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na Atenção Primária à Saúde e sua inserção nos instrumentos de planejamento e de gestão do SUS BRASÍLIA - DF 2023 Versão preliminar MINISTÉRIO DA SAÚDE UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DA BRASÍLIA - DF 2023 Versão preliminar MINISTÉRIO DA SAÚDE UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 2023 Ministério da Saúde. Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença CreativeCommons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessa- da, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br. Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica Elaboração, distribuição e informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção Primária à Saúde Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde Esplanada dos Ministérios, Edifício Anexo, Bloco B, 4º andar. CEP: 70058-900 - Brasília / DF Site: aps.saude.gov.br E-mail: deppros@saude.gov.br UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Rua Delfino Conti, S/N, Trindade, Departamento de Saúde Pública/CCS/UFSC. CEP: 88040-370 - Florianópolis / SC Telefone (48) 3721-4869 Site: https://unasus.ufsc.br/ E-mail: abunasus.ccs@contato.ufsc.br ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE Lote 19 - Avenida das Nações, SEN - Asa Norte. CEP: 70312-970 - Brasília / DF Site: https://www.paho.org/pt/brasil E-mail: comunicacaoopasbrasil@paho.org Editor geral do Ministério da Saúde Nésio Fernandes de Medeiros Junior Andrey Roosewelt Chagas Lemos Colaboração Técnica do Ministério da Saúde Daniel Rogério Petreça Daniely da Silva Santana Dorian Chim Smarzaro Gaia Salvador Claumann Graziela Tavares Fabiana Vieira Santos Azevedo Cavalcante Jean Augusto Coelho Guimarães Lorena Lima Magalhães Matheus Rodrigues Rangel Paulo Henrique Gomes da Silva Sofia Wolker Manta ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE NO BRASIL Coordenação de Determinantes da Saúde, Doenças Crônicas Não Transmissíveis e Saúde Mental Colaboração técnica Elisa Prieto Lara Luisete Moraes Bandeira CENTRO DE ESTUDOS, PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO EM CIDADES SAUDÁVEIS (CEPEDOC) Coordenação geral Douglas Roque Andrade, Rosilda Mendes Supervisão de campo Grace Peixoto Noronha Coordenação de monitoramento e avaliação Pamela Lamarca Pigozi Elaboração de texto Alessandra Xavier Bueno Evelyn Helena Corgosinho Ribeiro Fabio Fortunato Brasil de Carvalho Inaian Pignatti Teixeira Leticia Aparecida Calderão Sposito Luis Carlos de Oliveira Margarethe Thaisi Garro Knebel Maria Cecília Marinho Tenório Pesquisadores Alessandra Xavier Bueno Alex Antonio Florindo Átila Alexandre Trapé Cristiane Kerches da Silva Leite Daniele Pompei Sacardo Douglas Roque Andrade Eduardo Quieroti Rodrigues Elisabete Agrela de Andrade Evelyn Helena Corgosinho Ribeiro Fabio Fortunato Brasil de Carvalho Grace Peixoto Noronha Inaian Pignatti Teixeira João Paulo dos Anjos Souza Barbosa Juan Carlos Aneiros Fernandez Letícia Sposito Luís Carlos de Oliveira Luiz Fernando Rodrigues Ocanha Margarethe Thaisi Garro Knebel Maria Cecília Marinho Tenório Pamela Lamarca Pigozi Rosilda Mendes Validação dos conteúdos Amana Lima Leonardo Araújo Vieira Paola Moreno Bernardi Paula Fabricio Sandreschi Rafaela Nobrega Tatiana Martins Ferraz Tatiana Campos Tadeuma Araújo http://bvsms.saude.gov.br aps.saude.gov.br mailto:deppros%40saude.gov.br?subject= https://unasus.ufsc.br/ mailto:abunasus.ccs%40contato.ufsc.br?subject= https://www.paho.org/pt/brasil mailto:comunicacaoopasbrasil%40paho.org?subject= UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor Irineu Manoel de Souza Vice-reitora Joana Célia dos Passos Pró-reitor de Pós-graduação Werner Kraus Pró-reitora de Extensão Olga Regina Zigelli Garcia Centro de Ciências da Saúde Diretor Fabrício de Souza Neves Vice-diretor Ricardo de Souza Magini Departamento de Saúde Pública Chefe de departamento Rodrigo Otávio Moretti Pires Subchefe de departamento Sheila Rubia Lindner UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS - UNA-SUS/UFSC Representante institucional Sheila Rubia Lindner Equipe de desenvolvimento do projeto Coordenação geral Marta Verdi Coordenação pedagógica Maria Claudia Matias Coordenação produção online Sabrina Blasius Faust Coordenação produção E-Book Luana Silvestre P. dos Santos Assessoria pedagógica Fernando Hellmann Apoio pedagógico Eliane Ricardo Charneski Apoio produção online Thaiara Dornelles Lago Desenvolvimento Web Tcharlies Dejandir Schmitz, Juliana Coelho Stahelin Design instrucional Soraya Falqueiro Diagramação e ilustração Laura Martins Rodrigues Produção audiovisual Aterra Lab, Éder Braz Projeto gráfico Nicole Alessandra Gelle Revisão de português Vânia Moreira (in memorian) Secretaria executiva Gisélida Garcia da Silva Vieira Bancos de imagens Freepik, Flaticon, Ministério da Saúde Ministério da Saúde Coordenação editorial Júlio César de Carvalho e Silva Revisão do Projeto gráfico e diagramação Normalização B823p Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde. Promoção da atividade física na atenção primária à saúde e sua inserção nos instrumentos de planejamento e de gestão do SUS [versão preliminar] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde; Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2023. 165 p. ; il. Modo de acesso: World Wide Web: xxxxxxx ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x 1. Atenção primária à saúde. 2. Atividade física. 3. Instrumentos de planejamento. 4. Gestão em saúde. I. Título. CDU 616-022.6:578.834 Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2023/xxxx Título para indexação: Promoção da atividade física na Atenção Primária à Saúde e sua inserção nos instrumentos de planejamento e de gestão do SUS. APRESENTAÇÃO Caro leitor e cara leitora, Este material de apoio ao Curso de Promoção da atividade física na atenção primária à saúde e sua inserção nos instrumentos de planejamento e de gestão do SUS foi desenvolvido por uma equipe de pesquisadores e técnicos do Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação em Cidades Saudáveis (CEPEDOC), do Grupo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Atividade Física e Saúde (GEPAF) ambos vinculados à Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde, polo da Universidade Federal de Santa Catarina (UNA-SUS/UFSC) e da Organização Pan-Ameri- cana de Saúde (OPAS). Contamos nesse percurso com a valiosa participação de profissionais de saúde de todas as regiões do país que, de forma colaborativa, apoiaram todo o processo de produção, em suas diferentes fases. Continuamente ouvimos e reafirmamos que “a atividade física faz bem para a saúde” e que o acesso deve ser um direito garantido, ou seja, “promove mais saúde”. Entretanto, cabe sempre nos pergun- tar: faz bem para quem? Quais seus propósitos? Quais as ferramentas apoiam a produção integral do cuidado em saúde? Como podemos garantir esse acesso? Esses são alguns elementos que estão presentes nas quatro Unidades deste livro. Estes escritos são fruto da experiência dos autores e profissionais de saúde que se debruçam a problematizar a pro- moção da atividade física nas políticas públicas comprometidas com a equidade e a justiça social. A primeira Unidade discute a importância da promoção da atividade física na agenda global da saúde pública e no SUS; a segunda traz aportes para compreender as perspectivas econômicas e políticas da promoção da atividade física e o papel dos gestores do SUS; a terceira Unidade aponta os principais fatores que devem ser considerados no planejamento e na implementação de ações, programas e po- líticas de promoção da atividade física, de maneira a ampliar ou promover a efetiva oferta e o acesso a esse serviço na Atenção Primária à Saúde(APS) e, por último, a quarta unidade traz elementos para pensar e incluir o monitoramento e avaliação como ferramentas do processo de gestão de ações, programas e políticas de promoção da atividade física. Nosso propósito com essa iniciativa é mobilizar gestores e os profissionais da atenção primária do sistema de saúde e do planejamento para que possam compreender de forma mais abrangente as razões pelas quais a promoção da atividade física deva ser discutida, diagnosticada, implantada/ implementada, monitorada e avaliada como prioridade no ciclo da política pública e presente nos diferentes instrumentos de gestão do SUS. Esperamos que essas reflexões possam ajudá-los/las a viabilizar a oferta de ações, programas e po- líticas de promoção da atividade física no SUS, assim como de processos de educação permanente de gestores e profissionais de saúde, a fim de garantir práticas de promoção da saúde vinculadas à construção da autonomia dos sujeitos, à participação social, à produção da saúde compartilhada e comprometida com a defesa da vida. Bom percurso e boa leitura! Equipe de Coordenação OBJETIVOS DE ENSINO DO CURSO OBJETIVO DE APRENDIZAGEM DO CURSO Proporcionar conhecimentos, atitudes e práticas aos concluintes, profissionais e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), para planejamento e implementação de ações, programas e políticas de pro- moção da atividade física (AF). Estimular a inclusão da AF na Atenção Primária à Saúde (APS) por meio do registro nos Planos Muni- cipais e Distrital de Saúde e demais instrumentos de planejamento e gestão, com isso, fomentando recursos humanos, materiais e financeiros com vistas à ampliação da oferta e do acesso pela popula- ção usuária do SUS. Ao final do curso, profissionais e gestores do SUS deverão ser capazes de incluir ações de promoção da AF nos instrumentos de planejamento e gestão do SUS; trabalhando as