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Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
1 
 
 
 
Apostila 13 
CURA INTERIOR 
Parte I 
 
1. HISTÓRICO 
 
A "vida abundante" que Jesus ofereceu aos seus seguidores tem sido o 
objetivo dos mais dedicados cristãos em todas as épocas. Esta prometida 
abundância tem sido usualmente entendida como harmonia interna e 
liberdade espiritual, mais do que abundância material - por razões óbvias. A 
busca por tal liberdade interior tem aparecido sob os mais diversos nomes. 
 
2. O QUE É CURA INTERIOR? 
 
O fenômeno conhecido como cura interior tem dois objetivos. O seu 
objetivo primário e espiritual é estender o senhorio e poder de cura de 
Cristo ao nosso passado, afetando mesmo a nossa experiência antes da 
conversão. O objetivo secundário e psicológico é portanto nos libertar de 
qualquer cativeiro emocional e psicológico que a nossa experiência 
passada possa ter produzido. Os teóricos da cura interior defendem que os 
bloqueios emocionais e os padrões habituais de comportamento (com os 
seus frutos negativos de frustração, derrota e fraca auto-imagem) nos 
impedem de atingir a vida abundante que Jesus prometeu. Portanto, eles 
concluem que, um esforço especial deve ser feito para curar estas feridas 
interiores, de forma que possamos ser libertos das diversas coisas que 
podem constringir e empobrecer as nossas vidas. Em resumo, o objetivo 
geral da cura interior pode ser descrito como uma espécie de "santificação 
retroativa". 
 
O propósito geral do movimento de cura interior é claramente de natureza 
pastoral. Desta forma, ele defende que a "cura das memórias" normalmente 
ocorra num aconselhamento de base individual, ou em pequenos grupos. 
Considera-se essencial que os dons do Espírito Santo estejam em 
operação, particularmente os dons de discernimento e cura. Ao indivíduo 
que está buscando sua cura será pedido que reviva seu passado através 
da imaginação. Isto geralmente envolve um "retorno" ao ponto-problema - 
um encontro traumático ou assustador que moldou a auto-imagem e o 
comportamento da pessoa e também porque este ponto se alojou em 
camadas profundas de sua psique. À medida em que o "paciente" 
imaginativamente recria o ponto-problema, com toda sua intensidade 
emocional, eles dizem ao paciente para imaginar que Jesus está lá 
(naquela situação). Presume-se que a presença imaginativa de Jesus traga 
Seu amor e poder de cura para relacionamentos perturbados com os pais e 
companheiros, os quais são muito poderosos para que o indivíduo dê conta 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
2 
dos mesmos sozinho. 
 
O que devemos fazer com estes fundamentos, teorias e técnicas que os 
acompanham? Na verdade, o que devemos fazer com os "ministros e 
ministérios da cura interior"? A época em que vivemos, com sua orientação 
voltada para o experiencial, tende a gerar um entusiasmo desqualificado 
por experiências de cura interior dentro de alguns setores da comunidade 
cristã. Infelizmente, esta mesma tendência tem efeito oposto em outros 
cristãos, que vêem como muito suspeitas tais experiências e a fascinação 
acrítica despertada por elas. Na maioria dos casos, não existe uma única 
resposta simples. A época em que vivemos é caracterizada pela crescente 
complexidade da vida em todos os níveis - econômico, material, moral e 
intelectual. À medida em que novas e antigas idéias se proliferam, elas 
influenciam o pensamento cristão de várias formas. Algumas têm mais 
validade que outras; muitas são completamente inaceitáveis. Nós devemos 
estar preparados para encarar conceitos não-familiares e pacientemente e 
em oração desvendar tanto as suas fontes bem como a suas implicações. 
Este processo pode ser frustrante e cansativo, mas sua necessidade é 
cada vez mais crescente. 
 
Dentro disto, nós podemos comentar que a cura interior é um fenômeno 
complexo e altamente variável. Não é possível nem endossá-la, nem 
condená-la cegamente. É possível, entretanto, identificar e avaliar aqueles 
elementos que influenciam as teorias e as terapias dos que praticam a cura 
interior. 
"Nossa vida interior é uma parte crítica de nossa identidade pessoal, e 
portanto a necessidade para a cura das emoções e memórias sempre fez 
parte da nossa condição humana." 
 
3. REDIMINDO A PESSOA INTEGRAL 
 
A queda da humanidade (Gn.3) introduziu o princípio da morte e 
decadência em todos os níveis da existência humana. O veneno do pecado 
perpassa cada poro do nosso ser. Em seu sofrimento e ressurreição, Cristo 
venceu a morte - não somente fisicamente, mas de todas as formas em que 
somos afetados por ela. Nossa vida interior é uma parte crítica de nossa 
identidade pessoal, e portanto a necessidade para a cura das emoções e 
memórias sempre fez parte da nossa condição humana. O ensinamento e 
ministério de Jesus reconheceram implicitamente esta necessidade, bem 
como o fez o alcance da igreja primitiva. Jesus mesmo falou 
freqüentemente sobre "o coração" (isto é, "a sede oculta da vida 
emocional") como fonte de pensamento e ação. Ele também citou a 
profecia messiânica de Isaías 61, declarando seu propósito de "restaurar o 
coração partido" (Lc. 4:18). O apóstolo Paulo falou repetidamente sobre a 
renovação da mente no Espírito Santo (Rm. 12:2; Ef. 4:23). 
 
O encontro na estrada de Emaús (Lc. 24) pode ser visto (entre outras 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
3 
coisas) como uma forma de "cura das memórias". Se nós tomarmos este 
incidente como um protótipo para o exercício válido desta forma de 
ministério, vários critérios podem ser vistos. Se esta forma de cura tem 
sustentação bíblica, ela não se referirá primariamente às cicatrizes 
emocionais e traumas psicológicos da infância. Muito mais, ela tomará uma 
perspectiva mais ampla, lidando radicalmente com todas as forças da 
ansiedade, medo e incredulidade que produzem pensamento e 
comportamento anti-bíblico. O ponto central da cura interior nesta 
perspectiva mais ampla é a morte sacrificial de Jesus e sua vitória através 
da ressurreição sobre o pecado e a morte, exatamente como aconteceu na 
estrada de Emaús. Deste ponto-de-vista, a cura interior é muito menos um 
fim em si mesma e muito mais um passo preliminar que capacita o cristão a 
conseguir a libertação (Gl. 5:1) e a maturidade espiritual, deixando de lado 
a forma egoísta e infantil de viver (I Co. 13:11-12). 
 
Os discípulos, apóstolos e crentes do primeiro século conheciam o Cristo 
crucificado e ressurreto como Senhor de toda a história - cósmica (Cl. 1:15-
23), racial (Ef. 2:11-20) e pessoal (Hb. 9:14). À medida em que eles 
seguiam Seu exemplo e a promessa de Sua eterna presença, eles eram 
libertos (e libertavam outros) do pecado, da doença física e psicológica e 
dos problemas emocionais, bem como do medo da morte e da falta de 
esperança que ela produz. Foi-lhes dada radicalmente uma nova base para 
a auto-estima, a qual não está baseada na mentira, ira ou outras formas de 
auto-afirmação. Esta nova base desafiou tanto a religião farisaica como 
sensualidade desenfreada. 
 
4. A PSICOLOGIA DA PESSOA INTEGRAL 
 
Existe comunhão entre psicologia e o Cristianismo? Esta questão, em seu 
sentido mais amplo, escapa do objetivo da nossa aula. Entretanto, o 
assunto é pertinente, desde que muito da "cura interior" está baseada em 
visão secular de como a nossa personalidade é formada e influenciada. 
 
Muitos elementos da psicologia secular, entretanto, são mais ambíguos; 
alguns são frontalmente contrários ao pensamento bíblico. Sigmund Freud 
é a maior fonte de tendência a se enfatizar o trauma infantil. Carl Jung foi 
seu aluno e colega que se envolveu superficialmente com ocultismo. Sua 
abordagem sistemática à compreensão da natureza da mente inconsciente 
se tornou influente nos anos 60 e 70. Muito dos conceitos de Jung têm sido 
empregados num modelo "carismático" por pessoas como John Sanford e 
Morton Kelsey. Portanto, Freud e Jung (para não mencionar outros) 
indiretamenteajudaram a delinear muitas das pressuposições do 
movimento de cura interior. Além do mais, algumas das técnicas utilizadas 
para resgatar memórias têm sido tomadas de empréstimos de terapias 
seculares. 
"Alguns praticantes da cura interior...não somente têm adotado um sub-
modelo da natureza humana; eles têm permitido que os próprios modelos 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
4 
se tornem parâmetros de interpretação da Bíblia." 
 
5. ALGUNS PARÂMETROS PARA O DISCERNIMENTO 
 
À medida em que consideramos estes fundamentos, teorias e técnicas, e 
tentamos pesar suas implicações, nós devemos ter me mente alguns 
fatores críticos. A cura do "interior do homem" é uma premissa biblicamente 
demonstrável. Por esta razão, nós precisamos abordar alguma idéias e 
métodos sobre cura interior com cautela. A admoestação de Jesus a seus 
discípulos de que fossem "prudentes como as serpentes e símplices como 
as pombas" (Mt. 10:16) nos colocará numa posição bem firme para que 
sejamos capazes de identificar as influências sub-cristãs sem sermos 
influenciadas por elas. 
 
A ênfase exagerada numa certa técnica na vida espiritual facilmente se 
torna uma tentativa de manipulação psíquica, um esforço de produzir uma 
experiência ou um encontro com Deus. Não há nada de intrinsecamente 
errado em se utilizar a imaginação na oração, mas a dependência de 
invocação imaginativa de imagens religiosas pode se tornar insana. O uso 
do termo "visualização de fé" não batiza semanticamente tais práticas. Os 
produtos da imaginação podem também ser convenientemente trazidos 
para o campo do desejo e do ego, enquanto que o Cristo vivo não pode. 
Uma ênfase extremada na confissão verbalizada pelo crente no movimento 
da "palavra da fé" é outro ensino aberrante o qual, sutilmente, se torna uma 
espécie de ocultismo. Nestas formas exageradas, a visualização da fé cria 
um "video-interior de Jesus", o qual pode ser manipulado para quase 
qualquer sentido. 
Da mesma forma, devemos estar atentos para os modelos psicológicos que 
se baseiam em visões anti-bíblicas da natureza humana. É também 
necessário identificar e rejeitar tecnologias terapêuticas que são utilizadas 
para sustentar tais modelos. Alguns praticantes de cura interior, 
infelizmente, não somente têm adotado um sub-modelo da natureza 
humana; eles têm permitido que os próprios modelos se tornem parâmetros 
de interpretação da Bíblia. Tais práticas se situam entre a aberração e a 
apostasia. 
 
Como já dissemos, existem ligações demonstráveis entre tais técnicas 
como a "visualização da fé" ou a "confissão positiva" e algumas formas de 
pensamento do ocultismo e da Nova Era. Os esforços de se voltar para o 
interior para encontrar a globalidade, pode levar-nos à "dimensão divina 
interna" do misticismo Neoplatônico ou aos "arquétipos" do inconsciente 
coletivo de Jung. Em ambos os casos, bem como num grande número de 
casos similares, o sujeito que busca termina ofuscado por um subjetivismo, 
o qual é racionalizado com termos originários da metafísica oriental e da 
psicologia humanística. 
 
Neste ponto, uma mudança da verdade bíblica para especulações humanas 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
5 
se torna base para uma séria confusão sobre a natureza da cura e, mais 
importante, sobre a natureza do praticante da cura. Neste novo papel, 
Jesus, o Messias, se torna em parte o terapeuta primal e em parte um 
xamã primevo. Nesta situação, uma tentativa de se fazer uma avaliação 
racional ou bíblica é negativamente rotulada como um "falta de fé", "apagar 
o Espírito" ou "bloquear o fluxo"; pode mesmo ser desprezada como uma 
"viseira". 
"A postura bíblica sobre a nossa natureza é, com certeza, uma avaliação 
verdadeira e mais confiável do que a feita por nossos medos, iras e 
memórias..." 
 
6. UMA QUESTÃO DE PRIORIDADES 
 
É razoável assumir que os problemas psicológicos e emocionais a que a 
igreja primitiva se referia eram tão complexos como os de hoje. Nós 
também vamos assumir que as soluções que ela aplicava são tão 
funcionais para hoje como eram no primeiro século. Não havia nenhuma 
necessidade de se renunciar à visão escriturística da condição humana ou 
de Jesus Cristo, a fim de fazerem estas soluções funcionarem. A imposição 
de mãos, a unção com óleo, a confissão mútua e a meditação direcionada 
eram alguns dos métodos empregados para produzir ambos, a cura interna 
e a cura externa. Os apóstolos foram estranhamente silenciosos, 
entretanto, sobre qualquer necessidade de reviver experiências 
relacionadas com a infância, ou sobre a prática de esfaquear o pai na 
imaginação, como alguns praticantes de cura interior têm aconselhado aos 
seus clientes. 
 
Com certeza, há abundantes benefícios psicológicos em se colocar Jesus 
como o centro radical de nossas vidas e afetos - mesmo acima e além de 
nossos laços familiares. Nós também somos chamados, entretanto, a 
meditar sobre coisas que estão acima e, de alguma forma é bom que se 
diga, que não estão nutrindo ressentimentos ou usando a nossa liberdade 
como desculpa para o mal (Ef. 4:26; I Pe. 2:16; Gl. 5:1). Existe uma 
considerável distância entre confessar a presença de um desejo negativo e 
dramaticamente realizá-lo - mesmo que na fantasia. 
 
Nós devemos evitar confundir o sagrado com a saúde. A cura da psique e 
emoções pode ser uma importante parte do nosso crescimento em direção 
à espiritualidade. Entretanto, ela não deve ser superestimada em 
detrimento de outros aspectos da santidade, nem deve se tornar um 
substituto deles . Nós devemos nos guardar da idéia de que os cristãos 
estão isentos de toda sorte de enfermidades, doenças e tentações e que, 
qualquer ocorrência deste tipo seja um ponto negativo em nossa condição 
espiritual. Por outro lado, é importante não perder de vista as variadas 
maneiras pelas quais Deus provê libertação de coisas que nos impediriam 
viver plenamente em Cristo. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
6 
7. AS MARCAS DA INTEGRIDADE ESPIRITUAL 
 
Cura espiritual pode ser considerada como tendo base bíblica. Se assim 
for, ela deve ser reconhecida como uma parte integral de nossa vida cristã. 
Três principais pontos nos ajudarão a discernir a consonância bíblica de 
cada forma em particular, de cura interior. Todos os três pontos são vitais 
para um entendimento equilibrado e seria desaconselhável isolar ou 
superestimar qualquer um destes elementos. 
 
Primeiro: A cura espiritual deve tocar o problema na sua fonte. O indivíduo 
deve ser liberto da prisão de uma memória em particular e do falso 
significado atribuído a ela. As feridas emocionais causadas pelo incidente 
que forçou a repressão de sua memória deve ser curada. Paulo fala de 
Deus como o Pai da compaixão (I Co. 1:3-4) e também enfatiza que a 
provisão do sangue de Cristo é um aspecto da Sua perfeita sabedoria (Ef. 
1:7-8). De fato, é a "contínua aspersão do Seu sangue" que guarda o 
coração e a consciência das "palavras mortas" (Hb. 9:14; 10:22) e nos 
liberta do cativeiro emocional destas palavras a fim de que possamos servir 
ao Deus vivo. 
 
Segundo: A cura interior deve quebrar padrões de respostas habituais e 
comportamentos que foram gerados em reação a um trauma inicial. A 
pessoa que está sendo curada deve cooperar ativamente neste processo, 
ao invés de reagir passivamente à instruções e manipulações do que 
ministra a cura interior. Toda redenção envolve o fazer escolhas e o 
exercício da nossa vontade. Uma vez que fomos convocados ao 
arrependimento e renovação, somos também chamados a abandonar 
velhas formas de responder às pessoas e circunstâncias (Cl. 3:12-17; I Pe 
2:1-3). Nós devemos portanto aprender novas atitudes e formas de lidar 
com estas situações (Ef. 4:22-24; I Pe. 1:5-9). 
 
Terceiro: A cura interior deve produzir mudanças pessoais que sejam 
compatíveis com a revelação das Escrituras, do nosso novo ego (eu) em 
Cristo. Isto deve estar combinadocom uma ênfase na confiança do que 
Deus nos diz sobre nós mesmos, mais do que nossos sentimentos podem 
dizer. A postura bíblica sobre a nossa natureza é, com certeza, uma 
avaliação verdadeira e mais confiável do que a feita por nossos medos, iras 
e memórias, sem mencionar as acusações do Adversário (Rm. 8:1-2). A 
cura interior deve nos ajudar a sermos reeducados (através da palavra de 
Deus) acerca de quem somos em Cristo. Uma vez que entendemos como 
Deus nos vê, bem como a provisão que Ele fez para o nosso crescimento, 
nós começaremos a desenvolver uma auto-estima que corresponde 
precisamente à nossa confiança na justiça de Cristo, mais do que em nossa 
própria (Rm. 12:3). 
 
Nós não temos que abandonar o ponto-de-vista bíblico ou o compromisso 
com o senhorio de Cristo a fim de podermos nos beneficiar da cura interior. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
7 
De fato, se tal necessidade for expressa ou se está implícita, é 
aconselhável reconsiderar a validade dos fundamentos que têm sido 
colocados. 
 
Jesus mesmo reconheceu o dilema fundamental da humanidade, bem 
como suas secundárias implicações emocionais e psicológicas. Ele 
reconheceu o problema de se atingir auto-estima diante em ambiente hostil 
e uma consciência igualmente hostil que foi imperfeitamente moldada por 
influências imperfeitas durante os anos de formação da pessoa. A 
consciência ainda não-redimida se torna um entrave na condição 
psicológica, o qual inevitavelmente produz sua própria dissolução (Rm. 8:6). 
Jesus sugeriu ao homem que a vida entregue a Ele e o fato de seguirmos 
seu exemplo - mesmo a sua morte como mártir - é uma carga mais fácil de 
ser suportada do que se lutarmos com as nossas próprias forças. (Mt. 
11:28-30). 
 
Parte II 
PNEUMATOLOGIA REFORMADA DE VERDADE! 
DEFINIÇÕES E DESAFIOS NICODEMOS LOPES 
 
O que é ser "reformado"? 
A primeira questão com a qual nos defrontamos ao abordar o tema desse 
pequeno ensaio é a de definir exatamente sobre o que estamos falando. O nosso 
assunto gira em torno da compreensão reformada sobre a pessoa e a obra do 
Espírito Santo. Mas, o que queremos dizer por "reformada"? 
 
Não existe unanimidade entre os que se consideram herdeiros da Reforma 
protestante quanto ao sentido do termo. Historicamente, o termo "reformados" foi 
usado a princípio indistintamente para todos os protestantes, calvinistas, luteranos 
e zwinglianos. Com as controvérsias entre eles sobre a Ceia, "reformados" passou 
a designar zwinglianos e calvinistas somente, em contraponto aos luteranos. E 
com o arrefecimento da importância de Zwinglio no cenário protestante, 
"reformados" passou a designar os calvinistas. Portanto, é historicamente correto 
afirmar que um entendimento reformado sobre o Espírito Santo tem a ver primaria 
e basicamente com a teologia calvinista sobre o Espírito Santo. Hoje em dia, 
muitas igrejas e denominações se utilizam do nome "reformada", mesmo que já 
tenham abandonado em grande medida partes fundamentais da teologia 
calvinista, inclusive a pneumatologia. O mesmo acontece com alguns pastores 
que consideram-se reformados apesar do fato de que não são calvinistas em sua 
doutrina. Assim, embora para alguns hoje ser reformado seja pertencer a uma 
igreja que historicamente descende da reforma protestante, ou ainda manter o 
espírito reformista que marcou os reformadores, é mais exato dizer que o conceito 
está ligado às principais convicções doutrinárias dos reformadores, 
particularmente às de João Calvino. 
 
Consequentemente, uma pneumatologia reformada é necessariamente aquela 
adotada pelas igrejas que são herdeiras do Cristianismo bíblico. É uma 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
8 
pneumatologia originada nas Escrituras e defendida por Agostinho, Calvino, e os 
puritanos, tendo sua expressão adequada nas confissões de fé reformadas. É 
uma pneumatologia derivada de uma leitura das Escrituras a partir dos 
pressupostos principais que guiaram esses homens, a começar com o alto apreço 
pelas Escrituras como Palavra de Deus, inspirada e infalível, e única regra de fé e 
prática da Igreja. À luz desta visão podemos definir pneumatologia reformada 
como sendo aquela compreensão da pessoa e da obra do Espírito Santo que 
parte da revelação divina grafada nas Escrituras, lida e interpretada da ótica da 
hermenêutica reformada, tendo como alvo a glória de Deus e o avanço do seu 
reino neste mundo. 
 
Se considerarmos que apenas os que se mantém leais aos principais pontos da 
doutrina calvinista podem ser realmente chamados de reformados, verificaremos 
que são poucos os verdadeiros reformados. Escreve o ex-calvinista Clark Pinnock: 
 
Tenho a forte impressão, confirmada até mesmo pelos que discordam dela, que o 
pensamento de Agostinho está perdendo sua influência nos evangélicos de hoje. 
Não são apenas os evangelistas que estão pregando um evangelho arminiano. É 
difícil até mesmo achar um teólogo calvinista hoje que esteja disposto a defender 
a teologia reformada em seus detalhes mais peculiares, em particular as opiniões 
de Calvino e Lutero. Eu não estou sozinho, especialmente agora que Gordon 
Clark faleceu e John Gerstner aposentou-se. 
 
Numa época em que o número de "reformados" comprometidos com a teologia 
calvinista é tão pequeno, não é de se estranhar que tendências teológicas, 
filosóficas e hermenêuticas, trazidas no bojo do pós-modernismo e do crescente 
movimento neopentecostal, se infiltrem nas igrejas historicamente reformadas, e 
descaracterizem, onde aceitas, a compreensão correta acerca do Espírito Santo. 
Tais ameaças já estão presentes, e que aparentemente vieram para ficar por um 
longo tempo. Entende-las agora é essencial para a preservação da identidade 
reformada quanto à obra do Espírito Santo no mundo e na Igreja. No que se 
segue, procuro detectar e analisar alguns destes desafios 
 
O Desafio Teológico: Pelagianismo 
 
O que é o Pelagianismo 
O primeiro desafio vem da área teológica, representado pelo pelagianismo, 
heresia antiga e já condenada pela Igreja, mas jamais erradicada do seu meio. O 
pelagianismo sustenta basicamente que todo homem nasce moralmente neutro, e 
que é capaz, por si mesmo, sem qualquer influência externa, de converter-se a 
Deus e obedecer à sua vontade, quando assim o deseje. Uma das grandes 
disputas durante a Reforma protestante versou sobre a natureza e a extensão do 
pecado original. Ele afetou Adão somente, ou todo o gênero humano? A vontade 
do homem decaído é ainda livre ou escravizada ao pecado? No século V Pelágio 
havia debatido ferozmente com Agostinho sobre este assunto. Agostinho mantinha 
que o pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que, mesmo 
que o homem caído retenha a habilidade para escolher, ele está escravizado ao 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
9 
pecado e não pode não pecar. Por outro lado, Pelágio insistia que a queda de 
Adão afetara apenas a Adão, e que se Deus exige das pessoas que vivam vidas 
perfeitas, Ele também dá a habilidade moral para que elas possam fazer assim. 
Ele reivindicou mais adiante que a graça divina era desnecessária para salvação, 
embora facilitasse a obediência. 
 
Agostinho teve sucesso refutando Pelágio, mas o pelagianismo não morreu. 
Várias formas de pelagianismo recorreram periodicamente através dos séculos. 
Lutero escreveu um livro "A Escravidão da Vontade" em resposta a uma diatribe 
de Erasmo, onde o mesmo defendia conceitos pelagianos. Lutero acreditava que 
Erasmo era "um inimigo de Deus e da religião Cristã" por causa do ensino dele 
sobre o pecado original. É bom notar que o Catolicismo medieval, sob a influência 
de Aquino, adotara um semi-pelagianismo, mesmo que na antigüidade houvesse 
rejeitado o pelagianismo puro. Neste sistema, acreditava-se que o homem 
cooperava com a graça de Deus para a salvação. 
 
No século XVIII, uma forma nova e levemente modificada de pelagianismo,apareceu, que foi o arminianismo. Existem algumas diferenças entre as duas 
posições, mas ambas são sinergistas (o homem coopera para sua salvação) e 
mantém o mesmo conceito de fé (uma decisão puramente humana de receber a 
Jesus Cristo, e não como um dom misericordioso de Deus). 
 
A influência de Charles Finney 
No século XIX, o evangelista americano Charles Grandison Finney reavivou o puro 
pelagianismo. Ele repudiou abertamente quase todas as principais doutrinas 
calvinistas (mesmo que tenha sido ordenado na Igreja Presbiteriana), em 
particular a doutrina de pecado original e da depravação total. É um grave erro 
histórico e teológico considerar Finney como "reformado" (alguns, exagerando, 
diga-se, nem desejam considerá-lo como evangélico). A metodologia evangelística 
de Finney teve tanto êxito, que ele se tornou um modelo para os evangelistas mais 
recentes. Embora o evangelicalismo americano não tivesse aceitado integralmente 
o pelagianismo de Finney, abraçou, entretanto, sua metodologia, uma forma de 
semi-pelagianismo que infectou a alma da sua teologia até o dia de hoje. Vários 
movimentos nasceram conscientemente da teologia de Finney, como a teoria do 
governo moral. 
 
Ameaças à doutrina do Espírito Santo 
O pelagianismo, em suas variadas formas contemporâneas, ameaça a doutrina 
reformada do Espírito Santo especialmente nas áreas da regeneração e da 
chamada eficaz, das seguintes maneiras: 
 
a) Reduz a regeneração do pecador a uma decisão de sua própria vontade. 
Finney rejeitou a idéia de que a regeneração fosse um milagre, uma 
transformação sobrenatural produzida pela ação soberana do Espírito no coração 
dos eleitos. Para ele, regeneração era a decisão do pecador em se voltar para 
Deus e obedecê-lo. Não poderia haver nenhuma transformação miraculosa, pois 
não havia o que transformar, já que o pecador é moralmente capaz de obedecer a 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
10 
Deus. Após a negação de pecado original, foi somente um passo para que Finney 
negasse a doutrina da regeneração sobrenatural. O sermão mais popular de 
Finney, pregado na Igreja da Rua do Parque, em Boston, foi intitulado "Os 
Pecadores Devem Mudar os Próprios Corações". Para ele, não há nada na 
religião que ultrapasse os poderes ordinários de natureza. "Religião é obra do 
homem", disse ele. "Consiste tão somente no emprego apropriado dos poderes 
naturais. É somente isso e nada mais" 
 
b) Reduz a chamada eficaz do Espírito Santo a uma mera persuasão moral. Para 
Finney, a obra do Espírito limita-se ao exercício de influências morais no pecador, 
mas "a conversão em si ... é ato do próprio pecador", afirma ele em sua Teologia 
Sistemática (p. 236). O ensino calvinista é que o Espírito de Deus, através do 
ministério da Palavra, chama irresistivelmente o eleito, regenerando-o e assim 
habilitando-o a responder positivamente em fé à oferta das boas novas do 
Evangelho. Essa chamada é irresistível, embora não se constitua uma violação da 
vontade do pecador. No conceito pelagiano (ou semi-pelagiano), o Espírito de 
Deus apenas se esforça para persuadir os pecadores, cabendo a estes em última 
análise a decisão e a capacidade de converter-se e tornar para Deus, exercendo 
fé em Cristo. 
 
