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INTRODUÇÃO AO JORNALISMO Guaracy Carlos Revisão técnica: Deivison Campos Bacharel em Filosofia Mestre em Sociologia da Educação Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 S581i Silveira, Guaracy Carlos da. Introdução ao jornalismo / Guaracy Carlos da Silveira, Letícia Sangaletti, Cristina Wagner ; [revisão técnica: Deivison Campos]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. 258 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-336-9 1. Jornalismo. I. Sangaletti, Letícia. II. Wagner, Cristina. III. Título. CDU 070 U N I D A D E 4 A apuração da notícia IV: a pauta Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar as principais características da pauta. � Reconhecer a diferença entre pautas frias e factuais. � Sintetizar a atuação do pauteiro. Introdução Neste capítulo, vamos entender mais sobre a pauta e o profissional que a elabora, o pauteiro. A pauta é um roteiro mínimo fornecido ao repórter que busca enfoques diferenciados acerca do tema e persegue ângulos novos de abordagem. Para Bonner (2009), “[...] as pautas boas de verdade são as que afetam a vida das pessoas [...]”. E o pauteiro é o profissional que tem a missão de propor os temas a serem discutidos na reunião de pauta. Dessa forma, alguns assuntos podem ou não virar notícia. Vamos entender como se dá esta relação? A pauta: conceito e características Sabemos que a função do jornalismo é informar. As pessoas acessam os meios de comunicação, como rádio, televisão, jornal impresso, revista e portais de internet para ficarem por dentro das informações do cotidiano. Nesse sentido, os jornalistas e veículos decidem o que será ou não noticiado. As principais características da notícia que fazem com que o conteúdo retrate a realidade devem evidenciar aspectos como: atualidade, veracidade, regularidade, interesse público, proximidade, importância, curiosidade, con- flito, sentimento e consequência. Vale lembrar que esses aspectos são deno- minados valor-notícia, ou critérios que indicam o grau de noticiabilidade de um acontecimento. É certo que a notícia nem sempre vai reunir todas essas características. Porém, a apresentação do maior número delas irá facilitar a veiculação. De acordo com Bonner (2009, p. 119), Quando uma equipe de reportagem é designada para sair às ruas apenas em busca da comprovação de uma tese, o trabalho jornalístico de investigação está em risco. O ideal (e o que devemos buscar é sempre o ideal) é que uma reportagem seja aberta à investigação, à descoberta, à constatação – e que contemple uma pluralidade de opiniões, de pontos de vista. Ainda segundo o autor, “[...] as pautas boas, de verdade, são as que afetam a vida das pessoas [...]” (BONNER, 2009, p. 119). Partindo deste conceito, podemos entender a pauta como a antecipação dos caminhos e resultados que iremos atingir na notícia. A pauta é o direcionamento do assunto a virar notícia. É o conjunto de informações que orientam o repórter no processo de apuração dos fatos. Pode-se dizer que é a distância entre a notícia e a reportagem. E essa distância corresponde ao planejamento e organização do assunto. O Manual de Redação e Estilo de O Estado de S. Paulo define pauta da seguinte forma: Chama-se pauta tanto o conjunto de assuntos que uma editoria está cobrindo para determinada edição do jornal como a série de indicações transmitidas ao repórter, não apenas para situá-lo sobre algum tema, mas, principalmente, para orientá-lo sobre os ângulos a explorar na notícia. A pauta constitui um roteiro mínimo fornecido ao repórter. A pauta não deve ser só uma agenda. Precisa se preocupar em levantar enfoques diferenciados sobre os temas, buscar ângulos novos de abordagem, mostrar agilidade na identificação de novas tendências (MARTINS FILHO, 1997, p. 214). As pautas ganham vida na reunião de pauta, momento em que os assuntos