etapas de planejamento, implementação, monitoramento e avaliação, com vistas à ampliação da oferta e do acesso, e inserindo a promoção da AF no processo de cuidado integral na APS. SUMÁRIO UNIDADE 1 A importância da promoção da atividade física na agenda global da saúde pública e no SUS 10 1.1 | Introdução 12 1.2 | A importância da promoção da atividade física na agenda global da saúde pública e no SUS 12 1.2.1 | Uma visão ampliada da atividade física 12 1.2.2 | A Promoção da atividade física na agenda da Saúde Pública Global 20 1.2.3 | A importância da promoção da atividade física na agenda do SUS 26 1.2.4 | Benefícios da prática da atividade física na promoção da saúde 35 1.3 | Encerramento 40 1.4 | Referências 41 UNIDADE 2 Perspectivas econômica e política da promoção da atividade física e o papel dos gestores do Sistema Único de Saúde 46 2.1 | Introdução 48 2.2 | Inclusão da promoção da atividade física nos instrumentos de gestão e de planejamento da gestão pública e do SUS 49 2.2.1 | Plano Plurianual 49 2.2.2 | Leis orçamentárias 57 2.2.3 | Plano Municipal de Saúde (PMS), Programação Anual de Saúde (PAS) e Relatório Anual de Gestão (RAG) 60 2.2.4 | Conferências e Conselhos de Saúde 64 2.2.5 | Plano Diretor 66 2.3 | Os papéis dos gestores federais, estaduais, distrital e municipais 67 2.3.1 | Responsabilidades comuns ao Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais, Distrital e Municipais de Saúde 67 2.3.2 | Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Distrital de Saúde e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) 68 2.3.3 | Secretarias Municipais e Distrital de Saúde 69 2.4 | Vale a pena investir em promoção da atividade física 71 2.4.1 | Ampliar a resolutividade da APS por meio do acesso à prática de atividade física 71 2.5 | A importância de investir em políticas públicas e ações intersetoriais 74 2.6 | Promoção da atividade física como uma agenda positiva da gestão municipal 75 2.7 | Encerramento 77 2.8 | Referências 78 UNIDADE 3 Do planejamento à ação 82 3.1 | Introdução 84 3.2 | Planejando ações, programas e políticas de promoção da atividade física 84 3.2.1 | Planejamento participativo das ações no SUS 87 3.2.2 | Ferramentas para auxiliar a construção do PES 100 3.2.3 | A importância da intersetorialidade, da participação e do controle social nas etapas do PES 104 3.3 | O papel dos profissionais de saúde na promoção da atividade física no cuidado em saúde 109 3.3.1 | Arranjos interdisciplinares, interprofissionais, matriciamento e suas possibilidades com enfoque no cuidado em saúde 110 3.3.2 | A promoção da atividade física é papel de todos os profissionais de saúde e da comunidade 111 3.3.3 | A atuação estratégica do profissional de educação física na saúde para além de sua atuação no núcleo profissional 113 3.4 | Experiências municipais exitosas na perspectiva da gestão, de implantação de programas e ações de atividade física 114 3.5 | Encerramento 121 3.6 | Referências 123 UNIDADE 4 Monitoramento e avaliação como ferramentas do processo de gestão de ações, programas e políticas de promoção da atividade física 126 4.1 | Introdução da unidade 128 4.2 | Monitoramento e avaliação: elaboração da pergunta de avaliação e de indicadores de acompanhamento de ações, programas e políticas de promoção da atividade física 129 4.2.1 | Pergunta avaliativa no âmbito da APS no SUS 131 4.2.2 | Pactuação de indicadores de processo e resultado 134 4.2.3 | Acompanhamento dos dados dos sistemas de informação do Ministério da Saúde e de outras fontes de dados no âmbito do SUS 148 4.2.4 | Estratégias para sistematizar, analisar os dados e comunicar os resultados 153 4.2.5 | Criação de espaços coletivos para dar sustentabilidade aos processos participativos e colaborativos de monitoramento e avaliação 158 4.3 | Encerramento da Unidade 159 4.4 | Referências 160 ENCERRAMENTO DO CURSO 161 MINICURRÍCULO DOS AUTORES 162 UNIDADE A IMPORTÂNCIA DA PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA AGENDA GLOBAL DA SAÚDE PÚBLICA E NO SUS 1 Inaian Pignatti Teixeira Alessandra Xavier Bueno OBJETIVO GERAL Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de compreender, de forma ampliada, a importância da promoção da atividade física, considerando as agen- das da saúde pública global e do SUS. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ▶ Compreender a concepção da atividade física como um direito. ▶ Reconhecer que a vida fisicamente ativa é in- fluenciada por diferentes fatores, não sendo considerada apenas uma escolha individual. ▶ Identificar agendas globais relacionadas à pro- moção da atividade física. ▶ Apresentar a importância da atividade física na integralidade do cuidado em saúde. ▶ Conhecer um breve histórico da promoção da atividade física na Atenção Primária à Saúde (APS). ▶ Compreender os principais benefícios da prática de atividade física para a promoção da saúde, para a prevenção e para o tratamento de algu- mas doenças e agravos. Carga horária recomendada para esta unidade: 15 horas UNIDADE1 PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 12 1.1 | Introdução Estimativas apontam que as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) são a causa de quase ¾ das mortes no Brasil e no mundo, sendo representadas, especialmente pelas doenças cardiovasculares, cânceres e doenças respiratórias, cujos determinantes são sociais, ambientais, comerciais e genéticos (OMS, 2019). A atividade física está diretamente associada à prevenção e ao tratamento de doenças crônicas, mas, também, pode promover sociabilidades, sentimento de pertencimento a grupo e/ou comunidade e novos aprendizados que ampliam o repertório sociocultural das pessoas, e permitem maior autono- mia para realização de atividades do cotidiano. Deve, assim, ser compreendida com um direito. Além disso, com o aumento da prática regular de atividade física, os indicadores de saúde poderiam ser melhores e muitas mortes poderiamser evitadas, reduzindo, também, os custos em saúde, afinal, “a atividade física é uma variável importante para a economia de recursos financeiros em saúde pú- blica” (BUENO, 2016, p. 1007). Assim, é preciso olhar para o tema com a devida atenção e incluí-lo no planejamento das ações de saúde a curto, médio e longo prazo. Nesta Unidade, você irá aprender sobre atividade física em uma perspectiva ampliada, entender os benefícios para a população, passando pela agenda global e pelas proposições no Sistema Único de Saúde (SUS). 1.2 | A importância da promoção da atividade física na agenda global da saúde pública e no SUS Vamos agora acompanhar a importância da promoção da atividade física na agenda global da saúde pública e no SUS, para uma visão ampliada sobre o tema e sobre os benefícios dessa prática na pro- moção da saúde. Acompanhe! 1.2.1 | Uma visão ampliada da atividade física A constituição física dos seres humanos foi produzida por meio dos processos evolutivos para que houvesse níveis de atividade física muito maiores do que temos hoje. Há dois milhões de anos, os humanos eram caçadores-coletores e dependiam do movimento corporal ágil e forte para sobreviver. Há mais ou menos 10.000 anos surgiu a agricultura e ainda precisávamos de força e resistência física para garantir alimento. Da revolução industrial para cá, há cerca de 200 anos, as máquinas foram ganhando espaço e substituindo uma boa parte do trabalho físico humano e, atualmente, os modos de vida estão nos tornando ainda menos ativos fisicamente, especialmente com a entrada da era digital (SMIRMAUL, 2019). A relação entre atividade física e saúde não é algo recente. Há mais de 2 mil anos, Hipócrates, considerado o pai da medicina, disse que “se pudéssemos dar a cada indivíduo a quantidade certa de nutrição e exercício, nem pouco nem muito, teríamos encontrado o caminho mais seguro para a saúde” (HIPÓCRATES, 1955). PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 13 Atividade física é um tema muito importante quando se pensa em promoção da saúde e prevenção de doenças. Atualmente, a inatividade física é tida como um dos principais fatores de risco modificáveis para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em função disso, existe uma vasta rede de sistemas de vigilância em saúde para rastrear tendências temporais de atividade física populacional em mais de 122 países (BULL et al., 2020; HALLAL et al., 2012; TROIANO; STAMATAKIS; BULL, 2020). Em estudo publicado em 2012, constatou-se que esse número significava 31% da população mundial, os pesquisadores afirmam que se trata de uma pandemia tendo em vista a alta prevalência, o alcance global e os efeitos da inatividade física na saúde, com consequências sanitárias, econômicas, ambien- tais e sociais de longo alcance (KOHL et al., 2012). O que parece simples de resolver - aumentar a oferta de atividade física e tornar a população mais ativa - é, na verdade, um fenômeno complexo (TONELLI et al., 2018) que merece atenção quando da organização da oferta nos serviços na Atenção Primária à Saúde (APS) para que se torne efetiva. Podemos pensar em duas situações que geram essa complexidade: uma se refere à noção de saúde de forma ampla, a qual é influenciada por diversos fatores, como cultura, educação, economia entre outros, dentre eles a temática atividade física; a segunda está relacionada aos diferentes termos utili- zados na área específica, como a diferenciação conceitual de atividade física e práticas corporais, que envolve elementos da cultura, ou mesmo dos sentidos, e significados que o fenômeno tem para as pessoas – neste caso, o corpo em movimento. Você já deve ter ouvido os termos atividade física, práticas corporais e exercícios