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ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUEMICO E HEMORRÁGICO OBJETIVOS: Acidente vascular encefálico (AVE) é a síndrome de déficit neurológico focal agudo causada por um distúrbio vascular que danifica o tecido encefálico. Etiologia: Os fatores de risco para o AVE são idade, sexo, raça, AVE prévio, histórico familiar, hipertensão, tabagismo, diabetes melito, doença cardíaca, hipercolesterolemia e hipercoagulopatia. A incidência de AVE aumenta com a idade, a taxa de incidência de AVE entre homens mais jovens é maior do que em mulheres da mesma idade, mas não em idades mais avançadas. Como as mulheres vivem mais que os homens, mais mulheres morrem de acidente vascular encefálico a cada ano. Indivíduos negros e alguns hispânicos/latino-americanos apresentam maior incidência de todos os tipos de AVE e taxas de mortalidade mais elevadas em comparação com caucasianos. A pressão sanguínea é um forte determinante do risco de desenvolvimento de AVE. Quanto maior a pressão, maior o risco de acidente vascular encefálico. A doença cardíaca – especialmente a fibrilação atrial e outras condições que predispõem à formação de coágulo na parede do coração ou das válvulas ou à embolia paradoxal por meio de shunt da direita para a esquerda – predispõe ao desenvolvimento de AVE cardioembólico. A policitemia, anemia falciforme (durante a crise falciforme) e distúrbios sanguíneos predispõem à formação de coágulos nos vasos cerebrais. Outros fatores de risco comportamentais possíveis de serem modificados incluem obesidade, sedentarismo, uso abusivo de álcool e de drogas ilícitas, transtornos de hipercoagulabilidade, terapia de reposição hormonal e uso de contraceptivos orais.21 O aumento no risco de desenvolvimento de AVE está associado à terapia de reposição hormonal. O consumo de álcool mais pesado aumenta o risco de acidente vascular encefálico. Várias substâncias psicoativas de uso abusivo, cocaína, anfetaminas e heroína estão aliadas ao desenvolvimento de AVE. A eliminação ou o controle dos fatores de risco para AVE (p. ex., tabagismo, controle dos níveis de gordura e açúcar no sangue, redução da hipertensão) oferecem a melhor oportunidade de prevenção de isquemia cerebral por aterosclerose cerebral. Isquêmico vs Hemorrágico Existem dois tipos principais de AVE: isquêmico e hemorrágico. O AVE isquêmico é causado por uma interrupção do fluxo sanguíneo em um vaso cerebral e constitui o tipo mais comum, representando 87% de todos os casos de acidente vascular encefálico. O AVE hemorrágico é responsável por 13% dos casos de acidente vascular encefálico, 10% das hemorragias intracerebrais e 3% das hemorragias subaracnoides. O AVE hemorrágico geralmente se desenvolve a partir de uma ruptura dos vasos sanguíneos causada por hipertensão, aneurisma ou malformação arteriovenosa e tem uma taxa de mortalidade muito mais alta do que o acidente vascular encefálico isquêmico. Acidente Vascular Cerebral Isquêmico O AVE isquêmico é causado por obstrução vascular cerebral resultante de trombose ou embolia. O AVE isquêmico pode ser classificado conforme cinco principais mecanismos de subtipos de acidente vascular encefálico e sua frequência: 20% por trombose de uma grande artéria (doença aterosclerótica), 25% por trombose de pequenas artérias penetrantes (AVE lacunar), 20% por embolia cardiogênica, 30% por AVE criptogênico (causa indeterminada) e 5% por causas diversas. Uma vez estabelecido o diagnóstico, é obtida uma tomografia computadorizada (TC) sem contraste ou ressonância magnética (RM). Penumbra isquêmica no AVE em evolução. Durante a evolução de um acidente vascular encefálico, geralmente existe um núcleo central de células mortas ou para morrer, cercado por uma banda isquêmica ou área de perfusão mínima das células, chamada de penumbra (zona de fronteira). As células do encéfalo na área de penumbra recebem fluxo sanguíneo marginal, suas atividades metabólicas são comprometidas, mas é mantida a integridade estrutural das células encefálicas. Se as células da área de penumbra sobreviverão depende do retorno bem-sucedido da circulação adequada, da quantidade de produtos tóxicos liberados pelas células adjacentes que estão morrendo, do grau de edema cerebral e de alterações no fluxo sanguíneo local. Se a liberação de produtos tóxicos resultar na morte de células adicionais na área de penumbra, a zona de fronteira de tecidos mortos ou moribundos se ampliará e aumentará o volume de tecido isquêmico circundante. Acidente isquêmico transitório. O AIT é um episódio transitório de disfunção neurológica causada por isquemia localizada encefálica, medular ou retinal, sem infarto agudo. O AIT reflete uma perturbação temporária do fluxo sanguíneo cerebral focal, que é revertida antes de ocorrer o infarto. A definição clínica de AVC isquêmico AIT baseia-se em sinais e sintomas neurológicos referentes à falência de suprimento sanguíneo em determinado território da circulação. Em torno de 10% dos pacientes com AIT apresentarão AVC nos próximos 90 dias, a maior parte nas primeiras 24 horas. Classicamente, a definição de AIT compreendia a ocorrência de sintomas com resolução completa em até 24 horas. Cumpre salientar, contudo, que raramente duram mais que 1 hora – no geral, de 10 a 15 minutos. As causas de AIT são as mesmas que as do acidente vascular encefálico isquêmico e incluem doença aterosclerótica dos vasos cerebrais e embolia. Os AIT são importantes porque podem ser um aviso da iminência de um AVE. Há um risco maior de desenvolvimento de AVE logo após AIT, de 10 a 15% dos pacientes têm um AVE no intervalo de 3 meses, com 50% de ocorrência em 48 h.23 O diagnóstico de AIT antes de um AVE pode possibilitar a intervenção cirúrgica ou clínica que impede a eventual ocorrência do AVE e dos déficits neurológicos associados. AVE de grandes vasos | Trombose. Trombos são a causa mais comum de AVE isquêmico, ocorrendo geralmente em vasos sanguíneos ateroscleróticos. Na circulação cerebral, as placas ateroscleróticas são encontradas mais comumente em bifurcações arteriais. A localização mais comum para formação de placas inclui vasos grandes do encéfalo, nomeadamente a origem da carótida interna e das artérias vertebrais e as junções das artérias basilares e vertebrais. O infarto cerebral pode ser o resultado de uma trombose aguda local e de oclusão em um local de aterosclerose crônica, com ou sem embolização distal do material da placa, ou de falha crítica na perfusão distal a uma estenose (zona limítrofe). Esses infartos afetam frequentemente o córtex, causando afasia ou defeitos de negligência, do campo visual ou cegueira monocular transitória (amaurose fugaz). Na maioria dos casos de AVE, é afetada uma única artéria cerebral e seu território. Em geral, os casos de AVE trombótico são observados em indivíduos idosos e frequentemente são acompanhados por sinais de doença aterosclerótica cardíaca ou arterial periférica. AVE de pequenos vasos | Lacunar. O infarto lacunar são obstruções do fluxo pequenas (1,5 a 2 cm) ou muito pequenas (3 a 4 mm) localizadas nas porções não corticais mais profundas do encéfalo ou do tronco encefálico. São encontrados no território de uma única artéria penetrante profunda que abastece a cápsula interna, núcleos da base ou o tronco encefálico. São o resultado da oclusão de pequenos ramos penetrantes das grandes artérias cerebrais, comumente a artéria cerebral média e posterior. No processo de cicatrização, os infartos lacunares deixam para trás pequenas cavidades ou lacunas. Acredita-se que resultem da lipo-hialinose arteriolar ou microateroma, comumente em um quadro de hipertensão crônica ou diabetes. Foram propostas seis causas básicas para o desenvolvimento de infartos lacunares: embolia,hipertensão, doença oclusiva de pequenos vasos, anormalidades hematológicas, pequenas hemorragias intracerebrais e vasospasmo. Devido ao tamanho e à localização, os infartos lacunares não causam déficits corticais, como afasia ou apraxia. Em vez disso, produzem “síndromes lacunares” clássicas e reconhecíveis, como hemiplegia motora simples, hemiplegia sensorial simples e disartria com síndrome da mão desajeitada. TC ou RM podem revelar várias lacunas, bem como alterações difusas na substância branca associadas a demência. AVE embólico. Um AVE embólico é causado pela movimentação de um coágulo sanguíneo que se desloca de sua origem até alcançar o encéfalo. Geralmente, afeta vasos cerebrais proximais maiores, muitas vezes alojados em bifurcações. O local mais frequente para um AVE embólico é a artéria cerebral média, refletindo o grande território desse vaso e sua posição como terminal da artéria carótida. Embora a maioria dos êmbolos cerebrais seja originária de um trombo localizado no coração esquerdo, também podem ter origem a partir de uma placa aterosclerótica nas artérias carótidas. A embolia viaja rapidamente até o encéfalo e se aloja em uma artéria menor, através da qual não consegue trafegar. O AVE embólico geralmente tem um início súbito, com déficit máximo imediato. Várias condições cardíacas podem predispor à formação de êmbolos que produzem AVE embólico, como doença reumática cardíaca, fibrilação atrial, infarto do miocárdio recente, aneurisma ventricular, ateroma móvel do arco da aorta e endocardite bacteriana. A utilização da ecocardiografia transesofágica tem implicado um forame oval patente como fonte de embolia venosa paradoxal para o sistema arterial. O AVC cardioembólico ocorre devido à embolia de material trombótico originado no coração, sendo responsável por cerca de 20% dos AVCs isquêmicos. O trombo se forma na parede atrial ou ventricular, ou nas valvas cardíacas esquerdas, e então se desloca para a circulação arterial, podendo causar um AIT (déficit neurológico