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AULA 2 DE VOLTA PARA O FUTURO: EXPERIÊNCIAS INOVADORAS EM EDUCAÇÃO AO REDOR DO MUNDO Profª Elayne Thays de Lara Sena 2 CONVERSA INICIAL O cooperativismo é um assunto que permeia o meio social atualmente, visando agrupar pessoas que tenham interesses mútuos, sejam eles em âmbitos sociais, econômicos ou educacionais de caráter democrático, que presem pelos valores éticos morais dos sujeitos envolvidos no processo. Em um breve histórico, pode-se dizer que o cooperativismo se originou na Inglaterra em meados do século XVIII. Passa a existir numa ideia organizacional de vencer as dificuldades econômicas pelo surgimento do capitalismo; historicamente, se sabe que o cenário era de dificuldades para os trabalhadores, que se deparavam com uma jornada de trabalho excessiva e com baixa remuneração. Neste sentido, trabalhadores se associam na tentativa de buscar um meio para que, através de seus interesses comuns, pudessem transpor essa dificuldade vigente. Nasce então o cooperativismo, com um grupo determinado em formalizar uma ideia de beneficiamento mútuo, devidamente organizado, regido por normas e uma filosofia de atuação, que resultassem em beneficiamento coletivo e resultados compartilhados. Em 1895, foi fundada a Aliança Cooperativa Internacional (AIC), que representaria a classe, agregando 272 federações e confederações de 94 países, em sua entidade qualificada como entidade não-governamental. No Brasil, a consciência cooperativa aflorou no final do século XIX, no mesmo intuito de luta por melhorias nas condições trabalhistas em variados setores, estendendo-se ao meio rural, que contava com mão de obra imigrante que tinha uma noção da prática cooperativa de trabalho, exercendo assim influência cultural no Brasil. Apesar das dificuldades enfrentadas, por falta de conhecimento aprofundado no assunto, o cooperativismo ganha força e cresce, organizando-se quando da criação da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que surge para dar representatividade ao que era apenas uma ideia, e que assim passa a ser um sistema organizado de trabalho, pautado na ideia de equanimidade filosófica quanto a interesses políticos e religiosos. O Estado, por sua vez, tenta interferências na nova concepção, a fim de lhe cercear a autonomia de ação, tentativa que é invalidada com a Constituição de 1988, quando o cooperativismo assume de vez sua independência para gerir e administrar suas práticas. 3 Há de se destacar que um marco importante para o Brasil na questão do cooperativismo foi a eleição, à presidência da AIC, de Roberto Rodrigues, primeiro presidente não europeu a assumir o cargo. Na busca por organizar os cooperados, dando assistência formativa e social à classe, surge, em 1998, a Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), regulamentando e proporcionando o crescimento da prática no Brasil. Segundo informação do Sebrae (2017) podemos elencar alguns dos princípios pelos quais esta ação cooperativa é norteada: Livre e aberta adesão dos sócios: As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas interessadas em utilizar seus serviços, e dispostas a aceitar as responsabilidades da sociedade, sem discriminação social, racial, política, religiosa e sexual (de gênero). Gestão e controle democrático dos sócios: As cooperativas são organizações democráticas controladas por seus associados, que participam ativamente na fixação de suas políticas e nas tomadas de decisões. Homens e mulheres, quando assumem como representantes eleitos, respondem pela associação. Nas cooperativas de primeiro grau, os sócios têm direitos iguais de voto (um sócio, um voto). Cooperativas de outros graus são também organizadas de forma democrática. Participação econômica do sócio: Os associados contribuem equitativamente e controlam democraticamente o capital de sua cooperativa. Ao menos parte desse capital é de propriedade comum da cooperativa. Os associados geralmente recebem benefícios limitados pelo capital subscrito, quando houver, como condição de associação. Os sócios destinam as sobras para algumas das seguintes finalidades: desenvolver sua cooperativa, possibilitando a formação de reservas, se ao menos parte delas forem indivisíveis; beneficiar os associados na proporção de suas transações com a cooperativa; sustentar outras atividades aprovadas pela sociedade. Autonomia e independência: As cooperativas são autônomas, como organizações de autoajuda controladas por seus membros. Nas relações com outras organizações, inclusive governos, ou quando obtêm capital de fontes externas, o fazem de modo a garantir o controle democrático pelos seus associados, com autonomia da cooperativa. 