são levantados pelos pauteiros e equipe de produção (produtores, diretor, coordenador de produção, editor, etc.). É durante a reunião de pauta que as sugestões de assuntos e enfoques são debatidos. O perfil do programa ou linha editorial do veículo é que vai delimitar qual tema pode render uma boa matéria e como pode ser produzido. Geralmente os profissionais do veículo já conhe- cem o perfil do meio que trabalham e assim já sugerem pautas apropriadas. A reunião de pauta é um dos momentos mais importantes da pré-produção. Porque é nessa etapa que se inicia o direcionamento do assunto, o enfoque A apuração da notícia IV: a pauta180 a ser dado, as possíveis fontes a serem consultadas. Em suma, é o momento do debate de ideias. Após a reunião inicia-se o processo de produção da notícia. Os produtores saem à procura de personagens, fontes, autorizações e mais pesquisas sobre o assunto, “[...] a produção é a primeira parte da reportagem e significa como a matéria deve ser feita. Para isso, é importante que se entenda todo o pro- cesso do jornal [...]” (CRUZ NETO, 2008, p. 21). É por esta razão que o bom profissional deve exercer diariamente o hábito da leitura. Ler precisa ser uma atividade cotidiana do pauteiro, pois este profissional “precisa ter visão sobre o que desperta interesse e saber repercutir acontecimentos” (CRUZ NETO, 2008, p. 21). Você deve se perguntar: como se escolhe uma pauta? É simples, as pautas surgem da observação do cotidiano. Os jornalistas observam o comportamento da sociedade e extraem temas considerados de interesse público. Muitas vezes esses assuntos surgem de conversas com amigos e familiares, da experiência de vida de cada um, de colegas de áreas distintas, da opinião pública, de leituras e da observação de outros meios de comunicação. Um conteúdo abordado em um jornal impresso pode virar pauta para um noticiário de telejornal e vice- -versa. A definição mais simplista de notícia é dada por Bahia (1990): “[...] Notícia é tudo o que o jornal publica [...]”. De fato, esta é a principal definição. Entretanto, notícia também é sinônimo de acontecimento, dado, certeza, etc. A notícia é a base do jornalismo, seu objeto e seu fim. Através dos meios do jornalismo ou dos meios de comunicação direta ou indireta, a notícia adquire conteúdo e forma, expressão e movimento, significado e dinâmica para fixar ou perenizar um acontecimento, ou para torná-lo acessível a qualquer pessoa. A notícia tem no jornalismo o seu instrumento mais organizado, mais com- petente, mais ágil e mais eficiente de difusão. O fato de que o jornalismo tem por finalidade primária informar tão amplamente quanto possível dá à notícia uma função tão social quanto a da mídia (BAHIA, 1990, p. 35). Buscar pautas em outros meios é comum no jornalismo que, muitas vezes, se reinventa, se reinterpreta. É esse poder de reinventar que torna o jornalismo uma profissão fascinante, pois apresentar um mesmo assunto de diferentes formas, com nova roupagem é algo extraordinário. As pautas também surgem por intermédio das assessorias de imprensa (e-mails, releases e telefonemas), amigos, em uma fila de supermercado entre outras. Já se foi o tempo em que as redações corriam atrás das matérias. Atu- almente, a redação se tornou um grande centro de informações, pois recebe diariamente pautas com assuntos diversos. 