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TEORIA E PRÁTICA DA RECREAÇÃO 1. SOBRE A RECREAÇÃO De acordo com Leandro (2009, s/p) a recreação teve sua origem na pré- história, quando o homem primitivo se divertia festejando o início da temporada de caça, ou a habitação de uma nova caverna. As atividades se caracterizavam por festas de adoração, celebrações fúnebres, invocação de Deuses, com alegria, caracterizando assim um dos principais intuitos da recreação moderna, e também, o vencimento de um obstáculo. As atividades (jogos coletivos) dos adultos em caráter religiosas foram passadas de geração em geração às crianças em forma de brincadeiras. O movimento da recreação sistematizada iniciou-se na Alemanha em 1774 com a criação do Philantropinum por J. B. Basedow, professor das escolas nobres da Dinamarca. Na Dinamarca, as atividades intelectuais ficavam lado a lado às atividades físicas, como equitação, lutas, corridas e esgrima. Na Fundação Philantropinum havia cinco horas de matérias teóricas, duas horas de trabalhos manuais, e três de recreação, incluindo a esgrima, equitação, as lutas, a caça, a pesca, excursões e danças. A concepção Basedowiana contribuía para a execução de atividades a fim de preparação física e mental para as classes escolares maiores. Contribuindo, Froebel criou os Jardins de Infância onde as crianças brincavam na terra. (LEANDRO, 2009, s/p) Ainda segundo Leandro (2009, s/p) nos Estados Unidos da América o movimento iniciou em 1885 com a criação de jardins de areia pra as crianças se recrearem. Com o tempo, o espaço tornou-se pequeno visto que os irmãos mais velhos vinham também se recrearem nos jardins. Criavam-se então os Playgrounds em prédios escolares, chamados também de pátios de recreio. O primeiro Hull House - Chicago, em 1892. Área para jogos, aparelhos de ginástica e caixa de areia. Prevendo a necessidade de atender as diversas faixas etárias, foram criados os Centros Recreativos, que funcionavam o ano todo. Eram casas campestres com sala de teatro, de reuniões, clubes, bibliotecas e refeitórios. Havia estruturas semelhantes ao que temos hoje em dia: Caixas de areia, escorregadores, quadras e ginásio para ambos os sexos com vestiários e banheiros, balanços, gangorra, etc. Para orientação das atividades existiam os líderes especialmente treinados. Em 1906 foi criado um órgão responsável pela recreação, o Playground Association Of America, hoje mundialmente conhecido com National Recreation Association. O termo playground foi mudado para “recreação” devido à necessidade de atingir um público de diferente faixa etária, como os jovens e adultos. E devido a crescente importância do tempo de lazer dos indivíduos da sociedade. No Brasil a criação de praças públicas iniciou-se em 1927, no Rio Grande do Sul com o Professor Frederico Guilherme Gaelzer. O evento chamava “Ato de Bronze”, onde foram improvisadas as mais rudimentares aparelhagens. Pneus velhos amarrados em árvores construíam um excelente meio de recreação para a garotada. Em 1929, aparecem as praças para a Educação Física, orientadas por instrutores, pois não havia professores especializados. Surgia a partir daí, Centros Comunitários Municipais. Em 1972, foi criado o “Projeto RECOM” (Recreação - Educação - Comunicação), pelo prefeito Telmo Flores juntamente com Gaelzer. Porto Alegre (a pioneira desse tipo de projeto) realizou atividades recreativas e físicas promovendo o aproveitamento sadio das horas de lazer e a integração do homem com sua comunidade. Funcionavam no RECOM uma Tenda de Cultura e um Carrossel de Cultura, desmontáveis e de fácil remoção. A Tenda é uma casa de espetáculos. O Carrossel foi criado para apresentações externas, espetáculos ao ar livre. Façamos a ressalva, pela importância da recreação, a Alemanha a introduziu nas escolas e criando os parques infantis. Os EUA, criando os playgrounds equipados revolucionando a recreação pública. O Rio Grande do Sul pelo pioneirismo e a implantação do RECOM com a recreação móvel. (LEANDRO, 2009, s/p) 2. AS VIVÊNCIAS: TEORIA E PRÁTICA EM RECREAÇÃO Conforme Vieira (2009, s/p) no dia-a-dia das aulas para a prática da Educação Física, tem se observado que o número de alunos que dispensa das aulas de Educação Física, sendo também um dos fatores que também caracterizam a falta de motivação dos alunos para a prática das aulas de Educação Física Escolar. A recreação é muito importante para o ser humano não só para a criança. Todos nos precisamos dos nossos momentos de lazer. A palavra recreação vem do latim, recreare, cujo significado é recrear. Portanto as atividades recreativas devem ser espontâneas, criativas e que nos traga prazer. Devem ser praticadas de maneira espontânea, diminuindo as tensões e preocupações. Com a atividade recreativa, os corpos expressam a ordem interna da vivência lúdica, cujo ritmo e harmonia são construídos pelos jogadores em clima envolvente, que desafia a todos como parceiros: uns assumem-se aos outros e a realidade onde acontece a ação brincante. A recreação possui como principais objetivos: Integrar o indivíduo ao meio social; Desenvolver o conhecimento mútuo e a participação grupal; Facilitar o agrupamento por idade ou afinidades; Desenvolver ocupação para o tempo ocioso; Adquirir hábitos de relações interpessoais; Desinibir e desbloquear; Desenvolver a comunicação verbal e não verbal; Descobrir habilidades lúdicas; Desenvolver adaptação emocional; Descobrir sistemas de valores; Dar vazão ao excesso de energia e aumentar a capacidade mental do indivíduo. Infelizmente na Educação Física Escolar, vários fatores contribuem para a falta de motivação dos alunos para a prática das aulas de Educação Física, porém, o professor é o maior responsável em motivar o aluno a praticar as aulas, fazendo com que o aluno leve este hábito para a vida toda, pois toda pessoa passa pela escola para se tornar um cidadão digno e com responsabilidade. A recreação não deve ser vista como simples brincadeiras sejam elas infantis ou para adultos. Deve ser analisada e respeitada, principalmente como formadores de opinião e como cidadãos. (VIEIRA, 2009, s/p) 3. CARACTERIZAÇÃO E CONCEITUAÇÃO DA RECREAÇÃO Para Nogueira, Martinez (2008, s/p) a recreação é uma prática prazerosa em que os alunos participam de atividades descontraídas. Ela pode ser uma importante estratégia de inclusão e socialização, além de desenvolver as habilidades psicomotoras das crianças. Assim, a recreação transfere-se para o cotidiano e aproxima-se de uma vida permeada de informações. Esse processo de educação se dá através da convivência de diversos desses indivíduos, mais especificamente crianças, dentro de locais especializados que transmitem tais valores indiretamente, por meio da recreação. (...) Recreação designa recreio ou prazer; sentir satisfação divertir-se, numa atividade esportiva de acordo com Ferreira (2000). Por meio da recreação é possível educar. As crianças buscam em seu interior algo estimulante, que saia da rotina diária, podendo a recreação ser utilizada, até mesmo dentro da sala de aula. Hoje, o que se vê é uma sociedade totalmente voltada para o bem comum, que continua em transformação, mas que busca maneiras alternativas que contribuam no processo de reestruturação social. Os pais estão muito preocupados com a educação de seus filhos, que necessitam de uma contribuição externa, ou seja, novas alternativas na busca de melhor qualidade de vida em vários aspectos, tais como, psicológico, afetivo e social, já que os valores atuais são outros e foram transferidos, também, a outras pessoas. A responsabilidade de educar um indivíduo e transformá-lo é peça fundamental numa sociedade;deixou de ser apenas papel da família e passou a ser de responsabilidade da escola. De acordo com Brotto (2001), a recreação é uma forma específica de atividade, uma atitude ou disposição, uma área de vida rica e abundante, a vida fora das horas de trabalho. (NOGUEIRA, MARTINEZ, 2008, s/p) Segundo Nogueira, Martinez (2008, s/p) a recreação é uma ferramenta muito importante no desenvolvimento humano: afetivo, cognitivo, motor, linguístico e moral. Dentro de um contexto social, quando um indivíduo está em recreação significa que está sentindo prazer em realizar alguma coisa. Os seres humanos são