O desafio do pelagianismo em suas formas contemporâneas para a identidade 
reformada é alarmante. O pentecostalismo, em seu crescimento assombroso na 
América Latina e no Brasil, traz em seu bojo, além de várias outras ameaças e 
desafios, os principais conceitos do antigo pelagianismo, e desafia as igrejas 
reformadas a rever o conceito calvinista da atuação do Espírito Santo na 
regeneração e salvação do pecador. Os pentecostais são hoje mais de 450 
milhões no mundo. Com o crescimento do pelagianismo no Brasil, a identidade 
reformada das igrejas que assim se consideram fica ameaçada, no que respeita à 
obra do Espírito Santo na conversão dos pecadores. 
 
Mas o desafio maior vem de dentro das próprias igrejas históricas. Não são muitos 
os "reformados" que aderem coerentemente à doutrina calvinista da depravação 
total. Embora possam afirmá-la em princípio, acabam sendo incoerentes por 
também acreditar que o pecador tem a "capacidade moral de se voltar para Deus". 
Praticamente ninguém hoje declararia, "eu sou um pelagiano, ou semi-pelagiano", 
primeiro, por que toda a Cristandade condenou no passado essa heresia, e 
segundo, por que poucos que adotam esta linha têm idéia do que o pelagianismo 
significa. Muitos ministros de igrejas reformadas provavelmente ofereceriam as 
respostas corretas em um exame teológico, entretanto, operam em seus ministério 
como se essas convicções não tivessem absolutamente nenhuma conseqüência. 
 
Os Desafios Filosóficos: Pluralismo e Pragmatismo 
 
O pluralismo religioso 
Um outro desafio de imensas proporções vem de duas filosofias características do 
período pós-moderno em que vivemos. A primeira delas é o pluralismo. Como o 
nome já indica, essa filosofia defende a pluralidade da verdade, ou seja, que não 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
11 
existe uma verdade absoluta, mas sim verdades diferentes para cada pessoa. 
Esse conceito é ambíguo, mas definitivamente já faz parte integrante da nossa 
cultura presente. Ele defende o relacionamento de pessoas com ideologias 
diferentes, sem que uma tenha de sujeitar suas convicções ao domínio da outra. A 
idéia de converter alguém às suas próprias convicções é politicamente incorreto. A 
chave está na valorização da negociação e da cooperação em lugar de se tentar 
provar que se está certo ou errado. 
 
O pluralismo religioso, por sua vez, prega o abandono da "arrogância" teológica do 
cristianismo, nega que exista verdade religiosa absoluta, e exalta a experiência 
religiosa individual como critério último para cada um. Por exemplo, o padre 
católico Raimundo Panikkar, descendente de hindus, escreveu um artigo onde 
defende que isolacionismo já não é mais possível na sociedade globalista em que 
vivemos. Embora afirme que aceitar o pluralismo religioso não signifique o mesmo 
que aceitar o relativismo, deixa claro que a experiência religiosa individual é a 
chave para a convivência pluralista. Diz ele, "No momento eu estou 
experimentando o amor de Deus por mim em Cristo Jesus, e por este motivo eu 
sei com perfeita clareza que ele é o caminho, a verdade e a vida". 
 
O pluralismo religioso defende uma nova teoria missiológica, onde não mais se 
prega a necessidade de conversão de outras religiões ao cristianismo, e sim a 
cooperação entre todas as religiões, naquilo que têm em comum. O pressuposto é 
que o cristianismo não é o único caminho para Deus, embora seja o melhor, e que 
Deus está agindo salvadoramente no âmbito de outras religiões, como as religiões 
orientais. 
 
O pragmatismo religioso 
A outra filosofia é o pragmatismo. Seu popularizador, o psicólogo americano 
William James, afirmou que idéias humanas eram verdadeiras se funcionassem ou 
fossem úteis para resolver problemas. Já que o funcionamento e utilidade das 
idéias variam de contexto para contexto, segue-se que a verdade é relativa. No 
dizer de Francis Schaeffer, é um sistema de pensamento que faz das 
conseqüências práticas de uma crença o critério supremo da sua verdade. O 
pragmatismo dominou rapidamente a cultura americana e estendeu-se para além 
das suas fronteiras. Adotar as coisas que realmente preservam a paz individual e 
uma situação financeira confortável, sem qualquer preocupação com princípios 
fixos de certo ou errado é evidentemente a idéia que controla procedimentos 
internacionais, domésticos e individuais. Princípios absolutos tem pouco ou 
nenhum lugar no pensamento ocidental moderno. 
 
Não devemos, portanto, pensar que o pragmatismo é um fenômeno ocidental. Seu 
princípio fundamental é inerente ao coração humano. Uma das 4 premissas 
básicas do substrato filosófico e religioso da Ásia, por exemplo, pode ser resumida 
neste parágrafo: "É direito decada pessoa religiosa aceitar e praticar qualquer 
maneira de viver que achar útil ao seu modo de pensar e às suas circunstâncias 
sociais peculiares". 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
12 
Desafios do Pluralismo e do Pragmatismo para a doutrina do Espírito Santo 
O pluralismo e o pragmatismo andam geralmente de mãos dadas. Onde o 
conceito de verdade absoluta deixa de existir (pluralismo), as pessoas e as 
organizações passam a orientar as suas decisões em termos daquilo que mais 
satisfaz as suas necessidades (pragmatismo). A combinação destas duas 
filosofias aparece claramente em vários movimentos presentes nas igrejas 
evangélicas, e representam um novo desafio ao cristianismo em geral e aos 
calvinistas em particular. A pergunta que as pessoas fazem com relação ao 
cristianismo não é se ele é a verdade ou não, mas simplesmente se funciona. Elas 
querem saber se vai mudar a vida delas para melhor, se Cristo realmente é 
poderoso para transformá-las, e pode dar-lhes paz, alegria, esperança e propósito 
às suas existências. 
 
Ambas as filosofias trazem sérios desafios a alguns aspectos da pessoa e obra do 
Espírito Santo: 
 
1) Quanto à extensão da operação ou atividade salvadora do Espírito Santo. O 
calvinismo ensina uma distinção nas operações do Espírito Santo, que está 
relacionada com os conceitos de graça comum e de graça especial. A graça 
comum refere-se à atuação do Espírito Santo no mundo em geral, preservando 
valores morais e trazendo benefícios materiais, sobre todos os homens 
indistintamente de suas crenças religiosas. A graça especial refere-se à operação 
salvadora do Espírito, restrita apenas aos eleitos, regenerando-os, iluminando-os 
e santificando-os pelo Evangelho de Cristo. O pluralismo religioso ameaça esse 
conceito, pois ensina que o Espírito de Deus age salvadoramente em todos os 
homens indistintamente de suas religiões, sem se restringir ao âmbito do 
cristianismo. Um exemplo de pluralista cristão que defende esse ponto é o ex-
calvinista Clark Pinnock. 
 
2) Quanto à relação entre a Palavra e o Espírito. O calvinismo ensina a relação 
indissolúvel entre a atuação do Espírito Santo e a Palavra de Deus. O Espírito 
atua graciosamente através da Palavra; por sua vez, a Palavra funciona como 
critério para reconhecermos a atividade do Espírito, em contraste com a atividade 
de espíritos malignos ou do espírito humano. O pluralismo e o pragmatismo 
ameaçam este conceito. O primeiro, porque divorcia a atuação salvadora do 
Espírito da verdade bíblica, como vimos no item anterior. E o segundo por 
enfatizar a validade de experiências religiosas à parte de seus conteúdos 
teológicos, ameaçando assim da mesma forma a relação entre o Espírito e a 
Palavra. 
 
3) Quanto à soberania do Espírito de Deus em converter pecadores e aumentar a 
Igreja. Segundo o ensino calvinista, o aumento da Igreja através da conversão de 
pecadores é uma obra soberana do Espírito Santo, através dos meios secundários 
que Deus mesmo determinou. A Igreja deve evangelizar ardorosamente, 
dependendo porém da operação soberana do Espírito Santo quanto aos 
resultados. O pragmatismo representa um desafio para essa convicção calvinista, 
pois enfatiza o emprego de métodos, estratégias e técnicas tiradas do marketing 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
13 
secular e de ciências sociais como sociologia e psicologia, através das quais a 
igreja poderá crescer. O sucesso ou fracasso de igrejas locais no aumentar o 
número de seus membros é relacionado, não à soberania do Espírito de Deus, 
mas ao uso desses métodos. Embora calvinistas defendam o planejamento das 
atividades missionárias e evangelísticas da Igreja, têm entretanto sérias reservas 
quanto ao planejamento de resultados, uma estratégia que faz parte do 
pragmatismo do moderno movimento de crescimento de igrejas. 
 
Influência generalizada do pluralismo e do pragmatismo entre os protestantes 
O pluralismo e o pragmatismo têm infectado o cristianismo mundialmente. O tema 
da salvação em outras religiões foi discutido recentemente na Assembléia Geral 
do Concílio Mundial de Igrejas. O relatório apresentado trouxe debate 
considerável. Uma consulta teológica na suíça patrocinada pelo CMI, composta 
por 25 teólogos, trouxe as seguintes conclusões: 
 
Através da história, pessoas tem encontrado a Deus no contexto de várias 
religiões e culturas diferentes. 
Todas as tradições religiosas são ambíguas, isto é, uma combinação do que é 
bom e do que é ruim. 
É necessário progredir além de uma teologia que confina a salvação a um 
compromisso pessoal explícito com Jesus Cristo. 
Em algumas denominações o pluralismo tem sido proposto como filosofia oficial, 
como na Igreja Metodista Unida, dos Estados Unidos. Nas igrejas brasileiras que 
se consideram reformadas, a ameaça vem por diversas avenidas, trazendo sérios 
desafios à doutrina calvinista do Espírito Santo. Eis algumas dessas maneiras 
pelas quais o pragmatismo e o pluralismo têm invadido as igrejas históricas: 
 
a) A adoção de uma liturgia neopentecostal, particularmente a ênfase na 
experiência. O culto hoje em igrejas evangélicas que adotaram esta ênfase, é 
geralmente uma adaptação comunitária do pragmatismo americano, onde todos 
fazem o que gostam, e todos gostam do que fazem. 
 
b) O impacto do movimento de crescimento de igreja na área de missões e 
evangelização das denominações, missões paraeclesiásticas, e das igrejas locais. 
Mesmo as igrejas reformadas não tem escapado à penetração dessas influências 
mencionadas acima. Embora o movimento tenha levado a Igreja a repensar mais 
corretamente a sua metodologia missionária, por outro lado, tem provocado 
reações por parte de calvinistas quanto à seus pressupostos semi-pelagianos e 
sua metodologia claramente pragmatista. 
 
A influência dessas filosofias pós-modernas pode ser percebida ainda de outra 
maneira. Uma equipe de pesquisa composta de 60 estudiosos e mais de 100 
sócios completou um estudo sobre o presbiterianismo americano, no seminário 
presbiteriano de Louisville, nos EUA. Uma das suas conclusões é que no século 
XX a denominação sofreu de uma doença teológica, com muitos presbiterianos 
evitando posições firmes e claras na área teológica porque diferenças doutrinais 
tendem a produzir conflito ou divisão. Essa é a razão por que eles tentaram em 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
14 
anos recentes resolver problemas potencialmente divisivos em termos políticos e 
não teológicos. 
 
A diversidade de perspectivas teológicas dentro das denominações presbiterianas 
tem origem na escolha enfrentada em 1927 pela Igreja Presbiteriana nos Estados 
Unidos de América (PCUSA). A denominação teve que decidir entre subscrever a 
um conjunto fixo de doutrinas ou permitir uma diferença maior entre opiniões 
teológicas. A Igreja decidiu por não delinear as doutrinas exatas que todos os 
presbiterianos teriam que aceitar, uma decisão consistente com o presbiterianismo 
histórico daquele país. Debates doutrinários haviam sido freqüentes no passado, 
com divisões acontecendo sempre que as disparidades ficavam intoleráveis. A 
pergunta agora é se o pluralismo teológico produziu alguma teologia que tenha 
bastante substância. O pluralismo promete enriquecer a teologia mas na realidade 
tende a dilui-la em opções múltiplas que não são coerentes nem persuasivas. E a 
identidade reformada quanto à ação do Espírito tende a desaparecer. 
 
O Desafio Hermenêutico: Neopentecostalismo 
 
O que é o neopentecostalismo 
Por neopentecostalismo quero dizer aqueles movimentos surgidos em décadas 
recentes, que são desdobramentos do pentecostalismo clássico do início do 
século, mesmo que abandonaram algumas de suas ênfases características e 
adquiriram marcas próprias, como ênfase em revelações diretas, curas, batalha 
espiritual, e particularmente uma maneira sobrenaturalista de encarar a realidade 
espiritual.A hermenêutica destes movimentos é caracterizada por uma leitura das Escrituras 
e da realidade sempre em termos da ação sobrenatural de Deus. Deus é 
percebido somente em termos de sua ação extraordinária. Para o neopentecostal 
típico, Deus o guia na vida diária através de impulsos, sonhos, visões, palavras 
proféticas, e dá soluções aos seus problemas sempre de forma miraculosa, como 
libertações, livramentos, exorcismos e curas. A doutrina que define, mais que 
qualquer outra, as igrejas evangélicas no Brasil hoje, é a crença em milagres. É 
claro que não estou dizendo que crer em milagres seja errado. O que estou 
dizendo é que, na hora que a crença em milagres contemporâneos e diários passa 
a ser a característica maior da igreja evangélica, algo está errado. 
 
Desafios para a doutrina do Espírito Santo 
A hermenêutica sobrenaturalista do neopentecostalismo representa um desafio 
para a identidade reformada pois tende a menosprezar uma das doutrinas típicas 
do calvinismo, que é a providência de Deus. Partindo das Escrituras, os 
reformados usam o termo providência para se referir à ação de Deus, pelo seu 
Espírito, agindo no mundo através de pessoas e circunstâncias da vida para 
atingir seus propósitos. Esses meios não são intervenções miraculosas ou 
extraordinárias de Deus na vida humana, mas simplesmente meios naturais 
secundários. Os calvinistas reconhecem que Deus intervém miraculosamente 
neste mundo, mas sempre em regime de exceção. Normalmente, ele age através 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
15 
dos meios naturais. 
 
O neopentecostalismo, por enfatizar a ação sobrenatural e miraculosa de Deus no 
mundo (a qual não negamos, diga-se), acaba por negligenciar a importância da 
operação do Espírito Santo através de meios secundários e naturais. Essa 
negligência torna-se mais séria quando nos conscientizamos que o Espírito 
normalmente trabalha através de meios secundários e naturais para salvar os 
pecadores. Acredito não ser difícil de provar que a esmagadora maioria dos 
cristãos foram salvos através de meios naturais – como o testemunho de alguém, 
a leitura da Bíblia, a pregação da Palavra – e não através de intervenções 
miraculosas e extraordinárias, como foi a conversão de Paulo. 
 
Como resultado do sobrenaturalismo neopentecostal, as igrejas reformadas por 
ele afetadas tendem a considerar os meios naturais como sendo espiritualmente 
inferiores. Um bom exemplo é a tendência de não se tomar remédios, como sendo 
falta de fé. Um outro resultado é a diminuição da pregação do Evangelho como 
meio de salvação dos pecadores, e a ênfase nos milagres como meio 
evangelístico. Assim, a obra do Espírito na Igreja e no mundo através dos meios 
naturais secundários é negligenciada, com graves e perniciosos efeitos nas vidas 
dos que abraçam a cosmovisão neopentecostal. 
 
Conclusão 
Esses desafios à identidade reformada quanto à ação do Espírito Santo já se 
encontram presentes em nosso meio, e prometem persistir por ainda muito tempo. 
Alguns dos movimentos contemporâneos que trazem no bojo de seus 
pressupostos e de sua metodologia esses desafios, continuam a crescer no Brasil, 
e a influenciar as igreja reformadas. Esses movimentos, como o reavivalismo, 
crescimento de igrejas, batalha espiritual e ecumenismo forçam as igrejas 
reformadas a reavaliar o que crêem quanto à ação do Espírito na Igreja e no 
mundo. O desafio é que façamos isso procurando cada vez mais conformar essas 
crenças com o ensino das Escrituras Sagradas, a Palavra de Deus, e com a nossa 
tradição calvinista. 
 
Parte III 
NÓS TAMBÉM RESSUCITAREMOS 
 1Coríntios 15 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Precisamos começar nosso estudo sobre a escatologia confessando nossa 
ignorância. Nós sabemos muito pouco, mas sabemos o mais importante: nosso 
futuro está guardado no Livro da Vida, escrito por Deus. 
 
2. VIVENDO EM FUNÇÃO DA RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO 
 
Os versos 3 e 4, complementados pelos versos 5 a 8, formam uma síntese do 
Evangelho. Foi este o conteúdo que Paulo recebeu e transmitia. (Porque 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
16 
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos 
pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao 
terceiro dia, segundo as Escrituras; que apareceu a Cefas, e depois aos doze; 
depois apareceu a mais de 500 irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior 
parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os 
apóstolos; e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um 
abortivo. 
 
2.1. A narrativa da ressurreição 
Este é o Evangelho que nós recebemos e devemos transmitir. Por isto, 
precisamos começar falando do fato da ressurreição de Jesus e o faremos 
primeiramente de forma poética. 
 
ELOGIO À MULHER 
 
O teu olhar para dentro da noite 
é o olhar de quem busca a vida 
e não teme o sepulcro. 
 
A tua lágrima que salta de dentro 
é a lágrima de quem perdeu 
toda a luz que da alegria nasce. 
 
A tua visão de dois anjos na noite 
é a visão de quem enxerga o mistério 
e ouve a sua voz em meio ao silêncio triste. 
 
Soluça, mulher, maria , madalena, 
que no fundo dos teus olhos 
dois anjos proclamarão a manhã. 
 
Chora, mulher, maria, madalena, 
que nos intervalos dos teus soluços 
ouvirás a palavra de quem procuras. 
 
Mulher, reclama o corpo que roubaram. 
Ladrões, para onde o levaram? 
Mulher, de quem é esta voz que te olha? 
De quem é este olhar que te chama? 
Olha, mulher, e vê que é rosto do homem que querias morto. 
 
E agora tu o chamas pelo nome das flores. 
E agora tu o vês pela imagem das águas 
antes que ele Deus todo seja 
e marche para o azul ao encontro deste Pai 
que se fez filho conosco 
e se deixou enterrar nas horas das pedras 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
17 
 
Tu o viste, não entre a reclusão das lápides, 
nem a respirar a quietude dos troncos tombados, 
mas a caminhar por entre as pétalas, 
a ouvir o teu lamento sem luz. 
 
Tu o viste, não a anunciar a vitória da noite, 
nem a chorar a dor por quem partiu para sempre, 
Mas a proclamar o sorriso suave dos teus lábios, 
tu que sorriste com ele 
na mais feliz de todas as madrugadas: 
quando a rocha se fendeu 
e ele pôde enxugar da fronte o orvalho que anunciava a sua ressurreição. 
(Israel Belo de Azevedo) 
 
2.2. O fato da ressurreição (v. 11-11,20) 
A morte de Jesus é um fato histórico não mais questionado e, junto com ele, o seu 
sepultamento. No entanto, a sua ressurreição tem sido questionada em sua 
veracidade histórica e isto não é de hoje. Também, e igualmente não de hoje, tem 
sido questionada fortemente a possibilidade da ressurreição dos homens no final 
dos tempos, especialmente pela dificuldade de elas (tanto a de Jesus quanto a 
dos cristãos) fazerem sentido à luz da razão. 
 
2.2.1. Contestações à ressurreição 
Quanto à ressurreição de Jesus, os argumentos em contrário, são, entre outros: 
 
A falta de documentos extrabíblicos que a registrem; 
As contradições nas narrativas bíblicas sobre o mesmo fenômeno; 
A impossibilidade da ressurreição à luz da razão; 
A natureza não essencial da ressurreição para a fé cristã. 
Quanto à ressurreição dos mortos em geral, argumenta-se que o fenômeno, tal 
como aconteceu com a de Cristo, não tem amparo na razão, à qual devem estar 
subordinados todos os fatos. 
 
2.2.2. Respostas às contestações 
De fato, não há narrativas extrabíblicas para o fato da ressurreição de Jesus. Não 
o há também para o nascimento e para a morte de Jesus. 
 
A ressurreição é apontada como um fato essencial para a fé. O apóstolo Paulo 
várias vezes o afirma, deixando bem claro, em Romanos 10.9-10, que a salvação 
vem pela confissão de Jesus Cristo como Senhor e pela crença de que o Pai 
ressuscitou Jesus dentre os mortos. 
 
Quanto às chamadas contradições, tratam-se antes de narrativas com focos 
particulares. Cada testemunha narrou segundo a sua perspectiva esegundo o que 
viu. Aliás, o teórico comunista Karl Kautsky começou a levantar estas contradições 
para desmascarar o Cristianismo. Sua conclusão, que ajudou a expulsá-lo do 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
18 
Partido Comunista foi outra: se a ressurreição de Jesus fosse uma lenda, as 
versões seriam previamente combinadas; o fato de guardarem uma subjetividade 
entre elas é uma evidência que nada foi inventado. Por isto tem razão também 
outro não cristão, o historiador judeu Pinchas lapide, para quem a ressurreição é a 
certidão de nascimento do Cristianismo. 
 
Os símbolos cristãos são símbolos da Ressurreição. O que é o batismo? A 
imersão simboliza a morte para o pecado e a ressurreição para uma nova vida. O 
que é a Ceia, senão a afirmação da morte de Cristo e sua volta, que só é possível 
por ter ressuscitado. 
 
Não podemos esquecer ainda que parte das testemunhas do túmulo vazio era 
formada por mulheres. Se a história fosse uma lenda, seus inventores não 
colocariam essas narrativas nas bocas das mulheres, incapazes, na lógica da 
época, da falar a verdade e, portanto, indignas de crédito. Que judeu iria crer 
numa ressurreição testemunhada por mulheres. 
 
Há outra evidência interessante. Quanto custou para os primeiros a fé na 
ressurreição? Além do escárnio, muitos pagaram com a vida. Não seria razoável 
morreriam por uma lenda. Eles pregaram o Evangelho da Ressurreição como 
testemunhas. 
 
Alguém dirá que Paulo não foi testemunha ocular e, de fato, não o foi. Ele pelo se 
autodenomina de apóstolo (testemunha) nascido fora do tempo (v.8). Os 
versículos 3 e 8, especialmente 3 e 4, não são da lavra do Paulo, que afirma tê-los 
recebido. Quando ele começou a pregar, já pregava segundo as Escrituras, isto é, 
segundo o que recebera de outras testemunhas. A fé na Ressurreição não foi 
inventada por Paulo. A fé na Ressurreição não foi inventada por Paulo. Ele creu 
nela depois que o próprio Jesus lhe apareceu e depois do que aprendeu com os 
outros cristãos. 
 
Se é difícil crer na Ressurreição de Jesus, e o é, porque fruto da fé, é mais difícil 
ainda crer nas idéias, há muito esposadas, que o corpo dele foi, na verdade, 
roubado. 
 
Os antigos judeus não sustentaram esta farsa diante de José de Arimatéia. Mais 
recentemente, muitos creram noutro delírio: que ele não ressuscitou, mas se 
reincarnou. Há gente de provas documentais e racionais para a perspectivas cristã 
leva pessoas a forjarem teses delirantes, sem qualquer apoio documental 
contemporâneo e sem qualquer elemento de racionalidade. 
 
O problema do crivo racional é tão sério que até mesmo cristãos, como Rudolf 
Bultmann, no início do século 20, chegaram a considerar como não essencial a 
ressurreição de Jesus. Ensinava aquele teólogo que o importante era ter a fé que 
os primeiros cristãos tiveram, pouco importando a historicidade desta fé. 
 
3. A FELICIDADE DA FÉ NA RESSURREIÇÃO 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
19 
 
Paulo cria na Ressurreição como um fato histórico e deriva o fato da nossa própria 
ressurreição daquela. 
 
É como ele que devemos crer. Ele lembra que a crença na Ressurreição era parte 
da pregaçào da Igreja. O autor de !Coríntios relaciona esta ressurreição com a 
nossa. (Se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou. E se 
Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé, e somos tidos 
como falsas testemunhas de Deus. (...) Se a nossa esperança em Cristo se limita 
apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. (v. 12-19) 
 
Sem a fé na Ressurreição de Cristo e sem a esperança em nossa ressurreição no 
fianl dos tempos, nós somos infelizes. 
 
Por que somos infelizes sem a Ressurreição? 
 
Somos infelizes porque cremos numa Bíblia que nos ensina uma farsa e nos faz 
crer numa lenda ou numa alucinação coletiva, mas acontecia em blocos, porque 
pessoas isoladas e grupos viram Jesus com o corpo glorificado. 
Somos infelizes porque cremos num Cristianismo, que faz de uma lenda o pilar do 
seu conteúdo existencial e teológico. 
Somos infelizes porque abrimos mão da bênção regeneradora da ressurreição 
(1Pedro 1.3). Sem a ressurreição, o evangelho está incompleto. Sem a 
ressurreição não podemos ser salvos. Não há poder na mentira. 
Somos infelizes porque abrimos mão da fé para ficar com a razão, razão que 
matou Jesus Cristo, razão que foi insuficiente (junto com a Lei) para levar o 
homem ao reencontro com Deus, razão que não faz nenhum de nós um salvo por 
Cristo no presente e no futuro. Aliás, o século 20, o século da razão por 
excelência, é a maior prova da falácia e da insuficiência da razão, pois foi o século 
com maior número de guerras e de vítimas de toda a história da humanidade. 
Nós temos esquecido que Cristo ressuscitou. Tem feito pouca diferença em 
nossas vidas a esperança de que ressuscitaremos. 
 
Como Paulo, precisamos crer na Ressurreição de Jesus, por se tratar de uma das 
colunas da fé cristã. 
 
Mais que crer, precisamos viver como se crêssemos na Ressurreição, porque 
somos capazes de cantar e declarar que cremos em algo sem viver como se 
crêssemos. 
 
Cristo ressuscitou para que nós pudéssemos ressuscitar -- eis o fundamento de 
nossa própria esperança. 
 
