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Prof. Esp. Flavia Luzia de Oliveira RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP O48r Oliveira, Flavia Luzia de Recursos terapêuticos ocupacionais / Flavia Luzia de Oliveira. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 76 p. : il. Color. 1.Terapia ocupacional. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 615.8515 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock e Freepik 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 AUTORA Prof. Esp. Flavia Luzia de Oliveira. ●Tecnóloga em Turismo e Lazer (IFAL); ●Bacharel em Terapia Ocupacional (UNCISAL); ●Especialista em Psicopedagogia Escolar (CEAP); ●Profissional habilitado Método Pediasuit Básico e Avançado (ABRAPPPE); ●Especialista em Acupuntura (IBRATE); ●Mestranda em Ciências Aplicadas à Saúde (UNIOESTE); ●Pós-graduanda em Análise do Comportamento Aplicada (PUC-PR). Terapeuta Ocupacional em atuação desde 2011 em serviços de saúde públicos (Associação de Pais e Amigos; Órgãos Governamentais de Saúde e Segurança Pública) e privados (Clínicas particulares e Planos de Saúde). Experiência nas áreas de neuroreabilitação infantil; saúde mental; cuidados paliativos e acupuntura. Em pesquisa científica apresentou melhor identificação com as Práticas Integrativas e Complementares; Estratégias em Saúde Mental; Avaliação em agravos do Neurodesenvolvimento; Síndromes Raras. CURRÍCULO LATTES: https://lattes.cnpq.br/3591477249354702 https://lattes.cnpq.br/3591477249354702 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, aluno (a). Seja muito bem-vindo (a) a mais uma etapa desta linda jornada que é a Terapia Ocupacional! Gostaria de expressar minha imensa alegria pela oportunidade deste nosso encontro acadêmico. Tenho plena confiança em seu potencial e compreendo o quão desafiador pode ser, em certos momentos, seguir este caminho acadêmico. No entanto, tenho certeza de que, ao término desta bela jornada, você colherá os frutos de todo o seu esforço, e a recompensa será verdadeiramente grandiosa. A Terapia Ocupacional nos preenche enquanto profissional e enquanto pessoa. Estará nas suas mãos o processo evolutivo de desempenho ocupacional de diversas pessoas. A maioria descobrirá sua importância e contribuição apenas quando esta for imprescindível, ao mesmo tempo, você poderá sentir o quão gratificante é ser reconhecido e ser parte desse processo evolutivo. Essa disciplina se configura como uma das mais importantes bases da nossa prática profissional; é preciso saber como, quando e o porquê utilizar um recurso terapêutico. Será preciso produzi-lo? Será comprado? Quem compra, o T.O. ou a família? Posso adaptar um recurso? O mesmo recurso pode ser utilizado por vários pacientes? Todo recurso terapêutico é físico, material concreto? Existe recurso terapêutico abstrato? Quantas perguntas, não é mesmo? Vamos aprender juntos a respondê-las. Na Unidade I vamos estudar como deve ser a relação terapeuta-paciente e a organização do Setting terapêutico para um bom uso dos recursos terapêuticos ocupacionais, incluindo as técnicas de avaliação desses recursos. Já na Unidade II discutiremos a relação entre atividade humana e recursos terapêuticos no brincar, na arteterapia e na musicoterapia. Na sequência, na Unidade III, compreenderemos o conceito de práxis e a contribuição dos recursos terapêuticos. Finalizaremos com a Unidade IV, tratando da relação entre os recursos terapêuticos e a prática da Terapia Ocupacional (T.O) na saúde mental. Bons estudos! 5 SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Relação Terapeuta-Paciente e o Setting Terapêutico; • Noções de Transferência e Contratransferência no Processo Terapêutico Ocupacional; • Avaliação Qualitativa em Terapia Ocupacional; • Avaliação das Atividades Produtivas e de Trabalho. Objetivos da Aprendizagem • Conhecer a relação terapeuta-paciente e sua conexão com a organização do Setting terapêutico e identificação dos recursos terapêuticos adequados; • Compreender os tipos de relação terapeuta-paciente e associar com as situações de transferência e contratransferência; • Estabelecer a importância da avaliação qualitativa em Terapia Ocupacional, por meio da análise da avaliação das atividades produtivas e de trabalho; • Discutir a importância dos recursos terapêuticos. Prof. Esp. Flavia Luzia de Oliveira BASES CONCEITUAIS BASESCONCEITUAIS DOS RECURSOS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE– PACIENTE1UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 7 Olá, querido (a)! Seja bem-vindo (a) a nossa Primeira Unidade da disciplina de Recursos Terapêuticos Ocupacionais. Imagino que a expectativa seja grande para adentrar em mais uma etapa no seu processo de formação acadêmica. Então se preparem que lá vamos nós! Quando se fala em Recursos Terapêuticos o que vêm em sua mente? Tudo pode ser considerado um recurso, mas, o que irá torná-lo terapêutico será o objetivo pelo qual foi escolhido e qual desfecho ocupacional oportuniza. Com base nisso, em nosso primeiro tópico iremos abordar a relação terapeuta- paciente, compreendendo o momento exato em que essa relação teve início e quais os conflitos de interesse e de relacionamento que podem emergir se você não estiver preparado, e completaremos com a discussão sobre a organização do setting terapêutico conforme o perfil de clientela, a especialidade e o ambiente disponibilizado. No segundo tópico, aprofundaremos nosso conhecimento para identificar as noções de transferência e contratransferência que influenciam os resultados do plano terapêutico ocupacional. E pensando nesses resultados, nos deparamos com o terceiro tópico, os resultados para serem comprovados precisam ser analisados por uma ótica qualitativa, quantitativa ou quali-quantitativa; a análise científica dos resultados obtidos a partir do acompanhamento terapêutico irá fortalecer a relação terapeuta-paciente e oportunizar uma assistência de qualidade. O quarto e último tópico irá permitir que você identifique a melhor avaliação das atividades produtivas e de trabalho considerando os recursos terapêuticos desenvolvidos para cada caso. Preparado? Então vamos juntos! Bons estudos! UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE RELAÇÃO TERAPEUTA-PACIENTE E O SETTING TERAPÊUTICO1 TÓPICO 8 O terapeuta ocupacional é intermediador de relações humanas e facilitador do fazer humano. Rui Charmone Jorge, em um congresso, em 1986, já dizia que a relação terapeuta-paciente é humana pura, com as implicações que quaisquer outras relações, em quaisquer outras situações, tenham, em que pesem as posturas técnicas exigidas para esse encontro. Somos reabilitadores de corpos e almas, e partindo desse pressuposto, vamos à exposição e discussão dos elementos iniciais da relação terapeuta paciente. 1.1 Definição A relação terapeuta-paciente é aquela que busca reabilitar o ser, holisticamente, para si mesmo e em seguida para a sociedade. Nessa relação não é possível observar tão somente a limitação, seja ela, física, psíquica, social, arquitetônica e/ou cultural, é imprescindível vincular ao processo terapêutico todas as áreas de desempenho afetadas, oferecendo escuta ao paciente, fazendo a leitura minuciosa de suas intenções e desejos, para que esta relação seja de fato terapêutica e de fato resulte em bom prognóstico. Castro (2005) nos sugere uma reflexão sobre a relação terapeuta-paciente no campo da terapia ocupacional na contemporaneidade, em que podemos identificar práticas e conceitos que estabelecem inovações e acontecimentos, que abrem espaços numa multiplicidade de territórios da vida. O autor ainda afirma que, na Terapia Ocupacional, a relação terapeuta-paciente está inscrita num campo de complexidades em que questões relacionadas ao sofrimento humano exigem estudos e conhecimentos interdisciplinares. UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE 9UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE Nossos pacientes sempre nos trarão questões relacionadas a algum sofrimento e serão os nossos conhecimentos interdisciplinares, técnicos e científicos que nos permitirão ultrapassar as barreiras que impedem a plenitude em nossos pacientes. Parece assustador para você? Imaginava que o terapeuta ocupacional pode tanto? Não se assuste, este caminho está sendo construído por você. Lembre-se que irá acompanhar o movimento de seres humanos com histórias complexas que irão lhe remeter em sua prática a um campo criativo e singular e que se relacionam com diferentes áreas, como, por exemplo, a reabilitação física, social e mental, a educação. Em virtude desta prática, a disposição técnica e acadêmica do terapeuta ocupacional precisa se manter em renovação e atualização. 