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1 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Acessibilidade Arquitetônica Conheça o Método efi ciente para aplicar a acessibilidade em seus projetos e obras Eduardo Ronchetti de Castro 1 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA CONHEÇA O MÉTODO EFICIENTE PARA APLICAR A ACESSIBILIDADE EM SEUS PROJETOS E OBRAS ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 3 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 4 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO FICHA TÉCNICA Autor: Arq. Eduardo Ronchetti de Castro Diagramador: Gabriel Vasques Correção Ortográfi ca: Adriana Mioto Desenhos: Marcos Bandeira Agradeço a Deus por estar comigo até aqui e ter me dado a acessibilidade como uma vocação e missão de vida. Dedico este livro à minha amada esposa Daniella por acreditar e me acompanhar na causa da acessibilidade. Dedico este livro à minha querida família por todo o apoio e carinho dedicados a mim até aqui. 5 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 7 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA AGRADECIMENTO Quero te dar as boas vindas a uma comunidade de profi ssionais que acredita na importância da acessibilidade e deseja um Brasil acessível a todos. É bom saber que estamos juntos na Causa da acessibilidade. A acessibilidade é um Direito das Pessoas com Defi ciência, estabelecido em nossas leis e normas técnicas federais. Ela é também uma responsabilidade técnica e uma responsabilidade civil de arquitetos, engenheiros e técnicos em edifi cações que ao emitirem suas “Anotações de Responsabilidade Técnica” declaram o atendimento à acessibilidade. A acessibilidade pode ser também um importante nicho de mercado para todo aquele que deseja trabalhar para deixar as edifi cações acessíveis no Brasil, ajudando mais pessoas, tendo mais e melhores clientes. Mas acima de tudo, nada faz sentido se não houver um propósito dentro de cada um de nós em favor da 8 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO acessibilidade, no desejo de garantir um Brasil mais inclusivo. Por isso meu agradecimento vai à você que está agora aqui comigo, adquirindo um conhecimento importante para o futuro do nosso país e para o seu futuro profi ssional. Parabéns e muito obrigado. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO. 10 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 11 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 15 VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ NA ACESSIBILIDADE 27 O QUE UMA EDIFICAÇÃO DEVE TER PARA SER ACESSÍVEL 49 DESENHO UNIVERSAL 69 A FÓRMULA DA ROTA ACESSÍVEL 85 ACESSO À EDIFICAÇÃO 99 CORREDORES, PORTAS E PISOS 115 VAGAS DE ESTACIONAMENTO 125 PROTEÇÃO CONTRA QUEDAS 133 MITOS E VERDADES DO PISO TÁTIL DE ALERTA 147 ONDE INSTALAR O PISO TÁTIL DIRECIONAL 159 APLICAÇÃO ESSENCIAL DA SINALIZAÇÃO 12 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 173 BALCÕES ACESSÍVEIS 185 REGRAS DE OURO PARA DESIGN DE INTERIORES ACESSÍVEIS 193 O MELHOR CHECKLIST PARA ESCADAS E RAMPAS ACESSÍVEIS 209 COMO FAZER UM SANITÁRIO 100% ACESSÍVEL 225 O QUE FAZER QUANDO O CLIENTE DIZ NÃO 243 AS PRINCIPAIS LEIS E NORMAS TÉCNICAS DE ACESSIBILIDADE CASA LIVRE DE OBSTÁCULOS 214 AS MELHORES DICAS QUE UM ESPECIALISTA PODERIA TE CONTAR 223 HÁ UM PROPÓSITO ACIMA DE TUDO 229 13 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 14 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO PÁGINA PRETA 15 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA CAPÍTULO 1 VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ NA ACESSIBILIDADE ESTE CAPÍTULO VAI REVELAR POR QUE VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ NA ACESSIBILIDADE 16 Parabéns por sua dedicação à área da acessibilidade. Quero dar-lhe as boas-vindas a uma comunidade de profi ssionais que realmente deseja um Brasil acessível para todos. Este é um livro que dá a você os fundamentos para aplicar as leis e normas técnicas brasileiras de acessibilidade em seus projetos e obras. Separei os itens que mais impactam na aplicação da acessibilidade, e você conhecerá todos eles neste livro. Este capítulo vai ajudá-lo a entender que você não está só ao aplicar a acessibilidade e por que chegamos até os dias de hoje com leis de acessibilidade que determinam o acesso a absolutamente todos os ambientes de uso comum ou abertos ao público das edifi cações no Brasil. Também compreenderá por que temos atualmente que declarar o atendimento à acessibilidade no momento de assinar a ART/ RRT (Anotação/ Registro de Responsabilidade Técnica) exigida pelas entidades de fi scalização profi ssional como o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (CREA). 17 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA HISTÓRICO Em 2015 a Organização das Nações Unidas (ONU) defi niu uma agenda para o desenvolvimento sustentável chamada de “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. O Brasil é signatário da Agenda que, em seu objetivo número 11, defi ne as iniciativas para a criação de cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis, incluindo que até o ano de 2030, devemos garantir o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes para todas as pessoas, particularmente para as mulheres, crianças, pessoas idosas e pessoas com defi ciência. E para proteger a população mais velha, a Organização das Nações Unidas também determinou que a década atual, de 2021 até 2030, será a década do envelhecimento saudável. Mas o nosso contexto histórico começa muito antes disso, aproximadamente no início do século XX, nos Estados Unidos, com a ideia da acessibilidade vinculada a um modelo médico de assistência para garantir condições de saúde e vida para as pessoas com defi ciência. Tratava-se de um modelo que levava em conta os aspectos clínicos da pessoa. O objetivo principal era a reabilitação do indivíduo. Contudo esse modelo estabelecia o médico como a pessoa que decidia o que as pessoas com defi ciência poderiam ou deveriam fazer, almejar ou decidir, constituindo-se uma clara violação aos direitos humanos. 18 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO Após a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), aproximadamente em 1946, a acessibilidade evoluiu do direito à saúde para o direito ao trabalho das pessoas com defi ciência. Nesse período, surgem dois conceitos muito importantes que chegam até nós nos dias de hoje: os Princípios do Desenho Universal e o movimento da luta das pessoas com defi ciência chamado “Nada sobre nós sem nós”. O primeiro, liderado pelo arquiteto norte-americano Ron Mace, na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, teve por objetivo defi nir princípios para criação de produtos e edifi cações acessíveis a todas as pessoas, permitindo o acesso de pessoas com defi ciência às universidades americanas e culminando no que conhecemos hoje pelos 7 Princípios do Desenho Universal, parte integrante da norma técnica Brasileira NBR 9050 da Associação Brasileira das Normas Técnicas. Já o segundo conceito, chamado originalmente de “Nothing with us without us” (Nada sobre nós sem nós), representa a luta das pessoas com defi ciência por uma participação ativa nas ações e intenções que visam o seu auxílio, na expectativa de que nada ou nenhum resultado a respeito delas possa ser alcançado sem a plena participação delas próprias. Esses dois conceitos são muito importantes, pois 19 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA eles ajudam a entender a aplicação da acessibilidade arquitetônica em seus projetos e obras nos dias de hoje no Brasil. Por exemplo, observe que temos no Brasil um artigo de número 28 na Lei Brasileira da Inclusão, Lei Federal 13.146:2015, que determina o acesso a todos os ambientes nas edifi cações escolares. Isso acontece, porque muitos anos atrás já havia movimentos ao redor do mundo defendendo a participação das pessoas com defi ciência em igualdade de oportunidade com as demais pessoas nos ambientes construídos. Portanto o Brasil não está isolado de outros países ao redor do mundo defendendo sozinho a aplicação da acessibilidade arquitetônica como a obrigação de garantir o acesso a todos os ambientes construídos, inclusive aos andares superiores das edifi cações. Na verdade, o que estamos fazendo é adotar critérios de equiparação de oportunidadesjá estabelecidos em outros países. Por esse motivo, a introdução deste livro procura mostrar que você não está só ao acreditar e defender a aplicação da acessibilidade em seu trabalho, afi nal, não é uma simples rampa que você está colocando na edifi cação, mas o direito e o exercício das liberdades fundamentais da pessoa humana. Isso se torna mais claro quando conhecemos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada 20 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO em 1948, que determina que “Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades fundamentais, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.” O exercício das Liberdades Fundamentais e o Direito à locomoção e à Igualdade de oportunidades entre todas as pessoas começam a criar as bases para as leis e normas técnicas de acessibilidade que conhecemos atualmente no Brasil, chegando nos dias de hoje, por exemplo, com o artigo de número 56 na Lei Brasileira da Inclusão. Essa lei determina a declaração do atendimento da acessibilidade no momento de recolher uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) pelo profi ssional que está fazendo o projeto ou a obra de uma edifi cação uma vez que são as barreiras físicas presentes nas edifi cações que podem impedir o exercício das Liberdades Fundamentais de todas as pessoas. Art. 56.: § 1º: As entidades de fi scalização profi ssional das atividades de engenharia, de arquitetura e correlatas, ao anotarem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir a responsabilidade profi ssional declarada de atendimento às regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas técnicas pertinentes. Ao avançar no tempo, encontramos em 1994 a 21 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA chamada “Declaração de Salamanca”, publicada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (UNESCO), em que o Brasil assume um compromisso a favor de uma educação para todas as pessoas, reconhecendo a necessidade de garantir a educação para crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais no quadro do sistema regular de educação. A partir desta declaração começa um movimento no Brasil e no mundo para integrar as crianças com defi ciência ou com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino, trazendo à tona a urgência e a necessidade de que todas as edifi cações escolares tenham suas barreiras físicas eliminadas. O que um arquiteto, engenheiro ou responsável técnico faz ao aplicar a acessibilidade em seus projetos e obras vai muito além de instalar corrimãos, rampas e sanitários acessíveis. Esse é um ato de garantir o exercício dos Direitos e Liberdades Fundamentais de qualquer Ser Humano, permitindo a igualdade de oportunidade entre todas as pessoas a partir da eliminação das barreiras físicas nos ambientes. Espero conseguir mostrar a você que há um pensamento mundial em favor de incluir todas as pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades, considerando o acesso das crianças, jovens e adultos no sistema regular de educação. 