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APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período INTOLERÂNCIA ALIMENTAR E ALERGIAS • A alergia al imentar é uma resposta imunológica que ocorre após contato ou ingestão das proteínas de determinados alimentos, como leite de vaca, ovos, frutos do mar, trigo, amendoim e soja. Já a intolerância é a carência de uma enzima que processa certos nutrientes. • As reações adversas a alimentos são dividas em tóxicas e não-tóxicas: - Tóxicas: dependem de fatores inerentes ao alimento, como as toxinas produzidas em sua deteriorização, logo, afeta qualquer indivíduo que ingira o alimento em quantidade suficiente para produzir sintomas. - Não-tóxicas: dependem da suscetibilidade i n d i v i d u a l e d i v i d e m e m re a ç õ e s imunomediadas (alergia alimentar) e não- imunomediadas (intolerância alimentar). • Atualmente, tem sido sugerido o termo hipersensibilidade alimentar para abranger t a n t o a s r e a ç õ e s i m u n o m e d i a d a s (hipersensibilidade alimentar alérgica), quanto as não-imunomediadas (hipersensibilidade alimentar não-alérgica). • A intolerância alimentar pode decorrer de deficiências enzimáticas (intolerância a lactose), reatividade anormal a certas substâncias presentes nos alimentos (aditivos alimentares) ou mecanismos desconhecidos. A alergia pode ter mecanismo imune IgE ou não- IgE mediado. • A prevalência estimada de reações adversas a alimentos é de 12 a 20% em adultos. Já a p e n a s a p r e v a l ê n c i a d a s r e a ç õ e s imunomediadas (alergia alimentar), a estimativa é de +/- 6-8% nos lactentes e até 4% nos adultos, mais prevalente nos atópicos. • Aproximadamente 35% das crianças com dermatite atópica moderada a grave têm piora dos sintomas cutâneos por hipersensibilidade alimentar, e 6% dos asmáticos têm sibilância induzida por alimentos. • No Brasil, leite, ovo, soja, trigo, milho e amendoim (menos), correspondem a 90% das reações de hipersensibilidade em crianças, enquanto peixe, crustáceos, amendoim e castanhas correspondem a 85% das reações de hipersensibilidade em adolescentes e adultos. Fatores de Risco: - Asma, adolescente, história pessoal ou familiar de alergia alimentar. Fisiopatologia • A alergia alimentar pode envolver um mecanismo IgE mediado, não-IgE mediado ou mais que um mecanismo imunológico pode estar envolvido. • A capacidade de determinado alimento de desencadear reação de hipersensibilidade do tipo I pode ser alterada durante o processo de cozimento, porque o aquecimento pode alterar (desnaturar) a estrutura proteica de um alergênio, tornando-o incapaz de desencadear a resposta humoral. Reações de Hipersensibilidade • Toda vez que o sistema imune não funciona da maneira adequada e causa ao organismo algum distúrbio, isso se configura como reação de hipersensibilidade. • Quando o sistema imune ataca algo que é próprio ou age de maneira exagerada causando danos ao organismo. Mecanismo IgE mediado (hipersensibilidade imediata) • Os sintomas têm início imediato (minutos a horas). • Em pacientes geneticamente predispostos, a falha no desenvolvimento ou a quebra do mecanismo de tolerância oral resulta em produção excessiva de anticorpos IgE- específicos para determinado alimento. Hipersensibilidade do tipo 1 • Anticorpos do tipo IgE causando degranulação de mastócitos (reações alérgicas). • Hipersensibilidade imediata, devido à rápida resposta. • Decorre da ação de antígenos ao anticorpo IgE ( l igado à receptores na superfície de m a s t ó c i t o s ) , e s s a l i g a ç ã o c a u s a a degranulação de mastócitos, a liberação do conteúdo do mastócito, causando efeitos (normalmente locais). - as substâncias liberadas pelos mastócitos vão causar toda a cascata de sintomas de uma reação alérgica. • Dívida em 3 fases: I. Sensibilização: primeira exposição do indivíduo a determinado alérgeno (quando o corpo nunca tinha sido exposto, porém já tem predisposição à alergia). - um linfócito B vai capturar o antígeno (alérgeno) e apresentar para um linfócito T. - o linfócito T (no indivíduo que é