1.2 Atenção, acolhimento e vínculo Para iniciar essa relação, dois momentos são cruciais: a atenção e o acolhimento. A atenção e o acolhimento determinam o receber, a receptividade do receber o outro como relação ética. Além disso, depende, essencialmente, do sim do outro, não menos que o sim ao outro (DERRIDA, 2008). Na atenção e no acolhimento, momentos iniciais dessa relação, todas as singularidades que marcaram e marcam a vida do paciente são expostas, características biológicas, condições fisiológicas, saúde psíquica, crenças e valores, experiências sociais, religiosas e culturais. E são essas singularidades que fazem o terapeuta ocupacional compreender que cada indivíduo demanda um acolhimento único, para um direcionamento único, ainda que a proposta de tratamento envolva a coletividade. Dada a atenção e o acolhimento, vamos ao vínculo. O processo de vinculação é o que permitirá a confiança e credibilidade que o paciente terá com o terapeuta ocupacional. Ela precisa ser bem estabelecida, quando não, os objetivos e metas criados para a terapia migram lentamente para o bom prognóstico. Terapeuta ocupacional e o paciente, ao formarem o vínculo terapêutico, compartilharão de uma singular experiência, em que recortes especiais da vida do paciente são apresentados e formam a base do processo terapêutico. Se pensarmos na experiência do vínculo terapêutico, ela abre para o paciente a possibilidade de se recolocar na posição de protagonista de sua história na busca por atingir seus objetivos. O terapeuta, segundo Castro (2005), está sempre manejando a intensidade dos estímulos, acertando o pulso na possibilidade do paciente, construindo experiências compartilhadas de diferentes ritmos, de diversas qualidades, ajustando o próprio comportamento e ações a outras temporalidades, engendradas pelas potencialidades do paciente. 10UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE Logo, no desenvolvimento da relação terapeuta-paciente, a presença física e psíquica assume uma tonicidade afetiva-emocional, dada a possibilidade do terapeuta estar em contato com o paciente e em alguns contextos, também com a família do paciente, numa atitude empática. E essa atitude empática se refere à estabilidade e constância presentes nas atitudes do terapeuta ocupacional, e também para a possibilidade de se estar atento às necessidades do paciente ao longo do processo terapêutico, seja em curto, médio ou longo prazo (BARRETO, 2000). Realizar intervenções terapêuticas, que forneçam elementos ao paciente para substituir os modos do passado pelas necessidades do presente, corresponde às situações potencializadoras de mudanças dentro do processo terapêutico ocupacional. Essas situações são frequentes e explícitas no fazer da terapia ocupacional, expressando a construção de novas experiências de vínculo social, possibilitando ou refazendo experiências representativas, permitindo a evolução do processo de compreensão de mundo, desmistificando processos vivenciados e que resultaram em marcas traumáticas, gerando demandas de vida e construindo novas redes de convívio e de existência. 1.3 Setting terapêutico Se você precisar ir ao médico, ao psicólogo, ou qualquer outro serviço de saúde, é inevitável observaros detalhes ao entrar na sala desses profissionais. Há ambientes que você desejaria nunca mais precisar estar lá novamente. Mas, há outros que parecem tão acolhedores que lhe fazem desejar ter um espaço desses dentro de sua casa, não é mesmo? Então, sempre que imaginamos uma relação terapêutica, supomos que ela ocorrerá em um ambiente acolhedor, com cores neutras e suaves, que sugere discrição e tranquilidade. Mas, se nos imaginamos entrando pela primeira vez em um setting terapêutico ocupacional, fantasias e observações diferentes costumam ser feitas. Talvez pela confusão que o pensamento coletivo produz sobre o que significa o termo Terapia Ocupacional, ou também pela ideia de crianças sendo atendidas e, por isso, ambientes lúdicos e coloridos seriam ideais, ou até mesmo pela ideia de adultos sendo atendidos em grupos terapêuticos em que as gargalhadas e atividades coletivas acontecem. 11UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE E de fato, alguns ambientes da terapia ocupacional precisam ser amplos, bem iluminados, que permitiram o barulho e pode conter forte odor de tintas e óleos, etc. Qual contexto ocupacional você imagina sendo trabalhado neste tipo de setting? Seria mais adequado para adultos ou a crianças? Atendimento individual ou de grupo? Saúde mental ou Reabilitação física? E se eu te disser que todas as respostas possíveis estão corretas? Sim. A anamnese minuciosa, a análise dos componentes de desempenho prejudicados, o planejamento e análise das atividades e dos recursos terapêuticos que serão adotados irão nos dizer qual o setting mais adequado para que se atenda cada demanda. Por isso, por mais que fujam à fantasia padrão de uma sala “clean” (limpa), isso não significa que nesses ambientes não se consigam níveis profundos de relaxamento, confidências e vínculo terapêutico. Tais características praticamente inexistem em outros ambientes terapêuticos, são próprias do setting terapêutico ocupacional, que ao se permitirem perceber o paciente holisticamente, se permitem também moldar o ambiente de atendimento às necessidades e objetivos do paciente. NOÇÕES DE TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL2 TÓPICO 12 Começamos este assunto com uma reflexão trazida do livro de Safra (1995), “Momentos mutativos em Psicanálise. Uma visão Winicottiana”, onde o autor diz que, para que as funções apresentadas e desenvolvidas na relação terapeuta-paciente sejam possíveis, o terapeuta não deve usar seu paciente para realizar identificações projetivas ou satisfazer os seus próprios desejos reprimidos. Partindo dessa reflexão, compreendemos que, enquanto terapeutas, somos um objeto subjetivo de intermediação para que o paciente vislumbre suas aspirações e desejos e planeje como alcançá-las. Os pacientes irão vivenciar conosco um processo terapêutico com começo, meio e fim; em que a manutenção do serviço prestado será condicionada a abertura e encerramento de ciclos, cada ciclo com um objetivo terapêutico, podendo haver interligação entre os objetivos ou não. 2.1 Transferência O que te vem ao pensamento ao escutar o termo transferência? Se formos buscar essa resposta lá no dicionário, nesse caso a consulta foi do dicionário Michaelis em sua versão online, encontraremos o seguinte: UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE 13UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE QUADRO 1 - CONCEITOS DE TRANSFERÊNCIA TRANSFERÊNCIA 1. Ação ou efeito de transferir-se; 2. Transmissão de propriedade ou de direito a outrem; 3. Remoção de funcionário ou empregado para outro departamento, cargo ou carreira; 4. Envio de um valor de uma conta bancária à outra; 5. Processo pelo qual o psicanalista vira alvo dos sentimentos do paciente em tratamento; 6. Deslocamento de um aluno de uma escola para a outra; 7. Passagem de dados de uma área de armazenamento para outra. Fonte: elaborado pela autora com base em Risco (2023). Ao analisarmos o quadro acima, já é possível identificar sobre qual tipo de transferência estamos tratando nesta unidade. Em nossa prática terapêutica, a empatia, o carinho, a gentileza e o respeito estão sempre presentes e são fundamentais para uma boa relação terapeuta-paciente. Porém, precisamos ter consciência de que lidaremos com pessoas que se encontram em seu maior momento de fragilidade física, psicológica e/ou social e que, popularmente falando, lhes oferecemos nesse momento a “tábua de salvação”. Castro (2005) explica muito bem esse conceito ao nos trazer que, na clínica da terapia ocupacional a transferência pode facilmente ocorrer quando a relação interpessoal é aprofundada entre paciente e terapeuta ocupacional, ou quando o próprio processo terapêutico necessita fornecer um ambiente em que os conflitos intra-subjetivos do paciente possam se manifestar, situação essa muito apreciada quando se atua com saúde mental. E ela não é ruim em sua completude, o paciente em determinados momentos e por determinados objetivos precisará ter o movimento de transferência, ele faz parte do vínculo terapeuta-paciente, cabe ao terapeuta compreender como mediar as situações e extrair os benefícios. 2.2 Contratransferência A contratransferência é complementar à transferência. Refere-se à autoanálise do terapeuta ocupacional a partir das transferências do paciente, isso porque a contratransferência é o conjunto das reações e sentimentos que o terapeuta experimenta em relação ao seu paciente. Ela é extremamente relevante em nossa prática, pois nos induz a autoanálise permanente, trazendo elementos para que se compreenda a força da relação terapeuta- paciente e medie nosso trabalho clínico. 14UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE Além disso, auxilia-nos a identificar o momento do término do processo terapêutico, que deve ser definido em comum acordo entre terapeuta e paciente, ou entre terapeuta e família, tendo em vista se os objetivos terapêuticos foram alcançados e se o paciente ou a família consegue prosseguir de forma autônoma e independente seu desempenho ocupacional no lar e na sociedade. AVALIAÇÃO QUALITATIVA EM TERAPIA OCUPACIONAL3 TÓPICO 15 Quando falamos de qualitativo, pensamos em algo que não pode ser mensurado com números ou porcentagem, associamos a situações discursivas e dissertativas. Pois bem, partindo desse pressuposto, vamos estudar sobre a Avaliação Qualitativa na Terapia Ocupacional, quais os seus princípios, seus métodos e técnicas para podermos coletar qualitativamente os dados. Ao analisar a Terapia Ocupacional enquanto profissão, vemos que esta ocupa simultaneamente dois campos dos saberes, as ciências humanas e as ciências biológicas, tratamos o ser, que é holístico (corpo e mente). Primeiro é preciso compreender a necessidade de interpretar e analisar os significados que os indivíduos de modo geral atribuem às suas ações cotidianas e compreender a existência de vínculos entre as ações cotidianas particulares e as ações cotidianas sociais e os contextos em que ocorrem. O terapeuta ocupacional, para fazer uso de avaliações qualitativas, precisa saber ler a comunicação não-verbal e verbal apresentada pelo sujeito avaliado. Para isso, será fundamental ouvir a história de vida de cada sujeito, que vai muito além de uma doença, de uma deficiência ou de qualquer problema, ouvir quais os significados atribuídos para que suas vidas façam sentido, e desse modo, fazer com que a avaliação qualitativa forneça base para o planejamento, direcionado às reais necessidades do paciente. UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE 16UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAISSOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE Iremos discorrer sobre quatro tipos de avaliação qualitativa: 1. Entrevista aberta; 2. História de vida; 3. Observação, 4. Estudo de caso. 3.1 Entrevista Aberta Também conhecida como não diretiva. É uma forma de coletar informações durante um discurso livre do paciente, dando a ele todo o tempo necessário para discorrer sobre suas necessidades de acordo com o grau de importância que lhe é conferido. A principal característica é que ocorre a partir da interação social de duas ou mais pessoas, interessante para grupos terapêuticos. Segundo Rocha e Brunello (2007), na entrevista, se espera que o paciente comunique e expresse questões de sua vida, revelando tanto as singularidades quanto a historicidade das suas ações, concepções e ideias. Neste momento, o terapeuta ocupacional assume o papel de entrevistador e deve manter uma escuta ativa, concentrando sua atenção em todas as informações fornecidas pelo paciente. Quando necessário intervir, essa intervenção deve ser delicada, evitando direcionar ou influenciar a fala do entrevistado. Além disso, é importante estar atento à maneira como as informações são registradas e à quantidade de detalhes, para que possam ser avaliadas com precisão e utilizadas para desenvolver propostas terapêuticas adequadas. Haguette (2003), sugere que as informações sejam organizadas no modelo de roteiro, com uma lista de pontos ou temas previamente estabelecidos e que tenham relação com a problemática central. O estado emocional, as opiniões, atitudes e valores devem ser levados em consideração para fundamentar as falas do paciente. É um modelo de avaliação bem simples, mas que requer empatia e boa capacidade de escuta e atenção direcionada, e saber bem o porquê de optar por esse tipo de avaliação. 3.2 História de Vida É uma técnica que se caracteriza pela pouca interferência do terapeuta durante a avaliação, o paciente é quem decide o que irá falar e o quanto é relevante o assunto. Toda a fala é importantíssima, e dificilmente se finaliza em apenas um encontro, uma vez que serão colhidas as informações da trajetória de vida do paciente. 17UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE É uma avaliação que tem por base um discurso livre de percepções subjetivas. Ao paciente é dado espaço de fala para poder relatar suas percepções pessoais e de mundo, bem como os sentimentos que marcaram sua vida e os acontecimentos importantes, diferente da avaliação apresentada no tópico anterior, na Coleta da História de Vida, o terapeuta ocupacional, ainda que pouco, tem permissão para questionar e fundamentar a interpretação dos fatos com o paciente. 3.3 Observação A observação de um paciente durante a avaliação começa na recepção da clínica, é preciso observar como ele se comporta no ambiente, como interage com o parente que o acompanha, com as outras pessoas do ambiente; se faz uso do banheiro; se consome de forma autônoma e independente uma água ou um café que esteja à disposição. Ao convidá-lo para a sua sala, observe se há dificuldade, ansiedade ou medo no seu caminhar, o modo como ele senta e se apoia sobre quem o acompanha, ou sobre a sua mesa, ou ainda se ignora o terapeuta, o familiar, a mesa e faz busca dos recursos que estão visíveis. Esta observação pode ser livre ou estruturada. Para Rocha e Brunello (2007), a observação livre satisfaz melhor a abordagem qualitativa, uma vez que, a caracterização do que pode ser observado será um processo a se realizar posteriormente, após a análise dos dados coletados. E o máximo de informações deve ser registrado. 3.4 Estudo de Caso Para um estudo de caso, foca-se em uma análise profunda sobre os aspectos que envolvem o paciente e as hipóteses que se pretende confirmar ou descartar. No processo avaliativo, o estudo de caso favorece a definição de prioridades na intervenção terapêutica. Essa modalidade de avaliação se utiliza de diversos instrumentos para a coleta de dados: as anteriormente descritas nesta unidade, a história clínica e institucional, análise do território do paciente e o levantamento das atividades de vida diária e de vida prática. Sua análise segue o seguinte roteiro: análise dos dados, definição dos problemas, estabelecimento de intervenções e modos de reavaliação. Estes são os principais instrumentos quando temos o intuito de avaliar qualitativamente o nosso paciente, nossa intervenção e nossos resultados. O profissional deverá definir, baseado em suas habilidades e no perfil de cada paciente, qual instrumento será melhor aplicado. AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES PRODUTIVAS E DE TRABALHO4 TÓPICO 18 É importante reconhecer que a entrada no mercado de trabalho está intrinsecamente ligada a aspectos cognitivos, psicomotores e psicoemocionais, os quais variam segundo as demandas específicas da função a ser desempenhada. Essa integração desses fatores constitui um elemento essencial do papel ocupacional. Recursos terapêuticos podem ser necessários para favorecer a preparação, inserção e manutenção do indivíduo no ambiente laborativo, dadas as suas condições cognitivas, motoras ou emocionais, e lá vamos nós encontrar a Terapia Ocupacional fazendo a diferença. Neste tópico vamos discorrer sobre os procedimentos de avaliação, mensuração, capacidade funcional e qualidade de vida no trabalho. Então, vamos lá! 4.1 Procedimentos de Avaliação Para avaliarmos um posto de trabalho e o perfil do trabalhador que irá exercê-lo, é preciso termos ciência que é possível analisar a atividade produtiva a partir do indivíduo, da atividade e do contexto do trabalho. Na análise desta atividade, tem-se a relação entre as exigências de capacidades e de comportamentos relacionados a todos os itens envolvidos em cada etapa da execução dessa atividade. É preciso identificar quais as barreiras e quais as facilidades no desempenho de cada atividade relacionando com o indivíduo que a irá exercer. Não esquecendo da análise ergonômica. UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE 19UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE A avaliação se dará em etapas, iniciando com a aproximação da realidade individual e coletiva da função, formalizando-se em contato direto com o indivíduo “trabalhador”, seja no local onde o trabalho será desempenhado ou no setting terapêutico. Seguida da observação direta do desempenho do indivíduo “trabalhador” no local de trabalho, averiguando e comparando discurso do indivíduo com a observação in loco. Quando se fala em instrumentos padronizados, podemos recorrer à Medida Canadense de Desempenho Ocupacional - COPM, do Papel de Entrevista com Trabalhador - WRI e do Modelo de Performance Ocupacional - OPM. Destes a COPM é a única que encontramos com facilidade para download. Para analisar o estado geral de saúde ou de bem-estar do indivíduo que estamos auxiliando na inserção ou reinserção no mercado de trabalho, temos os seguintes instrumentos padronizados: ● Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF; ● Questionário de Qualidade de Vida - SF-36; ● Perfil de Saúde de Nottinggam - PSN. FIGURA 1 – MEDIDA CANADENSE DE DESEMPENHO OCUPACIONAL (COPM). Fonte: Law et al. (2000). 20UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE FIGURA 2 – VERSÃO BRASILEIRA DO QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA Fonte: Qualipes (2023). 21UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE FIGURA 3 - PERFIL DE SAÚDE DE NOTTINGHAM (PSN) Fonte: Teixeira-Salmela (2004). 22UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE 4.2 Mensuração, Capacidade Funcional e Qualidade de Vida no TrabalhoQuando falamos em mensuração, compreendemos que ocorrerão medidas de precisão, empíricas, e de fato, podemos fazer uso de instrumentos como o goniômetro para mensurar a amplitude de movimento, o dinamômetro para mensurar a força muscular; os monofilamentos para mensurar a sensibilidade; e volúmetros para mensurar os edemas. E por que mensurar? Imagine que chega ao consultório um paciente afastado do trabalho por um acidente, por meio do qual causou a amputação de um dos dedos da mão direita. Diante disso, considere que este indivíduo é destro e trabalha em uma fábrica onde é responsável por inserir matéria-prima em um forno. Sabemos que o pós-cirúrgico envolve dor, edema, limitação de movimento e possivelmente sensibilidade. E que este indivíduo recebeu a autorização do médico para retornar ao trabalho, mas ao retornar, o ele percebe que está tendo muita dificuldade para realizar a função. O que você precisará avaliar? Compreendemos então que, mesmo sem avaliar, há uma redução da capacidade funcional. Com uso dos instrumentos de mensuração, conseguimos identificar as questões físicas que o impedem de realizar sua atividade laborativa; podemos então analisar o posto de trabalho para identificar se é necessário adaptar o ambiente com recursos no maquinário ou no paciente, ou até se será preciso analisar e treinar um novo posto de trabalho. Uma adaptação eficaz do local de trabalho, uma avaliação completa das condições físicas e emocionais do paciente, juntamente a uma análise dos recursos terapêuticos necessários para reintegrar ou inserir o indivíduo no ambiente de trabalho, contribuirão significativamente para melhorar a qualidade de vida desse indivíduo. 23UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE Já conhecia o Manual de Goniometria? é um valioso instrumento, principalmente para quem for atuar na reabilitação física. Saiba mais acessando: www.acegs.com.br/. 24 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) aluno (a), chegamos ao fim da Unidade I. Agradeço a sua companhia até aqui e vamos às nossas considerações. Ao compreender os fundamentos conceituais dos recursos terapêuticos ocupacionais na relação terapeuta-paciente, torna-se evidente que o profissional deve possuir um sólido embasamento teórico para guiar sua atuação. Isso envolve a superação de quaisquer obstáculos que possam surgir e a criação de condições propícias para a promoção de transformações individuais significativas. O objetivo é proporcionar aos pacientes a oportunidade de se conhecerem melhor, desenvolverem suas habilidades de reflexão sobre suas experiências de vida, estabelecerem um contato mais profundo com suas necessidades e aprenderem a atendê- las, inicialmente com o auxílio do terapeuta ocupacional. Gradualmente, esse processo visa capacitar os pacientes a assumirem o controle de suas vidas, fortalecendo sua autonomia e independência. UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE 25 LEITURA COMPLEMENTAR ARTIGO CIENTÍFICO Como leitura complementar segue como sugestão a leitura do artigo “Contribuições do esporte adaptado: Reflexões da Terapia Ocupacional para a área da saúde”, o artigo objetivou caracterizar, pela percepção dos paratletas de handebol, os benefícios e as limitações na prática esportiva, e discutir as ações do terapeuta ocupacional nesse âmbito. O instrumento metodológico utilizado foi a entrevista estruturada. E os sujeitos da pesquisa destacaram, dentre os benefícios da prática esportiva, a melhoria de aspectos sociais, controle emocional e controle motor, além de compreenderem a atividade como promotora de benefícios para a saúde. Então, fica a sugestão, vale muito ampliarmos nossa ótica frente às inúmeras possibilidades de uso dos recursos terapêuticos. FERREIRA, N. R.; CARRIJO, D.; SILVA, E. S.; RAMOS, M. C.; CARNEIRO, C. L. Contribuições do esporte adaptado: Reflexões da terapia ocupacional para a área da saúde. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional - REVISBRATO, 1(1), 52 - 66. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto4281. Acesso em: 31. ago. 2023. UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE https://doi.org/10.47222/2526-3544.rbto4281 26 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Terapia Ocupacional. Autor: Berenice Rosa Francisco. Editora: Papirus. Sinopse: Esse livro tem como preocupação fundamental discutir as contradições dos modelos de terapia ocupacional, apontando diretrizes para sua superá-las. Quando pensamos em terapia ocupacional, devemos nos reportar à sua característica interdisciplinar. Dessa forma, a autora optou por discutir os fundamentos da terapia ocupacional, procurando mostrar seu papel como instrumento mantenedor ou transformador da sociedade. Para tanto, considera como e para que este ou aquele modelo é pensado e utilizado. Nessa obra, a terapia ocupacional é entendida como uma entre as demais práticas sociais capazes de criar as condições necessárias para a realização da transformação social, sendo essencial para tal compreensão questionar como existe na sociedade e em que condições é praticada: contra ou a favor de qual homem ou classe social. FILME/VÍDEO Título: Nise: O coração da loucura. Ano: 2015. Sinopse: Nos anos 1950, uma psiquiatra contrária aos tratamentos convencionais de esquizofrenia da época é isolada pelos outros médicos. Inconformada com o tratamento de esquizofrênicos à base de eletrochoques e lobotomia, Nise revolucionou o atendimento psiquiátrico. Seu método obteve reconhecimento internacional. Ela então assume o setor de terapia ocupacional, onde inicia uma nova forma de lidar com os pacientes, pelo amor e a arte. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=-m4F6HA- 1gyE. UNIDADE 1 BASES CONCEITUAIS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS OCUPACIONAIS SOB A RELAÇÃO TERAPEUTA – PACIENTE https://www.youtube.com/watch?v=-m4F6HA1gyE https://www.youtube.com/watch?v=-m4F6HA1gyE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Princípios norteadores da relação entre atividade humana e recursos terapêuticos; • O brincar como recurso terapêutico; • A música como recurso terapêutico; • A arteterapia como recurso terapêutico. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar a atividade humana enquanto objeto da Terapia Ocupacional; • Compreender os tipos de recursos terapêuticos; • Estabelecer a importância de cada segmento de recurso terapêutico. Prof. Esp. Flavia Luzia de Oliveira ATIVIDADE ATIVIDADE HUMANA HUMANA VERSUS RECURSO VERSUS RECURSO TERAPÊUTICOTERAPÊUTICO2UNIDADEUNIDADE INTRODUÇÃO 28 Caro (a) aluno (a), vamos retomar à nossa jornada? A Terapia Ocupacional é um campo em constante expansão, no qual quanto mais nos aprofundamos, mais descobrimos para explorar. Isso ocorre porque nossa ferramenta principal de estudo e intervenção é o amplo espectro das atividades humanas, e o ser humano, em suas ações, atitudes, pensamentos e emoções, é inesgotável em sua capacidade de renovação. Dessemodo, discutiremos nesta unidade a relação existente entre a atividade humana e o recurso terapêutico. Recursos são utilizados para praticamente tudo e diariamente pelas pessoas; mas, a partir de qual momento e por que, ele passa a ser terapêutico? Brinquedos e brincadeiras, música e a arte em geral se transformam em recursos terapêuticos, sendo utilizados pela Terapia Ocupacional e também por outros profissionais da educação e da saúde. Então, discutiremos e aprenderemos como e quando fazer uso desses recursos para podermos alcançar objetivos e trazer a autonomia e a independência aos nossos assistidos. Desejo de coração, que ao final você se sinta ainda mais preparado e consciente do papel que irá desempenhar. Você está se preparando para transformar vidas, para resgatar vidas, para desempenhar propósitos bem maiores. Bons estudos! UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO 29 PRINCÍPIOS NORTEADORES DA RELAÇÃO ENTRE ATIVIDADE HUMANA E RECURSOS TERAPÊUTICOS 1 TÓPICO UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO, s.d) nos define como uma profissão de nível superior, voltada aos estudos, à prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psico-motoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da sistematização e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos, na atenção básica, média complexidade e alta complexidade. E sobre a atividade humana, ainda completa que, o terapeuta ocupacional compreende a atividade humana como um processo criativo, criador, lúdico, expressivo, evolutivo, produtivo e de alto manutenção e o Homem, como um ser práxico interferindo no cotidiano do usuário comprometido em suas funções práxicas objetivando alcançar uma melhor qualidade de vida (COFFITO, s.d). Francisco (2008) ressalta que, a atividade humana precisa ser compreendida enquanto espaço para criar, recriar e produzir um mundo humano. Ultrapassando a linha do biológico, alcançando o simbolismo envolvido em cada atividade humana, com intenções, vontades e necessidades. E para que o fazer humano, por si só, seja transformador, se faz presente a análise e intervenção do terapeuta ocupacional. O fazer humano com propósito e resultado ocorrerá por meio do processo de identificação das necessidades, da problematização deste fazer e inclusive, pela superação do obstáculo que impede o fazer naturalizado. Somado a isso, esperamos um profissional capacitado que se disponha também como recurso terapêutico na busca pela superação e aquisição de habilidades. 30UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO FIGURA 1 - ATIVIDADES HUMANAS, QUE PODEM NECESSITAR OU NÃO DE UM RECURSO TERAPÊUTICO Fonte: https:/br.freepik.com/vetores-premium/icone-de-atividade-humana-em-estilo-de-contorno- preenchido_20516124.htm. A imagem acima nos apresenta 25 atividades humanas, que podem necessitar ou não de um recurso terapêutico, os recursos terapêuticos irão atuar como um facilitador para o desempenho autônomo e independente da atividade ou para preservar o gasto energético durante a execução da atividade. Considerando que utilizamos a atividade humana com o propósito de alcançar determinados objetivos, sugere-se que se sigam alguns procedimentos/protocolos para um prognóstico bem-sucedido. A sequência de procedimentos/protocolos inclui a análise da atividade, a adaptação da atividade, a seleção e graduação da atividade, a atividade como produção, a atividade como expressão e a atividade como criação e transformação — Práxis. (FRANCISCO, 2008) Após avaliar o quadro do paciente e identificar suas necessidades, os recursos necessários, adaptações e processos de avaliação e reavaliação, devemos apresentar a proposta e reconhecer, junto ao paciente, o que é relevante e o que é secundário às necessidades. Analisando psicologicamente, a pirâmide das necessidades de Maslow nos orienta nessa identificação de necessidades. 31UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO FIGURA 2 - PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES Fonte: Pirâmide das Necessidades de Maslow. Disponível em: https://www.faberhaus.com.br/a-hierarquia- das-necessidades-de-maslow. Acesso em: 31. ago. 2023. O exemplo acima faz referência ao ambiente laboral, mas podemos manter o comparativo com os ambientes doméstico e acadêmico. Nesse mesmo parâmetro, vamos agora discutir sobre como o brincar, a música e arte se inserem nesse processo, funcionando como recursos terapêuticos e favorecendo o preenchimento das necessidades indicadas. https://www.faberhaus.com.br/a-hierarquia-das-necessidades-de-maslow https://www.faberhaus.com.br/a-hierarquia-das-necessidades-de-maslow 32 O BRINCAR COMO RECURSO TERAPÊUTICO2 TÓPICO UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO O brincar e a brincadeira são essenciais no processo de desenvolvimento mental, físico e psicomotor de todo ser humano. Pode-se afirmar que é a partir do lúdico que aprendemos a explorar o mundo real e o mundo imaginário e colocar em prática nossas potencialidades. Matsukura (2001) enfatiza que, o terapeuta ocupacional necessita conhecer as especificidades de todas as etapas do desenvolvimento humano, em especial, da infância, para melhor desenvolver potencialidades por meio de brinquedos e brincadeiras. A comunicação, o pensamento e a cognição mediante o brincar devem possibilitar o processo evolutivo e favorecer o vínculo terapêutico. O brincar é uma atividade espontânea e prazerosa, que envolve oportunidades de descoberta, mistério, criatividade e autoexpressão, que possibilita o desenvolvimento da coordenação motora, da cognição, da linguagem e das interações sociais, contribuindo assim com o desenvolvimento infantil (PFEIFER e MITRE, 2007). 33UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO FIGURA 4 - IDOSOS ATIVOS Mas será que o brincar só pode ser relacionado ao desenvolvimento infantil? O que dizer de indivíduos adultos com cognitivo compatível com o de uma criança? O que dizer de um idoso com Alzheimer ou outra doença senil e que retorna aos comportamentos infantis? E o adulto, será que brinca? De fato, no campo de atuação da Terapia Ocupacional, temos o brincar como intervenção de valor respaldada pelas teorias do desenvolvimento humano. Uma das perspectivas da utilização do brincar enquanto recurso terapêutico, transparece quando a terapeuta ocupacional utiliza o brinquedo como recurso para a criança manusear o objeto, para chamar sua atenção, para distraí-la ou motivá-la. Muitos componentes de desempenho podem ser trabalhados nessa situação, como postura, concentração, coordenação motora, interação com objetos humanos e não humanos, entre outros (REZENDE, 2008). Em outra perspectiva, a intervenção terapêutica ocupacional pode estar focada na habilidade de brincar, sendo utilizada com indivíduos que apresentam um repertório pobre de habilidades sociais, de linguagem e psicomotoras. O brincar é, então, associado às habilidades motoras, psicossociais, capacidade de escolha, resolução de problemas, autoexpressão e, além disso, é utilizado de modo a estimular componentes de desempenho que são importantes diante da autopercepção e também da percepção do profissional. Como tal, para poder se transformar em um recurso terapêutico, o brincar precisa estar inserido em um processo avaliativo e se configurar como instrumento para aquisição de habilidades. Esse processo avaliativo envolve a anamnese, a aplicação de testes e escalas e o planejamento terapêutico. 34 A MÚSICA COMO RECURSO TERAPÊUTICO3 TÓPICO UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO Takatori (2010) afirma que, na Terapia Ocupacional, as atividades, instrumentos de nossas ações, são indicadas, sugeridas,propostas para serem vivenciadas como experiências criativas para pessoas que deixaram ou sempre tiveram dificuldades de fazer suas atividades criativamente. Dessa forma, é pessoal e saudável, por isso podemos compreender a música enquanto recurso terapêutico. A Federação Mundial de Musicoterapia define a musicoterapia como o uso da música e/ou de seus elementos musicais por parte do musicoterapeuta e do cliente/paciente ou grupo terapêutico, num processo estruturado. Esse processo tem o objetivo de facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva), visando desenvolver potenciais e recuperar ou desenvolver funções no indivíduo. Isso permite que ele alcance uma melhor integração intra e interpessoal, resultando, consequentemente, em uma melhor qualidade de vida (BRUSCIA, 2000). Ribeiro e Batista (2016), realizaram um estudo científico com os usuários do CAPSad de uma capital brasileira sobre a influência da música enquanto recurso terapêutico ocupacional. A pesquisa evidenciou que a música promove a ressignificação de lembranças, expressão de emoções e percepção da realidade e a sua utilização no contexto terapêutico favorece o equilíbrio interno e facilita espaços de trocas nos grupos, na cultura e nos territórios onde se transita ou se quer transitar. 35UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO A formação do musicoterapeuta é independente da formação do Terapeuta Ocupacional, nada impede que o indivíduo adquira formação nas duas áreas, mas é preciso ter consciência de que se configuram como profissões distintas, com processos formativos distintos. O uso terapêutico da música é capaz de proporcionar um estado de relaxamento e produzir efeito positivo na melhoria da comunicação e do bem- estar emocional, pelo poder de influenciar sobre hormônios como o cortisol (STEEN et al., 2017). O terapeuta ocupacional recorrerá à música para acessar memórias, desenvolver ou reabilitar habilidades e competências definidas em um plano terapêutico ocupacional e pode fazer uso deste recurso durante todo o processo ou apenas quando se fizer necessário. Podemos perceber que tanto na musicoterapia como na terapia ocupacional, existe a preocupação com a saúde humana, objetivando desenvolver os aspectos físicos, cognitivos, emocionais e sociais do indivíduo, buscando a integração do indivíduo com o seu ambiente e, dispondo, uma melhor qualidade de vida. A musicoterapia usa a música como recurso terapêutico, da mesma forma, a terapia ocupacional também utiliza-se de atividades e recursos como elemento fundamental da proposta terapêutica e como estratégia para atingir os objetivos propostos. 36 A ARTE COMO RECURSO TERAPÊUTICO4 TÓPICO UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO A Resolução COFFITO n.