transitório) ou um AVC completo. Os AVCs cardioembólicos têm início repentino e o déficit neurológico é máximo desde o começo. Às vezes, ocorre hemorragia petequial após reperfusão, mas isso geralmente não é clinicamente significativo e é distinguido da hemorragia intracraniana que pode causar declínio neurológico. Os êmbolos do coração frequentemente se alojam na artéria carótida interna intracraniana, na ACM, na artéria cerebral posterior (ACP) ou em seus ramos. O tamanho do êmbolo afeta o território vascular que é afetado. A fibrilação atrial não reumática é a causa mais comum de AVC cardioembólico, levando à formação de trombos no átrio fibrilante ou no apêndice atrial. Outras causas incluem infarto do miocárdio, próteses valvares, cardiopatia reumática e embolização paradoxal. O risco de AVC em pacientes com fibrilação atrial pode ser estimado usando o escore CHA2DS2-VASc. A embolização paradoxal ocorre quando trombos venosos migram para a circulação arterial através de um forame oval patente (FOP) ou comunicação interatrial. Isso pode ser detectado por ecocardiograma com contraste de bolha. Além disso, a endocardite bacteriana pode causar embolia de vegetações valvares, levando a infartos microscópicos ou abscessos cerebrais. O AVC embólico arterioarterial ocorre quando trombos se formam em placas ateroscleróticas e se deslocam para artérias intracranianas, sendo mais comum que a trombose local em vasos cerebrais. Diferentes vasos, incluindo o arco aórtico, as artérias carótidas comuns, internas, vertebrais e basilar, podem ser fontes de embolia arterioarterial. Em resumo, os AVCs cardioembólicos são causados pela embolia de trombos do coração para a circulação cerebral, com diversas causas, incluindo fibrilação atrial e embolização paradoxal, e os êmbolos podem afetar diferentes vasos cerebrais. A aterosclerose carotídea é mais comum na bifurcação da carótida comum e na artéria carótida interna proximal, afetando também o sifão carotídeo no seio cavernoso. Fatores de risco incluem sexo masculino, idade avançada, tabagismo, hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia. Essa condição contribui para cerca de 10% dos AVCs isquêmicos. A doença carotídea pode ser classificada pelo estado sintomático ou assintomático da estenose, e o grau de estenose também influencia o risco de AVC. A estenose sintomática, onde ocorreu um AVC ou AIT na distribuição da artéria carótida, está associada a um risco mais elevado de AVC subsequente em comparação com a estenose assintomática. A aterosclerose intracraniana pode causar AVC por embolia ou trombose no local. É mais prevalente em asiáticos e negros e apresenta risco anual de AVC recorrente de aproximadamente 15%. A dissecção das artérias carótidas internas ou vertebrais é uma fonte comum de AVC embólico em pacientes jovens. A dissecção costuma ser dolorosa e pode preceder o AVC por horas ou dias. Dissecções extracranianas não causam hemorragia, ao contrário das intracranianas, que podem levar à hemorragia subaracnóidea devido à formação de pseudoaneurismas. Causas incluem síndrome de Ehlers-Danlos, doença de Marfan, necrose medial cística e traumatismo, sendo a terapia de manipulação da coluna um fator de risco. A maioria das dissecções melhora espontaneamente, e o tratamento é variado, incluindo anticoagulantes e ácido acetilsalicílico. CAUSAS MENOS COMUNS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Distúrbios de hipercoagulação aumentam o risco de trombose venosa cerebral. O lúpus eritematoso sistêmico com endocardite de Libman-Sacks e a síndrome antifosfolipídeo podem causar AVC embólico, requerendo anticoagulação a longo prazo. Homocisteinemia pode levar a tromboses arteriais. A trombose de seio venoso ocorre em situações como contraceptivos orais, gravidez, infecções intracranianas e trombofilias. Anemia falciforme pode causar AVC em crianças, tratada com exsanguineotransfusões. Displasia fibromuscular causa estreitamento segmentar alternado nas artérias cervicais, podendo levar a AITs ou AVC. Arterite temporal pode causar cegueira e, raramente, AVC. Arterite necrotizante pode produzir pequenos infartos isquêmicos. Vasculopatias induzidas por drogas, como anfetaminas e cocaína, podem causar AVC. Moyamoya é uma doença oclusiva de grandes artérias intracranianas, particularmente em asiáticos. Síndromes como encefalopatia posterior reversível e vasoconstrição cerebral reversível têm origens diversas e podem resultar em AVC. Leucoaraiose é consequência de infartos de pequenos vasos na substância branca subcortical. CADASIL é uma doença hereditária que causa AVC de pequenos vasos e demência. Fisiopatologia do AVCi A oclusão aguda de um vaso intracraniano reduz o fluxo sanguíneo para a região cerebral que ele supre. O grau de redução do fluxo é uma função do fluxo sanguíneo colateral, e este depende da anatomia vascular individual (que pode ser alterada pela doença), do local de oclusão e da pressão arterial sistêmica. Uma diminuição do fluxo sanguíneo cerebral para zero causa morte do tecido cerebral em 4 a 10 minutos; valores < 16 a 18 mL/100 g de tecido por minuto causam infarto dentro de 1 hora; e valores < 20 mL/100 g de tecido por minuto causam isquemia sem infarto, exceto quando se prolongarem por várias horas ou dias. Se o fluxo sanguíneo for restaurado para o tecido isquêmico antes do desenvolvimento de infarto significativo, o paciente pode apresentar apenas sintomas transitórios, e a síndrome clínica é denominada ataque isquêmico transitório (AIT). Outro conceito importante é a penumbra isquêmica, definida como a área de tecido isquêmico, mas com disfunção reversível, ao redor de uma área central de infarto. A penumbra pode ser visualizada por meio das imagens de perfusãopor RM ou TC. A penumbra isquêmica progredirá para infarto se não houver alteração do fluxo – portanto, salvar a penumbra isquêmica é o objetivo das terapias de revascularização. O infarto cerebral focal ocorre por meio de duas vias distintas: (1) uma via necrótica na qual a degradação do citoesqueleto celular é rápida, devido principalmente à insuficiência energética da célula; (2) uma via apoptótica na qual as células são programadas para morrer. A isquemia produz necrose ao privar os neurônios de glicose e oxigênio, o que, por sua vez, resulta em incapacidade das mitocôndrias de produzir ATP. Sem ATP, as bombas iônicas da membrana param de funcionar e os neurônios se despolarizam, permitindo que o cálcio intracelular se eleve. A despolarização celular também induz liberação de glutamato pelas terminações sinápticas; o glutamato extracelular em excesso produz neurotoxicidade por meio da ativação dos seus receptores pós-sinápticos, que aumentam o influxo neuronal de cálcio. Radicais livres são produzidos por degradação dos lipídeos da membrana e disfunção mitocondrial. Os radicais livres causam destruição catalítica das membranas e provavelmente danificam outras funções vitais das células. Graus menores de isquemia, como os vistos dentro da penumbra isquêmica, favorecem a morte celular apoptótica, que ocorre dias a semanas depois. A febre agrava muito a lesão cerebral durante a isquemia, bem como a hiperglicemia (glicose > 11,1 mmol/L [200 mg/dL]), portanto é razoável suprimir a febre e evitar a hiperglicemia tanto quanto possível. O valor da hipotermia induzida leve para melhorar os desfechos no AVC é objeto de pesquisas clínicas em andamento. Principais etapas na cascata de isquema cerebral: Etiologia do AVEi: Embora o tratamento inicial do AVC isquêmico agudo frequentemente não dependa da etiologia, é essencial estabelecer uma causa para reduzir o risco de recidiva. Deve-se dar atenção especial a fibrilação atrial e aterosclerose das carótidas, pois essas etiologias têm estratégias comprovadas de prevenção secundária. Diagrama ilustrativo dos três principais mecanismos subjacentes ao AVC isquêmico: 1. Oclusão de um vaso intracraniano por êmbolo que se origina em local distante (p. ex., fontes cardiogênicas como fibrilação atrial ou êmbolos arterioarteriais de placas ateroscleróticas carotídeas), muitas vezes acometendo os grandes vasos intracranianos; 2. Trombose in situ de um vaso intracraniano, em geral afetando as pequenas artérias penetrantes que se originam nas principais artérias intracranianas; 3. hipoperfusão causada por estenose por limitação de fluxo de um grande vaso extracraniano (p. ex., carótida interna) ou intracraniano, frequentemente gerando isquemia na “zona de fronteira”. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL DE PEQUENOS VASOS Fisiopatologia: O tronco da ACM, as artérias que constituem o polígono de Willis (segmento A1, artérias comunicantes anterior e posterior e segmento P1) e as artérias basilar e vertebrais dão origem a ramos de 30 a 300 μm que penetram nas substâncias cinzenta e branca profundas do cérebro e do tronco encefálico. Pode ocorrer oclusão de cada um desses ramos por doença aterotrombótica na sua origem ou em decorrência de espessamento lipo-hialinótico. A trombose desses vasos causa infartos pequenos que são chamados lacunas (latim para “lagos” de líquido, observados à necrópsia). Esses infartos variam de 3 mm a 2 cm de diâmetro. A hipertensão arterial e a idade são os principais fatores de risco. Manifestações clínicas: As síndromes de AVC de pequenos vasos mais comuns são: Hemiparesia motora pura por um infarto no ramo posterior da cápsula interna ou na ponte; a face, o braço e a perna quase sempre são acometidos; AVC sensitivo puro por infarto no tálamo ventral; Hemiparesia atáxica por infarto na parte ventral da ponte ou cápsula interna; Disartria e mão ou braço inábil devido a infarto na parte ventral da ponte ou no joelho da cápsula interna. Sintomas transitórios: (AIT de pequenos vasos) podem anunciar um infarto de pequenos vasos; podem ocorrer várias vezes por dia e durar apenas alguns minutos. A recuperação de um AVC de pequenos vasos tende a ser mais rápida e completa do que a recuperação de um AVC de grandes vasos; em alguns casos, contudo, há incapacidade permanente grave. Uma fonte (trombose ou embolia) de grandes vasos pode manifestar-se inicialmente como uma síndrome com infarto de pequenos vasos. Portanto, a pesquisa de fontes embólicas (artérias carótidas e coração) não deve ser completamente abandonada na avaliação desses pacientes. A prevenção secundária de AVC de pequenos vasos envolve modificação de fatores de risco, especificamente redução na pressão arterial. Diagramas e angiotomografias computadorizadas reformatadas em cortes coronais ilustrando as artérias penetrantes profundas implicadas em AVC de pequenos vasos. ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO (AIT) AITs são episódios de sintomas de AVC de breve duração; a definição padronizada de duração é < 24 horas, mas a maioria dos AITs dura < 1 hora. Se um infarto cerebral relevante for identificado nos exames de imagem, a entidade clínica é classificada como AVC independentemente da duração dos sintomas. Um exame de imagem cerebral normal após ATI não descarta a sua provável ocorrência; na verdade, a síndrome clínica é diagnóstica. As causas de AIT são semelhantes às causas de AVC, mas como os AITs podem anteceder um AVC, são um fator de risco importante que deve ser considerado em separado e com urgência. Os AITs podem advir de êmbolos para o encéfalo ou de trombose in situ de um vaso intracraniano. Com um AIT, o vaso sanguíneo ocluído reabre e a função neurológica é restaurada. O risco de AVC após um AIT é de 10 a 15% nos primeiros 3 meses, e a maioria dos eventos ocorre nos primeiros 2 dias. Esse risco pode ser diretamente estimado utilizando o bem validado método ABCD2 (Tab. 420-5). Portanto, avaliação e tratamento urgentes são justificados. Como as etiologias do AVC e do AIT são idênticas, a avaliação do AIT deve seguir paralelamente a do AVC (Fig. 420-2). A característica melhora do AIT é uma contraindicação à trombólise. Porém, como o risco de AVC subsequente nos primeiros dias após um AIT é alto, a oportunidade de se administrar rtPA mais rapidamente caso um AVC ocorra pode justificar a hospitalização da maioria dos pacientes. Diagnóstico e Exame físico: O exame físico deve concentrar-se no sistema vascular periférico e cervical (pressão arterial e ausculta das carótidas à procura de sopros), no coração (arritmia, sopros), nos membros (êmbolos periféricos) e na retina (efeitos da hipertensão e êmbolos de colesterol [placas de Hollenhorst]). Realiza-se um exame neurológico completo para localizar anatomicamente o AVC. Um exame de neuroimagem quase sempre é indicado, sendo essencial para os pacientes candidatos a trombólise; pode ser combinado com angio-TC ou angio-RM para visualizar a vasculatura do pescoço e os vasos intracranianos. Radiografia de tórax, eletrocardiograma (ECG), exame de urina, hemograma completo, velocidade de hemossedimentação (VHS), eletrólitos séricos, ureia, creatinina, glicemia, lipidograma, tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial (TTP) muitas vezes são úteis e devem ser considerados em todos os pacientes. Um ECG e telemetria cardíaca subsequente podem demonstrar arritmias ou revelar evidências de infarto do miocárdio (IM) recente. De todos esses estudos, apenas os exames de imagem do cérebro e a glicemia capilar são necessários antes da administração de rtPA IV; os resultados de outros exames não devem retardar a rápida administração de rtPA IV se o paciente for elegível. AVE hemorrágico O AVE mais frequentementefatal decorre da ruptura espontânea de um vaso sanguíneo cerebral. A hemorragia intracerebral resultante pode causar um hematoma focal, edema, compressão do conteúdo do encéfalo ou espasmos dos vasos sanguíneos adjacentes. Os fatores predisponentes mais comuns são idade avançada e hipertensão. Aneurismas e malformações arteriovenosas são anormalidades estruturais que também podem causar hemorragia súbita. A hemorragia cerebral ocorre de repente, geralmente quando o indivíduo está realizando algum tipo de atividade. De modo geral, manifesta-se com vômitos e com frequência ocorre cefaleia. Os sintomas locais dependem de qual vaso está envolvido. Na situação mais comum, a hemorragia nos núcleos da base origina hemiplegia contralateral, com flacidez inicial progredindo para a espasticidade. A hemorragia e o edema resultantes exercem grande pressão sobre a substância encefálica e o curso clínico evolui rapidamente ao coma e frequentemente à morte. Hemorragia subaracnóidea aneurismática. Esse tipo de hemorragia subaracnóidea é uma forma de acidente vascular encefálico hemorrágico causado pela ruptura de um aneurisma cerebral. O sangramento resultante no espaço subaracnoide pode se estender bem além do local de origem, inundando a cisterna basal, ventrículos e espaço subaracnoide espinal. Um aneurisma é uma protuberância na área de uma fraqueza localizada na parede muscular de um vaso arterial. A maioria dos aneurismas cerebrais é constituída por pequenos aneurismas saculares. Eles geralmente ocorrem na circulação anterior e são encontrados em bifurcações e outros cruzamentos vasculares, como os do círculo de Willis. Acredita-se que se originem de um defeito congênito na túnica média dos vasos envolvidos. Sua incidência é maior em indivíduos portadores de determinadas doenças, como doença policística renal, displasia fibromuscular, coarctação da aorta e malformações arteriovenosas cerebrais. Outras causas de aneurisma são aterosclerose, hipertensão e infecções bacterianas. A ruptura de um aneurisma cerebral resulta em hemorragia subaracnóidea. A probabilidade de ruptura aumenta com o tamanho do aneurisma, que é maior naqueles com tamanho superior a 3 ou 5 mm. Dos diversos fatores ambientais capazes de predispor à hemorragia subaracnóidea aneurismática, o tabagismo, a hipertensão e o consumo excessivo de álcool parecem constituir a maior ameaça. Aneurismas intracranianos são raros em crianças, e a idade média para a hemorragia subaracnóidea é de aproximadamente 50 anos. As taxas de mortalidade e morbidade nos casos de hemorragia subaracnóidea aneurismática são altas, com apenas um terço dos indivíduos alcançando uma recuperação sem deficiências importantes. Manifestações clínicas. Os sinais e sintomas de aneurisma cerebral são divididos em duas fases: aqueles que se apresentam antes da ruptura e do sangramento e aqueles que se manifestam após a ruptura e o sangramento. A maioria dos aneurismas pequenos é assintomática. Frequentemente são encontrados na necropsia aneurismas intactos como um achado incidental. Aproximadamente de 10 a 20% dos indivíduos com hemorragia subaracnóidea têm histórico de cefaleias atípicas que dão indício dias ou semanas antes do aparecimento da hemorragia, sugerindo um pequeno extravasamento. Esse tipo de cefaleia se caracteriza por manifestação súbita e muitas vezes é acompanhada por náuseas, vômitos e tonturas. O início da ruptura do aneurisma subaracnóideo é anunciado por uma cefaleia súbita e grave, descrita como “a pior dor de cabeça da minha vida”. Se o sangramento é grave, a cefaleia pode vir acompanhada por um colapso com perda de consciência. Vômitos podem acompanhar os sintomas apresentados. Outras manifestações incluem sinais de irritação meníngea, como rigidez da nuca e fotofobia (intolerância à luz); déficits de nervos cranianos, especialmente os nervos cranianos II e, algumas vezes, os pares III e IV (diplopia e borramento visual); síndromes de AVE (déficits focais motores e sensoriais); edema cerebral e aumento da pressão intracraniana; e disfunção hipofisária (diabetes insípido e hiponatremia). Hipertensão, um achado frequente, e arritmias cardíacas resultam da liberação maciça de catecolaminas desencadeada pela hemorragia subaracnóidea. Figura 16.13 • Locais mais comuns de aneurisma sacular. Diagnóstico. O diagnóstico de hemorragia subaracnóidea e de aneurisma intracraniano é estabelecido por apresentação clínica; TC sem contraste; punção lombar, se o resultado de TC é normal, mas existe forte suspeita de HSA; e angiografia. Para identificar o aneurisma na fonte de sangramento, devem ser solicitadas angiografia convencional, angiografia por ressonância magnética (ARM) e angiografia por tomografia computadorizada (ATC) helicoidal (espiral). A angiografia convencional por cateter é a ferramenta de diagnóstico definitivo para a detecção do aneurisma. ARM é uma modalidade não invasiva e não requer a administração intravenosa de contraste, porém tem menor sensibilidade. ATC helicoidal exige a administração intravenosa de um agente de contraste, mas pode ser usada em indivíduos após a clipagem do aneurisma, quando a realização de exames por ressonância magnética pode ser contraindicada. Tratamento. O curso do tratamento após a ruptura do aneurisma depende da extensão do déficit neurológico. Os melhores resultados são obtidos quando o aneurisma é pinçado no início para que possam ser iniciadas as medidas para impedir complicações. Indivíduos sem déficit neurológico ou com déficits leves podem ser submetidos a uma arteriografia cerebral e cirurgia precoce, geralmente no intervalo de 24 a 72 h. A cirurgia envolve uma craniotomia e a inserção de um clipe de prata especialmente projetado para essa finalidade, que é apertado ao redor do colo do aneurisma. Esse procedimento fornece proteção contra ressangramento. A embolização é uma alternativa à cirurgia, particularmente em casos de aneurismas cirurgicamente inacessíveis ou candidatos ruins à cirurgia. As complicações da ruptura do aneurisma incluem ressangramento; vasospasmo com isquemia