físicos como sinônimos, mas não são. Confira nos quadros abaixo os exemplos. Exercícios físicos São planejados, com fins de melhorar ou manter as capacidades físicas, como por exemplo, um grupo de pessoas fazendo ginástica em um parque, duas vezes por semana, com orientação de um profissional de educação física. Atividade física Remete a pessoas que fazem atividades por conta própria, por exemplo quando alguém caminha de manhã em alguns dias da semana ou vai andando ou pedalando para o trabalho. Práticas corporais As práticas corporais podem ser consideradas manifestações da cultura corporal de determinado grupo que carregam significados que as pessoas lhe atribuem, e devem contemplar as vivências lúdicas e de organização cultural. Existem várias formas de práti- cas corporais: recreativas, esportivas, culturais e cotidianas. Atividade física é um termo abrangente e abarca muitas práticas que envolvem o movimento corporal, mas é importante ressaltar que todo exercício físico é atividade física, mas nem toda atividade física é exercício físico. Acesse audiobook do Guia de Atividade Física para a População Brasileira e reflita um pouco sobre o conceito de atividade física. Disponível em: https://aps.saude. gov.br/ape/gaf/. https://aps.saude.gov.br/ape/gaf/ https://aps.saude.gov.br/ape/gaf/ PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 14 Atividade física é um comportamento que envolve os movimentos voluntários do corpo, com gasto de energia acima do nível de repouso, promovendo interações sociais e com o ambiente, podendo acontecer no tempo livre, no deslocamento, no trabalho ou estudo e nas tarefas domésticas. Exercício físico é, então, um tipo de atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem o objetivo de melhorar ou manter as capacidades físicas e o peso adequado. Acesse as recomendações de quantidade de atividade física por ciclo de vida no vídeo “Por dentro do Guia de Atividade Física para População Brasileira”, disponí- vel em: https://youtu.be/AHtYfKATDWU. SAIBA MAIS Podemos pensar em muitos exemplos diferentes para falar dos variados sentidos e significados que o termo atividade física tem para as pessoas, tanto no senso comum, como no âmbito dos profissionais de saúde. Nas políticas públicas de saúde do SUS, é comum nos depararmos com os termos atividade física e práticas corporais. De fato, existem diferenças conceituais entre esses termos que são discu- tidos, especialmente no campo específico da Educação Física e Saúde, mas o importante, quando se refere à APS, é compreender como eles se articulam com o cuidado em saúde. Se temos clareza do conceito de saúde como direito humano, o primeiro passo que precisamos ter em mente é que atividade física não é um fenômeno restrito aos benefícios “biológicos” da saúde (como, por exemplo, os efeitos conhecidos sobre a hipertensão arterial, o diabetes e a obesidade). Entender a saúde como direito implica em considerar que os aspectos que produzem saúde estão relacionados com fatores da estrutura da sociedade: acesso a bens e serviços ou melhores oportunidades para conduzir a vida, por exemplo, o que nos leva à necessidade de estratégias de ação como a produ- ção de políticas públicas saudáveis e equitativas. Esses benefícios são muito importantes, ninguém tem dúvida disso, mas a atividade física também pode ser importante para a saúde mental, para as sociabilidades (por sua característica gregária, “de juntar pessoas”), para o lazer, para a cultura, para o sentimento de pertencimento à comunidade ou mesmo como um dispositivo complementar de acompanhamento da equipe de saúde. Se há um grupo para a prática de alguma ativi- dade física, como por exemplo, ginástica, todas as segundas, quartas e sextas na Unidade de Saúde, é possível aproveitar esse encontro para fazer ou ampliar o contato com outros profis- sionais. Profissionais da enfermagem, medicina, nutrição e outras áreas da saúde podem encon- trar seus usuários naquele espaço e realizar um acompanhamento importante, sem a necessida-de de abrir a agenda para uma consulta. Antes da atividade, podem aproveitar o momento e realizar outras ações de cuidado, como informar sobre um evento ou programação da unidade, por exemplo. https://youtu.be/AHtYfKATDWU PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 15 REFLEXÃO Um grupo que se encontra para a atividade física também se torna um espaço de trocas culturais, de socialização, de participação social, ou seja, é um espaço de produção de saúde, em sentido mais amplo e integral. A rotina de cuidado desses usuários, no que tange manter informações breves e atualizadas, pode ter no grupo de atividade física um ponto de contato frequente, quando orga- nizados também nesse sentido. Pensando nos grupos que já acontecem em sua realidade quais outras ações poderiam ser planejadas aproveitando esses espaços de encontro e compartilhamento de experiências que possam ampliar o cuidado e promover mais saúde? Um segundo passo é entender a atividade física como um direito. Em 2013, por meio da Lei nº 12.864, de 24 de setembro de 2013, a atividade física foi inserida no artigo 3º da Lei 8.080 como um dos fatores determinantes e condicionantes da saúde (BRASIL, 1990). Os níveis de saúde expressam a organiza- ção social e econômica do país. A saúde tem como determinantes e condicionantes a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais, entre outros (BRASIL, 2013). A Carta Internacional de Educação Física, Atividade Física e Esporte da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) propõe que uma abordagem baseada em direitos hu- manos, deve ser um princípio orientador para os países durante a implementação do plano de ação. Adotada em 2015 pela Conferência Geral da UNESCO, a Carta declara que todo ser humano tem o direito fundamental ao acesso à educação física, atividade física e esporte (UNESCO, 2015a). Pensar em atividade física como um direito parece simples, mas não é. É importante então considerar os usuários como sujeitos de direi- tos, e esses direitos remetem à função do Estado em construir e implementar políticas públicas que garantam isso, respeitando a diversidade de cada sujeito, cada território, assim como a presen- ça ou não de outros direitos básicos como estudar, morar, alimen- tar-se, dentre outros. Enquanto agente público a serviço do Estado, tal função é também sua, profissional e gestor da saúde. Além disso, ao assumir a saúde como direito, conforme o Art. 196 da Constitui- ção Federal de 1988, o desafio é de, então, produzir gestões democráticas para fomentar a participação social de acordo com as diretrizes do SUS, reforçada pelos componentes da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Ao tomar o usuário como sujeito de direitos, são relevantes as conexões existentes no território, as diversida- des e as subjetividades, convocando representantes da comunidade local para o diálogo. O que gera ainda outro ganho, a solidariedade entre as identi- dades locais. As condições econômicas e sociais que permeiam a vida das pessoas (por exemplo, mora- dia e trabalho), bem como às relacionadas ao nascimento e envelhecimento, produzem maior ou menor carga de doenças. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 16 Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) incluem aspectos sociais, econômicos, comerciais, políticos, culturais e ambientais. A atividade física é um dos elementos, dentre vários, que determinam e/ou condicionam a saúde dos povos e dos cidadãos, e a saúde, por sua vez, é um direito constitucional (FIOCRUZ, 2012). Por essa razão, a atividade física deve estar inserida em uma agenda permanente, vinculada ao sistema de saúde, em especial à APS, como parte das ações de promoção da saúde que não podem ser deixadas de lado. O modo como a tecnologia, o trabalho e a vida urbana afetam o cotidiano limitam as oportunidades e as possibilidades de praticar a atividade física de forma espontânea. O comportamento sedentário pode ser representado por todas as atividades, realizadas quando você está acordado, ou seja, sen- tado, reclinado ou deitado e gastando pouca energia. Por exemplo, quando você está em uma dessas posições para usar celular, computador, tablet, videogame, assistir à televisão, realizar trabalhos ma- nuais, jogar cartas ou jogos de mesa, dentro do carro, ônibus ou metrô (BRASIL, 2021a). REFLEXÃO E você deve estar pensando: mas essas atividades fazem parte do dia a dia das pessoas, não é mesmo? Como foi apresentado anteriormente, os modos de levar a vida contemporânea, especialmente nos centros urbanos, estão nos deixando cada vez mais parados, ou melhor, com menos oportunidades de nos movimentarmos ao longo do dia. Quanto tempo você passa em compor- tamento sedentário em um dia de semana? E no fim de semana? Quais estra- tégias poderiam ser adotadas para diminuir o comportamento sedentário no ambiente de trabalho? A prática insuficiente de atividade física - pessoas adultas, maiores de 18 anos, que praticam menos de 150 minutos de atividades físicas por semana - é responsável por milhões de mortes no mundo por DCNTs, o que torna os custos em saúde também enormes (BRASIL, 2021a). Se considerarmos as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade, esse cenário não é uma questão de escolha. A atividade física também pode ser influenciada pela cultura: segundo documento da OMS, em muitos países, meninas, mulheres, pessoas idosas, grupos vulneráveis, pessoas com deficiência e pessoas com DCNTs têm menos oportunidades de acesso seguro a programas e espaços para serem ativos fisicamente (OMS, 2018). O relatório Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) “Movimento