4 Educação, treinamento e informação: As cooperativas fornecem educação e treinamento aos seus sócios, aos representantes eleitos e aos administradores e empregados, para que eles possam contribuir efetivamente ao desenvolvimento de sua cooperativa. Eles informam ao público em geral, particularmente aos jovens e líderes de opinião, a natureza e os benefícios da cooperação. Parceria entre as cooperativas: As cooperativas servem seus associados mais efetivamente e fortalecem o movimento cooperativista, trabalhando juntas por meio de estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais. Interesse pela comunidade: As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentável de suas comunidades por meio de políticas aprovadas por seus associados. Dessa forma, as cooperativas caminham seguindo regras e diretrizes que norteiam todo o trabalho visionário em franca expansão. TEMA 1 – EDUCAÇÃO COOPERATIVA Como apontamos anteriormente, a cooperação é um assunto que está presente nos meios sociais atuais. Tentar relacionar este tema com a educação pode parecer estranho à primeira vista, mas ao compreender seu significado, fica evidente a importância da introdução de suas práticas nos processos educacionais. Antes, porém, de aprofundar os questionamentos acerca do tema, vale resgatar o pano de fundo remoto da trajetória da educação. Rebuscando os primórdios a respeito do “educar”, percebe-se um cenário que envolvia um detentor absoluto do saber, que subjugava seus aprendizes a simples ouvintes, incapazes de manifestar opiniões ou anseios durante a aula. O tradicionalismo que reconhecia o suposto/imposto “respeito” pelo mestre acaba sendo um ambiente frio e hostil, pois a priori o professor dominava a sabedoria, subindo num pedestal de poder e supremacia. Talvez tal discurso pareça exagero, mas para os amantes da educação e os conhecedores da trajetória que ela vem cursando na humanidade, este panorama é claro. Freire, em sua luta por uma educação libertadora, vislumbra em seus escritos uma educação remodelada, com um novo pano de fundo; ela passa por metamorfoses progressistas rumo à libertação do ser. O autor salienta o fato de o homem, desde os primórdios, viver acomodado à situação de opressão, sem sequer ter condições de sair da inatividade e passar pela transformação, na luta 5 pela sua libertação. A acomodação causa inércia, que por sua vez petrifica os ideais humanos de autoconhecimento. Concomitantemente a essa ideia, vale lembrar de Platão que, no Mito da caverna, ilustra essa situação tratando da passividade dos seres humanos e do possível medo do desconhecido. Com isso, percebe-se um panorama de alienação e consciência opressora. Nos dias atuais, este panorama só muda de roupagem; a opressão ainda existe, mas de forma mascarada, em um modo de vida baseado em modelos pré- estabelecidos. A esse respeito, Zatti (2007, p. 51) afirma que hoje se vive uma vida massificada e instrumental, pautada em padrões inquestionados: A massificação é uma forma de heteronomia, pois fazcom que grandes multidões adotem valores e padrões que não se originam de si ou de sua cultura. Além desta tendência nociva de destruir a liberdade pública, o modelo vida instrumental solapa os focos locais de autogoverno, gera relações desiguais de poder que negam a igualdade. Neste sentido, a “razão humana que potencialmente é libertadora, promotora de autonomia, acaba sendo fonte de hetoronomia” (Zatti, 2007, p. 51). Enganado, o sujeito acredita que é livre para decidir, para se posicionar e para obter seu lugar na sociedade como ser social, mas por vezes não percebe que lhe falta se desvencilhar das amarras opressoras das convenções pré-estabelecidas. Freire (1987, p. 17) afirma: “querem ser, mas temem ser”. Nesta perspectiva, a libertação ocorre quando a consciência de julgo é instaurada e o ser sai do patamar de inferioridade a ele estabelecido, para compreender sua importância no meio social em que está inserido, reconhecendo-se como “homem” construtor de sua história e participante dela. 1.1 A educação baseada na prática cooperativa Numa perspectiva visionária, introduzir a prática cooperativa na educação é um intento contestador que visa quebrar paradigmas educacionais tradicionalistas, que ainda são os fantasmas do presente. Retomando o conceito de cooperação, Frantz (2001, p. 242) afirma: a cooperação como um processo social, embasado em relações associativas, na interação humana, pela qual um grupo de pessoas busca encontrar respostas e soluções para seus problemas comuns, realizar objetivos comuns, busca produzir resultados, através de empreendimentos coletivos com interesses comuns. 