4. UMA VIDA RADICALMENTE DIFERENTE 
 
Na primeira parte do capítulo, o apóstolo Paulo põe todo o seu argumento na 
certeza da ressurreição de Cristo e dela deriva a esperança da nossa. Precisamos 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
20 
ficar com esta ênfase: se não vamos viver uma vida pós-humana, somos 
lastimáveis humanos. A ressurreição de Jesus e a nossa não são temas apenas 
de natureza especulativa, mas de ordem existencial. 
 
O argumento da indispensabilidade da ressurreição é repetido nas partes 
seguintes do mesmo capítulo. Conquanto o apóstolo não detalhe o chronos do 
que há de vir, oferece-nos uma visão bastante ampla da existência pós-histórica. 
 
4.1. Entre o fanatismo milenista e o fatalismo secularista 
Os temas relacionados à escatologia têm sido tratados de duas maneiras 
antitéticas: uma se aproxima da superstição e outra compõe a fila do paganismo. 
 
Essas duas tendências são retratadas neste capítulo 15 de 2Coríntios, 
especificamente nos versículos 29 e 32. 
 
4.1.1. O milênio como superstição 
No verso 29, o apóstolo Paulo menciona que em Corinto havia cristãos que se 
batizavam por antepassados mortos. (De outra maneira, que farão os que se 
batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que 
então se batizam por eles?) Esses cristãos estavam tão certos que Cristo voltaria 
para aquela geração que, para salvar seus queridos já mortos, lançavam-se às 
águas do batismo, achando que assim contribuiriam para a remissão dos pecados 
deles e os preparariam para o juízo final próximo. 
 
A propósito, os mórmons, com cujos representantes cruzamos a todo instante 
pelas ruas da cidade, ensinam, a partir deste versículo, que os cristãos de hoje 
devem se batizar pelos seus parentes não cristãos para que eles possam ser 
salvos. É uma espécie de quebra de maldição ao contrário. Esses intérpretes 
preferem ignorar o fato que, quando Paulo menciona batismo pelos mortos, ele 
não a recomenda, mas apenas a sua para argumentar o seu absurdo... Além 
disso, eles se esquecem da verdade bíblica essencial, segundo a qual nós somos 
julgados quando, em vida, escolhemos aceitar ou recusar o sacrifício de Jesus 
Cristo por nós. Como diz o evangelista João, quem crê [em Jesus] não é julgado; 
mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho 
de Deus (João 3.18). 
 
O fanatismo coríntio, no entanto, encontrou entre os tessalonicenses outra 
expressão. Muitos deixaram os seus empregos e suas escolas, certos que a volta 
iminente de Cristo tornava inúteis o trabalho e o estudo. Ao longo da história, este 
erro foi várias vezes cometido. Centenas de líderes fanáticos marcaram datase 
lugares para a parousia. Todos fracassaram, como fracassarão todos que 
continuarem a fazê-lo e muitos ainda o farão. Há pessoas que querem saber mais 
que Jesus, que garantiu que aquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os 
anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai (Mateus 24.36). Devemos, portanto, 
tomar cuidado com as escatologias calendaristas, aquelas que, olhando os 
inequívocos sinais da proximidade do fim da história, equivocam-se ao marcar, 
com certeza, esquemas e datas. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
21 
 
4.1.2. O milênio distante 
A segunda tendência Paulo a menciona de passagem no versículo 32, quando 
transcreve um dos argumentos da filosofia epicurista, bastante aceita à época. 
(Se, como homem, combati em Éfeso com as feras, que me aproveita isso? Se os 
mortos não são ressuscitados, comamos e bebamos, porque amanhã 
morreremos.) 
 
Contrariamente àqueles que vivem como se o mundo fosse explodir pelos ares 
ainda hoje, os secularistas de Corinto e de nossa cidade vivem na perspectiva que 
isto jamais acontecerá ou, se acontecer, está muito distante. Nesta visão, a 
história não tem um sentido. Sartre, que embalou as duas gerações do pós-
guerra, ensinava que a vida não tem sentido; só o presente importa. Epicuro, no 
passado remoto, e Sartre, no passado recente, têm corrompido a nossa teologia 
prática. Em Corintio e em nossa cidade, as más companhias corrompem os bons 
costumes (verso 33). Por isto, o apóstolo recomenda: Acordai para a justiça e não 
pequeis mais; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para 
vergonha vossa (verso 34). Em outras palavras, quem está neste caminho 
secularizado deve acordar para a justiça, isto é, para a verdade do Evangelho, e 
não pecar mais seguindo vergonhosamente teorias e perspectivas contrárias à 
Palavra de Deus. 
 
Para os existencialistas de ontem ou de hoje, Cristo voltará, mas não para esta 
geração. Logo, o importante é viver o agora. Há cristãos para os quais a parousia 
não significa nada; é como se não fosse algo relevante, embora haja uma 
profusão de textos bíblicos a respeito e todo um livro para a descrever, o 
Apocalipse. 
 
O tema da escatologia afugenta a muita gente, por suas dificuldades e pelas 
muitas discordâncias entre os estudiosos do assunto. Além disso, de tanto se falar 
que a volta de Cristo está próxima, ela acaba vista como sendo algo distante... 
 
No século 19 houve também uma tendência explícita, a de que o homem 
construiria uma sociedade com tal grau de perfeição, pela influência do 
Evangelho, que não haveria necessidade de Cristo voltar. O progresso 
educacional, moral, científico e tecnológico a nova terra. Nós reescreveríamos os 
apóstolos: Cristo não precisaria voltar; nós é que iríamos ao seu encontro, ao 
realizarmos seu projeto. Hoje não se enuncia esta teologia, mas se vivencia esta 
teologia imanentista, o que é pior. 
 
4.1.3. Uma visão bíblica 
Diferentemente destas visões equivocadas, precisamos de uma visão bíblica 
acerca do presente e do futuro. O nosso presente é possível porque no passado 
Jesus Cristo morreu e ressuscitou por nós. O nosso presente é possível porque no 
futuro Jesus Cristo voltará para nos fazer ressucitar e viver para sempre com Ele 
num tipo de vida radicalmente diferente da que conhecemos e experimentamos. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
22 
Nossa visão de Jesus Cristo deve ser tão forte que nos leve a viver como Paulo, 
que perguntava: E por que nos expomos também nós a perigos a toda hora? Sua 
resposta era veemente: Eu vos declaro, irmãos, pela glória que de vós tenho em 
Cristo Jesus nosso Senhor, que morro todos os dias (versos 30 e 31). Nós 
vivemos segundo o que cremos. Se cremos que Jesus Cristo veio, nós o 
oferecemos a todos quantos podemos; se cremos que Ele voltará, queremos que 
outras pessoas nos acampanhem nesta jornada sem fim pelo tempo sem relógio 
da eternidade. 
 
5. A HISTÓRIA TEM SENTIDO 
 
O estudo da escatologia, como ensinada pelo apóstolo Paulo, no capítulo 15 de 
1Coríntios, nos mostra que a história tem um sentido. 
 
Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver 
destruído todo domínio e toda autoridade e todo poder. 
 
Pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de 
seus pés. (Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte.) Pois se lê: "Todas as 
coisas sujeitou debaixo de seus pés". Mas, quando diz: "Todas as coisas lhe estão 
sujeitas", claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. 
 
E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se 
sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em 
todos (versos 24-28). 
 
A história humana terá um fim quando o mal for aniquilado de modo terminal. O 
presente geme pela atuação dos domínios, autoridades e poderes. Este é a 
primeira utilidade de uma fé que contempla as dimensões escatológicas: nossa 
vida hoje pode ser marcada pelo gemido, mas esta história terá um fim. 
 
Não há inimigo que não seja derrotado. Aquele que derrotou o inimigo definitivo, 
que é a morte, tornada relativa, derrotará qualquer outro tipo de inimigo. A morte 
não venceu Jesus; graças a Ele, a morte não nos vencerá. 
 
Todos aquele que aceitar esta morte não experimentará o poder da morte sobre 
si. Toda a força da morte despencou sobre o corpo de Jesus, que afundou numa 
tumba. Se a história tivesse acabado assim, estaríamos todos mortos também. No 
entanto, todo o poder de Deus levantou Jesus de entre os mortos, para que nós 
vivêssemos. Este é o resumo do Evangelho. 
 
No final dos tempos, Jesus entregará o Reino de Deus ao Pai. Esta afirmação 
deve ser compreendia no interior da economia divina da história, sob pena de não 
entendermos a natureza da 
 
Trindade. O que Paulo nos ensina é que o Filho tem uma missão e esta missão 
terá um fim: chegará o tempo em que Ele não será mais o mediador entre os 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
23 
homens e o Pai, porque não será mais necessária a presença de um mediador, já 
que os homens e a Trindade estarão em contato direto e eterno, na grande festa 
celestial. Ele, então, chegará perante o Pai e anunciará que sua obra terminou. 
 
Quando isto acontecer, o Filho receberá toda honra, toda riqueza, toda sabedoria, 
toda força, toda honra, toda glória e toda bênção (Apocalipse 5.12). O contraste é 
claro: Ele derrota toda a autoridade e recebe por isto toda honra. A glória do Filho 
é a mesma do Pai. No final dos tempos, o Cordeiro reinará, submetendo sua obra 
ao Pai, que o exaltará sobre todo nome e toda a pessoa, e fará com que todo 
joelho dobre diante dEle e toda a língua Lhe cante louvores, porque estará 
completa a obra da salvação (Filipenses 2.9-11). 
 
Esta obra, no entanto, começou na criação do mundo e continuou na Encarnação. 
Desde então Cristo reina. Ele venceu a morte porque reinava. Nós, no entanto, 
ainda não vencemos a morte. Venceremos quando Cristo nos ressuscitar dentre 
os mortos. Todos os sofrimentos humanos encontram são recompensados com a 
ressurreição, que os faz cessar e dá sentido a eles. 
 
Por isto, as últimas coisas (escaton) são, na verdade, as primeiras. Cristo é o 
princípio e o fim, o Alfa e Ômega, na linguagem apocalíptica. Quem está no 
princípio e no fim governa o presente, o nosso presente. 
 
É encorajador saber que Jesus Cristo é rei agora também. É animador saber que, 
a apesar da aparência do Seu sumiço da história, Ele a controla. Ele nos controla. 
Ele controla as pessoas ao nosso redor. Ele controla as circunstâncias ao nosso 
redor. Ele controla a história, história que marcha para reconhecer que Ele é o 
Senhor. 
 
6. NÃO PODEMOS PREVER O TEMPO DA PAROUSIA 
 
Sofremos porque não vemos com clareza o tempo da vinda de Jesus Cristo. Nós 
gostaríamos de sabê-lo, embora isto fosse péssimo. Se a parousia fosse ocorrer 
esteano, e nós o soubéssemos, nós ficaríamos paralisados, como ficaram alguns 
da igreja de Tessalônica nos tempos apostólicos. Se a parousia fosse ocorrer em 
gerações posteriores à nossa, e nós o soubéssemos, nós ficaríamos descansados 
e não permitiríamos que ela afetasse o nosso presente. 
 
É daí que advém a tendência de se calendarizar os acontecimentos escatológicos. 
 
Sabemos o que vai acontecer, porque a Bíblia é clara quanto a esta descrição. 
Sabemos porque vai acontecer, uma vez que é a forma pela qual Deus se torna 
tudo em todos. A Bíblia, do Antigo ao Novo Testamento, garante-nos que, no final 
dos tempos, Deus reconciliará a criação, inclusive a criação humana, consigo. Os 
problemas estão no quando e no como. 
 
6.1. A seqüência 
Somos informados, em linhas gerais, a seqüência dos acontecimentos do fim. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
24 
Paulo a enumera nos versos 24 a 28 e 20 a 23: 
 
Na realidade Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos 
que dormem. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um 
homem veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, do 
mesmo modo em Cristo todos serão vivificados. Cada um, porém, na sua ordem: 
Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda (versos 20-23). 
 
Os acontecimentos do fim estão no passado (encarnação e glorificação de Jesus), 
no presente (nossa aceitação ou recusa do sacrifício de Cristo) e no futuro. No 
caso dos salvos, o esquema é claramente o seguinte. 
 
morte de Jesus Cristo » nossa morte (ou transformação, para quem estiver vivo) 
ressurreição de Jesus Cristo » nossa ressurreição (ou transformação para quem 
estiver vivo) 
parousia » nosso arrebatamento 
juízo final » nosso julgamento 
consumação do Reino de Deus » vida celestial 
Esta seqüência geral pode ser detalhada, mas, ao fazê-lo, não podemos perder a 
visão global da história no projeto de Deus. Mesmo as discordâncias quanto ao 
tempo dos acontecimentos do fim no futuro não nos devem separar da esperança 
que o Jesus que reina agora reinará plenamente no porvir. 
 
Os pré-milenistas não podem abafar a esperança com seus esquemas. Os pós-
milenistas não podem anular a esperança com seu otimismo. Os a-milenistas não 
podem empobrecer a esperança com a redução dos acontecimentos do fim a 
meros símbolos. 
 
6.2. Os sinais 
Pressupondo a parousia é o acontecimento central, em torno do qual orbitam os 
demais, devemos nos acautelar duplamente, com o cuidado de não achar que a 
volta de Cristo é algo para o "são nunca de tarde" (conforme o alerta de Pedro -- 
2Pedro 3.9) ou que é algo para tão breve que nos perturbe (2Tessalonicenses 
2.2). 
 
Nós simplesmente não conhecemos o tempo da volta de Jesus Cristo. E isto é 
muito bom, conquanto para alguns possa soar como um convite a colocá-lo para 
um futuro remoto. Nós temos que viver como se Ele fosse voltar hoje, com os 
olhos voltados para a Sua direção. Nós temos que viver como se Ele fosse ainda 
demorar a retornar, mantendo nossos olhos voltados para o crescimento em 
direção à Sua estatura perfeita. Enquanto tocamos nossos projetos, de curto, 
médio e longo prazos, devemos esperar e desejar a volta. 
 
Era assim que Paulo pensava e agia. Embora achasse que alguns de sua geração 
seriam arrebatados e transformados, sem passarem pela experiência da morte (só 
a da transformação), pela iminência da parousia (versículo 51), ele não deixava de 
fazer projetos para a universalização do Evangelho. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
25 
 
Os sinais do fim estão na Bíblia. Alguns já se cumpriram claramente. Outros ainda 
não se cumpriram. Devemos ter cuidado de não os ignorar, mas também de não 
os produzir, fazendo com que fatos se encaixem artificialmente em nossos 
esquemas. Entre a indiferença em relação aos sinais e a indústria dos sinais, 
devemos ficar com a oração apostólica: "Maranata!" Enquanto a parousia não 
acontece, devemos pedir por ela, repetindo a frase com a qual Paulo termina esta 
epístola: "Maranata!", que quer dizer: "Vem, Senhor Jesus" (1Coríntios 16.22). 
 
Devemos ter a humildade ainda de reconhecer que há sinais que dificilmente 
conseguiremos divisar com clareza. O objetivo dos sinais é nos advertir contra a 
possibilidade de marcar tempos que só Deus conhece. O Senhor da história não é 
refém de nossas interpretações, que falham, conquanto Ele não falhe jamais. 
 
7. SÓ PODEMOS FALAR DA ETERNIDADE POR MEIO DA LINGUAGEM 
POÉTICA 
 
Além da fixação do tempo para os acontecimentos do fim, nós lavramos em um 
outro tipo de dificuldade: a linguagem. A linguagem objetiva não consegue falar da 
eternidade; só a imaginação poética nos ajuda. É isto que faz o autor de 
Apocalipse. Tudo ali é poesia. 
 
7.1. A imaginação poética 
Toda a descrição da vida celestial, ao longo de todo o Novo Testamento, é 
poética. É a poesia que nos ajuda a descrever a morte, a ressurreição, a parousia 
e o céu. A poesia não remete para a mentira, mas para a incompetência da 
linguagem narrativa (jornalística, objetiva, positiva). 
 
Não podemos tomar as imagens acerca da vida celestial e limitá-las. Quem lê o 
salmo 23 não pensa que Deus seja um pastor de ovelhas com um cajado na mão 
a cuidar delas, mas -- isso, sim -- imagina que Deus se parece com um pastor de 
ovelhas com um cajado na mão a cuidar dos seus filhos. Quem lê a descrição das 
ruas celestiais, como a de Apocalipse, não deve imaginá-las como sendo de ouro, 
mas como sendo tão imponentes e valorosos como o ouro, o mais rico dos metais 
preciosos, razão por que foi utilizado para servir como meio de comparação 
acerca da vida pós-esta. O céu é um lugar. Até podemos chamá-lo de nova terra, 
à falta de elementos para descrevê-lo, porque nada tem a ver com esta vida aqui e 
nada sabemos como ela será, a não ser que será radicalmente diferente desta. 
 
Diante de nossa impossibilidade de imaginar o diferente como sendo diferente, só 
podemos falar da eternidade por meio da linguagem poética. Um exemplo neste 
capítulo é a referência à morte como sendo um sono (os que dormem -- versículo 
20 --, nem todos dormiremos -- versículo 51). O apóstolo não está falando do sono 
da alma: está usando um termo próprio da tradição bíblica para descrever a morte. 
 
7.2. A vida celestial 
Em sua descrição poética, Paulo prefere usar a imagem da semente para 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
26 
descrever a natureza de nossos corpos (?) celestiais. 
 
Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? e com que qualidade de corpo 
vêm? 
 
Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando 
semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como o de 
trigo, ou o de outra qualquer semente. Mas Deus lhe dá um corpo como lhe 
aprouve, e a cada uma das sementes um corpo próprio. 
 
Nem toda carne é uma mesma carne; mas uma é a carne dos homens, outra a 
carne dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes. Também há corpos 
celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos 
terrestres. Uma é a glória do sol, outra a glória da lua e outra a glória das estrelas; 
porque uma estrela difere em glória de outra estrela. 
 
Assim também é a ressurreição, é ressuscitado em incorrupção. Semeia-se em 
ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em 
poder. Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo 
animal, há também corpo espiritual. (Assim também está escrito: O primeiro 
homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão, espírito vivificante.) Mas não 
é primeiro o espiritual, senão o animal; depois o espiritual. O primeiro homem, 
sendo da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Qual o terreno, tais 
também os terrenos; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como 
trouxemos a imagem do terreno, traremos também a imagem do celestial.Mas digo isto, irmãos, que carne e sangue não podem herdar o reino de Deus; 
nem a corrupção herda a incorrupção. 
 
Eis aqui vos digo um mistério: Nem todos dormiremos mas todos seremos 
transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última 
trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados 
incorruptíveis, e nós seremos transformados. 
 
Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e 
que isto que é mortal se revista da imortalidade. Mas, quando isto que é 
corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da 
imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: "Tragada foi a morte na 
vitória". Onde está, o morte, a tua vitória? Onde está, o morte, o teu aguilhão? O 
aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. 
 
Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo (versos 
35-57). 
 
Desta seção, eivada de imagens poéticas, podemos reter algumas verdades 
inquestionáveis: 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
27 
1. A vida celestial é radicalmente diferente da vida terrena. Um fruto não se parece 
com o grão do qual germinou. Uma árvore não se parece com a semente que a 
fez nascer. A vida celeste não se parece com a vida terrena. 
 
Nossos novos corpos não conhecerão as limitações de tempo e espaço que 
experimentam aqui. Podemos, diante disto, ainda nos referir a eles como 
"corpos"? Não está o apóstolo novamente fazendo poesia? 
 
2. Estes nossos novos corpos serão corpos glorificados. O máximo que podemos 
saber a este respeito é que estes novos corpos se parecerão com o corpo do 
Jesus ressurreto. Mais do que isto não sabemos, exceto ainda que, quando 
adentrarmos à eternidade, os elementos constitutivos desses nossos corpos não 
serão mais a carne e o sangue, isto é, não serão células biologicamente formadas, 
nem serão mais passíveis de ser atingidas pelo poder do pecado. 
 
3. A participação na vida eterna celeste é o cume do processo iniciado na 
ressurreição de Jesus: a vitória sobre a morte. Depois de ver Jesus reinando nos 
céus e de nos contemplar ajoelhados diante dEle confessando o Seu senhorio, 
Paulo pergunta à morte, com ironia: 
 
-- Ei, morte, onde está a ponta aguçada de ferro com a qual você flagelava as 
pessoas? Ei, morte, onde está o seu sorriso de vitória? 
 
Mesmo a morte, este acontecimento definitivo, tornou-se relativa diante do 
Absoluto dos absolutos. Por isto, podemos cantar que Jesus está vencendo e um 
dia terminará sua obra. 
 
8. CONCLUSÃO 
 
O apóstolo Paulo termina seu capítulo mostrando qual deve ser o sentido de se 
estudar escatologia: reafirmar o valor da confiança no Senhor, que transforma as 
nossas ações em ações úteis no Seu reino. 
 
A especulação deve ceder lugar ao compromisso. 
 
A recordação deve preceder a esperança. 
 
Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na 
obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor (verso 58). 
 
Podemos concluir com esta oração, própria do cristão que ora, age e espera. 
 
PLANETA PRECÁRIO 
 
Ele vem. 
A qualquer momento, ele vem. 
E eu estou indo ao seu encontro. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
28 
Ainda visto as roupas de sempre, 
ainda olho nas mesmas direções, 
ainda piso nos mesmos caminhos, 
ainda toco nos mesmos corpos, 
ainda digo as mesmas palavras que os homens 
mas eu espero a hora 
o instante do encontro 
para um abraço muito longo. 
E o meu rosto será outro. 
E o meu verbo será outro. 
E o meu corpo será outro. 
 
Pode ser que eu chegue primeiro 
porque eu tenho muita pressa de chegar. 
Se primeiro eu for, 
receberei logo a sua palavra, 
mas o seu corpo 
certamente esperarei 
pela minha pressa de chegar. 
 
Parte IV 
UMA MULHER VESTIDA DO SOL 
 
 
Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua 
sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e 
gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro 
sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e 
sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do 
céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da mulher que estava 
para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um 
filho, um varão, que Irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, 
porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o 
deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil 
duzentos e sessenta dias. (...) Ao ver que fora expulso para a terra, o Dragão pôs-
se a perseguir a Mulher que dera à luz o filho varão. Ela, porém, recebeu as duas 
asas da grande águia para voar ao deserto, para o lugar em que, longe da 
Serpente, é alimentada, é alimentada por um tempo, tempos e metade de um 
tempo. A Serpente, então, vomitou água como um rio atrás da Mulher: a terra 
abriu a boca e engoliu a água que o Dragão vomitara. Enfurecido por causa da 
mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto dos seus descendentes, os que 
observam os mandamentos de Deus e mantêm o Testemunho de Jesus" (Ap 
12.1.17). 
 
Seria a santa Maria, a mãe de Jesus, essa "Mulher que deu à luz um varão", fugiu 
para o deserto, onde foi alimentada por mil duzentos e sessenta dias? Colhemos 
de um site de apologética católica a seguinte interpretação extra-oficial: 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
29 
 
"No Apocalipse, João contempla nesta visão três verdades: a Assunção de Nossa 
Senhora, sua glorificação, sua maternidade espiritual. O Apocalipse descreve que 
esta mulher "estava grávida e (...) deu à luz um Filho, um menino, aquele que 
deve reger todas as nações..." (Ap 12, 2.5 ). Qual mulher, que de fato, esteve 
grávida de Jesus senão a Santíssima Virgem? (conf. Is 7, 14). Outros contestam, 
dizendo que esta mulher é símbolo da Igreja nascente. Mas, a Igreja nunca esteve 
"grávida" de Jesus Cristo! Antes, foi Cristo que gerou a Igreja, foi ele que a 
estabeleceu e a sustenta. E para provar que esta mulher é exclusivamente Nossa 
Senhora, em outro lugar está escrito: "O Dragão vendo que fora precipitado na 
terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino" ( Ap 12, 13 ). A Igreja teria 
dado à luz a um Menino? Evidente que não! Portanto esta mulher refulgente é 
unicamente, Nossa Senhora, pois foi ela unicamente que gerou "o menino" 
prometido conf. Is 9, 5 ). Diz ainda a Sagrada Escritura que: "(o Dragão) deteve-se 
diante da Mulher que estava para dar à luz (...) para lhe devorar o Filho (...) A 
Mulher fugiu para o deserto, onde (...) foi sustentada por mil duzentos e sessenta 
dias" ( AP 12, 4.6 ). De fato, o demônio maquinou contra a vida de Jesus desde 
seu nascimento, na pessoa do perseguidor Herodes. Maria fugiu então com o filho 
para o deserto (Egito). Lá ficou por aproximadamente mil e duzentos e sessenta 
dias (três anos e meio). Ou seja, do ano 7 AC, ano do nascimento de Jesus, 
conforme atualmente se acredita, até março-abril do ano 4 AC, ano da morte de 
Herodes. Perfazendo os três anos e meio de exílio, nos quais foi sustentada pela 
Providência. Portanto, todos esses versículos, confirmam primeiramente a 
assunção de Nossa Senhora. Pois o apóstolo a contempla revestida de sol, já 
estabelecida desde agora na glória prometida pelo seu Filho, quando diz "Os 
justos resplandecerão como o sol" (Mt 13,43). Confirma incontestavelmente sua 
realeza espiritual, pois a mesma se apresenta coroada com doze estrelas, símbolo 
das doze tribos de Israel e dos doze apóstolos. Portanto Rainha do Antigo e do 
Novo Testamento. Por fim confirma sua maternidade espiritual, pois diz o Espírito 
Santo: "(O Dragão) se irritou contra a Mulher ( Maria ) e foi fazer guerra ao resto 
de sua descendência ( seus filhos espirituais ), os que guardamos mandamentos 
de Deus e têm o testemunho de Jesus" ( Ap 12, 17 ). Somos de sua descendência 
apenas se nos comprometermos com o Cristo Jesus, guardando os seus 
mandamentos e testemunhando-o como nosso Senhor e Salvador". 
 
A interpretação acima, que vez ou outra aparece nos debates entre católicos e 
protestantes, não me parece das mais felizes. Vejamos alguns pontos 
discrepantes: 
1) Em nenhum momento a Bíblia relata que os salvos em Cristo receberão uma 
coroa de doze estrelas; 
2) Também nada registra sobre os tormentos e os gritos de Maria na hora do 
parto. Acredito que Maria sentiu as dores normais, mas não a ponto de ficar 
atormentada; 
3) Maria fugiu para o Egito (Mt 2.14) e não para o deserto; 4) Pelo relato de 
Apocalipse, o filho foi arrebatado e a mulher fugiu para o deserto, o que realmente 
não aconteceu. Maria, Jesus e José foram para o Egito; 
5) O cálculo dos 1.260 dias, como acima, pareceu-me impreciso, sem convicção, 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
30 
aproximado. A Bíblia nada diz sobre o tempo de permanência de Maria no Egito; 
6) O texto não fala - nem a Bíblia em qualquer de seus livros - na Assunção de 
Maria, na sua glorificação e maternidade espiritual. 
7) A interpretação está na contramão do que pensam eruditos católicos e 
protestantes, conforme registros a seguir. 
 