é vida” nos mostra que a renda e o gênero também fazem diferença no acesso à atividade física: os que mais pra- ticam atividade física são homens, com renda acima de 5 salários-mínimos, enquanto as que menos praticam, são mulheres com renda de até meio salário mínimo. Conforme a renda aumenta, é possível verificar maior acesso à atividade física, mas mesmo dentro da faixa de renda, as mulheres têm menos acesso (PNUD, 2017). Para dados estratificados por estado, você pode consultar o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) em: http://plataforma.saude.gov.br/vigitel/. SAIBA MAIS http://plataforma.saude.gov.br/vigitel/ PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 17 Você já deve ter percebido que o termo atividade física, como utilizado no senso comum, abrange diferentes sentidos e significados para as pessoas. Se saúde é um direito, podemos concluir que o acesso à prática de atividade física também deve ser. Como poderíamos pensar a atividade física em articulação com o cuidado integral à saúde? Continue a leitura para ter mais elementos que possam ajudar a responder esta pergunta. Lembremos do conceito de atividade física do Guia de Atividade Física para a População Brasileira: “ Atividade física é um comportamento que envolve os movimentos voluntários do cor- po, com gasto de energia acima do nível de repouso, promovendo interações sociais e com o ambiente, podendo acontecer no tempo livre, no deslocamento, no trabalho ou estudo e nas tarefas domésticas (BRASIL, 2021a, p. 7). Mas, o que significa na prática esse conceito? Este conceito está relacionado aos movimentos do corpo, com gasto de energia maior do que se estivéssemos deitados ou sentados, incluindo interações e contex- tos em que a atividade física pode acontecer. Então, podemos desdobrar alguns elementos desse conceito, que nos ajudariam a compreender quea atividade física pode ser realizada: ▶ pelas pessoas, com objetivo de manutenção da saúde de forma geral; ▶ em grupo ou individualmente; ▶ com uma intensidade leve, moderada ou vigorosa somados a determinação do tempo e tipo da atividade podem promover objetivos almejados. Para reconhecer a intensidade da atividade física praticada, oriente a prestar atenção sobre como a pessoa se sente no momento da prática. A intensidade pode ser: Exige mínimo esforço físico e causa pequeno aumento da respiração e dos batimentos do seu coração. Numa escala de 0 a 10, a percepção de esforço é de 1 a 4. Você vai conseguir respirar tranquilamente e conversar normalmente enquanto se movimenta ou até mesmo cantar uma música. Exige mais esforço físico, faz você respirar mais rápido que o normal e aumenta moderadamente os batimentos do seu coração. Numa escala de 0 a 10, a percepção de esforço é 5 e 6. Você vai conseguir conversar com dificuldade enquanto se movimenta e não vai conseguir cantar. Exige um grande esforço físico, faz você respirar muito mais rápido que o normal e aumenta muito os batimentos do seu coração. Numa escala de 0 a 10, a percepção de esforço é 7 e 8. Você não vai conseguir nem conversar enquanto se movimenta. Leve Moderada Vigorosa Fonte: Brasil (2001a). PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 18 REFLEXÃO A orientação ou o aconselhamento para essas especificidades devem ser toma- dos em conjunto com um profissional de saúde. Uma atividade mais voltada para desenvolvimento de aptidão cardiorrespiratória, outra para melhora de mobilidade articular de acordo com o grupo que necessita deste direcionamento. ▶ Pode ser feita ao ar livre, em espaços públicos ou comunitários (como gramados, praças, ruas, ginásios) e em horários diversos, de acordo com as oportunidades e atividades de vida dos usuários. Você poderá consultar sobre os quatro domínios da atividade física, a saber: trabalho ou estudo, doméstico, tempo livre e deslocamento, consultando a página 7, do Guia de Ativida- de Física para a População Brasileira. Atividade Física Comportamento sedentário Atividade física de intensidade leve Atividade física de intensidade moderada Atividade física de intensidade vigorosa Tempo livre Deslocamento Trabalho ou estudo Tarefas domésticas Fonte: adaptado de Benedetti e colaboradores (2021). Agora que conseguimos ter mais informações sobre o conceito de atividade física, podemos imaginar, baseados também nas nossas experiências, alguns exemplos de práticas de atividade física. Já vimos alguns: ▶ caminhada, que pode ser leve, moderada ou até mesmo se desdobrando em uma corrida leve (leve porque a corrida por si só já é mais intensa que a caminhada, ou seja, já exige um esforço a mais); ▶ ginástica, que pode conter exercícios de força muscular, mas também de alongamento e até mesmo acrescentando passos de dança; ▶ danças circulares ou outras atividades rítmicas e lúdicas que podem fortalecer os valores cole- tivos e sentimentos de empatia, solidariedade e pertencimento; ▶ Yoga, Lian Gong e outras práticas ligadas à Medicina Tradicional Chinesa; ▶ jogos cooperativos e outras atividades adaptadas. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 19 Veja o vídeo chamado “Movimento é vida”, do Relatório Nacional de Desenvolvi- mento Humano no Brasil, sobre diferentes sentidos e significados da prática de atividade física, disponível no link: https://youtu.be/7ASWIO02LWw. Essas atividades físicas, colocadas como parte da oferta dos serviços na APS, também podem influen- ciar na qualidade de vida da população desde que também tenham como objetivo compor o cuidado integral dos usuários, além dos benefícios mais conhecidos da atividade física (parâmetros físicos de saúde, como alteração da pressão arterial, ou redução do peso, por exemplo) (FERREIRA et al., 2015). Isso porque a atividade física pode promover: ▶ Benefícios que podem ser chamados de “indiretos”, como a criação de espaços para conversar sobre outros temas, que podem iniciar processos mais profundos de reflexão sobre a vida e a saúde, fomentando futuras mudanças. ▶ Novas habilidades motoras. ▶ Novos aprendizados, que não são somente corporais, mas que ampliam o repertório sociocul- tural das pessoas. ▶ O uso e a apropriação de espaços públicos como parques, praças e ciclovias, que podem pro- piciar sentimento de pertencimento ao território e à comunidade. Espaços de fala, de compartilhamento de experiências diversas (em que o ponto de partida é a ativi- dade física), podem apoiar a criação de vínculos com o território e a unidade de saúde, melhorando a interação entre profissionais e usuários. É importante lembrar que as escolhas individuais, no que diz respeito aos hábitos de vida, na verdade, estão muito mais ligadas a questões sociais como, por exemplo, os grupos a que pertencem, recursos que acessam e repertório sociocultural. Ou seja, “os indivíduos não são independentes dos seus gru- pos sociais na escolha dos hábitos de vida” (BARATA, 2009, p. 246). Por isso, é importante ressaltar que não basta só ofertar alguma atividade para os usuários, mas tentar entender um conjunto de fatores que se relacionam com as características das pessoas e do território que vivem nele (horários, rotinas, sentidos e significados, modos de vida) para poder pensar, em conjun- to com as equipes, na melhor forma para construir a oferta de atividade física nas unidades de saúde. REFLEXÃO Pense nisso: não adianta ofertar grupo de ciclismo para pessoas que passam o dia em um trabalho que necessite esforço físico, como acontece com trabalha- dores de entrega por aplicativo, que usam bicicleta para realizar as entregas e passam o dia pedalando. Talvez não faça sentido para esses trabalhadores ade- rirem a programas em que fariam mais esforço físico. Para o planejamento das ofertas, inclusive as de atividade física, é necessário considerar os aspectos da vida da população atendida, bem como os sentidos e significados das práticas. O conceito de DSS nos lembra que existem problemas de saúde relacionados às condições de vida e trabalho das pessoas, e estas condições, por sua vez, estão relacionadas aos resultados em saúde. Por exemplo, sabemos que algumas pessoas têm risco de adoecimento maior do que outras devido à exposição a condições de maior vulnerabilidade (moradia, trabalho etc.). https://youtu.be/7ASWIO02LWw PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 20 Da mesma maneira, as condições de trabalho podem influenciar na prática de atividade física. Po- deríamos pensar em outros exemplos em que as condições de vida influenciam os resultados em saúde, mas o que é preciso ressaltar aqui, é que, nem sempre, as pessoas podem escolher mudar essas condições (pois envolvem condições estruturais coletivas, dadas por políticas públicas – ou a falta delas). Em suma, os DSS são os fatores sociais, econômicos, comerciais, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Veja o vídeo do professor Alberto Pellegrini, da Fiocruz, sobre Determinantes Sociais da Saúde, disponível em: https://youtu.be/bVmc-gngyVI. Os Determinantes Comerciais da Saúde (DCS) abrangem fatores como comportamentos e escolhas individuais relacionados a consumo e estilo de vida, e questões relacionadas à sociedade global, como riscos de consumo, economia política e globalização. Os DCS, gerados pela internacionalização do mercado e do capital, pelo crescimento da demanda e pela expansão do alcance das corpora- ções, têm um impacto no ambiente, nos consumidores e na saúde. Os resultados ou impactos na saúde são determinadospela influência dos canais no ambiente onde as pessoas vivem, trabalham e circulam, em particular, na disponibilidade e acessibilidade de produtos não saudáveis a preços acessíveis, moldando os estilos de vida e as escolhas dos consumidores (KICKBUSH et. al, 2016; MCKEE, STUCKLER, 2018). PARA PENSAR E PLANEJAR O que você acha sobre esse tema? Faça anotações de pontos a serem lem- brados durante o planejamento das ações depois de pensar um pouco sobre. Você pode saber mais sobre este tópico na Vitrine do Conhecimento sobre a Dimensão Comercial dos Determinantes Sociais da Saúde em: https://bvsalud. org/vitrinas/post_vitrines/5061/. E é por isso que ações interprofissionais, intrassetoriais e intersetoriais são importantes no conjunto do planejamento em saúde, pois outros fatores relativos às condições da vida em sociedade podem influen- ciar nas decisões dos indivíduos aderirem ou não às ações de promoção da saúde. Não basta somente oferecer acesso às atividades físicas, mas pensar em como isso pode compor a produção do cuidado. 