22 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO Em 2009, o Brasil edita o Decreto Federal 6.949, que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, declarando que o exercício das Liberdades Fundamentais passa, inevitavelmente, pela eliminação das barreiras físicas das edifi cações. Em seu prefácio, a Convenção dos Direitos das Pessoas com Defi ciência diz que: ...a defi ciência resulta da interação entre pessoas com defi ciência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas… O que, em minha opinião, é o mesmo que dizer que a defi ciência não está na pessoa, mas que para a garantia da acessibilidade, a defi ciência está na barreira física e de atitude que impedem a plena e efetiva participação das pessoas em igualdade de oportunidade. Esse é um dos principais conceitos que explica a necessidade de garantir o acesso a todos os ambientes como forma de alcançar o exercício das Liberdades Fundamentais do Ser humano, e que desde 1930 tem sido desenvolvido mundialmente. Todo esse histórico ajuda a entender o compromisso que o Brasil tem de garantir a eliminação de barreiras 23 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA físicas e de atitude a ponto de exigir, em seu artigo número 60 da Lei Federal 13.146:2015, que o Poder Público não pode emitir nenhum tipo de Alvará de funcionamento, Habite-se ou documento equivalente para as edifi cações sem que estejam garantidas as condições de acessibilidade. Artigo 60: § 1º A concessão e a renovação de alvará de funcionamento para qualquer atividade são condicionadas à observação e à certifi cação das regras de acessibilidade. § 2º: A emissão de carta de habite-se ou de habilitação equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido emitida anteriormente às exigências de acessibilidade, é condicionada à observação e à certifi cação das regras de acessibilidade. Atualmente, parece haver uma resistência em aplicar a acessibilidade por parte de alguns gestores, órgãos públicos ou proprietários das edifi cações, mas ela não deve mais existir. O que você, arquiteto, engenheiro ou técnico em edifi cações, está fazendo é algo justo, correto e muito nobre. O seu trabalho deixará um Legado na sociedade, garantindo o exercício das Liberdades Fundamentais e igualdade de oportunidades entre todas as pessoas. Portanto você não está só na luta por um Brasil acessível a todos. Toda vez que for apresentado diante de você uma resistência em aplicar a acessibilidade arquitetônica no 24 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO projeto ou na obra, lembre-se disso: “Acessibilidade não é uma questão fi nanceira, mas de garantir o exercício das liberdades fundamentais a partir da eliminação das barreiras físicas e barreiras de atitude”. Parabéns pela sua dedicação à acessibilidade e é bom saber que estamos juntos nesta Causa. Nos próximos capítulos, vamos aprender como garantir a acessibilidade arquitetônica em seus projetos e obras em todo o Brasil. 26 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 27 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA CAPÍTULO 2 O QUE UMA EDIFICAÇÃO DEVE TER PARA SER ACESSÍVEL TODA EDIFICAÇÃO NO BRASIL PARA TER SEU “HABITE-SE” OU “ALAVARÁ DE FUNCIONAMENTO”, DEVE SER ACESSÍVEL 28 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 28 ARRARARARARARARAARARRARRARAA Q.QQQQQQQQQQQQQQQQQ EEEEEEEEEEEEEEEEDUDDDUDUDUDDUDUDUDUUDUUUDDUD ARARARARARARARARARAARAARRRARAARRDODODODODODODOOOODOODODODDODODODOO RRRRRRRRRRRRRRRONONOONONONOONONONONONOONONNONONNCHCHCHCHCCHCHCCHCHCHHHCHCHCHETETEETETEETETTETTTEEETEETTTITTITITITITITITITIT DDDDDDDDDDDDDDE EEEEEEEEEEEE CACAACACACACAAAAAAAAASTSTSTSTSTSTSTSTSTSTTSTSTSTSTSS RORRORORORRORROROROROOOROROR 29 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 29 ACACAAACACACACACACACACAACACCCCCCESESESEESEESESSESESESSESESSSSSISISISSSISSSSISSISIISS BIBIBBBBIBIBIILIILLILLILILLLILILILIIIDADADADADDDDAADADAADAADADADADADADADEEDEDEEDEDEDEDDEDDEEDEDEDEDEDEE ARAAAAAAAAA QUUUUUUUUUUUUUUUUUUUITETÔNICA 30 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO #DICAS DO ESPECIALISTA O QUE UMA EDIFICAÇÃO DEVE TER PARA SER ACESSÍVEL 1. CALÇADA 2. TODAS AS ENTRADAS ACESSÍVEIS 3. ROTA ACESSÍVEL 4. BALCÃO DE ATENDIMENTO ACESSÍVEL 5. SANITÁRIO ACESSÍVEL 6. SINALIZAÇÃO VISUAL E TÁTIL 7. VAGAS DE ESTACIONAMENTO ACESSÍVEIS E VAGAS PARA PESSOAS IDOSAS 8. ELEVADOR ACESSÍVEL, ONDE FOR OBRIGATÓRIO USO DO ELEVADOR DOBRE E MARQUE ESSA DICA 31 Vou mostrar-lhe agora os 8 itens que toda edifi cação no Brasil deve ter para ser acessível. Com isso, você terá muita confi ança e segurança na hora de elaborar seu projeto ou entregar a sua obra. Todos nós,de alguma maneira, entendemos a importância de garantir a acessibilidade nas edifi cações, permitindo que as pessoas tenham condições de utilizar os ambientes em igualdade de oportunidades entre todos. Ter essa condição é um Direito das pessoas com defi ciência estabelecido na Lei Brasileira da Inclusão, Lei Federal 13.146:2015, que é a lei federal que estabelece os critérios para a promoção da acessibilidade no Brasil. Vamos conversar sobre os critérios de acessibilidade que são aplicados em todo o território nacional. Isso dará a você a confi ança e segurança necessárias para aplicar a acessibilidade em seus projetos e obras em todo o Brasil. Obviamente devemos consultar as leis, decretos e resoluções estaduais e municipais, mas é importante 32 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO dizer que nada poderia ser menos restritivo. Depois de vencer o desafi o de compreender a importância da acessibilidade, o próximo desafi o é saber o que uma edifi cação precisa ter para se tornar acessível. E é aqui que as dúvidas começam a aparecer como, por exemplo: será que podemos ter apenas um ambiente acessível no pavimento térreo e realizar nele todos os serviços oferecidos na edifi cação ou temos que garantir o acesso a todos os ambientes? Essa é uma ótima pergunta. Como vimos no capítulo anterior, devemos eliminar todas as barreiras físicas e de atitude para que todas as pessoas tenham condições de igualdade de oportunidade no acesso e no uso dos ambientes, o que, na prática, signifi ca dizer, por exemplo, que uma clínica médica instalada em uma edifi cação com dois pavimentos, com consultórios médicos em ambos os pavimentos, deve garantir acesso de todas as pessoas, inclusive às pessoas com defi ciência a todos os consultórios existentes em todos os seus pavimentos. Da mesma forma que uma escola, em qualquer nível de ensino, não pode deixar apenas uma sala de aula acessível no pavimento térreo para atender turmas com alunos com defi ciência, mas deverá deixar acessível todas as suas salas de aula em todos os seus pavimentos. A acessibilidade não é feita por “demanda” ou por necessidade, mas é uma condição dada pelo ambiente para acesso de todos. 33 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA O segundo conceito que gostaria de trazer aqui para ajudar a compreender o que devemos fazer em uma edifi cação para ela ser acessível está descrito no escopo da norma técnica da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 9050:2020, que estabelece os critérios e os parâmetros técnicos para implantar a acessibilidade nas edifi cações brasileiras, e diz assim: Esta Norma visa proporcionar a utilização de maneira autônoma, independente e segura do ambiente, edifi cações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção. Incrivelmente o texto da norma técnica diz que a acessibilidade não tem por objetivo garantir o acesso e o uso dos ambientes apenas às pessoas com defi ciência, mas sim a maior quantidade possível de pessoas e signifi ca que ambientes acessíveis são aqueles que permitem o seu acesso e o seu uso às pessoas idosas, gestantes, pessoas obesas, crianças, pessoas com baixa estatura, pessoas em cadeira de rodas, pessoas que utilizam muletas, andadores, ou seja, a maior quantidade possível de pessoas. A partir desses dois conceitos em que a garantia da acessibilidade consiste em eliminar todas as barreiras físicas de todos os ambientes para permitir o acesso e o uso dos ambientes à maior quantidade possível 34 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO de pessoas, podemos avançar e entender quais são os principais itens que todas as edifi cações brasileiras devem ter para se tornarem acessíveis. Mas como é que eu consegui resumir todos os itens de acessibilidade em apenas 8 itens? Pois você pode estar se perguntando assim: “Não tenho que atender toda a NBR 9050? A norma técnica não é lei?” Aqui é que está o grande segredo, pois a norma técnica vai dizer COMO devemos adaptar os itens de acessibilidade, mas são as leis que vão nos dizer O QUE deve ser adaptado. Após eu descobrir quais são os itens exigidos pela lei, posso consultar a norma técnica e descobrir COMO adaptar o item exigido pela Lei! Inclusive o Prefácio da NBR 9050:2020, diz assim: Os Documentos Técnicos ABNT, assim como as Normas Internacionais (ISO e IEC), são voluntários e não incluem requisitos contratuais, legais ou estatutários. Os Documentos Técnicos ABNT não substituem Leis, Decretos ou Regulamentos, aos quais os usuários devem atender, tendo precedência sobre qualquer Documento Técnico ABNT. Vou explicar melhor: Será que é preciso ter um telefone público com aquele sistema chamado TDD para uso de pessoas com defi ciência auditiva? 