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Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 1 TRAUMATOLOGIA Fraturas De Órbita ANATOMIA DA ÓRBITA: Á órbita é uma estrutura complexa, composta por vários ossos individuais. • Tem o formato de pirâmide de 4 lados. • Base formada pelo rebordo orbitário. • Ápice aberto – entrada de vasos e nervos – função visual. • Formato quadrilátero e triangular na base – união do terço posterior do soalho orbitário com a parede medial. • A órbita é subdividida em 2 componentes principais – molduras orbitárias e paredes orbitárias. Moldura orbitária: espessa estrutura óssea incluindo o rebordo orbitário e o arco zigomático. É um sistema de pilares do 1/3 médio da face. DEFINIÇÃO DA ÁREA CHAVE: A parede póstero-medial é uma área de grande importância na reconstrução orbitária, e por isso é chamada de “área chave”. • Estrutura papirácea geralmente afetada pelas injúrias orbitárias. • Paredes póstero-medial e póstero-lateral – suporte anterior para a projeção do globo ocular. • Quando a área chave está intacta, o reparo é mais fácil.] • Maior complicação de enoftalmo. • Configuração fundamental na manutenção do globo. • Formação em leque divergente anterior e superiormente. • Reconstrução da angulação da área chave. • Necessidade de maior resistência mecânica. • Em fraturas complexas da órbita, a área chave deve ser reconstruída primeiro. O QUE É A ÁREA CHAVE: Tem duas protuberâncias críticas: Protuberância etmoidal: localizada póstero- medialmente, formada pela projeção das células aéreas etmoidais. Priotuberância antral: localizada póstero- inferiomente , formada pela invaginação superior do seio maxilar. FISSURAS ORBITÁRIAS: Fissura Orbitária Superior: • Localizada na fossa craniana média – entrada de nervos cranianos III, IV, V E VI e asa menor e maior do esfenoide. • Raiz simpática do gânglio ciliar e veias oftálmicas. • Comunicação com a fossa craniana média. Fissura Orbitária Inferior: • Comunica-se com o espaço retromaxilar. • Atravessada por várias pequenas artérias. • Posteriormente se encontra com a fissura orbitária superior – ponto frágil da órbita – aumento da fissura, gerando hiernização Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 2 TRAUMATOLOGIA do conteúdo orbitário que pode levar a um enoftalmo em um caso de fratura. • Entre asa maior do esfenoide e maxila. • Passam nervo infraorbital e zigomático e artéria infraorbitária. • Comunica-se com a fossa infratemporal e pterigopalatina. VASCULARIZAÇÃO: Padrão de vascularização originado da artéria oftálmica. • Entra na órbita pelo canal óptico, abaixo do nervo óptico. • Região anterior da parede lateral – artéria zigomática e pequenos pedículos nervosos infraorbitários. SISTEMA DE TECIDO CONECTIVO DA ÓRBITA: Entre as paredes orbitárias, músculos e globo ocular, há um sistema conectivo bem- organizado em um tecido conjuntivo septal, envolvido nos movimentos orbitários. • Assegura posição e motilidade do globo ocular. • Rompimento da periórbita – causam dificuldade na motilidade ocular devido a adesão entre os septos. DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS ORBITÁRIAS: As fraturas podem afetar parte ou toda órbita. São elas: • Fraturas zigomático-orbitais (OZM). • Fraturas naso-órbito-etmoidas (NOE). • Fraturas internas da órbita (BLOW OUT, BLOW IN). • Fraturas combinadas. FRATURAS ZIGOMATICO-ORBITAIS (OZM): São as injúrias mais comuns envolvendo a órbita e são encontradas com mais frequência nas fraturas faciais. • Podem ser fraturas não deslocadas e não fragmentadas ou altamente fragmentadas (Tipo I: não deslocada ou minimamente deslocada – redução fechada). Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 3 TRAUMATOLOGIA (Tipo II: fratura segmentada do rebordo infraorbitário – redução aberta e estabilização por microplacas). (Tipo III: corpo do osso zigomático fraturado em bloco, com fragmento no rebordo infraorbitário e pilar zigomático fraturado – redução aberta FIR). (Tipo IV: Fratura zigomático-orbital fragmentada – associada a trauma de alta energia, geralmente associadas a defeitos da parede orbitária – requer acesso amplo para reconstrução). CLASSIFICAÇÃO POR JACKSON: Classifica a gravidade da fratura e não a direção do deslocamento. As fraturas tipo IV são tipicamente associadas a defeitos de paredes orbitárias, estendendo-se posteriormente para a área chave. CLASSIFICAÇÃO DAS FRATURAS NASO-ÓRBITO- ETMOIDAIS (NOE): • Traumas bruscos na região central do 1/3 médio da face produzem fraturas que se Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 4 TRAUMATOLOGIA estendem ao longo da linha de baixa resistência da face. • O deslocamento dos fragmentos resulta em um achatamento do nariz e aumento da distância intercantal. (Tipo I: grande fragmento central – redução tridimensional e fixação para restaurar a área cantal). (Tipo II: grau de fragmentação, mas o fragmento de suporte do ligamento é suficientemente grande para receber fixação). (Tipo III: há apenas um pequeno fragmento de suporte ao ligamento cantal ou completa avulsão já ocorreu – cantopexia transnasal direta). RESUMINDO AS IMAGENS DAS FNOE: Fratura Tipo I: grande fragmento central constituído de uma inteira porção medial do rebordo orbitário com o ligamento cantal aderido a crista lacrimal. Fratura Tipo II: rompimento da moldura interna em vários segmentos com fragmento de suporte da região cantal suficiente grande para receber fixação. Fratura Tipo III: alto grau de cominuição do fragmento central, não podendo o segmento de suporte cantal se restabelecido cirurgicamente (raro – completa avulsão do ligamento). FRATURAS INTERNAS DA ÓRBITA: Não existe classificação específica, mas alguns parâmetros para caracterizar essas fraturas Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 5 TRAUMATOLOGIA como: tipo, tamanho, localização e extensão do defeito para a parede póstero-medial. (Fratura lienar: trauma de menor intensidade ou não diretamente direcionado ao soalho orbitário, “fratura em casca de ovo”, sem defeitos – nenhum reparo = aumento do volume orbitário). (Fratura tipo blow in/ blow out: confinada a apenas uma parede orbitária, geralmente o soalho). (Fratura interna complexa: defeito que envolve mais de uma parede e se estende posteriormente dentro do cone orbital – difícil tratamento por apresentarem pouca ou nenhuma área para suporte de enxertos – normalmente associado a fratura de moldura orbital). RESUMINDO AS IMAGENS DAS FRATURAS INTERNAS: Fratura Linear: pode ser comparada a uma casca de ovo – os fragmentos ainda estão unidos – pode ocorrer aumento orbitário, causando enoftalmo se nenhum reparo for realizado. Fragmentos ósseos e paredes permanecem intactos. Fratura Blow-Out: defeito de até 2cm de diâmetro, limitado a apenas uma parede, na porção média ou anterior do soalho. Fratura Blow-In: fratura isolada de parede orbitária, que pode ocorrer no teto orbital e geralmente está associada com o seio frontal. Fratura Interna Complexa: geralmente associada a traumas de alta energia, podendo Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 6 TRAUMATOLOGIA afetar as 4 paredes orbitárias – muitas vezes envolvem o canal óptico – reconstrução complexa – geralmente tem mais de 2cm de diâmetro e são cominutivas. Podem estar associadas a Le Fort II e Le Fort III (combinadas). FRATURAS ORBITÁRIAS COMBINADAS: Injúrias de alta velocidade. Afeta todo esqueleto orbital pode afetar principalmente a estrutura da