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Unidade 1 Hematopoese e as Fases do Hemograma Hematologia Clínica Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ADRIANA DALPICOLLI RODRIGUES AUTORIA Adriana Dalpicolli Rodrigues Sou formada em Biomedicina e tenho mestrado em Biotecnologia. Tenho experiência profissional na área de análises clínicas por mais de sete anos. Atuei em laboratórios de pesquisa e análises clínicas em diversos setores, incluindo Hematologia. Atualmente trabalho como analista científica no Laboratório Alfa Ltda. e no Centro Universitário UniFtec. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Hematopoese .............................................................................................. 12 Medula Óssea e Demais Órgãos Hematopoéticos ................................................ 13 Células-Tronco .................................................................................................................................. 16 Hematopoese .................................................................................................................................... 18 Eritropoiese....................................................................................................................... 19 Leucogênese .................................................................................................................. 21 Trombocitopoese .........................................................................................................22 Regulação da Hematopoese ...............................................................................23 Fatores que Interferem na Destruição e Renovação Celular .......25 Fase Pré-Analítica do Hemograma e o Controle de Qualidade .......................................................................................................28 No que Consiste a Fase Pré-Analítica? ...........................................................................29 Amostra Sanguínea para a Realização do Hemograma ................. 31 Erros da Fase Pré-Analítica do Hemograma ...............................................................34 Controle de Qualidade do Hemograma ........................................................................ 38 Fase Analítica não Automatizada e Automatizada do Hemograma ..................................................................................................44 Fase Analítica do Hemograma ..............................................................................................44 O Hemograma não Automatizado ...................................................................45 Contagem não Automatizada do Número Total das Células Sanguíneas .............................................................................. 46 Determinação não Automatizada do Hematócrito ........ 50 Determinação não Automatizada da Hemoglobina ....... 51 Determinação não Automatizada dos Índices Hematimétricos ........................................................................................52 O Hemograma Automatizado .............................................................................53 Avaliação Morfológica das Células Sanguíneas ...................................55 Fase Pós-Analítica do Hemograma .....................................................59 Fase Pós-Analítica do Hemograma .................................................................................. 59 Emissão de Resultados e Comentários Técnicos ................................61 Retificação de Laudos .......................................................................... 63 Valores de Referência do Hemograma ...................................................... 63 Tomada de Decisão ................................................................................................... 68 9 UNIDADE 01 Hematologia Clínica 10 INTRODUÇÃO Você sabia que a Hematologia é a área que estuda a Fisiologia e Patologia do sangue? Os elementos figurados desse tecido (células e fragmentos celulares) são avaliados no hemograma, principal exame laboratorial da Hematologia. Para que você possa entender o resultado desse exame, é importante que comece compreendendo a hematopoese. A hematopoese é responsável pela produção e renovação dos elementos celulares do sangue pertencentes às séries: vermelha, branca e plaquetária. Esse processo inicia no período embrionário com as células-tronco, que irão se diferenciar em células hematopoiéticas especificas, e segue por toda vida do indivíduo por meio de diferentes órgãos hematopoiéticos (principalmente a medula óssea), conforme forem as necessidades do organismo. Entendeu? O próximo passo é conhecer as fases laboratoriais do hemograma, que são elas: pré-analítica (preparo do paciente, cadastro, coleta etc.), analítica (análise propriamente dita do hemograma) e pós- analítica (liberação do laudo e sua avaliação). A atenção dos profissionais envolvidos nas três fases é de extrema importância para a garantia de um diagnóstico e tratamento correto ao paciente. Pronto para começar? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar nesse universo! Hematologia Clínica 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – Hematopoese e as fases do hemograma. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar a hematopoese (eritropoese, leucogênese e trobopoese) e demais fatores envolvidos nesse processo. 2. Identificar a fase pré-analítica do hemograma e como o controle de qualidade é aplicado. 3. Apontar a fase analítica não automatizada e automatizada do hemograma. 4. Identificar a fase pós-analítica do hemograma para maior confiabilidade na liberação do laudo. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Hematologia Clínica 12 Hematopoese OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de compreender quais são os elementos celulares do sangue e como eles são produzidos pela medula óssea e demais órgãos hematopoiéticos. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão, pois é a partir desse entendimento que você será capaz de futuramente identificar situações clínicas ou patológicas. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A hematopoese consiste na produção de elementos figurados do sangue e podeser dividida em três etapas principais: eritropoese, responsável pela produção das células da série vermelha (eritrócitos, ou também chamadas de hemácias, são a principal célula do sangue periférico), leucogênese, que se refere à produção de células da série branca (leucócitos, sendo os principais do sangue periférico: neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos) e trombopoese, que é relacionada a produção da série plaquetária (plaquetas ou também chamadas de trombócitos). Mas antes de entrarmos em cada uma dessas séries, é importante que você saiba quais são os órgãos hematopoéticos, locais onde toda a produção das células sanguíneas ocorre. NOTA: Em nosso estudo, as palavras eritrócito, hemácia e glóbulo vermelho serão usadas como sinônimos. Hematologia Clínica 13 Medula Óssea e Demais Órgãos Hematopoéticos DEFINIÇÃO: A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso, popularmente chamada de tutano, que preenche a cavidade interna de vários ossos. Ela e os demais órgãos/ tecidos hematopoéticos apresentam a capacidade de produção dos elementos figurados do sangue. Ao longo da vida de um ser humano, há variação nos órgãos e tecidos hematopoiéticos que estão ativados; em outras palavras, que estão produzindo células sanguíneas. Pode-se dividir a atuação desses tecidos em três períodos hematopoéticos desde o início da vida no útero da mãe: Período embrionário (início do primeiro mês da vida pré-natal) – as primeiras células do sangue surgem externamente ao embrião, no mesênquima do saco vitelino (vesícula vitelina ou vitelínica). A série celular nesse período é constituída por eritroblastos primitivos, grandes e megaloblásticos formados no meio intravascular. Período fetal – nesse período (na sexta semana de gestação) a hematopoese inicia no fígado, que é o maior órgão hematopoético nas fases inicial e intermediária do feto. As células são eritroblastos definitivos, que se transformam em eritrócitos sem núcleo (eritrócitos maduros) e são formados extravascularmente. Nesse momento, ocorre em menor grau a granulopoiese (produção de granulócitos, ou seja, grupos específicos de leucócitos) e a megacariopoese (produção de megacariócitos, que são células precursoras das plaquetas). Até o sexto ou sétimo mês de vida fetal, o fígado e o baço são os principais órgãos hematopoéticos. Essa produção tem continuidade até em torno de duas semanas após o nascimento. Hematologia Clínica 14 NOTA: A placenta também pode colaborar com a hematopoese fetal, mas os gânglios linfáticos (linfonodos) apresentam atividade reduzida na produção celular durante essa fase. Figura 1 – Período fetal Fonte: Pixabay Período medular – esse período ocorre na vida fetal e também na vida pós-natal, que inclui a infância e a vida adulta de um indivíduo. No sexto ou sétimo mês de vida fetal, a medula óssea inicia a produção celular de modo progressivo. Nesse momento, no fígado esse processo começa a ser diminuído. Os eritrócitos, granulócitos e plaquetas após o nascimento passam a ser produzidos apenas na medula óssea (extravascular). Nesse período, todo espaço da medula está ocupado por medula hematopoética ativa (chamada de medula vermelha) e se mantém assim até a criança completar em torno de cinco anos de idade. Conforme a criança vai crescendo, o espaço medular se amplia e apenas uma parte mantém a hematopoese, o restante é preenchido por células adiposas (passando a ser chamada de medula amarela). Os ossos Hematologia Clínica 15 achatados e longos, como o crânio, as vértebras, o fêmur, continuam sendo locais de produção de células do sangue na infância. Entretanto, no adulto, a medula hematopoiética é reduzida, ocorrendo formação das células sanguíneas no esqueleto central e em regiões proximais do fêmur e do úmero. Quando na medula não existe mais produção de células ela passa a ser denominada de medula cinzenta. A medula vermelha é substituída pela medula amarela e assim segue por toda a vida do indivíduo. Quando ocorre alguma situação clínica ou patológica que exige maior produção celular, a medula amarela pode ser substituída pela vermelha por meio de estímulos intensos e contínuos, principalmente por fatores de crescimento. O fígado e o baço também podem voltar a ser órgãos hematopoéticos, se for necessário. VOCÊ SABIA? Hepatoesplenomegalia é uma situação clínica que ocorre quando o fígado e o baço aumentam de tamanho. Ocorre em casos em que há defesa imunológica intensa ou, em algumas situações (doenças hemolíticas ou talassemias), pode significar que a hematopoiese está ocorrendo de modo extramedular. Em condições normais da vida adulta, os eritrócitos são formados apenas na medula óssea, do mesmo modo que ocorre com os granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e os monócitos. Os granulócitos produzidos vão ficar armazenados na medula até serem necessários no sangue periférico (estão armazenados aproximadamente três vezes o equivalente de granulócitos circulantes no sangue periférico). Os linfócitos podem ser classificados em linfócitos T e linfócitos B, os quais são produzidos e armazenados nos órgãos linfoides (tecidos que produzem principalmente os linfócitos), em grande proporção na medula óssea e abaixo do epitélio na parede intestinal. Hematologia Clínica 16 NOTA: Como órgãos linfoides principais no organismo humano tem-se: os linfonodos, o baço, o timo, as tonsilas palatinas (amídalas) e tonsilas faríngeas (adenoides). Os linfonodos são os órgãos linfoides mais numerosos e o baço é o maior de todos em tamanho. Os megacariócitos são células grandes também produzidas na medula óssea e que nela mesmo se fragmentam. Os fragmentos, ou seja, as plaquetas se dirigem para