movidos, principalmente, pela emoção e pelo prazer; sendo assim, fica muito mais fácil assimilar alguma coisa a partir daquilo nos faz bem, sendo possível englobar os mais altos níveis de conhecimentos e, com crianças, é importante desenvolver e estimular atividades diferentes da vida cotidiana, mas que façam parte da natureza humana, já que é na infância o período de aprendizado e da assimilação que julgamos necessária para a vida adulta. O mais importante desse contexto é permitir que diferentes grupos de pessoas, principalmente crianças, se integrem, esquecendo o preconceito de valores, distinção de raça, estrutura familiar; pelo contrário, é possível estruturar todos esses tópicos. A recreação, nessa perspectiva, deve ser pautada em três pilares básicos de desenvolvimento: o biofisiológico, o social e o cultural, desenvolvendo o indivíduo com harmonia na realidade do seu cotidiano. Vygotsky (1991) defende uma relação de constituição recíproca, pois a criança se desenvolve no contexto das interações sociais e quando as informações ou experiências são internalizadas reestrutura a organização das ações sobre os objetos, reorganizando o plano do desenvolvimento interno e, consequentemente obtendo transformações nos processos mentais. Assim, pode-se observar que a informação e a conivência no meio social, interpretando os seus vários significados, são necessárias para o desenvolvimento da criança. Por sua vez, a Educação Física deve ser entendida numa perspectiva político-filosófica. (NOGUEIRA, MARTINEZ, 2008, s/p) Ainda conforme Nogueira, Martinez (2008, s/p) existem vários estudos significativos e, de ainda com o critério cronológico, os principais são: Segundo Bourdieu (1979), o indivíduo expressa no seu corpo a sua história, marcada como tatuagem; o monge veste o hábito da mesma forma que o hábito veste o monge, pois este expressa a sua representação na hexis corporal. Nesse percurso, nota-se que o caminho da primeira concepção parte da sociedade mais ampla em direção ao indivíduo; em consequência, a segunda parte do indivíduo para a sociedade. Assim, é possível analisar os condicionantes no grupo social ou frações de classes (análise micro-social), objetivando observar a cultura expressa por esses indivíduos pertencentes a essas camadas especiais. Assim, pode-se contribuir, através dessas análises, para uma reestruturação do Habitus do indivíduo, procurando ampliar o seu capital cultural e proporcionando uma reorganização de conhecimentos. Uma reformulação de conteúdos que deverá estar em consonância com a realidade do educando, a fim de ser abordada. Nessa nova abordagem, deve-se procurar desenvolver no estudante meio para que ele possa utilizar suas experiências, sua realidade e o seu cotidiano para, enfim, ampliar suas informações e sua formação cultural. O desporto participação deve ter como princípio norteador à formação de habitus, segundo Bourdieu (1997): reestruturação de valores, crenças, habilidades e conduta humana que deve ser trabalhada na instituição de lazer no decorrer da vida do indivíduo, atribuindo ao mesmo uma valorização na prática da atividade física e a necessidade do tempo livre, ou seja, o lazer. Bourdieu (1979) expressa em seus textos que educandos oriundos de meios sociais desiguais possuem heranças culturais diferenciadas e tendem a agir de acordo com essa cultura já interiorizada. Ele ainda acrescenta que, para difundir a cultura socialmente legitima e valorizada universalmente é necessário que esses indivíduos tenham contato com os conhecimentos e com práticas culturais. Assim reestruturarão seus habitus. Este é o conceito principal da Teoria Bourdiniana. Segundo ele, o habitus pode ser entendido como: (...) sistemas de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e estruturador das práticas e das representações que podem ser objetivamente “reguladas” e “regulares” sem ser o produto da obediência a regras, objetivamente adaptado a seu fim, sem supor a intenção consciente dos fins e o domínio expresso das operações necessárias, para atingi-los e coletivamente orquestradas, sem ser o produto da ação organizadora de um regente (BOURDIEU in ORTIZ, 1983, p. 60-61, apud NOGUEIRA, MARTINEZ, 2008, s/p). Para Cavallari, Zacharias (2008, s/p) recreação é uma forma de passar o tempo para obter distração, ou seja, relaxamento mental ou físico. Enquanto o lazer é uma forma de entretenimento ou descanso, a recreação exige empenho em atividades de forma a obter diversão. Os jogos de recreação visam apenas o divertimento dos jogadores, não sendo assim um jogo desportivo, onde ocorre competição. A recreação apresenta cinco características básicas, as quais deverão ser observadas, pois uma vez quebradas fazem com que o praticante não desenvolva sua recreação na forma mais ampla. São elas: A recreação deve ser encarada pelo praticante como um fim em si mesmo, sem que espere benefícios ou resultados específicos. A pessoa que busca recreação nunca terá outro objetivo com sua prática que não apenas o fato de se recrear. Há um total descompromisso e uma total gratuidade. Não busca qualquer tipo de retorno. A recreação deve ser escolhida livremente e praticada espontaneamente, segundo os interesses de cada um. Cada pessoa terá oportunidade de opção quanto àquilo que pretenda fazer uma função de sua recreação e, se preferir, ainda optar por não tê-la naquele ou em qualquer outro momento. Os profissionais de recreação apenas criam circunstâncias propícias para que cada pessoa se recrie. A prática da recreação busca levar os praticantes a estados psicológicos positivos. É necessário tomar-se cuidado com a prática de determinadas atividades lúdicas que durante seu desenrolar poderão desviar-se e acarretar nos praticantes sensações indesejadas e negativas. A recreação dever ser de natureza a propiciar à pessoa o exercício da criatividade. Na medida em que se ofereça estimulação, essa criatividade deve ser plenamente desenvolvida. A importância da criatividade para a pessoa é enorme, pois engrandece a personalidade e prepara para uma condição melhor de vida. O trabalho será muito melhor e apresentará resultados muito mais satisfatórios se desenvolvido desde a infância. Nas características de organização da sociedade nos níveis econômicos, sociais, políticos e culturais em geral, a recreação de cada grupo é escolhida de acordo com os interesses comuns dos participantes. Pessoas com as mesmas características têm uma tendência natural de se procurarem e se agrupem. Seu comportamento é semelhante. Essas pessoas formam os chamados grupos de iguais. Cada grupo de iguais, de acordo com suas características, busca um determinado tipo de recreação. (CAVALLARI, ZACHARIAS, 2008, s/p) 4. A MODERNIDADE: A RECREAÇÃO E O LAZER Para Aguiar (2003, s/p) Werneck (2000), resgatando a trajetória histórica dos significados do lazer; demonstra que os distintos contextos sociopolíticos imprimem diversificados sentidos ao termo. Na civilização greco-romana o lazer estava relacionado ao ócio, significando repouso, prazer, liberdadee reflexão, noção ligada aos sentidos de cultura e educação da aristocracia grega, que com seu ideal de educação do homem integral estabelecia com o trabalho uma distante relação, caracterizando a vida produtiva como um fator/elemento impeditivo à possibilidade de criação, satisfação, emancipação do espírito e contemplação oferecidos pelo lazer. Considerado como um privilégio de classe exigia certas condições educacionais, socioeconômicas e políticas para seu usufruto. Com ascensão da sociedade romana e o nascimento do cristianismo outros valores são incorporados pelo lazer. A moral cristã reconhecia no trabalho um meio de salvação e purificação da alma, até mesmo o lazer, ainda não caracterizado como um “tempo livre”, deveria ser destinado às tarefas religiosas. Nesse sentido, as práticas culturais e as manifestações festivas eram controladas pela Igreja e deveriam findar em um objetivo religioso, sendo a alegria e a diversão perniciosas à moral do homem. O protestantismo corroborou com este entendimento de lazer, um vício que possibilitava a degradação moral, e fortaleceu o sentido de trabalho como um dever, um modo de servir a Deus. A virtude do trabalho e sua dimensão humanizadora e regeneradora era