1.2.2 | A Promoção da atividade física na agenda da Saúde Pública Global Alguns países tiveram, em diferentes momentos de suas histórias, agendas próprias de promoção de atividade física. Existe um movimento global de Saúde Pública visando uma sinergia na promoção da atividade física como estratégia de promoção de saúde. Atualmente, por exemplo, existe o Plano de Ação Global sobre Atividade Física, em que a OMS estabeleceu diversas estratégias para reduzir os ní- veis globais de inatividade física em 15% até 2030, tendo como referência o ano de 2016 (OMS, 2018). PARA PENSAR E PLANEJAR No seu território, você acha factível a meta de reduzir em 15% a inatividade física? Tome nota dos fatores que você acredita serem essenciais para que essa meta seja atingida. https://youtu.be/bVmc-gngyVI https://bvsalud.org/vitrinas/post_vitrines/5061/ https://bvsalud.org/vitrinas/post_vitrines/5061/ PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 21 A incorporação da atividade física na OMS passou por diversas fases. Confira uma linha do tempo que contextualiza essa incorporação até a década de 2010: Décadas de 1960 e 1970 Década de 1980 Década de 1990 Anos 2000 Década de 2010 Nas décadas de 1960 e 1970, a OMS atuava principalmente na participação e no apoio de estudos e projetos relacionados a doenças cardíacas e seus fatores de risco, incluindo inatividade física, avaliação da atividade física e aptidão física e reabilitação de pacientes com doença coronariana (LANGE et al., 1978). Na década de 1980, com a aprovação da Carta de Ottawa, em 1986, a promoção da saúde tornou-se um tema relevante na OMS e a importância da atividade física passou a crescer gradativamente (OMS, 1986). Na década de 1990, com o estabelecimento de um Comitê Interdepartamental sobre Ativi- dade Física, Esportes e Saúde, a OMS designou diversos centros colaboradores na Austrá- lia, na Finlândia, na Grã-Bretanha, em Hong Kong, no Japão e nos Estados Unidos. Além disso, divulgou declarações conjuntas com outras entidades internacionais de cardiologia e medicina esportiva sobre a inatividade física como fator de risco e seu papel para a saúde (OMS, 1993; 1994). Nos anos 2000, foi desenvolvida e aprovada a Estratégia Global em Alimentação, Atividade Física e Saúde e sua implementação começou nos países membros (OMS, 2017a). Em 2002, o tema do Dia Mundial da Saúde (celebrado no dia 7 de abril) foi a atividade física e a OMS lançou em São Paulo o dia 6 de abril como o Dia Mundial da Atividade Física. Nessa década também foram produzidos os primeiros documentos de políticas de atividade física (SHEPHARD et al., 2002). No início da década de 2010, pela primeira vez, a OMS emitiu Recomendações Globais sobre Atividade Física para a Saúde (OMS, 2010) e, em 2013, a Assembleia Mundial da Saúde, órgão decisório da OMS, aprovou o Plano de Ação Global de DCNTs, sendo o Brasil signatário (OMS, 2013). Nesse plano, visando uma redução de 25% da mortalidade prema- tura por DCNTs até 2025, definiu-se a inatividade física como um dos quatro fatores de risco que merecem atenção, com olhar ampliado, para que seus níveis possam ser melho- rados. Os outros três fatores são: consumo de tabaco, consumo nocivo de álcool e alimen- tação não saudável. Dentre as ações propostas neste plano estão as seguintes: � adoção e implementação de diretrizes nacionais sobre atividade física para a saúde; � desenvolvimento de parcerias e engajamento de todos os atores interessados no aumento da atividade física em todas as idades; � desenvolvimento de medidas políticas para promover a atividade física tanto no tempo livre/lazer quanto no deslocamento, trabalho/escola e no ambiente doméstico; � criação e preservação de ambientes construídos e naturais que fomentem a atividade física; � realização de campanhas públicas baseadas em evidências e iniciativas de marke- ting social para informar e motivar as pessoas sobre os benefícios da atividade física. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 22 Em 2015, na Assembleia Geral da ONU, composta por 193 Estados-membros, foram definidas metas mundiais para um mundo mais sustentável. Essa agenda, conhecida como Agenda 2030, é centrada em 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) e, para se ter êxito em atingi-los, é funda- mental o esforço conjunto entre governos, empresas, instituições e sociedade civil. Em linhas gerais, esses 17 objetivos, interconectados, visam erradicar a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir paz e prosperidade para todas as pessoas. Veja a seguir cada um dos objetivos pactuados. ERRADICAÇÃO DA POBREZA FOME ZERO E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL SAÚDE E BEM-ESTAR EDUCAÇÃO DE QUALIDADE IGUALDADE DE GÊNERO ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO ENERGIA LIMPA E ACESSÍVEL INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS AÇÃO CONTRA A MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA VIDA NA ÁGUA VIDA TERRESTRE PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES PARCERIAS E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO TRABALHO DECENTE E CRESCIMENTO ECONÔMICO Fonte: adaptado de https://www.un.org/sustainabledevelopment/news/communications-material/. Em 2016, a IX Conferência Global de Promoção da Saúde de Xangai gerou importantes interconexões com os ODS reconhecendo a saúde e o bem-estar como fatores essenciais para alcançar o desenvol- vimento sustentável (OMS, 2017b). Considerando a Agenda 2030 e o compromisso assumido pelos líderes mundiais de desenvolver respostas nacionais ambiciosas aos ODS, apresenta-se aqui uma excelente oportunidade para reorientar, renovar e combinar esforços coletivos para conectar-se à PNPS e promover a atividade física. Isso porque investimentos em promoção da atividade física po- dem contribuir com os diversos ODS, principalmente em países de baixa e média renda, como o Brasil (SALVO et al., 2021). PARA PENSAR E PLANEJAR Antes de continuar, olhe novamente os 17 ODS na figura acima. Reflita como a atividade física contribui para que seus objetivos sejam atingidos, e que tipos de atividades são necessárias para isso. Anote a sua resposta! PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 23 Provavelmente, o ODS 3 (referente à saúde e bem-estar) deve ter sido o primeiro identificado por você, uma vez que esse ODS 3 visa assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as pessoas independentemente da idade, a atividade física pode contribuir diretamente com a redu- ção da mortalidade prematura por DCNTs por meio da prevenção e do tratamento, da promoção da saúde mental e da promoção do bem-estar. Especificamente relacionado à atividade física no deslocamento pelo município,por exemplo, a ativi- dade física pode contribuir para uma redução de mortes e agravos por acidentes de trânsito, proteção do risco financeiro – já que deslocar-se ativamente pode ser uma alternativa econômica e saudável de ir de um lugar ao outro – e para a redução da poluição do ar. Todos esses benefícios da prática de atividade física para a saúde e bem-estar serão tratados detalhadamente um pouco mais à frente em nosso curso. Mas, e os outros ODS? Neste momento, você deve estar imaginando: Como a atividade física pode estar relacionada aos outros tão diversos ODS?. Quem nos explica isso é a própria ONU que, em um documento publicado em 2018, chamado “Plano de ação global sobre atividade física 2018–2030: mais pessoas ativas para um mundo mais saudável”, detalhou o papel da atividade física para contribuir com cada um dos outros 12 ODS dispostos a seguir (OMS, 2018). Abaixo, refletiremos um pouco mais sobre essas conexões. Acompanhe. FOME ZERO E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL FOME ZERO E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL ODS 2 Esse objetivo visa, dentre outras coisas, melhorar a nutrição, sendo que tanto o sobrepeso quanto a obesidade podem estar relacionados à má-nutrição. A atividade física contribui tanto com a manutenção do peso saudável, quanto com a redução/perda de peso daqueles com excesso de peso. EDUCAÇÃO DE QUALIDADE EDUCAÇÃO DE QUALIDADE ODS 4 A melhoria da qualidade educacional e a participação dos estudantes que pra- ticam atividades físicas levam a uma maior capacidade de concentração e me- lhora da função cognitiva, contribuindo para melhores resultados escolares/ acadêmicos (UNESCO, 2015b). Além disso, a atividade física nas escolas ajuda a desenvolver a socialização, as condições físicas, e também, a “educação em saúde”, fomentando atitudes e hábitos positivos em saúde, aumentando o prazer e o significado da atividade física (OMS, 2017c). Dada sua importân- cia, o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, lançado em 2021, contempla recomendações e benefícios da atividade física no contexto da educação física escolar, orientando que sejam realizadas, pelo menos, três aulas de 50 minutos por semana de educação física escolar (BRASIL, 2021a). IGUALDADE DE GÊNERO IGUALDADE DE GÊNERO ODS 5 Assim como em boa parte dos países, no Brasil também há uma importan- te questão de gênero no acesso e na participação da atividade física, com homens mais propensos e com mais oportunidades de serem ativos do que mulheres (BRASIL, 2021b). Sabendo disso e, pautado no princípio da equida- de, aumentar o acesso e as condições de manutenção da prática de atividade física, principalmente no tempo livre, entre meninas e mulheres contribui para reduzir as desigualdades entre os gêneros. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 24 TRABALHO DECENTE E CRESCIMENTO ECONÔMICO TRABALHO DECENTE E CRESCIMENTO ECONÔMICO ODS 8 Ao se promover a atividade física, seja por meio de oferta de aulas/interven- ções (serviços) ou pela criação de estruturas pode-se estimular a criação de novos empregos tanto para os prestadores diretos dos serviços e programas como para aqueles envolvidos em serviços de treinamento e desenvolvimen- to profissional. Além disso, no âmbito da infraestrutura, como por exemplo a criação de calçadões para caminhada e/ou ciclovias/ciclofaixas, também é possível oferecer oportunidades de emprego e desenvolvimento econômico. Por fim, grandes eventos esportivos podem promover o turismo, fortalecendo as economias locais, aumentando o emprego e contribuindo para o cresci- mento econômico. INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA ODS 9 A criação de infraestrutura para caminhada e para o uso de bicicleta, além de contribuir para o desenvolvimento econômico, tem sido considerada uma alternativa fundamental para o engajamento tanto em atividades físicas como no deslocamento. Nesse sentido, além de contribuir para o transporte sustentável, essas estruturas são importantes para a atividade física e para o bem-estar humano, incluindo a saúde física e mental. Por fim, é importante considerar que esses tipos de estruturas, além de sustentáveis, são resilien- tes, equitativas e acessíveis. REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES ODS 10 Geralmente, a atividade física e os esportes estão associados a valores como justiça, inclusão e empoderamento, que podem encorajar maior contribuição para os domínios social, econômico e político. Assim, a atividade física leva à reflexões importantes para fomentar sociedades inclusivas. CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS ODS 11 Ao considerarmos que a caminhada e a bicicleta são meios de transporte sus- tentáveis e que podem ser financeiramente acessíveis, especialmente para aqueles em situações vulneráveis, a melhoria da infraestrutura para caminha- da e uso da bicicleta, além de contribuir para a prática de atividade física, também pode melhorar a segurança viária para todos os usuários (PUCHER et al., 2003). Além disso, não basta só ampliar a extensão dessas estruturas nos municípios para aumentar a conectividade entre os bairros, também é necessário melhorar a qualidade, a segurança e a sinalização (OPAS, 2020). Outro aspecto a ser considerado é que a infraestrutura para a atividade física como deslocamento não se restringe apenas a calçadões e ciclovias/ ciclofaixas. Ao melhorar o sistema de transporte público, como, por exemplo, estações de metrô, trem e terminais de ônibus e veículos sobre trilhos (VLT) também se contribui para o aumento da caminhada e do ciclismo, dada a necessidade de deslocamento da origem até o acesso ao transporte público e do transporte público até o destino final (OMS, 2016). Outras melhorias que favoreçam a interação entre o uso da bicicleta e os sistemas de transporte PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 25 em massa, como, por exemplo, bicicletários nas estações ou a possibilidade de transporte da bicicleta no metrô, poderiam tornar o uso da bicicleta mais atrativo. Além do aumento da atividade física, o deslocamento ativo e o trans- porte público levam à redução do uso do automóvel e, portanto, à menor emissão de gases poluentes, reduzindo assim o impacto ambiental. CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS ODS 12 Aumentar as oportunidades da caminhada e do uso da bicicleta como meio de deslocamento contribui para a sustentabilidade e a preservação da natu- reza por meio da redução do uso de veículos motores e maior conscientização sobre o impacto ambiental dos indivíduos. Além disso, o engajamento em atividades físicas na natureza, seja em áreas verdes como parques e praças, ou áreas azuis, como próximo a rios, lagos ou oceano, e a exposição à nature- za podem favorecer a valorização desses espaços e o incentivo às atividades turísticas, promovendo maior procura de espaços semelhantes e preservação dos espaços existentes (WARD; PARKER; SHACKLETON, 2009). Favorecer a criação e ampliação de áreas verdes nos municípios também é uma forma de melhorar a qualidade do ar e de oportunizar práticas de atividade física ao ar livre com segurança e qualidade de infraestrutura nesses espaços públicos. AÇÃO CONTRA A MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA AÇÃO CONTRA A MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA ODS 13 Uma política adequada quanto ao uso do solo, como, por exemplo, zonea- mentos que contemplem tanto áreas residenciais como comerciais, e inter- venções fiscais, ambientais e educacionais que apoiem os deslocamentos ativos contribuem para reduzir o uso do automóvel para transporte (SUS- TAINABLE MOBILITY FOR ALL, 2017). Por meio da redução da demanda por combustíveis fósseis e suas consequências para o clima global, a atividade física como forma de deslocamento ajuda a mitigar as mudanças climáticas.A Agenda Convergente Mobilidade Sustentável e Saúde, liderada pela OPAS, reúne uma série de evidências, reflexões e propostas de ações para facilitar a compreensão e orientar os gestores públicos municipais em questões rela- tivas à mobilidade urbana. Nesse documento, é reforçada a necessidade de um adensamento da cidade e uma cidade polinucleada, estimulando novas centralidades econômicas na malha urbana (OPAS, 2020). VIDA TERRESTRE VIDA TERRESTRE ODS 15 A atividade física em ambientes naturais contribui para seu uso sustentável e para a valorização, conservação e restauração da natureza. A valorização e a “apropriação” desses espaços pela comunidade aumentam a demanda pela preservação do mesmo, contribuindo para garantir a biodiversidade e ajudar a proteger/prevenir a extinção de espécies ameaçadas. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 26 PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES ODS 16 A atividade física e os esportes, especialmente os coletivos, em geral são as- sociados a valores positivos como inclusão e cooperação, unindo pessoas de diferentes idades, sexo, status socioeconômico e crenças políticas. Um maior senso de comunidade por meio da atividade física pode ajudar a reduzir a violência e os conflitos. PARCERIAS E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO PARCERIAS E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO ODS 17 Ao propor ações nacionais de promoção de atividade física, como, por exem- plo, o Programa Academia da Saúde (PAS) e o Incentivo Financeiro de Ativi- dade Física (IAF) na APS, faz-se necessário o fortalecimento de parcerias de todas as partes interessadas, incluindo o governo federal, estadual, distrital e principalmente municipal, bem como a própria sociedade civil. Além disso, ações intersetoriais podem ser fortalecidas, como, por exemplo, os setores de saúde e educação, no Programa Saúde na Escola (PSE). Todas essas conexões mostram o quanto a compreensão da saúde de forma ampliada não fica res- trita apenas ao ODS 3, sendo necessários diferentes cenários propositivos. Assumir a importância da atividade física como parte da produção do cuidado em saúde contribui na busca por outros atores e objetiva a interlocução e a troca de saberes, por meio da articulação de redes interdisciplinares e multiprofissionais, estimulando a produção e o planejamento de intervenções promotoras de saúde. REFLEXÃO Dado esse breve histórico sobre a promoção da atividade física na agenda da saúde pública global, como você observa o papel da atividade física nas publi- cações da OMS? Você consegue observar a transição de um interesse leve e temporário, nas décadas de 1960 e 1970, para um protagonismo importante nas estratégias e ações globais? Ficou claro para você a consolidação da ativida- de física como parte importante para o desenvolvimento sustentável no debate internacional? Por fim, e não menos importante: como esse movimento global impactou a agenda nacional da atividade física? 1.2.3 | A importância da promoção da atividade física na agenda do SUS Muito embora tenhamos discutido um pouco no item anterior sobre o histórico da promoção da ativi- dade física na agenda da saúde pública global, é fundamental explorar e entender o papel da atividade física especialmente no contexto da saúde pública brasileira, principalmente na agenda do SUS. Após a implementação do SUS, em 1990, teve início o processo de busca pelo rompimento de um importante paradigma na saúde brasileira, focado principalmente na doença e no tratamento dos seus agravos. No novo sistema, regido pelos princípios da universalidade, equidade e integralidade, a APS passou a ganhar maior espaço. Nesse sentido, passou a ser mais valorizado o cuidado integral com as pessoas, por meio das reflexões e ações acerca da promoção da saúde, em vez de apenas tratar doenças ou condições específicas. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 27 Realizado por meio de uma assistência abrangente, acessível e baseada na comunidade, o SUS passou a contemplar um amplo espectro de serviços que vão desde ações de promoção da saúde no territó- rio, a partir do entendimento dos DSS, até a prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, controle de doenças e cuidados paliativos. O Sistema busca atuar, inclusive, em outros determinantes, como os econômicos, os culturais e os ambientais, que normalmente vão além do próprio setor da saúde e requerem articulações intrassetoriais, intersetoriais e multiprofissionais. Para entendermos mais sobre a importância da promoção da atividade física na agenda do SUS, dis- cutiremos políticas e programas do Ministério da Saúde (MS) de 2006 a 2022, conforme a linha do tempo a seguir. Revisão da Política Nacional de Promoção da Saúde 2006 2007 2008 2013 2016 Atividade Física na agenda do SUS • Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares • Política Nacional de Atenção Básica • Política Nacional de Promoção da Saúde • Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) Programa Saúde na Escola Núcleo Ampliado de Saúde da Família 2011 • Programa Academia da Saúde • Revisão da Política Nacional de Atenção Básica Revisão do Programa Academia da Saúde 2014 2015 Lançamento do Caderno de Práticas Corporais, Atividade Física e Lazer do Programa Saúde na Escola Revisão do Programa Academia da Saúde PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 28 No ano de 2006 foram instituídos e publicados importantes marcos normativos para a promoção de saúde e da atividade física na agenda do SUS, como a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICS) e a Política Nacional de Promo- ção da Saúde (PNPS). Em 2006, a PNPICS incluiu as Práticas Corporais e Atividades Físicas na Tabela de Serviços/Classifica- ções do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – SCNES/SUS. Naquele contexto, a implantação de práticas corporais abertas à população em sua rede de Unidades de Saúde buscava formas diferenciadas de produzir saúde, compor relações sociais e promover possibilidades para • Incentivo federal de custeio para implementação de ações de atividade física no âmbito da APS nos municípios e no Distrito Federal • Plano estratégico de difusão, disseminação e implementação do guia de atividade física para a população brasileira: documento orientativo às instituições de ensino superior • Plano estratégico de difusão, disseminação e implementação do guia de atividade física para a população brasileira: documento orientativo para Ministérios do Governo Federal • Plano estratégico de difusão, disseminação e implementação do guia de atividade física para a população brasileira: documento orientativo às Secretarias de Estado de Saúde 2022 ‡ Revisão da Política Nacional de Atenção Básica ‡ Consolidação das Portarias do Ministério da Saúde ‡ Revisão do Programa Saúde na Escola 2017 • Lançamento do Guia de Atividade Física para a População Brasileira • Lançamento das Recomendações para o Desenvolvimento de Práticas Exitosas de Atividade Física na APS do SUS • Lançamento do Guia de Atividade Física para a População Brasileira: recomendações para gestores e profissionais de saúde • Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis no Brasil 2021-2030 2021 • Políticas Públicas de Atividade Física Análise de Documentos Governamentais em Âmbito Mundial • Recomendações para Operacionalização da Política Nacional de Promoção da Saúde na Atenção Primária à Saúde • Caderno temático e Guia de Bolso do PSE: promoção da atividade física • Proteja – Estratégia Nacional para Prevençãoe Atenção à Obesidade infantil: orientações técnicas PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 29 melhorar a qualidade de vida da população (MORETTI et al., 2009). A inserção formal do profissional de educação física, a partir de recursos federais, no âmbito do SUS, ocorreu somente em 2008, com a criação dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF). Mas é importante lembrar, também, que mesmo anteriormente a atividade física já tinha um papel importante na APS, sendo oferecida pelos profissionais de saúde. Visando o fortalecimento da promoção da saúde no SUS, foi organizada a vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, a Vigitel, o que possibilitou o monitoramen- to de indicadores da prática de atividade física por meio de inquéritos populacionais. Adicionalmente, foram financiados projetos de atividade física em cerca de 1.500 municípios entre 2005 e 2010 (MALTA et al., 2014). Abordaremos a seguir a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB); passando pela Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS); Programa Saúde na Escola (PSE); Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICS);a equipes multiprofissionais; Programa Academia da Saúde (PAS); Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); culminando no incentivo federal de custeio para implementação de ações de atividade física no âmbito da APS nos municípios e no Distrito Federal (IAF). A PNAB, publicada em 2006 e revisada em 2011 e 2017, busca fortalecer a APS fomentando a ampliação da cober- tura, provendo cuidados integrais e promovendo saúde. A revisão de 2011 foi particularmente importante, pois possi- bilitou a ampliação das ações intersetoriais e de promoção de saúde, inclusive a partir de programas como o PAS e o PSE, que abordaremos em breve. No SUS, a política de pro- moção da saúde é vista como uma articulação transversal, que considera os fatores que colocam a saúde da popu- lação em risco e as diferentes necessidades, territórios e culturas, articulando mecanismos que reduzam situações de vulnerabilidades, promovam equidade e fomentem a participação e o controle social. É importante destacar a Portaria Interministerial nº 1.010, de 8 de maio de 2006, que se refere à diretrizes para a promoção da alimentação saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito nacional, e a Portaria Interministerial nº 1.055, de 25 de abril de 2017, que estabelece critérios para adesão ao PSE. Ambas estabelecem como uma das ações a promoção das práticas corporais, da atividade física e do lazer nas escolas. A PNPS, em 2006, já destacava a educação em saúde com ênfase na promoção da atividade física e das práticas corporais na promoção de hábitos saudáveis de vida. Em 2014, com a revisão dessa política, destacou-se as práticas corporais e as atividades físicas como um dos oito temas prioritários (BRASIL, 2018). Nesse sentido, um dos eixos de implementação da Política Nacional de Promoção de Saúde (PNPS) é promover ações, aconselhamento e divulgação de práticas corporais e atividades físicas, incentivando a melhoria das condições dos espaços públicos, considerando a cultura local e incorporando brincadeiras, jogos, danças populares, entre outras práticas. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 30 Dado esse contexto de articulação política e a agenda nacional de enfrentamento das DCNTs, tendo a PNPS como norteadora, em 2011 foi criado o Programa Academia da Saúde (PAS). Esse programa, depois de pouco mais de uma década de existência, pode ser considerado um dos maiores progra- mas de promoção de saúde já implementados no Brasil. Embora tenha sido instituído em 2011, foi baseado em experiências exitosas e promissoras, como o Serviço de Orientação ao Exercício (SOE) da Prefeitura de Vitória (ES) e o Programa Academia da Cidade nos municípios de Recife (PE), Curitiba (PR), Aracaju (SE) e Belo Horizonte (MG) (MALTA; MIELKE; PEREIRA DA COSTA, 2020). Essas experiências locais tinham como ponto comum a atividade física e outras ações de promoção da saúde, além da presença de profissionais de educação física e nutricionistas, dentre outros, com o uso de espaços públicos e custeio pelo poder público. Com estrutura e quadro de profissionais diferentes das estruturas tradicionais dos serviços de saúde, o Programa Academia da Saúde passou a ser um ponto de atenção na rede de serviços, configurando-se como uma nova porta de entrada na APS, promovendo possibilidades de encontros e aproximações com os usuários, contribuindo para a promoção da saúde e de modos de vida saudáveis. A estrutura, também chamada de polo e financiada com recurso federal e das gestões locais, é com- posta de áreas cobertas e descobertas, com equipamentos para a prática de atividade física, e pode ter três configurações diferentes, indo da modalidade básica a uma mais ampliada. Além da possibilidade de construir polos com recurso federal, o programa incorpora também iniciativas municipais/distrital que foram consideradas similares à proposta, que podem receber o recurso de custeio do Ministério da Saúde, adequando-se às suas normativas. Além da estrutura em si, outro fator essencial para o sucesso do Programa são os 13 tipos de profis- sionais qualificados, que desenvolvem atividades culturalmente inseridas e adaptadas ao território, contemplando os eixos descritos a seguir. Práticas corporais e Atividades físicas. Produção do cuidado e de modos de vida saudáveis. Promoção da alimentação saudável. Práticas integrativas e complementares. Os 13 profissionais que podem atuar no PAS são os seguintes: profissional de educação física na saúde; fisioterapeuta geral; assistente social; terapeuta ocupacional; fonoaudiólogo geral; nutricionista; psicólogo; sanitarista; educador social; musicoterapeuta; arteterapeuta; artistas de dança; dançarinos tradicionais populares. 