Vejamos qual a interpretação da Bíblia de Jerusalém (Primeira impressão em 
setembro/1985, Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, autenticada em 
1.11.1980 com a assinatura de Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de 
São Paulo. Na apresentação, os editores disseram que "após três anos de árduo e 
intenso trabalho, realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes e 
por um grupo de revisores literários, pudemos entregar ao público a tradução do 
Novo Testamento"). Pois bem, essa comissão do mais alto nível, concluiu o 
seguinte com relação à "Mulher vestida com o sol" (Ap 12.1.17): 
 
"A cena corresponde a Gênesis 3.15,16. A mulher dá à luz na dor (v.2) aquele que 
será o Messias (v.5). Ela é tentada por Satanás (v.9), que a persegue, bem como 
a sua descendência. Ela representa o povo santo dos tempos messiânicos (Is 54; 
60; 66.7; Mq 4.9-10), e portanto [representa] a Igreja em luta. É possível que João 
pense também em Maria, a nova Eva, a filha de Sião, que deu nascimento ao 
Messias (cf. Jo 19.25)". 
 
Então, o entendimento dos eruditos católicos é o de que a "mulher" em referência 
simboliza a Igreja perseguida. Apenas no final, dizem ser "possível" que o autor do 
Apocalipse estivesse pensando em Maria. Esta possibilidade não pode e não foi 
levada a sério; são conjecturas, suposições. Para entendermos melhor o assunto, 
vamos ler Isaías 66.7-9 (referência citada pelos exegetas católicos): "Antes que 
estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, deu à luz um filho. 
Quem jamais ouviu tal coisa? (...) Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião 
mal sentiu as dores de parto, e já deu à luz a seus filhos". 
 
A Bíblia de Estudo Pentecostal, concordando, esclarece que "Isaías prevê o 
renascimento de Israel como o povo de Deus, durante o reino messiânico; o 
nascimento será singularmente rápido e trará alegria, paz e prosperidade". 
Devemos ter o cuidado para não identificar Maria com tudo que dar à luz um filho. 
Leiam também Isaías 26.17-19; Miquéias 4.9-10). 
 
Vejamos os comentários da Bíblia Sagrada, Edição Ecumênica, tradução do Padre 
Antônio Pereira de Figueiredo, com notas do Monsenhor José Alberto L. de Castro 
Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, BARSA, 1964, aprovada, portanto, pela 
Igreja Católica: 
 
"Apocalipse 12.1: Uma mulher: não é o símbolo da SS. Virgem, mas sim o do 
Povo de Deus, primeiro Israel, que deu ao mundo Jesus Cristo segundo a carne e 
depois o "Israel de Deus", isto é, a Igreja que enfrentaria as perseguições do 
Dragão. O sol, a lua e as estrelas são apenas figuras para expressar seu 
esplendor. Por acomodação a Igreja aplica este versículo à SS.Virgem". 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
31 
 
Primeiro, os comentários católicos dizem o óbvio, o que não pode ter outra 
interpretação, ou seja, que a mulher revestida do sol simboliza o Povo de Deus, 
Israel donde nasceu Jesus, num primeiro momento; no outro momento, representa 
a Igreja perseguida. No final, fala a verdade quando diz que o Catolicismo aplica o 
versículo à SS. Virgem por acomodação, o que me parece uma afirmação que 
compromete a lisura e imparcialidade com que as devemos interpretar e ensinar a 
palavra de Deus. Acomodação dá idéia de arrumação, de arranjo. A advertência 
de Apocalipse 22.19 pode ser aplicada nesse caso: "E se alguém tirar quaisquer 
palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida..." 
 
Os comentaristas da Bíblia [evangélica] de Estudo Pentecostal concordam em 
linhas gerais com os das bíblias católicas. Vejam: 
 
"Apocalipse 12.1 - Uma mulher - Esta mulher simboliza os fiéis de Israel, através 
dos quais o Messias (i.e., o menino Jesus) veio ao mundo (cf. Rm 9.5). Isso é 
indicado não somente pelo nascimento do menino, mas também pela referência 
ao sol e à lua (ver Gn 37.9-11) e às doze estrelas, que naturalmente se referem às 
doze tribos de Israel". "Apocalipse 12.6 - A mulher fugiu - Aqui, a mulher simboliza 
os fiéis de Israel na última parte da tribulação (cf. os 1260 dias, metade exata do 
período da tribulação). (1) Durante a tribulação, esses fiéis de Israel, judeus 
tementes a Deus, opor-se-ão à religião do Anticristo. Examinando com sinceridade 
as Escrituras, eles aceitam a verdade de que Jesus Cristo é o Messias (Dt 4.30-
31; Zc 13.8-9). São socorridos por Deus durante os últimos três anos e meio da 
tribulação, e Satanás não poderá vencê-los (ver vv 13-16). (2) Quem de Israel 
aceitar a religião do Anticristo e rejeitar a verdade bíblica do Messias, será julgado 
e destruído nos dias da grande tribulação (ver Is 10.21-23; Ez 11.17-21; 20.34-38; 
Zc 13.8-9)". "Apocalipse 12.13 - Perseguiu a mulher - Satanás procura destruir a 
mulher. Aqueles em Israel, que aceitarem a Cristo, serão vigiados e perseguidos 
por Satanás e pelos seguidores do Anticristo (cf Mt 24.15-21). Deus dará proteção 
sobrenatural aos santos de Israel durante esse período (vv 14-16)". 
 
Vamos ver alguns trechos de O Novo Comentário da Bíblia, Edições Vida Nova, 
primeira edição em 1963: 
 
"A mulher e o seu filho (Ap 12.1-17) - Os gregos contavam uma história do 
nascimento de Apolo marcadamente paralela à dos vv. 1-6. Os egípcios 
semelhantemente relatavam o nascimento de Hórus; um fato é que a história, em 
formas modificadas, parece ter sido universalmente contada. Claramente, João 
tem empregado uma narrativa bem conhecida (primeiramente adaptada, 
aparentemente, por um judeu) tanto para ilustrar o seu próprio tema, como para 
tacitamente excluir todos os heróis de outras crenças da posição de Redentor 
universal (...) Para as nações pagãs do mundo antigo, a mulher grávida (12.1,2) 
teria sido uma deusa coroada com as doze estrelas do zodíaco. O judeu teria visto 
nela o seu próprio povo, encabeçado pelos doze patriarcas. João mostra que ela 
não representa nenhum destes, MAS [representa] O VERDADEIRO POVO 
CRENTE DE DEUS, tanto da velha, como da nova dispensação, a comunidade 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
32 
messiânica. (...) O dragão agora volta a sua atenção para A MULHER, ISTO É, A 
IGREJA, tendo falhado no caso do Senhor dela (cfr. João 15.20). No simbolismo 
que revela o ataque contra a mulher, a serpente é considerada como um monstro 
da água, inclusive a personificação do mar. Daí a mulher foge para o refúgio no 
deserto (14), onde um monstro marítimo não pode ter lugar. Para não ser 
superada, a serpente manda após ela um dilúvio, mas a terra o traga, de maneira 
que não se faça mais nada por ele (15,16). O retrato bem ilustra a segurançaespiritual dos crentes contra tudo que o diabo possa fazer em suas tentativas para 
destruí-los". 
 
Todas as interpretações apontam para um só entendimento, o de que a mulher 
vestida com o sol simboliza Israel, a Igreja de Cristo, o Povo de Deus. Nada há 
que possa indicar a descrição do parto de Maria, na cidade de Belém. Em sua 
essência, os eventos apocalípticos apontam para o futuro, e não para o passado, 
"para dar aos crentes de todas as eras a perspectiva divina do férreo conflito entre 
eles e as forças conjuntas de Satanás, nesta revelação de desfecho da história. O 
Apocalipse revela principalmente os eventos dos últimos sete anos da segunda 
vinda de Cristo, quando, então, Deus intervirá neste mundo e vindicará seus 
santos, derramando sua ira sobre o reino de Satanás". Neste contexto, insere-se a 
visão da mulher e o dragão, objeto da presente análise. 
 
Parte V 
A UNÇÃO DO ESPÍRITO NA VIDA DO CRISTÃO 
 
01. INTRODUÇÃO 
A igreja hoje está vivendo mais em função do seu passado do que do seu 
presente. Muitos que sepultaram a velha vida, estão chorando diante da sepultura, 
recordando um tempo que já não existe mais. O que aconteceu? Onde foi parar a 
alegria, a fé, a ousadia? 
O povo de Deus está voltando a ser um povo errante. Qualquer dificuldade é 
motivo para se afastar em busca de um oásis inexistente. 
A lista para explicar este tipo de comportamento é grande. Tudo tem uma 
explicação para apoiar o afastamento, o desinteresse. Assim vamos colecionando 
fracassos na família, no trabalho, na igreja culpando até mesmo a Deus pelas 
nossas derrotas. 
 
O estudo sobre a unção do Espírito visa restaurar o poder de Deus em nossas 
vidas. Estamos vivendo num período muito singular. O mover do Espírito Santo 
está começando a acontecer em muitos lugares. Precisamos estar preparados 
para não deixar esta onda passar sem nos tocar. A hora é de entrega e disposição 
de buscar a presença de Deus e a manifestação do Espírito Santo. Que Deus nos 
ajude! 
 
Há duas questões que precisam ser consideradas no estudo sobre a unção do 
Espírito Santo: 
 
A primeira é sobre o que o Espírito Santo está dizendo hoje para a igreja? 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
33 
Sabemos que a verdade de Deus é única e que o seu propósito continua o mesmo 
desde o início da criação. Malaquias 3:6 
Mas sabemos também que suas revelações são progressivas! João 13:7. Em 
cada período da história o Espírito Santo se moveu de acordo com as 
necessidades da igreja e do povo! 
 
Hoje não temos necessidade de ver um lençol descendo do céu cheio de animais 
impuros, para caminharmos na direção indicada por Deus. Atos 10:11-12. Os 
presbíteros não se reúnem para discutir se devemos ou não ser circuncidados. 
Atos 15:1,6. 
 
Nestes dias o Espírito Santo está dispensando à igreja o que ele tem de melhor. 
Por isso é devemos estar atentos à sua voz. 
Algumas perguntas devemos fazer a nós mesmos: 
a. O que estamos realizando tem a ver com o plano de Deus para esses dias? 
b. O nosso esforço tem respondido as prioridades do Reino de Deus? 
c. A nossa motivação está sendo direcionada para o alvo certo? 
 
A segunda questão é se a igreja está ouvindo com clareza o que o Espírito está 
dizendo? 
Quando não se ouve com clareza a voz do Espírito corre-se o risco de caminhar 
por caminhos traçados pela nossa vontade. 
Paulo adverte - 1 Coríntios 14:8 
 
02. COMO OUVIR A VOZ DO ESPÍRITO NESTES DIAS? 
 
Em primeiro lugar, examinando o que a Palavra de Deus fala sobre esse período. 
 
Isaías 35 é um texto profético que fala sobre uma grande unção que será 
derramada sobre o nosso deserto! 
Esta unção será tão grande que o maior desejo de Deus será cumprido. 
a. Ver o evangelho sendo pregado a todas as nações. - Mateus 24:14 
b. Ver a igreja convivendo com o sobrenatural. - Marcos 16:17 
c. Ver o povo buscando a santificação de vida. - 1 Tessalonicenses 4:3 
d. Ver as influências satânicas sendo inibidas pelo poder da unção. - Lucas 4:18 
 
Em segundo lugar, estendendo os olhos para o mundo para ver onde o vento está 
soprando. 
 
Durante um período o vento soprou em alguns países e modificou completamente 
a sua paisagem. 
A Escócia há cerca de quatrocentos anos estava mergulhada em profundas 
trevas. O povo vivia numa pobreza degradante. O sistema feudal, que em outros 
países já havia sido abolido, ainda predominava na Escócia. Não existia a classe 
média. Apenas o clero, a nobreza e o povo. O povo era considerado os vassalos 
dos barões. Era escravo no corpo e na mente. 
O clero levava uma vida corrompida e imoral. Neste caos surge um homem 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
34 
levantado por Deus chamado João Knox. Sob o ministério deste homem o país foi 
transformado completamente. 
 
A Inglaterra também em 1739 experimentou o mover do Espírito através de João 
Wesley, Charles Finney, George Whitefield. 
 
Em outros países como Irlanda, Gales, Estados Unidos o sopro do Espírito Santo 
mudou a vida e o sistema de governo até então predominante. 
 
Hoje o Espírito continua soprando em muitos outros lugares. A nossa oração é 
que ele não deixe de soprar em nosso meio, em nossa igreja, em nosso país. 
 
03. UM GRANDE PERIGO QUE RONDA A IGREJA 
 
Um dos grandes riscos da igreja moderna é o de acreditar: 
a. que através de uma organização bem feita; 
b. de uma programação eclética; 
c. de uma da habilidade em lidar com o povo 
Ela produzirá os mesmos resultados que a unção do Espírito produz. 
 
É importante frisar, que sem unção não há trabalho espiritual. Nada pode substituir 
a ação do Espírito Santo. Lucas 24:49 
 
04. O QUE É UNÇÃO DO ESPÍRITO? 
 
Hoje esta palavra, que é nova no vocabulário evangélico, já está sendo deturpada 
e desgastada. 
A unção está sendo confundida com muitas práticas realizadas pela igreja. 
A unção não é: 
a. Um manifestação sentimental! 
c. Uma demonstração humana de poder! 
d. Uma encenação espiritual! 
 
Unção, é o método que Deus usa através do Espírito Santo para operar a sua 
vontade na terra. Envolve todas as graças, habilidades e poderes do Espírito 
Santo. A Unção é a revelação da presença de Deus no meio do seu povo. 
Ela ao se manifestar afeta todo aquele que é tocado. Quando um homem está 
ungido tudo o que ele toca recebe a mesma unção. 
 
05. UM PEQUENO HISTÓRICO BÍBLICO 
 
No Antigo Testamento ninguém podia oferecer sacrifícios se não fosse ungido 
para tal. 
A unção era específica para: 
- os reis - 1 Samuel 9:16; 2 Samuel 5:3 
- sacerdotes - Êxodo 28:41; Êxodo 30:32 
- profetas - 1 Reis 19:16 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
35 
 
Estes eram ungidos para oficiarem diante de Deus. Quem tentou oferecer 
sacrifícios sem passar pela unção, foi punido. Levíticos 10:1; 1 Samuel 13:8-9; 13. 
Hoje a unção do Espírito Santo nos habilita a exercer: 
- a autoridade de um rei - Lucas 10:19 
- a interceder como um sacerdote - 1 João 5:16 
- a profetizar como um enviado de Deus - Atos 18:9 
 
Lembre-se do seguinte: o mundo hoje requer uma igreja que trabalhe no poder do 
Espírito Santo. Uma igreja que saiba depender do Espírito na realização de seus 
projetos. 
Zacarias 4:6. 
 
Parte VII 
CONTEMPORANEIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS II 
 
 
Este estudo contempla questões levantadas por vários irmãos. 
 
Qual a diferença entre batismo no Espírito Santo e dom de línguas? 
R: Expressões equivalentes a batismo no Espírito: Ser cheio do Espírito (At 2.4; 
9.17) Receber ou descer o Espírito (At 8.15-16; 19.2); Cair ou derramar o Espírito 
Santo (Joel 2.28-29; At 2.17; 10.44-45; 11.15); Batizar com o Espírito Santo (Mt 
3.11; Jo 1.33; At 11.16). O Batismo é uma experiência especial e sobrenatural. O 
falar em línguas é uma manifestação do Espírito, um dom (1 Co 12.7, 10). 
 
Por que só o dom de variedade de línguas é uma evidência do batismo, se 
existem outros dons mais nobres? 
 
R: A vida espiritual do crente deve ser um crescer constante.A Bíblia diz para 
crescermos na graça e no conhecimento (2 Pe 3.18); Jesus crescia em sabedoria 
(Lc 2.52); devemos crescer em nossa fé (2 Co 10.15; Lc 17.5). Deus concede 
inicialmente ao recém-batizado um ou mais dons, mas nada impede que o crente 
continue crescendo, procurando com zelo os melhores dons (2 Co 12.31; 14.1). O 
apóstolo Paulo diz que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os 
infiéis (1 Co 14.22), que passam a compreender porque o Reino de Deus é 
diferente do reino das trevas. Para os crentes, as línguas significam que o Espírito 
está sendo derramado (At 10.44-46; 11.15-17). 
 
Por que considerar o batismo no Espírito Santo uma doutrina se essa experiência 
está circunscrita ao livro de Atos e aos primeiros passos da Igreja? 
 
R: Se o cânon do Novo Testamento só fosse selado após o último batismo no 
Espírito Santo, ainda continuaria aberto, pois a Igreja continua RECEBENDO o 
Espírito. Ademais, Paulo não declara que o falar em línguas tenha sido um 
privilégio da igreja em Corinto. Se dermos curso ao raciocínio de que a 
experiência ficou restrita àqueles irmãos, deveríamos então desconsiderar não só 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
36 
as cartas aos coríntios, mas a enviada aos romanos, aos filipenses, aos 
colossenses, e outras. O registro detalhado da experiência em Atos não significa 
dizer que ficou ali circunscrita. Seria desnecessária a continuação dos registros. 
Mas o assunto é tratado também em I e II aos Coríntios; em Joel 2.28, como 
promessa; em Marcos 16.17, na palavra de Jesus; em João 1.33, na palavra de 
João Batista; em Romanos 1.11 e 12.6, na palavra de Paulo, desejoso de que 
houvesse fortalecimento espiritual, e confirmando a variedade de dons e o de 
profecia. 
 
Jesus falou em línguas? 
 
R: A Bíblia nada diz a respeito. Cremos que não, porque a promessa era para uma 
ocasião futura (Jl 2.28; Mc 16.17; At 2.4,16). Outra razão: o falar em línguas serve 
à edificação própria, do próprio crente, porque fala em espírito, em mistérios, com 
Deus (1 Co 14.2,4,14). Jesus não precisava de tal edificação. 
 
Há um local determinado para recebermos o batismo? 
 
R: Não. O crente pode receber o Espírito em qualquer lugar, mas o local mais 
apropriado é num ambiente de oração. Pode ser com ou sem imposição das 
mãos. 
 
Quando a pessoa aceita Jesus como Senhor e Salvador recebe o Espírito. Por 
que receber o Espírito outra vez? Seria um reforço da graça? 
R: A finalidade desse batismo está expressa nas palavras de Jesus: Envio sobre 
vós a promessa de meu Pai; mas ficai na cidade, até que do alto sejais revestidos 
de poder (Lc 24.49; At 1.4-5). Antes de Sua ascensão, Jesus soprou sobre os 
discípulos e estes receberam o Espírito, para regeneração (Jo 20.22), cumprindo a 
promessa de que o Espírito habitaria neles, como habita em nós (Jo 14.17). Os 
interessados no estudo da Palavra poderão aprofundar-se no estudo dessa 
passagem, em que Jesus, ressurreto, sopra sobre os discípulos para dar-lhes uma 
nova vida espiritual. No segundo momento, Jesus diz que não muito depois 
desses dias eles seriam batizados no Espírito Santo, em cumprimento à promessa 
do Pai (At 1.4,5; 2.4,16,17,18). Não entendemos este batismo como uma nova 
salvação. Entendemo-lo exatamente nos termos usados por Jesus: revestimento 
de poder. O termo REVESTIR é assim definido no dicionário Aurélio: 1. Tornar a 
vestir; 2. Vestir; 3. Estender-se por sobre; cobrir; tapar; 4. Atribuir a si; 5. Tornar 
estável, firme, resistente; solidificar... . Cremos que a definição mais apropriada 
para o batismo no Espírito Santo seria então o de dar um a cobertura, uma 
sobrecapa para tornar mais firme e resistente. Num exército, todos são soldados 
defensores da pátria, mas os que seguem para a linha de frente recebem 
adestramento, armadura, suporte e armas específicos. 
 
Qual a finalidade do dom de variedade de línguas? 
 
R: Falar em espírito com Deus sem usar o seu idioma pátrio, pelo que se edifica a 
si mesmo (1 Co 14.2,4,14). Todavia, essas línguas podem ser humanas e vivas 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
37 
(At 2.4-6), ou uma língua desconhecida na terra (1 Co 13.1). Os crentes de Corinto 
estavam exagerando no uso do dom de línguas em detrimento dos outros dons. 
Para corrigir, Paulo deu a seguinte orientação: a) a profecia é mais importante 
para a igreja porque exorta, edifica e consola;dela todos se beneficiam (1 Co 
14.3). Os irmãos não devem pensar apenas na sua edificação; b) para que os 
benefícios se estendam ao maior número possível, aquele que fala em línguas, 
ore para receber o dom de interpretação (1 Co 14.13), se é que desejais dons 
espirituais, procurai abundar neles para edificação da igreja (1 Co 14.12). Em 
nenhum momento Paulo despreza ou desestimula o uso do dom de variedade de 
línguas. Ao contrário, ele agradeceu a Deus porque falava muito em línguas (v. 
18) e disse que gostaria que todos falassem em línguas , mas que também 
houvesse muito mais profecia (v.5). Para benefício da Igreja e essa orientação 
vale para hoje convém que haja intérprete; se não houver intérprete, melhor que 
fiquem em silêncio, falando consigo e com Deus (v.28). Por fim, uma 
recomendação do apóstolo: Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar e não 
proibais falar línguas, mas faça-se tudo decentemente e com ordem (1 Co 14.39-
40). Ou seja: usemos todos os dons para que o Espírito se manifeste, mas em 
ordem. 
 
Parte VIII 
CONTEMPORANEIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS 
Batismo no Espírito Santo - Dom de Línguas - (PERGUNTAS E RESPOSTAS) 
 
 
 
Onde estão na Bíblia as promessas de batismo no Espírito? 
 
R: Isaías 44.3; Joel 2.28-29; Mateus 3.11; Lucas 24.49. 
 
Quando se iniciou o cumprimento dessas promessas? 
 
R: Iniciou-se por ocasião do Pentecostes (Atos 2.1-4), a segunda grande festa 
sagrada do ano judaico. Cinqüenta dias após a Páscoa iniciava-se a festa de 
Pentecostes, também chamada Festas das Colheitas; Pentecostes deriva do 
grego penteekostos , que significa qüinquagésimo. Leiam: E todos foram cheios 
do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito 
Santo lhes concedia que falassem (Atos 2.4). 
 
Houve alguma promessa para que esse batismo ocorresse em gerações futuras? 
 
R: Sim. Atos 2.39: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a 
todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor chamar". 
 
Quais os exemplos de batismos após o Pentecostes? 
 
R: EXEMPLOS BÍBLICOS: 
(a) EM SAMARIA - Atos 8.5-17. Aqui temos o registro detalhado do batismo de 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
38 
irmãos que já eram crentes em Jesus e haviam sido batizados nas águas (vs. 
8,12,14). Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria 
recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João, os quais, tendo 
descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo. Porque sobre 
nenhum deles tinha ainda descido, mas somente eram batizados em nome do 
Senhor Jesus. Então, lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo (At 
8.14-17). Portanto, foi uma experiência posterior a Pentecostes e distinta da 
salvação em Cristo Jesus. 
 
(b) NA CASA DE CORNÉLIO Atos 11.13-15 Aqui o relato de salvação e batismo 
simultâneos: E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como 
também sobre nós a princípio. E lembrei-me do dito do Senhor, quando disse: 
João certamente batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito 
Santo (At 11.15-16). Aqui Pedro declara que o batismo naquela casa tinha sido 
igual ao do dia de Pentecostes: como também sobre nós a princípio. 
 
(c) SAULO Atos 9.10-18 Saulo já era crente (v. 6,15), porém: E Ananias foi, e 
entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo [outra prova de que 
Saulo já era irmão em Cristo], o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por 
onde vinhas, me enviou, para quetornes a ver E SEJAS CHEIO DO ESPÍRITO 
SANTO (At 9.17). Experiência posterior a Pentecostes. A missão de Ananias não 
era pregar a Palavra ou levar Saulo à conversão, mas somente restabelecer a sua 
visão e enchê-lo do Espírito. 
 
(d) OS DISCÍPULOS EM ÉFESO Atos 19.1-7 - O fato ocorreu 25 anos depois do 
batismo coletivo em Pentecostes (Atos 2.4), já na terceira viagem missionária de 
Paulo. Vejamos: Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado pela 
estrada do interior, chegou a Éfeso. Aí achou alguns discípulos e perguntou-lhes: 
Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes? Responderam eles: Não, nem 
sequer ouvimos que haja Espírito Santo. Tornou-lhes eles: Em que fostes 
batizados, então? Responderam: No batismo de João. Paulo disse: Certamente 
João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no 
que após ele havia de vir, isto é, Jesus. Quando ouviram isto, foram batizados em 
nome do Senhor Jesus . Antes de darmos prosseguimento, devemos verificar que 
as Boas Novas não haviam chegado àqueles discípulos de João Batista, que eram 
gentios. Tinham sido batizados em nome do Pai, de conformidade com o batismo 
de João. Então Paulo anunciou a vinda, a morte e ressurreição de Jesus, e eles 
ouviram, creram e foram batizados (v. 5). Paulo não se limitou a isso. Desejava 
que eles recebessem a plenitude do Espírito, tal como ele próprio recebera: E, 
impondo-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam línguas e 
profetizavam (v.6). 
 
EXEMPLOS NÃO BÍBLICOS: 
 
Milhões de casos. Não há estatísticas sobre o assunto, mas com certeza há no 
Brasil milhões de irmãos batizados no Espírito Santo, ou seja, que passaram pela 
mesma experiência dos discípulos no dia de Pentecostes e de outros em anos 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
39 
posteriores, como acima relatado. 
 
Quem batiza no Espírito Santo? 
 
R: O Senhor Jesus: Ele [Jesus] vos batizará com o Espírito Santo e com fogo (Lc 
3. 16; Mt 3.11; At 2.32-33). 
 
Quem pode ser batizado? 
 
R: Somente os salvos, ou seja, os crentes em Jesus. Todos os casos bíblicos 
ocorreram após haverem recebido a Palavra, ou simultaneamente. (At 2.38-39). 
 
Quais as condições para o batismo? 
 
R: Buscar, ter sede: Se alguém tem sede vem a mim e beba. Quem crê em mim, 
como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele dizia do 
Espírito que haviam de receber os que nele cressem. O Espírito Santo ainda não 
fora dado, porque Jesus ainda não havia sido glorificado (Jo 7.37-39). Mas não 
existe um método especial. Deus é soberano na sua vontade. Ele batiza quem 
quer, como, onde e quando quer. 
 
Irmãos de Igrejas não pentecostais podem receber o batismo? 
 
R: Podem, e muitos recebem. Alguns continuam na sua própria congregação, 
outros, por diversos fatores, vão para igrejas pentecostais. Muitos são os 
exemplos de batismo de irmãos não pentecostais. Há alguns meses vi um irmão 
não pentecostal ser batizado; falou em línguas e falou de sua excepcional 
experiência. São muitos os casos. 
 
Qual a evidência desse batismo? 
 
R: A evidência bíblica é o falar em línguas. 
 
O falar em línguas é um dom? 
 
R: É e está em 1 Corintos 12, onde se lê também acerca dos demais dons. 
 