cerebral; hidrocefalia; disfunção hipotalâmica e atividade convulsiva. Ressangramento e vasospasmo são as complicações mais graves e mais difíceis de tratar. O ressangramento, que tem maior incidência no primeiro dia após a ruptura inicial, resulta em déficits neurológicos catastróficos. Vasospasmo é uma complicação temida advinda da ruptura de aneurisma. É uma condição de difícil tratamento e está associada a uma alta incidência de morbidade e mortalidade. Embora a descrição do vasospasmo associado à ruptura de aneurisma seja relativamente uniforme, os mecanismos propostos são controversos. De modo geral, a condição se desenvolve no intervalo entre 3 e 10 dias (pico, 7 dias) após a ruptura do aneurisma e envolve um estreitamento focal da artéria ou artérias cerebrais que pode ser visualizado por arteriografia ou por Doppler transcraniano. O estado neurológico se deteriora gradualmente à medida que sucede a redução do suprimento sanguíneo para a região do encéfalo em que ocorreu o espasmo; isso, em geral, pode ser diferenciado da rápida deterioração observada com o ressangramento. O vasospasmo é tratado tentando melhorar a PPC pela utilização de fármacos ou administração de líquidos intravenosos vasoativos para obter euvolemia. As técnicas endovasculares incluem vasodilatadores intra- arteriais e dilatação mecânica dos vasos com angioplastia com balão. Pode ser usado nimodipino, um fármaco que bloqueia os canais de cálcio e age seletivamente sobre os vasos sanguíneos cerebrais, de modo a reduzir a incidência e a gravidade de déficits isquêmicos tardios resultantes do vasospasmo após a ruptura do aneurisma. Outra complicação de umaruptura de aneurisma é o desenvolvimento de hidrocefalia. É causada por obstrução das vilosidades aracnoides por produtos de degradação do sangue no espaço subaracnoide. A hidrocefalia é diagnosticada por TC seriada, mostrando o aumento no tamanho dos ventrículos e por sinais clínicos de aumento da PIC. Ventriculostomia, drenagem lombar ou derivação ventriculoperitoneal podem ser usados para tratar a hidrocefalia e diminuir o aumento da PIC. Malformações arteriovenosas. Malformações arteriovenosas são um emaranhado complexo de artérias e veias anormais ligadas por uma ou mais fístulas.2 Essas redes vasculares carecem de um leito capilar, e as artérias pequenas têm uma camada muscular deficiente. Acredita-se que as malformações arteriovenosas têm origem a partir de falhas no desenvolvimento da rede capilar no encéfalo embrionário. À proporção que o encéfalo da criança cresce, a malformação adquire contribuições arteriais adicionais que aumentam de tamanho para formar um conjunto emaranhado de vasos de paredes finas que desviam o sangue diretamente da circulação arterial para a circulação venosa. As malformações arteriovenosas tipicamente se apresentam antes de 40 anos de idade e afetam igualmente homens e mulheres. A ruptura de vasos em uma malformação que causa um AVE hemorrágico é responsável por aproximadamente 1% de todos os AVE. Fisiopatologia São dois os efeitos hemodinâmicos de malformações arteriovenosas. Em primeiro lugar, o sangue é desviado do sistema arterial de alta pressão para o sistema venoso de baixa pressão, sem a vantagem do tamponamento fornecido pela rede capilar. Os canais de drenagem venosa são expostos a elevados níveis de pressão, predispondo-os a ruptura e hemorragia. Em segundo lugar, as elevadas pressões arteriais e venosas desviam o sangue para longe do tecido circundante, prejudicando a perfusão tecidual. Manifestações clínicas. Clinicamente, isso é evidenciado por déficits neurológicos de progressão lenta. As principais manifestações clínicas de malformações arteriovenosas são hemorragia intracerebral e subaracnoide; convulsões; cefaleia e déficits neurológicos progressivos. As cefaleias são frequentemente graves e os indivíduos com o transtorno podem descrevê-las como latejantes e sincrônicas com os batimentos cardíacos. Os sintomas focais dependem da localização da lesão e incluem sintomas visuais (i. e., diplopia e hemianopsia); hemiparesia; deterioração mental e distúrbios da fala. Diagnóstico e tratamento. O diagnóstico definitivo muitas vezes é obtido por meio de angiografia cerebral. Os métodos de tratamento incluem excisão cirúrgica, oclusão endovascular, radiocirurgia e tratamento conservador.2 Devido à natureza da malformação, cada um desses métodos é acompanhado por certo risco de complicações. Se a malformação arteriovenosa for acessível, a excisão cirúrgica é, por vezes, o tratamento de escolha. O tratamento endovascular envolve a inserção de microcateteres na circulação cerebral para a entrega de materiais embólicos (p. ex., microbalões, agentes esclerosantes, micromolas ou cola de secagem rápida) no interior dos vasos com malformação arteriovenosa. A radiocirurgia pode envolver o uso de uma Faca Gama, feixe de prótons ou acelerador linear. Manifestações clínicas de AVE As manifestações específicas de um AVE ou AIT são determinadas pela artéria cerebral que é afetada, pela área de tecido encefálico que recebe o suprimento sanguíneo desse vaso e pela adequação da circulação colateral. Os sintomas de AVE/AIT têm sempre manifestação súbita e focal e geralmente são unilaterais. Os sintomas mais comuns são paralisação da face e fraqueza no braço, unilaterais, assim como fala arrastada. Outros sintomas frequentes de AVE são dormência unilateral, perda de visão em um dos olhos (amaurose fugaz) ou de um dos lados (hemianopsia), perturbação da fala (afasia) e perda de equilíbrio súbita e inexplicável ou ataxia. No caso de AIT, os sintomas desaparecem rapidamente de maneira espontânea, em geral em um intervalo de poucos minutos, embora os mecanismos subjacentes sejam os mesmos de um AVE. Os sinais específicos de AVE dependem do território vascular especificamente comprometido). De uma maneira geral, a isquemia da carótida causa perda monocular visual ou afasia (hemisfério dominante) ou heminegligência (hemisfério não dominante); perda sensorial ou motora contralateral ou outros sinais corticais distintos, como apraxia e agnosia. A isquemia vertebrobasilar induz ataxia, diplopia, hemianopsia, vertigem, déficits de nervos cranianos, hemiplegia contralateral, déficits sensoriais (contralateral ou cruzado, isto é, corpo contralateral e face ipsilateral) e dificuldades para reagir a estímulos. Geralmente ocorrem subconjuntos distintos dessas síndromes vasculares, dependendo de quais ramos da artéria envolvida estão bloqueados. Déficits motores associados ao AVE. Déficits motores são os mais comuns, seguidos de déficits de linguagem, sensação e cognição. Depois que um AVE afeta o trato corticospinal como o córtex motor, ramo posterior da cápsula interna, base da ponte ou pirâmides medulares, surge uma profunda fraqueza no lado contralateral. O envolvimento no nível do córtex motor é mais frequentemente no território da artéria cerebral média, em geral com preservação da perna, que é abastecida pela artéria cerebral anterior. Lesões subcorticais das vias corticospinais causam igual fraqueza da face, braço e perna. No intervalo entre 6 e 8 semanas, a fraqueza e a flacidez iniciais são substituídas por hiper-reflexia e espasticidade. A espasticidade envolve o aumento do tônus dos músculos afetados e geralmente um elemento de fraqueza. Os músculos flexores são mais fortemente afetados nos membros superiores e os músculos extensores mais fortemente afetados nos membros inferiores. Existe uma tendência para a queda do pé; rotação externa e circundução da perna com a marcha; flexão no punho, cotovelo e dedos; paresia da porção inferior da face; fala arrastada; elevação do dedo do pé com estimulação plantar (sinal de Babinski); e edema pendente nos membros afetados. Uma ligeira lesão corticospinal pode ser indicada apenas por imperícia na realização de movimentos coordenados finos em vez de fraqueza óbvia. Exercícios passivos de amplitude de movimento ajudam a manter o funcionamento das articulações e a evitar edema, subluxação do ombro e atrofia muscular, e podem auxiliar a restabelecer os padrões motores. Se não surgir um movimento voluntário ou movimento de resposta a um comando no intervalo de alguns meses, geralmente significa que um nível significativo de funcionamento não retornará ao membro em questão. Disartria e afasia associadas ao AVE. Disartria é um distúrbio da fala que se manifesta com a articulação imperfeita dos sons da fala ou alterações no tom de voz ou na qualidade. É o resultado de um AVE que afeta os músculos da faringe, palato, língua, lábios ou boca e não se relaciona com o conteúdo do discurso. Um indivíduo com disartria pode apresentar fala arrastada mantendo capacidade de linguagem, ou também pode ter um problema de linguagem concorrente. Afasia é um termo geral que abrange diferentes graus de incapacidade de compreensão, integração e expressão da linguagem. A afasia pode ser localizada no córtex cerebral dominante ou no tálamo, afetando o lado esquerdo em 95% dos indivíduos que são destros e 70% dos indivíduos que são canhotos. Em crianças, a dominância da linguagem pode facilmente mudar para o hemisfério não afetado, resultando em déficits de linguagem mais transitórios após AVE. Um AVE no território da artéria cerebral média é o que mais comumente produz afasia. A afasia é classificada como receptiva ou expressiva, ou como fluente ou não fluente.A fluência está relacionada com a facilidade e espontaneidade da fala coloquial e é mais estritamente definida pela taxa de expressão, com o termo “fluente” denotando muitas palavras e “não fluente”, poucas palavras. A afasia expressiva ou não fluente se caracteriza pela incapacidade de se comunicar fácil e espontaneamente ou traduzir pensamentos ou ideias em fala ou escrita organizada. A produção da fala é