capaz de avaliar a condição existencial do homem. (LENHARO, 1986, apud AGUIAR, 2003, s/p) Esta concepção de trabalho segundo Aguiar (2003, s/p) foi paulatinamente sendo revestida de princípios capitalistas e, na modernidade, influenciou a construção de outros sentidos para o lazer. (WERNECK, 2000) Nesse bojo, segundo Bracht (2001, p. 72), “(...) a partir da ética do trabalho com uma ética fundamental para o desenvolvimento do capitalismo, a população tinha que assumir a ideia de o que realiza o homem é o trabalho sendo o lazer mera recompensa. O lazer aparece como referência apenas numa visão moralista, de ocupação saudável do tempo ocioso, ou seja, o lazer é digno porque é coadjuvante do trabalho.” Além disso, outro aspecto que releva a importância alcançada pelo lazer na era moderna vincula-se, mormente, “(...) a descoberta do lazer como essência de um fecundo e promissor mercado, capaz de gerar lucros significativos para aqueles que detêm as regras desse jogo de poder social e político praticado em nosso contexto.” (WERNECK, 2000, p. 69) Nesse sentido, o lazer assume o papel de produto a ser consumido e com estreitas relações com a indústria cultural do entretenimento; esta, de forma paradoxal, “(...) determina tão profundamente a fabricação das mercadorias destinadas à diversão, que (a) pessoa não pode mais perceber outra coisa senão as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho.” (ADORNO, HORKHEIMER, 1985, p. 128, apud AGUIAR, 2003, s/p) Ainda segundo Aguiar (2003, s/p) no contexto brasileiro, de acordo com Pinto, et al (1999), o lazer, a recreação e a Educação Física interagem entre si, atuando em consonância com medidas sociopolíticas e culturais de cada época. Num primeiro momento, as práticas recreativas, tais como jogos, danças ou manifestações culturais diversas, revestiam-se de uma rigorosa disciplina de cunho religioso. Com o advento da industrialização e consequente urbanização brasileira, as práticas recreativas são orientadas para crianças e adultos com a finalidade de aprimorar forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais, bem como funcionar como instrumento de controle das massas. Decca (1987, p. 89), referindo-se a tal questão, entende que “(...) há uma retórica que se mantém em grande parte inalterada quanto à necessidade de um „lazer mais saudável e produtivo‟ para o operariado no sentido de torná-lo mais „disciplinado e ordeiro‟, esboçam-se iniciativas, até certo ponto frequentes, de „disciplinar seu lazer‟.” Dessa forma, e ainda na esteira de Decca (1987, p. 91), essa disciplina do lazer, “(...) em função de uma maior adequação ao trabalho e à vida em um centro urbano que se industrializava (...), foi buscada pelos poderes públicos de forma „idealizada‟ nos cuidados formativos com a criança, principalmente com a dos meios proletários (...).” Segundo Bercito (1991), partem das fábricas e de órgãos oficiais iniciativas de ações que visavam o controle do trabalhador, desde sua utilidade/produtividade até seu viver fora do seu ambiente de trabalho. Ainda em Goellner (1992, p. 36) encontramos argumentos que corroboram com essa ideia: “(...) Instalou-se, assim, toda uma dimensão de disciplinação da sociedade em função do „mundo do trabalho‟, que passava a exigir do individuo uma redefinição de sua própria vida com hábitos, valores, crenças, e outros, uma vez que, o capitalismo e a consequente exaltação ao trabalhador não encontrou o trabalhador feito, teve de formá-lo.” (AGUIAR, 2006, s/p) Principalmente a partir da década de 60, segundo Aguiar (2003, s/p) o contexto político influenciou fortemente a relação estabelecida entre recreação, lazer e Educação Física. O desenvolvimento esportivo e seus aspectos, o desporto escolar, de competição e o de participação (lazer) foram priorizados e grandes campanhas governamentais serviram para a difusão sobretudo do esporte (PINTO, et al, 1999, p. 107). A partir dos anos 80, “(...) a recreação e o lazer conquistaram espaços em toda a sociedade e ganham força econômica com o avanço da indústria cultural e as exigências do estilo de vida capitalista”, sendo este em voga o quadro hegemônico quando nos referimos a tal temática. No contexto hodierno, de acordo com Bracht (2001), podemos perceber, sem profundas análises, que a base de sustentação do modelo que legitimava a Educação Física na escola passa por profundas transformações. Interessa-nos, de perto, dentre aqueles elementos legitimadores, a relação estabelecida entre o trabalho, o lazer e a Educação Física. A ideia do trabalho como um dever e o lazer como mera recompensa vem sofrendo uma profunda reordenação. De acordo com Lipovetsky (1994, p. 198), “o advento da sociedade de consumo de massas e das suas normas de felicidade individualista desempenharam um papel essencial: o evangelho do trabalho foi destronado pela valorização social do bem-estar, do lazer e do tempo livre, as aspirações coletivas orientaram-se maciçamente para os bens materiais, as férias, a redução do tempo de trabalho. O dito espirituoso de Tristan Bernard, „o homem não foi feito para trabalhar, a prova é que o trabalho fadiga‟, tornou-se, num certo sentido, um credo das massas da era pós-moralista.” Em outras palavras, “(...) (o) tempo livre (tornou-se) tão importante para a realização do homem quanto o trabalho. Tendo sido o trabalho como dever, direta ou indiretamente, a referência do modelo que sustentava a Educação Física, a perda desse caráter a afeta. O problema é que, quando a referência passa a ser o lazer na perspectiva conservadora ou liberal-burguesa, ele se refere a uma esfera de consumo, a um espaço para o exercício da (pseudo) liberdade individual para fazer opções, portanto cai no espaço do privado.” (BRACHT, 2001, p. 75) Nesse sentido, que novos significados/funções o lazer assume diante de uma possível perda de centralidade do trabalho? Que possibilidades de intervenção cabe à Educação Física? “(...) Como a Educação Física escolar e o lazer interagem? O que eles têm em comum e o que os diferencia? O que um pode esperar do outro? O fenômeno do lazer, ou simplesmente, o lazer é ou deve ser uma referência fundamental para a teoria e prática da Educação Física enquanto componente curricular?” (BRACHT, 2003, p. 147, apud AGUIAR, 2003, s/p) 5. A RECREAÇÃO E O LAZER NOS ESPAÇOS PÚBLICOS Conforme Saboya (2007, s/p) os espaços públicos desempenham diversas funções para a cidade. Entre elas, estão: Recreação; “Respiro” para o ambiente urbano densificado; Identidade para bairros ou até mesmocidades inteiras; Embelezamento do espaço urbano; Possibilidade de interação e convívio social; Uma classificação possível dos espaços públicos. Os espaços públicos podem ser classificados segundo seu porte, raio de abrangência e tipos de usos que abriga. Kelly, Becker (2000) apresentam a classificação proposta pela National Recreation and Park Association. Uma possível classificação, mais simples, adaptada desta última seria: 1. Espaços públicos de vizinhança, que são aqueles de pequeno porte e que atendem a um pequeno conjunto de quadras e lotes, servindo como unidade básica do sistema de espaços públicos e abrigando especialmente atividades relacionadas ao convívio e ao lazer cotidianos; 2. Espaços públicos de bairro, que são aqueles de médio porte e que atendem a um escopo maior de atividades, incluindo aquelas de interesse comunitário, de conservação ambiental e de recreação, entre outros; 3. Espaços públicos municipais, que são aqueles de grande porte e que atendem a todo o Município, podendo abrigar uma grande diversidade de atividades, especialmente aquelas relacionadas ao lazer esporádico e à preservação e conservação ambiental. A mesma National Recreation and Park Association sugere as seguintes medidas e parâmetros para os espaços públicos (BERKE, et al, 2006, apud, SABOYA, 2007, s/p): Tipo de espaço Raio de Área público abrangência Mini-parques 1000a 2000m 2 por Menos de 400m 1000 habitantes De Bairro 400 a 800 m, de 4000 a 8000m 2 por 1000 forma a servir até habitantes 5000 pessoas Municipais 1600 a 3200m 20000 a 32000m 2 por 1000 habitantes Segundo Saboya (2007, s/p) é possível perceber que esses valores parecem um pouco superdimensionados para os padrões brasileiros. De qualquer forma, valem como