Esses dons estão disponíveis hoje, ou só foram concedidos no tempo de Jesus? 
R: Todos os dons ali relacionados estão em vigor, não caducaram. A Carta aos 
Corintos foi escrita em 55/56 anos depois de Cristo, e ali Paulo declara que existe 
diversidade de dons e de ministérios (v. 4,5). Ademais, Paulo diz que gostaria que 
todos vós falásseis em línguas, mas muito mais que profetizásseis [outro dom] . (1 
Co 14.5). E manifesta sua alegria em falar em línguas: DOU GRAÇAS AO MEU 
DEUS, PORQUE FALO EM OUTRAS LÍNGUAS MAIS DO QUE TODOS VÓS (1 
Co 14.18). Como se vê, Paulo falava em línguas por onde andava e incentivava os 
irmãos a fazerem mesmo. Jesus declarou que o dom de variedade de línguas 
estaria disposto a todos os que cressem (Mc 16.17). 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
40 
 
Qual a finalidade desse dom? 
 
R: Paulo responde: O que fala em língua não fala aos homens, senão a Deus. 
Com efeito, ninguém o entende, e em espírito fala mistério. O que fala em língua 
edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja (1 Co 14.2,4). 
 
O batismo no Espírito Santo é condição para a salvação? 
 
R Não. Somos salvos pela graça, mediante a fé no Senhor Jesus. Pentecostais e 
não pentecostais são salvos em Cristo, irmãos em Cristo. 
 
Então para que serve o batismo no Espírito? 
 
R: O apóstolo Paulo responde dizendo que toda manifestação sobrenatural do 
Espírito é dada a cada um para o que for útil (1 Co 12.7). Se não tivessem 
nenhuma utilidade, Deus não concederia tais dons. Também não os teria 
prometido. Também não teria derramado do seu Espírito sobre os discípulos no 
Pentecostes. Uma das finalidades é receber poder. Vejam: Não vos ausenteis de 
Jerusalém, mas esperai a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. 
Pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o espírito Santo, não 
muito depois destes dias. MAS RECEBEREIS PODER, AO DESCER SOBRE 
VÓS O ESPÍRITO SANTO... (At 1.4,5,8). 
 
O que sente o crente na hora do batismo? 
 
R: Essa pergunta eu fiz a uma centena de irmãos, antes de escrever uma apostila 
sobre o assunto. Nenhum deles soube descrever com segurança o que se passou 
no seu corpo, alma, espírito. A verdade é que receberam uma infusão de alegria. 
Algo indescritível e, até certo ponto, incontrolável. 
 
Para expulsar demônios e curar enfermos precisa ser batizado no Espírito? 
 
R: Jesus outorgou tais poderes a todo aquele que crê (Mc 16.17-18). 
 
Devemos buscar os dons espirituais? 
 
R: Paulo responde: Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas 
principalmente o de profetizar... o que profetiza, fala aos homens para edificação, 
exortação e consolação (1 Co 14.1,3). 
 
Parte IX 
CONTEMPORANEIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS III 
 
 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
41 
A única evidência do batismo é o falar em línguas? 
 
O que a Bíblia nos mostra como evidência do batismo no Espírito Santo é o falar 
em línguas. Em Atos 10.44-46 vemos que "os fiéis que eram da circuncisão" se 
maravilharam ao presenciar o derramar do Espírito sobre os gentios. Como eles 
souberam? "POIS OS OUVIAM FALAR EM LÍNGUAS". Então, ficaram cheios de 
unção para engrandecerem a Deus (v.46). No caso de Simão, a mesma coisa. 
Simão viu ou ouviu alguma coisa que evidenciou a descida do Espírito aos de 
Samaria (Atos 8.15-18). Em Pentecostes, a evidencia maior foram as línguas 
(Atos 2.4). O batismo dos efésios também foi seguido pelo falar em línguas (Atos 
19.5-6). Todavia, creio que o Espírito não está limitado a determinadas fórmulas. É 
possível que um crente seja batizado e somente depois de algum tempo haja a 
manifestação vocal e sobrenatural das línguas ou de outros dons. Mas como 
determinar se o irmão foi batizado no momento em que começou a falar em 
línguas ou no momento em que sentiu algo estranho? 
 
Particularmente não conheço casos de batismo sem o dom de línguas, até porque 
na ocasião do batismo, além das línguas, nem sempre há manifestações físicas 
visíveis. Resumindo, o falar em línguas estranhas é uma evidência segura de que 
o irmão foi batizado no Espírito Santo. Não estamos falando em falar línguas 
decoradas ou em imitações grosseiras. Quem tem discernimento sabe distinguir 
uma coisa da outra. 
 
Parte X 
O ESPIRITO SANTO 
Uma Leitura Ortodoxa Oriental A Partir De Paul Evdokímov 
 
 
Os teólogos cristãos ortodoxos orientais foram os que mais se debruçaram sobre 
os estudos da teologia do Espírito Santo. Desde o século VII, em virtude do 
debate com a Igreja Romana ocidental e posterior afastamento dela, produziram 
uma teologia rica e sofisticada sobre o Espírito Santo, infelizmente pouco 
conhecida em nossosseminários e faculdades de Teologia. 
 
Nesse texto, o professor Marcelo Da Silva Ferreira, mestrando em Teologia e 
História na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, nos apresenta uma leitura 
necessária da doutrina do Espírito Santo a partir do livro do teólogo ortodoxo 
oriental Paul Evdokímov, "O Espírito Santo na Igreja Oriental", publicado em 1996, 
em São Paulo, pela Editora Ave Maria. Sem dúvida, é um estudo pertinente para a 
igreja evangélica. [Jorge Pinheiro]. 
 
As premissas orientais da teologia patrística 
 
Os ensinamentos dos pais orientais sobre o conhecimento de Deus salientam que 
o projeto divino da criação do homem está ligado a promessa de Encarnação do 
Verbo divino, pois estas duas doutrinas complementam-se. O Oriente sustenta 
que a Encarnação seria realizada mesmo fora da queda, como a expressão do 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
42 
amor divino e termo último da comunhão entre Deus e o homem. 
 
Essa idéia demonstra o aprendizado de Deus dentro de uma natureza a qual ele 
havia criado, mas não havia experimentado e na humanidade de Cristo, Deus 
pode compartilhar de experiências que ele conhecia, mas como divino não havia 
passado. A concepção da eucaristia na Igreja demonstra o lugar da união 
substancial entre Deus e o homem, esse aspecto nos leva a refletir dentro da ótica 
ortodoxa que a ordenança da ceia do Senhor além de lembrar do sacrifício de 
Cristo e de sua iminente volta, nos faz pensar que tudo isso foi possível graças a 
Encarnação do Verbo divino entre nós. 
 
Esse ponto muitas vezes é esquecido por nós que nos concentramos no aspecto 
do sacrifício e de sua volta, o que é importante. No entanto, a idéia da Encarnação 
sendo evocada na ministração da Ceia é de grande valia. 
 
O homem, como portador de uma certa medida de conhecimento de Deus é capaz 
de pressentir este mistério e responder ao desejo divino depositado por Ele no 
coração humano. A idéia de predestinação, diferente do calvinismo, repousa no 
fato de que todo homem pode responder positivamente ao chamado divino, 
porque ele carrega o sopro de vida divino e é justamente isso que o impele a uma 
resposta positiva. 
 
Para o Oriente existe uma distinção entre a razão (cérebro) e a inteligência 
(coração). No entanto, o verdadeiro conhecimento é sempre caritativo e o amor é 
sempre intelectivo. Na verdade, o conhecimento sem amor é puro intelectualismo 
vazio, inócuo e sem vida, o amor sem intelecto é paixão cega, sem o alicerce da 
razão. 
 
O pecado original separou a razão do coração, falseando a faculdade do 
discernimento e da apreciação. Essa condição de perversão reclama um ato de fé 
(metanóia). Para o Oriente, a fé é uma reviravolta de tudo no ser humano na sua 
experiência do transcendente. 
 
Podemos dizer que aqui há uma certa semelhança da teologia ortodoxa com a 
teologia pentecostal no que diz respeito a uma experiência transcendente. No 
entanto, os ortodoxos, evocam uma experiência com o transcendente sem 
desligar-se de sua base: a teologia bíblica, o que difere nos grupos 
neopentecostais mais novos que geralmente têm nas suas experiências com o 
transcendente um desligamento do alicerce teológico. 
 
De qualquer forma, seja pentecostal, ortodoxo ou histórico, a experiência com o 
transcendente é necessária justamente para vivenciar aquilo que se lê, caso 
contrário, estaremos vivendo uma fé puramente intelectual e nossos cultos 
repletos de tédio e marasmo. O culto verdadeiro compreende uma experiência 
com o sobrenatural de Deus e com a revelação sobrenatural da teologia bíblica 
que é o nosso alicerce. Teologizar é a tradução dos termos teológicos a 
comunhão com Deus, relatando o seu conteúdo. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
43 
 
O kerigma, a didaskália e a catequese fazem parte elemento doutrinal da teologia, 
no entanto, a Igreja cultiva a seiva do conhecimento escutando os santos, os Pais, 
da experiência com o Espírito Santo e do colóquio com o Verbo, oferecendo a 
todos na liturgia. 
 
A teologia mística é mais do que conhecimento cerebral é o conhecimento pela 
revelação de Deus e pela participação receptiva do lado do homem. Todo 
conhecimento de Deus deve partir dele e de sua proximidade. 
 
Os Concílios Ecumênicos sempre tiveram como objetivo esclarecer a via 
salvadora de forma prática, respondendo às questões de vida ou de morte. A 
teologia segundo os Pais da Igreja erige-se em ministério carismático, pois o 
conhecimento de Deus é obtido pelo que ele mesmo se dá a conhecer. Longe de 
uma experiência puramente enciclopédica, os Pais da Igreja enfatizam a 
necessidade de uma receptividade aberta às revelações fulgurantes do 
Transcendente. 
 
As dimensões positiva e negativa da teologia dos Pais 
 
A dimensão apofática (negação), constituiu o lado negativo da teologia no sentido 
de negar toda a tentativa de definição de Deus, justamente pelo fato de que todas 
as nossas definições não exprimem a totalidade daquilo que é Deus em si mesmo. 
Ela realiza um ultrapassar, sem nunca se desligar de sua base, a teologia da 
Revelação Bíblica. Esse aspecto negativo constitui o único remédio para a 
insuficiência obrigando a transcender-se, por isso, o lado negativo não é um 
simples corretivo, mas uma teologia autônoma. O método apofático ensina a 
atitude correta de todo teólogo: o homem não especula, mas transforma-se, 
podendo contemplar pelos olhos da Pomba a Mônada una e trina escondida na 
epifania. 
 
A dimensão catafática (positiva), constitui por sua vez, o lado positivo da teologia e 
tem um caráter simbólico, segundo os Pais Orientais, sendo aplicada apenas aos 
atributos revelados, às manifestações de Deus no mundo. Ela se constitui num 
modo inteligível do conhecimento de Deus, que está acima de qualquer sistema 
de pensamento. Essa teologia tem seu valor e suas dimensões próprias e aos 
seus limites. 
 
Deus é misterioso, incognoscível pela sua própria natureza. Quando o homem 
procura a Deus, é ele que é encontrado por Deus. 
 
As particularidades da Teologia dos Pais Orientais 
 
A teologia dos Pais é uma teologia trinitária, elaboradora das definições 
dogmáticas e da unidade e diversidade das Pessoas em Deus. O termo 
homoousios permitiu exprimir o mistério de Deus. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
44 
O Oriente acredita que as relações entre as Pessoas da Trindade não são de 
oposição, nem de separação, mas de diversidade, de reciprocidade, de revelação 
recíproca e de comunhão no Pai. A forma ocidental de uma certa maneira 
contribuiu para realçar as relações de oposição e de separação. 
 
Os atributos que se referem à natureza comum são inerentes aos Três sem 
diferenciações. Sendo a Pessoa Única quando evocada na sua relação com à 
Fonte que é o Pai. A inascibilidade do Pai, a geração do Filho e a processão do 
Espírito são as relações que melhor permitem distinguí-las. 
 
As relações de origem não são o único fundamento das Hipóstases, que as 
constituiria e as esgotaria do seu conteúdo. 
 
A teologia do Oriente reserva um caráter sempre ternário ou triplo das relações, 
suprimindo qualquer possibilidade de as reduzir à dualidade, à formação de 
díades no seio da Trindade. 
 
Na Trindade encontram-se reunidos e circunscritos o uno e o múltiplo, no entanto, 
os Pais não procuram justificar pela razão o número Três. A própria ciência 
matemática, não justifica o um absoluto, sendo assim a unidade composta de 
Deus, não pode ser explicada através de pensamentos ditos "lógicos", se a própria 
ciência não reconhece o um absoluto. 
 
A filosofia latina encara em primeiro lugar a natureza em si mesma e prossegue 
até o subordinado (a Pessoa); a filosofia grega encara em primeiro lugar o 
subordinado e aí penetra depois para encontrar a natureza. Este ponto explica 
justamente a facilidade de entendimento e compreensão do método ortodoxo para 
o ocidental, partindo das três pessoas como Jesus fez na"Grande Comissão", 
chega-se unidade de Deus. Nós atrelados ao pensamento ocidental partimos de 
Deus para explicar a diversidade de Pessoas nele. O problema aqui não é o 
método ser certo ou errado, mas a facilidade que o pensamento ortodoxo fornece 
na compreensão da trindade é inegável. 
 
O Oriente vê o perigo quando não é a Monarquia do Pai, mas a natureza una que 
se erige em princípio da unidade na Trindade. O princípio de unidade não é a 
natureza, mas o Pai que estabelece relações de origem em relação a Ele mesmo, 
como a única Fonte de qualquer relação. 
 
Para os Pais Orientais confessar a unidade trinitária é reconhecer o Pai como a 
única fonte das Hipóstases que simultaneamente recebem dele a mesma e única 
natureza. 
 
A Hipóstase é a maneira pessoal de se apropriar a mesma natureza, sendo que 
cada uma delas na sua realidade única ultrapassa as simples relações de origem. 
Todos os Pais afirmam a única Fonte Hipostática do Pai e ao mesmo tempo uma 
relação íntima entre o Filho e o Espírito inseparavelmente concebidos e unidos. A 
processão do Filho e do Espírito Santo do único Pai foi sempre acentuada 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
45 
fortemente pelos Pais Orientais. 
 
A beatitude designa, para o Oriente, o infinito da deificação, participação da vida 
divina e visão da glória trinitária através da humanidade glorificada do Cristo. 
 
O Pai é a fonte da Verdade, o Filho é o princípio de revelação da Verdade do Pai, 
o Espírito Santo é o princípio da sua manifestação dinâmica e vivificante, ele é a 
Vida da Verdade, o seu Espírito. 
 
Parte XI 
LEVANDO A SÉRIO OS PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO 
Texto básico Hebreus 3.7-14 
 Uma das mais gloriosas promessas da Bíblia Sagrada é a da vinda do Espírito 
Santo sobre a Igreja de Cristo. Ele é o Espírito da verdade (Jo 16.13), da alegria, 
da paz, da justiça (Rm 14.17); é o Consolador, o Paráclito, nosso Amigo e 
Companheiro de caminhada com Jesus (Jo 14.16). 
 
No momento da nossa conversão, todos recebemos o Espírito Santo, assim o diz 
Atos 19.2: "e [Paulo aos discípulos de Éfeso] perguntou-lhes: Recebestes vós o 
Espírito Santo quando crestes?" Nesse instante especial, dons espirituais nos são 
conferidos porque o Espírito Santo quer produzir o Seu fruto em nossa vida. 
Então, como se explica que haja crentes cujas vidas não demonstram os 
abençoados dons espirituais nem a maravilhosa graça do fruto do Espírito? 
 
Diz o Antigo Testamento que dia e noite, contínua e permanentemente, o fogo 
ardia no altar (cf. Lv 6.8-13). Que símbolo inspirador, claro, bendito de como o 
Espírito Santo deve agir em nós, permanente e continuamente. 
 
Mas não tem sido assim: o modo como certos crentes (mesmo o crente?!) tratam 
o Espírito Santo é sinal da presença da "velha criatura". É o caso do filho de Deus 
que dá lugar à hipocrisia, à fraude, à desonestidade, à falta de controle, à mentira, 
e daí por diante. E quando ele age desse modo, torna-se uma pedra de tropeço 
para os outros. 
 
Pois é; o descrente peca resistindo ao Espírito Santo (At 7.51) e contra Ele 
blasfemando (Mt 12.22-32; Hb 10.29); e o crente em Jesus Cristo peca 
entristecendo o Espírito ((Ef 4.30) e extinguindo-O ou apagando-O (1Ts 5.19). 
Aliás são dois versículos extremamente tristes: "E não entristeçais o Espírito Santo 
de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção", diz o da Carta aos 
Efésios; "Não extingais o Espírito", adverte Paulo aos tessalonicenses e a nós. 
 
A BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO 
 
Este pecado é cometido por descrentes, e é o chamado "imperdoável" (cf. Mt 
12.31,32). Há muita idéia equivocada correndo nossos arraiais evangélicos sobre 
em que consiste este pecado. Uma é que ninguém sabe qual é: portanto, nem 
precisamos nos preocupar... Há quem pense ser uma imoralidade degradante em 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
46 
que se envolveu, razão porque nunca mais terá perdão; no entanto, 1João 1.9 é 
revelador e confortador: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo 
para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça". Também não é 
homicídio, nem adultério, nem tóxicos, nem o divórcio. 
 
A blasfêmia contra o Espírito Santo consiste na rejeição na graça divina. Ou como 
os teólogos da Igreja Antiga diziam: "rejeição do evangelho" (Irineu), "dureza do 
coração humano rejeitando a obra de Jesus Cristo" (Agostinho). Pelo texto de 
Mateus 12 é a rejeição da obra, da divindade, do ministério salvador de Jesus 
Cristo, o Filho de Deus. 
 
A negação da verdade do perdão trazido pelo sacrifício de Jesus, e a conseqüente 
remissão de pecados, é não permitir que sejam anulados os pecados. É a rejeição 
da obra do Espírito de Deus em levar o arrependimento e ao perdão. Foi o caso 
de Judas Iscariotes: acompanhou Jesus de perto; participou do Seu ministério, 
até; ajudou nos milagres; conhecia os lugares de oração, mas não conhecia Jesus 
como Salvador. 
 
Por esse motivo, a blasfêmia contra o Espírito Santo dá como resultado a 
condenação eterna. Ora, o perdão em Cristo é o elo de restauração entre Deus e 
o ser humano. Se não há perdão, não há redenção, comunhão nem compartilhar 
com Deus. Estêvão falou sobre isso: "Homens de dura cerviz, e incircuncisos de 
coração e ouvido! Vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim vós como vossos 
pais!" (At 7.51). 
 
É resistência ao Espírito; é tornar o coração como pedra, insensível aos apelos do 
Espírito. Assim sendo, não pode haver perdão. 
 
Mas a blasfêmia contra o Espírito Santo é uma atitude que pode ser corrigida, pois 
Hebreus 3.7,8 o afirmam "Assim, como diz o Espírito Santo: Hoje se ouvirdes a 
sua voz, não endureçais o vosso coração, como no dia da tentação no deserto, 
onde vossos pais me tentaram, me provaram, e viram por quarenta anos as 
minhas obras"(cf. Sl 95.7,8). Esse horrendo pecado deve ser combatido clamando 
pelo Espírito Santo, arrependendo-se e obedecendo : "Se vós, pois, sendo maus, 
sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o 
Espirito Santo àqueles que pedirem?" (Lc 11.13). 
 
QUANDO O ESPÍRITO SANTO FICA TRISTE (Ef 4.30) 
 
O apóstolo Paulo estava perfeitamente consciente de que por trás do que 
pensamos, dizemos e fazemos, há personalidades ativas atuando. São 
personalidades invisíveis, mas bem presentes. Por essa razão, ele nos alerta a 
não dar qualquer oportunidade ao Inimigo-de-nossas-almas: "não deis lugar ao 
diabo" (Ef 4.27), bem como nos instrui a não entristecer o Espírito. 
 
Ora, todo pecado é motivo de tristeza para Deus. Por uma razão simples; simples 
e triste; triste e de tremendas conseqüências: é que o pecado quebra a nossa 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
47 
comunhão com Ele, e nós fomos chamados a essa comunhão. Paulo com certeza 
tinha Isaías 63.10a no coração ao escrever esta advertência: "Contudo eles foram 
rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo". 
 
Não esqueçamos que o Espírito Santo é o elo, o vinculo da vida de comunhão. 
Não esqueçamos, outrossim, que o Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Trindade 
é, por essência, Santo. E Ele Se entristece com a falta de santidade dos filhos de 
Deus, naturalmente; Ele Se entristece com a desunião (Ef 2.18; 4.4); Ele Se 
entristece com tudo o que não combina com a pureza, com a comunhão, com a 
santidade, com a união, com a Sua própria natureza. Ele é o "Espírito da verdade" 
(Jo 16.13; 14.17). Logo, Ele Se entristece com a mentira, com a falsidade e a 
traição. 
 
Ele é o Espírito que nos "sela" para o dia da redenção, ou seja, o Espírito Santo 
em nós é a garantia, o selo, e a certeza da vida, e a certeza da herança que nos 
aguarda. Ele está em nossos corações, e é Aquele no qual estamos garantidos 
para o Dia Final (Ef 1.13,14); é Aquele que nos fez reviver em Cristo (Ef 2.5); é 
Aquele que nos deu acesso ao Pai por meio de Jesus Cristo (Ef 2.18); é Aquele 
que nos comunica os dons necessáriospara o nosso serviço (Ef 4.7,8). Portanto, 
o que pode prejudicar o seu poder em nós deve terminante, enfática e 
imediatamente rejeitado. 
 
Enfim, entristecemos o Espírito de Deus cometendo aquilo que não combina com 
Jesus em pensamento, palavras e ações: 
 
· Quando mentimos, porque, como vimos, Ele é o Espírito da Verdade (Jo 14.7), já 
o lembramos. Fora, então, a falsidade, a mentira e a deslealdade! 
· Quando descremos, porque Ele é o Espírito de Fé (2Co 4.13). Fora a ansiedade, 
a desconfiança, a dúvida, a preocupação! 
· Quando não perdoamos, porque Ele é o Espírito da Graça (Hb 10.29). Abaixo o 
que é amargo e malicioso, indelicado e demorado para perdoar! 
· Quando nos degradamos, porque Ele é o Espírito de Santidade (Rm 1.4). Que 
desapareça de nossa vida o que é impuro, ultrajante e degradante! 
 
QUANDO O ESPÍRITO SANTO É EXTINTO 
 
"Não extingais o Espírito" diz o texto de 1Tessalonicenses. Algumas versões da 
Bíblia "apagar" em lugar de "extinguir". E esse é um pecado só cometido pelo que 
já confessou sua fé em Jesus Cristo. Essa linguagem ("extinguir", "apagar") 
retoma a metáfora do Espírito Santo como fogo, ou algo a Ele associado (cf. Mt 
3.11; Lc 3.16; At 2.3; Rm 12.11; 2Tm 1.6). Observe-se que Romanos 12.11 e 
2Timóteo 1.6 mostram graficamente o abanar de um fogo de carvão até que as 
chamas sejam formadas. 
 
Voltando à Carta aos Tessalonicenses, havia na igreja de Tessalônica uma 
tendência de esmorecer, abafar as manifestações espirituais, ou seja, o fogo do 
Espírito. Provavelmente, era uma reação contra o que pode ter parecido uma 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
48 
ênfase entusiasta ao Espírito. Talvez, mesmo como em Corinto. 
 
Ora, os dons foram dados para o crescimento espiritual do Corpo de Cristo. Se a 
Igreja for indiferente a eles ou hostil, o exercício deles será frustrado, apagado. 
Como então, se extingue o Espírito Santo em nossas vidas, como pessoas 
individuais ou como igreja? 
· Sem dúvida, por falta de receptividade à vontade do Espírito. 
· Por suspeita, ou falta de consideração dos caminhos do Senhor (que não são os 
nossos). 
· Sempre que dizemos "não" a Deus. 
 
Quer dizer que como a brasa apaga quando retirada da fogueira, as vidas dos 
crentes rebeldes, fechados à operação de Deus também. Paulo até fez um 
veemente apelo, 
"Rogo-vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos 
como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não 
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso 
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita 
vontade de Deus" (Rm 12.1,2). 
 
O que apaga o Espírito? Qualquer desafio, qualquer oposição à vontade de Deus. 
O que O acende? A submissão, a entrega, o quebrantamento, a decisão de 
cumprir Seu querer. Um fogo natural é apagado quando jogamos areia ou água 
para sufocá-lo. Pois um pecado intencional apaga, extingue o Espírito Santo. A 
crítica malvada, a grosseria, o rebaixamento de um trabalho pela palavra de 
alguém, o desprezo. 
 
Aí, você, minha irmã, meu irmão, peca contra o Espírito Santo. Você entristeceu o 
Espírito; você apagou o Espírito em sua vida, em seu pensamento, em seu 
testemunho, em suas ações. 
 
Que fazer agora? Como curar os estragos desse(s) pecado(s) em sua vida 
espiritual? Lembre-se de que todo e qualquer pecado entristece o Espírito. 
Recorde-se, porém, de que só Jesus Cristo pode purificar do pecado. João 
escreveu essa evangélica verdade em sua Primeira Carta 1.9: "Se confessarmos 
os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar 
de toda a injustiça". E Paulo o referenda em Tito 3.5. 
 
A confissão é a única condição para a comunhão (1Jo 1.6,7). Afinal, nós somos 
"selados" pelo Espírito Santo; somos marcados, separados para Cristo. O que 
fizermos de errado no corpo ou na mente (na vida cristã não tem pertinência essa 
separação), o que não for para a glória de Deus é ofensa como Aquele que 
merece 100% de nós. Não 50%, nem 80%, nem sequer 98%. 
 
Quando o irmão, a irmã se batizou nas águas tinha na mente e no coração que o 
batismo é símbolo de morte e sepultamento. Morte para o lixo do passado, morte 
para o pecado, e recomeço de vida em Cristo Jesus. Você tem levado a sério essa 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
49 
morte para o sistema de coisas desse mundo? Você morreu para o que não 
agrada a Deus? Ou continua a viver a velha vida da velha criatura com os velhos 
vícios, as velhas atitudes, a vida da criatura que já devia ter morrido há muito 
tempo? Você pode dizer: " Vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim"? 
 
Quando levamos os pecados contra o Espírito Santo a sério, queremos fazer tudo 
o que é agradável a Jesus Cristo, Senhor de nossas vidas. Temos uma visão da 
coisa hedionda que é o pecado, o pecado escondido, o pecado secreto, o pecado 
acariciado tantas vezes. 
 
A Bíblia conta que entre os querubins da tampa da Arca da Aliança (aron haberith) 
brilhava a Shekinah (Ex 25.21,22; 29.43; 30.6; Lv 16.2). A Shekinah, a gloriosa 
presença de Deus brilhava na antiga dispensação entre os querubins do 
propiciatória (kapporeth). Hoje, na nova dispensação, chameja nas frontes dos 
crentes em Jesus Cristo, lavados por Seu sangue, batizados no Seu Espírito, 
purificados para servi-Lo. 
 