6 Neste aspecto, percebe-se que essa prática tenciona agrupar pessoas de forma que seus questionamentos, decisões e ações possam ser geridos em grupo de uma fora plurilateral. Se valer desse processo na educação é no mínimo desafiador, quando vislumbramos uma atmosfera educacional em que os processos educacionais se utilizam das práticas cooperativas para chegar ao seu objetivo-alvo, que é o processo ensino aprendizagem. Entendendo essa ação como parte de um processo social ambíguo, podem-se produzir resultados surpreendentes, uma vez que a educação tende a proporcionar mudanças e desenvolvimento em seus educandos, e a prática cooperativa busca dinamizar mutuamente a ação de busca por resultados para problemas comuns. Frantz (2001, p. 243) afirma que “no processo da educação, podem-se identificar práticas cooperativas e, no processo da cooperação, podem-se identificar práticas educativas”. Assim sendo, é fácil perceber que a introdução da prática cooperativa no ambiente escolar pode trazer benefícios significativos, uma vez que as prioridades da cooperação estão baseadas na ação dialógica, na troca de informação, na comunicação, na partilha de interesses e objetivos comuns. A partilha de interesses converge aos fins objetivados, resultando numa troca salutar de saberes. Assim, no diálogo da cooperação, cumpre-se a educação, fundada no processo de construção e reconstrução dos diferentes saberes daqueles que participam da organização e das práticas cooperativas. Há, portanto, uma estreita relação entre esses dois fenômenos, entre essas duas práticas sociais: na prática cooperativa, para além de seus propósitos e interesses específicos, produz-se conhecimento, educação e aprendizagem; na prática educativa como processo complexo de relações humanas, encontra-se cooperação. (Frantz, p. 244) A proposta da inserção da prática cooperativa no ambiente escolar é antes de tudo garantir meios de os educandos compreenderem os processos envolvidos nos relacionamentos humanos. Socializar os envolvidos é um grande desafio, por conta do universo individualista em que a sociedade está inserida e pela oportunidade de, através dos processos sociais e culturais, permitir aos educandos a possibilidade de reflexão e reconhecimento dos conflitos sociais antagônicos da atualidade. A ação pedagógica tem então a possibilidade de contribuir para a transformação social do indivíduo educando, oferecendo-lhe a possibilidade de interagir com os demais numa troca de saberes, contextualizando sua ação real, politizando os educandos e elevando-os ao nível de cidadãos sociais reflexivos. Sendo assim, a possibilidade de engajamento no aprendizado vem a despertar maior interesse no educando, uma vez que ele é parte 7 fundamental do processo, devendo agir como ser social consciente, capaz de se valer de sua capacidade cooperativa de desenvolvimento e da produção de seu próprio conhecimento. Frantz (2001, p. 246) afirma que “a riqueza das nações depende hoje da capacidade de pesquisa, de inovação, de aprendizado rápido e de cooperação ética de suas populações”. Este apontamento vem reforçar a ideia de que o ambiente escolar necessita se valer da prática cooperativa, uma vez que os seres humanos têm em seu âmago a necessidade de viver em sociedade e compartir seus anseios de vida em todas as dimensões possíveis, com seus interesses, suas necessidades seus conceitos e as construções históricas que o qualifiquem como ser social. Essa proposta visa sem dúvidas desenvolver meios para promover conhecimento significativo, que venha desencadear um processo transformador no educando. Explorar novas metodologias ativas e organizadas e permitir que o educando venha se perceber participante de todo o processo