas pelo homem. E na terceira, tem-se os bens históricos, culturais, artísticos e paisagísticos. 26 EM RESUMO Os diferentes tipos de meio ambiente Meio ambiente cultural: formado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, espeleológico, cultural, paisagístico e turístico. Meio ambiente natural ou físico: formado pelo solo, água, ar, flora e fauna. Meio ambiente artificial: formado pelo conjunto de edificações (espaço urbano) e equipamentos públicos (áreas verdes, praças, ruas, avenidas etc.). Meio ambiente do trabalho: integra a proteção do homem no local do seu trabalho, a prevenção de acidentes, as condições e normas de segurança, saúde, higiene e salubridade do trabalho (IBRAHIN, 2014, p. 8). Para você entender ainda mais a definição sobre meio ambiente, veja o que diz o estudo de Milaré (2011, p.154): “O meio ambiente é, sobretudo, uma realidade dinâmica e mutante, holística e sistêmica. Ele é objeto de ciências e técnicas aplicadas, realidade interdisciplinar e mesmo transdisciplinar que desafia abertamente qualquer competência exclusiva, seja científica de investigação, seja normativa de usos e costumes. O meio ambiente é um fato, múltiplo e constantemente renovado, de modo que nunca será esgotado em suas diferentes análises”. Sobre a expressão meio ambiente, acrescenta Milaré (2005, apud Macieywski, 2017, on-line), ela pode ser entendida tecnicamente ou juridicamente. 27 Tecnicamente, o conceito de meio ambiente se constitui “por seres bióticos e fatores abióticos e suas relações e interações”. Juridicamente, o conceito de meio ambiente pode ser abordado de forma estrita ou ampla. A visão estrita diz respeito apenas àquilo considerado recurso natural, sendo expressão do patrimônio natural. Refere-se à relação que os seres vivos têm com ele e entre si. A visão ampla engloba não apenas aquilo tido como natural, mas também o ambiente transformado pela ação do homem e os bens produzidos pela sua racionalidade (os bens culturais). Apesar dos diversos conceitos, classificações e abordagens que envolvem a responsabilidade, a ética e o meio ambiente, é importante que você saiba que a legislação, a doutrina e a jurisprudência seguem progredindo, utilizando-se desses pilares como alicerce do estudo presente e futuro da proteção ambiental. 28 6. O EXERCÍCIO DA CIDADANIA E O FUTURO DO PLANETA Antes de você começar a estudar este tema, é importante entender que a palavra cidadania é originária do latim civitas, cidade. Este termo, segundo Cícero (Somn. Scip. c3), na época da República Romana, era definido como concilium coetusque hominum jure sociati, ou seja, um conselho, o grupo social dos cives, ou cidadãos, unidos por lei, representando uma comunidade política, soberana e independente. Ao longo da história, o conceito de cidadania se molda dentro das estruturas próprias de cada sociedade. Nesse contexto, cidadania pode ser definida como o agrupamento de direitos e deveres que, sob o enfoque político, permitem a um indivíduo participar e intervir, de modo direto ou indireto, na formação do governo e na administração do Estado. 29 A Constituição Federal de 1988 prestigiou e visou resguardar conquistas como a liberdade, a dignidade e a igualdade de todos indistintamente, conferindo ao cidadão a previsão legal de direitos e garantias fundamentais (individuais, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais), possibilitando seu efetivo exercício. Ela garante também meios processuais eficientes contra a violação do exercício desses direitos e por parte do Poder Público. A Constituição de 88, também chamada de Constituição Cidadã, além de outros avanços, incluiu mecanismos de participação no processo decisório federal e local, como o referendo, o plebiscito e a iniciativa popular,ampliando e efetivando o direito de votar e ser votado. 30 DEFINIÇÕES Referendo, Plebiscito e Iniciativa Popular Referendo é um instrumento da democracia por meio do qual os cidadãos eleitores são chamados a pronunciar-se por voto direto e secreto sobre determinados assuntos de relevante interesse à nação. Ele pode ser convocado mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos membros que compõem qualquer uma das Casas do Congresso Nacional. O Plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido. A diferença entre Plebiscito e Referendo é que o plebiscito é convocado antes da criação da norma (ato legislativo ou administrativo), e os eleitores, por meio do voto, aprovam ou não a questão que lhe for submetida. Já o referendo é convocado após a edição da norma, devendo o povo ratificá- la ou não. A Iniciativa Popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. 31 A Constituição também estabeleceu sistemas de gestão democrática em vários campos da Administração Pública. Vamos aprender alguns deles? O planejamento participativo é uma forma de gestão democrática. Ele ocorre através da cooperação das associações representativas no planejamento municipal, como preceito a ser observado pelos municípios. A gestão democrática do ensino público na área da educação é outro exemplo. A gestão administrativa da Seguridade Social, com a participação quadripartite de governos, trabalhadores, empresários e aposentados também é uma forma de gestão democrática. Além destes, são exemplos de gestão democrática a proteção dos direitos da família, da criança, do adolescente, do jovem e dos idosos e a garantia de preservação do meio ambiente. Nesse contexto, a cidadania, abrangendo o direito de participação efetiva no destino de um Estado, impulsiona o indivíduo, eu, você, todos nós a cobrarmos dos representantes do povo, eleitos para cargos políticos, que cumpram as funções a eles atribuídas. E você, como cidadão, como pode exercer esse direito? Através da da ação popular, uma garantia individual, prevista no artigo 5, inciso LXXIII da Constituição de 1988. Este artigo determina a tutela de interesses de toda a sociedade, os quais não devem ser superados por interesse particular. 