referência. Alexander, et al (1977) defendem a necessidade de praças pequenas, para que não fiquem ou pareçam desertas aos usuários. Segundo ele, duas pessoas podem se comunicar com relativo conforto a até 23m de distância (ou seja, enxergar os rostos uma da outra e ouvirem-se). Por isso, as praças não devem ser maiores que isso no seu menor lado, para manter uma ambiência interessante. Com relação às áreas verdes, Alexander, et al (1977) defendem que estejam localizadas de forma que de qualquer habitação se tenha que caminhar no máximo 3 minutos para alcançá-la, o que equivale a uma distância de 230m aproximadamente. Para criar um mínimo de ambiência em meio ao verde, sua menor dimensão não pode ser menor que 45m, e sua área deve ser no mínimo de 0,5 hectare. Jacobs (2000, apud Saboya, 2007, s/p) também argumenta que não é possível conferir animação para uma quantidade muito grande de espaços públicos. Por isso, as áreas verdes defendidas pelo Movimento Moderno não funcionaram, tornando-se áreas vazias e sem apropriação por parte da população. Assim, ela recomenda implantar os espaços públicos naqueles lugares onde já exista vida, pessoas passando e usos variados. “Se for no centro da cidade, deve ter lojistas, visitantes e transeuntes, além de funcionários. Se não for no centro, deve situar-se onde a vida pulse, onde haja movimentação de escritórios, atividades culturais, residências e comércio”. (JACOBS, 2000, p. 110) Muitos bairros já têm esses lugares bem demarcados, mas é comum vermos duas situações: ou posicionam os espaços em lugares mais vazios, esperando dar-lhes animação, ou implementam nas áreas mais animadas, mas para isso acabam destruindo uma parte dessa diversidade, como por exemplo nas intervenções higienistas do século XX. (SABOYA, 2007, s/p) 6. O RECREACIONISTA: FUNÇÃO NOS DIVERSOS CAMPOS DE ATUAÇÃO - Como professor: Para Santos (2006, s/p) esta vertente da educação física é apresentada por Darido (2005) e situa professor como um profissional de apoio no contexto pedagógico, permitindo ao aluno que determine a atividade que fará durante a aula. Os alunos têm liberdade para escolher atividades de sua preferência cabendo ao professor apenas cuidar de aspectos burocráticos, como fornecer material, controlar o tempo da aula, e em alguns momentos arbitrar a pelada. O professor não apresenta aspetos diretivos na sua aula. A partir das críticas ao modelo esportivizante, predominante nas décadas de 60 e 70, surge esta tendência no ensino da Educação Física, na qual o professor tende a demonstrar passividade e apatia, contrastando com o estilo militar e autoritário característico de uma pratica que privilegia o esporte como conteúdo onipresente. A tendência recreacionista não possui nenhum arcabouço teórico. Não existem teóricos ou estudiosos que tenham pesquisado ou, refletido, sobre os aspectos que levam a uma atuação que não privilegia a intencionalidade. A autora também afirma que esta ausência de material conceitual não diminui sua predominância no dia-a-dia da escola e reputa as causas desta alternativa a interpretações equivocadas do papel do educador físico no contexto escolar e uma formação deficiente do professor. (SANTOS, 2006, s/p) Por analogia, continua Santos (2006, s/p) podemos comparar um regente de turma, cuja atuação se reduz a atitudes recreacionista, a um maestro que teria como principal função conduzir sua orquestra com as obras de sua escolha, mas permite que os músicos se auto-organizem e desenvolvam o repertório da apresentação. Dessa forma o maestro, que seria o regente do espetáculo se transforma em mais um espectador, não se diferenciando em quase nada do público que prestigia a atuação dos músicos. É o que acontece com o professor que torna sua prática docente um espaço superficial que poderia star sendo organizado por qualquer indivíduo sem conhecimentos e formação em Educação física que estivesse passando pela esquina da escola. A inexistência de pressupostos teóricos que corroboram e fundamentam a vertente recreacionista comprova que esse professor não tem a intenção de justificar sua prática cotidiana, a não ser através de subterfúgios. A postura acionada como recurso de argumentação é se ancorar, de forma equivocada, no discurso que defende a promoção do lazer na escola, porém sem a vinculação dos aspectos pedagógicos. Seu trabalho cotidiano se resume a atividades isoladas e sem conexão entre si, voltadas para o lazer, sem que visem nenhuma autonomia do aluno. Se a Educação Física assume este papel catártico através do lazer, perde a função como disciplina no panorama do ensino formal. O professor recreacionista parece argumentar em um terreno instável, a beira de um abismo ou em solo arenoso, ao constituir uma prática superficial no contexto pedagógico. (SANTOS, 2006, s/p) - A Educação Física e o lazer: Para Pimentel (2006, p. 7) historicamente, conforme apontam Melo, Fonseca (1997) a Educação Física vem se sedimentando no campo do tempo livre muito em função da recreação. A sociedade já referenda a área como a mais associada a atividades como: colônias de férias, gincanas, ruas de lazer, acampamentos, animação de festas, entre outras estratégias recreativas. Mas com o desenvolvimento do turismo, como mercado e área do lazer, os formados em Turismo (turismólogos), vêm buscando competências para terem inserção mais significativa no lazer e recreação. No âmbito da animação cultural e do planejamento do lazer, turismólogos ganham terreno devido à formação em ciências sociais aplicadas. Isso lhes fundamenta para uma intervenção mais no campo teleológico (diretrizes) enquanto o profissional de Educação Física, em geral, se preocupa com a questão instrumental (ações). Schreyer, Driver (1989, p. 413, apud Pimentel, 2006, p. 7), sobre mudanças nas perspectivas de profissionais do lazer na América do Norte, avalizam não haver uma única profissão do lazer. Isto porque há variaçãoconsiderável no conhecimento, valores, e capacidades de indivíduos que trabalham na provisão de serviços no lazer. Mesmo que, frequentemente, os especialistas tendam a enfatizar as preocupações mais imediatas de administração, os autores percebem um quadro claro da extensão desta perspectiva. O entendimento enfocado nas questões do dia a dia é, para Schreyer, Driver (1989), uma visão estreita que mantém o romantismo ingênuo sobre o lazer como algo maravilhoso capaz de reduzir criminalidade e curar enfermidades. Portanto, o problema na realidade deles não é somente a necessidade de uma articulação entre vários profissionais, mas a formação pouco crítica dos que atuam na área. Isto contribui à percepção que lazer é uma coisa trivial, sem necessidade dos especialistas possuírem educação profissional específica. Como não existe articulação séria da natureza de causa-efeito entre atividades de lazer e benefícios específicos, mesmo nos países ditos desenvolvidos não se prega como necessário, ou até mesmo desejável, que se faça pesquisa sistemática sobre a melhor forma de o lazer trazer benefícios para cada grupo em particular. Consequentemente, no mercado de trabalho se oferece um pacote de profissional/atividades, tido como apropriado para qualquer pessoa nas mais diversas realidades. (PIMENTEL, 2006, p. 7) Naturalmente, enfatiza Pimentel (2006, p. 8) estas são aproximações que ainda necessitam de melhor reflexão, mas que já são apontadas em estudos, como o realizado pela Confraria dos Profissionais do Lazer no Paraná (Pimentel, Pereira, Carvalho, et al, 2001). Tal pesquisa sobre a atuação profissional no lazer reforça que muitos graduados e acadêmicos da Educação Física, consideram a recreação como um „bico‟ e preferem mais serem vistos como professores que recreadores ou animadores. Apresentam pouca inserção em cargos de gerência ou planejamento, estando mais interessados em adquirir competências para trabalho direto com o público, executando a programação ao invés de construí-la. Ainda há aqueles que se refugiam na Educação Física escolar como „emprego institucionalizado‟, encarando a atuação no lazer como um mercado promissor, porém incerto, absorvente e subversivo quando comparado à escola. Enquanto setores como escola, iniciação desportiva e musculação envolvem muita rotina, o mercado do lazer requisita atenção e inovação constantes do trabalhador. Evidente, nem todo lazer se mostra criativo. Daí essa crise de identificação acadêmica com o lazer ser muitas vezes fruto do próprio encaminhamento equivocado que os trabalhadores da área dão à recreação. Primeiro porque os projetos são desenvolvidos desprovidos da devida análise de contexto. Sem inventário do local e da população alvo, são presumidas algumas características e montado um pacote de brincadeiras „infalíveis‟. Com o tempo, há o perigo desse trabalho de pouca qualidade fazer parecer ser o normal, o padrão. E por sempre as atividades serem feitas dessa maneira, vai sendo reproduzido o círculo vicioso: é oferecida „qualquer coisa‟, mas a comunidade vai se acostumando. Daí que ao solicitar serviços recreativos, não é cobrado o diagnóstico local para programar uma atividade personalizada, com participação efetiva da comunidade, numa perspectiva de desenvolvimento e cidadania cultural. Em projetos de extensão comunitária, por exemplo, é comum virem pedidos de evento com poucos dias de antecedência e ao se explicar da necessidade de um trabalho de preparação, ainda respondem: „nem é preciso isso não; é só ir lá e brincar com a criançada. (...)