181A apuração da notícia IV: a pauta Por exemplo, a preocupação com a saúde é um assunto que atende a demanda de todos, sejam crianças, jovens, adultos e idosos. Independentemente de classe social e gênero, é comum vermos matérias sobre o tema como mudança de hábito alimentar, qualidade de vida, atividade física, alterações na previdên- cia, alternativa de viagens, descobertas tecnológicas em benefício da saúde. Por conta dos constantes avanços na área científica é que o setor da saúde sempre está em pauta. Os resultados obtidos nas pesquisas científicas são de interesse público, pois envolvem emoção, mexem com a esperança e com a qualidade de vida da população. Por exemplo: quando a ciência encontra um novotratamento para o câncer, ou um medicamento para amenizar os efeitos do Alzheimer, ou para a cura da Aids. Nesse contexto, Barbeiro e Lima (2005, p. 90) nos alertam: Tudo o que for relevante para a sociedade é objeto de interesse jornalístico e de pautas: política, economia, cultura, ciência, religião, comportamento, meio ambiente, esporte, os problemas da cidade, etc. O que deve ser avaliado é a importância dos assuntos, a partir da ótica do interesse público. A pauta é o acesso a uma informação precisa que, por sua vez, é o bem mais precioso do fazer jornalístico. “E por meio dela as pessoas têm condi- ções de desenvolver o espírito crítico e entender a sociedade em que vivem” (BARBEIRO; LIMA; 2005, p. 89–90). Modelo tradicional de lauda de pauta: 1. Cabeçalho: deve conter o nome do redator (pauteiro); editoria ou programa; a retranca (duas palavras que identifiquem o tema); a data em que foi elaborada e o deadline. 2. Histórico/Sinopse: resumir em poucas linhas (entre 3 e 5 linhas) os fatos que levaram a esse tema. As informações contidas na lauda da pauta são muito importantes para situar o repórter durante a apuração dos fatos. Saiba que a informação contida aqui será utilizada pelo repórter para compor o lead da notícia. 3. Enfoque/Encaminhamento: qual é o direcionamento a ser dado à matéria. Aqui o pauteiro descreve o que exatamente quer que o repórter desenvolva, qual o foco da pauta. Tenha sempre em mente que este item é que vai definir as sugestões de perguntas a serem feitas ao entrevistado. A apuração da notícia IV: a pauta182 Independentemente do meio de comunicação – rádio, televisão, jornal, revista ou internet –, a pauta precisa conter informações importantes para o melhor desenvolvimento da notícia e organização do trabalho jornalístico. Dessa forma, tenha sempre em mente que uma lauda de pauta deve conter: a) um resumo dos acontecimentos que permeiam o objeto da reportagem; b) indicar de que maneira o assunto vai ser abordado (o enfoque: jornalístico, político, econômico, social, cultural, etc.); c) que tipo e quantas ilustrações estarão destacadas; d) fornecer os dados dos entrevistados, cargo/função, telefones, horário e local da entrevista, relação da equipe envolvida; e) infor- mações adicionais caso existam. 4. Fontes: a pessoa que será entrevistada. Precisa conter nome e sobrenome, cargo/ função, deve constar o endereço e horário da entrevista e todos os telefones possíveis para contato com a fonte. Geralmente o pauteiro deve fazer um prévio contato com a fonte para garantir a entrevista e constatar se a pessoa vai estar disponível para falar sobre o assunto. Assim, ele agenda dia, local e horário para a entrevista. 5. Equipe: relação de nomes e funções da equipe envolvida na matéria, bem como telefone de contato. * Ter a relação dos profissionais envolvidos vai ajudar durante a apuração dos fatos. Caso ocorram imprevistos, isso pode facilitar a comunicação entre a equipe. 6. Sugestões de perguntas: como o nome já diz são sugestões a serem seguidas pelo repórter. * O repórter tem liberdade para elaborar outras perguntas conforme o andamento da entrevista. 7. Anexos: apresenta qualquer tipo de informação extra que o pauteiro conseguiu levantar, seja por meio de pesquisa ou recorte de jornal/revista, ou texto extra sobre o assunto. * Serve como uma informação a mais para o repórter. 