garantirá um resultado diferenciado. É importante que os educadores se sintam desafiados e dispostos ao uso da prática cooperativa, e que também tenham consciência de que rumos querem que seus educandos sigam neste processo. O educador é uma das peças fundamentais, pois ele é sem ressalvas o norteador de todo o sistema que se busca inserir. A educação pautada na cooperação assume um carácter muito mais social do que anteriormente. Politizar o processo é preciso, uma vez que a intenção é formar cidadãos, sujeitos construtores da historicidade humana. Democratizar a educação através da cooperação é uma das necessidades dessa modalidade como prática educativa. Entender o aluno como agente de transformação social é primordial, uma vez que este é o foco da educação remodelada. Aceitar seus saberes, suas experiências, e alinhá-los à dimensão pedagógica, é fundamental para que se possa construir uma educação cooperativa efetiva, focada no sujeito (Frantz, 2001, p. 248) aponta: a educação se dá, centrada na questão da produção do conhecimento, pela interlocução dos diferentes saberes sempre em reconstrução através das aprendizagens no mundo das tradições culturais que se ampliam, nos espaços sociais dos distintos âmbitos linguísticos e do convívio em grupos e nos processos da singularização dos sujeitos. Neste sentido, produzir conhecimento passa por uma visão ampliada. Esta é uma construção que não cessa; é cíclica, o sujeito aprende com as experiências de outro, numa perspectiva de troca de saberes e compartilhamento de culturas. A educação ocorre globalmente, numa esfera harmoniosa que permite aos 8 educandos entender sua importância na participação e no crescimento de uma educação descentralizada, promovida pela comunicação aberta. Libâneo (1998a, p. 24) entende que a educação assume uma função revolucionária, e nela se desenvolvem os “processos de comunicação e interação pelos quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades, técnicas, atitudes, valores”. Desta forma, acontece o desenvolvimento cidadão e a consciência social do sujeito alvo do processo. 1.2 Aluno autônomo Considerando o contexto em pauta, outro quesito importante a ser levado em conta é a responsabilização do aluno, permitindo que ele entenda sua autonomia dentro do processo. As experiências adquiridas dão a oportunidade de reinventar-se, com consciência de que os seres humanos são inacabados, e que a construção de sua históriaintervém no mundo. A cooperação, nesta ótica, visa proporcionar enriquecimento social ao educando, buscando a autodeterminação do sujeito e corroborando com uma educação transformadora, politizada, reflexiva, autoconsciente e crítica. Compreender que o mundo atual busca sujeitos aptos a protagonizar sua história é perceber que o cooperativismo está ligado ao social learning, que faz referência a uma educação dinamizada, em que se prioriza a interação dos educandos, levando em conta suas competências e conhecimentos. A proatividade é manifesta, uma vez que sujeitos envolvidos entendem sua importância no contexto de um ambiente colaborativo, onde se sintam capazes de refletir, planejar, gerenciar e consumar seu aprendizado através de trocas de conhecimentos proporcionadas pela cooperação em diferentes perspectivas. TEMA 2 – EDUCAÇÃO DIALÓGICA E REFLEXIVA Entendendo a prática da cooperação na educação, percebe-se que ela proporciona uma condição diferenciada ao sujeito. Nesta linha de pensamento, fica compreensível que o ser educando alcança aos poucos patamares de compreensão que o permitem tornar-se questionador, dialógico e reflexivo. Aprender a dialogar faz parte do processo de ascensão social. Entender a importância da reflexão dialógica é um fator importantíssimo na busca do 9 autoconhecimento e da problematização questionadora. Só questiona e usa da crítica criativa ou problematiza quem adquire a devida liberdade para tal ação. A educação deve ser o meio pelo qual cada educando venha a adquirir a oportunidade de libertar seu eu crítico, de dialogar, questionar, concordar ou discordar, investigar e com tudo isso aprender. O educador, por sua vez, é neste ambiente o promotor do evento singular, o problematizador que visa a desafiar os educandos de maneira que venham a aceitar este desafio, sendo forjados à prática da reflexão. Percebe-se então que a passividade dá lugar a um universo