1 2 3 4 5 6 7 8 Eixos do Programa Academia da Saúde Práticas artísticas e culturais. Educação em saúde. Planejamento e gestão. Mobilização da comunidade. PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 31 Note que as ações do PAS se baseiam em uma visão ampliada, em que a oferta da atividade física está interligada à cultura local, em conformidade com as necessidades do território. Em um relatório de 2019, observou-se que as ações de promoção da atividade física mais frequentes foram alongamento (76%), ginástica aeróbica (62%) e treinamento funcional (59%) (BRASIL, 2022a). Al- guns estudos recentes mostram resultados promissores do impacto da criação do PAS na diminuição de internações por acidente vascular cerebral (AVC), gastos com internações hospitalares por doenças cerebrovasculares e redução na taxa de mortalidade por hipertensão e por câncer de cólon (LIMA et al., 2020; RODRIGUES, 2021; RODRIGUES et al., 2021; SILVA, 2021). Seu município tem polo do PAS? Clique aqui, no link https://aps.saude.gov.br/ape/ academia, e saiba mais como implantar um polo do PAS no seu município. SAIBA MAIS Ainda, com o fortalecimento da pauta da promoção da atividade física, o PSE, instituído em 2007 e atualizado em 2017, tem como objetivo ações de promoção, prevenção e atenção à saúde para os estudantes da rede pública da educação básica. Surgiu como uma política intersetorial entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, no âmbito das escolas e Unidades Básicas de Saúde (UBS), realizada pelas Equipes de Saúde e Educação de forma integrada. Assim, a escola se torna um lócus privilegiado de promoção da saúde, em seu sentido amplo de produção de saúde. Visando o pleno desenvolvimento desses estudantes, esse programa prevê 13 ações, confira. Ações do ProgramaSaúde na Escola 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Ação inserida no programa a partir da publicação da Portaria nº 1.857, de 28 de julho de 2020. Verificação da situação vacinal Alimentação saudável e prevenção da obesidade infantil Promoção e avaliação de saúde bucal e aplicação tópica de flúor Saúde ocular e identificação de possíveis sinais de alteração Combate ao mosquito Aedes aegypti Saúde auditiva e identificação de possíveis sinais de alteração Prevenção ao uso de álcool, tabaco, crack e outras drogas Identificação de sinais de agravos de doenças em eliminação Prevenção de violências e acidentes Práticas corporais, atividade física e lazer nas escolas Promoção da cultura de paz, cidadania e direitos humanos Direito sexual e reprodutivo e prevenção de DST/Aids Prevenção à Covid-19 nas escolas Um trabalho, com dados de 2014 a 2020, registrou um crescente número de ações de práticas cor- porais e atividade física no contexto do PSE. Os autores reforçaram ainda que, no ciclo 2019-2020, o PSE atingiu em torno de 95% dos municípios brasileiros e foi considerado um importante meio para o fortalecimento das articulações entre os setores da educação e saúde (MANTA, 2022). https://aps.saude.gov.br/ape/academia https://aps.saude.gov.br/ape/academia PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 32 Contudo, os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), de 2019, apontam que apenas 28,1% dos estudantes brasileiros eram fisicamente ativos (realizaram 300 minutos ou mais de atividades físicas na semana anterior à pesquisa), sendo 38,6% dos meninos e 18,8% das meninas (IBGE, 2019). Nesse sentido, além de aumentar o número de estudantes fisicamente ativos, por meio de práticas desportivas, lúdicas e jogos, as ações no contexto do PSE devem contribuir com a promoção da saúde e da educação dos estudantes, em um caráter coletivo, porém potencializando a construção de apren- dizagens sobre si mesmo (FRAGA; WACHS, 2007). Ademais, esse tipo de ação na escola pode estimular os alunos a conhecer e refletir sobre as possibilidades de prática de atividade física, a partir de uma perspectiva histórica e cultural e uma ampliação do saber-fazer na educação (VIANA; MAIA; MORGAN, 2017). Também, há evidências de que a atividade física regular contribui e melhora as habilidades cognitivas, em função da regulação hormonal e de neurotransmissores (SCHMOLESKY, 2013). O Guia de Atividade Física para a População Brasileira elenca também uma série de outros benefícios para a saúde física, motora, psicológica e social dos estudantes. Além disso, ressalta a importância de uma educação física escolar de qualidade que deve ser preferencialmente ministrada por um professor de educação física, em pelo menos três aulas semanais de 50 minutos cada, incluindo conteúdos que possibilitem experiências positivas e abordagens inovadoras ao longo de todos os anos da educação básica, incluindo a educação infantil. Para saber como ter o Programa Saúde na Escola no seu município, acesse: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pse SAIBA MAIS É importante destacar também o papel das equipes multiprofissionais em ações, programas e polí- ticas para a promoção da atividade física no SUS. Vimos anteriormente a relação entre os diversos determinantes de saúde presentes também nos 17 ODS e a promoção da atividade física – lembra de quantos ODS a atividade física pode colaborar? Dos 17 ODS, a atividade física pode colaborar em 13 deles, o que demanda o envolvimento de todos os profissionais do setor saúde e de outros setores. Nesse sentido, o Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), criado em 2008 e redefinido como equipe multidisciplinar em 2020, contribuiu de forma significativa para o desafio da integração de diferentes saberes e produção do cuidado compartilhado. Suas ações e diretrizes consideraram uma abordagem da determinação social do processo saúde-doença. A equipe do NASF poderia ser com- posta por: ▶ profissionais de educação física na saúde, ▶ médico acupunturista, ▶ assistente social, ▶ farmacêutico, ▶ fisioterapeuta, ▶ fonoaudiólogo, ▶ médico ginecologista, ▶ médico homeopata, ▶ nutricionista, ▶ médico pediatra, ▶ psicólogo, ▶ médico psiquiatra e ▶ terapeuta ocupacional. Posteriormente, outros profissionais foram incluídos como médico veterinário, médico do trabalho, profissional de arte/educação, entre outros (BRASIL, 2014; 2017). https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/pse PROMOÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E SUA INSERÇÃO NOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E DE GESTÃO DO SUS UN1 33 Assim como os demais profissionais de saúde envolvi- dos no cuidado dos usuários, o profissional de educa- ção física atuava a partir de saberes relacionados ao campo - saberes compartilhados, em torno de um mesmo objetivo de trabalho da equipe - bem como à atuação a partir de saberes e domínios técnicos especí- ficos de cada profissional (OLIVEIRA, 2010). Em relação a isso, no âmbito da atividade física, o papel do profissio- nal de educação física era de coordenar, planejar, reali- zar treinamentos especializados, e, como saber de núcleo, participar de equipes multidisciplinares e inter- disciplinares, constituindo planos de cuidado com a equipe multiprofissional, inserindo as ações de ativida- de física e práticas corporais, entre outros. Histórico da atuação do profissional de educação física em equipes multiprofissionais Após a revisão da PNAB, em 2017, e a implementação do Programa Previne Brasil, em 2019, os profis- sionais dos NASF foram direcionados à Rede de Atenção à Saúde (RAS) e seus serviços, incluindo a APS, a exemplo do CAPS, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), dos ambulatórios especializados, entre outras redes. Os CAPS, por exemplo, voltados aos atendimentos de pessoas com algum grau de sofrimento psíquico ou transtorno mental, passaram a ser beneficiados pela oferta de atividade física (BRASIL, 2012). O tratamento de reabilitação para usuários de substância psicoa- tiva, como uso de álcool, crack e outras substâncias, quando aliado com a atividade física, apresenta benefícios, como controle de ansiedade, depressão, além de promover a socialização, cooperação e auxiliar na redução de danos (ORBON; MERCADO; BALILA, 2015; RAVINDRAN; SILVA, 2013). Nesse sentido, existem várias formas pelas quais o profissional de educação física pode atuar, por meio de programas com esportes, danças, lutas, alongamentos, jogos e brincadeiras, dentre outros. Ainda, por meio do aconselhamento para a prática de atividade física e que pode ser feito por qual- quer profissional de saúde, partindo dos modos de vida de cada pessoa e seu contexto de vida. Com a descontinuação dos credenciamentos de Núcleos Ampliados de Saúde da Família (NASF), em janeiro de 2020, cada município passou a ter autonomia para elaborar a equipe conforme suas neces- sidades locais, e o novo modelo de financiamento da APS passou a ter como métrica o resultado dos indicadores em saúde, mudanças que demandam novos desafios à gestão (BRASIL, 2022b). Assim, de modo a aumentar a oferta de ações de atividade física pelos estabelecimentos de saúde da APS, foi publicada a Portaria GM/MS nº 1.105, de 15 de maio de 2022, quando o Ministério da Saúde instituiu o IAF. Essa iniciativa, cujo objetivo é fomentar e estimular a prática de atividade física, financia, além da contratação de profissionais de educação física na saúde, a readequação de espaços para a prática de atividade física e a compra de materiais para a qualificação da oferta de ações de atividade física. Em 2022 foram credenciados 8.230 estabelecimentos de saúde da APS, do SUS, em 4.128 municípios e no Distrito Federal, por meio da Portaria GM/MS nº 2.103, de 30 de junho de 2022. Vale destacar que o IAF não substitui o PAS, que continua sendo financiado e incentivado
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