35 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Você poderia responder assim: “Sim, Edu, afi nal esse aparelho está descrito no item 8.4 da NBR 9050 de 2020, então precisa ter, sim. Afi nal a NBR 9050 é a norma técnica de acessibilidade”. Mas a resposta certa é não! A norma técnica vai apresentar “COMO” deve ser uma cabine telefônica acessível, mas antes precisamos saber se há alguma lei, federal, estadual ou municipal, que esteja determinando a instalação de cabines telefônicas de uso público nas edifi cações. Na medida em que existe uma lei exigindo a instalação de uma cabine telefônica na edifi cação, essa lei está me dizendo o que fazer. Só aí vou consultar a norma técnica para saber como adaptar uma cabine telefônica para que se torne acessível. Ao entender essa diferença, podemos descobrir o que deve ter uma edifi cação para ser acessível e saber como adaptar aquilo que a lei estiver solicitando. Observe, por exemplo, o que está escrito no artigo 42, inciso 2 da Lei Brasileira da Inclusão, Lei Federal 13.146:2015, com relação à garantia de acessibilidade aos imóveis culturais: § 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas 36 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO as normas de acessibilidade, ambientais e de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Signifi ca dizer que há uma lei federal exigindo a eliminação de barreiras físicas no acesso às edifi cações culturais, ou seja, essa lei está dizendo para nós o que deve ser feito. E em seguida, a lei vai dizer que esse acesso deverá ser realizado conforme as normas técnicas, e elas vão dizer como garantir o acesso. Entendido que norma técnica não é lei, vamos avançar e responder a pergunta que é o foco aqui: “O que deve ter uma edifi cação para ela ser considerada acessível?” Em minha carreira como especialista em acessibilidade, li todas as leis federais relacionadas à acessibilidade e descobri que elas exigem 8 itens em qualquer edifi cação brasileira para ela se tornar acessível. Com isso é hora de você abrir o seu projeto atual e conferir se ele atende os 8 itens descritos a seguir. 1. CALÇADA a. O Artigo 113 da Lei Brasileira da Inclusão altera o Estatuto das Cidades, que é a Lei Federal 10.257:2001 e passa a exigir a acessibilidade nas calçadas. 37 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA b. O Artigo 15 do Decreto Federal 5296:2004 também vai exigir a construção de calçadas para circulação de pedestres ou a adaptação de situações consolidadas e o rebaixamento de calçadas com rampa acessível ou elevação da via para travessia de pedestre em nível. Observe então que em primeiro lugar estamos descobrindo o que fazer, para somente depois abrirmos as normas técnicas e entender como adaptar as calçadas brasileiras. 2. TODAS AS ENTRADAS DEVEM SER ACESSÍVEIS MESMO EM EDIFICAÇÕES EXISTENTES c. O Artigo 19 do Decreto Federal 5296:2004 vai dizer que devemos garantir o acesso ao interior das edifi cações de uso público, por exemplo. d. Temos também o artigo 42 da mesma lei exigindo o acessoaos bens culturais, por exemplo. 38 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO Imagem 1: Entrada da Câmara Municipal de Itapevi/SP. Projeto e Fiscalização de Arq. Eduardo Ronchetti de Castro. 3. A ROTA ACESSÍVEL INTERNA GARANTE O ACESSO A TODOS OS AMBIENTES DE USO COMUM Esse é o item que vai criar a famosa Fórmula da Rota Acessível que vamos descobrir no passo 3 deste livro, mas aqui primeiramente vamos descobrir de onde surge tal exigência: e. Temos, por exemplo, o artigo 18 de Decreto Federal 5296:2004 que vai dizer assim: A construção de edifi cações de uso privado multifamiliar e a construção, ampliação ou reforma de edifi cações de uso coletivo devem atender aos preceitos da acessibilidade na 39 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA interligação de todas as partes de uso comum ou abertas ao público, conforme os padrões das normas técnicas de acessibilidade da ABNT e também estão sujeitos os acessos, piscinas, andares de recreação, salão de festas e reuniões, saunas e banheiros, quadras esportivas, portarias, estacionamentos e garagens, entre outras partes das áreas internas ou externas de uso comum das edifi cações de uso privado multifamiliar e das de uso coletivo. Inclusive temos um curso on-line exclusivo para ensiná-lo a fazer acessibilidade em condomínios residenciais. Mas aqui eu gostaria de deixar registrado que a obrigatoriedade de garantir acessibilidade em condomínios existentes, veja bem o que estou dizendo: qualquer condomínio residencial existente, ou seja, já construído hoje no Brasil, é obrigado a se tornar acessível. Alguns entendem que a obrigação de garantir a acessibilidade em condomínios é apenas para condomínios construídos a partir de 2018 com publicação do Decreto Federal 9451:2018, mas podemos ver claramente no artigo 18 do Decreto Federal 5296 de 2004 que já havia essa obrigação de garantir os condomínios acessíveis. 4. BALCÃO DE ATENDIMENTO ACESSÍVEL f. A Lei Federal 10.048:2000 determina a garantia 40 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO do atendimento prioritário às pessoas com defi ciência ou mobilidade reduzida. Atendimento prioritário, conforme o artigo 6 do Decreto Federal 5.296:2004, signifi ca oferecer o tratamento diferenciado e o atendimento imediato às pessoas com defi ciência ou com mobilidade reduzida, incluindo a criação do mobiliário da recepção e atendimento obrigatoriamente adaptado à altura e à condição física de pessoas em cadeira de rodas. Signifi ca afi rmar então que as edifi cações deverão ter um balcão de atendimento acessível para garantirem o atendimento prioritário e serem consideradas acessíveis. 5. SANITÁRIO ACESSÍVEL COM ENTRADA INDEPENDENTE ONDE HOUVER SANITÁRIO Entender esse item é muito importante e gostaria de pedir que anote essa expressão que vou dizer agora: Nos ambientes onde houver sanitários disponíveis para as pessoas sem defi ciência, deverão ter sanitários acessíveis para as pessoas com defi ciência. Quando as leis exigem no mínimo um sanitário acessível na edifi cação, na verdade devemos ter no mínimo um sanitário acessível na edifi cação se a edifi cação ou o ambiente oferecer sanitário de uso coletivo para as pessoas sem defi ciência. 41 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA g. Por exemplo o artigo 22 do Decreto Federal 5296:2004 vai dizer, em seu inciso 2 que: Nas edifi cações de uso público já existentes, terão elas prazo de trinta meses a contar da data de publicação deste Decreto para garantir pelo menos um banheiro acessível por pavimento, com entrada independente. E a NBR 9050:2020, em sua tabela número 7, vai demonstrar que o sanitário acessível deverá ser instalado na quantidade de no mínimo um onde houver sanitário. Ou seja, a lei está dizendo o que fazer, e a norma técnica está dizendo como garantir a acessibilidade. 6. SINALIZAÇÃO VISUAL E TÁTIL h. O artigo 26 do Decreto Federal 5296:2020 diz que nas edifi cações de uso público ou de uso coletivo, é obrigatória a existência de sinalização visual e tátil para orientação de pessoas portadoras de defi ciência auditiva e visual, em conformidade com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT. Isso é muito importante, pois das mais de 45 milhões de pessoas com defi ciência no Brasil, identifi cadas pelo Censo do IBGE em 2010, temos mais de 35 milhões com algum tipo de defi ciência visual ou baixa visão, o que representa quase 20% desse total. 42 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO E esse é um dos motivos pelo qual as leis de acessibilidade exigem que uma edifi cação, para se tornar acessível, deve ter a sinalização visual e tátil instalada. E atenção, pois isso signifi ca que devemos, sim, instalar o piso tátil direcional e de alerta, mas também que não é só isso, pois sinalização visual e tátil não signifi ca apenas piso tátil. Sinalização visual e tátil signifi ca que as placas de sinalização dos ambientes deverão ter a informação em braile e signifi ca que nos corrimãos das escadas e rampas, assim como nos batentes dos elevadores, devemos ter as placas indicando os nomes dos ambientes e com a informação em braille. Todos esses itens serão detalhados no passo 2 deste livro. O importante aqui é entender que existem leis federais informando que para uma edifi cação ser considerada acessível, devemos implantar os elementos de sinalização visual e tátil e assim garantir autonomia no uso dos ambientes por parte das pessoas com defi ciência visual ou baixa visão. 