Mas Satanás, nosso declarado Inimigo, fez nascer o medo do Espírito Santo entre 
nós. Já pensaram que coisa horrível? Que o Espírito Santo, a Chama Divina, a 
Divina Shekinah queime esse temor. Afinal, nós amamos o Senhor manifesto 
como Deus Pai, Criador; Deus Filho, Sustentador e Deus Santo Espírito, nosso 
Guia, Conselheiro, Amigo e protetor. Nós cantamos sobre o Espírito Santo. São 
inspiradoras expressões as da terceira estrofe do hino 1 do Cantor Cristão (CC), 
 
"A Ti, ó Deus, real Consolador, 
Divino fogo santificador 
Que nos anima e nos acende o amor, 
Aleluia! Aleluia!" 
 
E do 118 CC, 
 
"Jesus, ao céu subindo, 
Se penhorou mandar 
Seu bom e santo Espírito, 
A fim de nos guiar; 
E o grande, excelso Guia 
Em nós agora está, 
O mundo além revela, 
Conduz-nos para lá". 
 
E as grandes verdades doutrinárias do hino 206 do Hinário para o Culto Cristão 
(HCC), 
"Santo Espírito divino, és o Criador, 
junto com o Pai e o Filho, nosso Salvador. 
Do pecado e do castigo vens nos convencer; 
Pelo novo nascimento somos outro ser. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
50 
Santo Espírito, vive em mim aqui, 
Pois em ti fui batizado quando em Cristo eu cri". 
 
E de tantos outros da nossa riquíssima hinódia. 
 
Pois é; os hinos ensinam doutrina. Mas não é porque cantamos hinos que o 
Espírito Santo vem sobre nós; mas porque o Espírito Santo veio sobre nós, e está 
conosco, é que cantamos e louvamos. 
 
E agora uma palavra aos amigos que não têm certeza da salvação. Quando o 
Espírito Santo é levado a sério, entendemos o que seja rejeitar a salvação, insultar 
o Espírito de Deus, blasfemar contra Ele. A rejeição da verdade do evangelho 
produz trevas, caleja, endurece o coração, petrifica-o. Por essa razão, quem se 
convence dessa verdade, da verdade de Cristo, da pureza do Seu ensino, da 
grandiosidade de Sua obra de salvação, e não se rende ao Salvador, endurece o 
coração contra Deus. 
 
Receber o conhecimento da verdade (que é Cristo) e rejeitá-la é um pecado 
voluntário contra o Espírito. Daí a expressão de Hebreus 10.29: "De quanto maior 
castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e 
tiver por profano o sangue da aliança com o qual foi santificado e ultrajar o Espírito 
da graça?" E isso traz condenação sobre condenação. 
 
A Bíblia, no entanto, a Bíblia que é o livro do amor de Deus, ensina que Ele não 
em leva os tempos da ignorância (At 17.30), e o próprio apóstolo Paulo, que havia 
blasfemado contra o Espírito Santo foi salvo pela graça, pela misericórdia que não 
leva em contaesses tempos de desconhecimento da misericórdia, graça, amor e 
paz, desde que haja confissão e arrependimento: "a mim que outrora fui blasfemo 
e perseguidor e injuriador; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, 
na incredulidade; e a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e o amor 
que há em Cristo Jesus" (1Tm1.13). 
 
Parte XII 
LEVANDO O ESPÍRITO SANTO A SÉRIO 
 
Levam todos os crentes em Jesus Cristo o Espírito Santo a sério? A pergunta não 
é descabida, porque a própria Escritura Sagrada nos encoraja a não entristecer o 
Espírito, e a não extingüi-Lo em nossa experiência de vida espiritual. Uma coisa, 
no entanto, deve ser enfatizada: a vida cristã foi projetada para ser de vitórias! E 
elas dependem do Espírito Santo em nós, conduzindo a nossa vida e a enchendo. 
 
Como vamos afirmar que levamos o Espírito Santo a sério, se Ele não ocupa lugar 
de seriedade em nossa vida ou na vida da igreja? Na Escritura Sagrada, ao 
Espírito Santo é atribuída a mesma dignidade do Pai e do Filho. Na Carta de 
Judas está ressaltado: "Vós amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima fé, 
orando no Espírito Santo; conservai-vos no amor de Deus, esperando a 
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo" (v. 20). A Palavra de Deus ensina, 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
51 
ainda, que toda a Santíssima Trindade, em comunhão perfeita, trabalha unida, e 
nenhuma das Suas Pessoas opera de modo separado das outras. 
 
QUANDO NÓS LEVAMOS O ESPÍRITO SANTO A SÉRIO... 
 
A primeira coisa que se vê na Escritura é que Ele nos põe de pé. No livro do 
profeta Ezequiel, capítulo 1.28ss, está registrado: 
 
"Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o 
aspecto do resplendor da glória de Deus. Este era o aspecto da semelhança da 
glória do Senhor; e, vendo isso, caí com o rosto em terra, disse Ezequiel, e ouvi 
uma voz, a voz de quem falava. E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e 
falarei contigo. Então, quando ele falava comigo, entrou em mim o Espírito, e me 
pôs em pé, e ouvi aquele que me falava" . 
 
O Espírito Santo nos põe sempre em pé diante do Senhor. Ele não anda 
derrubando o crente, pois o Espírito Santo não é Deus machucando o crente. Vêm 
acontecendo alguns estranhos movimentos em algumas igrejas. A esse tipo de 
anormalidade atribui-se uma pretensa atuação do Espírito de Santidade (melhor 
tradução para Ruach haKodesh), que, segundo informam, anda derrubando o 
crente. Alguém sopra e a pessoa cai; joga o paletó, cai. Talvez seja outro espírito 
qualquer, mas, seguramente, não o Santo Espírito de Deus, que sempre nos põe 
em pé, como ocorreu com Ezequiel e com João na Ilha de Patmos. É Deus 
levantando, soerguendo, dando forças espirituais e morais para a atividade do 
serviço do Senhor no dia a dia. O relato do que aconteceu com Ezequiel está em 
1.27 a 2.2. Com João, em Patmos, a narrativa está em Apocalipse 1.12-17. 
 
QUANDO LEVAMOS O ESPÍRITO SANTO A SÉRIO... 
 
Ele nos dá uma visão da glória de Deus. Que coisa maravilhosa! Ainda em 
Ezequiel (3.12), "Então o Espírito me levantou, e ouvi por detrás de mim uma voz 
de grande estrondo, que dizia: Bendita seja a glória do Senhor, desde o seu 
lugar". 
 
Isso também aconteceu com Ezequiel, o profeta. E Paulo, o apóstolo, explica o 
significado da revelação de Deus, o significado de tirar o véu. Pois é isso o que 
quer dizer a palavra: tirar a barreira e possibilitar o acesso a essa glória, a 
presença de Deus que faz brilhar, luzir, refletir a glória presenciada. O texto de 
2Coríntios 3.13ss é sempre lido com emoção. Nele, o apóstolo Paulo diz, 
 
"E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face para que os 
filhos de Israel não fitassem o fim daquilo que desvanecia [ele via a glória de 
Deus, e quando descia do monte, a glória começava a se apagar do seu rosto, 
colocando ele um véu para que os filhos de Israel não vissem esse final da glória 
de Deus] mas os seus sentidos foram embotados, pois até hoje, à leitura da antiga 
aliança,[a leitura do Antigo Testamento, como ainda fazem na Sinagoga.] 
permanece o mesmo véu. Não foi removido, porque somente em Cristo é ele 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
52 
abolido.E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. 
Mas, quando um deles se converte ao Senhor então o véu é-lhe retirado. Ora, o 
Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Mas todos 
nós, com o rosto descoberto, refletindo a glória do Senhor, somos transformados 
de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor". 
 
Isso porque nós levamos o Espírito Santo a sério. 
 
QUANDO NÓS LEVAMOS O ESPÍRITO DE DEUS A SÉRIO... 
 
Nós nos inclinamos para o que é espiritual. O Novo Testamento diz que há três 
qualidades de pessoas: a natural, e depois, com muita tristeza, diz a Bíblia o 
crente carnal e o crente espiritual. 
 
Natural é quem nunca experimentou uma mudança no seu interior, nunca mudou 
espiritualmente, a propósito de quem, a Bíblia utiliza a definição: "O homem 
natural não aceita as coisas do Espírito de Deus porque para ele são loucura e 
não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente" (1Co 2.14). 
 
Uma pessoa natural não entende a autoridade da Bíblia, não compreende a 
inspiração da palavra de Deus, não sabe o que é o poder de Deus e para ela a 
pregação bíblica é coisa sem sentido. É como diz aqui, "A palavra da cruz é de 
loucura para os que perecem" (1Co 1.18). E foi, também, por essa razão que 
Jesus Cristo disse, "Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus." 
 
Não devia acontecer, mas existe o crente carnal e o espiritual, diz a Palavra 
Santa. O crente chamado carnal é o que se deixa levar por seus instintos, pelos 
sentimentos e não pela vontade de Deus. Esses sentimentos podem ser de inveja, 
de ciúme, de raiva ou um mexerico. Paulo o descreve em 1Coríntios 3, 
 
"Eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais [está falando com os crentes, 
não esqueçamos], "mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos 
criei, e não com alimento sólido, pois ainda não estáveis prontos para isso.Com 
efeito, ainda agora não estais prontos. Ainda sois carnais. Pois havendo entre vós 
inveja e contendas, não sois carnais, e não andais segundo os homens? Pois, 
dizendo um: Eu sou de Paulo, e outro: Eu de Apolo, não sois carnais?" 
 
O crente carnal é aquele que sabe o que é a graça de Deus; entende muito bem o 
que a graça imerecida de Deus fez nele. Sabe o que é a salvação em Cristo 
Jesus; conhece a Escritura Sagrada. Tem perfeita noção do poder de Deus, já o 
viu até manifesto. Entende o significado do Corpo de Jesus Cristo que é a Igreja; 
sabe a respeito do sustento da igreja através do dízimo. Mas vive como se nada 
disso existisse. Alguém pode pensar (porque Paulo diz que: "Eu vos dei leite") que 
é o crente novo, o irmão que se converteu há pouco tempo. Há crentes com cinco, 
dez, vinte, trinta anos e mais tempo de vida cristã, que lamentavelmente 
conhecem tudo isso, mas vivem na carne. Acontece que alguns têm medo de 
serem chamados de fanáticos. No domingo são "crentões", mas, na segunda, 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
53 
terça, quarta, quinta e sexta-feiras agem como se Deus não fosse uma realidade 
para a sua vida e como se Jesus Cristo não tivesse feito nada por ele para levá-lo 
ao Pai. É uma pessoa sem amor, sem carinho pelos outros, sem alegria: é 
macambúzio, triste. É uma pessoa sem paz, não tem paciência, não é gentil, não 
é bondoso, não é digno de crédito, não é manso e não tem domínio próprio. 
Citamos as características do fruto do Espírito, em Gálatas 5.22,23. Quando 
acorda cada dia e todos os dias, tem gosto de segunda-feira cinzenta, cansada na 
boca. 
 
Mas a Bíblia diz (e glória a Deus!) que existe o crente espiritual: "Mas o que é 
espiritual discerne bem a tudo, e ele de ninguémé discernido (1Co 2.15)". Os 
outros não o entendem, porque busca as coisas do Espírito. Para ele a Bíblia tem 
autoridade, ele a estuda, conhece a Palavra, tem prazer, tem alegria cada dia da 
semana e leva a sério o Espírito Santo. 
 
Fique certo, meu irmão querido, querida irmã, que Satanás sabe o tipo de crente 
que você é. Sabe qual é o meu e o seu ponto fraco, e se aproveita disso para nos 
acusar diante de Deus. Afinal de contas, essa é sua função, não está dito na 
Bíblia?: "Eu ouvia uma voz que dizia, agora é chegada a salvação, e o poder, e o 
reino, e autoridade porque já foi lançado fora o acusador dos nossos irmão" (Ap 
12.10). 
 
Há crente carnal que afasta o descrente de Jesus Cristo, e há o crente sal da 
terra, luz do mundo que atrai à salvação, que leva a Jesus Cristo. Fale a verdade, 
meu irmão, quantas pessoas você tem trazido a Cristo ultimamente? Pense com 
seriedade. E quantos se afastaram de Jesus, ou, no mínimo, quantos se 
afastaram de sua igreja ou de uma organização da igreja por sua culpa? 
 
Uma vida que leva a sério o Espírito Santo, distingue-se por um amor profundo à 
Palavra. Gosta de lê-la, e mais ainda, ama estudá-la. 
 
Uma vida que leva a sério o Espírito Santo tem o hábito da oração. Não é a 
oração por hábito: é o habito da oração, o que Paulo chama de "orar sem cessar". 
 
É liberal na sua contribuição porque diz a Bíblia: "Mais bem aventurada coisa, é 
dar do que receber". 
 
Outra distinção é o ganhar vidas para Cristo. Como ganha vidas para Cristo! Uma, 
duas, e tem alegria de trazer tantos aos pés de Jesus. 
 
Ainda outra característica da pessoa que leva o Espírito a sério é permitir que Ele, 
Espírito, se apodere dessa pessoa e na verdade esse é um anseio da vida, o 
desejo de ser cheio do Espírito Santo de um modo altamente consumidor. 
 
Quando levamos o Espírito Santo a sério ocorrem bênçãos extraordinárias na 
nossa vida. E uma delas, que nos é dada por direito de salvação, é que não mais 
existe condenação. Não mais somos acusados de qualquer coisa negativa do 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
54 
nosso passado: "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em 
Cristo Jesus... porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, livrou-me da lei do 
pecado e da morte" (Rm 8.1,2). Essa é a primeira grande bênção. O nosso 
passado não mais nos amedronta, e se alguém vem lembrar-lhe o que você foi no 
passado, glorie-se em Cristo, como Paulo dizia, e afirme: "Isso foi no passado hoje 
eu sou outra pessoa, eu sou outra criatura. Deus falou em minha vida e Deus 
tocou em minha vida através de Cristo". 
 
Quando levamos o Espírito de Deus a sério, deixamos de ser avarentos com o 
sustento da Causa de Cristo. Deixamos de ser cheios de ira, porque já 
abandonamos os sentimentos de amargura, de ódio, e os substituímos pelo bom 
senso e damos lugar à paz. Egoístas, querendo o primeiro lugar, o lugar de 
destaque, ingratos para com Deus e com o próximo, com o irmão em Cristo, não 
reconhecendo o bem que prestam ao reino de Deus, insensíveis ao sofrimento, às 
carências, às necessidades dos outros. Somos intolerantes com quem pensa 
diferentemente de nós e, vezes tantas, temos prejudicado, alguém e famílias 
inteiras por causa de uma guerrinha particular, quando lutamos com forças carnais 
para destruir aquela pessoa, negligentes que somos com o trabalho do Senhor. 
 
Em uma expressão, somos carnais, influenciados pela velha natureza e não 
subimos a escada espiritual que nos leva à vitória. Como tudo isso resulta em 
graça e paz para a igreja, ou tristeza e miséria para o povo de Deus... Isso pode 
trazer luz ou, dependendo de como o Espírito trabalha ou não em nós, trevas, 
bênção ou maldição. Depende então da nossa atitude de levamos ou não o 
Espírito Santo a sério, e quando o fazemos, cria-se uma unidade na igreja, uma 
unidade entre os crentes. Na palavra de Deus, encontramos como Paulo colocou 
essa questão da unidade: "...procurando e guardar a unidade do Espírito no 
vinculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados 
em uma só esperança da vossa vocação. (Ef 4.3,4). O Espírito Santo cria unidade, 
mas, nós temos que trabalhar para obtê-la. E quando nós dissemos, "Eu sou de 
Paulo", o outro diz, "Pois eu sou de Apolo" e um terceiro fala, "Eu sou de Cefas" e 
mais um afirma, "Eu sou de Cristo", sabe o que acontece? Nós criamos sindicatos, 
partidos, grupos, facções e igrejinhas dentro dessa unidade espiritual que deve ser 
a igreja local. Se não levamos a sério o Espírito de Cristo, tudo isso vai acontecer 
mesmo. No entanto, a palavra de Deus tem uma advertência muito pesada (tão 
pesada quanto clara) quando em 1Coríntios 3.17 diz, "Se alguém destruir o 
santuário de Deus, Deus o destruirá; quem favorecer a desunião da igreja, quem 
prejudicar a comunhão que o Espírito quer criar, será destruído por Deus". 
 
Mas quando a igreja leva a sério o Espírito Santo, aí há reconciliação, muito choro 
às vezes, nessa reconciliação. Porque Ele é a nossa paz diz o apóstolo, "O qual 
de ambos os povos fez um e derrubando a parede de separação que estava no 
meio, na sua carne ele desfez a inimizade entre judeus e gentios". A igreja é, 
realmente, uma comunhão de desiguais. Isso aconteceu no colégio apostólico 
porque aqueles doze homens que andaram com Jesus Cristo, eram as pessoas 
mais desiguais possíveis. Teria sido muito mais fácil para Jesus ter utilizado doze 
fariseus para os seus apóstolos, pois eram iguais. Estudando a história do 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
55 
Judaísmo, vemos que eram homens altamente honrados, tementes a Deus; 
amantes da Escritura Sagrada e ortodoxos na doutrina. Criam na ressurreição e 
eram tão apegados à Lei de Moisés, que chegaram a elaborar 613 mandamentos 
em vez de apenas 10. Nesse ponto, viraram fanáticos. 
 
Realmente, Jesus poderia ter usado doze desse honrados homens. Mas, na Sua 
soberana sabedoria preferiu chamar doze desiguais. Ele chamou um que era fiscal 
do imposto de renda, um funcionário público, um publicano. Há dois mil anos, na 
Palestina, ser fiscal de renda era considerado algo abominável, porque a pessoa 
trabalhava para o Império Romano, não para o povo judeu, não para a Palestina, 
não para Israel. O publicano recebia o dinheiro do judeu e o enviava para Roma, 
razão porque era odiado. Mateus era um publicano. Havia no colégio apostólico 
um guerrilheiro. Havia um que era zelote, o guerrilheiro daquele tempo. Os zelotes 
faziam guerrilha urbana; andavam com uma faca, um punhal que recebia o nome 
de sicar, o qual era escondido dentro do manto. Se ele passasse por uma viela, 
num beco e se encontrasse um romano sozinho, matava-o e guardava seu punhal. 
Pois um dos apóstolos havia sido zelote. Outros eram pescadores, simples 
pescadores, e assim por diante. Era uma verdadeira comunhão de desiguais, que 
tiveram, no entanto, que andar com Jesus para aprenderem a ser iguais. 
 
Quando o Espírito Santo é levado a sério, a igreja é capacitada também para a 
adoração. É importante verificar que a igreja de Antioquia estava em culto, 
ministrando perante o Senhor, diz o livro dos Atos dos Apóstolos, quando Barnabé 
e Saulo foram escolhidos e separados pelo Espírito para a tarefa de missões. A 
seriedade desse empreendimento é tanta que Lucas colocou o registro de que 
eles estavam ministrando a Deus, isto é adorando e jejuavam. Não era brincadeira 
o que eles estavam fazendo, estavam levando o Espírito a sério. 
 
Quando se leva o Espírito Santo a sério, a pregação se torna autêntica e parte do 
coração de Deus. Aliás, há quem se incomode quando o sermão passa dos trinta 
minutos, por outro lado, a pregação hoje em dia tem se tornado extremamente 
pobre. Há púlpitos que só pregam a mesma coisa, não há outra lição do Senhor. 
Se é que a lição que é apresentada é realmente do Senhor, e sendo sempre a 
mesma, ficando sempre no mesmo lugar, cai no que podemos chamarde 
"síndrome da enceradeira": ficar falando a mesma coisa. Para este pregador, a 
palavra de Deus tem primazia de modo que nada o afastará de dominicalmente 
anunciá-la para dar lugar a outras coisas. Porque o Espírito Santo é levado a sério 
neste púlpito. 
 
Observe que quando o irmão/a irmã leva o Espírito Santo a sério, as tentações 
aumentam. Mas as vitórias são, igualmente, maiores. A renovação interior 
produzida pelo Espírito de Deus no seu coração não tem com o que ser 
comparada. Paulo o disse em Tito no capítulo 3.3-7: 
 
"Outrora nós também éramos insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a 
várias paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns 
aos outros. Mas quando apareceu a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
56 
seu amor para com os homens, não por obras de justiça que houvéssemos feito, 
mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante a lavagem da 
regeneração e da renovação pelo Espírito Santo, que ele derramou ricamente 
sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, a fim de que, justificados por 
sua graça, sejamos feitos seus herdeiros segundo a esperança da vida eterna" 
 
Quando você, meu amado, minha querida irmã em Cristo, leva o Espírito Santo a 
sério, você é por Ele unido a outros irmãos e irmãs, em todo o mundo, numa 
grande fraternidade de mãos postas, num grande círculo de oração, como diz o 
apóstolo em Efésios 6.18: "E orai em todo o tempo com toda a oração e súplica no 
Espírito. Vigiai nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos". E 
Ele mesmo, o Espírito, intercede por nós "porque não sabemos o que havemos de 
pedir como convém" (Rm 8.26; cf. Tg 4.3). 
 
Mas, sobretudo, nosso coração que passou de coração pecador a coração salvo, 
deixa de ser simplesmente um coração salvo, para ser um coração salvo e em 
chamas por causa do Espírito Santo! 
 
Parte XIII 
OS CRENTES BATISTAS E OS DONS DO ESPÍRITO SANTO V 
"O Dom de discernimento de Espíritos" - I Cor. 12:10 
 
O mundo em que vivemos hoje, mais do que antes, tem se constituído num mundo 
de enganos, onde existem falsificadores de todas as espécies, e este Dom 
espiritual, o "dom de discernimento de espíritos", diz respeito exatamente à 
capacidade, que o Espírito Santo de Deus, confere ao servo do Senhor, ao crente 
em Cristo Jesus, para ter a condição de entender e distinguir os diferentes 
espíritos malignos, e, desta forma, sentir, observar, denunciar e discernir, se tais 
coisas que estejam acontecendo, "são ou não" de Deus. 
 
A Palavra do Senhor está recheada de irrefutáveis exemplos, em que homens de 
Deus foram usados com poder pelo Espírito Santo, verbi gratia, o Apóstolo Paulo 
no incidente narrado em Atos 16.16-18, quando ele falou com autoridade, em 
nome de Jesus, ao espírito maligno de engano, naquela jovem "possessa", diz a 
Bíblia, por "um espírito adivinhador" que dela se retirou no mesmo instante, em 
que ouviu do servo dotado pelo Espírito Santo, a ordem: "Em nome de Jesus 
Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora saiu..." (Atos 16.18b). 
Outros exemplos são o de Pedro no caso de Ananias e Safira, em Atos 5.1-11; 
novamente a experiência de Pedro com Elimas (Simão o mágico), de que fala 
Atos 13.9-11; a ocorrência de Mateus 9.32-33, na cura do mudo que estava 
endemoniado; na cura da mulher possessa por um espírito de enfermidade, como 
diz a Bíblia em Lucas 13.11-16; quando Filipe pregava em Samaria (Atos 8.7, e 
outros que poderiam ser mencionados). 
 
No texto grego, é a palavra "diákrisis" que é traduzida como "discernimento", que 
fala da capacidade de distinguir as várias fontes de manifestações espirituais, fala 
da capacidade de diferenciar. Pois bem, no trato com os espíritos, este Dom 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
57 
capacita o cristão a distinguir e, que tipo de influência eles poderão causar no seio 
do povo de Deus. Este Dom espiritual, amados leitores, é um Dom apropriado 
para esse momento exato, próprio, específico, singular, e sem este Dom, o corpo 
de Cristo seria presa fácil diante de tantas heresias e ensinamentos distorcidos, 
como os que hoje em dia se proliferam. 
 
A igreja, o corpo de Cristo, vive o tempo todo lidando com o sobrenatural, e, não 
vamos nós, sabendo que as coisas do Espírito são tratadas espiritualmente, 
querer racionalizar e sistematizar, e ainda mais porque, o membro do corpo de 
Cristo, tem que estar atento como ensina em I João 4.1, para poder discernir se 
tais coisas procedem de Deus, ou de falsos espíritos, pois, se não houver firmeza 
e joelhos dobrados diante do Senhor, não poderemos distinguir entre o erro e a 
verdade, e é por isso que temos de usar o DIAKRISIS, isto é, a capacidade que 
pelo "Espírito Santo é repartida a cada um como quer ..." para que, através deste 
dom de discernimento de espíritos, possa o cristão se livrar, bem como evitar que 
o corpo de Cristo que é a igreja seja atacado pelas investidas de Satanás nesses 
momentos tão difíceis que a Igreja do Senhor está vivenciando à beira do terceiro 
milênio e, tantas loucuras de homens, e tantas doutrinas erradas, têm se 
proliferado. 
 
Por fim, considero com os amados leitores o seguinte: 
 
a) Não podemos e nem devemos pelo nosso arraigado tradicionalismo, ditar 
regras para o Espírito Santo agir no seio do corpo de Cristo, a igreja; 
 
b) Não podemos ensinar e ministrar como tantos já ministraram e dizer: OS DONS 
CESSARAM, se nós e até os que já escreveram essas coisas, sabem, que os 
dons não cessaram; 
 
c) Não coloquemos por causa do nosso ceticismo, dúvidas sobre o que o Espírito 
Santo pode, ou não operar. Estejamos submissos ao Senhor. Ele, o Espírito 
Santo, dá a cada um como quer. Não é você, porque é um grande doutrinador 
quem vai ditar as regras ao Espírito. 
 
Agora, tem uma coisa, cada Dom do Espírito Santo, só é concedido para a 
edificação do corpo de Cristo, e, para exaltar e glorificar a Jesus. Não esqueçam 
irmãos: "Que Ele cresça e que nós diminuamos..." Se for diferente, teremos uma 
vertigem de altura! 
 
Parte XV 
OS CRENTES BATISTAS E OS DONS DO ESPÍRITO SANTO IV 
"Dom da Palavra de Sabedoria" - I Cor. 12.1-11 
 
 
Por ser este um Dom do Espírito Santo, transcende e vai além da sabedoria do 
homem. A tradução da palavra grega "sophia" é sabedoria, mas, "sophia" diz 
respeito a sabedoria do homem, ao saber adquirido pelo estudo, pela pesquisa, 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
58 
pelos meios que são colocados à sua disposição os quais, proporcionam ao ser 
humano, uma gama de informações tal, que se pode afirmar, "fulano tem 
sabedoria" pois ele entende deste ou daquele assunto. 
 
Aqui, agora, tratamos do Dom Espiritual da Palavra da Sabedoria, isto é, daquela 
palavra que emana de alguém submisso à vontade do Senhor, e que por estar 
debaixo do governo de Deus, e por Ter sido equipado pelo Espírito Santo com 
este Dom, ao proferir palavras, fala com sabedoria espiritual e, ministra, ensina ou 
esclarece coisas, que o simples saber humano jamais poderia explicar ou 
deslindar. 
 