32 PARA ENTENDER MELHOR Ação Popular A ação popular é uma ação constitucional posta à disposição de qualquer cidadão que visa invalidar ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (BRASIL, 2023, on-line). Já deu para você entender que para o exercício da cidadania, o indivíduo deve conhecer os direitos dos quais é titular. Você deve saber também quais são as repercussões da sociedade na qual está inserido, ter consciência de seus deveres e entender que atua, com sua conduta ativa ou passiva, também sobre a esfera jurídica de outras pessoas, e não apenas sobre a sua própria. Além disso, qualquer cidadão pode influenciar nas ações do Estado. Como você aprendeu neste capítulo, o meio ambiente e os bens ambientais passaram a integrar a categoria jurídica da res comune omnium, o que significa que são considerados como interesses comuns. O meio ambiente foi então inserido como direito fundamental (direito difuso, de natureza indivisível), o que viabilizou maior abrangência e efetividade na sua proteção. 33 PARA ENTENDER MELHOR O que são os direitos difusos? São aqueles que possuem natureza indivisível e dizem respeito a uma massa indeterminada de pessoas, que não podem ser individualizadas. Por exemplo, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito tipicamente difuso e indivisível, porque afeta um número incalculável de pessoas, que não estão ligadas entre si por qualquer relação jurídica pré- estabelecida. Assim, fica claro que o modelo de Estado se preocupa com o socioambiental, alavancando uma nova tarefa, a de atuar considerando a relevância da preservação de um meio ambiente saudável para o bem-estar de todos. Através das ações cidadãs, instaurou-se a consciência de que a preservação dos recursos naturais é a forma mais garantida de se possibilitar a evolução da humanidade. O próprio texto constitucional determina que o meio ambiente deve ser preservado para os atuais e os futuros habitantes do planeta. 34 EM RESUMO A Constituição do Brasil e os principais marcos sobre o Direito Ambiental Além do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, em que se consolidam os principais marcos sobre o Direito Ambiental brasileiro, temos no país um relevante sistema de proteção ao meio ambiente. Vamos conhecer alguns deles? 1. A proteção ao meio ambiente como pré-requisito ao atendimento dos objetivos fundamentais da República (art. 3º, inc. I a IV); 2. O exercício da cidadania ambiental, inclusive pelos meios de atuação direta previstos na Constituição Federal (art. 1º, inc. II e parágrafo único); 3. O acesso à justiça para a tutela coletiva do meio ambiente, com destaque para os arts. 5, inc. LXXIII (ação popular ambiental), e 129, inc. III (legitimidade do Ministério Público para a ação civil pública e para o inquérito civil público); 4. O meio ambiente e a questão federal, especialmente em face das regras de competência comum fixadas no art. 23, incisos VI, VII, VIII e IX, da Constituição em vigor e de competência legislativa concorrente do art. 24, VI, VII e VIII, além da competência suplementar do município (art. 30, inc. II); 35 5. A defesa do meio ambiente como princípio geral da atividade econômica (art. 170, inc. VI) e as suas correlações com os demais princípios que conformam a ordem econômica; 6. A proteção do meio ambiente no âmbito das políticas urbanas (arts. 182 e 183), agrícola, fundiária e da reforma agrária (arts. 184 a 191), cultural (arts. 215 e 216), de ciência e tecnologia (art. 218), e indígena (art. 231); 7. A natureza do meio ambiente como bem de uso comum do povo (art. 225, caput); 8. O significado do dever, atribuído ao poder público e à coletividade, de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225, caput). Por meio desses dispositivos, você entende que a utilização das propriedades ambientais não pode comprometer ou interferir na possibilidade de reprodução e regeneração do meio. Além disso, a Constituição determina um rol de deveres de cumprimentos necessários para assegurar a efetividade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Tais deveres, a princípio, são de incumbência do Poder Público, que tem a responsabilidade de desempenhar a governança ambiental e implementar as políticas públicas ambientais. Mas, como você já aprendeu, para garantir um direito de máxima difusibilidade, ou seja, que diz respeito a uma massa indeterminada de pessoas, essas obrigações devem ser realizadas por toda a sociedade. 