o sangue periférico e ali permanecem para serem utilizadas principalmente em casos de lesões em que há sangramento. Como a maior produção de elementos celulares do sangue ocorre na medula óssea, ela é considerada um órgão hematopoético primário, e os demais órgãos citados, como secundários. O timo também é um órgão linfoide primário importante para a maturação de linfócitos T. Os linfócitos B são produzidos na medula óssea e nos órgãos linfoides secundários. Células-Tronco As células-tronco podem ser classificadas em totipotentes, pluripotentes e multipotentes. As células-tronco totipotentes podem gerar qualquer tipo celular do organismo (inclusive as células do sistema nervoso), ou seja, um organismo completo e funcional, e correspondem às células do embrião recém-formado. As pluripotentes são células capazes de gerar qualquer tipo de tecido, mas não um organismo completo como as totipotentes. As pluripotentes não geram a placenta e outros tecidos de apoio ao feto, mas produzem a massa celular interna do blastocisto depois dos quatro dias de vida e participam da formação dos tecidos do organismo. As multipotentes estão presentes no indivíduo adulto. São ainda mais diferenciadas que as pluripotentes, com capacidade limitada de produção de tecidos. São designadas de acordo com o órgão de que derivam e podem originar apenas células daquele órgão (regeneração tecidual). Hematologia Clínica 17 IMPORTANTE: Célula-tronco (do inglês stem cell) é uma célula primitiva que apresenta capacidade de autorregeneração (de se autorrenovar) e de se diferenciar, podendo originar células especializadas, como células do sangue, ósseas, nervosas, da pele e demais tecidos. As células-tronco estão presentes no embrião (células-tronco embrionárias), chamadas de blastocistos, e se diferenciam em qualquer célula dos diferentes tecidos do organismo. Tecidos adultos também possuem células-tronco, entretanto, essas células apresentam uma menor capacidade de diferenciação e se localizam principalmente no cordão umbilical, placenta, medula óssea, sangue periférico, fígado, rins e na primeira dentição. Os três primeiros tecidos citadossão os que apresentam uma maior concentração de células-tronco e por isso são os preferidos para a realização de transplante de células-tronco, muito realizados em casos de leucemia. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre os transplantes de células-tronco hematopoéticas, não deixe de ler o material produzido pelo Ministério da Saúde e Instituto Nacional de Câncer intitulado: Tópicos em Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas. Rio de Janeiro-INCA, 2012. O material pode ser acessado aqui. Hematologia Clínica https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/topicos_transplante_celtronco_hematopoeticas.pdf 18 Hematopoese DEFINIÇÃO: Hematopoese (hematopoiese, hemopoese ou hemopoiese) é o processo continuado de produção e renovação dos elementos figurados do sangue. Esse processo ocorre por toda a vida de um indivíduo por meio da divisão celular (processos mitóticos). Figura 2 – Hematopoese em humanos Fonte: Wikimedia Commons. A hematopoese se inicia com uma célula-tronco pluripotente que irá se diferenciar em célula-tronco hematopoiética (célula multipotente). Essa célula pode se autorrenovar e também dar origem às distintas linhagens celulares. Então, uma célula-tronco hematopoiética se divide em duas células filhas (células iguais a que lhes originou), uma das células terá a função de substituir a célula-mãe (autorrenovação) e a outra se diferencia na célula sanguínea que é necessária pelo organismo. Desse modo, em condições normais (indivíduo saudável), a velocidade de produção dos elementos figurados do sangue e a velocidade de demanda (utilização e destruição) pelo organismo é mantida equilibrada. Hematologia Clínica 19 Como estudamos, o processo da hematopoese pode ser dividido em: eritropoese, leucogênese e trombopoese. Conheça-os a seguir. Eritropoiese DEFINIÇÃO: Eritropoese é o processo que promove a produção e renovação das células da série vermelha.. Figura 3 – Eritropoiese Fonte: Elaborado pela autora (2021). A primeira célula identificada dessa série é o pró-eritroblasto, célula grande (com aproximadamente de 14 a 19 μm de tamanho) arredondada ou ovalada, nucleada (núcleo volumoso e cromatina frouxa) e com citoplasma basofílico (cora com corantes básicos - cor azul). A célula que dá sequência à linhagem é do eritroblasto basofílico, muito semelhante ao pró-eritroblasto, levemente menor (em torno de 12 a 17 μm de tamanho), núcleo grande, cora com corantes básicos e apresenta pouco acúmulo de hemoglobina. O tamanho da célula eritroide e seu núcleo vão diminuindo de tamanho a cada divisão que a célula sofre Hematologia Clínica 20 e ela vai sendo preenchida com hemoglobina ficando mais avermelhada do que azulada. A próxima célula da linhagem é o eritroblasto policromatófilo, esse é seguido pelo eritroblasto e esse pelo reticulócito. Os reticulócitos são arroxeados, não têm mais o núcleo, mas ainda contém restos de núcleo espalhados pelo citoplasma, sendo possível a identificação dessas células avaliando a amostra com corante azul cresil brilhante. A célula mais madura da eritropoese é o eritrócito maduro (também chamado de hemácia), o qual não apresenta núcleo e nem restos nucleares. REFLITA: Você tem ideia de quantas células vermelhas são produzidas a partir de um eritroblasto? Como vimos, uma célula tronco-hematopoética se divide em duas e vai sofrendo sucessivas divisões. Então, um eritroblasto irá dar origem a dois eritroblastos basofílicos, esses se dividem e originam mais dois eritroblastos basofílicos, ou seja, já são quatro eritroblastos basofílicos. Os quatro eritroblastos basofílicos dividem-se e formam oito eritroblastos policromáticos, esses por sua vez, produzem 16 eritroblastos que não se dividem mais, apenas amadurecem e geram os reticulócitos (16 células) e em sequência os eritrócitos maduros (16 células). Hematologia Clínica 21 SAIBA MAIS: Assista a esta animação que explica de forma didática o processo da Eritropoese. Disponível aqui. Leucogênese DEFINIÇÃO: Leucogênese ou leucopoese é o processo que promove a produção e renovação das células da série branca. A divisão da produção das linhagens da série branca é em mielocítica (mielopoese) e linfocítica (linfopoese). A linhagem mielocítica é responsável pela formação de granulócitos (granulopoese) e monócitos, já a linhagem linfocítica é pela produção dos linfócitos. Ambas as linhagens iniciam com o blasto, podendo essa célula em comum dar origem a um mieloblasto ou a um linfoblasto. O mieloblasto poderá então se diferenciar em promielócito ou promonócito. O promielócito irá originar a seguinte sequência de células (da mais imatura para a mais madura): mielócito, metamielócito, neutrófilo em bastão e neutrófilo segmentado. O neutrófilo segmentado é o leucócito mais encontrado no sangue periférico em condições normais de saúde do indivíduo. A mesma sequência de produção ocorre com os demais granulócitos (eosinófilos e basófilos), mas em menor proporção que os neutrófilos. Já o promonócito dará origem ao monócito, que poderá se diferenciar em macrófago de acordo com as necessidades do organismo a nível tecidual. Em relação à linhagem linfocítica, o linfobasto dá origem ao linfócito que se diferenciará em linfócito T ou linfócito B. Todos os Hematologia Clínica https://www.youtube.com/watch?v=21wO9iW1P4I 22 leucócitos são maiores que os eritrócitos e as plaquetas e têm núcleo em todas as suas fases de maturação. O que varia entre os leucócitos é o formato do núcleo é: a presença de granulação ou não, o conteúdo de grânulos, nível de condensação da cromatina, presença ou não de nucléolo, entre outros. Trombocitopoese DEFINIÇÃO: A trombocitopoese, ou também chamada de plaquetopoese, é o processo que promove a produção e renovação dos trombócitos, ou comumente conhecidas como plaquetas, que são fragmentos dos megacariócitos. São as menores estruturas celulares do sangue periférico. A trombocitopoese é a antecedida pela megacariocitopoese, que é o processo em que os megacariócitos sofrem proliferação e maturação a partir da célula progenitora da medula óssea. Os megacariócitos recebem estímulos e tem seus citoplasmas fragmentados, dando origem às plaquetas. Os elementos figurados do sangue mais numerosos são os eritrócitos (especializados no transporte de gases sanguíneos), seguidos pelas plaquetas (responsáveis pela hemostasia, ou seja, processo da coagulação) e em menor número pelos leucócitos (células de defesa do organismo como fagócitos ou envolvidas na produção de anticorpos). Hematologia Clínica 23 VOCÊ SABIA? Diariamente em torno de 1.012 eritrócitos são produzidos, 1.011 plaquetas e 108 leucócitos. Temos no sangue periférico a proporção de 500 eritrócitos a cada 30 plaquetas e um leucócito. O aumento no número de elementos figurados circulantes no sangue depende da população de célula- hematopoiéticas, da disponibilidade de progenitores e de estímulos do organismo devido a condições fisiológicas ou patológicas. Regulação da Hematopoese As fases da hematopoese são: autorrenovação, proliferação, diferenciação e homing (volta à medula óssea). Essas fases são reguladas por mecanismos que envolvem o microambiente da medula óssea e pelas células hematopoéticas. Esse microambiente da medula óssea é provido pelas células do estroma que secretam a matriz extracelular e fatores de crescimento, constituindo em um ambiente adequado para as células progenitoras diferenciadas. As células presentes no estroma (mesenquimais, adipócitos, fibroblastos, osteoblastos, endoteliais e macrófagos) secretam moléculas extracelulares, como: colágeno, glicoproteínas, glicosaminoglicanos, para formar uma matriz extracelular. Além disso, secretam vários fatores de crescimento necessários à sobrevivência da célula-tronco, sendo uma das principais fontes desses fatores. Perdem apenas para o rim, local de maior produçãodo fator de crescimento eritropoietina (hormônio glicoproteico regulador da eritropoese) especialmente em condições de baixa concentração de oxigênio no organismo e para o fígado, que sintetiza a trombopoetina (hormônio glicoproteico regulador da trombopoese) em maior concentração. Hematologia Clínica http://knoow.net/ciencterravida/biologia/celula/ 24 EXPLICANDO MELHOR: Os fatores de crescimento hematopoéticos agem em concentrações muito baixas, atuam de forma hierárquica, são produzidos por muitos tipos de células, conseguem afetar mais de uma linhagem celular, sejam elas – progenitora ou diferenciada, podem ter interações sinérgicas ou aditivas com outros fatores de crescimento e têm como função regular a proliferação e a diferenciação das células progenitoras, prevenir apoptose e controlar os elementos figurados sanguíneos maduros. Assim como os demais hormônios e ou glicoproteínas produzidos pelo organismo, eles podem agir no local em que são produzidos, por contato célula a célula, ou podem circular no plasma e atuar no local que há necessidade. Outros fatores de crescimento de grande importância para hematopoese são as citocinas. Esses fatores são polipeptídeos ou glicoproteínas produzidas por diversos tipos celulares e que apresentam a capacidade de modular a resposta celular de diferentes tipos de células, incluindo dela mesma. Podem ser divididas em: interleucinas (também chamadas de interleuquinas), as quais a maioria se envolve na ativação ou supressão do sistema imune e na indução de divisão de outras células; fatores estimuladores de colônias, que estimulam a produção ou maturação específica de determinada linhagem celular; fator de necrose tumoral (TNF), que apresenta a capacidade de provocar apoptose e possuem ações pró-inflamatórias; os interferons, que interferem na replicação de microrganismos dificultando a atuação deles e estimulam a atividade de defesa do organismo; e fatores de crescimento que controlam