7. VAGAS DE ESTACIONAMENTO ACESSÍVEIS E VAGAS PARA PESSOAS IDOSAS ONDE HOUVER ESTACIONAMENTO O mesmo critério estabelecido no item sobre sanitários acessíveis aplica-se aqui também com relação 43 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA à obrigatoriedade de ter vagas de estacionamento acessíveis e vagas para pessoas idosas. Onde houver vaga de estacionamento oferecida para as pessoas sem defi ciência, ali, nesse mesmo estacionamento, devemos ter vagas de estacionamento acessível e vagas de estacionamento para pessoas idosas. i. O Artigo 47 da Lei Brasileira da Inclusão, por exemplo, vai dizer o seguinte: Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoas com defi ciência com comprometimento de mobilidade, desde que devidamente identifi cados. j. E o Artigo 41 do Estatuto do Idoso, Lei Federal 10.741/2003, vai dizer o seguinte: Art. 41. É assegurada a reserva, para os idosos, nos termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos estacionamentos públicos e privados, as quais deverão ser posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade ao idoso. Vamos aprender como deve ser a sinalização dessas vagas nos próximos capítulos, mas por enquanto 44 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO estamos respondendo à pergunta sobre o que uma edifi cação deve ter para ser considerada acessível. Para ela ser considerada acessível, se a edifi cação tiver vagas de estacionamento, deverão ser demarcadas vagas acessíveis e vagas para pessoas idosas. 8. NO MÍNIMO UM ELEVADOR ACESSÍVEL ONDE FOR OBRIGATÓRIA A INSTALAÇÃO DE ELEVADORES Já descobrimos pelo item 2 que devemos interligar todos os ambientes abertos ao público, ambientes de uso comum e uso coletivo nas edifi cações. Caso seja necessária a utilização de elevadores para permitir o acesso aos ambientes dos pavimentos superiores, tais elevadores ou plataformas deverão atender a normas técnicas específi cas de acessibilidade. Observe o que está estabelecido no Decreto Federal 5.296:2004: Art. 27. A instalação de novos elevadores ou sua adaptação em edifi cações de uso público ou de uso coletivo, bem assim a instalação em edifi cação de uso privado multifamiliar a ser construída, na qual haja obrigatoriedade da presença de elevadores, deve atender aos padrões das normas técnicas de acessibilidade da ABNT. § 1ºNo caso da instalação de elevadores novos 45 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA ou da troca dos já existentes, qualquer que seja o número de elevadores da edifi cação de uso público ou de uso coletivo, pelo menos um deles terá cabine que permita acesso e movimentação cômoda de pessoa portadora de defi ciência ou com mobilidade reduzida, de acordo com o que especifi ca as normas técnicas de acessibilidade da ABNT. § 2º Junto às botoeiras externas do elevador, deverá estar sinalizado em braile em qual andar da edifi cação a pessoa se encontra. § 3º Os edifícios a serem construídos com mais de um pavimento além do pavimento de acesso, à exceção das habitações unifamiliares e daquelas que estejam obrigadas à instalação de elevadores por legislação municipal, deverão dispor de especifi cações técnicas e de projeto que facilitem a instalação de equipamento eletromecânico de deslocamento vertical para uso das pessoas portadoras de defi ciência ou com mobilidade reduzida. Pronto, parabéns! Sua edifi cação está acessível! Esses são os 8 itens estabelecidos nas leis de acessibilidade brasileiras que toda edifi cação deve ter para ser considerada acessível. Mas e os auditórios, os ginásios, os palcos? Não preciso garantir a acessibilidade em nenhum desses locais? Sim! Precisa, lógico. Obviamente todo ambiente com 46 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO um uso específi co nas edifi cações deverá ser acessível. Auditórios devem ser acessíveis, palcos devem ser acessíveis. Mas o que eu estou querendo ensinar é que uma edifi cação para ser acessível não precisa ter um auditório ou palco, por exemplo. Uma edifi cação para ser acessível deve ter esses 8 itens obrigatoriamente, acrescidos das adaptações específi cas em ambientes específi cos da edifi cação como, por exemplo, os auditórios e os palcos. Vamos imaginar que você esteja fazendo agora um projeto de uma clínica médica. Para deixar a clínica acessível, você vai implantar esses 8 itens. Se a clínica tiver um auditório, aí sim você vai abrir as normas técnicas de acessibilidade e descobrir lá no capítulo 10.3 da NBR 9050:2020 como deixar seu auditório acessível. Da mesma maneira, se você estiver fazendo um projeto de reforma de um condomínio residencial, por exemplo, você vai implantar esses 8 itens e obviamente, se no condomínio tiver uma piscina, você irá abrir a NBR 9050:2020 no capítulo 10.12 da NBR 9050:2020 e verifi car como deixar a piscina acessível. Saber antes de tudo o que adaptar vai dar muito mais segurança para aplicar a acessibilidade em seus projetos e obras. 47 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA NÃO EXISTE EDIFICAÇÃO “METADE ACESSÍVEL”. PARA UMA EDIFICAÇÃO SER CONSIDERADA ACESSÍVEL DEVERÁ ATENDER A TODOS OS ITENS DAS LEIS E NORMAS TÉCNICAS DE ACESSIBILIDADE. 48 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO ‘ 49 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA CAPÍTULO 3 DESENHO UNIVERSAL OS AMBIENTES DEVEM PERMITIR SUA UTILIZAÇÃO DE MANEIRA INDEPENDENTE, AUTONOMA E SEGURA PARA A MAIOR QUANTIDADE POSSÍVEL DE PESSOAS. 50 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO #DICAS DO ESPECIALISTA COMO OS PRINCÍPIOS DO DESENHO UNIVERSAL PODEM AJUDAR A APLICAR A ACESSIBILIDADE DE FORMA CORRETA São 7 princípios que uma vez considerados vão deixar a edifi cação acessível. São eles: 1. USO EQUITATIVO 2. USO FLEXÍVEL 3. USO SIMPLES E INTUITIVO 4. INFORMAÇÃO DE FÁCIL PERCEPÇÃO 5. TOLERÂNCIA AO ERRO 6. BAIXO ESFORÇO FÍSICO 7. DIMENSÕES E ESPAÇO PARA APROXIMAÇÃO E USO DOBRE E MARQUE ESSA DICA 51 E vamos direto ao conteúdo, pois esse capítulo é um dos mais incríveis que eu já escrevi e ele vai ajudá-lo a entender a origem de tudo o que conhecemos sobre acessibilidade no Brasil e vai estimular a sua criatividade para ir além das normas técnicas. Primeiro vamos entender o que signifi ca a expressão desenho universal e por que esse tema é tão importante para nós. O item 3.1.16 da NBR 9050:2020 defi ne desenho universal como: A concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específi co, incluindo os recursos de tecnologia assistiva. Desenho universal é um conceito resumido em 7 princípios que, uma vez aplicados, poderão criar produtos, ambientes e serviços que não precisam de nenhuma adaptação específi ca para serem utilizados por todas as pessoas. A ideia é que, uma vez que os 7 princípios sejam 52 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO aplicados em nossos projetos e obras, deixaremos a edifi cação preparada para ser utilizada por todas as pessoas. Mas qual é a diferença entre desenho universal e acessibilidade? E aqui é que a mágica acontece. Muitos dos meus colegas comentam que ao aplicar as normas técnicas de acessibilidade, a edifi cação começa a fi car com aspecto “frio” e “técnico”, o que não combina com uma estética diferente ou uma linguagem arquitetônica inovadora. É exatamente isso que o desenho universal pretende evitar. Ele pode ajudar você a ir além das normas técnicas, deixando o ambiente belo, agradável e acessível. Desenho Universal é um conceito e a acessibilidade é uma condição, o que são coisas bem diferentes. Acessibilidade é a garantia de que a edifi cação estará acessível. A defi nição de acessibilidade descrita no item 3.1.1 da NBR 9050:2020 diz que: Acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edifi cações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso 53 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com defi ciência ou mobilidade reduzida. Signifi ca dizer que uma edifi cação acessível é aquela que dá a condição para seu uso por todas as pessoas. Já o desenho universal são princípios que, se forem seguidos, poderão criar um ambiente acessível que, por sua vez, dará a condição de uso para todas as pessoas, ou seja, o desenho universal pode vir antes da acessibilidade como uma ferramenta para criar ambientes com mais qualidade. COMO SERIA UM ÔNIBUS ACESSÍVEL E OUTRO COM DESENHO UNIVERSAL? Podemos entender melhor utilizando o exemplo dos ônibus adaptados utilizados no transporte público. Imagine um ônibus existente que foi adaptado para garantir a acessibilidade através da instalação de uma plataforma elevatória que é capaz de transportar uma pessoa em cadeira de rodas desde a calçada para dentro do ônibus. Podemos dizer que esse ônibus está adaptado para o transporte de pessoas com defi ciência, ou seja, que ele foi adaptado para garantir a condição de acessibilidade. Esse ônibus é acessível. 54 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO Agora, imagine outro modelo de ônibus que em sua concepção foi construído com uma tecnologia chamada de “piso baixo” em que o nível de entrada na porta do ônibus está no mesmo nível que a calçada ou a plataforma de embarque. Podemos afi rmar que neste segundo exemplo, ele atendeu os princípios do desenho universal para se tornar acessível, pois foi desenvolvido para atender a todas as pessoas, inclusive pessoas idosas, gestantes, pessoas utilizando muletas e todas as demais. Nesse segundo exemplo também temos um ônibus acessível, concebido através dos princípios do desenho universal, porém nesse caso não será necessário realizar nenhuma adaptação futura para ele se tornar acessível, já que ele é acessível desde a sua concepção. COMO SERIA UMA ENTRADA ACESSÍVEL E OUTRA COM DESENHO UNIVERSAL? Trazendo para a nossa realidade arquitetônica, vamos imaginar uma edifi cação existente em que o pavimento de acesso está a 34 centímetros de altura do nível da calçada. Neste caso, temos uma entrada com 2 degraus. Para deixar essa edifi cação acessível, poderíamos instalar uma plataforma elevatória,por exemplo, ocupando um espaço na lateral da escada e assim 55 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA afi rmar que a edifi cação estaria acessível, permitindo o seu acesso para todas as pessoas. Sim, isso é verdade! A edifi cação com a instalação da plataforma elevatória estaria acessível. Mas a plataforma, na maioria das vezes, não é utilizada por todas as pessoas devido a algumas difi culdades de manuseio e o tempo maior para realizar o deslocamento. Vamos imaginar um segundo caso, em que no momento da concepção do projeto e execução da obra, todo o estudo de implantação da edifi