36 É muito importante entender que sem o devido controle, sem o cuidado adequado com o meio ambiente, não haverá autodeterminação dos povos, respeito e dignidade. Não haverá vida futura. Assim, para enfrentar os novos desafios ao equilibrar a evolução econômica, a necessidade de geração de renda, o desenvolvimento da ciência e a preservação do meio ambiente, o homem contemporâneo cria formas legais, especialmente calcadas nos direitos difusos e coletivos, na função social da terra, por meio de entendimentos suprapartidários, com o objetivo de tutelar legalmente os direitos de todos e do planeta em que vivemos. Para regulamentar o artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, surgiu a Lei nº 9985/2000.Ela abrangeu o que antes eram várias leis e regras relativas à preservação e conservação do meio ambiente que estavam espalhadas. Juntou tudo em uma só resolução, possibilitando às unidades governamentais federal, estadual e municipal e à iniciativa privada a criação, implantação e gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Esta lei definiu a preservação do meio ambiente como um conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visam à proteção, em longo prazo, das espécies, habitats e ecossistemas, e à manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais. Além da legislação vigente, decorrente de ações e movimentos cidadãos no nosso país, temos como influência os princípios internacionais que demonstram esse novo paradigma social, histórico, econômico e humano, resultantes de tratados, protocolos e leis internacionais, supraconstitucionais, tornando viável uma ação por todo o mundo. 37 Mais recentemente, foi apresentado no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 10.453, de 2018, que trata das diretrizes e instrumentos para o planejamento de ações de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios O objetivo é garantir a proteção do meio ambiente e o combate à poluição nas atividades de entidades públicas. Este projeto está em trâmite na Câmara Legislativa (Casa Revisora), sob regime de prioridade, sujeito à apreciação das Comissões. Em sua justificação, o mencionado projeto estabelece que tem como objetivo “institucionalizar na União a inclusão da vertente socioambiental no planejamento dos órgãos e entidades federais, além de estender essa prática aos Estados e Municípios, responsáveis por grande parte dos serviços prestados aos cidadãos e ainda carentes do desenvolvimento de critérios de sustentabilidade em suas atividades” (BRASIL, 2023, on-line). Para tanto, inicia assinalando, em seu texto, conceitos empregados para “ações de racionalização”, “ações de responsabilidade socioambiental”, “ações de sustentabilidade”, “critérios de sustentabilidade” e “logística sustentável”. O Projeto de Lei define ações de responsabilidade ambiental como “práticas institucionais que tenham como objetivo a promoção de comportamentos éticos e que contribuam para o desenvolvimento ambiental, social e econômico, melhorando, simultaneamente, o meio ambiente e a qualidade de vida dos servidores e empregados, da comunidade local e da sociedade como um todo (BRASIL, 2023, on-line)”. 38 Em seguida, concede diretrizes para o planejamento das ações de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental no Poder Público, como menor impacto sobre os recursos naturais; preferência por materiais, tecnologias e matérias-primas de origem local; maior vida útil e menor custo de manutenção de bens; e uso de recursos naturais com origem ambientalmente regular. Além disso, estabelece como instrumentos de implementação o Sistema Nacional de Informações sobre Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental no Poder Público (Ressoa). Esse sistema é mantido conjuntamente por todos os entes federativos, e os Planos de Gestão de Logística Sustentável, cujos conteúdos deverão ser estabelecidos pelos municípios com até 20.000 habitantes, podendo ser incorporados a outros instrumentos de planejamento de caráter mais amplo. Ao estabelecer diretrizes de logística e gestão sustentável, o Projeto de Lei nº 10.453, de 2018, não cria obrigações aos entes federados nem interfere em sua organização administrativa. O que ele faz é dar segurança jurídica e estabilidade institucional às normas ambientais de sustentabilidade vigentes e viabilizar o cumprimento das obrigações constitucionais de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. 39 PERFIL DA AUTORA Leilyanne Brandão Feitosa é Procuradora de Contas do Ministério Público especial junto ao TCE Ceará, Mestre em Direito Público pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Processo Administrativo (UFC) e em Filosofia Moderna do Direito (UECE/ESPM). Graduada em Direito pela UFC e em Contabilidade Pública pela UECE. Nomeada Procuradora-Geral do Ministério Público junto ao TCE Ceará pelos Conselheiros do Tribunal para um mandato de dois anos (2022/2024). 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, M. L. de A., MARTINS, M.H.P.. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2013. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Gestão ambiental. São Paulo: Editora Érica, 2017. E-book. BOFF, Leonardo. 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Desenvolvimento sustentável: conceito sistêmico que se traduz num modelo de desenvolvimento global capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Ecossistema: nome dado a um conjunto de comunidades que vivem em um determinado local e interagem entre si e com o meio ambiente. Ética: parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. No plano ambiental, ela deve ser entendida como conjunto de princípios morais que orientam o comportamento humano. Fatores abióticos: todos os fatores físicos, químicos e geológicos do ambiente, como água, luz, solo, umidade, temperatura, nutrientes etc. Responsabilidade socioambiental: responsabilidade que uma empresa, ou organização tem com a sociedade e com o meio ambiente além das obrigações legais e econômicas. Seres bióticos: está relacionado aos seres vivos das comunidades como plantas, animais e bactérias que, por sua vez, desempenham papéis diferentes no ecossistema. Tutela: proteção exercida em relação a alguém ou a algo mais frágil. Realização Apoio
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