atópico), vai se diferenciar para Th2, estimulando a célula B a sofrer maturação e trocar de classe dos anticorpos por ela produzidos, para IgE. - O IgE disponível no corpo vai se ligar ao mastócito (possui receptores do tipo Fc, para fração Fc dos anticorpos), então o mastócito se liga ao IgE, se tornando sensibilizado, devido à ligação. - se o organismo nunca mais for exposto ao alérgeno ele não vai apresentar problemas, APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período já que o mastócito vai estar sensibilizado, porém o IgE vai ser específico daquele alérgeno. II. Ativação: nova exposição do indivíduo ao alérgeno. - o alérgeno se liga ao IgE que está preso na membrana do mastócito (por meio de ligação cruzada). Essa ligação provoca a ativação do mastócito e sua degranulação, liberação o conteúdo dos grânulos (aminas vasoativas e mediadores lipídico), que vão causar a reação de hipersensibilidade imediata (reação alérgica que acontece minutos após a exposição ao alérgeno. - além disso, há também a liberação de citocina, que irão recrutar outras células, causando uma “reação inflamatória” (reação de fase tardia). III. Efetora: quando o mastócito degranula e lança, no tecido, o conteúdo dos seus grânu los ( fo rmado por h is tamina e mediadores l ipídicos), aumentando a permeabilidade vascular, vasodilatação, broncoconstrição, hipermotilidade intestinal, inflamação e lesão tecidual. - ademais, há liberação de iL5, que vai recrutar e ativar eosinófilos no local da reação. Mecanismos não-IgE mediado • Geralmente se manifestam com sintomas gastrointestinais. • Na alergia alimentar as reações costumam ser mais tardias (horas a dias); já na intolerância o intervalo é variável, mas em geral não passa de algumas horas. • Diagnosticamos normalmente pela boa resposta à eliminação do alérgeno da dieta e em alguns casos com biópsia. • Estudos apontam que estás reações sejam m e d i a d a s p o r c é l u l a s ( r e a ç õ e s d e hipersensibilidade de tipo II), podendo também ser por de tipo III e IV (raro). - Tipo 2: anticorpos agindo sobre células, tecidos ou receptores. - Tipo 3: deposição de imunocomplexos. - Tipo 4: linfocitos TCD4 e TCD8 (tipo tardia) • Além da resposta celular, há a participação de anticorpos da classe IgG e IgA. INTOLERÂNCIA ALIMENTAR • Reações adversas a componentes do alimento, pode ser de natureza tóxica, metabólica oi alérgica. • Tóxica: quando o indivíduo ingere quantidade suficiente de alimento contaminado. • Não tóxicas: dependem de características individuais e resultam em mecanismos imunes e não imunes. • Principais mecanismos: - Tóxicos (por contaminação bacteriana ou aditivos alimentares). - Intolerância secundária à deficiência enzimática (ex: intolerância à lactose). - Reações alérgicas, tanto IgE-mediadas, como não mediadas por IgE (ex: alergia ao leite de vaca). - S i n t o m a s s e c u n d á r i o s a r e a ç õ e s farmacológicas e componentes alimentares. Intolerância aos carboidratos - Síndrome que se manifesta por diarreia, distensão abdominal, vômitos ou dor abdomina l após inges tão (mono ou dissacarídeo). - A mais comum, na infância, é a intolerância à dissacarídeo. - P o d e s e r p r i m á r i a ( g e n e t i c a m e n t e determinada) ou secundária a doenças que cursam com alteração da superfície absortiva intestinal (alteração da estrutura da mucosa intestinal). Intolerância à Lactose - Síndrome clínica associada ao aparecimento de sintomas gastrintestinais após ingestão de lactose. Pode ou não ser secundária à má absorção intestinal de lactose. - Intolerância ontogênica à lactose • Na maioria dos indivíduos, a lactase atinge seu maior nível de atividade nofim da gestação e permanece elevada até o fim do 1° ano de vida. Entre o 1° e o 3° ano de vida, a atividade da lactase diminui. • Esse fato é decorrente tanto da diferença nos n íve is de expos ição a in fecções e desnutrição quanto da alteração genética. • A má digestão da lactose documentada em testes de tolerância pode não estar associada a sintomas clínicos (intolerância) desde que a criança receba