cação considerasse os princípios do desenho universal, permitindo o uso equitativo de todas as pessoas, incluindo pessoas com carrinhos de compras, pessoas com carrinhos de bebê, crianças, pessoas obesas, idosas e com defi ciência. Neste momento, poderíamos avaliar qual seria o melhor nível para implantação do pavimento térreo considerando até o espaço para uma pequena rampa com inclinação inferior a 5%, eliminando a escada e permitindo o acesso de todas as pessoas em igualdade de oportunidade. O princípio um do desenho universal, chamado de “Uso equitativo”, pretende estimular a nossa criatividade para a criação de acessos ao interior da edifi cação para todas as pessoas, independente de sua habilidade ou defi ciência. Em resumo, podemos afi rmar que em ambos os 56 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO casos, a entrada da edifi cação está acessível, mas no segundo caso, aplicando o desenho universal, a condição de acessibilidade se aplica à maior quantidade possível de pessoas. Imagem 2: Entrada da Câmara Municipal de Itapevi/SP, demonstrando as duas formas de deslocamento vertical, através de escada e rampa. Projeto e Fiscalização de Arq. Eduardo Ronchetti de Castro. CONHEÇA AGORA O PRINCIPAL DESAFIO DOS ARQUITETOS, ENGENHEIROS E DESIGNERS O verdadeiro desafi o de arquitetos, engenheiros e designers é garantir a acessibilidade e criar ambientes belos, agradáveis e acessíveis. E isso também é um grande desafi o em minha carreira profi ssional, como arquiteto e especialista em acessibilidade, por exemplo 57 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA ao realizar a adaptação nas suítes dos hotéis pelo Brasil. A maioria dos gestores dos hotéis deseja que as unidades acessíveis mantenham o estilo arquitetônico do local e muitos comentam que ao reformar uma suíte para ser acessível ela “perde” seu “charme” e estilo. Aqui entra a importância em conhecer o desenho universal e utilizá-lo de forma criativa para manter a estética do local e garantir sua acessibilidade. Para compreender melhor sobre a importância da aplicação do desenho universal, vamos conhecer alguns dos princípios, como o princípio número um que defi ne o uso equitativo, afi rmando que a edifi cação deve oferecer as mesmas condições de uso para todas as pessoas. Costumo explicar o princípio número um do desenho universal com a seguinte expressão: “Por onde uma pessoa entra, todas entram e por onde uma pessoa circula, todas circulam”. Garantir o uso equitativo na edifi cação signifi ca garantir uma equiparação nas possibilidades de acesso e circulação nos ambientes para todas as pessoas, independente de sua habilidade. A NBR 9050:2020 traz um item muito importante para garantir a aplicação deste princípio. O item 6.2.2 diz assim: ITEM 6.2.2 da NBR 9050:2020: Na adaptação de edifi cações e equipamentos urbanos 58 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO existentes, todas as entradas devem ser acessíveis e, caso não seja possível, desde que comprovado tecnicamente, deve ser adaptado o maior número de acessos. Nestes casos a distância entre cada entrada acessível e as demais não pode ser superior a 50 m. A entrada predial principal, ou a entrada de acesso do maior número de pessoas, tem a obrigatoriedade de atender a todas as condições de acessibilidade. O acesso por entradas secundárias somente é aceito se esgotadas todas as possibilidades de adequação da entrada principal e se justifi cado tecnicamente. Ao deixar todas as entradas da edifi cação acessíveis, estamos garantindo o uso equitativo entre todas as pessoas, ou seja, que uma pessoa em cadeira de rodas não vai precisar dar a volta no quarteirão para entrar na edifi cação por uma rampa que fi ca atrás do edifício. O item 6.2.2 da NBR 9050:2020 é uma condição técnica para garantir a acessibilidade e corresponder ao princípio número um do desenho universal. Isso é incrível e fi co muito feliz de estar aqui compartilhando esse conhecimento com você. É bom saber que estamos juntos na causa da acessibilidade, construindo um Brasil acessível a todos. Vamos agora conhecer o princípio número quatro do desenho universal, chamado de informação de fácil 59 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA percepção, que diz que o ambiente ou elemento espacial deve apresentar informações redundantes e legíveis e em diferentes modos, verbais e táteis, fazendo com que a legibilidade da informação seja maximizada, sendo percebida por pessoas com diferentes habilidades como surdos, analfabetos entre outros. Esse é um princípio importante para entender que a acessibilidade é uma condição que permite o uso do ambiente para a maior quantidade possível de pessoas, inclusive para pessoas com defi ciência visual ou baixa visão. Uma das maneiras para aplicar esse princípio garantindo a acessibilidade está descrita no item 5.4.1 da NBR 9050:2020 que diz: As portas e as passagens quando forem sinalizadas devem ter números e/ou letras e/ ou pictogramas e sinais com texto em relevo, incluindo Braille e que todas as portas de sanitários, banheiros e vestiários, devem ser sinalizadas. Isso signifi ca que, a partir de agora, toda e qualquer sinalização que você for instalar nos ambientes devem ter os seguintes itens: 1. Letras em alto-relevo para serem percebidas por pessoas com defi ciência visual e que por algum motivo não sabem ler o texto em braille. 60 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 2. Letras em cor contrastante em relação ao fundo da placa para serem percebidas por pessoas com baixa visão. 3. Texto em braille. 4. A placa deve ser instalada na parede, no plano vertical, ao lado da maçaneta da porta, a uma altura entre 1,20 m até 1,60 m do piso. A sinalização visual e tátil é uma das formas de considerarmos o atendimento do princípio quatro do desenho universal. Estou trazendo o princípio quatro do desenho universal para lembrar que a acessibilidade só estará efetivamente garantida na edifi cação se implantarmos os elementos de sinalização, uma vez que o Censo do IBGE em 2010 identifi cou que o Brasil possui uma grande parte de sua população com algum tipo de defi ciência visual ou difi culdade de enxergar. Fonte: Censo IBGE 2010 61 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Imagem 3: Placas nas portas dos gabinetes da Câmara Municipal de Itapevi/SP. Outro princípio importante a ser destacado aqui para a garantia da acessibilidade é o princípio número seis do desenho universal, sobre o baixo esforço físico, em que o ambiente ou elemento espacial deverá ser usado de maneira efi ciente e confortável e com o mínimo de fadiga muscular do usuário. Esse princípio diz que devemos possibilitar que os usuários mantenham o corpo em posição neutra e usem uma força de operação razoável, minimizando ações repetidas e a sustentação do esforço físico. A NBR 9050:2020 interpreta esse princípio de várias maneiras em vários de seus capítulos. Um exemplo é a inclinação das rampas, pois a inclinação máxima está relacionada ao esforço que a pessoa faz ao subi-la. 62 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO Quanto maior for o desnível a ser vencido, menor deverá ser a inclinação para garantir um menor esforço físico. As tabelas 4 e 5 da NBR 9050:2020 refl etem isso que estou dizendo: • Para vencer um desnível de até 7,5 cm, a inclinação pode ser de até 12,5%. • Para vencer um desnível de até 20 cm, a inclinação pode ser de até 10%.Perceba que não podemos utilizar uma inclinação de 12,5% em caso de reforma a não ser para vencer desníveis de até 7,5 cm! Não podemos utilizar a inclinação de 12,5% em caso de reforma para qualquer tipo de desnível, pois uma pessoa em cadeira de rodas, por exemplo, vai se cansar ao subir 50 centímetros ou até 1 metro direto com uma inclinação de 12,5% e não vai conseguir chegar ao fi nal da rampa! Para utilizar 12,5% de inclinação, tem que ter um patamar para a pessoa parar para descansar a cada 7,5 centímetros. • Para vencer até 80 cm de desnível, a inclinação máxima é de 8,33%. Signifi ca dizer que para vencer um desnível acima 63 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA de 80 cm com uma inclinação de 8,33%, devemos colocar um patamar de descanso quando o desnível atingir 80 centímetros. • Para vencer um desnível de 1 metro, a inclinação máxima é de 6,25%. • E para vencer desníveis acima de 1 metro, devemos utilizar uma inclinação de 5%. O importante aqui é entender que o cálculo da inclinação das rampas está relacionado com o princípio 6 do desenho universal do baixo esforço físico. Quanto maior for o desnível a ser vencido, menor será a inclinação da rampa para um menor esforço físico do usuário. Outra maneira de a NBR 9050:2020 garantir a condição de acessibilidade nas edifi cações e considerar o princípio do baixo esforço físico, é quando, no item 6.14.1.2, determina que as vagas para estacionamento de veículos que conduzam ou sejam conduzidos por pessoas com defi ciência considerem o percurso máximo entre a vaga e o acesso à edifi cação ou elevadores de até 50 metros. Assim também com relação à localização dos sanitários acessíveis, quando no item 7.3.2 a NBR 9050:2020 recomenda que a distância máxima a ser percorrida de qualquer ponto da edifi cação até o sanitário ou banheiro acessível seja de até 50 metros. 64 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO E também quando no item 6.5 da NBR 9050:2020 recomenda prever uma área de descanso, fora da faixa de circulação, a cada 50 metros, para piso com até 3 % de inclinação, ou a cada 30 metros, para piso de 3 % a 5 % de inclinação, recomendando a instalação de bancos com encosto e braços. Esses itens que eu mencionei são algumas das formas como a Associação Brasileira de Normas Técnicas, através da NBR 9050:2020 pretende traduzir o princípio do desenho universal e garantir a condição de acessibilidade nas edifi cações. Mas podemos ir além das normas técnicas. Agora quero trazer um estudo de caso incrível para uma melhor qualidade urbana de nossas cidades com a utilização dos “parklets”. “Parklets” são áreas contíguas às calçadas onde são construídas estruturas para criar espaços de lazer e convívio onde anteriormente havia vagas de estacionamento de veículos. Os primeiros “parklets” foram construídos em San Francisco, buscando criar um ambiente mais agradável para os pedestres. Eles são um excelente exemplo de mobiliário urbano que pode benefi ciar a circulação de pedestres pelas ruas das cidades e atender o princípio seis do desenho universal. 