limitada, hesitante, requer esforço e, muitas vezes, pode ser mal articulada por causa de uma disartria associada. O indivíduo pode ser capaz, com dificuldade, de proferir ou escrever duas ou três palavras, especialmente aquelas com conteúdo emocional sobreposto. A compreensão é normal, e o indivíduo aparenta estar plenamente consciente de suas deficiências, mas é incapaz de corrigi-las. Isso frequentemente leva a frustração, raiva e depressão. A afasia expressiva não fluente está associada a lesões na área de Broca no córtex do lóbulo frontal inferior dominante (áreas 44 e 45). A fala fluente requer pouco ou nenhum esforço, é articulada e em maior quantidade. O termo fluente se refere apenas a facilidade e velocidade da produção verbal e não se relaciona com o conteúdo do discurso ou com a capacidade do indivíduo de compreender o que está sendo dito. A expressão verbal muitas vezes é feita em paráfrases, o que significa que letras, sílabas ou palavras inteiras são substituídas pelo vocábulo-alvo. Existem três categorias de afasia fluente: a afasia de Wernicke, afasia anômica e afasia condutiva. A afasia de Wernicke se caracteriza pela incapacidade de compreender a fala de outros indivíduos ou de compreender um material escrito. As lesões do lóbulo temporal posterior superior ou parietal inferior (áreas 22 e 39) estão associadas a afasia fluente receptiva. A afasia anômica caracteriza-se por uma fala quase normal, exceto por uma dificuldade em encontrar palavras pouco comuns ao discurso. A afasia condutiva se manifesta como repetição comprometida e fala repleta de substituições de letras, apesar da boa compreensão e fluência. A afasia condutiva (i. e., síndrome de desconexão) resulta da destruição do sistema de fibras sob a ínsula, que conecta as áreas de Wernicke e Broca. Déficits cognitivos e outras deficiências associadas ao AVE. Um acidente vascular encefálico também pode causar déficits cognitivos, sensoriais, visuais e comportamentais. Uma síndrome cognitiva específica é a da heminegligência ou hemi-inatenção. Geralmente causada por AVE que afeta o hemisfério não dominante (direito), heminegligência é a incapacidade de atender e reagir a estímulos provenientes do lado contralateral (esquerdo). Esses indivíduos não conseguem rastrear visualmente, orientar-se ou alcançar um objeto posicionado no lado negligenciado. Podem deixar de usar os membros desse lado, embora a função motora permaneça normal, e podem deixar de fazer a barba, se lavar ou se pentear daquele lado. Esses indivíduos não têm conhecimento desse déficit, que é outra forma de negligência (anosognosia). Outros déficits cognitivos incluem apraxia (comprometimento da capacidade de executar atividades motoras anteriormente aprendidas, embora as funções sensorial e motora permaneçam normais), agnosia (comprometimento do reconhecimento com função sensorial normal), perda de memória, síndromes comportamentais e depressão. Os déficits sensoriais afetam o lado do corpo contralateral à lesão e se manifestam como dormência, parestesia com formigamento, ou como sensações distorcidas, como disestesia e dor neuropática. Os distúrbios visuais procedentes de um AVE são diversos, porém os mais comuns são hemianopia de uma lesão por radiações ópticas entre o corpo geniculado lateral e os lobos temporal ou occipital, ou cegueira monocular pela oclusão da artéria central da retina ipsilateral, que é um ramo da carótida interna. Diagnóstico do AVE O diagnóstico preciso do AVE agudo se baseia em histórico completo e exame neurológico. Um histórico cuidadoso, incluindo a documentação de AIT anteriores, o tempo decorrido desde a manifestação, os sintomas focais específicos (para determinar o território vascular provável) e quaisquer doenças coexistentes, é capaz de ajudar a definir o tipo de acidente vascular encefálico envolvido. A avaliação diagnóstica deve ter como objetivo estabelecer se há isquemia ou hemorragia, identificar o mecanismo do AVE ou AIT (i. e., grandes vasos ou pequenos vasos aterotrombóticos, cardioembólicos, hemorrágicos, outros ou criptogênicos), caracterizar a gravidade dos déficits clínicos e revelar fatores de risco. Estudos por imagem do encéfalo documentam a existência de infarto encefálico, enquanto imagens vasculares revelam a anatomia e os processos patológicos associados aos vasos sanguíneos. Tomografia e ressonância magnética tornaram-se ferramentas essenciais para a realização de imagens do encéfalo no diagnóstico de AVE, para instituir a distinção entre hemorragia e isquemia encefálica e para possibilitar a exclusão de lesões intracranianas que imitam clinicamente um AVE. A tomografia é uma ferramenta de triagem necessária nos quadros agudos porque possibilita a rápida identificação de hemorragia, mas não apresenta sensibilidade para detectar lesões isquêmicas no intervalo de 24 h e para qualquer infarto pequeno ou localizado no tronco encefálico. A qualidade das imagens RM é superior para detecção de lesões isquêmicas em todos os territórios e para estabelecer a distinção entre AVE e outros processos patológicos (p. ex., tumores, contusões, infecção). Técnicas de ressonância magnética, como imagens ponderadas por perfusão ou por difusão (DWI – diffusion-weighted imaging) podem revelar uma isquemia cerebral imediatamente após sua manifestação e são capazes de identificar as áreas com danos potencialmente reversíveis (i. e., áreas de penumbra). DWI são empregadas em um cenário de emergência para avaliar o AVE e detectar rapidamente a área e o volume de isquemia, selecionando os pacientes candidatos a tratamentos emergenciais. Imagens vasculares são obtidas por ATC, ARM, arteriografia “convencional” com cateter e ultrassonografia. Todas as modalidades, exceto a ultrassonografia, podem revelar a localização da anomalia vascular (intracraniana ou extracraniana) e possibilitar a visualização da maior parte das áreas vasculares intracranianas. No entanto, cada uma dessas modalidades apresenta pontos fortes e fracos. ARM não é invasiva e está mais amplamente disponível, porém é menos sensível e específica do que a ATC ou a angiografia com cateter. A ATC mostra perfeitamente os detalhes, mesmo sendo uma técnica não invasiva, porém tem disponibilidade limitada e requer o uso de contraste iodado, que é nefrotóxico. A angiografia com cateter continua sendo o padrão-ouro em relação à sensibilidade e torna possível a visualização de padrões dinâmicos de fluxo colateral, mas é um exame invasivo e requer o emprego de doses significativas de contraste. Tanto a ATC quanto a ARM têm substituído amplamente a angiografia convencional como ferramenta de triagem para lesões vasculares. Técnicas ultrassonográficas possibilitam uma rápida avaliação à beira do leito da bifurcação carotídea (ultrassonografia dúplex) ou das velocidades de fluxo na circulação cerebral (Doppler transcraniano). Exame físico Exame físico geral: O exame físico geral de um paciente com distúrbio cerebrovascular deve ter como foco a busca por uma causa sistêmica subjacente, em especial uma causa tratável. 1.A pressão arterial deve ser medida para definir se existe hipertensão (o principal fator de risco para AVC). 2. A comparação da pressão arterial e do pulso dos dois lados pode revelar diferenças relaciona-das com doença aterosclerótica do arco da aortaou coarctação da aorta. 3. O exame oftalmoscópico da retina pode mostrar evidências de embolização da circulação anterior, na forma de material embólico visível nos vasos sanguíneos retinianos. 4. O exame do pescoço pode revelar a ausência de pulsos carotídeos ou a presença de sopros caro-tídeos. No entanto, redução das pulsações da ar-téria carótida no pescoço é um indicador pobre de doença da artéria carótida interna. Embora os sopros carotídeos tenham sido associados com doença cerebrovascular, pode ocorrer estenose carotídea significativa sem um sopro audível; por outro lado, um sopro bem audível pode ocorrer sem estenose. 5. O exame cardíaco é essencial para detectar ar-ritmias ou ruídos relacionados à doença valvar, sendo que ambos podem predispor a emboliza-ção cardiogênica e AVC. 6. A palpação das artérias temporais é útil para o diagnóstico de arterite de células gigantes, na qual os vasos podem ser sensíveis à dor, nodula-res ou sem pulso. Exame neurológico Pacientes com distúrbios cerebrovasculares podem ou não apresentar achados neurológicos anormais ao exame. Um exame normal é esperado, por exemplo, após a resolução de um AIT. Quando são encontrados déficits neurológicos, a meta do exame é definir o local anatômico da lesão, que pode sugerir a causa ou o tra-tamento ideal do AVC. Por exemplo, evidência clara de que existe envolvimento da circulação anterior pode levar à avaliação angiográfica, contemplando uma possível correção cirúrgica de uma lesão da carótida interna. O estabelecimento de que os sintomas estão associados com a circulação vertebrobasilar ou com um infarto lacunar irá ditar uma abordagem diferente. 1. Devem ser procurados déficits cognitivos que indiquem lesões corticais na circulação anterior. Por exemplo, se existe uma afasia, o distúrbio subjacente não pode estar na circulação posterior e não é provável que represente um infarto lacu-nar. Isto também é verdadeiro para lesões no he- misfério não dominante, que produzem síndro-mes do lobo parietal como negligência unilateral ou apraxia construtiva. 2. De modo similar, anormalidades do campo visual excluem infarto lacunar. No entanto, a hemianopsia pode ocorrer com o envolvimen-to da artéria cerebral média ou posterior, que supre as radiações ópticas e o córtex visual primário, respectivamente. Uma hemianopsia isolada sugere infarto de artéria cerebral pos-terior, pois a hemianopsia decorrente de AVC da artéria cerebral média deve produzir déficits adicionais. 