em movimento de ideias, com provocações instigadoras e novas compreensões, que abrem espaço à prática autêntica do conhecimento de si e do mundo. Desta forma, se procede à educação humanizadora, consciente, que visa deixar claro que a educação é uma ação contínua numa via de mão dupla. Como se percebe nos apontamentos de Freire, ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, mas todos se educam entre si, mutuamente, mediatizados pelo mundo. Freire (1987, p. 39) afirma que “o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa”. Fica claro então que o rumo que a educação vem tomando é outro, diferente daquele que até então se conhecia. O ato reflexivo proporciona novos conceitos, que por sua vez oportunizam novas ações, que culminam em novos resultados. Mas como essa educação pode vir a acontecer? Visando estimular práticas organizadas em torno do processo educacional, buscando de forma objetiva ações de carácter coletivo, para um crescimento comum que viabilize as transformações esperadas. É importante ressaltar a cultura através da cooperação nas relações sociais colaborativas, destacando a importância que cada educando assume neste processo, sua participação e envolvimento na busca pelo conhecimento, que não vem pronto, fabricado, industrializado, mas que acontece à medida que se permite a ponderação entre as considerações realizadas durante o processo ensino-aprendizagem. 2.1 Professor versus aluno: uma relação indissociável O professor é uma peça fundamental em toda essa esfera, que envolve um novo norte à educação. Saber reconhecer as peculiaridades de cada aluno é imprescindível ao professor que deseja fazer parte desta nova visão. Buscar estratégias inovadoras, que valorizem as diferenças de cada aluno, é 10 fundamental. Dispor de novas possibilidades que ofereçam variadas formas de ensinar, valorizando as diferenças e singularidades de cada educando, é sem dúvidas um requisito necessário ao professor inovador. Valorizar as multifacetas educacionais num prisma de possibilidades garante mais chances de sucesso. Cabe ao professor buscar maneiras de ensinar que despertem no aluno o desejo pelo aprender, independentemente de suas possíveis dificuldades. O contexto educacional envolve muito mais do que a mera transmissão de conhecimentos; envolve uma estreita relação entre o aluno e o professor, numa esfera de amizade e aceitação onde se desenvolvem laços emocionais que podem ser trabalhados corretamente e favorecer esta educação com solidez, promovendo no aluno a autoconfiança. Como consequência desse ambiente educacional emocionalmente positivo, que favorece grandemente o processo de ensino- aprendizagem, percebe-se que surgem vínculos que proporcionam ao aluno a capacidade de confiar em sua criatividade e capacidade de reflexão. Acredita-se com isso que a relação professor-aluno irá resultar em troca de saberes mútuos, numa relação harmoniosa de afetividade e confiança, resultando em aprendizado significativo. Vejamos os apontamentos de Vygotsky (1999, p. 110): "toda aprendizagem envolve ensino, uma vez que inclui aquele que aprende e aquele que ensina". O autor também corrobora com a ideia que a educação se constrói num sentido de mão dupla, no qual o professor, quando no mesmo nível do aluno, permite que ambos desfrutem de um ambiente educativo coparticipativo, que inclui as esferas cognitivas, emocionais, sociais e culturais nas quais a educação de estabelece. O grande desafio do educador, como facilitador de um novo processo, é utilizar-se de todas as possibilidades disponíveis para mudar o foco educacional, vislumbrando o novo, o futuro, em que a educação desafiará conceitos pré- estabelecidos. TEMA 3 – A ESCOLA VISIONÁRIA Com base em todos os aspectos já mencionados, que norteiam uma educação evolucionista, visionária e futurista, é necessário reforçar a ideia de que esta educação deve estar sempre centrada no aluno. A sendo maior responsável pela educação de forma sistematizada, é valido ainda ressaltar que ela deve sem dúvidas levar o educando a ser cidadão, no sentido mais amplo da palavra. Assim sendo, a escola tem a grande responsabilidade de assumir o papel de promotora 11 de autonomia no que diz respeito ao ensino-aprendizagem em todas as suas esferas, que envolvem a formação do educando, tendo ciência que este é sem dúvidas o centro do processo que