a divisão celular. Hematologia Clínica https://pt.wikipedia.org/wiki/Apoptose https://www.infoescola.com/sistema-imunologico/interferon/ 25 NOTA: Há mais de 36 tipos diferentes de interleucina (IL). Elas foram numeradas em ordem conforme foram sendo descobertas (IL-1, IL-2, IL-3, IL4, etc.). Algumas podem ser divididas em subtipos de acordo com sua atividade (IL-1a, IL-1b e IL-1ra.). Os sinais que costumam ser transmitidos pelos fatores de crescimento ativam fatores de transcrição específicos nos elementos celulares do sangue, como as moléculas ligadoras de DNA. Essas moléculas atuam como principais acionadores a determinar o programa genético a ser aplicado em sequência, e assim conduz ao desenvolvimento de diferentes linhagens celulares. Após estímulo apropriado, as células- tronco hematopoiéticas originam células já comprometidas com uma determinada linhagem hematológica, ou seja, podem dar origem tanto a progenitores mieloides quanto linfoides dependendo do estímulo recebido. Fatores que Interferem na Destruição e Renovação Celular Os eritrócitos têm o tempo de meia vida estabelecido, pois, como não possuem núcleo e outras organelas, não realizam síntese de ácidos nucleicos ou proteínas nem carboidratos, ou seja, não há possibilidade de geração de energia extra. Desse modo não conseguem prolongar sua vida. A redução de níveis energéticos ocorre conforme os eritrócitos vão envelhecendo. Isso resulta em alteração na membrana plasmática, tornando-a frágil e mais fácil de se romper. Quando essa célula se rompe, a hemoglobina liberada é fagocitada por macrófagos, principalmente no fígado, no baço e na medula óssea. Há partes da hemoglobina que podem ser reaproveitadas pelo organismo, tais como o ferro e a globina (proteína). O restante, que é a porção porfirina, é convertida em bilirrubina no fígado e excretada via renal e intestinal. Hematologia Clínica 26 VOCÊ SABIA? A renovação celular hematopoética é intensa. Os eritrócitos são renovados em condições normais em média a cada 120 dias, as plaquetas a cada 10 dias e a renovação pode levar apenas algumas horas (neutrófilos e monócitos), dias (eosinófilos e basófilos) ou de semanas a anos (linfócitos) para os diferentes tipos de leucócitos. Os leucócitos são destruídos por apoptose, ou seja, morte celular programada. Esse processo é importante tanto para eliminação de leucócitos velhos quanto para a diminuição da população de leucócitos que foi necessário em um processo de defesa do organismo finalizado. As plaquetas, por sua vez, conforme vão envelhecendo são fagocitadas pelos macrófagos. Conforme os elementos figurados do sangue vão sendo destruídos e eliminados, novos elementos precisam ser produzidos, ou seja, precisa haver equilíbrio na produção e na eliminação celular. O estado de nutrição do organismo de um indivíduo tem relação com o desenvolvimento da hematopoese. Deficiência de vitaminas ou de oligoelementos provocam insuficiência na maturação da eritropoese. A diminuição na concentração de vitaminas do complexo B, especialmente a vitamina B12 e o ácido fólico, provoca anemias, como a anemia perniciosa e a anemia megaloblástica. Como essas vitaminas são necessárias para a síntese de DNA (ácido desoxirribonucleico), sua carência resulta na diminuição desse ácido nucleico e, consequentemente, na deficiência na divisão e maturação nuclear. Como resultado tem- se as células maturando rápido demais, sendo produzidos eritrócitos macrocíticos, ou seja, maiores que o tamanho normal e com a membrana celular mais frágil, as quais se rompem mais facilmente (tempo de meia vida mais curto que o normal). Outro exemplo é a deficiência de ferro, característica da anemia ferropriva. Como esse composto é imprescindível para a síntese da hemoglobina na eritropoese, sua deficiência resulta na produção de Hematologia Clínica http://knoow.net/ciencterravida/biologia/vitamina-b12-cobalamina/ http://knoow.net/ciencterravida/biologia/vitamina-b12-cobalamina/ http://knoow.net/ciencterravida/biologia/vitamina-b9-acido-folico/ http://knoow.net/ciencmedicas/medicina/acido-desoxirribonucleico-adn-ou-dna/ 27 eritrócitos microcíticos (menores que o tamanho normal) e hipocrômicos (células hipocoradas). RESUMINDO: Problemas na produção de hormônios, devido a alguma patologia de base, também interferem na renovação das células sanguíneas. Indivíduos com problemas renais podem ter comprometimento na produção de eritropoietina e, consequentemente, poderão apresentar anemia devido à redução no número de eritrócitos. Doenças hepáticas costumam provocar redução no número de plaquetas circulantes, visto que o fígado é o principal local de síntese de trombopoetina. Outra situação que interfere na hematopoese são os tratamentos quimioterápicos que normalmente causam efeitos em todas as linhagens hematopoéticas, levando à redução no número celular. A infecção pelo HIV também pode interferir na hematopoese, assim como o tratamento antirretroviral. Hematologia Clínica 28 Fase Pré-Analítica do Hemograma e o Controle de Qualidade OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender a grande preocupação dos laboratórios de análises clínicas com a segurança do paciente e confiabilidade nos resultados. Assim, exige gestão da qualidade eficiente com comprometimento multiprofissional em todas as fases laboratoriais: pré-analítica, analítica e pós-analítica. Dentre elas, a fase que exige maior atenção de todos os profissionais é a pré-analítica, que é a mais suscetível a erros por ser a mais manual. Um erro nessa fase irá comprometer todos os processos das fases seguintes. Não adianta ter os melhores equipamentos automatizados se as etapas iniciais não forem realizadas de forma correta. A seguir, você verá quais são os elementos que fazem parte da fase pré-analítica laboratorial do hemograma e que interferem nas demais fases, assim como o controlede qualidade. A partir desse entendimento você será capaz de futuramente identificar se o resultado de hemograma corresponde à situação clínica do paciente ou se sofreu alguma interferência prévia. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. . E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Hematologia Clínica 29 No que Consiste a Fase Pré-Analítica? Figura 4 – Análise laboratorial Fonte: Freepik A fase pré-analítica consiste em todas as etapas que antecedem a realização propriamente dita do exame e a avaliação do resultado. Essa fase é iniciada com a requisição/solicitação do exame por algum profissional da área da saúde (normalmente médico); passando pela leitura, entendimento e cadastro da solicitação por profissionais (recepcionistas/ assistentes de laboratório) em postos de coleta ou laboratórios de análises clínicas; transmissão de eventuais informações de preparo do paciente para a obtenção da amostra; obtenção da amostra, acondicionamento, transporte e preservação da mesma, sendo finalizada ao se iniciar a análise propriamente dita (fase laboratorial analítica). EXEMPLO: Para a realização do hemograma não é necessário que o paciente fique em jejum desde que tenha ingerido uma refeição leve. Entretanto, se o paciente tiver feito uma refeição recente rica em gordura e carboidratos, o recomendável é realizar jejum de, pelo menos, quatro horas, visto Hematologia Clínica 30 que se o plasma não estiver límpido (estiver lipêmico) pode haver alguma interferência na determinação das plaquetas e na dosagem da hemoglobina. Em um exame como a determinação da glicemia, o jejum de, pelo menos, oito horas é obrigatório, se não o resultado liberado não será confiável, a não ser que o médico esteja querendo avaliar as respostas do metabolismo no estado alimentado. O andamento de todas as etapas que envolvem essa fase exige muita atenção dos profissionais executores, especialmente devido a ser um trabalho bastante manual. Embora os avanços tecnológicos e implementação de programas de qualidade nos laboratórios tenham reduzido significativamente a ocorrência de erros na execução dos procedimentos, equívocos ainda ocorrerem em qualquer fase laboratorial, principalmente na fase pré-analítica. Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia e Medicina Laboratorial, a fase pré-analítica é responsável por cerca de 60-70% dos erros ocorridos nos laboratórios. Desse modo, é uma das fases que merece grande atenção de todos os profissionais envolvidos nos processos. O hemograma é o exame realizado em maior número no setor de Hematologia e é um dos mais solicitados por profissionais da saúde em todo mundo, devido ao número de informações que consegue transmitir sobre a saúde do paciente. Por meio desse exame é possível identificar casos de deficiências nutricionais (anemia ferropriva) ou por perda de sangue (anemias crônicas), policitemia, infecções, leucemias, desidratação etc. Para que você possa compreender sobre os erros que podem ocorrer ao longo do percurso de realização desse exame e assim resultar em prejuízo no diagnóstico real do paciente, é importante que tenha conhecimento básico sobre o tipo de amostra sanguínea que deve ser coletada para a realização do hemograma. Hematologia Clínica 31 SAIBA MAIS: Caso você tenha interesse em saber mais sobre os passos para a coleta de sangue venoso e como evitar erros e possíveis interferentes, não deixe de ler as recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial para coleta de sangue venoso. 2. ed. Barueri: Minha Editora, 2010. Acesso aqui. Amostra Sanguínea para a Realização do Hemograma Figura 5 – Células do sangue Fonte: Freepik Hematologia Clínica http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/320090814145042.pdf 32 Como o hemograma é um exame em que são avaliados os elementos celulares do sangue: glóbulos vermelhos (eritrócitos ou hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e trombócitos (plaquetas); é necessária a obtenção de amostra de sangue total. Para isso, o tubo utilizado para a coleta com o sistema a vácuo ou para ser colocado o sangue após uma coleta com seringa e agulha, é o tubo de tampa roxa. Esse tubo contém o anticoagulante ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA - do inglês ethylenediamine tetraacetic acid) com sais de potássio (EDTA). O EDTA é um composto orgânico que age como agente quelante, formando complexos muito estáveis com diversos íons metálicos. Dentre os íons, destaca-se o cálcio. Ao ocorrer a quebra do cálcio da amostra, não há a possibilidade de haver a formação de coágulo, visto que o cálcio é um elemento fundamental no processo da coagulação. Mas para que isso seja possível, esse tubo contendo a amostra precisa ser homogeneizado suavemente por inversão (8 a 10 vezes) assim que a coleta é finalizada e antes de colocar o curativo no paciente, garantindo a completa solubilização do anticoagulante e a correta anticoagulação da amostra. Desse modo, terá sido obtido o sangue total. REFLITA: No caso de amostras para realização de exames bioquímicos, como o perfil lipídico, renal, hepático, eletrólitos, ou exames imunológicos como imunoglobulinas (IgM, IgG, IgE) ou ainda os hormônios, a amostra a ser obtida é o soro. Quando são solicitados testes de coagulação (tempo de protrombina, tempo de tromboplastina, fibrinogênio), a amostra obtida é o plasma citratado. Isso porque nessas amostras os elementos a serem dosados estarão preservados e em quantidades conhecidas. Hematologia Clínica 33 EXPLICANDO MELHOR: O sangue é tecido conjuntivo líquido composto por uma parte líquida, chamada de plasma (contém fatores de coagulação) ou soro (não contém fatores de coagulação) e uma porção de elementos figurados (células e fragmentos celulares). Cada tipo de análise laboratorial exige uma amostra diferente que pode ser: sangue total, o qual é coletado com diferentes tipos de anticoagulantes (os mais utilizados em Hematologia são: EDTA - tubo de tampa roxa, citrato de sódio - tubo de tampa azul claro ou preta, heparina de lítio – tubo de tampa verde); plasma