183A apuração da notícia IV: a pauta Figura 1. Modelo de pauta televisiva A apuração da notícia IV: a pauta184 Os tipos de pautas O factual A maior parte das pautas nos veículos de comunicação surge de fatos do cotidiano. As editorias policiais ainda são os atrativos para a audiência. As pautas factuais aparecem de um fato que acaba de acontecer, por exemplo: a queda de um avião ou o desabamento de um prédio. Ou seja, a pauta é concebida a partir de fatos recentes. Já as pautas frias partem de assuntos diversos, podendo ser desenvolvidas a qualquer momento. Na maioria das vezes, as pautas frias já estão produzidas e separadas para serem publicadas, mas acabam abrindo espaço para as factuais. Porém, Bahia (1990, p. 35-36) nos alerta para a definição da pauta: Toda notícia é uma informação, mas nem toda informação é uma notícia. Diariamente, os veículos de jornalismo recebem de suas fontes toneladas de informações que passam por um crivo de seleção, tratamento e coordenação para só então tornarem-se notícias para o consumo. Em relação às pautas factuais é preciso atenção, pois quando o pauteiro tem acesso às informações do factual tudo fica mais fácil. No entanto, na maioria das vezes, quando o repórter chega ao local dos fatos a polícia já se encontra lá e dificilmente passa informações aprofundadas sobre o ocorrido. É preciso ressaltar que a pauta é elaborada dentro da redação. Assim o pauteiro não tem acesso a certas informações no que diz respeito a uma pauta factual. Isso porque até o repórter chegar ao local do acontecimento, diversas mudanças podem acontecer. Vale lembrar também que as informações que chegam por telefone podem sofrer distorções que apenas serão identificadas quando a equipe de produção chegar ao local. Além disso, a pauta não deve aprisionar o repórter. Se perceber que a realidade não corresponde ao que está descrito na pauta, ele pode mudar o enfoque e fazer a matéria de acordo com o que estiver acontecendo no momento. A pauta não é uma camisa de força que aprisiona e sufoca o trabalho de execução do repórter. Se o repórter no momento em que estiver realizando a matéria perceber que a realidade não é a bem descrita na pauta, ele pode, sim, mudar o gancho e fazer a matéria de acordo com o que ele está percebendo na rua. Ele deve, apenas, comunicar à chefia de redação ou ao editor-chefe do telejornal para o qual vai enviar a matéria, uma vez que o editor tem que estar ciente de como a matéria está sendo executada (CRUZ NETO, 2008, p. 25). 185A apuração da notícia IV: a pauta Esse tipo de situação acontece corriqueiramente quando se trata de uma pauta quente. O motivo é que a circunstância de um incidente pode mudar a todo instante dependendo da dimensão do ocorrido. Pautas frias Nem sempre um jornalista vai se deparar com notícias factuais, pois o dia não tem constantemente acidentes, assassinatos, denúncias ou fatos inesperados. Nesse contexto, a maioria dos veículos de comunicação preenche suas edi- torias com as pautas frias. Ou seja, aquelas que podem ser produzidas para serem exibidas ou publicadas a qualquer momento. Geralmente exploram o cotidiano, comportamento, curiosidade, cultura, humor, saúde e bem-estar. Uma característica da pauta fria é que ela pode ser produzida a qualquer momento, com maior tempo de produção e aprofundamento. Eventos programados como feiras, congressos, coletivas, datas comemo- rativas, Dia das Mães, Dia dos Pais, Natal, Dia das Crianças, entre tantos outros, são excelentes possibilidades de pautas para serem produzidas. Pautas genéricas como esportes radicais, roteiro de viagem e tendências podem ser feitas e mantidas em stand-by para serem utilizadas sempre que necessário. Relembrar acontecimentos que completam anos ou meses é outra opção de pauta fria. Por exemplo, o desabamento do edifício Palace II vai completar 20 anos dia 22 de fevereiro de 2018. Oito pessoas morreram no desabamento do prédio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. As últimas informações datadas de meados de 2013 informavam que as indenizações das vítimas estavam paradas havia quatro anos. Desde então nada foi noticiado. Nesse tipo de pauta fria, o pauteiro procura informações atuais sobre o fato. Deve descobrir como