‟ (PIMENTEL, 2006, p. 8) O segundo motivo conforme Pimentel (2006, p. 8) que pode explicar a paradoxal relação de simpatia/rejeição do profissional de Educação Física com o lazer/recreação, é o caráter superficial e alienante das práticas de lazer na perspectiva tradicional da recreação. Para alguns, atuar com recreação se confunde com o próprio lazer pessoal, visto que exige uma aparente e constante negação da rotina. Por outro lado, muitos profissionais, municiados de um referencial mais denso, da licenciatura, percebem que ser professor, além de atrair mais reconhecimento, significa trabalhar numa perspectiva mais abrangente e transformadora quando comparada ao ofício do recreador. Nesse sentido, a recreação, por não se apresentar como contraponto à hegemonia, não despertaria nenhum interesse às perspectivas mais críticas da educação. De fato, como Werneck (2000, p. 109-121) é enfática ao dizer, a recreação está inserida em escolas, hospitais e clubes com diversos interesses, mas que redundam na mera conformação e controle social. Porém, a recreação não pode ser confundida com jogos e nem com o lazer. Este último, particularmente, deve ser entendido como direito social e possibilidade de produção cultural. Uma educação para o lazer facilitaria a apreensão desse tempo conquistado, através de múltiplas possibilidades. Neste sentido, lazer difere de recreação, o movimento de ocupar as horas vagas das massas populares. (PIMENTEL, 2006, p. 9) Sem preconceitos, o professor de Educação Física deve entender que muito do que faz está relacionado ao lazer (maior parte das atividades corporais significativas ocorre no tempo livre das pessoas ou tem reflexos nas opções de lazer). Também cabe a ele a crítica aos modelos vigentes, visando o desenvolvimento de novas possibilidades de consumir e produzir a cultura no tempo livre. Essa competência didático-pedagógica, aliada à consciência política, precisa ser entendida como necessária também na animação sociocultural, especialmente quando se entende o profissional do lazer como um educador. A esse respeito, Requixa (1980, p. 52-56, apud Pimentel, 2006, p. 9) ao tratar do “duplo aspecto educativo do lazer”, diz ser a educação para o lazer uma resposta ao sentimento de tédio e depressão experimentado por trabalhadores ao terem tempo livre. Para o autor, a falta de preparação para o lazer é sintoma de um tipo de sociedade no qual as pessoas consomem mais coisas e, paradoxalmente, sentem- se com menos qualidade de vida. Técnicos de várias especialidades seriam necessários para cultivar múltiplos interesses no lazer e emancipar as pessoas da procura por fazer algo útil em seu tempo livre. O resultado esperado seria que a pessoa conseguisse “preparar para si mesma uma arte de viver.” Na esteira da educação informal, o lazer é um meio de desenvolvimento de diferentes aspectos do ser humano. Em complemento, é por meio da educação que muitas possibilidades de transformação das práticas de lazer se delineiam. Isto significa, entre outras coisas, que o profissional de Educação Física precisa redimensionar sua intervenção no lazer, buscando as interfaces de seus conhecimentos na educação com as práticas corporais no tempo livre. Por fim, é fundamental recordar a amálgama entre a educação para o lazer e o seu consumo/produção no tempo livre. O fato desses dois campos não serem pensados como interdependentes reflete a desconsideração dos educadores com a dinâmica cultural. Sobrevive ainda o paradigma de educar primordialmente para o trabalho. A escola tem de ser pensada como centro cultural, onde é possível construir vivências significativas para os vários campos lúdicos de realização humana (teatro, cinema, esportes, dança, ginástica, pintura, jardinagem, modelismo, viagem, associativismo, entre outros). Essas experiências permitiriam que o educando formasse uma sólida cultura geral, apontando para a cidadania. Neste sentido, o profissional escolar estaria formando o futuro cliente (não mais acéfalo) do profissional do lazer, nos vários campos de interesse no lazer. Pois uma vez enriquecidas de vivências, as pessoas poderiam se dedicar às manifestações lúdicas com mais autonomia, cientes das opções e, provavelmente, mais criteriosas quanto à qualidade dosagentes que irão acompanhá-las nesse processo. (PIMENTEL, 2006, p. 9) 7. A RECREAÇÃO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA - Lazer: Para Maffei Junior (2004, p. 53) de acordo com a Carta Internacional de Educação para o Lazer, da Associação Mundial de Recreação e Lazer (World Leisure and Recreation Association – WLRA, 2004), a finalidade básica da educação é desenvolver os valores e atitudes das pessoas e provê-las com o conhecimento e aptidões que lhes permitirão sentirem-se mais seguras e obter mais prazer e satisfação na vida. Essa perspectiva subentende que a educação, além de ser importante para o trabalho e para a economia, é igualmente importante para o desenvolvimento do indivíduo como um membro plenamente participativo da sociedade e para a melhoria da qualidade de vida. A educação deve ser considerada como processo para o desenvolvimento humano integral. Para isso, ela deve organizar-se, segundo Délors (2001, p. 89-90), em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: Aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão; Aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; Aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; Finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. Através dessas quatro aprendizagens, os indivíduos podem adquirir a consciência crítica que amplia a visão de mundo, ajudando-os na leitura interpretativa dos fatos sociais, das relações intrapessoais e interpessoais e com a natureza. Deve ser contextualizada, propiciando ao aluno a apropriação do conhecimento elaborado, tendo como referência a sua própria realidade. Libâneo (1998, p. 22) define a educação como “uma prática social que atua na configuração da existência humana individual e grupal.” Libâneo diz ainda que a educação tem função construtora e reconstrutora dos espaços de vida, e para isso utiliza “processos de comunicação e interação pelos quais os membros de uma sociedade assimilam saberes, habilidades, técnicas, atitudes, valores”. É nesse contexto que a escola precisa estar inserida, oferecendo uma formação geral na direção da educação integral. Segundo Gadotti (2000), cabe à escola: amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e reconstruir conhecimento elaborado. (MAFFEI JUNIOR, 2204, p. 54). Continuando, Maffei Junior (2004, p. 94) afirma que para os alunos, as consequências dessa escola, de acordo com Gadotti, são enormes: ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a distância. Com isso se quer dizer que a escola constitui um pilar básico na sociedade para a formação dos indivíduos e, indiretamente, da própria comunidade em que se integram. Este atributo da escola é inegável, pois a maioria das crianças e dos adolescentes cresce dentro dela. A escola representa o espaço onde se criam condições