que também é uma amostra coletada com anticoagulante, mas passa por um processo de centrifugação após a coleta e amostra de soro que é coletada em tubo sem anticoagulante ou com ativador de coágulo (tubo de tampa vermelha ou amarela) e que é centrifugada após a formação do coágulo. Veja na Figura 6 exemplos dos tubos citados acima e demais materiais utilizados para a coleta sanguínea. Da direta para esquerda observa-se: suporte para coleta à vácuo, agulha de coleta a vácuo, garrote, tubo de tampa vermelha, algodão, tubo de tampa preta, tubo de tampa azul claro, recipiente com álcool 70%, tubo de tampa roxa e tubo de tampa verde. Figura 6 – Materiais utilizados para a coleta sanguínea Fonte: Pixabay Hematologia Clínica 34 Agora que você já conhece a amostra utilizada para a realização do hemograma, já está preparado para conhecer alguns dos erros mais comuns que podem ocorrer na fase pré-analítica desse exame. É importante que os erros sejam conhecidos para que possam ser evitados. Erros da Fase Pré-Analítica do Hemograma O hemograma pode ser dividido em: eritrograma, que avalia a quantidade, qualidade e conteúdo dos eritrócitos; leucograma, que determina o número e características dos leucócitos (classificados em –Nneutrófilos bastonados, neutrófilos seguimentados, linfócitos, monócitos, eosinófilos, basófilos); e o plaquetograma, que avalia o número de plaquetas e suas características. Os erros que ocorrerem com mais frequência nos laboratórios relacionados ao hemograma ou a alguma etapa desse exame são os seguintes: - Informações do paciente cadastradas erradas: para avaliação do resultado do hemograma, é muito importante se ter conhecimento sobre a idade e gênero do paciente, os quais apresentam valores dereferência diferentes. EXEMPLO: Os recém-nascidos apresentam valores do eritrograma mais elevados do que um paciente adulto, assim como o número de linfócitos que se apresenta aumentado no nascimento e permanece alto em crianças de até quatro anos de idade; já no adulto a célula que se apresenta em maior número é o neutrófilo. Devido à função de cada célula, o aumento do seu número no hemograma pode indicar a ocorrência de alguma patologia ou situação clínica que precisa ser acompanhada e/ou tratada. Hematologia Clínica 35 EXPLICANDO MELHOR: Se ao avaliar o resultado do eritrograma de um recém- nascido não se observar a idade, pode-se pensar que é um caso de policitemia de um adulto. Do mesmo modo, se não for considerado o gênero em um eritrograma com níveis mais baixos, pode-se pensar que o paciente está com anemia se for considerado do gênero masculino, já que as mulheres apresentam valores de referência mais baixos para os parâmetros do eritrograma do que homens. O uso de medicamentos deve ser solicitado e registrado no cadastro, pois também pode causar alterações hematológicas. Outras variáveis fisiológicas, como: exercício físico, ritmo circadiano, altitude, gestação, estilo de vida (hábito de ingerir bebidas alcoólicas ou fumar), anticorpos endógenos etc. podem provocar alterações fisiológicas no hemograma, mas essas informações normalmente não são solicitadas no momento do cadastro do paciente. • Erro de identificação: esse tipo de erro é muito fácil de acontecer. Quem realiza as coletas deve estar seguro de que a amostra a ser coletada realmente é do respectivo paciente, confirmando os dados em requisição médica e em algum documento de identificação com foto. Trocas de amostras ou identificações erradas são casos sérios, pois poderá ser liberado o resultado de um paciente doente para um paciente normal e vice-versa, resultado em prejuízo importante para a saúde de ambos. • Mudanças posturais: alteração na postura no momento da coleta, principalmente quando o paciente estava deitado e passa para a posição em pé ou sentado, pode provocar deslocamento da água corporal do interior dos vasos sanguíneos para o espaço intersticial, resultando em hemoconcentração e, consequentemente, um resultado irreal a situação clínica do paciente. • Tubo errado utilizado para a coleta: amostra de sangue coletada em tubo impróprio impossibilita a realização do hemograma. Hematologia Clínica 36 IMPORTANTE: O hemograma não pode ser realizado com amostras coletadas em nenhum outro tipo de tubo que não seja o com o anticoagulante EDTA. • Quantidade desproporcional de sangue versus anticoagulante: proporção incorreta entre quantidade de sangue e anticoagulante, ou seja, a amostra de sangue no tubo apresenta-se em quantidade inferior ou superior ao limite recomendado. EXPLICANDO MELHOR: Amostras coletadas com volume inferior ao recomendado serão diluídas pelo anticoagulante e, desse modo, não representará a situação real do paciente. Já a amostra coletada com volume superior poderá coagular parcialmente ou por completo, impossibilitando a realização do exame. • Problemas com a homogeneização da amostra: ausência de homogeneização ou homogeneização insuficiente do tubo contendo a amostra de sangue resultará em amostra coagulada (seja parcialmente ou com coágulo muito pequeno). O hemograma não pode ser realizado com a presença de coágulo por menor que Hematologia Clínica 37 ele seja e, em hipótese alguma, o coágulo pode ser removido para que o exame seja realizado. • Amostras de pacientes infundidos: em pacientes que estão recebendo algum tipo de infusão de medicamentos, soro fisiológico ou glicosado, as amostras de sangue devem ser obtidas de um local distante da infusão e de preferência no braço oposto, caso contrário a amostra estará diluída não representando a situação real do paciente. • Tempo elevado de duração do garroteamento (aplicação de garrote/torniquete): não deve ser maior do que um minuto para evitar hemoconcentração, hemólise e ativação dos fatores de coagulação, entre outros, que podem comprometer o resultado. • Transporte da amostra e armazenamento da amostra: o transporte da amostra do local em que foi coletado até a área em que ela será analisada deve ser o mais rápido possível para garantia da estabilidade da amostra e qualidade das células. Caso o local de análise seja distante, a amostra deve ser transportada refrigerada. Nunca se deve congelar uma amostra para a realização do hemograma. A amostra pode ser armazenada em temperatura ambiente (de 18 a 25 °C) por até oito horas após a coleta. Em até 24 horas os resultados sofrem pouca interferência em temperatura ambiente, mas o melhor é manter a amostra refrigerada (de 2 a 8 ºC). A determinação do número de leucócitos é estável por 24 horas em temperatura ambiente e por até 48 horas a temperatura média de refrigeração de 4 °C. Hematologia Clínica 38 NOTA: Na fase pré-analítica é muito difícil mensurar os erros, por isso, é uma fase que exige que os profissionais atuantes nos processos recebam treinamentos, aperfeiçoamento constante e seja desenvolvida alguma forma de monitoramento dos erros ocorridos para evitar ao máximo a recorrência deles. Controle de Qualidade do Hemograma Figura 7 – Tubos de ensaio Fonte: Freepik Hematologia Clínica 39 DEFINIÇÃO: O controle de qualidade é uma medida adotada nos laboratórios de análises clínicas e demais organizações com o objetivo de se ter melhoria contínua e padronização dos procedimentos realizados na rotina, assegurando a qualidade de seus serviços ou produtos. Para a garantia da qualidade do laboratório é necessário se ter bem estabelecida a visão, a missão, a política da qualidade, metas e diretrizes da empresa. Toda documentação deve estar em dia, como: alvará sanitário, programa de gerenciamento de resíduos, responsável técnico, programa de prevenção de riscos ambientais, programa de controle médico de saúde ocupacional, entre outros. É importante também ser acreditado por algum programa de qualidade. EXEMPLO Como exemplo de certificadoras da qualidade há a ISO 9001 (Organização Internacional para Padronização) e a PALC (Programa de Acreditação para Laboratórios Clínicos). A ISO é aplicada em diversos ramos empresariais, já o PALC é mais específico para laboratórios de análises clínicas. SAIBA MAIS: Para adquirir maior entendimento e conhecimento sobre as normas estabelecidas por programas de qualidade, não deixe de ler as normas da PALC 2016 aqui. Deve se ter medidas de controle de qualidade, as quais são exigidas pelos programas citados em todas os setores laboratoriais independente da fase que cada setor represente. Para isso deve-se ter procedimentos operacionais padrões para cada atividade realizada e Hematologia Clínica http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/norma_palc_2016_web.pdf 40 devem ser executadas por todos os profissionais atuantes no laboratório sem modificação. EXEMPLO No procedimento operacional padrão de atendimento deve estar descrito como a atendente/recepcionista deve se portar e se uniformizar para atender ao paciente. Ela deve solicitar: documento de identificação com foto, requisição do exame e carteirinha do plano de saúde ou cartão do SUS. Questionar sobre endereço, telefone e demais dados determinados no programa do laboratório. Perguntar se faz uso de medicação. Informar o prazo de entrega dos resultados e o que é necessário para retirá-los ou visualizá-los em caso de ser possível o acesso pela internet, entre outros passos. Todos devem estar muito bem descritos no POP e todas as atendentes do laboratório devem agir de forma padronizada. A qualidade deve sempre ser avaliada a partir de critérios padrões/ requisitos de aceitação e medidas de determinação da satisfação dos clientes (pacientes ou profissionais que fizerama solicitação do exame). Se o desempenho observado é significativamente diferente dos critérios estabelecidos, se faz necessário uma ação corretiva com abertura de planos de ações pelo profissional ou equipe envolvida. Devem ser estabelecidas metas e determinados indicadores dos resultados obtidos para que seja possível monitorar o andamento de todos os processos e corrigidas as possíveis falhas que surgirem. EXEMPLO Muitos laboratórios têm indicadores de recoletas, desse modo, estabelecem metas para recoletas de exames, ou seja, determinam que o índice de recoleta seja inferior a 1% de todas as amostras coletadas para o hemograma. Os números das recoletas geradas são plotadas em gráficos indicadores e o motivo de recoletas (amostra coagulada, insuficiente, para confirmação de resultado) deve ser sempre registrado para que medidas corretivas possam ser estabelecidas. Hematologia Clínica 41 SAIBA MAIS: Para saber mais sobre requisitos de boas práticas para funcionamento de serviços de saúde, qualidade, cuidados com o paciente, entre outros, leia a Resolução da diretoria colegiada - RDC Nº. 63 de 25 de novembro de 2011, que você pode acessar aqui. Na fase analítica além de tudo que foi citado, pode ser realizado controle de qualidade interno e externo. O controle interno mais comumente realizado é do controle diário, o qual é adquirido comercialmente junto ao fabricante do equipamento e se refere a passar a respectiva amostra controle no analisador, como se fosse uma amostra de paciente. Geralmente há duas amostras controle que podem ser normais, alta e/ou baixa com valores conhecidos (registrados normalmente na bula) para garantia na confiabilidade (exatidão e precisão) do analisador. Os resultados apresentados normalmente geram gráficos no próprio analisador no caso do hemograma ou podem ser criados em planilhas no computador para facilitar a análise. Quando o controle de qualidade interno “fica fora”, ou seja, não apresenta os resultados esperados conforme estabelecidos pelo fabricante, algumas medidas precisam ser tomadas para correção. Essas medidas devem ser previamente estabelecidas. EXEMPLO As medidas normalmente tomadas pelos analistas quando o controle não apresenta resultado adequado é – a conferência da validade de todos os insumos utilizados, substituição de reagente ou da água destilada que estão em uso, alguma manutenção diária pode ser feita (limpeza ou alguma lavagem automática do equipamento), verifica-se a temperatura ambiente (normalmente analisadores de hemograma não funcionam muito bem em ambientes muito frios) ou pode ser feita a calibração do equipamento, entre outros. Calibração nada mais é do que o conjunto de processos sob condições especificadas que estabelecem a relação entre os valores Hematologia Clínica http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/rdc0063_25_11_2011.pdf/94c25b42-4a66-4162-ae9b-bf2b71337664 42 indicados por um calibrador e os valores representados por um material de referência ou os correspondentes das grandezas determinadas por padrões. O calibrador serve resumidamente para padronizar o equipamento e é adquirido com o fabricante do equipamento. O controle externo é realizado por meio da participação em programas de qualidade externos, como a Controllab (Controle de Qualidade para laboratórios) ou o PNCQ (Programa Nacional de Controle de Qualidade), onde mensalmente ou trimestralmente, de acordo com contratos estabelecidos, amostras são recebidas pelo laboratório participante para análise. Após analisada a amostra, o resultado é, normalmente, enviado via página da internet ao programa contratado. ACESSE: Acesse o site da Controllab para ter mais informações sobre esse programa de controle externo muito utilizado pelos laboratórios de análises clínicas aqui. Há também o site do PNCQ aqui. Outra maneira de realizar o controle de qualidade externo é entre laboratórios, ou seja, interlaboratorial ou entre analisadores. Nesse caso, o analista pode fazer a avaliação microscópica de um número estabelecido de esfregaços sanguíneos, e os resultados encontrados devem ser concordantes com resultados obtidos por outros profissionais que realizaram a mesma análise. Os profissionais de um mesmo laboratório precisam obrigatoriamente avaliar o resultado do hemograma ou de qualquer exame, com os mesmos critérios de classificação. Para isso, precisam ser muito bem treinados e participarem de programas de educação continuada. Hematologia Clínica https://controllab.com/ 43 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido no que consite a fase pré-analítica, estudou a amostra sanguínea para a realização do hemograma e os erros na fase pré-analítica do hemograma bem como o controle de qualidade do hemograma. Hematologia Clínica 44 Fase Analítica não Automatizada e Automatizada do Hemograma OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a fase analítica que corresponde à etapa propriamente dita de realização do hemograma ou de qualquer outro exame laboratorial. Em geral, essa fase costuma ser mais automatizada do que a fase pré-analítica. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Fase Analítica do Hemograma A fase analítica inclui os procedimentos, reagentes, corantes e equipamentos que serão necessários para o processo, juntamente com a descrição específica de cada passo, metodologia e demais orientações que se obtém junto a bulas e manuais do fabricante. Na fase analítica dificilmente ocorrem erros como você viu na fase pré-analítica e isso se deve à automatização do processo e ao controle de qualidade. Os erros mais comuns que podem ocorrer são: falhas no equipamento (lote de reagentes com alguma contaminação ou problema na composição, temperatura ambiente inadequada para o funcionamento do equipamento, falhas na pipetagem da amostra pelo equipamento, insumos insuficientes), perda da amostra no setor de análise, troca na identificação da amostra, corantes com coloração inadequadas para a análise, entre outros. NOTA: A escolha do tipo de análise não automatizada ou automatizada por um laboratório está relacionada à quantidade de hemogramas que ela realiza por dia. Embora atualmente a maioria dos laboratórios no mundo realizem o hemograma de modo semiautomatizado ou automatizado, é importante Hematologia Clínica 45 que você conheça como esse exame pode ser realizado com o mínimo de equipamentos, ou seja, não automatizado, ou metodologia manual, como também é conhecido. Esse conhecimento lhe consentirá um melhor entendimento sobre a determinação dos parâmetros hematológicos, além de permitir que você possa realizar a técnica em casos de necessidade de calibrar ou avaliar a confiabilidade dos resultados apresentados pelos equipamentos eletrônicos. Ou, ainda, há a possibilidade de realização do hemograma de forma não automatizada caso algum dia ocorra um problema técnico que o equipamento não possa ser utilizado. IMPORTANTE: Independente se o hemograma será realizado de modo automatizado ou não, algumas avaliações básicas ocorrem em ambas as metodologias nas diferentes etapas desse exame. No eritrograma é realizada a avaliação do número total de eritrócitos, concentração de hemoglobina, hematócrito, índices hematimétricos e características morfológicas. No leucograma é realizada a contagem total e diferencial de leucócitos, além da avaliação morfológica das células. No plaquetograma é avaliado o número total de plaquetas e as características morfológicas. O Hemograma não Automatizado Figura 8 – Microscópio óptico Fonte: Pixabay Hematologia Clínica46 Na realização do hemograma com metodologia não automatizada são necessários três equipamentos: microscópio óptico, centrífuga (ou microcentrífuga) e espectrofotômetro (ou fotocolorímetro). O microscópio é utilizado para as contagens gerais do número de eritrócitos, leucócitos (total e diferencial) e de plaquetas, usando câmara de Neubauer e esfregaço sanguíneo corado. A centrífuga é necessária para a determinação do hematócrito e o espectrofotômetro para a medição da concentração de hemoglobina. A seguir, você vai conhecer como são realizadas cada uma dessas determinações. REFLITA: A desvantagem da metodologia não automatizada é que apresenta alto grau de variação (aproximadamente 16%) quando comparada aos resultados de equipamentos automatizados. Contagem não Automatizada do Número Total das Células Sanguíneas A contagem total de células sanguíneas é feita com microscópio óptico e câmara de Neubauer. Essa câmera tem cavidades milimétricas que permitem os cálculos de correção do sangue diluído e, com isso, a expressão dos valores obtidos em milhares no caso dos leucócitos e milhões para os eritrócitos por milímetro cúbico de sangue. A amostra de sangue a ser analisada precisa ser diluída a 1:200 para os eritrócitos e 1:20 para os leucócitos. As pipetas mais utilizadas e recomendadas são as de Thoma, onde são feitas microdiluições, nas quais a proporção é 1:101 (eritrócitos) e 1:11 (leucócitos). Hematologia Clínica 47 NOTA: A diluição para a contagem de eritrócitos deve ser maior do que para a de leucócitos devido ao número que encontramos dessas células no sangue periférico. A proporção de elementos celulares no nosso sangue é de 500 eritrócitos a cada 30 plaquetas e um leucócito. Como diluentes podem ser adquiridas soluções comerciais ou se usa soro fisiológico para os eritrócitos (preserva as células) e água com ácido acético glacial para os leucócitos (lisa as hemácias e preserva os leucócitos). É chamado de líquido de Thoma o diluente contendo 1 mL de ácido acético glacial, 1 mL de azul de metileno (opcional) e água completando o volume de 100 mL. A diluição pode variar de acordo com a patologia. Quanto mais células forem encontradas, maior terá que ser a diluição, quanto menos células, menor a diluição. Em casos de anemia, em que o número total de eritrócitos é menor que o normal, deve-se diluir a amostra 1:100. PASSO A PASSO Para fazer a diluição, primeiramente a amostra precisa ser homogeneizada, independente da pipeta que você for utilizar. Após esse procedimento, siga os seguintes passo: 1. Microdiluição - Usando a pipeta de Thoma. a. Para a contagem de eritrócitos: 1. Aspirar o sangue até a marca de 0,5 e limpar o sangue que ficou por fora da pipeta. 2. Aspirar o diluente até a marca de 101. 3. Agitar por cinco minutos manualmente ou por dois minutos em agitador. b. Para a contagem de leucócitos: 1. Aspirar o sangue até a marca de 0,5 e limpar o sangue que ficou por fora da pipeta. Hematologia Clínica 48 2. Aspirar o diluente até a marca de 11. 3. Agitar por cinco minutos manualmente ou por dois minutos em agitador. 2. Macrodiluição em tubo de ensaio - usando pipetas automáticas. a. Para contagem de eritrócitos (4000/20 = 200, ou seja, 1:200): 1. Pipete em um tubo de ensaio 20 µL de sangue. 2. Pipete 4000 µL de diluente. 3. A solução final deve ser homogeneizada por inversão do tubo. b. Para contagem de leucócitos (400/20 = 20, ou seja, 1:20): 1. Pipete em um tubo de ensaio 20 µL de sangue. 2. Pipete 400 µL de diluente. 3. A solução final deve ser homogeneizada por inversão do tubo. Observação: caso queira utilizar outras proporções, lembre-se que se deve obter sempre a diluição 1:20 e 1:200. Após a diluição da amostra, deve-se preencher a câmara de Neubauer. Para isso deve ser colocada uma lamínula sobre os retículos da câmera (há dois retículos em cada câmara) e com uma micropipeta lentamente o líquido deve ser desprezado em um dos cantos, sendo assim preenchidos os devidos espaços. Os retículos possuem 0,1 mm de altura e são divididos em 9 quadrantes de 1 mm2 cada. Os eritrócitos devem ser contados no quadrante central que é dividido em 25 quadradinhos, desses 25 devem ser contados 5, que são os 5 da ponta e o central. A contagem de leucócitos deve ser realizada nos quatro cantos do retículo, os quais são divididos em 16 quadradinhos. A contagem deve ser feita em L, não considerando as células que estiverem fora do L (fora dos quadrantes). Hematologia Clínica 49 SAIBA MAIS: Para ver imagens e entender melhor sobre a Câmara de Neubauer, acesse aqui. Ao término da contagem das células, é necessário realizar os cálculos para a determinação do número de cada célula por µL ou mm3 (que é o volume total do retículo). O número de células contado deve ser multiplicado pelo volume total do retículo, depois deve ser dividido pelo volume dos quadrantes contados. O resultado deve ser multiplicado pela diluição realizada. Segue um exemplo abaixo de como deve ser feito. EXEMPLO: Se você contou 50 leucócitos no primeiro quadrante, 54 no segundo, 51 no terceiro e 53 no quarto, obteve no total, 208 leucócitos contados em 0,4 mm3. Mas você precisa saber quantos tem em 1 mm3. Faça uma regra de três: O valor obtido deve ser multiplicado pela diluição que foi 20. Então, 520 x 20 = 10.400 leucócitos/mm3. Esse é o valor final. Podem ser contados mais ou menos quadrantes, mas sempre tem que ser lembrado de calcular em relação ao volume contado e multiplicar pela diluição inicial. Entretanto, quanto mais quadrantes forem contados, menores são as chances de erro. Outras causas comuns de erro são: erro na diluição da amostra, dificuldade na identificação das células, o preenchimento da câmara transbordando ou incompleto, presença de eritrócitos imaturos (eritroblastos), cansaço óptico do microscopista (quando há um número elevado de hemogramas para serem contados manualmente). Hematologia Clínica http://www.ufrgs.br/labvir/material/contagem_celulas.pdf 50 Determinação não Automatizada do Hematócrito DEFINIÇÃO: O Hematócrito é a proporção de elementos figurados, no caso os eritrócitos, em relação ao conteúdo de líquido do sangue (plasma), sendo uma representação das alterações de eritrócitos e hemoglobina. O hematócrito é determinado pelo volume ocupado pelos eritrócitos em uma coluna de sangue centrifugado, sendo expresso em valor percentual no laudo. Abaixo você conhecerá uma técnica que pode ser realizada para a determinação do hematócrito com tubo micro capilar. PASSO A PASSO: Passos para a determinação do hematócrito não automatizado: 1. A amostra de sangue deve ser homogeneizada por inversão (em torno de 10 vezes). 2. Abra o tubo cuidadosamente. 3. Incline o tubo e coloque o capilar dentro preenchendo ¾ do volume do capilar com o sangue. 4. Tampe a extremidade com o dedo e limpe o exterior do capilar. 