estão os sobreviventes passados 20 anos do ocorrido. Precisa ver se as indenizações já foram pagas. Buscar como fontes não apenas as vítimas e seus advogados, mas também órgãos oficiais como o Ministério Público. Assuntos de repercussão nacional são os preferidos dos veículos de comu- nicação, pois geram audiência e exploram o comportamentoda população. Extrair depoimento de populares abre espaço para opiniões polêmicas e de indignação. Isso porque a reação do público registra diferentes perfis (social, econômico e cultural) e estimula novas formas de analisar o fato. Por sua vez, o pauteiro que acompanhou os desdobramentos do ocorrido durante o passar do tempo, tem maior facilidade em dar um novo rumo à abordagem proposta. O que também pode ser resolvido com uma profunda pesquisa. A apuração da notícia IV: a pauta186 Segundo o Manual de Redação da Folha de S. Paulo, a prática de reuniões é importante no processo de produção jornalística (MARTINS FILHO, 1997). Na Folha, elas devem ser rápidas, objetivas e eficientes. Para isso: � agende-se para as reuniões assim que for convocado; � chegue ao local no horário marcado; � limite suas intervenções aos temas da pauta; � procure só falar quando o coordenador lhe der a palavra; � compareça com todo o material necessário para sua participação. Rumor/boato/fofoca: a Folha só publica rumor (notícia não confirmada) mediante consulta prévia à secretaria de redação, quando não há tempo de comprovar a exatidão de informação que possa vir a ser relevante. Nesses casos, indique sempre que se trata de notícia não confirmada. Boatos (informações falsas) só podem ser publicados quando geram notícia, por exemplo: o boato da morte de Saddam Hussein fez despencar os preços do petróleo. Neste caso, deixe claro para o leitor que a morte de Saddam Hussein é notícia falsa. Fofoca significa mexerico, intriga. Fonte: Folha da Manhã S/A (1996). O pauteiro: conceito e características Como o próprio nome diz, pauteiro é o profissional que elabora a pauta. Tem a missão de propor temas que gerem pautas a serem discutidas na reunião dos editores e, consequentemente, virem notícias. Além disso, o pauteiro tem autonomia para derrubar uma pauta, desde que justificada conforme apresenta Barbeiro e Lima (1990, p. 89): O pauteiro atua decisivamente na construção da reportagem sugerindo per- guntas e caminhos para o repórter. Este tem liberdade de interpretar a pauta, mudá-la no meio do caminho, ou simplesmente comunicar que ela é inexequível por motivos que devem ser explicados à chefia. Entre as atividades do pauteiro está a apuração das informações na matéria. Cabe ao pauteiro coletar dados complementares para a execução e organização do trabalho jornalístico. Em se tratando de produção para TV, o pauteiro deve, num primeiro contato com a fonte, procurar saber sobre o ambiente que abarca o assunto. Essa informação deverá ser utilizada por ele para su- 187A apuração da notícia IV: a pauta gerir imagens para um VT por exemplo. “O pauteiro deve fazer a proposta de encaminhamento da matéria com informações complementares, como, por exemplo, o tipo de imagem que o cinegrafista deve fazer e especificar o equipamento que a equipe de reportagem deve levar” (BARBEIRO; LIMA; 2005, p. 89). Em uma reportagem para televisão, o VT deve ser utilizado para tornar a reportagem menos cansativa aos olhos do telespectador. Também para enriquecer a abordagem, além de prender o telespectador. Vale ressaltar que uma reportagem sem imagens para cobrir os offs se torna uma sequência de depoimentos. Características do pauteiro Atenção, organização e planejamento são características primordiais para um bom pauteiro. Durante a apuração das informações, este profissional deve se atentar para o tempo de execução da pauta. Estar atento a logística da produção é fundamental. Se o primeiro entrevistado está em um bairro da zona norte, o