65 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Imagine que você deseja fazer compras e passear pelas ruas centrais de comércio em sua cidade. Obviamente em algum momento desse passeio você irá procurar um local para descansar e que incrível seria se encontrasse um desses “parklets” para descansar. Incrível é quando os comerciantes dessa rua entenderem que os “parklets” podem proporcionar mais oportunidades de consumo das pessoas, uma vez que as pessoas permanecerão mais tempo na rua comercial com mais tempo e chance de consumo. Eu, com certeza, gostaria de um “parklet” na frente da minha loja! Obrigado por estar comigo aqui e espero ter mostrado como os Princípios do Desenho Universal podem ajudar a deixar seu projeto belo, agradável e acessível. 66 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 67 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA A DEFICIÊNCIA NÃO ESTÁ NA PESSOA, MAS NA BARREIRA FÍSICA E BARREIRA DE ATITUDE QUE IMPEDE A PARTICIPAÇÃO DAS PESSOAS EM IGUALDADE DE OPORTUNIDADES 68 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 69 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA CAPÍTULO 4 A FÓRMULA DA ROTA ACESSÍVEL SAIBA COMO GARANTIR A ACESSIBILIDADE SEM ESQUECER NENHUM ITEM DAS LEIS E NORMAS TÉCNICAS 70 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO #DICAS DO ESPECIALISTA FAÇA ACESSIBILIDADE SEM ESQUECER NENHUM ITEM • PASSO 1: IDENTIFIQUE OS AMBIENTES DE USO COMUM • PASSO 2: CRIE UM CAMINHO DESOBSTRUÍDO E SINALIZADO • PASSO 3: IDENTIFIQUE TODAS AS BARREIRAS FÍSICAS • PASSO 4: ELIMINE TODAS AS BARREIRAS FÍSICAS DOBRE E MARQUE ESSA DICA 71 Gostaria de fazer algumas perguntas para você: 1. Quantos itens de acessibilidade você deverá considerar em seu projeto ou na sua obra? 2. Você está seguro em emitir a ART ou RRT do seu projeto e declarar que ele está acessível? 3. Quanto deveríamos cobrar a mais na proposta comercial para incluir a acessibilidade no projeto, considerando que precisará de mais tempo para realizar alguns detalhes de acessibilidade? Essas foram dúvidas que me acompanharam por muito tempo em minha carreira profi ssional e vou ajudar você a respondê-las. A resposta para essas dúvidas está na rota acessível da edifi cação e eu criei uma fórmula chamada Fórmula da Rota Acessível para dar maior confi ança ao implantar a acessibilidade. A Fórmula da Rota Acessível consiste em quatro passos: 72 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 1. IDENTIFIQUE ONDE ESTÃO OS AMBIENTES DE USO COMUM DA EDIFICAÇÃO O primeiro passo é identifi car no projeto ou na obra quais são e onde estão os ambientes de uso comum ou abertos ao público e identifi car quais serão os ambientes a serem classifi cados como “ambientes de uso restrito”, uma vez que os ambientes de uso restrito não serão acessíveis. 2. CRIE UM CAMINHO DESOBSTRUÍDO E SINALIZADO CONECTANDO TODOS OS AMBIENTES DE USO COMUM O segundo passo é atender o que diz o artigo número 18 do Decreto Federal 5296:2004, criando um caminho sinalizado e livre de obstáculos para interligar todos os ambientes de uso comum ou abertos ao público. Podemos escolher no mínimo um caminho, de preferência que seja o menor possível, para atender ao princípio 6 do desenho universal, chamado de “Baixo Esforço Físico”, começando desde a calçada externa da edifi cação, até todos os ambientes de uso comum ou abertos ao público no interior da edifi cação. O estacionamento interno da edifi cação também fará parte da rota acessível, mas é importante ressaltar que a rota acessível começa a partir da calçada em frente à edifi cação, ou seja, ela não pode começar apenas na vaga de estacionamento acessível no interior da edifi cação. 73 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Desde a calçada da edifi cação, a rota acessível irá percorrer todos os acessos ao interior da edifi cação, passando pelas vagas de estacionamento, corredores externos, corredores internos e conduzindo ao interior de todos os ambientes como, por exemplo: • Portões de acesso • Portarias • Recepção • Copa dos funcionários • Áreas de lazer com piscina, churrasqueira, salão de ginástica, quadra poliesportiva, sauna e todos os demais ambientes de lazer e ambientes de uso comum da edifi cação. 3. IDENTIFIQUE TODAS AS BARREIRAS FÍSICAS No passo três, a partir do caminho traçado no projeto, que vamos chamar de rota acessível, vamos identifi car e listar todas as barreiras físicas e todos os itens de acessibilidade apresentados nos capítulos anteriores. Vamos fazer um exercício juntos aqui para conseguir identifi car quantos itens deverão ser adaptados no condomínio. 74 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO ESTUDO DE CASO REAL EM UM CONDOMÍNIO RESIDENCIAL Se eu chegar a pé, o primeiro item é a adaptação da CALÇADA. Em seguida, vou me identifi car na portaria e pedir para abrir o portão. Então o segundo item é corrigir a ALTURA DO INTERFONE para uma altura que qualquer pessoa consiga se comunicar, ou seja, o interfone deveestar instalado a uma altura entre 80 cm até 1,20 m do piso. Então o segundo item é a ALTURA DO INTERFONE. Imagine que tenho baixa estatura ou esteja acompanhado de uma criança e vou utilizar a escada na entrada do prédio. Portanto ela deve ter corrimãos em ambos os lados e com duas alturas. E se eu tiver, por exemplo, uma baixa visão, então os degraus da escada deverão estar sinalizados. O terceiro item serão as adaptações desta ESCADA. Agora, se eu estiver em uma cadeira de rodas, então vou ter que construir uma rampa ou instalar uma plataforma elevatória na entrada do prédio e esse será o item número quatro, a construção da RAMPA ou uma PLATAFORMA ELEVATÓRIA, com toda a sua sinalização visual e tátil. 75 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Agora que entrei, vamos caminhar até o elevador do prédio e por todo esse caminho vão aparecer três itens principais: Item 5 será o TIPO DE PISO neste caminho até o elevador. Item 6 será a eliminação de qualquer DESNÍVEL que seja maior que 5 milímetros. E o item 7 será sinalizar ou com piso tátil, ou com uma LINHA GUIA ou com uma guia de balizamento esse caminho até chegar no elevador para ajudar as pessoas com defi ciência visual ou com baixa visão. Antes de entrar no elevador, vamos ter que criar um caminho na área comum do prédio e interligá-lo a todos os ambientes de lazer. Aí também vai aparecer o nosso item 8, que é a necessidade de verifi car a largura de todas as PORTAS de acesso a esses ambientes e, atenção, incluindo a porta da sauna. Item 9. Se o salão de festas tiver um BALCÃO, ele deverá ser adaptado. Item 10: a norma de acessibilidade diz que sempre que existir um sanitário disponível para as pessoas, ali deverá ter no mínimo um sanitário acessível com entrada independente, podendo ser unissex. Então o item 10 é a criação do SANITÁRIO ACESSÍVEL. O item 11 será a criação do acesso ao DECK DA 76 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO PISCINA e o item 12 será a criação do meio de acesso ao INTERIOR DA PISCINA. Você está conseguindo entender a importância da rota acessível agora e como ela é a espinha dorsal do seu projeto de acessibilidade? E consegue entender que é ela que vai ajudá-lo a não esquecer de nenhum item de adaptação? Voltando para a porta do elevador do prédio, vamos falar do item 13 que é a criação das PLACAS EM BRAILE. Atenção: toda placa que eu instalar, ela deve ser igual a esta daqui: • Com letras em alto-relevo • Com letras em cor contrastante • Com o braile e instaladas a uma altura entre 1,20 m e 1,60 m do piso. Então no item 13, vamos fazer toda a SINALIZAÇÃO VISUAL E TÁTIL do condomínio. Agora, vamos imaginar que eu cheguei no prédio de carro! Então temos uma segunda rota acessível que começa na vaga de estacionamento e vai até o elevador e vamos adaptar os seguintes itens: Item 14: demarcar as vagas para pessoas com 77 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA defi ciência. SIM, mesmo em edifícios existentes, devemos demarcar 2% do total de vagas para que sejam acessíveis. Item 15: vou transcrever o que diz o item 6.14.2 da NBR 9050: 2020 sobre a circulação de pedestre em estacionamentos: Todo estacionamento deve garantir uma faixa de circulação de pedestre com largura mínima de 1,20 m até o local de interesse e que garanta um trajeto seguro. Esse trajeto vai compor a rota acessível. Então o item 15 é a criação da FAIXA DE CIRCULAÇÃO O item 16 será eliminar eventual DESNÍVEL que aparece entre o piso do elevador e o piso da garagem. Talvez existam outros itens, dependendo das características de cada prédio, mas para efeito didático, penso que podemos parar por aqui, mas sem esquecer dos itens que são a adaptação da PORTARIA e de todos os ambientes de FUNCIONÁRIO. Então o item 17 é a adaptação da PORTARIA. O item 18 é a adaptação dos VESTIÁRIOS DE FUNCIONÁRIO. O item 19 será a adaptação das demais entradas do condomínio. Por fi m, o item 20 é a adaptação dos apartamentos, 78 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO mas que neste caso será obrigatória apenas em edifícios novos. Vamos falar dele logo em seguida quando falarmos do novo Decreto Federal 9451 de 2018. Pronto! 20 itens a serem adaptados para que o seu condomínio seja acessível a todas as pessoas. E nós conseguimos identifi car esses itens a partir do quê? Da Fórmula da Rota Acessível. Vamos resumir? Através da Rota Acessível conseguimos identifi car 20 itens a serem adaptados em um condomínio residencial, que são: 1. Calçada. 