5. Feche a outra extremidade com massa de modelar. 6. Coloque o tubo na microcentrífuga (a extremidade com massa de modelar deve ficar para dentro). 7. Centrifugar a 12.000 RPM por 5 minutos. A leitura deve ser feita em uma tabela própria indicada pelo fabricante para se obter o resultado. Hematologia Clínica 51 EXEMPLO: Um resultado de hematócrito de 50% indica que há 50 mL de eritrócitos contidos em uma amostra de sangue de 100mL. Em casos de avaliação de hematócritos de pacientes que estão perdendo sangue de forma aguda ou em casos de transfusões de sangue, essa avaliação tem sua capacidade reduzida, pois irá apresentar valor normal devido à redução proporcional do conteúdo de eritrócitos e plasma. Determinação não Automatizada da Hemoglobina Figura 9 – Hemácias Fonte: Pixabay DEFINIÇÃO: A hemoglobina é uma metaloproteína que contém ferro e é encontrada no interior dos eritrócitos. Essa proteína tem a função de transporte de oxigênio pelo organismo. Paraa determinação do conteúdo de hemoglobina, os eritrócitos precisam ser rompidos (lisados), a proteína é dosada e medida espectrofotometricamente em comprimento de onda de 540 nm. A Hematologia Clínica 52 metodologia mais recomendada é a técnica ciano-meta-hemoglobina. Os resultados obtidos são expressos em g/dL. É um importante parâmetro para avaliação dos casos de anemia, em que se observa baixa concentração de hemoglobina. Determinação não Automatizada dos Índices He- matimétricos DEFINIÇÃO: Os índices hematimétricos são parâmetros que se referem às características dos eritrócitos em relação ao tamanho e à distribuição da hemoglobina. A importância dos índices hematimétricos no hemograma está especialmente na classificação das anemias. Quando se tem o número de eritrócitos, a concentração de hemoglobina e o valor do hematócrito é possível calcular os seguintes índices: VCM (volume corpuscular médio) – Pode ser obtido com a fórmula a seguir. FÓRMULA: VCM = (hematócrito x 10) ÷ número dos eritrócitos. Quanto menor forem os eritrócitos, menor será o valor do VCM (caracterizando microcitose); quanto maior forem os eritrócitos, maior o VCM (caracterizando macrocitose). Quando o VCM está dentro da normalidade, os eritrócitos são classificados como normocíticos. HCM (hemoglobina corpuscular média) – avalia o peso de hemoglobina dentro dos eritrócitos. Pode ser calculada a partir da fórmula a seguir. FÓRMULA: HCM = (concentração de hemoglobina x 10) ÷ número dos eritrócitos. Hematologia Clínica 53 Valores baixos indicam microcitose e altos se referem a macrocitose. Quando os eritrócitos se apresentam normais são chamados de normocíticos. Quanto maior for a célula (VCM alto), mais pesada ela será devido ao maior conteúdo de hemoglobina. CHCM (concentração de hemoglobina corpuscular média) – refere-se à concentração de hemoglobina dentro do eritrócito. O valor pode ser determinado pela fórmula a seguir. FÓRMULA: CHCM = (concentração de hemoglobina/hematócrito) x 100. Com esse parâmetro é possível determinar a presença de hipocromia (CHCM baixo) e hipercromia (CHCM alto). Eritrócitos normais são normocrômicos. O Hemograma Automatizado O hemograma automatizado ou semiautomatizado é realizado por meio de equipamentos hematológicos que avaliam todos ou quase todos os parâmetros referentes ao eritrograma (número total de eritrócitos, concentração de hemoglobina, hematócrito, VCM, HCM, CHCM, RDW), leucograma (número total e diferencial) e plaquetograma (número total). Além disso, a maioria emite alertas/observações (“flags”) quando há algum tipo de alteração, como presença de células imaturas, agregação plaquetária, alteração no tamanho ou coloração das células etc. Os equipamentos automatizados apresentam uma enorme variação tecnológica eletrônica associada à informática. Desse modo, facilitam o desempenho da rotina diária nos laboratórios de análises clínicas. EXEMPLO: Há equipamentos que permitem análises de 30 hemogramas por hora até mais de 100 por hora, no quais comparados com os sistemas não automatizados, pode-se levar mais de uma hora para realização de um único ou um pequeno número de hemogramas. O princípio da metodologia dos equipamentos hematológicos mais simples é a impedância, que consiste na formação de corrente elétrica Hematologia Clínica 54 entre dois eletrodos e, quando uma célula atravessa a corrente elétrica, é gerado um impulso elétrico que é quantificado de acordo com o diâmetro pré-estabelecido dos elementos celulares (eritrócitos, leucócitos ou plaquetas). Equipamentos automatizados avançados adicionaram a essa função recursos, como: citometria de fluxo, citoquímica e citologia diferencial que conseguem distinguir células imaturas, tais como reticulócitos (hemácias imaturas) e blastos (leucócito imaturo). IMPORTANTE: Ao escolher o analisador hematológico, é importante que seja considerado o público-alvo a ser atendido, tanto em número quanto em características (população hospitalar ou ambulatorial). Após serem definidas as demandas do laboratório, podem ser considerados os equipamentos que façam a contagem diferencial dos leucócitos em pelo menos três parâmetros (neutrófilos, linfócitos e outros leucócitos) ou cinco parâmetros (neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos, basófilos), que é o ideal. Outro fator que pode ser considerado é se o equipamento homogeneíza a amostra, pois há analisadores que homogeneízam a amostra antes de aspirá-la, não tendo assim a necessidade de homogeneizá-las de modo manual ou deixá-las em homogeneizadores antes de serem processadas. É importante também que o analisador libere o RDW (amplitude de distribuição dos eritrócitos), que é determinado a partir do VCM. O RDW representa a variação do tamanho da população eritrocitária. Não é possível determinar o número desse parâmetro de modo não automatizado, embora se possa verificar sua existência observando o esfregaço sanguíneo. Os analisadores automatizados podem mostrar o RDW-CV (amplitude de distribuição dos eritrócitos medido como coeficiente de variação) que é a relação da curva de distribuição com um desvio-padrão, dividida pelo VCM e RDW-SD (amplitude de distribuição dos eritrócitos Hematologia Clínica 55 sendo medido como desvio padrão) que é a medida da largura da curva de distribuição ao nível da frequência de 20%. RDW-SD aumentado indica a presença de anisocitose, ou ainda, dependendo do valor e visualização das células microscopicamente, caracteriza dupla população eritrocitária. No caso das plaquetas os equipamentos costumam liberar o volume plaquetário médio (VPM) e o PDW (Platelets Distribution Width – distribuição das plaquetas por tamanho). A maioria dos laboratórios não libera esses valores no laudo do paciente. Também é muito importante que sejam avaliados os custos e benefícios da metodologia a ser implantada, em relação custo dos reativos, dos controles de qualidade interno de uso diário, calibradores, manutenção preventivas, assistência técnica etc. Após o analisador ser escolhido e implantado na rotina do setor de Hematologia, é importante que os profissionais que manipularão o equipamento sejam devidamente treinados. Também é primordial que seja determinada a inexatidão, imprecisão, especificidade, linearidade, estabilidade, determinação de interferentes, correlação com avaliação microscópica. Podem também ser realizados testes interensaios, entre outros, para que o equipamento esteja validado e possa realmente ser utilizado. Outro ponto positivo da automação é a possibilidade de interfaceamento dos resultados, a qual não existe em sistemas não automatizados. Avaliação Morfológica das Células Sanguíneas Independente se o hemograma for não automatizado, semiautomatizado ou automatizado, em algum momento, pode ser necessária a avaliação morfológica dos elementos celulares. A avaliação morfológica das células sanguíneas é realizada a partir de análise de esfregaço sanguíneo corado em microscópio óptico com auxílio das objetivas de aumentos de 40x e 100x. O esfregaço sanguíneo manual deve ser preparado em lâmina de vidro limpa e seca (pode ser usado gaze e álcool 70% para limpeza) com auxílio de uma lâmina Hematologia Clínica 56 extensora (pode ser de acrílico e deve possuir uma região bem lisa, sem ranhuras e ter largura de preferência um pouco mais estreita que a lâmina de vidro a ser preparada ou com bordas um pouco mais arredondadas). Um bom esfregaço é composto por três partes, sendo elas: uma região espessa (chamada de cabeça do esfregaço), uma medial (chamada de corpo do esfregaço) e uma fina (chamada de cauda do esfregaço). Observe a seguir o passo a passo para a realização do esfregaço sanguíneo. PASSO A PASSO: Para realizar a confecção de um bom esfregaço sanguíneo corado, siga os seguintes procedimentos: 1. Pingueuma pequena gota de sangue (quanto maior a gota, mais espesso será o esfregaço, quanto menor, mais fino), aproximadamente 10 a 20 µL, em um dos lados de uma lâmina de vidro. 2. Coloque a lâmina extensora na frente do sangue em um ângulo de em torno de 45º. 3. Puxe levemente a extensora para trás esperando que o sangue se espalhe por toda superfície de contato da extensora. 4. Execute o movimento de extensão, ou seja, deslize a extensora até a próxima borda em velocidade moderada. 5. Espere o esfregaço secar naturalmente. 6. Core o esfregaço com os corantes de sua preferência. Normalmente os corantes utilizados são Leishman e Wright. Eles são compostos basicamente por azul de metileno e eosina. A coloração escolhida deve seguir o passo a passo recomendado pelo fabricante. A análise do esfregaço sanguíneo permite que seja avaliada a morfologia dos elementos celulares e seja feita a contagem diferencial dos leucócitos. No caso de equipamentos automatizados que liberam observações ou que o próprio analista observa que o resultado não está normal, principalmente em relação aos índices hematimétricos ou à imaturidade celular, os resultados podem ser confirmados. É nessa análise que é conferido se existe ou não alterações na cor, no tamanho, Hematologia Clínica 57 na forma das células ou se há a presença de algum tipo de inclusão, como grânulos, pontilhados ou alguma outra estrutura (hemoparasitas), presença de células imaturas, como casos de desvio à esquerda ou leucemias, neutrófilos hipersegmentados, atipias, vascularização citoplasmática, entre outros. Os leucócitos devem ser diferenciados em neutrófilos (bastão e segmentado), linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. A maior parte dos equipamentos automatizados faz essa diferenciação na qual milhares de células são contadas, entretanto, muitas vezes é necessária a confirmação no esfregaço sanguíneo. Para metodologias não automatizadas do hemograma, essa avaliação é obrigatória. Na contagem não automatizada são contados 100 leucócitos, diferenciando-os no esfregaço sanguíneo corado com auxílio do microscópio óptico. São liberados valores: absoluto (número por µL de sangue) e relativo (%) de cada leucócito por meio de um cálculo com base no número total de leucócitos. A fórmula é a seguinte: número do leucócito encontrado x número de leucócitos total ÷ 100. EXEMPLO: Em um paciente em que tiver o número total de leucócitos de 9.000/µL e na contagem de 100 células forem observados: quatro bastões, 56 segmentados, 34 linfócitos, quatro monócitos, um eosinófilo e um basófilo, o resultado final será (relativo-absoluto): Bastões: 4% - 360/ µL; Segmentados: 56% - 5040/µL; Linfócito: 34% - 3060/µL; Monócito: 4% - 360/µL; Eosinófilo: 1% - 90/µL; Basófilo: 1% - 90/µL. Some o valor em percentual e verá como resultará em 100% e o valor em /µL resultará em 9000/µL. Em relação ao plaquetograma, podem ser avaliados se o número total de plaquetas está dentro da normalidade e a morfologia das plaquetas. Em um campo microscópico bom, com a objetiva de aumento de 100 vezes, devem ser observadas de 8 a 20 plaquetas para ser considerado um número plaquetário normal. As plaquetas são fragmentos celulares que não sofrem alterações significativas, o que normalmente é observada é a presença de agregado plaquetário, satelitismo plaquetário, macroplaquetas ou mais raramente megacariócitos. Hematologia Clínica 58 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido no que consite a fase analítica não automatizada e automatizada do hemograma. Estudou a fase analítica em que o hemograma não é automatizado, o hemograma automatizado e a avaliação morfológica das células sanguíneas. Hematologia Clínica 59 Fase Pós-Analítica do Hemograma OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a fase pós-analítica de qualquer exame laboratorial que é a que ocorre depois da fase analítica e, por ser a última etapa, depende muito das fases anteriores (pré-analítica e analítica). De qualquer modo, os processos pós-analíticos, em geral, não apresentam muitos equívocos quando comparados com a fase pré-analítica. Um dos problemas mais sérios que pode acontecer é um laudo perdido ou a demora em registrar um resultado crítico que pode colocar em risco a saúde do paciente. Ao longo desse item, você conhecerá as etapas que compreendem a fase pós-analítica especialmente associada à emissão do laudo e interpretação dos resultados. Além disso, como o analista de laboratório pode contribuir com a conclusão segura do diagnóstico e confiabilidade do laboratório para com seus clientes. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Fase Pós-Analítica do Hemograma A fase pós-analítica tem início logo após a fase analítica ser finalizada com a obtenção de resultados válidos e termina com a emissão do laudo conforme legislação vigente, para a interpretação do profissional da saúde (médico, nutricionista, fisioterapeuta etc.) que fez a solicitação. Na fase pós-analítica os problemas mais comuns são ter que lidar com: • Validação errada – equipamentos e resultados validados de forma errada na fase analítica comprometem o resultado final do exame e consequentemente a sua interpretação. Hematologia Clínica 60 EXPLICANDO MELHOR: Devem ser determinadas a inexatidão e a imprecisão do equipamento com testes de interensaio, especificidade, linearidade, estabilidade, interferentes, correlação com avaliação microscópica etc. Se for cometido algum tipo de erro nessas avaliações correspondentes à validação, o resultado do exame do paciente não será fiel a situação clínica vivida. • Resultados atrasados – problemas podem ocorrer na análise, como equipamento analítico com falhas ou falta de reagente, não permitindo realizar o processo. Isso pode gerar atraso na entrega do laudo e, consequentemente, um transtorno ao paciente que pode ir buscar o exame e ele não estar pronto. Esse fator pode até mesmo gerar prejuízos relacionados à saúde dele. Essa situação pode ser minimizada se for entrado em contato com o paciente assim que percebido que a liberação do resultado irá atrasar. • Resultados por algum motivo não reportados ou reportados de forma incorreta por causa de erro de dados ou de transcrição de informações, entre outros. Também irá causar prejuízos no diagnóstico. • Entrega de laudo de um paciente para outro. Esse erro pode ser reduzido com a solicitação de documento de identificação no momento da entrega do laudo ou comprovante de retirada. Além disso, a atendente deve ler o nome do paciente em voz alta, confirmando que aquele laudo é dele mesmo. Pode ser entregue também o resultado do paciente de uma data anterior. Para evitar essa situação, é de extrema importância a conferência dos dados do paciente. Os erros aqui citados e outros que podem ocorrer nessa fase podem ser minimizados com profissionais treinados ou que recebam treinamento de aperfeiçoamento continuamente, uso de sistema de interfaceamento de boa qualidade, análise de indicadores de todas as fases laboratoriais, valores de referência bem estabelecidos, plano de contingência para ser colocado em ação caso ocorra algum intercorrente, entre outros. Hematologia Clínica 61 EXPLICANDO MELHOR: O sistema de interfaceamento permite que os resultados liberados pelo analisador não precisem ser digitados e sim, sejam transmitidos direto para o sistema informatizado (software) do laboratório. Esse processo evita erros de digitação e promove maior rapidez na liberação do resultado. A relação entre o sistema automatizado e o interfaceamento permite ainda a possibilidade de liberação automática dos resultados conformevão ficando prontos, mas para isso é necessário que os parâmetros de normalidade estejam bem definidos dentro do sistema informatizado e frequentemente seja revisado ou testado pelos profissionais responsáveis. Isso permite agilidade na liberação do laudo e facilita o andamento do fluxo de trabalho em laboratórios com grande demanda. Emissão de Resultados e Comentários Técnicos Os resultados podem ser emitidos em laudos impressos ou de modo online, normalmente disponibilizados no site do laboratório de análises clínicas que realizou a análise. O profissional que liberou o exame precisa assinar o laudo, seja com caneta após a impressão ou pode ser com assinatura eletrônica (impresso ou online). Independente da forma de emissão, o laudo precisa ser bem projetado, desenhado e legível, garantindo que a visualização do mesmo ocorra sempre conforme o planejado e atenda corretamente as necessidades clínicas do solicitante e do paciente. IMPORTANTE: Laudos desorganizados e ilegíveis podem resultar na interpretação equivocada do resultado do exame do paciente e, consequentemente, atraso no tratamento ou tratamento errado, podendo resultar em complicações graves na saúde ou até mesmo levar o paciente a óbito. Hematologia Clínica 62 A Resolução de Diretoria Colegiada – RDC nº 302, de 13 de outubro de 2005, preconiza que o laudo, além de legível como citado anteriormente, não contenha rasuras de transcrição, seja escrito em Língua Portuguesa (no caso de laboratórios brasileiros) e contenha pelos menos as seguintes informações: dados de identificação do laboratório (incluindo nome, endereço e telefone), identificação de quem é o responsável técnico e do profissional (bioquímicos, biomédicos, médicos) que liberou o exame (nome e número de registro do profissional no respectivo conselho de classe), número de registro do laboratório clínico no respectivo conselho de classe profissional, nome e identificação do cliente (paciente), data da coleta da amostra (normalmente também consta o horário da coleta que é importante para a avaliação de muito parâmetros) e da emissão do laudo, nome do exame, tipo de amostra utilizada para a análise (no caso do hemograma é sangue total), método analítico utilizado para avaliação (como: citometria de fluxo ou automatizado com microscopia complementar), resultado do exame, unidade de medição (como o hemograma apresenta várias análises, mais de uma unidade é liberada, mas sempre correspondente ao parâmetro determinado), valores de referência e demais observações pertinentes a avaliação do exame (limitações técnicas da metodologia e dados para interpretação do resultado). NOTA: Quando for aceita a amostra de paciente com algum tipo de restrição, esta informação deve ser incluída no laudo como observação a ser analisada pelo profissional solicitante do exame. As restrições que mais costumam ocorrer em grande parte dos exames é jejum insuficiente, mas dificilmente acontece com o hemograma. Hematologia Clínica 63 Retificação de Laudos DEFINIÇÃO: Retificação de laudo refere-se à correção de um laudo já emitido e muitas vezes visualizado pelo paciente ou profissional que fez a solicitação do exame. Quando é identificada a necessidade de retificação de laudo emitido, o Laboratório deve emitir novo laudo e entrar em contato com o paciente ou profissional que solicitou o exame para justificar o ocorrido, esclarecendo os motivos que levaram a acontecer o erro e as correções feitas. Se o paciente ou o solicitante ficar em dúvida em relação ao resultado, por ser discordante do primeiro apresentado, o laboratório pode se oferecer para repetir o exame sem ônus. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre as fases laboratoriais e as particularidades estabelecidas por fase, leia a Resolução de Diretoria Colegiada – RDC Nº 302, de 13 de outubro de 2005, disponível aqui. Valores de Referência do Hemograma Valor de referência é um intervalo que inclui a maioria dos indivíduos com características semelhantes às do grupo de referência (população saudável de uma determinada região) e exclui os demais. Normalmente os dados são plotados em um histograma e considera-se incluídos 95%. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Federação Internacional de Química Clínica (IFCC) e o Instituto de Padronização Clínica e Laboratorial (CLSI) os valores de referência são obtidos pela observação ou mensuração quantitativa de um analito em indivíduos considerados saudáveis, com base em critérios bem definidos de inclusão e exclusão (indivíduos sem doença, que não tem o hábito de fumar ou ingerir bebidas Hematologia Clínica http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_302_2005_COMP.pdf/7038e853-afae-4729-948b-ef6eb3931b19 64 alcoólicas, com índice de massa corporal dentro da normalidade, entre outros) pelos pesquisadores em questão. Os valores de referência acabam sendo instrumentos de tomada de decisões médicas (ou de outros profissionais da saúde) disponíveis no laudo de um laboratório de análises clínicas para auxiliar o profissional a diferenciar os pacientes que apresentam alguma patologia dos indivíduos saudáveis, facilitando a determinação do diagnóstico e da decisão terapêutica. IMPORTANTE: Em torno de 80% das decisões médicas baseiam-se em informações fornecidas pelos resultados dos exames comparados com os valores de referência disponibilizados no laudo. Os valores de referência do hemograma podem ser obtidos na literatura, fornecidos pelos fabricantes dos reagentes e equipamento hematológico, ou ainda, cada laboratório pode determinar seus próprios valores de referência seguindo protocolos como o preconizado pela CLSI. REFLITA: O CLSI recomenda que cada laboratório estabeleça seus próprios valores de referência. A justificativa dessa recomendação se deve ao fato de cada nacionalidade ou região apresentam indivíduos com características fisiológicas distintas, diferentes hábitos de vida e alimentares que podem resultar em valores de normalidade diferentes. O laudo do hemograma normalmente é dividido pelos laboratórios em eritrograma, leucograma e plaquetas. Os resultados são descritos em uma mesma página, primeiro todos os valores encontrados na análise e na sequência os valores de referência deles. Caso não tenha espaço Hematologia Clínica 65 suficiente devido ao hemograma ser um exame rico em informações, ou o laboratório tenha o hábito de cadastrar plaquetas separadas do hemograma, elas acabam muitas vezes sendo liberadas em uma nova página de laudo. A seguir você encontrará os valores de referência com os devidos comentários por série. Os valores de referência para o eritrograma de adulto do gênero masculino e feminino são, respectivamente: • Eritrócitos (milhões/mm3) – 4,30-5,70 e 3,90-5,00; • Hemoglobina (g/dL) – 13,5-17,5 e 12,0-15,5; • Hematócrito (%) – 39-50 e 35-45; Os índices hematimétricos não apresentam diferenças por gênero. Observe a seguir: • HCM – 26-34 pg • VCM – 80-99 fL • CHCM – 31-36 g/dL • RDW – 12,0-14,9 Costuma-se liberar no laudo observações sobre a forma hemática (que se espera que seja normal). NOTA: Um eritrócito normal apresenta formato arredondado em forma de disco bicôncavo, ou seja, apresentam centros mais finos e bordas mais espessas. Parece com a “bala soft”. EXEMPLO: Um exemplo que aparece nos laudos, referente à forma hemática com grande frequência, devido à alta prevalência de anemia ferropriva principalmente em crianças e mulheres, são: presença de eritrócitos microcíticos (tamanho menor que