para promover, de maneira organizada, as aquisições consideradas fundamentais para o normal desenvolvimento humano. É essa a função da escola: dar conta do desenvolvimento pleno dos educandos – a escola tem que se preocupar com a formação em todas as dimensões. Isso inclui proporcionar aos alunos conhecimentos e oportunidades para que eles possam viver, conviver e trabalhar, dando sentido às suas vidas. E, o que muito se discute hoje é que não se pode alcançar estes objetivos olhando a escola simplesmente pela ótica da educação para o trabalho; deve-se olhar, sim, pela ótica de uma educação para a vida, que envolve trabalho, lazer, relações, desenvolvimento artístico e profissional. Para Requixa (1977, p. 21), a educação é hoje entendida como o grande veículo para o desenvolvimento, e o lazer, um excelente e suave instrumento para impulsionar o indivíduo a se desenvolver, a se aperfeiçoar, a ampliar os seus interesses e a sua esfera de responsabilidades. Requixa (1980, p. 72) sugere um duplo aspecto educativo do lazer: o lazer como veículo de educação – educação pelo lazer; o lazer como objeto de educação – educação para o lazer. Este autor diz que o indivíduo, ao participar em atividades de lazer, desenvolve-se tanto individual como socialmente, condições estas indispensáveis para garantir o seu bem-estar e a participação mais ativa no atendimento de necessidades e aspirações de ordem individual, familiar, cultural e comunitária. Marques (1998) entende que o objetivo da educação para o lazer é formar o indivíduo para que viva o seu tempo disponível da forma mais positiva. Através desse processo o indivíduo amplia o conhecimento de si próprio, do lazer e das relações do lazer com a vida e com o tecido social, e reconhece os valores do lazer, aprendendo a utilizar os conhecimentos necessários para que possa organizar a sua vida, tanto do ponto de vista laboral como do aproveitamento do seu tempo livre. Para Dumazedier (1979), os objetivos da educação e do lazer se harmonizam, haja vista que uma das funções do lazer é o desenvolvimento da personalidade do indivíduo. Requixa (1976, p. 38) complementa, dizendo do papel preponderante da educação para o lazer para o aluno: a família, a escola e todos os educadores têm papel determinante a desempenhar quando da iniciação da criança numa atividade lúdica e ativa de lazer, na qual a frequente contradição entre o ensino e a realidade necessita ser eliminada. (MAFFEI JUNIOR, 2004, p. 56) Segundo a Carta Internacional de Educação para o Lazer, a educação para o lazer há muito tem sido reconhecida como parte da área da educação, mas não tem sido amplamente implementada. Tem sido entendida como parte importante do processo de socialização no qual uma variedade de agentes desempenha um papel importante, sendo que se pode destacar como principais agentes os alunos e o professor de educação física. Mas, por que implementar a educação para o lazer na escola? Porque a meta geral da educação para o lazer é ajudar estudantes em seus diversos níveis a alcançarem uma qualidade de vida desejável através do lazer. Isto pode ser obtido pelo desenvolvimento e promoção de valores, atitudes, conhecimento e aptidões de lazer através do desenvolvimento pessoal, social, físico, emocional e intelectual. Diz Vaz (2003): a escola deve atender às necessidades, interesses e motivações de seus alunos, onde o aspecto recreativo, base da concepção utilitária e social da educação física, deve ser levado em consideração quando do planejamento das atividades a serem desenvolvida, pois, trabalho e lazer, tal como a educação intelectual e a educação física, não podem ser consideradas como partes separadas. Isso deve ser ensinado aos alunos. Em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, MEC, 1996), este documento somente cita o lazer na escola, não aprofundando e nem explicitando o tema. Os PCNs apontam a importância de se educar para o lazer, mas não indicam como fazer isso. Afirmam que, ao final do ensino fundamental, os alunos devem estar capacitados a conhecer, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer, reconhecendo-as como uma necessidade básica do ser humano e um direito do cidadão. Entretanto, isso não ocorre, porque são rarosos professores de educação física que incluem em seu planejamento de aula conteúdos sobre o lazer. Um dos motivos pode ser a má formação que este professor recebeu sobre o lazer quando cursou a faculdade. São poucas as instituições que oferecem embasamento sobre o lazer. Isayama (2002, p. 121), analisando os currículos, observou que com relação à importância atribuída à recreação e ao lazer nos currículos desses cursos, existe contradição entre o que se propõe como objetivo e o que realmente se realiza no interior dos currículos. Nesse sentido, muitos cursos afirmam em seus objetivos que a recreação e o lazer são campos de atuação do profissional de Educação Física, além do treinamento desportivo e da escola, e que o seu currículo irá privilegiar esses três enfoques. No entanto, fica difícil formar profissionais qualificados para atuar nos campos da recreação e do lazer, se esses conhecimentos são trabalhados de forma rápida e superficial, em virtude da pequena abertura que têm, em termos de carga horária, número de disciplinas e abordagem dentro de outras disciplinas do currículo. (MAFFEI JUNIOR, 2004, p. 57) Ainda Maffei Junior (2004, p. 57) aponta que Bramante (1998, p. 42) se refere ao duplo aspecto educativo do lazer (Requixa 1989) e diz que “a educação para e pelo lazer tem oscilado entre dois extremos: da inclusão de uma disciplina específica no currículo escolar desde o início do processo de escolarização” até a proposta de que “todo currículo escolar deveria ter como paradigma a ludicidade, explorando os conteúdos específicos de todas as disciplinas através de uma educação pelo lazer”. Segundo Le Boulch (1983, p. 23), a preparação dos alunos para o lazer é uma questão pedagógica: “ao assumir a nobre função de educar na plenitude do termo o cidadão, a escola esteja preocupada, em todos os níveis, em prepará-lo não apenas para o trabalho, mas também e cada vez mais para o lazer”. Opachowski citado por Vaz (2003) desenvolveu uma “pedagogia do lazer”, defendendo a necessidade de criar medidas e intenções educativas para o lazer, garantindo que o mesmo seja realmente um tempo livre para o indivíduo. A “pedagogia do lazer” apresenta oito características, resumidas por Haag (1981, p. 100-101), que podem ser plenamente utilizadas pelo professor de educação física para explicar aos alunos a importância do lazer: 1. A pedagogia do lazer constitui uma forma culta de serviço especial que oferece ao indivíduo (desde a etapa pré-escolar até a formação do adulto) ajuda para aprender, desencadear e tolerar as trocas individuais e sociais. 2. A pedagogia do lazer supõe uma atitude política ante um mundo não harmonizável. 3. A pedagogia do lazer libera da identificação total com os afazeres (e com os afazeres desempenhados durante o tempo livre, porém determinados pelo trabalho e por terceiros), da consequente idealização do trabalho e do predomínio absoluto do princípio de rendimento. 4. A pedagogia do lazer estimula ao indivíduo a autoanálise e a reflexão sobre si mesmo e sobre o lugar ocupado por ele no trabalho e no tempo livre. 5. A pedagogia do lazer vence a angústia, a penúria e a repressão; está aberto ao bem estar, ao lazer e ao desfrute dele mesmo. 6. A pedagogia do lazer assume uma atitude positiva frente à abundância e variedade das ofertas de consumo, evitando, ao mesmo tempo, um permanente autocontrole, vigilância e distância crítica permanentes frente à indústria de lazer. 7. A pedagogia do lazer proporciona segurança física, psíquica e social e uma nova economia da saúde. 