segundo na zona sul e o terceiro na região central da cidade, o pauteiro deve calcular o tempo de deslocamento. Lembre-se, o fator “tempo” é um dos limites para a produção jornalística. Em função disso, o pauteiro deve sempre estar atento para planejar a produção da matéria da melhor forma possível. Procurar agendar as entrevistas de forma coerente (partindo da localização mais próxima uma da outra), evitando assim um deslocamento desproporcional. Dessa forma, ele vai compreender e antecipar detalhes do cenário e assim produzir uma pauta clara e sucinta para o repórter. Ser um jornalista bem-informado também é uma importante característica de um pauteiro. Ler diferentes jornais, revistas e sites de notícias, assistir a variados programas de televisão e ouvir programas de rádio devem ser atividades diárias do pauteiro. Isso porque é comum os veículos cobrirem os mesmos assuntos de diferentes formas. Assim sendo, o pauteiro deve conhecer o que já foi publicado. De acordo com Bourdieu (1997, p. 32), “esse é um dos mecanismos pelos quais se gera a homogeneidade dos produtos propostos [...]”. A homogeneização citada pelo autor é estabelecida pela concorrência entre os veículos de comunicação. Por isso, a notícia que é veiculada no noticiário da manhã também é repetida no da noite. Porém, deve-se ter uma abordagem diferenciada, mais detalhada e atualizada. É o que acontece com assuntos polêmicos e factuais de grandes proporções, que são levados à exaustão de tanto que são noticiados. Nesse sentido, Bourdieu (1997, p. 77) nos alerta para a relação audiência versus interesse econômico no jornalismo: A apuração da notícia IV: a pauta188 O universo do jornalismo é um campo, mas que está sob a pressão do cam- po econômico por intermédio do índice de audiência. E esse campo muito heterônimo, muito fortemente sujeito às pressões comerciais, exerce, ele próprio, uma pressão sobre todos os outros campos, enquanto estrutura. Esse efeito estrutural, objetivo, anônimo, invisível, nada tem a ver com o que se vê diretamente, com o que se denuncia comumente, isto é, com a intervenção de fulano ou sicrano [...]. Sobre essa relação é preciso compreender que a audiência está intimamente ligada à credibilidade. E, em se tratando de produções jornalísticas audiovi- suais, ter um grande volume de telespectadores representa credibilidade do produto. Comercialmente, isso reverte em publicidade. Não podemos fazer vista grossa para o fato de que um produto jornalístico (seja em rádio ou televisão) necessita de retorno para se manter na grade de programação. E retorno vem da publicidade. Assim, a pauta também sofre esse tipo de intervenção. O campo jornalístico age, enquanto campo, sobre os outros campos. Em outras palavras, um campo, ele próprio cada vez mais dominado pela lógica comercial, impõe cada vez mais suas limitações aos outros universos. Atra- vés da pressão do índice de audiência, o peso da economia se exerce sobre a televisão, e, através do peso da televisão sobre o jornalismo, ele se exerce sobre os outros jornais, mesmo sobre os mais “puros” e, sobre os jornalistas, que pouco a pouco deixam que problemas de televisão se imponham a eles. E, da mesma maneira, através do peso do conjunto do campo jornalístico, ele pesa sobre todos os campos de produção cultural (BOURDIEU, 1997, p. 81). Ciente de que o jornalismo divulga histórias e assuntos do cotidiano, a pauta é a organização dos temas selecionados pelo pauteiro na reunião de pauta. Dessa forma, deve-se atentar que o processo de produção de um veículo de comunicação é arcado pela publicidade. O assunto da pauta, em alguns casos, pode criar novos objetivos, outros enfoques quando tratamos desses agentes econômicos. 