moldura orbitária e suas paredes, envolvendo na maior parte dos casos a “área chave” – técnicas craniofaciaiscomo arbordagem. (Fratura combinada envolvendo o esqueleto orbital – amplo acesso com técnicas craniofaciais é preconizado). INJÚRIAS ASSOCIADAS AS FRATURAS ORBITÁRIAS: • Comprometimento visual. • Enolftalmo. • Exoftalmo. • Oftalmia simpática – uveíte granulomatosa bilateral rara que ocorre após traumatismo cirúrgico ou acidental de um olho. • Hifema – presença de sangue na câmara anterior do olho. • Diplopia – visão dupla do mesmo objeto. • Lesões das pálpebras. • Lesões lacrimais. • Telecanto – geralmente resultante de fraturas de terço médio como (FNOE) – deslocamento e angulação dos ossos que servem como inserções para tendões cantais mediais. Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 7 TRAUMATOLOGIA SÍNDROME DA FISSURA ORBITÁRIA SUPERIOR: Hematoma na órbita posterior ou fratura da asa maior do esfenoide deslocada que pode resultar em compressão da fissura orbitária superior. • Disfunção do III, IV, V e VI pares cranianos. • Dor retrobulbar. • Oftalmoplegia interna. • Ptose da pálpebra superior. • Distúrbio sensorial do V1. • Ocorre melhora espontânea porém incompleta • se combinada com o envolvimento do nervo óptico, denomina-se síndrome do ápice orbitário. DIAGNÓSTICO DAS FRATURAS: EXAME CLÍNICO: • Promover uma visão geral sobre a extensão e localização das injúrias orbitais e faciais. • Identificar injurias oculares associadas – que requerem avaliação oftalmológica – • Identificar quando há a necessidade de TC. • Acuidade visual - deve ser testada em cada olho. EXAMES DE IMAGEM: • Geralmente são utilizas radiografias de projeção de Waters e Submentovértice. • Radiografias convencionais são solicitadas no pós-operatório a fim de identificar posicionamento das placas e repneumatização dos seios paranasais. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC): • Deve ser realizada em planos axiais e coronais com cortes de espessura de 2mm. A TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC) É OBRIGATÓRIA EM CASOS DE: • Enoftalmo ou deslocamento vertical do globo. • Exoftalmos severos. • Dor retrobulbar. • Desordem severa de motilidade. • Debilidade visual. • Grande deslocamento e/ou mobilidade na moldura orbitária. Pela RNM pode-se observar a hiernização do conteúdo orbitário. TRATAMENTO CIRÚRGICO DAS FRATURAS ORBITÁRIAS: CONTRAINDICAÇÕES PARA ABORDAGEM CIRÚRGICA: Hifema. Laceração da retina. Perfuração do bulbo ocular. INDICAÇÕES PARA A ABORDAGEM CIRÚRGICA: ✓ Paciente com fratura de assoalho de órbita com restrição mecânica do olho e que o teste de ducção forçada seja (+) – imagens Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 8 TRAUMATOLOGIA sugestivas de encarceiramento do músculo reto inferior (abordagem precoce). ✓ Resultado (+) do teste de ducção forçada e sem evidências tomográficas de pinçamento do músculo reto inferior – observar por algumas semanas. ✓ Fratura orbital com restrição mecânica persistente e diplopia, com olhar para baixo – abordagem cirúrgica necessária. ✓ Intervenção cirúrgica para reconstrução do soalho orbital havendo 2 a 3mm ou + de enoftalmia ou hipoftalmia com edema orbital ou hematoma na órbita. Em casos de indicação cirúrgica, a abordagem sendo postergada em 6 semanas ou mais, acaba dificultando a intervenção cirúrgica e o resultado menos favorável em razão das cicatrizes e do encurtamento do músculo. ABORDAGENS CIRÚRGICAS: ABORDAGENS ORBITAIS INFERIORES E LATERAIS: → Para acessar o solho da órbita, acessos infraorbital, transconjuntival e subciliar. → Acesso subciliar – incisão linear cutânea delicadamente recurvada , milímetros abaixo da borda palpebral ou da margem ciliar (de preferência