2. Altura do interfone. 3. Escada na entrada. 4. Construção de rampa ou plataforma elevatória. 5. Pisos antiderrapantes na rota acessível. 6. Eliminar qualquer desnível que seja maior que 5 milímetros. 7. Sinalização do percurso através de piso tátil, linha guia. 8. Adequação de todas as portas. 9. Adaptação de todos os balcões nos salões de festas. 10. Criação de sanitários acessíveis. 79 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 11. Acesso ao “deck” da piscina. 12. Acesso ao interior da piscina. 13. Sinalização em Braille em todas as placas. 14. Demarcar vagas de estacionamento acessíveis. 15. Demarcar a faixa de circulação de pedestres no estacionamento, desde a vaga até a entrada ou elevador. 16. Eliminar desníveis acima de 5 milímetros entre o piso do elevador e o piso da garagem. 17. Adaptação da portaria. 18. Adaptação dos vestiários de funcionários. 19. Adaptar demais entradas ao interior da edifi cação. 20. Apartamentos acessíveis a partir de 2018, conforme DF 9451:2018. Obviamente poderão existir outros itens dependendo do tipo de edifi cação ou da quantidade de ambiente. O que aprendemos aqui é que foi a partir da Rota Acessível que conseguimos identifi car os itens a serem adaptados. 80 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 4. ELIMINE TODAS AS BARREIRAS FÍSICAS Por fi m, no passo quatro, será a hora de desenvolver os desenhos e detalhes técnicos de adaptação de cada item identifi cado na Rota Acessível. E o mais importante de seguirmos essa fórmula é que ela nos dará o escopo do trabalho em acessibilidade. Obviamente, se você estiver fazendo um projeto de um pequeno salão comercial, ou de uma pequena clínica médica, será muito fácil identifi car a rota acessível e os itens a serem adaptados. Mas como eu tenho certeza de que esse curso e esse conhecimento vai ajudá-lo a captar projetos cada vez maiores, vamos imaginar que você está elaborando um projeto de um empreendimento residencial com mais de 300 apartamentos, 12 prédios, além de áreas de lazer, portaria e estacionamentos. Como aplicar a acessibilidade neste caso? Não se preocupe! É só seguir a fórmula da Rota Acessível e vamos fazer isso juntos. Importante lembrar que o ambiente de funcionário não pode ser considerado como um ambiente de uso restrito e sim um ambiente de uso comum e deve obrigatoriamente ser acessível. O item 3.1.36 da NBR 9050:2020 diz que ambientes 81 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA de uso comum são espaços, salas ou elementos, externos ou internos, disponíveis para o uso de um grupo específi co de pessoas (por exemplo, salas em edifícios de escritórios, ocupadas geralmente por funcionários, colaboradores e eventuais visitantes). Signifi ca afi rmar que os ambientes de funcionários são considerados como de uso comum e farão parte da Rota Acessível. Pronto. Agora que identifi camos quais são os ambientes de uso comum neste empreendimento, o próximo passo será traçar a rota para interligar todos esses ambientes através de no mínimo um caminho. Agora sim teremos condições de identifi car os itens de acessibilidade neste projeto residencial multifamiliar. Você irá considerar no projeto aqueles que aparecerem na Rota Acessível. O mais incrível de tudo isso é que agora teremos defi nido o Escopo do que deverá fazer para deixar a edifi cação acessível. A Fórmula da Rota Acessível nos dá clareza e confi ança para afi rmar que o projeto está acessível. E o último passo será fazer os detalhes de adaptação de cada umdos itens apresentados. Nos primeiros projetos que você fi zer, vai parecer dif ícil e demorado, mas não se preocupe, pois a cada projeto verá que a Fórmula da Rota Acessível fi cará 82 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO cada vez mais fácil e prática de ser implantada. Parabéns por chegar comigo até aqui. É bom saber que estamos juntos na Causa da Acessibilidade. 83 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA QUANDO SE ELIMINA A BARREIRA FÍSICA, A DEFICIÊNCIA DESAPARECE. 84 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 85 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA CAPÍTULO 5 ACESSO À EDIFICAÇÃO TODAS AS ENTRADAS DEVEM SER ACESSÍVEIS, COM NO MÍNIMO DUAS FORMAS DE DESLOCAMENTO VERTICAL 86 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO INSERIR DESENHO 2 NESTA PÁGINA - NO CENTRO DA PÁGINA 86868686868686886868686868686686868686 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DDDDDDDDDDDDDDDDDDDE EEEEEEEEEEEEEEEE CASTRO ININNINNINNINININININININNINININNININSESESESESESESESESSESESESESESSESSESESS RIRIRRIRIRRIRIRIRRIRIRIRIRIRIRIRIRIRIR RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR DEDEDEDDEDDEDEDEDEDEDEDEDEDEDEDEDEDEDEDESEESESESESESESESESESESESESESESESESESESESENHNHNHNHNHNHNHNHNHNHNHNHNHNNHNHNHNHNHNNHO OOOOOOOOOOOOOOOOOOOO 2 2222222222222222222 NENENENENENENENENENENENENEENENENENENENENESTSTSTSSSTSTSTSTSTSTSTSTSTSTSTSTSTSTSTTA AAAAAAAAAAAAAAAAAAA PÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁPÁGIGIGIGIGIGGIGIGIGIGIGIGIGIGIGIGIGIGIGIGINANNNNNNNNNNNNNNNNNNNN - NO CENTNNNNNNNNNNNNNNNNNNNN RO A PÁGÁGÁGÁGGÁGÁGÁGÁGÁGÁGGÁGÁGÁGÁGÁGÁGÁGÁGÁGINA 87 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 87 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 88 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO #DICAS DO ESPECIALISTA 1. TODAS AS ENTRADAS DEVEM SER ACESSÍVEIS 2. DESNÍVEIS ACIMA DE 5 MILÍMETROS DEVEM SER ELIMINADOS 3. TODAS AS ENTRADAS COM NO MÍNIMO 2 FORMAS DE DESLOCAMENTO VERTICAL 4. NÃO COLOCAR RAMPA NO “PÉ” DA PORTA DOBRE E MARQUE ESSA DICA 89 Neste capítulo vamos conversar sobre os principais itens e detalhes de acessibilidade que deverão ser incluídos em seus projetos e obras e como garantir o acesso ao interior das edifi cações, a começar pela seguinte pergunta: Quantas entradas acessíveis devem ter na edifi cação? O item número 6.2.2 da NBR 9050 determina que todas as entradas devem ser acessíveis. Mas tem uma informação importante aqui, pois isso não é apenas para edifi cações novas, a serem construídas, pois o item diz que todas as entradas devem ser acessíveis também em edifi cações existentes, ou seja, mesmo as mais antigas, no momento em que forem reformadas, deverão garantir a acessibilidade em todas as suas entradas. Por exemplo, imagine que nós dois vamos até um restaurante para almoçar. Eu estou em uma cadeira de rodas e você está em pé, e a entrada por esse restaurante é feita por uma escada na frente e uma rampa nos 90 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO fundos do restaurante, entrando pela cozinha. Em sua opinião, é aceitável você entrar pela porta principal e eu ter que dar a volta e entrar pela rampa lá nos fundos? Não. É claro que não. É exatamente por esse motivo, para evitar a segregação entre as pessoas que todas as entradas devem ser acessíveis. Lembre-se: por onde uma pessoa entra, todas entram. Segundo item: A partir de quantos milímetros os desníveis devem ser eliminados? Todo desnível acima de 5 milímetros já é um impedimento para uma cadeira de rodas e além disso, uma pessoa idosa corre o risco de tropeçar e cair em um desnível acima de 5 milímetros, porque normalmente as pessoas com mais idade, por não conseguirem levantar os joelhos e elevar os pés, acabam arrastando os pés e tropeçando nesse desnível. O item 6.3.4 e a fi gura número 68 da NBR 9050 mostra que os desníveis a partir de 5 milímetros devem ser eliminados. E como é que devemos eliminar os desníveis? Apesar da resposta parecer óbvia, ela vai ajudar a responder várias dúvidas. 91 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Vencemos desníveis apenas de três formas, com rampas, plataformas ou elevadores. É só isso que a norma técnica determina. Estou afi rmando isso para dizer que os equipamentos chamados de “carros escaladores” são proibidos e não podem ser utilizados para garantir a acessibilidade na edifi cação, uma vez que não permitem a autonomia exigida pelas leis de acessibilidade para as pessoas com defi ciência ou mobilidade reduzida. Para desníveis de até 2 centímetros, podemos simplesmente fazer um “chanfro” na soleira da entrada por exemplo, de maneira que esse “chanfro” seja feito na razão de 2 para 1, ou seja, para vencer um desnível de 2 centímetros, o comprimento dessa suposta rampa será de 4 centímetros. Em casos de reforma, com desníveis entre 7,5 cm até 20 cm, poderemos utilizar 12,5% e 10% de inclinação respectivamente. Para vencermos os desníveis acima de 20 cm vamos utilizar o que está estabelecido na tabela 5 da NBR 9050. O importante aqui é lembrar que nossa função é esgotar todas as alternativas técnicas para garantir o acesso ao interior da edifi cação. Caso não seja possível construir uma rampa, devemos então fazer a instalação da plataforma, que é a segunda forma regulamentada pela NBR 9050 para se vencer desníveis. 92 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO Existem duas normas técnicas específi cas sobre plataformas elevatórias que são a NBR ISO 9386-1, para plataformas elevatórias verticais, e a NBR ISO 9386- 2, ambas regulamentam as plataformas elevatórias inclinadas. A plataforma inclinada é diferente de uma “cadeirinha” que seria instalada no corrimão de uma escada, pois no caso da plataforma, a pessoa entra na plataforma com a própria cadeira de rodas. Plataformas elevatórias inclinadas só podem ser utilizadas em situações de reforma e quando for impraticável tecnicamente a instalação da plataforma vertical. Para desníveis de até 2 metros de altura podemos utilizar o que a norma técnica denomina de plataforma elevatória de percurso vertical aberta, ou seja, ela não possui uma “cabine” como em um elevador, mas apenas apresenta um fechamento em todas as suas laterais até a altura de 1,10 metro. Para desníveis de até 4 metros de altura, podemos continuar utilizando a plataforma elevatória de percurso vertical aberta, porém neste caso ela estará enclausurada como em uma torre de elevador. Plataformas só podem ser utilizadas para desníveis de até 4 metros, pois acima de 4 metros, por uma questão de segurança, devemos utilizar elevadores. 