189A apuração da notícia IV: a pauta Rotina do pauteiro: � sempre estar a par de todos os acontecimentos do dia; � ler todos os jornais e revistas concorrentes e ouvir o maior número possível de noticiários de rádio e TV; � ler o que é enviado para o pauteiro, fax, e-mails, releases; � ter uma agenda diária e do mês com anotações sobre os acontecimentos, sempre atualizada; � verificar a repercussão na cidade ou estado de acontecimentos nacionais e inter- nacionais, como, por exemplo, o aumento do preço do petróleo; � pautar as matérias já com datas conhecidas, como Dia das Mães. Essas matérias podem e devem ser preparadas com antecedência; � manteratualizados dados históricos e estatísticos sobre os mais variados assuntos que possam virar matérias. Fonte: Fleming (2010). 1. Pauta é o conjunto de informações que tem por finalidade: a) orientar o repórter no processo de apuração dos fatos. b) reunir informações subjetivas a respeito do tema. c) orientar o repórter na escolha da fonte ideal para a matéria. d) situar a equipe de produção sobre o possível assunto a ser abordado na matéria. e) comunicar um acontecimento ao maior número possível de pessoas. 2. De acordo com o jornalista William Bonner (2009), as boas pautas são: a) as que falam de política e economia. b) as que comovem e geram repercussão mundial. c) as que geram audiência. d) as que afetam a vida das pessoas. e) as que abordam assuntos factuais. 3. Quais são as principais características de um bom pauteiro? a) Informalidade, imediatista e premeditação. b) Senso de justiça, falácia e autopromoção. c) Organização, premeditação e senso de justiça. d) Imediatista, planejamento e falácia. e) Atenção, organização e planejamento. 4. Em se tratando das informações importantes que devem conter na lauda da pauta, o que é enfoque ou encaminhamento? a) É um resumo sobre os fatos que levaram a esse tema. A apuração da notícia IV: a pauta190 b) É o direcionamento a ser dado na matéria. c) É qualquer tipo de informação extraoficial. d) É um resumo do perfil dos entrevistados. e) É a relação de fontes que devem ser entrevistadas. 5. Em se tratando de apuração jornalística, a pauta é o conjunto de informações que vai resultar em uma notícia. De acordo com a definição dada por Bahia (1990), notícia é: a) um resumo do cotidiano. b) um acontecimento factual. c) tudo o que o jornal publica. d) um conjunto de informações. e) informação de interesse público. BAHIA, J. Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo. São Paulo: Ática, 1990. BARBEIRO, H.; LIMA, P. R. Manual de telejornalismo: os segredos da notícia. Rio de Janeiro: Elsevier. 2005. BONNER, W. Jornal nacional: modo de fazer. Rio de Janeiro: Globo, 2009. BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. CRUZ NETO, J. E. Reportagem de televisão: como produzir, executar e editar. Petrópolis: Vozes, 2008. FLEMING, A. Elaboração de pauta para telejornal. [S.l.: s.n.], 2010. Disponível em: <http:// www.ensino.alexanderfleming.com.br/figuras/projensfund58/Disciplinas/2010/ LIP/2Bim/Pauta%20para%20Telejornal%20-%209anos2010.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2018. FOLHA DA MANHÃ S/A. Círculo folha. [S.l.]: Folha da Manhã S/A, 1996. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_producao_r.htm>. Acesso em: 12 jan. 2018. MARTINS FILHO, E. L. Manual de redação e estilo de O Estado de S. Paulo. 3. ed. São Paulo: [s.n.], 1997. Leituras recomendadas GOMES, I. M. M. Das utilidades do conceito do modo de endereçamento para análise do telejornalismo. In: DUARTE, E. B.; CASTRO, M. L. D. (Org.). Televisão: entre o mercado e a academia. Porto Alegre: Sulina, 2006. MARTIN-BARBERO, J.; REY, G. Os exercícios do ver: hegemonia audiovisual e ficção televisiva. São Paulo: Senac, 2001. 191A apuração da notícia IV: a pauta http://www.ensino.alexanderfleming.com.br/figuras/projensfund58/Disciplinas/2010/ http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_producao_r.htm Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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