a normalidade) e hipocrômicos (menor conteúdo de hemoglobina) com anisocitose (variação no tamanho dos Hematologia Clínica 66 eritrócitos). Também pode aparecer: pecilocitose (que se refere a alterações variadas na forma das células), célula em alvo, policromatocitose (eritrócitos arroxeados ou azulados que indicam que ainda há resquíciosde material genético, ou seja, são células mais imaturas), drepanócitos (eritrócitos em forma de foice, característicos da anemia falciforme) etc. Os valores de referência do eritrograma para o recém-nascido são: eritrócitos de 3,90 a 5,50 milhões/mm3; hemoglobina de 13,5 a 22,5 g/dL; hematócrito de 42 a 60%; HCM de 31 a 37 pg; VCM de 98 a 120 fL; CHCM de 30 a 36 g/dL e RDW de 12,0 a 14,9. REFLITA: Repare como são diferentes os valores do eritrograma por gênero e por idade. Crianças e adolescentes podem ainda apresentar outros valores disponibilizados no laudo. O laudo do leucograma é liberado com valores relativos (%) e absolutos (µL) dos leucócitos. Para avaliação da normalidade, sempre devem ser observados os valores absolutos. O leucograma também não apresenta diferença por gênero, apenas por idade, seguem os valores de referência de adultos: • - Leucócitos totais – 3500-10500/µL • Neutrófilos segmentados – 1700-8000/µL • Linfócitos – 900-2900/µL • Monócitos – 300-900/µL • Eosinófilos – 50-500/µL • Basófilos – 0-100/µL Os laudos dessa série geralmente apresentam uma observação relatando que o item dos neutrófilos engloba segmentados e bastonetes. Os bastonetes só são quantificados quando estiverem acima de 5% (independente de gênero ou idade). As demais células imaturas (blasto, mielócitos, metamielócitos) observadas em casos como infecção Hematologia Clínica 67 bacteriana importante ou leucemias também são liberadas no laudo quando presentes em valores relativos e absolutos. Para liberação da presença de blastos, deve-se ter muita segurança em garantir que realmente é essa célula, devido ao diagnóstico correspondente (leucemia). Observações gerais de alterações nos leucócitos também podem ser incluídas no laudo. EXEMPLO: Exemplo de alterações observadas no laudo em casos de infecções por microrganismos, leucemias, e demais patologias: neutrófilos hipersegmentados, granulação tóxica, células atípicas, vacuolização citoplasmática etc. Os valores de referência do leucograma para o recém-nascido são: leucócitos totais de 9000 a 30000/µL; neutrófilos segmentados de 6000 a 26000/µL; linfócitos de 2000 a 11000/µL; monócitos de 400 a 1800/µL; eosinófilos de 20 a 850/µL e basófilos de 0 a 600/µL. Em geral, crianças de um a cinco anos apresentam valores de linfócitos superiores ao de neutrófilos e demais valores podem sofrer variações conforme a idade atingida. REFLITA: Repare como, em geral, o leucograma do recém-nascido apresenta valores superiores de normalidade quando comparados ao leucograma do adulto. Os valores de referência de plaquetas para indivíduos acima de seis meses são de 140 a 450 mil/µL, não havendo diferença por gênero. Para criança abaixo de seis meses de idade considera-se como normalidade o intervalo 140 a 350 mil/µL. Essa série também pode conter observações no laudo. EXEMPLO: Exemplo de alterações observadas no laudo de plaquetas: presença de – macroplaquetas, satelitismo plaquetários, ou ainda, Hematologia Clínica 68 agregados plaquetários. Normalmente aparecem com resultados baixos de plaquetas. Macroplaquetas podem confundir o equipamento, e elas serem contadas como eritrócitos devido ao tamanho apresentado. Tomada de Decisão Quando o paciente procura um médico ou outro profissional da saúde com algum desconforto, dor, queixas em geral, nem sempre o profissional consegue definir o diagnóstico munido apenas de informações e do exame clínico. EXPLICANDO MELHOR: Há muitas patologias que apresentam os mesmos tipos de sinais e sintomas, como: febre, mal-estar, cansaço, dor de cabeça etc. Desse modo, constantemente há a necessidade de solicitar um exame laboratorial para confirmação de alguma suspeita ou descarte de algum diagnóstico. O hemograma é um dos exames mais solicitados pela abrangência no conteúdo de informações que pode revelar sobre a saúde do paciente. Com a solicitação do exame o profissional espera que, o mais breve possível, ele receba um resultado confiável seja online (muitos pacientes enviam o resultado via whatsapp, e-mail ou há usuário e senha do médico e/ou do paciente para acesso no site do laboratório) ou impresso (ou ainda podem pedir para que o resultado seja passado via telefone, mas para isso deve-se confirmar os dados do paciente). O resultado emitido pelo laboratório terá a finalidade de orientar o profissional na sua tomada de decisão. As etapas de cada fase laboratorial que existem entre a requisição do exame e recebimento do resultado final fogem ao seu conhecimento e são bastante complexas. O laboratório, por sua vez, armazena um vasto campo de recursos e informações, cuja compreensão escapa aos que não atuam diretamente nos seus processos. Muitas vezes, o profissional precisará de ajuda do laboratório para tomada de uma decisão. E, então, o laboratório deve ter alguma forma de prestar esse serviço. Muitos laboratórios, especialmente os Hematologia Clínica 69 de grande porte, têm um setor específico de assessoria científica. Os menores acabam dando essa assistência de modo mais direto, ou seja, o profissional que realizou o exame conversa diretamente com o clínico que o solicitou. O analista também pode entrar em contato com o profissional para transmissão de algum resultado crítico que não pode esperar até que o paciente retire o laudo e o encaminhe para o médico. O que costuma acontecer com frequência em relação ao hemograma é o paciente estar com os valores muito baixos e assim precisar realizar transfusão de sangue imediatamente. É entendido como resultado crítico o valor do exame muito acima ou muito abaixo da normalidade, que necessita de uma ação imediata do médico assistente para com seu paciente, evitando danos mais graves, ou até mesmo, óbito. Esses valores são estabelecidos pelo laboratório com base em informações obtidas na literatura ou conforme acordado com a classe médica. EXEMPLO: Em relação ao hemograma, normalmente consideram-se como valores críticos os seguintes resultados: hematócrito (para adultos) inferior a 20% ou superior a 61%, hemoglobina inferior a 7 g/dL ou superior a 19,9 g/dL, leucócitos totais inferiores a 2.000/µL e superior a 20.000/µL, plaquetas inferiores a 40 mil/mm3 e superiores a 1 milhão/mm3. Casos identificados de leucemias, anemia falciforme ou aplásica também podem ser comunicados. Em relação a outros exames do setor de Hematologia, os que podem apresentar valores mais críticos são os que avaliam a coagulação do sangue (tempo de protrombina superior a 40 segundos, tempo de tromboplastina superior a 75 segundos, fibrinogênio inferior a 100 mg/dL ou superior a 700 mg/dL). As situações em que o laboratório mais participa são para confirmar ou rejeitar um diagnóstico ou, ainda, para obtenção de parâmetros para orientar o clínico referente ao tratamento. O solicitante pode ainda pedir a repetição do exame, adicionar algum exame extra na mesma amostra, questionar sobre a metodologia utilizada, verificar se o laboratório recomenda algum teste adicional para complementação diagnóstica, Hematologia Clínica 70 entre outros. Por isso, deve-se guardar a amostra refrigerada no laboratório, para garantir a sua estabilidade. Ao receber o laudo e interpretá-lo o profissional precisa ter em mãos o melhor produto que o laboratório pode entregar. E assim, decisões importantes serão tomadas. EXEMPLO: O laudo precisa ter os dados completos do paciente, todo eritrograma, leucograma e plaquetograma, com observações quando necessárias e os respectivos valores de referência. Casos de anemia falciforme por exemplo, são diagnosticados ao observar valores diminuídos dos parâmetros do eritrograma e presença de alteração na morfologia dos eritrócitos, especialmente, em forma de foice (drepanócitos). Se no laudo estiverem essas informações o médico poderá tratar o paciente adequadamente.O laudo encerra um ciclo de todos os esforços exercidos pela equipe laboratorial especializada, com alta tecnologia e conhecimento para contribuir com a saúde da comunidade e reduzir ao máximo os agravos ao paciente. A fase pós-analítica e a fase pré-analítica são as únicas em que os profissionais do laboratório têm contato direto com o paciente, desse modo, precisam prestar um bom atendimento e transmitir confiança. Hematologia Clínica 71 RESUMINDO: Você deve ter aprendido que a fase pós-analítica é a última fase laboratorial. Devido a isso, erros que aconteceram nas fases anteriores podem interferir nessa etapa e comprometer a saúde do paciente. Medidas devem ser tomadas para a redução dos erros em todas as fases laboratoriais. As informações no laudo devem estar muito claras e sempre devem ser disponibilizados valores de referência para que o profissional solicitante compare o resultado apresentado com um intervalo de normalidade encontrado na população. O profissional que fez a análise do exame sempre deve estar à disposição do profissional solicitante para esclarecimento de dúvidas e discussão do resultado para facilitar a tomada de decisão. A preocupação com a qualidade dos serviços prestados, agilidade e melhora contínua na execução dos processos pelos profissionais do laboratório em todas as fases laboratoriais é fundamental para a confiabilidade nos serviços prestados, satisfação dos clientes (pacientes, médicos e demais profissionais) e, consequentemente, continuidade da empresa (laboratório). Hematologia Clínica 72 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC Nº 302, de 13 de outubro de 2005. Dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Brasília, DF, 2005. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/ RDC_302_2005_COMP.pdf/7038e853-afae-4729-948b-ef6eb3931b19. Acesso em: 18 nov. 2018. GUYTON, J. E.; HALL, A. C. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. HOFFBRAND, A. V.; MOSS, P. A. H. Fundamentos em Hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. SILVA, P. H. et al. Hematologia laboratorial: teoria e procedimentos. Porto Alegre: Artmed, 2016. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia e Medicina Laboratorial (SBPC/ML): coleta e preparo da amostra biológica. Barueri: Manole, 2014. Disponível em: http://www.sbpc.org.br/ upload/conteudo/livro_coleta_biologica2013.pdf Acesso em: 18 nov. 2018. Hematologia Clínica http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_302_2005_COMP.pdf/7038e853-afae-4729-948b-ef6eb3931b19 http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_302_2005_COMP.pdf/7038e853-afae-4729-948b-ef6eb3931b19 http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/livro_coleta_biologica2013.pdf http://www.sbpc.org.br/upload/conteudo/livro_coleta_biologica2013.pdf Hematopoese Medula Óssea e Demais Órgãos Hematopoéticos Células-Tronco Hematopoese Eritropoiese Leucogênese Trombocitopoese Regulação da Hematopoese Fatores que Interferem na Destruição e Renovação Celular Fase Pré-Analítica do Hemograma e o Controle de Qualidade No que Consiste a Fase Pré-Analítica? Amostra Sanguínea para a Realização do Hemograma Erros da Fase Pré-Analítica do Hemograma Controle de Qualidade do Hemograma Fase Analítica não Automatizada e Automatizada do Hemograma Fase Analítica do Hemograma O Hemograma não Automatizado Contagem não Automatizada do Número Total das Células Sanguíneas Determinação não Automatizada do Hematócrito Determinação não Automatizada da Hemoglobina Determinação não Automatizada dos Índices Hematimétricos O Hemograma Automatizado Avaliação Morfológica das Células Sanguíneas Fase Pós-Analítica do Hemograma Fase Pós-Analítica do Hemograma Emissão de Resultados e Comentários Técnicos Retificação de Laudos Valores de Referência do Hemograma Tomada de Decisão