3. Paralisias oculares, nistagmo ou oftalmople-gia internuclear atribuem a lesão subjacente ao tronco cerebral e, assim, à circulação posterior. 4. A hemiparesia pode ser decorrente de lesões nas regiões corticais cerebrais supridas pela cir-culação anterior, vias motoras descendentes no tronco cerebral supridas pelo sistema vertebro-basilar, ou lacunas em locais subcorticais (coroa radiada, cápsula interna) ou em locais do tronco cerebral. No entanto, a hemiparesia que afeta a face, a mão ou o braço mais do que a perna é característica de lesões dentro da distribuição da artéria cerebral média. A hemiparesia que não é seletiva no que diz respeito à face, ao braço e à perna é consistente com oclusão da artéria ca- rótida interna ou do tronco da artéria cerebral média, infarto lacunar na cápsula interna ou nos núcleos da base, ou doença do tronco cerebral. Uma hemiparesia cruzada – ou seja, envolvendo a face de um lado e o resto do corpo do outro lado – significa que a anormalidade deve estar situada entre o nível do núcleo do nervo facial (VII) e a ponte e a decussação das pirâmides na medula. 5. Déficits sensoriais corticais como astereognosia ou agrafestesia com preservação das modalidades sensoriais primárias implica um déficit cortical cerebral dentro do território da artéria cerebral média. Déficits hemissensoriais isolados, sem envolvimento motor associado, geralmente têm origem lacunar. Déficits sensoriais cruzados resultam de lesões no tronco cerebral na medula, como aqueles observados na síndro-me medular lateral). 6. A hemiataxia geralmente indica lesão no tronco cerebral ipsilateral ou no cerebelo, mas também pode ser produzida por um AVC lacunar na cáp-sula interna. Estes exames devem ser feitos de rotina para detectar causas tratáveis de AVC e para excluir condições que possam imitar um AVC. Os exames recomendados são listados adiante. Hemograma completo: Um hemograma completo pode identificar as causas possíveis de AVC (p. ex., trombocitose, policitemia, anemia falciforme, ou leucocitose) ou infecção con-comitante que pode complicar a evolução clínica. Por razões não esclarecidas, uma leucocitose elevada na admissão também pode indicar um resultado pior para o AVC. Marcadores inflamatórios: Uma VHS aumentada é observada na arterite de célu-las gigantes e em outras vasculites. Proteína C-reativa (CRP, de C-reactive protein) elevada é um marcador de inflamação sistêmica associado com risco aumen-tado de AVC. EXAMES DE SANGUE Estes exames devem ser feitos de rotina para detectar causas tratáveis de AVC e para excluir condições que possam imitar um AVC. Os exames recomendados são listados adiante. EXAMES VASCULARES DE IMAGEM Figura 13-14 Exames de imagem no AVC isquêmico, no território da artéria cerebral média. (A) TC mostrando sulcos corticais de baixa densidade e apagados (entre as pontas de seta) e compressão do corno anterior do ventrículo lateral (seta). (B) RM ponderada em T1 mostrando perda das marcas sulcais (entre as pontas de seta) e compressão do corno anterior do ventrículo lateral (seta). (C) IRM ponderada em T2 mostrando aumento da intensidade de sinal (entre as pontas de seta) e compressão ventricular (seta) Tratamento do AVEi: Tratamento do AVC Isquêmico Agudo O tratamento do AVC isquêmico agudo segue uma abordagem organizada de avaliação e intervenção após o diagnóstico clínico. O principal objetivo é prevenir ou reverter os danos cerebrais. Inicialmente, o foco é a via aérea, respiração e circulação (ABC, airway, breathing, circulation) do paciente, enquanto a hipoglicemia ou hiperglicemia são tratadas com base no teste de hemoglicoteste. A realização de uma TC de crânio sem contraste em caráter emergencial ajuda a distinguir entre AVC isquêmico e hemorrágico. O tratamento do AVC isquêmico agudo se enquadra em várias categorias, incluindo suporte clínico, trombólise intravenosa (IV), revascularização endovascular, tratamento antitrombótico, neuroproteção e centros especializados em AVC e reabilitação. Suporte Clínico: No AVC isquêmico, a atenção imediata visa otimizar a perfusão cerebral na área circundante afetada. Além disso, é essencial prevenir complicações comuns em pacientes acamados, como infecções e trombose venosa profunda. A heparina subcutânea pode ser usada em conjunto com meias de compressão pneumática para reduzir o risco de trombose venosa profunda. Controle da Pressão Arterial: A regulação da pressão arterial é uma consideração importante, uma vez que o fluxo sanguíneo colateral no cérebro isquêmico pode depender da pressão arterial. Em certas situações, a pressão arterial deve ser controlada para evitar complicações. A redução da frequência cardíaca com um bloqueador β1-adrenérgico pode ser uma abordagem para diminuir a carga de trabalho cardíaco e manter a pressão arterial. Contudo, a redução excessiva da pressão arterial pode ser prejudicial. Edema Cerebral e Complicações: Edema cerebral é uma preocupação, especialmente em infartos maiores. O uso de medidas como restrição hídrica e manitol intravenoso pode ser considerado para reduzir o edema. A vigilância é necessária para casos de infarto cerebelar, que podem levar a aumento da pressão intracraniana. A descompressão cirúrgica emergencial pode ser necessáriaem casos de deterioração neurológica. Trombólise Intravenosa: A trombólise intravenosa com ativador do plasminogênio tecidual recombinante (rtPA) tem sido eficaz em pacientes selecionados com AVC isquêmico agudo. O rtPA é administrado dentro das primeiras 3 horas após o início dos sintomas, melhorando significativamente os desfechos clínicos. A segurança e eficácia do rtPA foram exploradas em janelas de 3 a 4,5 horas em estudos adicionais, demonstrando benefícios em pacientes selecionados. Critérios de Elegibilidade e Administração do rtPA IV: O uso do rtPA IV é aprovado em várias janelas de tempo em diferentes regiões. Em geral, é considerado uma intervenção fundamental em centros especializados em AVC. Os critérios de elegibilidade e a administração do rtPA IV são definidos de acordo com protocolos específicos. Em resumo, o tratamento do AVC isquêmico agudo envolve uma abordagem organizada, desde o suporte clínico até a administração de terapias específicas como a trombólise intravenosa. A intervenção adequada e o início rápido do tratamento têm o potencial de melhorar significativamente os resultados clínicos em pacientes com AVC isquêmico. Revascularização Endovascular: Em casos de AVC isquêmico devido à oclusão de grandes vasos intracranianos, como a artéria cerebral média, a carótida interna intracraniana e a artéria basilar, a revascularização endovascular é uma opção. Tratamentos intra-arteriais, como trombolíticos, foram testados para melhorar a concentração de medicamentos no coágulo e reduzir complicações hemorrágicas sistêmicas. A terapia intra-arterial com pró-uroquinase mostrou benefícios em oclusões agudas da artéria cerebral média. A trombectomia mecânica endovascular também tem sido estudada como tratamento adjuvante ou alternativo, especialmente em pacientes não elegíveis para trombolíticos intravenosos. Ensaios clínicos demonstraram melhorias nos desfechos clínicos em pacientes submetidos à trombectomia mecânica. Tratamento Antitrombótico: O ácido acetilsalicílico é eficaz no tratamento agudo do AVC isquêmico. Ensaios clínicos demonstraram que seu uso nas primeiras 48 horas após o início do AVC reduz o risco de recorrência e mortalidade. A anticoagulação de rotina não é recomendada devido ao aumento do risco de hemorragia cerebral e sistêmica. Não há evidências suficientes para recomendar o uso de anticoagulantes em casos de AVC aterotrombótico. Neuroproteção: A neuroproteção visa prolongar a tolerância do cérebro à isquemia. Embora estudos com fármacos que bloqueiam vias de aminoácidos excitatórios tenham mostrado benefícios em animais, os resultados em humanos ainda não foram comprovados. A hipotermia, um tratamento neuroprotetor em outros contextos, ainda não foi suficientemente estudada para o AVC isquêmico. Centros de AVC e Reabilitação: Unidades de AVC seguidas por serviços de reabilitação melhoram desfechos neurológicos e reduzem a mortalidade. A aplicação de protocolos clínicos e equipes especializadas em AVC é fundamental. Centros de AVC devem oferecer avaliação de emergência 24 horas por dia e considerar tratamentos como trombólise ou terapia endovascular. A reabilitação adequada inclui fisioterapia, terapia ocupacional e avaliação fonoaudiológica. O objetivo é educar o paciente, prevenir complicações e promover a recuperação. Em resumo, a revascularização endovascular e a trombectomia mecânica têm se mostrado eficazes em alguns casos de AVC isquêmico. O ácido acetilsalicílico é eficaz no tratamento agudo. A neuroproteção e a reabilitação também são partes importantes do tratamento, com centros de AVC e equipes especializadas desempenhando papéis cruciais na melhoria dos resultados. Tratamento preventivo: texto aborda tópicos relacionados ao tratamento da prevenção primária e secundária do acidente vascular cerebral (AVC) e do ataque isquêmico transitório (AIT). Abaixo está um resumo dos principais pontos discutidos: Princípios Gerais: Existem várias intervenções clínicas, cirúrgicas e mudanças no estilo de vida para a prevenção do AVC, algumas com baixo custo e risco mínimo, enquanto outras são mais caras e arriscadas. Identificação e controle dos fatores de risco modificáveis, especialmente a hipertensão, são estratégias eficazes para reduzir a carga do AVC. Fatores de Risco para Aterosclerose: Hipertensão é o fator de risco mais significativo, devendo ser tratada com uma meta de pressão arterial < 130/80 mmHg. Outros fatores de risco incluem idade avançada, diabetes, tabagismo, colesterol anormal, distúrbios cardíacos