8. A pedagogia do lazer melhora o estado de ânimo, e assim contribui a atingir o otimismo frente à vida e a fortalecer a autoconsciência. Kraus (1972, p. 1-2) afirma que o principal propósito da educação para o lazer, assim como em outras formas de educação, é “promover certas mudanças individuais desejáveis nos estudantes que estão expostas a ela”. Este autor trabalha com algumas metas que podem ser estabelecidas: Atitude: é essencial que o estudante desenvolva um conhecimento da importância do lazer na sociedade e reconheça os valores significativos que eles podem trazer à sua vida; Conhecimento: atitudes positivas bem fundadas devem ser suplementadas pelo conhecimento individual; saber “como”, “por que”, e “onde” deve ocorrer a participação recreativa; Habilidades: o objetivo de ensinar técnicas não é somente o de conseguir que o estudante domine um certo número de atividades específicas, com a ideia de que ele necessariamente participará delas, em sua vida recreativa, na juventude e idade adulta; e ainda proporcionar certas habilidades básicas, para que ele possa participar dessas habilidades com um certo grau de competência, sucesso e prazer; Comportamento: qualquer das metas acima, atitude, conhecimento e habilidades, leva a esse último propósito que é o comportamento. A consequência da educação para o lazer dever ser a existência de um comportamento que seja marcado pela capacidade de um bom julgamento pessoal, quando da seleção de atividades recreativas. Segundo Kraus (apud Gaelzer, 1979, p. 2), a escola tem a responsabilidade de proporcionar experiências vivas, tanto pela assistência direta ao corpo discente como pela colaboração com a comunidade que também deve proporcionar atividades recreativas para a intensificação de seu programa de educação para o lazer. O comportamento de lazer pode ser firmado e os hábitos de participação efetiva podem ser solidamente implantados se a escola se esforçar em ensinar uma real participação nas atividades de lazer. Como diz M'Bow citado por Vaz (2003), “que cada um seja, daqui por diante, preparado para uma educação física e esportiva que lhe permita manter a saúde ao longo da vida, ou simplesmente ocupar o seu lazer”. (MAFFEI JUNIOR, 2004, p. 58-59) - Recreação: de acordo com Graciano, Silva (2009, s/p) a palavra recreação vem do latim recreare e significa “criar novamente” no sentido positivo, ascendente e dinâmico (Ferreira 2003). Silva (1959) informa que a definição de recreação pode ser achada no termo inglês play significado que o homem encontra uma verdadeira satisfação e alegria no que esta fazendo. Representa uma atividade que é livre e espontânea na qual o interesse se mantém por si só, sem nenhuma compulsão interna ou externa de forma obrigatória ou opressora. Para Mian (2003) recreação significa satisfação e alegria naquilo que faz. Retrata uma atividade que é livre e espontânea e na qual o interesse se mantém por si só, sem nenhuma coação interna ou externa de forma obrigatória ou opressora, afora e prazer. Schimit (apud Frietzen, 1995) define a recreação como sendo o relaxamento do organismo e da mente. É diversão, renovação, recuperação. È a atividade livremente escolhida exercida nas horas de lazer ativa ou passiva, individualmente ou em grupo, organizada ou espontânea. A recreação tem o objetivo de criar condições ótimas para o desenvolvimento integral das pessoas, promovendo a sua participação individual e coletiva em ações que melhorem a qualidade de vida a preservação da natureza e afirmação dos valores essências da humanidade. Segundo Gouvêa (1963) recrear é educar, pois a recreação permite criar e satisfazer o espírito estético do ser humano ricas possibilidades culturais, permite escapar do desagradável, utilizando excesso de energia ou diminuindo tensão emocional; é experiência, complementa atividade compensadora, descarrega impulsos agressivos, fuga de pressão social que provoca frustração, monotonia ou ansiedade. Já Kishimoto (1997) define recreação, como atividade física ou mental a que o indivíduo é naturalmente impelido para satisfazer as necessidades físicas, psíquicas, ou sociais, de cujas realizações lhe advêm prazer, e que é aprovada pela sociedade. (GRACIANO, SILVA, 2009, s/p)Ainda de acordo com Graciano, Silva (2009, s/p) o entretenimento em si mesmo não é, sempre recreação. Muitas diversões, muitos passatempos catalogados ou tidos como recreadores, não passam de atividades, nocivas a formação do caráter, responsáveis por grande número de problemas morais e sociais. A verdadeira recreação contém todos os elementos citados - entretenimento, diversões, passatempos e distração - mas em um nível construtivo. Atividades feitas apenas com o sentido de “matar o tempo” não podem ser classificadas como recreação relata Silva (1959). Infelizmente, nossas crianças na maioria das escolas recebem regras prontas, não significações. Elas devem aceitá-las para poder transformar num bom adulto. E o mesmo acontece com os professores. (MIAN, 2003) Nem todo passatempo é recreação, nem toda diversão é uma atividade recreativa. (FERREIRA, 2003, apud GRACIANO, SILVA, 2009, s/p). - Jogos e brincadeiras: os jogos surgiram na Grécia como forma de diversão passando mais tarde a serem aperfeiçoados e estudados por grandes mestres a fim de torná-lo parte do desenvolvimento educacional da criança. Depois da segunda guerra mundial e com a criação da (A. C. M.) Associação Cristã de Moços em vários países, o jogo como um fator educacional, começou a ocupar espaço (Ferreira 2003). Segundo Cavallari, Zacharias (2008) se uma atividade recreativa permite alcançar vitória, ou seja, pode haver um vencedor, estamos tratando de um jogo. O jogo busca um vencedor, Ferreira (2003) jogo é uma atividade física, e/ou mental que favorece a sociabilização obedecendo a um sistema de regras, visando um determinado objetivo, sendo uma atividade que tem começo, meio e fim, regras a seguir e um provável vencedor. O jogo educativo é um elemento de observação e conhecimento metodológico da psicologia da criança, suas tendências, qualidades, aptidões, lacunas e defeitos. Jogo é uma das experiências mais ricas e polivalentes e, uma necessidade básica para a idade infantil. A revalorização do tempo livre, nos últimos tempos, e a continuidade do ensino de expressão dinâmica, vão despertando uma renovada atenção em direção ao aspecto lúdico, a psicomotricidade e suas grandes possibilidades (SILVA, 1999). Cavallari, Zacharias (2008) dizem que todo jogo apresenta uma evolução regular, ele tem começo meio e fim. Consequentemente existem maneiras formais de se proceder. A maneira como se joga pode tornar o jogo mais importante o que imaginamos, pois significa nada menos que a maneira como, estamos no mundo. Os jogos de que as crianças participam tornam-se seus jogos de vida. Participando destes jogos tocamos uns aos outros pelo coração. Desfazemos a ilusão de sermos separados e isolados. E percebemos o quanto é bom e importante será respeitar a singularidade do outro. (BROTTO, 2003) O professor tem seu papel nos jogos, ele representa e projeta a maneira de jogar, ele é quem comunicar-se através de voz audível e gestos harmoniosos, a fim de promover uma atmosfera agradável sua experiência é fundamental, pois através de seus exemplos conquista a confiança e cria uma relação de atividade criativa e amigável (SILVA, 1959, apud GRACIANO, SILVA, 2009, s/p). - Brincadeiras: Para Graciano, Silva (2009, s/p) Cavallari e Zacharias (2008) definem como a principal diferença entre jogo e brincadeira é o vencedor, na brincadeira não há como ter um vencedor. Ela simplesmente acontece e segue-se se desenvolvendo enquanto houver motivação e interesse por ela. Para a criança brincar é a coisa mais séria do mundo, é tão necessária ao seu desenvolvimento quanto o alimento e o descanso. É o meio que a criança tem de travar conhecimento com o mundo e adaptar-se ao que rodeia (FRITZEN, 1995). É por meio de brincar que a criança torna-se intermediária entre a realidade interna e externa, participando, entendendo e percebendo-se como membro integrante do seu meio social. É brincando também, que a criança deixa de ser passiva para tornar-se responsável pela a ação realizada, decidindo os rumos das situações socioculturais por ela criadas é vivenciada sentimentos diversos, que contribui para a formação da sua personalidade (MIAN, 2002). Marcellino (1990, apud Graciano, Silva, 2009, s/p) informa que através do prazer, o brincar possibilita à criança a vivência de sua faixa etária e ainda contribui de modo significativo para sua formação como ser humano, participando da cultura da sociedade que vive, e não apenas como mero indivíduo requerido pelos padrões de produtividade social. Sendo assim a