se instaura. O professor como “facilitador” do processo deve estar pronto a perceber quando as dificuldades surgirem, norteando o aluno a detectar a cada uma delas, para juntos buscarem meios e soluções eficazes para que suas práticas sejam facilitadas e eficazes. A busca por resolução a possíveis problemas permite ao aluno se enquadrar numa condição de participador do processo, sendo então valorizado, admitindo que mergulhe numa esfera de satisfação pessoal, uma vez que se torna construtor-participador, e não para mero receptor. Uma vez utilizando-se dessa prática, que abrange o aluno como um todo, permite-se que ele adote uma postura focada no aprender. O ato de aprender de forma participativa o permite ressignificar a educação como um todo, e tudo o que envolve aos âmbitos do conhecimento científico, implicado no ato de criar e recriar seu aprender. Com base nos estudos de Freire, entende-se que essa educação dá “asas” ao educando, e passa a libertá-lo da condição de receptor para tornar-se participador do processo educacional, processo que é centrado no aluno e não mais nos conteúdos, despojando-se do caráter pragmático que a educação assumiu ao longo dos tempos. A escola, que se pauta numa nova visão, em novos métodos, em novas perspectivas, traz consigo uma nova educação, um novo aluno e um novo professor, que podem ser convergidos para uma nova educação. A esta escola poderíamos chamar de escola futurista.Ela deve levar em conta a não fragmentação disciplinar, quando os blocos duram por tempo determinado, e se encerram ali as atenções àquela disciplina, enquanto na verdade elas deveriam ser interligadas, inter-relacionadas, de forma a trazer significância ao aluno. O que se sugere neste estudo não são receitas que se colocam em prática para que tudo dê certo no final, e sim possibilidades de se olhar com outros olhos para a educação contemporânea, seus poucos avanços e as possibilidades de mudança. Ter em mente que a ação participativa é primordial no processo é dar um grande passo para o avanço. Vejamos as características da escola do futuro, escola visionária (Correio Braziliense, 2019): 12 Tem na tecnologia uma aliada do conhecimento, por meio do uso de softwares livres, de blogs acadêmicos, de wikipedias locais de criação de aplicativos por professores e alunos. Não perde de vista o contexto local. É o caso de uma escola do campo que insere nas aulas a previsão do tempo, usando os recursos tecnológicos disponíveis. Valoriza a formação inicial e continuada dos professores, preparando- os para ensinar estudantes do século 21. Por isso, é também uma escola que mantém diálogo constante com o ensino superior. Apresenta conteúdos clássicos de maneira conectada à realidade do aluno. Relacionar as revoluções Francesa e Industrial, por exemplo, com textos de blogueiros ou historiadores contemporâneos. Funciona de maneira interdisciplinar e menos fragmentada em comparação ao ensino tradicional. A tecnologia passa a ser um componente curricular que permeia todas as disciplinas. Atribui ao aluno o papel de protagonista do processo de aprendizagem. Já o professor é o mediador do conhecimento que cada estudante deve adquirir ao longo da trajetória escolar. Assim sendo fica claro que a educação necessita ser retrabalhada, a fim de atingir seu objetivo maior, oportunizando que alunos de diversas realidades tenham novas vivências, aliadas às suas próprias, produzindo com isso aprendizado significativo. TEMA 4 – EDUCAÇÃO EM EVOLUÇÃO A compreensão de que a humanidade vive em evolução move educadores de todo o mundo a repensar na educação e seus primórdios. Compreender que as relações sociais e suas práticas se modificam é o ponto de partida para a entender a complexidade das mudanças que se deseja. Realizar a leitura do passado é fundamental para a escrita do futuro. É perceptível que metamorfoses vem ocorrendo na educação, ainda que de forma lenta, dando abertura a indagações e novos discursos na luta para combater o tradicionalismo e suas abordagens ultrapassadas. Realizar uma análise do passado traz à luz questionamentos acerca da eficácia da educação que vem ocorrendo ao longo dos tempos. É entender que os educadores hodiernos, os realmente apaixonados pela educação, estão cada vez mais trocando a passividade tradicionalista pela agilidade de informações que se observa no século