º 350 reconheceu a Arteterapia como recurso terapêutico da Terapia Ocupacional. E considera que os procedimentos clínicos da Terapia Ocupacional e os instrumentos da Arteterapia estão inseridos na aplicação de atividades corporais e expressivas por meio de recursos corporais, musicais, teatrais, plásticos, esculturais, audiovisuais, artesanais, dentre outros, favorecendo as relações interpessoais, o contato com conteúdos conscientes ou inconscientes, a autoexpressão, relação simbólica e imaginária com os objetos, com o seu corpo e sua história de vida. A arteterapia nasce quando Carl Jung passou a trabalhar com o fazer artístico, em forma de atividade criativa e integradora da personalidade. Para o autor a arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade e é vida (JUNG, 1985). A expressão maior da arteterapia e dos seus resultados terapêuticos foi com o trabalho de Nise da Silveira, embora fosse médica, fez uso do termo terapia ocupacional, fundamentando enquanto atuação laborativa. Ao pesquisar os estudos já publicados sobre a temática, nos deparamos com todos os perfis nos quais se incluem o uso deste recurso. Nise o fez na saúde mental, mas enqua- dra-se muito bem no atendimento geriátrico, nas brinquedotecas hospitalares, com pessoas em tratamento de doenças inflamatórias não transmissíveis, como por exemplo, o câncer. 37UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO Assim como na música, cabe também todo o processo avaliativo para identificação das necessidades e potencialidades, também para compreender quais atividades podem ser desenvolvidas sem gerar desconforto relacionado a religião, cultura, crenças ou gênero do indivíduo em tratamento. Podemos recorrer à pintura de uma tela por diversas razões: O paciente amava pintar e decorrente de um processo depressivo não consegue mais fazê-lo com prazer, o que lhe angustia ainda mais; O paciente sofreu uma lesão com amputação do membro superior dominante, e no processo de transferência de dominância será preciso ganhar destreza para em outra etapa, se desenvolver a escrita, para tal a delicadeza no uso do pincel será de grande valia; O paciente apresenta aversão sensorial com determinadas texturas ou cores e a pintura a dedo na tela o traz segurança. Enfim, perceba que os três exemplos oferecidos acima discorrem sobre situações divergentes e podem se referir a indivíduos de qualquer faixa etária. Uma atividade realizada de formas diferentes, com objetivos diferentes e como resultado de queixas diferentes. Essa capacidade de perceber as necessidades inseridas no fazer humano e ampliar as estratégias para outros domínios ocupacionais torna a Terapia Ocupacional única. 38 Num contexto de perdas, em que o indivíduo “fazia, podia, estava”, o objetivo principal da atuação terapêutica ocupacional deverá ser trazer os verbos para o presente — mesmo com a doença, é sempre possível fazer e estar, é possível ser um sujeito humano completo e feliz. Fonte: Othero (2008). Recomendo a leitura do artigo abaixo indicado, e sugiro que pesquise sobre as publicações acerca dos recursos terapêuticos mais utilizados na Terapia Ocupacional no Brasil e em outros países. MARTINIE, J. M.T.; CARVALHO FILHA, M. T. J; MENTA, S. A. Arteterapia: recurso terapêutico ocupacional na terceira idade. Multitemas, (25). 2016. Disponível em: https://multitemas.ucdb.br/multitemas/article/view/843 Aces- so em: 31. ago. 2023. UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO https://multitemas.ucdb.br/multitemas/article/view/843 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO O terapeuta ocupacional é um profissional essencial para a construção da atenção integral e humanizada em diversas enfermidades e adversidades em saúde, tendo como foco o fazer humano. Esse profissional da saúde objetiva acrescentar novos projetos de vida à experiência de limitações e rupturas dessas enfermidades e adversidades em saúde, auxiliando na ressignificação do processo humano. Nessa etapa de nossos estudos, foi-lhe apresentado uma introdução dos recursos mais utilizados. Essa fonte de conhecimento é inesgotável, e novos conhecimentos são produzidos e reproduzidos diariamente. Compreenda, então, que a construção dessa ressignificação passeia pelo uso de diversos recursos e o que os torna terapêuticos é o objetivo pelo qual estão em uso. Muito feliz em ver você traçando esse caminho e se aproximando cada vez mais de ingressar em um mundo de possibilidades para si e para seus futuros pacientes. 40 MATERIAL COMPLEMENTAR UNIDADE 2 ATIVIDADE HUMANA VERSUS RECURSO TERAPÊUTICO LIVRO Título: Atividades humanas e terapia ocupacional: Saber-fazer, cultura, política e outras resistências. Autor: Carla Regina Silva. Editora: HUCITEC. Sinopse: Somos seres ativos no mundo e a expressão de nossa existência se imprime em nossas atividades humanas. Este livro valoriza o papel central das atividadeshumanas na Terapia Ocupacional, considerando-as a partir de cada sujeito-coletivo, sua ancestralidade e temporalidade, contextos, engajamentos, subjetividades e diversidades. Assim, a partir de perspectivas multioculares, são relatadas as possibilidades de reflexão, prática, cuidado, criação e ensino-aprendizagem integradas com os temas ao saber-fazer, cultura, política e outras resistências, expressos na potência e na pluralidade da atuação terapêutica- ocupacional. FILME/VÍDEO Título: My Left Foot: The Story of Christy Brown — Meu pé esquer- do. Ano: 1990. Sinopse: Christy Brown (Daniel Day-Lewis), filho de uma humilde família irlandesa, nasce com uma paralisia cerebral que lhe tira todos os movimentos do corpo, com exceção do pé esquerdo. Com o controle deste único membro, ele torna-se escritor e pintor. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=LOwCfPZ8ll8. https://www.youtube.com/watch?v=LOwCfPZ8ll8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Breve histórico da Fermentação; • Conceitos de Leveduras; • Tipos de Fermentação; • Definição de Maturação. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar a fermentação alcoólica; • Compreender os tipos de leveduras cervejeiras; • Compreender os tipos de fermentações; • Estabelecer a importância da maturação na produção cervejeira. Prof. Esp. Flavia Luzia de Oliveira PLANEJAMENTO, PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPOINDIVIDUAIS E DE GRUPO UNIDADEUNIDADE3 42 INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), bem-vindo (a) à Unidade III. Mais uma importante etapa nesta jornada acadêmica que com certeza lhe transformará em um profissional de sucesso. Nesse momento de nossos estudos, discutiremos sobre o uso dos recursos terapêuticos na atividade humana enquanto produção, geração de renda e inserção ou reinserção no mercado de trabalho, promovendo a inclusão social. Esta abordagem pode ocorrer tanto em atendimentos individuais como nos atendimentos em grupo, considerando os diversos setores/áreas em que Terapia ocupacional contribui e faz toda a diferença. Complementaremos nosso estudo sobre esta vertente, vislumbrando o uso dos recursos terapêuticos na atividade humana também enquanto expressão socioemocional. Muitas são as situações em que nossos pacientes na sua prática cotidiana apresentam prejuízos e estes prejuízos, emocionalmente, resultam em desmotivação, baixa autoestima, depressão, uso de entorpecentes e/ou desenvolvimento de transtornos psiquiátricos; a expressão por meio dos recursos visa restabelecer a saúde mental e equilibrar o emocional para a redescoberta do prazer e da motivação no desempenho das ações cotidianas. Daremos seguimento identificando o que seria a práxis e qual sua relação com os recursos terapêuticos com objetivo de produção e de expressão e como aplicar no nosso dia a dia. Por fim, fechamos essa unidade conhecendo os processos de avaliação qualitativa e quantitativa dos recursos terapêuticos, que são de extrema relevância para a produção científica e para mensurarmos nossa prática profissional. Vamos juntos e bons estudos! UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO ATIVIDADE ENQUANTO PRODUÇÃO EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO1 TÓPICO 43 Querido (a) aluno (a), cabe aqui enfatizarmos que a definição de nossa atuação profissional é holística, alcança o sujeito e tudo que o rodeia, inclusive os grupos sociais aos quais pertence. A atividade é e sempre será nossa razão. As ocupações nos interessam, quer seja no acompanhamento individual ou em grupo. A atividade precisa resultar em um produto final, que pode ser abstrato ou concreto. Nesta unidade, discutiremos a importância da criação de algo concreto ou abstrato como objetivo, evolução ou conclusão do processo terapêutico. Para Maximino e Liberman (2015), a terapia ocupacional é, portanto, uma profissão sensível aos traços, pistas, desejos e memórias de cada um. Por trabalhar diretamente com a relação existente entre as pessoas e suas ocupações, a terapia ocupacional não consegue predeterminar o que, de fato, pode se tornar projeto ou recurso