como fibrilação atrial e infarto do miocárdio recente. Agentes Antiagregantes Plaquetários para Prevenção do AVC: São usados para inibir a formação de agregados plaquetários que podem levar à formação de trombos e causar obstrução. O ácido acetilsalicílico (aspirina), o clopidogrel e a combinação de ácido acetilsalicílico e dipiridamol de liberação prolongada são os agentes mais comuns usados. Estatinas são eficazes na redução do risco de AVC, mesmo em pacientes sem níveis elevados de colesterol. Anticoagulação e Prevenção do AVC Embólico: A anticoagulação (faixa de INR 2-3) em pacientes com fibrilação atrial não valvar crônica previne embolia cerebral e AVC. Novos anticoagulantes orais, como dabigatrana e inibidores orais do fator Xa, são alternativas convenientes e eficazes para a prevenção de AVC em pacientes com fibrilação atrial. Em pacientes que não podem usar anticoagulantes, a combinação de clopidogrel e ácido acetilsalicílico pode ser eficaz. Para AVC embólico criptogênico, o monitoramento ambulatorial pode ser usado para determinar a melhor terapia. Anticoagulação e AVC Não Cardiogênico: O uso de antagonistas de vitamina K não é apoiado para prevenção de AVC aterotrombótico. A varfarina não demonstrou benefício sobre o ácido acetilsalicílico em pacientes com doença cerebrovascular intracraniana ou extracraniana. Estudos com fármacos inibidores do fator Xa estão em andamento para a prevenção do AVC embólico de origem desconhecida. O texto abrange uma variedade de aspectos relacionados ao tratamento e prevenção do AVC e AIT, incluindo abordagens farmacológicas e considerações sobre os fatores de risco. Um AVC (ou derrame, acidente cerebrovascular, acidente vascular encefálico) é definido por um início abrupto de déficit neurológico que é atribuível a uma causa vascular focal. Assim, a definição de AVC é clínica, e usam-se os exames laboratoriais, incluindo os neurorradiológicos, para sustentar o diagnóstico. As manifestações clínicas do AVC são altamente variáveis em função da anatomia complexa do cérebro e sua vasculatura. A isquemia cerebral é causada pela redução do fluxo sanguíneo durante mais do que vários segundos. Os sintomas neurológicos manifestam-se em segundos porque os neurônios carecem de glicogênio; portanto, a insuficiência de energia instaura-se rapidamente. Se a interrupção do fluxo durar mais do que alguns minutos, sobrevém o infarto ou morte de tecido cerebral. Quando o fluxo sanguíneo é restaurado rapidamente, o tecido cerebral se recupera totalmente e os sintomas do paciente são apenas transitórios: isso é denominado ataque isquêmico transitório (AIT). A definição de AIT exige que todos os sinais e sintomas neurológicos desapareçam dentro de 24 horas sem evidência de infarto cerebral nos exames de imagem. Terá havido AVC se os sinais e sintomas neurológicos durarem > 24 horas ou se for demonstrado infarto cerebral. Uma redução generalizada do fluxo sanguíneo cerebral decorrente de hipotensão sistêmica (p. ex., arritmia cardíaca, infarto do miocárdio ou choque hemorrágico) em geral produz síncope. Se o hipofluxo sanguíneo cerebral persistir por mais tempo, pode ocorrer infarto nas zonas de fronteira entre as distribuiçõesdas principais artérias cerebrais. Nos casos mais graves, a hipoxia-isquemia global causa lesão cerebral difusa; o conjunto de sequelas cognitivas que se estabelece denomina-se encefalopatia hipóxico-isquêmica (Cap. 301). Em contrapartida, a isquemia focal – ou infarto focal – costuma ser causada por trombose dos vasos cerebrais ou por êmbolos provenientes de uma fonte arterial proximal ou do coração. A hemorragia intracraniana é causada por sangramento diretamente dentro ou ao redor do cérebro; produz sintomas neurológicos ao acarretar um efeito de massa sobre as estruturas neurais, pelos efeitos tóxicos do sangue, ou por elevação da pressão intracraniana 3.Analisar a abordagem do AVCi e AVCh no atendimento emergencial: Abordagem do paciente no atendimento emergencial A rápida avaliação é crucial para tratamentos agudos como trombólise ou trombectomia em casos de AVC. Pacientes muitas vezes não reconhecem os sintomas sozinhos, então familiares devem estar cientes de sinais de AVC súbito e usar o acrônimo FAST (fraqueza facial, braço, anormalidade na fala e tempo) para identificação. Convulsões, tumores, migrânea e encefalopatia metabólica podem imitar um AVC. A tomografia computadorizada (TC) ajuda a distinguir entre isquemia e hemorragia. Para AVC isquêmico, tratamentos visam reperfusão e controle de riscos, enquanto AVC hemorrágico lida com causas como aneurismas e hemorragia intracerebral. Protocolo de Atendimento Pré-Hospitalar do Acidente Vascular Cerebral 1.Avaliação pré-hospitalar: Administrar rtPA EV (0.9mg/Kg, no máximo 90mg), com 10% da dose total em bolus inicial, seguido da infusão do restante em 60 minutos. A diluição do rtPA é de 1mg/mL. Deve-se utilizar vasos da extremidade superior e não correr em Y com nenhuma outra medicação. CUIDADOS APÓS USO DE TROMBOLÍTICO 1. Não utilizar antitrombóticos, antiagregantes e heparina nas próximas 24 horas pós-trombolítico. 2. Controle neurológico rigoroso. 3. Monitorização cardíaca e pressórica.(monitore PA a cada 15min nas duas primeiras horas; a cada 30 minutos da terceira a oitava hora; e a cada 1 hora da nona até 24 horas do início do tratamento, atentando para valores ≥ 180/105 mmHg. 4. Não realizar cateterização venosa central ou punção arterial nas primeiras 24 horas. 5. Não passar sonda vesical até pelo menos 30 minutos do término da infusão do rt-PA. 6. Não passar SNE nas primeiras 24 horas. SUSPEITA DE SANGRAMENTO 1. Piora do déficit neurológico ou nível de consciência, cefaléia súbita, náuseas ou vômitos 2. Descontinuar rt-PA 3. TC de crânio urgente 4. Colher coagulograma, HT, TP, TTPa, fibrinogênio 5. Se sangramento na TC de crânio � avaliação neurocirúrgica 6. Outros locais de sangramento (ex.:local de punção venosa) tentar compressão mecânica. Em alguns casos descontinuar o rt- PA. TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES HEMORRÁGICAS 1. Crioprecipitado: 6-8U EV (manter fibrinogênio sérico > 100 mg%) 2. Plasma fresco congelado : 2 a 6U 3. Se nível baixo de plaquetas ou uso de antiagregantes plaquetários: 6 a 8U de plaquetas 4. Concentrado de hemácias: manter hemoglobina > 10mg% ESCALA DE AVC DO NIH (National Institute of Health Stroke Scale) Nível de consciência Perguntas de Nível de consciência Comandos de nível de consciência Melhor olhar conjugado Visual Paralisia facial Motor para braços Motor para pernas Ataxia de membros Sensibilidade Melhor linguagem Disartria Extinção ou desatenção Polígono: Artéria cerebral média (ACM) ocluída no AVC isquêmico A ACM grandes porções do lobo frontal, parietal e temporal, além dos gânglios da base e o limbo anterior da cápsula interna. Sendo assim, ao ser ocluída, os sinais e sintomas do paciente podem ser um déficit motor ou sensitivo contralateral, predominante em face e MMSS, afasia e hemianopsia. Caso a oclusão ocorra nos ramos perfurantes, o quadro pode mimetizar os infartos lacunares, sintomas motores ou sensitivos isolados, afetando igualmente face, braço ou perna. Artéria cerebral anterior (ACA) ocluída no AVC isquêmico Com relação à ACA, tem como função suprir a demanda das porções mediais dos lobos frontal, parietal e o corpo caloso. Pensando nisso, sua oclusão acarreta em déficit motor e/ou sensitivo com predomínio de MMII. Além disso, pode ser observado distúrbios do comportamento Artéria cerebral posterior (ACP) ocluída no AVC isquêmico A ACP se bifurcam a partir da artéria basilar e suprem os lobos temporal medial (incluindo o hipocampo) e occipital, tálamo e corpos mamilares e geniculados. Com isso, os sintomas focais podem ser hemianopsia isolada e amaurose. Território vertebrobasilar ocluído no AVC isquêmico A artéria basilar, advinda da artéria vertebral, irriga principalmente a área de tronco encefálico e cerebelo. Logo, são acometidos nervos cranianos, funções do cerebelo e tronco encefálico e lobo occipital. Portanto os sintomas comuns são: fraqueza bilateral dos membros, vertigem, perda auditiva, hemianopsia ou diplopia, rebaixamento do nível de consciência, ataxia e lesões referentes aos nervos cranianos. COTEÚDO EXTRA: SÍNDROMES DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Uma anamnese e um exame neurológico minuciosos frequentemente localizam a região de disfunção cerebral; se essa região corresponder a uma determinada distribuição arterial, as possíveis causas responsáveis pela síndrome podem ser limitadas. Isso tem especial importância quando o paciente apresenta-se com AIT e exame físico normal. Por exemplo, se um paciente manifestar perda da linguagem e hemianopsia homônima direita, deve-se realizar uma pesquisa das causas de embolia para a artéria cerebral média esquerda. O achado de estenose isolada da artéria carótida interna direita nesse paciente sugere estenose carotídea assintomática, e a pesquisa de outras causas de AVC deve prosseguir. As seções seguintes descrevem os achados clínicos da isquemia cerebral associada aos territórios vasculares cerebrais ilustrados nas Figuras 419-2 a 419-11. As síndromes de AVC dividem-se em: (1) AVC de um grande vaso da circulação anterior; (2) AVC de um grande vaso da circulação posterior; e (3) doença dos pequenos vasos em qualquer leito vascular. Acidente vascular cerebral na circulação anterior A artéria carótida interna e seus ramos constituem a circulação anterior do cérebro. Os vasos podem ser ocluídos por doença vascular intrínseca (p. ex., aterosclerose ou dissecção) ou oclusão embólica de uma fonte proximal, conforme descrito anteriormente. A oclusão de cada um dos principais vasos intracranianos acarreta manifestações clínicas distintas. ARTÉRIA CEREBRAL