XXI, que são cada vez mais facilitadas. Entender que a educação passa por um processo evolucionista é compreender que os tempos da passividade já se foram, e que os alunos que chegam à escola nos dias atuais são, sem dúvidas, mais exigentes em todos os aspectos que compreendem sua vida, por conta da agilidade e da facilidade que têm de adquirir informação de forma facilitada e rápida. É imprescindível que a educação contemporânea 13 assuma seu papel construtor, da mesma forma como se multiplica a facilidade de adquirir novos conhecimentos em vias alternativas e tecnológicas. A função da escola evolucionista é oferecer ao aluno uma proposta que seja significativa para ele, despertando o desejo de adquirir um conhecimento, capazes de trazer entusiasmo e curiosidade, de forma agradável e atraente, autônoma e responsável. TEMA 5 – ESCOLA DO SÉCULO XXI Permitir que o educando conheça a multiplicidade de informações que se apresentam no mundo moderno, e delas tirar conhecimento efetivo, é um dos desafios da escola do século XXI. A escola deste século precisa levar em consideração a rapidez com que as coisas acontecem e entender, seu real papel com os educandos. Pensar numa escola que fabrica aprendizes com padrões “quadrados” é estar alienado ao passado. Entender a coletividade em que o sujeito vive, e dela deve tirar seus conhecimentos, é primordial para o crescimento. Neste viés, Myriam Tricate (2018) afirma que “o papel da escola não é preparar jovens simplesmente para o trabalho. A escola deve formar cidadãos livres, capazes de exercer suas escolhas individuais, sem nunca perder de vista o coletivo”. Desta forma, pensar na escola do século XXI é atentar para uma educação que visa despertar no aluno a capacidade de aprender a aprender, de forma a fazer disso não uma obrigação, mas fomentar o desejo de descobrir, e com isso estar preparado para as interações sociais próprias do mundo moderno. Entender que a escola tradicionalista, que ainda resiste ao tempo por ser um caminho facilitado, deve e vai perder seu formato em breve, é o ponto de partida para a inovação, não só que se deseja, mas que se necessita, em virtude da era moderna e tecnológica atual. As mudanças na humanidade aconteceram não por força ou por desejo de alguns, mas naturalmente por obra do próprio sujeito, que ao longo do tempo se tecnologizou em sua forma de viver. Descobertas naturais e avanços históricos são provas cabais deste fato. Seria possível questionar a razão de os seres humanos não se utilizarem mais de antigas metodologias em simples afazeres corriqueiros. Tais mudanças passaram a ocorrer uma vez que os avanços racionalistas entraram em evidência, fazendo do ser humano um ser altamente evolutivo e progressista. A historicidade humana perfaz um caminho evolutivo homogêneo, ao longo do qual os sujeitos buscam sair dos casulos, para se 14 permitirem uma metamorfose transcendental e libertadora. Entendendo esta quebra de paradigma, entende-se que inovar é um bem necessário à humanidade. Em relação à educação que se deva praticar na escola do século XXI, acredita-se ser aquela que visa dar sentido ao aprendizado. Ela busca proporcionar um conhecimento capaz de interligar o que se aprende na escola com as reflexões sociais que cercam o aluno, para que ele possa fazer uso de sua razão e argumentação e aplicar tal educação em suas vivências, partindo de uma visão cidadã. Neste entendimento, “saber fazer”, “porque fazer” e “como fazer” assumem uma ordem flexível, porque se usa a capacidade inventiva. Podem, aleatoriamente, construir um saber cíclico e construtivo, no qual todos ensinam e todos aprendem, o que resulta em trocas inteligentes de saberes. 15 REFERÊNCIAS DEMO, P. Aprendizagens e novas tecnologias. Joaçaba: Roteiro 2011. FRANTZ, W. Educação e cooperação: práticas que se relacionam. Sociologias, Porto Alegre, ano 3, n. 6, jul./dez., p. 242-264, 2001. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. _____. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GADOTTI, M. A organização do trabalho na escola: alguns pressupostos. São Paulo: Ática, 2004. GARCIA, W. E. Inovação educacional no Brasil: problemas e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1995. INDALÉCIO, A. B.; CAMPOS, D. A. de. Reflexões sobre o educar em um mundo nativo digital. 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