terapêutico. Essa impossibilidade é nossa força, é o que nos organiza de fato na especificidade do trabalho com as relações cotidianas entre pessoas e ações/ocupações. O termo “produções de vida” tem sido muito utilizado na literatura da Terapia Ocupacional e como estamos discutindo sobre a produção como recurso em nossa prática, vamos explanar sobre esse termo. Segundo Albuquerque, Cardinalli e Bianchi (2021) esse termo se relaciona com temáticas da saúde mental; campo social; artes e cultura; saúde coletiva; fundamentos da terapia ocupacional e campo do trabalho. E a análise de sua compreensão indicou quatro categorias: trabalho como emancipação social; ampliação de ações em saúde; experiência UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO 44UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO criativa e transformação cultural; e manutenção da própria existência. Ressaltando a produção consistente nas últimas décadas sobre “produção de vida”, concluíram que a expressão envolve sentidos na construção de saberes-fazeres mais conectados com o mundo, com as diferentes formas de existir e de protagonizar a vida. As questões laborativas se relacionam com a terapia ocupacional desde sua origem, porém sua compreensão se modifica junto às revisões da nossa profissão ao longo dos anos, centrando na expressão da condição humana e também nos modos de organização social. O produto resultante de uma sessão ou de uma sequência de sessões pode ser desenvolvido tanto individualmente quanto em um grupo terapêutico. O que afeta essa dinâmica é a escolha do produto e a abordagem prática para sua conclusão. Em atendimento individual, essa caracterização se baseia nas aspirações individuais e na análise da atividade em relação à queixa individual. Por outro lado, em grupos, é essencial compreender as aspirações comuns e, ao analisar a atividade, buscar a equivalência no nível de compreensão da atividade e no grau de dificuldade. Isso ajuda a evitar desencadear gatilhos emocionais ou psicológicos, já que, ao trabalhar com grupos, existe o risco de frustração individual caso alguém não consiga desempenhar a atividade com a mesma habilidade que outros membros do grupo. Esse produto pode ser algo comercializável, gerando renda para os indivíduos assistidos ou para a manutenção do grupo, mas também, pode ter objetivo de produção intelectual, e se transformar em um produto que será apresentado em feiras, eventos, exposições, sem função comercial; o produto pode, ainda, ser o resultado de uma nova função laborativa. E não podemos esquecer que, o produto não necessita obrigatoriamente ser disseminado fora do ambiente terapêutico,se for definido em comum acordo, o produto pode ter função social e resultar no fortalecimento de vínculo entre os membros do grupo terapêutico e oportunizar a troca de experiências e vivências. A atividade enquanto produção passa também pela economia solidária, principalmente quando a terapia de grupo objetiva a geração de renda. A economia solidária oferece oportunidades de renda e trabalho e participação social, através de novas formas de produção de trabalho fundamentado por princípios que parte dos meios de produção coletivos, da gestão e do processo de trabalho (MARTINS, 2011). O terapeuta ocupacional que atua no ambiente da saúde mental, ao considerar que a reabilitação psicossocial e a economia solidária possuem a ocupação humana como ferramenta, compreende ser possível priorizar o exercício da cidadania por meio de iniciativas de geração de trabalho e renda (MORATO e LUSSI, 2015). 45UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO Borges, Rezende e Ferrari (2022) destaca que durante as oficinas de geração de renda, em que o objetivo é a formação de autonomia dos usuários/pacientes, pode ser necessário incentivá-los quanto à participação no processo de escolha de quais atividades devem ser executadas. Esse processo de busca pela autonomia e estimulação de habilidades para ampliar possibilidades foi pode ser um desafio para o terapeuta ocupacional também . A compreensão desse processo se faz necessária para diminuir as frustrações do terapeuta em meio a dificuldades que podem surgir na busca da oficina ser conduzida exclusivamente pelos usuários/pacientes, de modo que, pode ser necessária a participação no processo junto a esses usuários. Dessa forma, compreendemos que, seja em atendimento individual ou de grupo, ao se tratar de uma produção/produto final, o terapeuta buscará a autonomia e independência do assistido, tornando-o autor dessa produção/produto final. Sempre que a participação do terapeuta ocupacional seja de direção da oficina, progressivamente deverá ir se colocando em posições que permitam maior autonomia e independência do assistido, colocando-se, por fim, em posição de auxiliar do processo ou orientador. ATIVIDADE ENQUANTO EXPRESSÃO EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO2 TÓPICO 46 Sobre o ato de realizar atividades, De Carlo e Bartalotti (2001), nos traz que a atividade é capaz de promover mudanças e atitudes, pensamentos e sentimentos nos indíviduos; e restabelece, de maneira sutil, o equilíbrio emocional além de atuar na estruturação – tempo – espaço. Deste modo, a atividade, ainda de acordo com esses autores, é um fenômeno de envolvimento orgânico e um mecanismo orientador relacionado ao processo real de percepção, pensamento, sentimento, intuição e ação. As práticas artísticas em terapia ocupacional, assim como precursores à sua institucionalização no país, estiveram inicialmente associadas à expressão de emoções e conteúdos inconscientes. Com as lutas sociais pela redemocratização brasileira e pelos direitos, por exemplo, das pessoas com deficiências, a promoção de práticas corporais e artísticas ganharam novos sentidos sob contexto de desconstrução e reconstrução material e simbólica da vida e da subjetividade. Estas são associadas à reorientação de conceitos como saúde, reabilitação, cidadania e atividade, que passaram a conduzir experimentações teórico-práticas na profissão (CASTRO, 2000). Liebmann (2000) enfatiza que ao se utilizar a atividade enquanto expressão, deve-se considerar os seguintes objetivos: criatividade e espontaneidade; construção da autoconfiança; validação pessoal; percepção do seu próprio potencial; aumento de autonomia e motivação pessoal; desenvolvimento individual; liberdade para tomar decisões; fazer experiências e testar ideias; expressar sentimentos, emoções e conflitos; trabalhar com a imaginação e o inconsciente; autoconsciência, reflexão; organização visual e verbal de experiências; relaxamento. UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO 47UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO Muitos objetivos sociais precisam ser também considerados, tais como, a consciência, o reconhecimento e apreciação do grupo terapêutico; bem como o nível de cooperação e envolvimento nas atividades que são propostas; a possibilidade de externalizar experiências positivas e negativas; fortalecer os relacionamentos sociais e familiares; ser uma rede de apoio e confiança social; e permitir a análise e reanálise das questões psicossociais e funcionais do grupo terapêutico. Por meio do resultado expressivo da prática da terapia ocupacional, é possível rastrear o estado emocional de crianças em atendimento. Esse público, em especial, costuma ter muita dificuldade de expressar sentimentos e expor fatos cotidianos, mas na produção artística declaram muito sobre seu interior. E deste modo, compreendemos que seja pela expressão ou por produção, o íntimo do indivíduo será externalizado, e dessa maneira poderá ser transformado ou aprimorado. PRÁXIS: PLANEJAMENTO — ORGANIZAÇÃO — EXECUÇÃO3 TÓPICO 48 Hagedorn (2003) citou quatro processos centrais que se combinam e fundamentam a formação da prática da terapia ocupacional, explanar para vocês sobre eles: O primeiro é o uso terapêutico de si próprio, que seria o processo de relação terapêutica ocorrendo por meio de uma tríade (terapeuta/ indivíduo–grupo/ ocupação- atividade) para alcance dos objetivos traçados; o segundo é o uso das habilidades e necessidades individuais, onde há necessidade de compreender o que o indivíduo ou o grupo é capaz de produzir e avaliar a performance ocupacional e potencialidades nas áreas do trabalho, estudo, lazer e no autocuidado; o terceiro é a análise e adaptação das ocupações, neste caso, refere-se à análise das ocupações ou das atividades e sua prescrição como terapia ocupacional, assim como, o processo de adaptação objetivando ganhos na performance ocupacional dos indivíduos em acompanhamento; o quarto processo central é a análise ambiental e adaptação, embora a terminologia se assemelhe ao processo apresentado anteriormente. Nessa situação, ocorre a análise do conteúdo do ambiente – no trabalho, em casa, na escola, em instituições, em locais externos, em locais públicos – e pode prover informação sobre