Gosto muito da explicação dada por Pastor Russel Shedd, quando ao se referir 
sobre palavra no grego "logos", como "capacidade de comunicar", se refere a 
sabedoria, como "análise penetrante daquilo já revelado". Isto nos faz sentir a 
diferença existente entre a sabedoria geral, aquela que se adquire durante toda a 
vida, a cada dia, através da leitura e dos estudos, principalmente nas escolas e 
universidades da vida, e a palavra de sabedoria - Dom do Espírito Santo, onde 
Deus manifesta através do Espírito Santo, esta Palavra de Sabedoria, diante de 
uma necessidade especial, em um determinado lugar, para solucionar algo que 
precisa ser resolvido, e tudo é efetivado na realidade, essa palavra de sabedoria é 
proferida, para a edificação do Corpo de Cristo e, sobretudo para a glorificação do 
Senhore do poder do seu Santo Evangelho. 
 
Este Dom não se manifesta o tempo todo, trata-se, de uma palavra especial, 
específica, para um determinado tempo e lugar, para atender a uma situação 
singular. 
 
O Dom da Palavra da Sabedoria trata de uma proclamação, de uma declaração, 
de uma palavra específica dada por Deus, através do seu Espírito Santo, para 
atender naquele momento a uma situação emergencial. Sendo esse um Dom do 
Espírito Santo, é claro que ele não depende da sabedoria do homem, que embora 
possa ser grande, vasta, graduada e pós-graduada, foge da habilidade humana e, 
passa a se situar na esfera e nos domínios do ministério cristão, e este Dom, pode 
ser exercido tanto no tocante ao ensino da doutrina bíblica, da Palavra de Deus, 
quanto na solução de problemas em geral. 
 
Em Efésios 1.17-19, o Apóstolo Paulo diante do Senhor, ele fala aos irmãos "que o 
Deus de nosso Senhor Jesus Cristo o Pai da glória, vos dê o espírito de sabedoria 
e de revelação no pleno conhecimento dele..." e nesta súplica ardente, Paulo 
mostra o seu desejo de que as três coisas pedidas possam ser entendidas e 
descobertas, por revelação do Senhor, pois, sem o espírito de sabedoria o homem 
jamais poderia entender apenas pelo saber humano. 
 
Billy Graham diz: "o tipo mais alto de sabedoria vem diretamente de Deus e está 
ligado à atuação especial do Espírito Santo... Ele é o manancial de toda a 
verdade, seja qual for a origem... Ele dá aos crentes sabedoria de maneira 
singular... dá um Dom ou capacidade especial de sabedoria para alguns." 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
59 
 
Portanto, queridos, é através deste Dom da Palavra de Sabedoria, que o Senhor 
nos revela uma situação específica, dando ou em palavras ou em ações, a 
capacitação para tomarmos a atitude certa ou, falarmos aquilo que é 
inquestionavelmente necessário. 
 
Louvemos a Deus pelos Dons do Espírito Santo e, até o próximo estudo. 
 
Parte XVI 
OS CRENTES BATISTAS E OS DONS DO ESPÍRITO SANTO III 
"Dom da Palavra do Conhecimento" 
 
I Cor. 12:8 Como é bom pensar com os amados leitores, sobre as insondáveis 
riquezas espirituais que o nosso Deus coloca à disposição do Corpo de Cristo, a 
Igreja, quais sejam os "Dons do Espírito Santo". 
 
Adentro hoje de maneira específica, no âmago da questão, verificando algo sobre 
o dom da PALAVRA DO CONHECIMENTO. Este Dom espiritual está inserido no 
grupo de dons, que têm se mostrado extremamente necessário à vida e, ao 
ministério, dos que exercem a liderança sobre à Casa de Deus, a Igreja do 
Senhor. 
 
O Dom da Palavra do Conhecimento é indiscutivelmente, uma revelação 
sobrenatural de algum fato, que existindo na mente de Deus, mas, que pela 
fragilidade e limitação do homem, ele, o homem, não pode conhecer, exceto se o 
Espírito Santo, o revelar dando assim a capacitação especial. 
 
Conhecimento é o mesmo que ciência, GNÓSIS, na língua grega. Falar com 
ciência é "falar com conhecimento, o que é diferente de conhecer, no sentido de 
que este Dom, traz apenas uma palavra de conhecimento e não, todo o 
conhecimento, pois ter todo conhecimento é prerrogativa divina", conforme 
esclarece Dr. José Perraçoli Moreno, ao escrever sobre o "Despertamento dos 
dons Espirituais". 
 
O Dom da Palavra de Conhecimento possibilita ao cristão sincero e que está na 
dependência do Senhor, ser equipado para proferir palavras, que saem da órbita 
do alcance humano, isto afirmo, porque quando estamos a analisar e estudar 
sobre os Dons do Espírito Santo temos de entender claramente, que para o 
exercício desses dons, o Espírito Santo é quem capacita, e, um claro exemplo que 
a Bíblia nos dá, é que os Apóstolos, eram pessoas rudes, sem conhecimento e 
sem cultura, todavia, em Atos 4.13a, lemos o seguinte: "Então eles, vendo a 
intrepidez de Pedro e João, e tendo percebido que eram homens iletrados e 
indoutos, se admiraram..." (versão da Imprensa Bíblica Brasileira). 
 
De acordo com a recente tradução da Bíblia de Estudos Almeida, "iletrados e 
incultos eram os que não haviam estudado com os rabinos".Note-se ainda, que 
compara o texto referido, com João 7.15, que trata do equipamento maravilhoso 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
60 
do Senhor Jesus, detentor da Palavra do Conhecimento, que deixava a todos 
extasiados, pois, sabia as letras, mas, não havia estudado... 
 
Na Bíblia Shedd, inclusive aproveito a oportunidade para dizer que aprecio 
bastante os comentários do Pastor Russel Shedd, diz que: "as palavras 
eloqüentes faladas pela inspiração do Espírito Santo causaram grande surpresa." 
 
A Bíblia é, portanto farta, em demonstrar a manifestação deste Dom Espiritual da 
Palavra do Conhecimento, em diversos Ministérios, como por exemplo, nos de: 
SAMUEL (I Samuel 9.15-20 e I Samuel 10.22); AÍAS (I Reis 14.6); JESUS (João 
2.48 e 4.18); PEDRO (Atos 5.3 e 4); PAULO (Atos 27.23-25). 
 
Vale destacar, que ninguém é detentor de todos os Dons do Espírito, mas cada 
um recebe o Dom, da forma como o Espírito quer. O Espírito é quem reparte. A 
exortação da Palavra é que busquemos os dons com avidez, e ao buscá-los 
devemos fazê-lo com equilíbrio, zelo, contudo sem impedir que o Espírito possa 
fluir livremente. Só não podemos é humanizar o que é do Espírito e nem dizer 
como é que queremos ser dotados, e nem como é que vai ser o exercício dos 
dons nas nossas vidas. Em I Cor. 12.7, a tradução da Imprensa Bíblica diz: "A 
cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum", isto é 
para o proveito do "Corpo de Cristo", que é a Igreja do Senhor. O Espírito é o 
mesmo, foi o de ontem, é o de hoje, e será eternamente, e este Espírito "distribui 
particularmente a cada um como quer"(I Cor. 12.11). 
 
Não vamos misturar "Palavra de Conhecimento" com "Palavra de Sabedoria", não 
vamos misturar GNOSIS com SOPHIA, pois conhecimento é distinto de sabedoria 
e, em se tratando dos "Dons do Espírito" a Palavra de Sabedoria que será o 
assunto do próximo estudo, iremos ver que tratará de uma palavra especial, 
espiritual, sobrenatural, não é apenas, "a sabedoria frente às exigências feitas 
pela vida humana..." é, coisa de Deus, é coisa do Espírito. 
 
O Ilustre Pastor Billy Graham em um dos seus livros diz claramente: "Os dons do 
Espírito nunca devem dividir o Corpo de Cristo; devem mantê-lo unido..." (O 
Espírito Santo, Edições Vida Nova, São Paulo, pág. 132). 
 
Os assuntos que estamos abordando, visam o "aperfeiçoamento dos santos, para 
o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo de Cristo..." (Ef. 4.12). 
 
Parte XVII 
OS CRENTES BATISTAS E OS DONS DO ESPÍRITO SANTO III 
"Dom da Palavra do Conhecimento" 
 
 
I Cor. 12:8 Como é bom pensar com os amados leitores, sobre as insondáveis 
riquezas espirituais que o nosso Deus coloca à disposição do Corpo de Cristo, a 
Igreja, quais sejam os "Dons do Espírito Santo". 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
61 
Adentro hoje de maneira específica, no âmago da questão, verificando algo sobre 
o dom da PALAVRA DO CONHECIMENTO. Este Dom espiritual está inserido no 
grupo de dons, que têm se mostrado extremamente necessário à vida e, ao 
ministério, dos que exercem a liderança sobre à Casa de Deus, a Igreja do 
Senhor. 
 
O Dom da Palavra do Conhecimento é indiscutivelmente, uma revelação 
sobrenatural de algum fato, que existindo na mente de Deus, mas, que pela 
fragilidade e limitação do homem, ele, o homem, não pode conhecer, exceto se o 
Espírito Santo, o revelar dando assim a capacitação especial. 
 
Conhecimento é o mesmo que ciência, GNÓSIS, na língua grega. Falar com 
ciência é "falar com conhecimento, o que é diferente de conhecer, no sentido de 
que este Dom, traz apenas uma palavra de conhecimento e não, todo o 
conhecimento, pois ter todo conhecimento é prerrogativa divina", conforme 
esclarece Dr. José Perraçoli Moreno, ao escrever sobre o "Despertamento dos 
dons Espirituais". 
 
O Dom da Palavrade Conhecimento possibilita ao cristão sincero e que está na 
dependência do Senhor, ser equipado para proferir palavras, que saem da órbita 
do alcance humano, isto afirmo, porque quando estamos a analisar e estudar 
sobre os Dons do Espírito Santo temos de entender claramente, que para o 
exercício desses dons, o Espírito Santo é quem capacita, e, um claro exemplo que 
a Bíblia nos dá, é que os Apóstolos, eram pessoas rudes, sem conhecimento e 
sem cultura, todavia, em Atos 4.13a, lemos o seguinte: "Então eles, vendo a 
intrepidez de Pedro e João, e tendo percebido que eram homens iletrados e 
indoutos, se admiraram..." (versão da Imprensa Bíblica Brasileira). 
 
De acordo com a recente tradução da Bíblia de Estudos Almeida, "iletrados e 
incultos eram os que não haviam estudado com os rabinos".Note-se ainda, que 
compara o texto referido, com João 7.15, que trata do equipamento maravilhoso 
do Senhor Jesus, detentor da Palavra do Conhecimento, que deixava a todos 
extasiados, pois, sabia as letras, mas, não havia estudado... 
 
Na Bíblia Shedd, inclusive aproveito a oportunidade para dizer que aprecio 
bastante os comentários do Pastor Russel Shedd, diz que: "as palavras 
eloqüentes faladas pela inspiração do Espírito Santo causaram grande surpresa." 
 
A Bíblia é, portanto farta, em demonstrar a manifestação deste Dom Espiritual da 
Palavra do Conhecimento, em diversos Ministérios, como por exemplo, nos de: 
SAMUEL (I Samuel 9.15-20 e I Samuel 10.22); AÍAS (I Reis 14.6); JESUS (João 
2.48 e 4.18); PEDRO (Atos 5.3 e 4); PAULO (Atos 27.23-25). 
 
Vale destacar, que ninguém é detentor de todos os Dons do Espírito, mas cada 
um recebe o Dom, da forma como o Espírito quer. O Espírito é quem reparte. A 
exortação da Palavra é que busquemos os dons com avidez, e ao buscá-los 
devemos fazê-lo com equilíbrio, zelo, contudo sem impedir que o Espírito possa 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
62 
fluir livremente. Só não podemos é humanizar o que é do Espírito e nem dizer 
como é que queremos ser dotados, e nem como é que vai ser o exercício dos 
dons nas nossas vidas. Em I Cor. 12.7, a tradução da Imprensa Bíblica diz: "A 
cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum", isto é 
para o proveito do "Corpo de Cristo", que é a Igreja do Senhor. O Espírito é o 
mesmo, foi o de ontem, é o de hoje, e será eternamente, e este Espírito "distribui 
particularmente a cada um como quer"(I Cor. 12.11). 
 
Não vamos misturar "Palavra de Conhecimento" com "Palavra de Sabedoria", não 
vamos misturar GNOSIS com SOPHIA, pois conhecimento é distinto de sabedoria 
e, em se tratando dos "Dons do Espírito" a Palavra de Sabedoria que será o 
assunto do próximo estudo, iremos ver que tratará de uma palavra especial, 
espiritual, sobrenatural, não é apenas, "a sabedoria frente às exigências feitas 
pela vida humana..." é, coisa de Deus, é coisa do Espírito. 
 
O Ilustre Pastor Billy Graham em um dos seus livros diz claramente: "Os dons do 
Espírito nunca devem dividir o Corpo de Cristo; devem mantê-lo unido..." (O 
Espírito Santo, Edições Vida Nova, São Paulo, pág. 132). 
 
Os assuntos que estamos abordando, visam o "aperfeiçoamento dos santos, para 
o desempenho do seu serviço, para a edificação do Corpo de Cristo..." (Ef. 4.12). 
Parte VIII 
OS CRENTES BATISTAS E OS DONS DO ESPÍRITO SANTO II 
I Cor. 12:1-11 
 
Mais uma vez me dirijo aos queridos irmãos para trazer algo que merece a nossa 
reflexão, sobre esta pessoa maravilhosa da Trindade Santa, o "Espírito Santo", e, 
o que esta pessoa tão relevante tem para todos nós, crentes batistas, através dos 
"dons espirituais". 
 
Os dons do Espírito Santo são os meios inquestionáveis, através dos quais, nós 
os crentes, membros do Corpo de Cristo (a Igreja), somos capacitados, habilitados 
e totalmente equipados para podermos realizar com autoridade e poder, a obra de 
Deus. 
 
Meu desejo de escrever sobre este assunto e trazê-lo para o nosso povo batista, 
sinto ser vontade de Deus, sobretudo quando me deparo com o que diz a Palavra 
em I Cor. 12:1, "a respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais 
ignorantes..." e, é por este motivo, com esteio nas Escrituras Sagradas, que ouso 
salientar que sem os dons do Espírito Santo, o Corpo de Cristo, a Igreja do 
Senhor, ao contrário de ser um poderoso organismo vivo, cheio de graça e de 
unção, passaria a ser simplesmente uma organização social, humana e religiosa, 
sem o poder e as características espirituais que a Igreja do Senhor deve carregar 
consigo. 
 
Já li com espanto, em algumas lições que mestres antigos ministraram, 
principalmente nas revistas da Escola Bíblica Dominical, em que escritores e 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
63 
comentaristas ao questionarem se os dons do Espírito Santo permanecem nos 
dias atuais, respondiam ao povo dizendo: 
 
"Alguns sim; outros não (grifo nosso)." (Revista Compromisso - JUERP, 1994, pg. 
32), aonde é que está escrito na Bíblia isto? Em lugar nenhum. 
 
Eu sei que a obra que o Senhor está realizando no meio do povo batista, me 
confere a condição de dizer com letras maiúsculas e, se questionado for, se os 
dons permanecem hoje, responder: 
 
"SIM, TODOS OS DONS DO ESPÍRITO SANTO, NA VIDA DA IGREJA, 
PERMANECEM NA SUA INTEGRIDADE, PORQUE A BÍBLIA DIZ QUE SIM" e 
embora homens queiram negar, prefiro ficar com a Palavra do Senhor que em I 
Cor. 12:4 diz: "Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo" (grifo 
nosso), isto é, Aquele Espírito Santo que deu e que repartiu, é o mesmo que dá e 
que reparte hoje, a cada um, como quer, para a edificação do Corpo de Cristo que 
é a Igreja do Senhor. 
 
Vale destacar também o fato de que muitos sempre confundiram os nove (09) 
dons do Espírito Santo, com fruto do Espírito Santo, que se expressa através de 
nove (09) características, indispensáveis à verdadeira vida cristã, isto é, o cristão 
verdadeiro tem que dar frutos, deve frutificar no seu dia a dia, e manifestar a todos 
que com ele convivem, as nove (09) características do fruto do Espírito, quais 
sejam: AMOR, GOZO, PAZ, LONGANIMIDADE, BENIGNIDADE, BONDADE, FÉ, 
MANSIDÃO e TEMPERANÇA, conforme Gál.5:22. Portanto, é de bom alvitre 
esclarecer que fruto é uma coisa e, dons outra coisa. 
 
O fruto do Espírito Santo faz o crente sentir a necessidade de ter o seu caráter, 
moldado pelo caráter do Mestre, o nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto os dons 
do Espírito Santo, são as capacitações especiais que o Espírito concede aos 
cristãos, para com poder, graça e unção, realizar a obra do Senhor. 
 
Sinto-me, pois, à vontade em escrever para o nosso povo batista sobre o tema 
dos "Dons do Espírito Santo", não só porque a Palavra de Deus admoesta e 
ensina aos crentes que assim o busquem: "segui o amor e buscai com zelo os 
dons espirituais..." (grifo nosso) - I Cor. 14:1, mas, também, porque ao falar a 
Timóteo seu filho na fé, o Apóstolo Paulo querendo encorajá-lo a suplantar as 
dificuldades e destacando os grandes problemas que mercê da Graça de Deus, 
dos mesmos já havia obtido a vitória, Paulo lhe admoesta dizendo: "reavives o 
Dom de Deus que há em ti" - II Timóteo 1:6 (Pastor Shedd traduz por reavivar, 
usando um verbo que significa fazer o fogo subir com vida, reatiçar, para que 
Timóteo permitisse que o Dom que lhe fora dado pelo Espírito ardesse nele), cujo 
Dom era o de profecia, recebido pela imposição de mãos do presbitério (I Timóteo 
4: 14), mas, me sinto a vontade, sobretudo, pelo Tema Geral dos Batista 
Brasileiros em 2001 que é: DESPERTA OS DONS QUE HÁ EM TI! Este tema é 
um imperativo e, ao estudá-lo, sem dúvida, "dons" poderão ser despertados. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
64 
A partir do próximo estudo, estaremos observando o que a Bíblia Sagrada ensina 
sobre os dons do Espírito Santo, conforme mencionaremos a seguir: 
a) Palavra do Conhecimento, Palavra de Sabedoria e Discernimentode Espíritos; 
b) Dons de Curar, Dons de Operação de Milagres e Dom da Fé; 
c) Dom de Variedade de Línguas, Dom de Interpretação de Línguas e Dom de 
Profecia. 
 
Vamos devagar, com calma e prudência, mas, que Deus está fazendo uma grande 
obra no meio do povo batista, está! 
 
Louvado seja o Senhor! 
 
Parte XIX 
OS CRENTES BATISTAS E OS DONS DO ESPÍRITO SANTO 
I Co. 12:1-11 
 
Não há como negar, seja o povo batista ou não, o Senhor Deus está realizando 
uma grande obra, e, de algum tempo para cá, estamos vivendo um grande "mover 
do Espírito Santo", isto porque, não tenham dúvidas, o Senhor, à luz da Sua 
Palavra, está promovendo no meio do seu povo "um grande avivamento 
espiritual". 
Numa época como esta, nada mais justo do que exercermos atitudes cautelosas 
em muitas e determinadas coisas. 
 
Como Pastor desde meus 20 anos de idade, ordenado na Igreja Batista da 
Encruzilhada em Recife, hoje com 53 anos de idade, portanto, 33 anos de 
Ministério, ouví, estudei e aprendí dos grandes mestres e professores, livros e 
estudos dirigidos, etc., muitas coisas que foram ministradas e ensinadas, e, 
principalmente sempre lí as lições dos "Pontos Salientes" da Escola Bíblica 
Dominical, que eram ministradas nas nossas igrejas e, uma das coisas que se 
ensinava e escrevia, é que: 
 
1) "os dons cessaram"; 
2) "não mais haveria a necessidade de manifestações dos dons" e, 
3) "as manifestações dos dons eram necessárias naquela época apostólica para o 
povo poder crer ..." 
 
Todavia, queridos leitores, nós sabemos que não é nada disto, os dons do Espírito 
Santo são uma evidência clara no meio do povo de Deus e, os dons do Espírito 
Santo, não são propriedades exclusivas de nossos amados irmãos em Cristo, 
pentecostais ou assembleianos (a quem amamos e respeitamos), ou dos néo-
pentecostais (os quais também amamos), hoje tantos, mas, os "dons do Espírito 
Santo" são também uma clara evidência no meio do povo batista, no Brasil e no 
mundo, numa demonstração inequívoca, de que a Palavra do senhor é a mesma 
de ontem e será eternamente, pois o Senhor assim ministrou: "Passarão os céus e 
a terra, mas, as minhas palavras não haverão de passar ..." Mateus 24:35. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
65 
Não sei por que, tanta gente tem medo de tratar deste assunto e de ministrar ao 
povo batista, a grande verdade, de que o Senhor está a realizar grandes 
maravilhas e, que o "mover do seu Espírito" é, hoje, uma realidade que ninguém 
pode negar. 
 
Não tenham dúvidas, que é por causa desta omissão do líder batista de não 
querer se expor, e dizer claramente ao povo que nós os batistas CREMOS NOS 
DONS DO ESPÍRITO SANTO e, sabemos que, como diz a Bíblia Sagrada, "o 
Espírito Santo opera todas essa coisas, repartindo particularmente a cada um 
como quer ..." (I Co. 12:11) e, que, a "manifestação do Espírito é dada a cada um 
para o que for útil ..." (I Co. 12:7), portanto, se não for para ser útil, não será dada 
a manifestação nem será dado o Dom, é por causa desta omissão que estamos 
vendo tanta distorção doutrinária no meio do povo batista. 
 
Humilde e submisso à vontade do Senhor é que pretendo escrever uma série de 
estudos sobre o assunto Dons do Espírito Santo, e, para tanto, tenho orado e 
pedido as orações dos irmãos da Igreja Batista dos Mares da qual sou o Pastor, 
para que orem por mim, pois, o que desejo, nada mais é do que a vontade da 
Palavra de Deus, e, nos próximos estudos adentrarei de maneira direta numa 
análise à luz da Bíblia, sobe os "dons espirituais" e, pasmem, até sobre os "dons 
de línguas" incontestavelmente um tabu no meio do povo batista mas, uma 
realidade insofismável na vida do povo de Deus, contudo, ensinaremos que ao ser 
exercido, mediante a dádiva do Espírito Santo, o é, para edificação própria, pois o 
que "fala em língua estranha edifica-se a si mesmo" (I Co.14:4) e, este texto, fala 
mesmo da "variedade de línguas, isto é, línguas que não correspondem a 
nenhuma língua conhecida por aquele que fala..." , conforme está explicado no 
rodapé da (Bíblia de Estudos Almeida, da Sociedade Bíblica do Brasil, às páginas 
252, do Novo Testamento, edição recente de 1999, Baurerí, São Paulo), mas, 
ninguém se espante, porque também iremos dizer que "o amor" além de ser 
superior aos dons, é sem dúvida o elemento legitimador do uso dos dons na 
edificação do povo de Deus, e, o amor não deixa o crente presunçoso, orgulhoso, 
achando que é superior aos demais e, nem "orando para que os outros crentes se 
convertam", pois, quem recebeu a Jesus e permanece fiél ao Senhor, dia após 
dia, não tem que se converter de novo, nem, porque foi a um "encontro tremendo" 
é que agora se converteu. Cuidado! É bom ter calma, prudência, mas, que Deus 
está fazendo uma grande obra, está ! 
 
Até ao próximo estudo ! 
 
Parte XX 
O ESPÍRITO SANTO, MISSÕES E A IGREJA BRASILEIRA 
 
O Espírito Santo é eminentemente missionário e a missão da igreja no mundo é 
participar da missão do Espírito. 
Esta declaração nos deve conduzir a uma reflexão séria, principalmente porque 
hoje, mais do que nunca, a sociedade brasileira necessita de uma mensagem 
evangélica confrontadora. O que não significa dizer que ela queira 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
66 
necessariamente ser tocada em suas feridas; porém, à luz da Bíblia, não podemos 
oferecer às pessoas um evangelho paliativo e barateado como temos visto hoje 
em dia. O cristianismo puro e simples (para usar o título em português do livro de 
C. S. Lewis) precisa ser a mensagem pregada e o estilo de vida de todo homem e 
de toda mulher salvos em Cristo. 
 
É triste constatar o tipo de evangelho enganador que está sendo anunciado 
atualmente. Um evangelho descompromissado da ética cristã e da santidade de 
vida. Um evangelho falsificado que propõe atalhos ao invés do verdadeiro 
caminho. No meio artístico, por exemplo, ouve-se falar daquele e daquela como os 
mais novos irmãos na fé; entretanto, aqui e ali ficamos sabendo dos escândalos 
que esses "irmãos" cometem. Não negamos que haja conversões autênticas entre 
os artistas, porém, é preciso o quanto antes que o verdadeiro evangelho, com 
todas as suas implicações para a igreja e a sociedade, seja resgatado em nosso 
meio. É necessário que "o sal da terra" e "a luz do mundo", a igreja de Jesus 
Cristo, ofereça, mediante o evangelho da verdade, a verdadeira vida para todo 
aquele que perece em seus próprios pecados. E isto só acontecerá quando a 
igreja proclamar o evangelho de poder e no poder do Espírito, visto que ela 
também precisa enxergar além de si mesma, de sua institucionalização e de seus 
paradigmas obsoletos. 
 
Além disso, em se tratando da apresentação do evangelho ao povo brasileiro, a 
igreja evangélica, não raramente, tem ido ou para o extremo da mensagem 
desencarnada, distante da realidade cotidiana do povo, mediante a apresentação 
de um evangelho transcendente que alcança as estrelas mas esquece da terra; ou 
tem, por outro lado, oferecido Jesus Cristo às pessoas como se Ele fosse um 
produto de consumo à disposição nas prateleiras do mercado eclesiástico. Outras 
vezes apresenta-se Cristo no melhor dos estilos "fada madrinha". Em nome dEle 
promete-se ao povo casa, carro, dinheiro; enfim, toda sorte de prosperidade. 
Cremos sinceramente que Cristo pode dar tudo e até mais do que é prometido ao 
povo em termos de prosperidade; contudo, não podemos perder de vista as 
implicações e exigências do evangelho autêntico. As pessoas não devem ser 
confrontadas somente em termos de: "Você não conseguiu? Venha para Jesus 
que você consegue", mas sim, encaradas como pecadoras que precisam 
urgentemente da graça redentora. 
 