93 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Os elevadores são regulamentados por duas outras normas técnicas, a NM 313/2007 e a NBR 12892. Para continuar, como item 4 de nossa lista, vamos ler o que diz o item 6.3 da NBR 9050 que afi rma que devemos garantir no mínimo duas formas de deslocamento vertical. O item 6.3 diz que a circulação pode ser horizontal e vertical. A circulação vertical pode ser realizada por escadas, rampas ou equipamentos eletromecânicos e é considerada acessível quando atender no mínimo duas formas de deslocamento vertical. Isso signifi ca que não podemos apenas eliminar a escada e colocar uma rampa para considerar o local acessível, principalmente porque pessoas com baixa estatura ou que utilizam próteses nas pernas, por exemplo, preferem usar as escadas, pois o percurso é menor do que da rampa, e o esforço poderá ser menor. Lembre-se desse item quando estiver fazendo o seu projeto ou sua obra, pois devemos sempre considerar no mínimo duas formas de deslocamento vertical, ou seja, utilizando uma escada e uma rampa, ou uma escada e uma plataforma (ou elevador), ou uma rampa e uma plataforma (ou elevador). Como item número 5, você vai fazer vai escrever assim: 94 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO “Eu (escreva seu nome aqui), prometo, nunca mais colocar rampa no pé da porta.” Não podemos colocar rampa no pé da porta, pois o que deve ter antes da porta para que a pessoa consiga abrir a porta é um patamar. A fi gura 73 da NBR 9050 explica que no início e no fi nal das rampas devemos ter um patamar, e esse patamar deve estar forada circulação adjacente justamente para que a pessoa em cadeira de rodas esteja em segurança antes e após a rampa. E se você entendeu a importância disso, então podemos avançar para o item 6 e entender que as calçadas não podem ser consideradas como patamares das rampas de acesso às edifi cações. A calçada não pode ser o patamar da rampa. Devemos ter o espaço livre da calçada. A partir do alinhamento da edifi cação, devemos ter primeiro um patamar e, após o patamar, instalar a rampa, a plataforma ou o elevador. Esse patamar irá garantir a segurança para as pessoas entrarem e saírem da edifi cação em segurança, sem eventualmente bater em alguém que esteja andando pela calçada. E como item 7, vamos lembrar da largura da rampa que deverá considerar o espaço de aproximação lateral 95 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA quando existir uma porta no fi nal da rampa. Nesta condição, se a porta abrir no sentido da rampa, a largura da rampa, ou pelo menos do patamar em frente à rampa, deverá ser de no mínimo 1,50 metro. Se a porta abrir no sentido do ambiente, a largura da rampa será de no mínimo 1,20 metro. Imagem 4: Escada e rampa nas duas entradas da Câmara Municipal de Itapevi/SP. 96 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 97 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA POR ONDE UMA PESSOA ENTRA, TODAS ENTRAM. POR ONDE UMA PESSOA CIRCULA, TODAS CIRCULAM. ISSO SIGNIFICA IGUALDADE DE OPORTUNIDADE 98 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 99 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA CAPÍTULO 6 CORREDORES, PORTAS E PISOS CONHEÇA OS ITENS QUE MAIS IMPACTAM NA PROMOÇÃO DA ACESSIBILIDADE 100 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 100 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO 101 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 101 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA 102 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO #DICAS DO ESPECIALISTA 1. CORREDORES DEVEM ATENDER O ITEM 6.11.1 DA NBR 9050 2. RAMPAS SÃO COMO CORREDORES E SUAS LARGURAS DEVEM SEGUIR AS LARGURA DOS CORREDORES 3. PORTAS DEVEM ATENDER A FIGURA 83 DA NBR 9050, COM SUAS ÁREAS DE APROXIMAÇÃO 4. PISOS DEVEM TER COEFICIENTE DE ATRITO MAIOR OU IGUAL A 0,4 EM ÁREAS INTERNAS PARA SEREM ANTIDERRAPANTES DOBRE E MARQUE ESSA DICA 103 Diariamente, também enfrento vários desafi os para aplicar a acessibilidade nos projetos e nas obras. Por isso é muito importante eu saber a sua opinião. Então antes de começar esse capítulo, gostaria de saber se estou conseguindo ajudar você até aqui. Se for possível, envie agora uma mensagem para meu WhatsApp (11) 991604718 com a sua opinião, pois é muito importante eu saber se estou conseguindo ajudá-lo. Preparei com muito carinho esse livro, ensinando o que vivo no meu dia a dia como profi ssional especializado em acessibilidade. A partir de agora vamos detalhar vários itens de acessibilidade, começando pelos corredores, portas, pisos e balcões de atendimento. CORREDORES Certo dia fui vistoriar uma obra e me deparei com um corredor com 10 metros de comprimento e 1 metro de largura. O que há de errado com ele? 104 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO Vamos imaginar a seguinte situação: uma pessoa na cadeira de rodas ao entrar no corredor, encontra no meio do corredor, após percorrer 5 metros, uma pessoa em pé que estava vindo no sentido contrário. O que ocorre? Com um metro de largura do corredor, não há espaço para uma pessoa passar ao lado da outra. E um dos dois terá que voltar o caminho todo para dar passagem! Essa é uma situação muito desagradável desconfortável. Imagine outra situação em que temos uma rampa vencendo um desnível de 3,20 metros de altura entre um pavimento e outro. Nesta situação, teremos mais de 40 metros de comprimento de rampa, que também são consideradas como corredores, pois ao percorrer a rampa, as pessoas estarão limitadas pelos corrimãos e guarda corpos da rampa. Nesta rampa, o que acontecerá se, por exemplo, uma pessoa em cadeira de rodas estiver subindo a rampa e no mesmo momento uma outra pessoa em cadeira de rodas estiver descendo a rampa, e a rampa tiver uma largura de 1 metro ou até 1,20 metro? No momento em que elas se encontrarem no meio do percurso, ou as duas pessoas vão descer ou as duas pessoas vão ter que subir para uma dar passagem para a outra! 105 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Esses dois exemplos servem para mostrar a você que a largura do corredor está relacionada com o comprimento do deslocamento. Vamos ver o que diz o item 6.11.1 da NBR 9050:2020: Os corredores devem ser dimensionados de acordo com o fl uxo de pessoas, assegurando uma faixa livre de barreiras ou obstáculos, conforme item 6.12.6. As larguras mínimas para corredores em edifi cações e equipamentos urbanos são: a) 0,90 m para corredores de uso comum com extensão até 4,00 m; b) 1,20 m para corredores de uso comum com extensão até 10,00 m; e 1,50 m para corredores com extensão superior a 10,00 m; c) 1,50 m para corredores de uso público; d) maior que 1,50 m para grandes fl uxos de pessoas, conforme aplicação da equação apresentada no item 6.12.6. O item 6.11.1.1 diz que: em edifi cações e equipamentos urbanos existentes, onde a adequação dos corredores seja impraticável, devem ser implantados bolsões de retorno com dimensões que permitam a manobra completa de uma cadeira de rodas (180°), sendo no mínimo um bolsão a cada 15,00 m. Neste caso, a largura mínima de corredor deve ser de 0,90 m. 106 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO O item 6.11.1.2 diz que: para transposição de obstáculos, objetos e elementos com no máximo 0,40 m de extensão, a largura mínima do corredor deve ser de 0,80 m, conforme 4.3.2. Acima de 0,40 m de extensão, a largura mínima deve ser de 0,90 m. Em outro caso, ao avaliar um projeto arquitetônico, o projeto apresentava um corredor com comprimento de 12,42 metros e largura de 1,20 metro. Neste caso, no início e no fi nal do corredor, temos portas. Em função do comprimento ser maior que 10 metros e pela posição das portas, a largura mínima desse corredor deverá ser de 1,50 metro. Da mesma forma o corredor de um metro no primeiro exemplo. Concluindo, é importante ressaltar que rampas são consideradas como corredores e sua largura deve ser dimensionada conforme o item 6.11 da NBR 9050. Compreendido isso, vamos entender como devem ser as portas. 107 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA Imagem 5: Rampa no interior da edifi cação com largura conforme item 6.11.1 da NBR 9050. LARGURA DOS CORREDORES EM APARTAMENTOS ACESSÍVEIS Na frente de todas as portas deve haver uma área de giro de no mínimo 1,20 x 1,20 m, para que a pessoa em cadeira de rodas consiga abrir a porta. Por esse motivo, o corredor em apartamentos acessíveis deve ter largura mínima de 1,20 m. É obrigatório o atendimento da fi gura 83 junto às portas e circulações internas e ambientes acessíveis (banheiros e quartos) das unidades autônomas acessíveis. As unidades autônomas ADAPTÁVEIS podem ter o corredor com largura de 90 cm. Porém, no momento em que a unidade se tornar ACESSÍVEL, deverá ter o corredor com largura de 1,20 m. 108 ARQ. EDUARDO RONCHETTI DE CASTRO PORTAS O que uma porta precisa ter para ser considerada acessível? Ah! Edu, essa é fácil, tem que ter um vão livre de 80 cm! Sim, você tem razão, mas não é só isso. Por exemplo, aqui no prédio em que eu moro, tem uma porta no fi nal do corredor. Pensando na mesma condição, imagine que eu estou em uma cadeira de rodas neste corredor. Será que eu vou conseguir abrir essa porta considerando que a porta abre na minha direção? Não. Não vou conseguir, pois a porta vai bater no meu pé. E se eu me afastar da porta para livrar o meu pé, não vou conseguir alcançar a maçaneta. Então, como vou abrir essa porta sozinho? Com autonomia? É por esse motivo que devemos ter o que a norma técnica de acessibilidade chama de “espaços de aproximação lateral”, ou seja, quando a porta abre na minha direção, preciso de um espaço livre de no mínimo 60 cm na lateral da maçaneta para conseguir
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