pequenas cotas de leite na dieta, podendo ocorrer sintomas quando ela é exposta a uma sobrecarga de lactose por aumento do volume do leite ingerido ou pelo uso de produtos com concentração elevada desse açúcar (p. ex., leite condensado). • A intolerância à lactose é quantitativa, ou seja, as reações clínicas dependem da quantidade do açúcar ingerida e do nível de atividade da lactase do indivíduo. Portanto, não está indicada a restrição completa de APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período leite e derivados em todos os pacientes portadores dessa condição, ao contrário do que ocorre na alergia à proteína do leite de vaca. • Em lactentes e pré-escolares, a intolerância à lactose se manifesta como diarreia aquosa, com evacuações explosivas e fezes ácidas. É frequente também a distensão abdominal, associada a cólicas e hiperemia perianal. Nos casos mais graves, a diarreia pode levar à desidratação e desnutrição. Na investigação complementar podem ser solicitados: I. Substâncias redutoras e pH fecal: exame inespecífico e pode estar positivo não apenas em situações de má digestão ou má- absorção de açúcares, mas também quando existe uma oferta exagerada dessas substâncias na dieta. II. Testes de tolerância oral aos açúcares: a curva de tolerância aos açúcares é realizada com a dosagem da glicemia antes e 15, 30 e 60 minutos após a ingestão de 2g/kg (dissacarídeo) e 1g/kg (monossacarídeo), em solução a 10%, do açúcar a ser testado (máximo de 50g para os dissacarídeos e 25g p a r a o s m o n o s s a c a r í d e o s ) . S ã o considerados valores normais quando existe um aumento de 30mg% entre o jejum e quaisquer das medidas subsequentes. Além disso, deve ser observada a sintomatologia da criança durante o teste. O aparecimento de diarreia após a sobrecarga oral do açúcar é de maior valor diagnóstico do que o achado isolado de uma curva plana. Falso- positivo pode ocorrer por não haver ingestão de toda a solução oferecida ou por retardo no esvaziamento gástrico. Manifestações Clínicas Dependem da quantidade de alimento ingerido, há quanto tempo o paciente não comia, doença e medicação concomitante, exercícios físicos e fase do ciclo menstrual. Cutâneas • Mais comuns. • Prurido, urticária, angioedema (geralmente ocorrem até 2h após a ingestão ou contato com o alimento). • A ausência de sintomas cutâneos não exclui a hipótese de um alimento induzir a anafilaxia. Gastrintestinais • Náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia (podem ocorrer isoladamente). • Na síndrome de alergia oral, ocorre prurido, com ou sem angioedema dos lábios, da língua e do palato. • Esofagite e gastroenterite eosinofílica podem ter mecanismo IgE mediado, não-IgE mediado ou ambos, e são caracterizadas pela infiltração da parede do esôfago, estômago ou intestino por eosinófilos, e freqüentemente, eosinofilia periférica. • Sintomas semelhantes aos da DRGE e com PHmetria normal. • Ovo, leite, soja, trigo e milho. • Enteropatias (qualquer doença do trato intestinal) induzidas por proteína acometem principalmente lactentes, manifestando-se na maioria das vezes por diarréia, com ou sem muco e sangue, anemia e déficit de crescimento. Estes sinais e sintomas geralmente desaparecem até o 2º ano de vida, e o principal alimento envolvido é o leite de vaca. Respiratórias • Sintomas isolados são raros. • Coriza, prurido nasal, broncoespasmo e edema de laringe. Anafiláticas • Pode, apresentar manifestações cutâneas, r e s p i r a t ó r i a s , g a s t r i n t e s t i n a i s o u cardiovasculares (hipotensão, síncope, arritmias e choque). Diagnóstico • Anamnese detalhada , incluindo hábitos dietéticos e estilo de vida. • Se atentar a sinais de atopia, estado nutricional e presença de outras doenças não-alérgenas. • Quando não é possível identificar um alimento suspeito, orienta-se o paciente a realizar um diário alimentar por pelo ou morena 2 semanas, registrando-se todos os alimentos ingeridos e data dos sintomas (dia e hora). • Os testes intradérmicos com alimentos são contra-indicados pelo risco de reações graves. Pesquisa