as causas dos problemas do indivíduo, explicações referentes ao comportamento, ideias ou sugestões para modificações terapêuticas. Quando dissertamos sobre a práxis, é importante estar ciente de que podemos nos deparar com pessoas que apresentam uma condição conhecida como dispraxia. Portanto, compreenderemos o que é práxis, o que envolve a dispraxia e como a terapia ocupacional se insere nesse contexto. UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO 49UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO A Práxis é a competência que o cérebro tem de conceber, planejar, organizar e realizar uma sequência de ações motoras desconhecidas e permite respostas adaptativas no ambiente (AYRES, 1985). A capacidade cognitiva de conceituar e gerar essas ações motoras é conhecida por ideação e irá depender, em grande parte, da eficiente integração de inputs sensoriais a nível neurológico e do conhecimento prévio de possíveis ações que o corpo possa desempenhar (GIBSON, 2004). O planejamento motor ou práxis é o processo cognitivo que precede um comportamento; envolve a organização do timing e sequência das ações (PARHAM e FAZIO, 1997). Esmiuçando a temática, veja que a ideação como sendo a capacidade de conceitualizaruma ideia do movimento que o indivíduo pretende fazer, estabelecendo uma interação positiva com o meio que o circunda. Após ter ciência sobre qual movimento se deseja realizar, o indivíduo formula um plano para poder executar esse movimento, o que inclui o modo como deve organizar as ações no espaço e tempo, ou seja, planejamento. E só, enfim, realiza o movimento, ou seja, o executa. Durante todo o processo de práxis, ocorrem mecanismos de feedback neuronal. Diante disso, a dispraxia seria a incapacidade de completar esse roteiro (ideação — planejamento — execução). O indivíduo pode ser incapaz de realizar uma ou mais partes da práxis, cabe ao terapeuta ocupacional analisar, avaliar e aplicar testes para identificar em quais etapas da práxis o indivíduo está falhando e o porquê. E essa será à base do tratamento, corrigir esta falha em etapas da práxis e tratar deste modo a dispraxia. Claro que, quanto mais etapas estejam deficientes, maior será a dificuldade do indivíduo de executar ações; porém, nem toda dificuldade em executar ações se deve à dispraxia. Por isso, a relevância de avaliar corretamente. AVALIAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA EM TERAPIA OCUPACIONAL TENDO COMO OBJETO O RECURSO TERAPÊUTICO 4 TÓPICO 50 Como saber se a avaliação que irá realizar será qualitativa ou quantitativa? Qual das duas formas é a melhor na prática da Terapia Ocupacional? E a resposta é: use sempre as duas formas de avaliação; trabalhamos com a subjetividade do ser humano, mas também com aquisição de habilidades ou reabilitação. Por isso, devemos usar as avaliações qualitativas e quantitativas. Geralmente quando se deseja avaliar repertórios comportamentais e psicossociais, costuma-se lançar mão de avaliações qualitativas, o que é de grande valia, ao permitir que o terapeuta tenha acesso a informações que a avaliação quantitativa não forneceria. Contudo, como mensurar e apresentar graficamente e/ou em dados numéricos a evolução do seu paciente apenas com avaliações qualitativas? Sobre a avaliação qualitativa, Günther (2006) relata que a primazia do “compreender a vida mental” reaparece em todas as discussões sobre a natureza da pesquisa qualitativa. E questiona: qual então é a natureza da pesquisa qualitativa? Quais os pressupostos dessa abordagem? Em resposta, nos traz, por meio da referência de Flick, Von Kardorff e Steinke (2000), quatro bases teóricas para a avaliação qualitativa: primeiro, a realidade social é vista como construção e atribuição social de significados; segundo, a ênfase no caráter processual e na reflexão; terceiro, as condições “objetivas” de vida tornam-se relevantes por meio de significados subjetivos; e quarto, o caráter comunicativo da realidade social permite que o refazer do processo de construção das realidades sociais torne-se ponto de partida da pesquisa. UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO 51UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO Em complemento, as avaliações quantitativas permitem mensurar deficits, atrasos, falhas, avanços, progressos, aquisições de habilidades, desempenho ocupacional. Um bom relatório terapêutico ocupacional deve se valer de avaliações qualitativas e quantitativas. Desse modo, mensuram-se, graficamente, necessidades e resultados, mas também, permite-se ter acesso a informações que não são mensuráveis e de extrema relevância para o terapeuta poder ter um “retrato” do caso e de sua evolução. Você conhece o CID-11? A CID-11 fornece uma linguagem comum que permite aos profissionais de saúde compartilhar informações padronizadas em todo o mundo. É a base para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo, contendo cerca de 17 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, sustentados por mais de 120 mil termos codificáveis. Usando combinações de códigos, mais de 1,6 milhão de situações clínicas podem agora ser codificadas. Comparada com as versões anteriores, a CID-11 é totalmente digital, tem um novo formato e recursos multilíngues que reduzem a chance de erro. A Classificação foi compilada e atualizada com informações de mais de 90 países e envolvimento sem precedentes de prestadores de serviços de saúde, permitindo a evo- lução de um sistema imposto aos médicos para um banco de dados de classificação clínica e terminologia verdadeiramente capacitador, que atende a uma ampla gama de usos para registrar e relatar estatísticas na saúde. OPAS (Organização Pan-americana da Saúde). Versão final da nova Classificação Internacional de Doenças da OMS (CID-11) é publicada. Dis- ponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/11-2-2022-versao-final-da-nova-classificacao-internacional-doencas-da-oms-cid-11-e. Acesso em: 31 ago. 2023. https://www.paho.org/pt/noticias/11-2-2022-versao-final-da-nova-classificacao-internacional-doencas-da-oms-cid-11-e 52UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO A Terapia Ocupacional não é ocupar para ocupar. É potencializar recursos para “ocupar-se” [cliente e ambiente] é utilizar o “ocupar” [significativo] para conhecer, transformar, treinar, aprender, adaptar-se e ganhar novas habilidades para promover a independência e autonomia na realização “ocupacional” do cotidiano em toda sua complexidade. É uma arte! João Paulo Charles Albino Fonte: o Pensador (2023). https://www.pensador.com/autor/joao_paulo_charles_albino/ 53 CONSIDERAÇÕES FINAIS UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO Percebem que lindo caminham está trilhando? Quanto conhecimento está chegando até você! Sim, de fato, estudar Terapia Ocupacional é estudar um mundo novo, pleno de oportunidades e adaptações. Nesta unidade você teve a oportunidade de adentrar um pouco mais no processo de uso e adaptação dos recursos terapêuticos e das vertentes que os rodeiam. Compreendemos como a expressão dos sentimentos e emoções pode ser trabalhada por meio dos recursos terapêuticos ocupacionais, favorecendo o resgate psicossocial dos sujeitos acolhidos pelo nosso serviço. Vimos também que além da expressão, os recursos também podem ser utilizados como produção, uma vez que, em âmbito social, podemos resgatar o papel social do indivíduo reinserindo na sociedade com função social de valor para sua independência. Oportunizar a discussão sobre a práxis, ou seja, as etapas envolvidas no fazer humano e sua relevância para a nossa prática. E por fim, discutimos os alicerces das nossas práticas baseado em evidências, considerando a relevância de mensurarmos os progressos qualitativa e quantitativamente, fornecendo assim um respaldo para a prática e produzindo ciência. Tenho certeza que a árvore do conhecimento, plantada em você, torna-se cada vez mais forte, resistente e alta, logo veremos flores e frutos. Ótimo que tenha chegado até aqui, e nos vemos na próxima unidade! 54 LEITURA COMPLEMENTAR Gostaria de sugerir a você, querido (a) aluno (a), a leitura do artigo: “Avaliações quantitativa e qualitativa de um menino autista: uma análise crítica”, de autoria de Caroline Lampreia. O estudo aborda muito bem sobre as avaliações mais utilizadas no diagnóstico e acompanhamento da pessoa autista sob um olhar crítico. O artigo está disponível na base de dados SciELO, e facilmente pode ser acessado pelo doi: https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000100008. Boa leitura! UNIDADE 3 PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS EM ATENDIMENTOS INDIVIDUAIS E DE GRUPO http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722003000100008&lang=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722003000100008&lang=pt https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000100008
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