vivência do lúdico é imprescindível em termos de participação cultural e crítica e, principalmente criativa. Marcellino descreve também o quanto é fundamental assegurar a criança o tempo e o espaço para que o lúdico seja vivenciado com intensidade capaz de formar a base sólida da criatividade e da participação cultural e, sobretudo para o exercício do prazer de viver. São os conteúdos e a forma (produtos e processo) da cultura da criança, que representam o antídoto a aceitação do “jogo” pré-estabelecido, da sociedade e mesmo a camuflagem das colocações individuais, justificando sua impotência frente a estrutura do mundo que receberam e são obrigadas a produzir. A criança que brinca vive a sua infância torna se um adulto muito mais equilibrado, física e emocionalmente suportará muito melhor as pressões das responsabilidades adultas e terá maior criatividade para solucionar os problemas que lhe surgem, sendo assim, a brincadeira é uma atividade não apenas natural, mas, sobretudo sociocultural já que, muitas crianças a cada dia, tem menos tempo para brincar, pois os pais se matriculam no maior número possível de atividades e como consequência elas são vítimas de estresse bem mais cedo. O brinquedo por sua vez tem seu papel importante nas brincadeiras sendo para criança um passaporte para o reino mágico de brincadeira (KISHIMOTO, 1997, apud GRACIANO, SILVA, 2009, s/p). Infelizmente, nossas crianças na maioria das escolas recebem regras prontas, não significações. Elas devem aceitá-las para poder transformar num bom adulto. E o mesmo acontece com os professores. (MIAN, 2003) Observa-se cada vez mais que o contato das crianças com jogos brinquedos e brincadeiras tradicionais vem perdendo espaço, possivelmente como consequência dos processos de urbanização e de produção consumo de equipamentos de alta tecnologia (videogames, computadores, televisores e brinquedos de controle remoto). (SCHWARTZ, 1958). Segundo Neto (apud Velasco, 1996) é um fato inquestionável que as oportunidades de jogo e atividade física tem vindo a degradar- se de forma considerável nas ultimas décadas aumentando substancialmente o sedentarismo na infância. A infância é uma época importante para a prática de várias atividades físicas e o desenvolvimento de habilidades motoras diversas a fim de promover atitudes saudáveis, melhorias na proficiência motora, maiores possibilidades de aderência a um estilo de vida ativo e melhor autoestima e confiança. Uma possível dinâmica de aula, em algumas ocasiões é iniciar conversando com os alunos, perguntando-lhes do que gostariam de brincar. Trata-se de uma forma de estimular a participação da criança e fazê-la sentir toda importância que tem favorecendo ainda, a rica troca de experiência entre elas e seus respectivos universos de jogos. Outra possibilidade é resgatar jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais, que os pais ou responsáveis e familiares dos alunos desenvolviam quando crianças pedindo ao aluno conversem com eles, perguntando-lhes a respeito de que e como brincavam na infância trazendo referências por escrito ou desenhada representação de uma pequena exposição (organizada pelos próprios alunos, professores, pais ou responsáveis familiares e comunidade, na escola) da memória da cultura de jogos, brinquedos e brincadeiras infantis.(SCHWARTZ, 1958, apud GRACIANO, SILVA, 2009, s/p) Ainda de acordo com Graciano, Silva (2009, s/p) a alegria tem um efeito estimulante sobre o sistema nervoso e, sendo este o sistema que controla toda a atividade química que se processa no íntimo dos tecidos, é indiscutível os profundos efeitos das emoções de prazer sobre o organismo em geral e a estreita correlação entre saúde e bem estar. O treino nas diferentes atividades que se entrega a criança que se dispõe de espaço e estímulos naturais promove crescimento muscular, presteza em agir de acordo com a vontade, reserva de energia nervosa e maior resistência ao esforço físico. Cada momento de atividade recreativa envolve um estado emocional: de simples prazer ou alegria promovido pela satisfação de agir, de medo diante ao insucesso, da identificação real com um personagem mais fraco, ou ainda do perigo que possa enfrentar de raiva na luta contra obstáculos ou na personificação de elementos destruidores (GOUVÊA, apud KISHIMOTO, 1997). - Características das crianças de 6 a 8 anos: a criança de 6 a 7 anos para Ferreira (2003) pode ser definida como estando no estágio pré-operatório sendo a de 6 a 7 onde aparece à linguagem oral. Pensamentos egocêntricos, rígidos, centrada em si mesma e com características de animismo (ciosas e animais). Não possui noção de conservação, quantidade, volume, massa, peso e não consegue retornar ao ponto de partida mentalmente (condição básica para a realização de operações). No período pré-operatório a assimilação, (isto é, a interpretação de novas formações baseada em interpretações presentes) é uma tarefa suprema para a criança. Nesta fase, a ênfase no por que e no “como” torna-se uma ferramenta básica para que a adaptação ocorra (GALLAHUE, OZMUN, 2005). Brincar serve como um importante meio de assimilação e ocupa maior parte das horas que a criança passa acordada. As brincadeiras imaginárias e as paralelas são importantes ferramentas para o aprendizado. Brincar também serve para demonstrar as regras e os valores dos familiares mais velhos do indivíduo. A ampliação do interesse social por seu mundo é característica da fase do pensamento pré–operatório da criança. Como resultado o egocentrismo é reduzido e a participação social aumenta. A criança começa a exibir interesse nos relacionamentos entre as pessoas. A compreensão dos papéis sociais de “mamãe”, “irmã” e “irmão” e seu relacionamento uns com os outros é importante para a criança nesta fase. A criança pequena demonstra crescente pensamento simbólico pela ligação do seu mundo com palavras e imagens. A assimilação é avançada usando a atividade física para realizar os processos cognitivos. (GALLAHUE, OZMUN, 2005, apud GRACIANO, SILVA, 2009, s/p) Na fase operatório-concreta de 7 a 11 anos para Ferreira (2003) a criança começa a ter um pensamento mais lógico, menos egocêntrico, ações mentais mais reversíveis, móveis e flexíveis. Apesar de o pensamento basear-se mais no raciocínio, ainda precisa de materiais e exemplos concretos. Não pode ordenar, seriar e classificar. Nesta fase, as percepções são mais precisas, e a criança aplica a interpretação dessas percepções ambientais sabiamente. Ela examina as partes para obter conhecimento do todo e estabelece meios de classificação para organizar as partes em um sistema hierárquico. A criança brinca para compreender seu mundo físico. Regras e regulamento são de interesse da criança quando aplicadas a brincadeira. A criança raciocina logicamente sobre eventos concretos e consegue classificar objetos de seu mundo em vários ambientes, existindo a reversibilidade com experimentação intelectual através da brincadeira ativa. (GALLAHUE, OZMUN, 2005, apud GRACIANO, SILVA, 2009, s/p) Finalizando Graciano, Silva (2009, s/p) afirmam que é de extrema importância a recreação na vida da criança, tanto no seu desenvolvimento motor, afetivo e social. E são os jogos e brincadeiras que tornam um facilitador para que tudo aconteça de forma natural e melhor ainda de forma “prazerosa”. É necessário ter um objetivo a ser trabalhado, para que assim elas se desenvolvam e mostrem seu potencial, não simplesmente “brincar” e sim educar, com essas ferramentas tão úteis e significativas que trazem sorrisos e mudam a vida das crianças. O brincar de forma construtiva abre a portas para a educação, e depende de nós deixá-la aberta. REFERÊNCIAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ADORNO, T. W., HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. AGUIAR, Cláudia Emília. As relações entre trabalho, lazer, recreação e educação física. In: VI ENFEFE – Encontro Fluminense de Educação Física Escolar. Rio de Janeiro, 2003. ALEXANDER, Christopher, et al. A pattern language. New York: Oxford University Press, 1977. ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Filosofando – introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1992. BERCITO, S. D. R. 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