na prega cutânea). ABORDAGENS ORBITAIS MEDIAIS E SUPERIORES: → O acesso a porção superior da rima orbital e á sutura zigomático-frontal pode ser alcançada pela incisão lateral da sobrancelha , incisão de blefaroplastias superior, incisão lateral de cantotomia (extensão da incisão subciliar ou transconjuntival com cantólise superior). → A incisão coronal tem excelente acesso a toda rima supraorbital, teto de órbita, seio frontal, superfícies superiores do osso nasal, rima orbital lateral e respectiva parede e ao arco zigomático – indicada para fraturas faciais extensas envolvendo zigoma, seio frontal, NOE, e Le Fort III. ABORDAGENS ORBITAIS MEDIAIS: → Geralmente utiliza-se o acesso coronal. → Acesso nasal lateral para fraturas isoladas. → A parede orbital medial e a rima estão envolvidas nas fraturas de NOE, Le Fort II e III, fraturas extensas do seio frontal e ocasionalmente fraturas grandes do tipo blow-out. REPARO DAS FRATURAS: O objetivo do reparo das fraturas é aliviar qualquer déficit funcional ou estético que o paciente possa ter, restaurando a estética facial. RECONSTRUÇÃO DAS FRATURAS LINEARES: • São causadas por forças contusas que incidem sobre o bulbo ocular. • Resultam em enoftalmia e hipoftalmia – se houver fratura facial associada. Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 9 TRAUMATOLOGIA • Restaurar a posição anatômica da rima óssea e dos ossos faciais associados e reaproximar o volume orbital ósseo normal. → Utilizar material reconstrutivo. RECONSTRUÇÃO DAS FRATURAS BLOW OUT: • Acometem uma parede orbital – em geral a porção medial ou anterior do soalho de órbita. • Tem menos de 2cm de diâmetro. • O objetivo da reconstrução é restaurar a configuração das paredes, retornar o conteúdo prolapsado para a órbita e eliminar qualquer interposição ou pinçamento dos tecidos moles orbitais. → Folhas finas de 0,85mm de polietileno poroso – aloplástico, biocompatível e não reabsorvível, resistente a tração. → Fraturas cominutivas – malha de titânio. → Rima orbital inferior – redução e fixação com microplaca de 1,7mm. RECONSTRUÇÃO DAS FRATURAS ORBITAIS COMPLEXAS: • Geralmente estão associadas a fraturas do terço médio e seio frontal. • Reconstrução desafiadora por descompensação da anatomia normal e pouco suporte ósseo. • Dificuldade para FIR e ancoragem dos materiais reconstrutivos. • Não esperar mais que 7 a 10 dias para a reconstrução – pode gerar alterações secundárias nos tecidos. → Exposição adequada de todas as estruturas do 1/3 médio da face com alinhamento adequado e redução antes da fixação. → Rima orbital – geralmente fixadas com placas de 1,7mm. RECONSTRUÇÃO DAS FRATURAS NOE: • Resultam de um traumatismo contuso, de força extrema. • Alto grau de lesões intracranianas e neurológicas associadas. • Podem ocorrer lesões nas vias lacrimais (utilização de tubos de silicone) e nasais. • Reparo nos primeiros 7 a 10 dias. • Comprometimentos cantais mediais com telecanto e aumento do volume ósseo resultando em enoftalmia. → Componente orbital medial da fratura – acesso nasal lateral (de lynch). → Abordagem a rima inferior – subciliar ou transconjuntival. → Telecanto – técnicas de fixação direta utilizando sistemas de colocação de placas de 1 a 1,7mm. TESTE DE DUCÇÃO FORÇADA: Permite a avaliação motora passiva do globo. Em um olho normal, praticamente não há resistência a mobilização passiva. • Distinguir desordens de mobilidade restritiva das neurogênicas. • Pinçamento do reto inferior com sua junção na cápsula de tenon. • Anestesia local tópica. Junia Waltz – Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial 10 TRAUMATOLOGIA • Deve ser realizada antes e após a reconstrução orbitária.
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