in vivo da IgE específica (testes cutâneos) • Método rápido para avaliar a sensibilização a alimentos específicos. • Técnica de pintura, se o alérgeno alimentar gerar uma pápula pelo menos 2mm maior que o controle negativo, é considerado positivo. • O valor preditivo negativo é maior que 95%. • Testes positivos geralmente apenas sugerem alergia clínica, uma vez que, possuem até 50% de falso-positivo. • Resultados positivos são aceitos como confirmatórios, quando combinados a uma história clara e recente de anafilaxia. Pesquisa in vitro de IgE específica • Avaliação qualitativa da presença de IgE específica (util iza-se mais os métodos quantitativos). • Menor sensibilidade e maior custo. APG - SOI IV Bianca Cardoso - Medicina 4 o Período • Vantagens: é possível realizar em paciente com dermografismo ou com lesões extensas de pele (ex: dermatite atópica); não envolve risco de reaçãoe dispensa a interrupção dos anti- histamínicos. • Os resultados são expressos em 6 classes e valorizados como positivos a partir da classe 2. • A positividade não confirma o diagnóstico, mas reforça a hipótese clínica e orienta a escolha do(s) alimento(s) posteriormente avaliado(s) por meio de dieta de restrição ou prova de provocação. Dietas de Restrição • Exclusão sistemática do(s) al imento(s) identificado(s) através da anamnese e/ou diário alimentar, e na observação de sua correlação com a melhora clínica. • Não deve se estender além do tempo mínimo necessário, para evitar comprometimento do estado nutricional (geralmente 2-4 semanas). • Em caso de melhora clínica, mantém-se a restrição e avalia-se a necessidade de reintrodução ou provocação oral para comprovar a causalidade. Provas de provocação oral • Administração fracionada do alimento suspeito em doses crescentes, sob supervisão médica. • Considerados positivos quando apresentam sintomas relatados na anamnese. • A escolha do alimento é determinada pela história, pela pesquisa da IgE específica in vivo ou in vitro, ou pela dieta de restrição. • Representam procedimentos de risco, em razão da possibilidade de manifestações clínicas graves. • Pode ser aberta, simples cego ou duplo cego (controlado com placebo). Esta última forma é considerada padrão de referência para o diagnóstico, já que o paciente e médico não sabem se o que está sendo oferecido contém o alimento suspeito ou o placebo, reduzindo a chance de interferências psicológicas. • De acordo com os sinais e sintomas é necessário realizar exames complementares. - análises sanguíneas e fecais; - EDA ou EDB; - métodos de imagiologia para excluir alguma patologia orgânica. Tratamento • O alimento deve ser excluído totalmente da dieta, enfatizando a necessidade de estar alerta para o risco de exposição acidental. A exclusão do alimento envolve obrigatoriamente a restrição de qualquer fonte alimentar que contenha a proteína alergênica. O paciente deve ser orientado para realizar leitura de rótulos, evitar situações de alto risco e reconhecer precocemente os sintomas alérgicos. • A restrição de alimentos como leite, ovo e trigo envolve o risco de déficit nutricional, tornando necessária a orientaçãonutricional adequada. • A suplementação de vitaminas e cálcio pode ser necessária. • Anti-histamínicos podem melhorar sintomas cutâneos IgE mediados, mas não bloqueiam reações sistêmicas. • O medicamento-chave no tratamento de uma reação alérgica alimentar do tipo anafilática é a adrenalina (0,3 a 0,5 mL de solução 1:1.000 por via intramuscular). - Deve ser prescrito e orientado o uso de adrenalina para auto-injeção para os pacientes que tenham risco de anafilaxia induzida por alimento. • Investigar desenvolvimento de tolerância: - alguns alimentos como leite de vaca, ovo, trigo e soja geralemnte apresentam desenvolvimento de tolerância até os 5 anos de idade. - o diagnóstico pode ser feito questionando sobre o surgimento ou não de sintomas aos “escapes” da dieta ou reintrodução. REFERÊNCIAS: • Clínica Médica USP • Imunologia - Richard coico • Imunologia x abbas
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