MÉDIA A oclusão da artéria cerebral média (ACM) proximal ou de um de seus principais ramos é mais frequentemente causada por um êmbolo (arterioarterial, cardíaco ou de origem desconhecida) do que por aterotrombose intracraniana. A aterosclerose da ACM proximal pode produzir êmbolos distais para o território da cerebral média ou, menos comumente, AIT por hipofluxo. A formação de vasos colaterais por meio dos vasos leptomeníngeos muitas vezes impede que a estenose da ACM se torne sintomática. Os ramos corticais da ACM irrigam a face lateral do hemisfério, exceto (1) o polo frontal e uma faixa ao longo da margem superomedial dos lobos frontal e parietal, irrigados pela artéria cerebral anterior (ACA) e (2) convoluções temporal inferior e do polo occipital supridas pela artéria cerebral posterior (ACP) (Figs. 419-2 a 419-5). A ACM proximal (segmento M1) dá origem a ramospenetrantes (denominados artérias lentículo-estriadas) que suprem o putame, a parte externa do globo pálido, o ramo posterior da cápsula interna, a coroa radiada adjacente e a maior parte do núcleo caudado (Fig. 419- 2). Na fissura de Sylvius, a ACM da maioria dos pacientes divide-se em superior e inferior (ramos M2). Os ramos da divisão inferior suprem o córtex parietal inferior e temporal, e aqueles da divisão superior suprem o córtex frontal e parietal superior (Fig. 419-3). Se houver oclusão de toda a ACM em sua origem (obstruindo seus ramos penetrantes e corticais) e as colaterais distais forem limitadas, os achados clínicos são hemiplegia contralateral, hemianestesia, hemianopsia homônima e 1 ou 2 dias de olhar preferencial para o lado ipsilateral. A disartria é comum em decorrência da fraqueza facial. Quando o hemisfério dominante é comprometido, também se observa afasia global, e quando o hemisfério não dominante é afetado, detectam-se anosognosia, apraxia construtiva e negligência (Cap. 26). As síndromes completas da ACM são mais frequentes quando um êmbolo oclui o tronco da artéria. O fluxo sanguíneo colateral cortical e as diferentes configurações arteriais provavelmente são responsáveis pelo aparecimento de muitas síndromes parciais. As síndromes parciais também podem advir de êmbolos que penetram na ACM proximal sem oclusão completa, ocluindo ramos distais, ou fragmentando-se e deslocando-se distalmente. As síndromes parciais devido à oclusão embólica de um único ramo incluem fraqueza da mão, ou do braço e da mão (síndrome braquial), ou fraqueza facial com afasia não fluente (de Broca) (Cap. 26), com ou sem fraqueza do braço (síndrome opercular frontal). Uma combinação de distúrbios sensitivos, fraqueza motora e afasia não fluente sugere que um êmbolo pode ter ocluído a divisão superior proximal e gerado infarto em grandes partes do córtex frontal e parietal (Fig. 419-3). Se houver afasia fluente (de Wernicke) sem fraqueza, a divisão inferior da ACM que supre a parte posterior (córtex temporal) do hemisfério dominante provavelmente está implicada. Uma fala incompreensível e a incapacidade de compreender a linguagem escrita e falada são manifestações proeminentes, muitas vezes acompanhadas de quadrantanopsia homônima superior contralateral. Heminegligência ou agnosia espacial sem fraqueza indicam que a divisão inferior da ACM no hemisfério não dominante foi comprometida. A oclusão de um vaso lentículo-estriado produz AVC de pequenos vasos (lacunar) dentro da cápsula interna (Fig. 419-2). Isso gera AVC motor puro ou AVC sensitivomotor contralateral à lesão. A isquemia dentro do joelho da cápsula interna causa fraqueza principalmente facial seguida de fraqueza do braço e depois da perna à medida que a isquemia se desloca posteriormente dentro da cápsula. De outro modo, a mão contralateral pode tornar-se atáxica e a disartria será proeminente (síndrome lacunar da mão inábil e disartria). Um infarto lacunar afetando o globo pálido e o putame muitas vezes tem poucos sinais clínicos, mas há relatos de parkinsonismo e hemibalismo. ARTÉRIA CEREBRAL ANTERIOR A ACA divide-se em dois segmentos: pré-comunicante (A1) ou tronco, que conecta a artéria carótida interna à artéria comunicante anterior, e o segmento pós-comunicante (A2), distal à artéria comunicante anterior (Figs. 419-2 e 419-4). O segmento A1 dá origem a diversos ramos penetrantes profundos que suprem o ramo anterior da cápsula interna, a substância perfurada anterior, a tonsila, o hipotálamo anterior e a parte inferior da cabeça do núcleo caudado (Fig. 446-6). A oclusão da ACA proximal costuma ser bem tolerada em função do fluxo colateral através da artéria comunicante anterior e de colaterais através da ACM e da ACP. A oclusão de um único segmento A2 resulta nos sintomas contralaterais citados na Figura 419-4. Se ambos os segmentos A2 derivarem de um tronco da cerebral anterior único (atresia do segmento A1 contralateral), a oclusão pode afetar ambos os hemisférios. Ocorrem abulia profunda (atraso nas respostas verbais e motoras) e sinais piramidais bilaterais com paraparesia ou tetraparesia e incontinência urinária. ARTÉRIA CORIÓIDEA ANTERIOR Esta artéria origina-se da artéria carótida interna e irriga o ramo posterior da cápsula interna e a região de substância branca posterolateral a ela, pela qual passam algumas fibras geniculocalcarinas (Fig. 419-5). A síndrome completa de oclusão da artéria corióidea anterior consiste em hemiplegia contralateral, hemianestesia (hipoestesia) e hemianopsia homônima. Entretanto, já que esse território também é suprido por vasos penetrantes da ACM proximal e artérias corióidea posterior e comunicante posterior, podem ocorrer efeitos mínimos e, com frequência, os pacientes têm recuperação substancial. Os AVCs de corióidea anterior em geral resultam de trombose in situ do vaso, e este é particularmente vulnerável a oclusão iatrogênica durante o clampeamento cirúrgico de aneurismas oriundos da artéria carótida interna. ARTÉRIA CARÓTIDA INTERNA O quadro clínico de oclusão da artéria carótida interna varia segundo a causa da isquemia: a propagação de um trombo, embolia ou hipofluxo. O córtex suprido pelo território da ACM é o mais afetado. Com um polígono de Willis competente, a oclusão pode passar despercebida. Se o trombo propagar-se até a artéria carótida interna e daí para a ACM, ou embolizá-la, os sintomas são idênticos aos da oclusão da ACM proximal (ver anteriormente). Às vezes, ocorre infarto maciço de toda a substância branca profunda e da superfície cortical. Quando as origens da ACA e da ACM são ocluídas no topo da artéria carótida, ocorrem abulia ou estupor com hemiplegia, hemianestesia e afasia ou anosognosia. Quando a ACP origina-se da artéria carótida interna (uma configuração denominada ACP fetal), ela também pode ser ocluída e produzir sintomas relacionados com o seu território periférico (Figs. 419-4 e 419-5). Além de suprir o córtex ipsilateral, a artéria carótida interna perfunde o nervo óptico e a retina via artéria oftálmica. Em cerca de 25% dos casos de doença sintomática da carótida interna, cegueira monocular transitória (amaurose fugaz) recorrente alerta para a presença da lesão. Em geral, os pacientes descrevem uma sombra horizontal que desce ou sobe verticalmente através do seu campo visual. Queixam-se, ainda, de visão turva nesse olho e de desaparecimento da metade superior ou inferior da visão. Na maioria dos casos, esses sintomas duram apenas alguns minutos. Raramente, isquemia ou infarto da artéria oftálmica ou central da retina ocorrem por ocasião de um AIT ou de um infarto cerebral. Um sopro carotídeo prolongado e agudo que desaparece gradualmente na diástole está muitas vezes associado a lesões altamente estenóticas. À medida que a estenose se torna mais pronunciada e o fluxo distal fica reduzido, o sopro torna-se mais fraco e pode desparecer quando a oclusão é iminente. ARTÉRIA CARÓTIDA COMUM Todos os sinais e sintomas de oclusão da carótida interna também podem acompanhar a oclusão da artéria carótida comum. A claudicação da mandíbula pode resultar do baixo fluxo nos ramos externos da carótida. A oclusão bilateral da artéria carótida comum em sua origem pode ocorrer na arterite de Takayasu (Cap. 356). Acidente vascular cerebral na circulação posterior A circulação posterior é composta do par de artérias vertebrais, artéria basilar e par de ACPs. As artérias vertebrais se unem para formar a artéria basilar na junção bulbopontina. A artéria basilar divide-se em duas ACPs na fossa interpeduncular (Figs. 419-4 a 419-6). Essas grandes artérias dão origem a ramos circunferenciais longos e curtos e a ramos penetrantes profundos menores que suprem cerebelo,bulbo, ponte, mesencéfalo, subtálamo, tálamo, hipocampo e lobos temporal medial e occipital. A oclusão de cada vaso produz sua própria síndrome distinta. ARTÉRIA CEREBRAL POSTERIOR Em 75% dos casos, ambas as ACPs originam-se na bifurcação da artéria basilar; em 20%, uma delas provém da artéria carótida interna ipsilateral, via artéria comunicante posterior; em 5%, ambas nascem das respectivas artérias carótidas ipsilaterais (Figs. 419-4 a 419-6). O segmento pré-comunicante, ou P1, da ACP verdadeira é atrésico nesses casos. As síndromes da ACP geralmente resultam da formação de ateromas ou êmbolos que se alojam no topo da artéria basilar; a doença da circulação posterior também pode ser causada por dissecção da artéria vertebral e displasia fibromuscular. Comumente se observam duas síndromes clínicas na oclusão da ACP: (1) síndrome de P1: sinais mesencefálicos, subtalâmicos e talâmicos, devidos a doença do segmento P1 da ACP ou de seus ramos penetrantes (artérias talamogeniculada, de Percheron e corióidea posterior); e (2) síndrome de P2: sinais do córtex temporal e do lobo occipital, devido a oclusão do segmento P2 distal à junção da ACP com a artéria comunicante posterior.