E por que precisamos nos preocupar com isto? Justamente porque a sociedade 
brasileira carece do evangelho que esteja encarnado na vida dos crentes e na vida 
dela mesma. Um cristianismo integral, como expressão de vidas santificadas e 
consagradas ao Senhor, é o que realmenteimpactará nosso país e o mundo. 
Cristianismo integral é a manifestação viva daquilo que dizemos acreditar. Paulo é 
um exemplo fabuloso de compromisso com a verdade do evangelho. Ele nunca a 
comprometia. Podia como poucos ser imitado como imitador de Cristo. 
Semelhantemente o povo brasileiro precisa ver na igreja de hoje pessoas que 
vivam o que dizem crer. A prática é a expressão do que acreditamos. Se não 
praticamos o que dizemos, então a nossa pregação não passará de retórica 
evangélica desqualificada. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
67 
 
O livro de Atos é um exemplo fabuloso de prática cristã autêntica sob o comando 
do Espírito Santo. Eis que o Livro está aí, diante de nós, para ser conferido, lido e 
relido pelo povo evangélico ou não, sob uma nova (ou velha?) ótica: a ótica do 
Espírito missionário. Em Atos o Espírito Santo faz a diferença. O livro de Atos se 
torna único no Novo Testamento porque nele o Espírito Santo se revela como um 
Espírito missionário. Por isso, abordar o segundo tratado de Lucas numa 
perspectiva missiológica é fazer verdadeira justiça ao seu autor. Há teologia em 
Atos? É claro que sim. Mas apresentá-lo missiologicamente é a maneira mais 
natural de fazê-lo. Sendo o Espírito Santo missionário, o que segue é 
conseqüência natural, isto é, a igreja neotestamentária formada a partir do 
Pentecostes passa a ser naturalmente uma igreja missionária. A relação Espírito-
igreja é a chave do sucesso em Atos. No entanto, do começo ao fim de seu 
segundo livro, Lucas deixa claro que o Espírito Santo é quem comanda a igreja 
em sua missão. Achamos importante enfatizar este ponto, visto que atualmente 
existe uma concepção equivocada acerca da pessoa e obra da terceira pessoa da 
Trindade em geral, e de sua missão em particular. 
 
O Espírito Santo é Deus, e Deus soberano. Ele conduziu em triunfo a Igreja 
Primitiva em sua missão evangelística, sendo o mesmo Espírito a conduzir nos 
dias de hoje a igreja brasileira em sua tarefa missionária. Num estudo sistemático, 
podemos observar que o Espírito Santo é quem vocaciona, capacita e dirige 
soberanamente seus obreiros e a igreja na missão. Além disso, é Ele quem vai 
adiante, abrindo portas e preparando o caminho para o sucesso da obra 
missionária. E o mesmo Espírito que vocaciona, capacita e dirige os missionários 
e a igreja na missão, além de preparar o campo, é quem transforma este mesmo 
campo em base missionária. A visão missionária é uma dádiva do Espírito para a 
igreja do Senhor Jesus. Praticar esta visão, como o fez a igreja de Antioquia, é 
entender o verdadeiro propósito para o qual a igreja de Jesus existe. 
 
Tudo que o Espírito Santo fez em Atos visava a ação missionária da igreja. O 
Pentecostes, por exemplo, não aconteceu para que a igreja vivesse em torno de si 
mesma, comodamente, degustando tão somente aquela experiência sobrenatural. 
No Pentecostes o Espírito Santo capacitou a igreja e continuaria capacitando-a 
para ser testemunha de Jesus em todo o mundo. Concedeu o que a igreja 
esperava e o que ela buscava: poder para testemunhar. Poder para proclamar as 
boas novas de Deus em Cristo Jesus, mas também poder para vencer o medo, a 
covardia e a timidez por Cristo Jesus. Os dons ou manifestações do Espírito 
(línguas, curas, profecias, etc.) foram dados pelo Espírito Santo com o objetivo de 
que a igreja testemunhasse de Jesus ao redor do mundo. Nada do que a igreja 
recebe do Espírito tem nela um fim em si mesmo. 
 
No passado o Espírito Santo e a Igreja Primitiva deram continuidade ao que Jesus 
começou a fazer e a ensinar. Hoje, é possível que nosso maior desafio seja o de 
jamais esquecer que a missão do Espírito e da igreja cristã não terminou com Atos 
28. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
68 
Extraído com permissão do livro ATOS DO ESPÍRITO SANTO (Ed. Descoberta, 
2002) de autoria do Rev. Josivaldo de França Pereira. 
 
Parte XXI 
O ESPÍRITO SANTO NO PROCESSO HERMENÊUTICO 
 
Introdução 
O presente trabalho é uma análise sucinta do papel do Espírito Santo no processo 
hermenêutico e de sua relação com os outros elementos do chamado círculo 
hermenêutico. Nós o dividimos em três capítulos principais, sendo que somente o 
último deles trata diretamente do Espírito Santo no processo hermenêutico. 
Acreditamos que esta disposição será necessária porque os dois primeiros 
capítulos servirão de pano de fundo ao tema. Sendo assim, procuramos definir a 
hermenêutica e seu propósito, a relação entre o Espírito Santo, a Bíblia e o 
intérprete e, por último, o papel do Espírito Santo na ciência hermenêutica e no 
círculo hermenêutico. 
Quanto ao Espírito Santo no círculo hermenêutico, propriamente dito, abordamos 
a questão no conceito de missão integral numa teologia de contexto. Como se 
relaciona o Espírito com os quatro elementos do círculo hermenêutico? O Espírito 
deveria ou não ser representado graficamente com os outros elementos do 
círculo? Como definir o Espírito Santo no círculo hermenêutico? Esperamos 
responder a contento a estas e outras perguntas semelhantes. Nossa pesquisa 
não é exaustiva mas espero que atenda o propósito para o qual foi escrita; a 
saber, valorizar a importância e centralidade do Espírito Santo no processo 
hermenêutico. 
"No estudo da Bíblia, não é bastante que entendamos o sentido de autores 
secundários (Moisés, Isaías, Paulo, João); temos que entender a mente do 
Espírito" (Louis Berkhof). 
 
I. Definição e Propósito da Hermenêutica 
 
1.1. Definição de Hermenêutica 
"Hermenêutica" é uma palavra de origem grega. Platão (c. 427-347 a.C.) foi o 
primeiro a utilizá-la como termo técnico. 
No sentido amplo do termo, a hermenêutica pode ser definida como a ciência que 
nos ensina os princípios, as leis e os métodos de interpretação de qualquer 
produção literária. Antônio Almeida diz que hermenêutica é "a ciência e a arte de 
interpretar. É ciência porque postula princípios seguros e imutáveis; é arte porque 
estabelece regras práticas".1 Especificamente falando, a hermenêutica sacra tem 
caráter muito especial, porque trata de um livro peculiar no campo da literatura - a 
Bíblia como inspirada Palavra de Deus. E somente quando reconhecemos o 
princípio ativo da pessoa do Espírito Santo na inspiração da Bíblia e por Ele 
somos guiados na 
compreensão da mesma, é que podemos conservar o caráter doutrinário e prático 
da hermenêutica bíblica. 
 
1.2. O Propósito da Hermenêutica 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
69 
Em geral, estuda-se hermenêutica com o propósito de interpretar produções 
literárias do passado. Sua tarefa principal é indicar o meio pelo qual possam ser 
removidas as diferenças ou distâncias entre um autor e seus leitores. A 
hermenêutica nos ensina que isso só se realiza satisfatoriamente quando os 
leitores se transpõem ao tempo e ao espírito do autor para, por exemplo, analisar 
as características pessoais do autor, as circunstâncias sociais do mesmo e as 
circunstâncias peculiares aos escritos. 
Na hermenêutica sacra o ponto de partida é a própria Bíblia, uma vez que ela 
mesma é o objeto de pesquisa da hermenêutica. O propósito da hermenêutica 
sacra é "transportar a mensagem bíblica, a partir do seu contexto original, a uma 
situação histórica contemporânea".2 
 
Infelizmente, boa parte dos estudiosos bíblicos partem da metodologia para a 
Bíblia. Primeiro formulam suas conclusões pessoais e depois vão aplicá-las à 
interpretação das Escrituras, ao invés de deixarem que a Bíblia formule as regras 
para sua própria interpretação. Valdir Steurnagel, por exemplo, entende que "nós 
podemos ter as duas coisas. Teologia de baixo e teologia de cima".3 Entretanto, 
Padilla observa corretamente: "O esforço para deixar que as Escrituras falem, sem 
impor-lhes uma interpretação elaborada de antemão, é uma tarefa hermenêutica 
obrigatória de todo intérprete, seja qual for sua cultura."4 
 
Um dos princípiosdefendidos pelos reformadores do século XVI era que a 
Scriptura Scripturae interpres. Um século depois da Reforma Protestante, este 
princípio foi apreciado e elaborado pela Assembléia de Westminster do seguinte 
modo: 
A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, 
quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da 
Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e 
compreendido por outros textos que falem mais claramente5 
 
Na verdade é quase que impossível nos aproximarmos da Bíblia sem 
pressuposições variadas, herança herdada de diversas influências (sociais, 
culturais, teológicas, etc.). Os reformadores, por exemplo, não foram os primeiros 
e nem seriam os últimos a negarem, entre eles mesmos, o princípio de que a 
Escritura interpreta a si mesma. Dentre outras coisas, temos o exemplo clássico 
dos conceitos teológicos de Lutero, Zuínglio e Calvino em relação à Ceia do 
Senhor. Contudo, todas as pressuposições, sejam as nossas ou sejam as deles, 
não são e nem podem ser justificadas pela Bíblia. Afim de que as Escrituras 
possam ser estudadas com o mínimo de coerência, é preciso interpretá-las 
gramática, histórica e teologicamente de mente e coração abertos para ouvirmos 
com humildade e disposição a voz do Espírito Santo de Deus. 
 
II. O ESPÍRITO SANTO, A BÍBLIA E O INTÉRPRETE 
 
2.1. O Espírito Santo e a Bíblia 
 
"Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
70 
a correção, para a educação na justiça, afim de que o homem de Deus seja 
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2 Tm 3.16,17). 
 
"Sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de 
particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade 
humana, entretanto homens [santos] falaram da parte de Deus movidos pelo 
Espírito Santo" (2 Pe 1.20,21). 
 
As passagens bíblicas que transcrevemos acima, assim como tantas outras que 
poderiam ser acrescentadas a elas, mostram que a Bíblia tem um autor principal. 
"Ela é, em todas as suas partes, produção do Espírito Santo".6 
 
Durante a história da Igreja, surgiram conceitos diversos quanto a relação 
existente entre o Espírito Santo e a Bíblia. Os pelagianos e racionalistas 
sustentavam que a operação intelectual e moral da Bíblia era suficiente para 
produzir a salvação, independentemente do Espírito Santo. Os antinomianos, por 
outro lado, ensinavam que o Espírito Santo fazia tudo, independente da Palavra 
de Deus. A igreja evangélica, por sua vez, sempre sustentou o seguinte: A Bíblia 
sozinha não é suficiente para salvar, e embora o Espírito Santo possa, geralmente 
Ele não atua sem ela. Isto não significa que o Espírito seja subserviente à Palavra 
de Deus, mas sim, que a soberania divina estabeleceu a livre atuação do Espírito 
mediante a Palavra. "Na aplicação da obra da redenção os dois trabalham juntos, 
o Espírito usando a Palavra como Seu instrumento. A prédica da Palavra não 
produz o fruto desejado até que se torne eficaz pelo Espírito Santo".7 A verdade é 
que o Espírito Santo honra a Bíblia, fala pela Bíblia e é reconhecido pela Sua 
harmonia com ela. Por isso, os reformadores frequentemente se referiam às 
Escrituras como "a imagem do Espírito". 
 
2.2. O Espírito Santo e o Intérprete 
 
Desde os tempos bíblicos Deus levantou profetas e intérpretes da lei que 
conduzissem Seu povo segundo os princípios estabelecidos em Sua Palavra. No 
capítulo 8 do livro de Neemias vemos vários servos de Deus que juntamente com 
os levitas "ensinavam o povo na lei" (v7). E mais: "Leram no Livro, na lei de Deus, 
claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia" (v8). 
No capítulo 8 de Atos nos deparamos com a clássica passagem de Filipe e o 
eunuco. O alto oficial de Candace, rainha dos etíopes, estava lendo o livro do 
profeta Isaías. Até certo ponto podemos admitir que ele entendia o que estava 
lendo. Compreendia que o profeta falava de grandes padecimentos e extrema 
humilhação que um servo do Senhor teria sofrido ou iria sofrer. Faltava-lhe, no 
entanto, entender o essencial para a clareza da profecia: a respeito de que servo o 
profeta se referia. Falava de si mesmo ou de algum outro? "Então Filipe explicou; 
e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus" (v35). E não 
poderíamos nos esquecer do Senhor Jesus, quando no caminho de Emaús diz a 
dois de seus discípulos: "Porventura não convinha que o Cristo padecesse e 
entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os 
profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lc 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
71 
24.26,27). 
Mas a atuação do Espírito, em capacitar os intérpretes da Bíblia, não se limitou a 
eles. 
 
Deus tem levantado nos dias de hoje homens e mulheres, verdadeiros mestres da 
exposição bíblica, para orientarem a Sua Igreja. As divergências teológicas e de 
interpretação sempre serão evidentes entre eles, até porque iluminação não é 
inspiração, no sentido bíblico daquela "influência sobrenatural exercida pelo 
Espírito Santo sobre os escritores sacros, em virtude da qual seus escritos 
conseguem veracidade divina, e constituem suficiente e infalível regra de fé e 
prática".8 Mas o direito da interpretação não se restringe aos chamados 
"doutores". O mesmo Espírito capacita os mais simples para compreenderem o 
sentido das Escrituras com muita propriedade e coerência. Particularmente tenho 
sido enriquecido em meu ministério pastoral por irmãos e irmãs que, não tendo 
formação teológica alguma mas conhecendo muito bem o seu Deus, lançam luz 
sobre passagens bíblicas como eu nunca havia pensado antes. E muitos desses 
irmãos e irmãs são originais em seus conceitos. Entretanto, não quero dizer com 
isso que o alvo da boa interpretação seja a originalidade e nem também que um 
texto não possa parecer totalmente novo para quem o ouve ou o lê pela primeira 
vez. O alvo da boa interpretação é, segundo os doutores Gordon D. Fee e 
Douglas Stuart, chegar ao "sentido claro do texto".9 Para isso, é necessário os 
auxílios internos da própria Bíblia para interpretarmos corretamente o pensamento 
de Deus mediante os autores secundários e dos auxílios externos disponíveis para 
a interpretação gramatical do texto bíblico, tais como: gramática, dicionários, 
concordâncias, léxicos, analíticos e comentários. É preciso que os comentários 
ocupem, quando muito, o último lugar em nossas pesquisas, visto que um 
comentário é sempre uma opinião e não a última palavra de quem quer que seja. 
 
III. O ESPÍRITO SANTO NO PROCESSO HERMENÊUTICO 
 
3.1. O Espírito Santo e a Ciência Hermenêutica 
 
Certamente o Espírito Santo pode atuar independente de meios, como já 
mencionamos. Entretanto, o Espírito age, geralmente, com e através da Palavra 
de Deus. E de que modo Ele o faz? De um lado, através da iluminação do 
entendimento do intérprete; de outro, na condução do uso correto das ferramentas 
hermenêuticas por parte do intérprete. O Espírito Santo não milita contra qualquer 
instrumento que nos ajude a compreender o sentido das Escrituras; pelo contrário, 
como acabamos de afirmar, Ele mesmo se utiliza da hermenêutica para nos 
auxiliar no modo correto de interpretar a Bíblia. A própria Bíblia apresenta muitos 
exemplos dessa natureza. Em muitos casos, os autores investigaram de antemão 
a matéria a respeito da qual pretendiam escrever. Lucas nos diz no prefácio do 
seu Evangelho que procedeu deste modo; e os autores dos livros dos Reis e 
Crônicas se referem constantemente às suas fontes. Além disso, os autores do 
Novo Testamento em várias ocasiões interpretaram as profecias do Antigo 
Testamento como se cumprindo em ocasiões específicas. Como chegavam a 
essas conclusões? Naturalmente com os recursos da hermenêutica. Oapóstolo 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
72 
Pedro criticou aqueles que, por falta de uma hermenêutica sadia, deturpavam os 
ensinamentos de Paulo e das demais Escrituras "para a própria perdição deles" (2 
Pe 3.15,16). 
 
Com certeza, nos tempos bíblicos os escritores e profetas sagrados não 
conheciam a hermenêutica como nós a conhecemos hoje, isto é, como ciência e 
arte de interpretação da Bíblia, mas nem por isso eram menos favorecidos, até 
porque eles possuíam a inspiração do Espírito Santo que os habilitava a escrever 
e interpretar a Escritura Sagrada sem nenhuma margem de erro. Isto não quer 
dizer que estivessem livres do fracasso de entender a própria mensagem. O fato 
de os profetas algumas vezes fracassarem em entender a mensagem que eles 
mesmos traziam ao povo, serve também para demonstrar que aquela mensagem 
vinha de fora, de Deus, e que, portanto, não partia da vontade pessoal deles. 
Daniel, por exemplo, certa vez teve uma visão e logo em seguida declarou que 
não entendia o significado daquilo tudo (Dn 12.8,9). Zacarias, por sua vez, teve 
várias visões com mensagens para o povo, mas precisou que um anjo o auxiliasse 
na interpretação delas (Zc 1.9; 2.3; 4.4). Pedro nos informa que os profetas que 
apresentavam a mensagem a respeito dos sofrimentos e glórias de Cristo, com 
frequência investigaram os detalhes disso, para poder entender com mais clareza 
(I Pe 1.10,11). 
 
Não devemos nos esquecer que o ato de fazer lembrar e entender a vontade de 
Deus para a nossa vida é atribuição do Espírito Santo. Como vimos, Ele atuou no 
passado na mente e no coração de homens e mulheres de Deus e hoje o faz 
iluminando nosso entendimento para entendermos o que a Bíblia diz, com suas 
aplicações práticas para a vida diária. E mesmo que em certas ocasiões o Espírito 
nos faça compreender o sentido das Escrituras independente de uma pesquisa 
prévia, via de regra as coisas não funcionam desse modo, até porque, 
normalmente, o Espírito de Deus nos orienta através dos recursos da 
hermenêutica. Além disso, a uma pesquisa diligente no intuito de se entender o 
que lemos, deve-se unir a oração como expressão de uma vida dependente do 
Espírito10. E assim, como dizia Lutero, oremos como se tudo dependesse de 
Deus e trabalhemos como se tudo dependesse de nós mesmos. 
 
3.2. O Espírito Santo e o Círculo Hermenêutico 
 
1. O Círculo Hermenêutico 
 
Esta última parte do nosso trabalho (O Espírito Santo e o Círculo Hermenêutico) é 
o resultado natural de tudo que vimos até aqui. É a aplicação prática do Espírito 
Santo no processo hermenêutico dentro do chamado círculo hermenêutico. O que 
é o círculo hermenêutico? Como poderíamos representá-lo e defini-lo? 
 
Graficamente podemos representar o círculo hermenêutico desse modo: 
 
Embora os estudiosos não neguem a importância do Espírito Santo no círculo 
hermenêutico, poucos enfatizam a centralidade Dele. René Padilla, por exemplo, 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
73 
diz que "a iluminação do Espírito é indispensável no processo interpretativo"11 e 
que é "urgente a necessidade de uma leitura do Evangelho desde cada situação 
histórica particular, debaixo da direção do Espírito Santo".12 Entretanto, quando 
Padilla representa graficamente o círculo hermenêutico omite a pessoa do 
Espírito. Esta omissão também é evidente no artigo de Daniel S. Schipani 
(Crezcamos en todo ... en Cristo em Misión en el Camino, p. 127).13Um dos 
ensaios, dentre os que encontrei, que abordam com mais ênfase a pessoa do 
Espírito Santo no círculo hermenêutico é The Role of the Holy Spirit in the 
Hermeneutic Process: The Relatioship of the Spirit's Ilumination to Biblical 
Interpretation do Dr. Fred H. Klooster em Hermeneutcs, Inerrancy and the Bible, 
pp. 451-472. 
Nosso objetivo neste capítulo é tentar apresentar , de maneira prática, o 
relacionamento do Espírito Santo no círculo hermenêutico, visto que Padilla e 
Schipani não dizem quase nada sobre o Espírito e Klooster, apesar de falar muito 
sobre o Espírito Santo no processo hermenêutico, não vai além do campo teórico 
e da teologia. E agora, uma vez que o Espírito Santo está no círculo, ligado aos 
quatro elementos hermenêuticos e vice-versa, podemos definir o círculo 
hermenêutico como a interligação mútua e dinâmica na perspectiva que devemos 
ter (como intérpretes que devemos ser) da Bíblia e da realidade histórica sob a 
ótica e direção do Espírito Santo de Deus. Em outras palavras, a perspectiva que 
se tem de um elemento do círculo hermenêutico afeta a perspectiva que se tem do 
outro. A compreensão da Bíblia, a compreensão do contexto histórico e a 
compreensão do Espírito Santo, na perspectiva do intérprete, devem estar 
integradas mutuamente e não podem ser separadas. A interpretação de um incide 
na interpretação do outro, até porque neste caso o fator diálogo passa a ser, de 
certa forma, o segredo do sucesso do círculo hermenêutico. O círculo 
hermenêutico segue, então, uma dupla direção, em que não somente o intérprete 
e o texto (como sugere Padilla, op. cit., p. 08), mas todas as partes dele estão em 
constante diálogo. 
Como o Espírito Santo se relaciona com os quatro elementos do círculo 
hermenêutico? Façamos, então, uma breve análise do papel do Espírito Santo na 
dinâmica do círculo hermenêutico, a fim de entendermos com mais clareza o 
significado desse processo. 
 
2. O Espírito Santo no Círculo Hermenêutico 
 
Por uma questão de didática e propósito achamos por bem abordar, já no capítulo 
anterior desse trabalho, a relação do Espírito Santo com a Bíblia e o intérprete 
numa perspectiva mais teológica. Agora, passaremos a tratar, não somente destes 
( Bíblia e intérprete), mas de todos os elementos do círculo hermenêutico numa 
perspectiva de missão integral, como acreditamos ser o principal objetivo do 
Espírito Santo no processo hermenêutico. 
 
a. O Espírito Santo e a situação histórica do intérprete 
 
Não se pode negar de forma alguma que todo intérprete, quer seja da Bíblia, quer 
seja da vida de um modo geral, é fruto de sua época, influenciado por todos os 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
74 
fatores e ditames do seu tempo. No que se refere à Bíblia, em especial, milhares 
de anos e circunstâncias culturais separam o intérprete das Escrituras Sagradas. 
O Espírito Santo sabe e compreende estas diferenças. Dá ao intérprete a 
liberdade de se aproximar da Palavra de Deus com todos os seus pressupostos, 
embora não lhe dê o direito de fazer com que a Bíblia diga o que ele gostaria que 
ela dissesse. Repitamos novamente as já citadas palavras de René Padilla: "O 
esforço para deixar que as Escrituras falem, sem impor-lhes uma interpretação 
elaborada de antemão, é uma tarefa hermenêutica obrigatória de todo intérprete, 
seja qual for sua cultura".14 A Bíblia é a voz do Espírito ao povo de Deus. E 
somente direcionado pelo Espírito, mediante a Palavra, é que o interprete se 
tornará profeta e portador fiel da mensagem do Espírito Santo de Deus. 
 
b. O Espírito Santo e a cosmovisão do intérprete 
 
Nada melhor do que o próprio intérprete para interpretar a realidade em que vive. 
Na perspectiva de sua cosmovisão ele pode aplicar os princípios bíblicos à 
realidade que vê e sente, pois a sua missão não é formular meras doutrinações, 
mas extrair da Bíblia as aplicações e implicações práticas da sã doutrina para seu 
povo. A menos que se prejudique o significado original das Escrituras, a 
cosmovisão do intérprete é válida e sustentada pelo Espírito Santo. A Bíblia não 
seria o que é, como Palavra de Deus, se não fosse aplicável em todas as épocas 
por quem vive a vida no seu próprio contexto. "O propósito do processo 
interpretativo é a transformação do povo de Deus em sua situação concreta".15 
 
c. O Espírito Santo e a Bíblia 
 
O Espírito Santo é o mediador do diálogo entre as Escrituras e o contexto histórico 
contemporâneo. ABíblia fala hoje porque é a voz do Espírito de Deus. O Deus 
que falou no passado continua falando hoje em dia a toda a humanidade, através 
das Escrituras. A mensagem bíblica de transformação do indivíduo e da 
sociedade, mediante a vocação de homens e mulheres para proclamarem o 
evangelho de Jesus Cristo aos homens e mulheres do nosso tempo, é a dinâmica 
do Espírito Santo. 
 
d. O Espírito Santo e a Teologia 
 
O Espírito Santo é a fonte de toda teologia bíblica sadia. E para que uma teologia 
seja verdadeiramente bíblica, e expresse a mente do Espírito, precisa ser, 
necessariamente, uma teologia de contexto, como costumava enfatizar Orlando 
Costas em seus livros e artigos16. A teologia deve ser o resultado de uma 
interpretação fiel da Bíblia, pois só assim tocaremos o coração do povo. E esse 
deve ser o nosso maior objetivo: fazer uma teologia que toque o coração do povo. 
Uma teologia que atenda os anseios e necessidades do indivíduo e da sociedade. 
Uma teologia que nos faça compreender que o Deus transcendente também é o 
Deus imanente que tem cuidado de nós, em todos os níveis imagináveis. 
 
NOTAS 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
75 
1. A. Almeida, Manual de Hermenêutica Sagrada, p. 11. 
 
2. R. Padilla, A Palavra Interpretada: Reflexões Sobre Hermenêutica 
Contextualizada, p. 5. 
 
3. Anotações não publicadas. 
 
4. R. Padilla, Op. Cit., p. 06. 
 
5. A Cofissão de Fé de Westminster, I, 9. 
 
6. L. Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica, p. 56. 
 
7. L. Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p. 276. 
 
8. L. Berkhof, op. cit., p. 44. 
 
9. G.D.Fee & D.Stuart, Entendes O Que Lês?, p. 14. 
 
10. Para uma discussão interessante sobre o Espírito Santo, a interpretação 
bíblica e a espiritualidade do crente, veja Moisés Silva, A Função do Espírito Santo 
na Interpretação Bíblica em Fides Reformata, Vol. II, Nº 2, pp. 89-96. 
 
11. R. Padilla, Op. Cit., p. 05. 
 
12. Idem, p. 09. 
 
13. Schipani, sem nos dar uma justificativa plausível, usa a expressão circulação 
hermenêutica no lugar de círculo hermenêutico. Ele apenas diz: "O conceito de 
'circulação hermenêutica' (em lugar de 'círculo hermenêutico' como é utilizado por 
Rudolf Bultmann e Juan Luis Segundo, entre outros) é proposto por Georges 
Casalis em Las buenas ideas caen del cielo, DEI, San José, 1977". Nota 18, p. 
126. 
 
14. R. Padilla, Op. Cit., p. 06. 
 
15. Idem, p. 07. 
 
16. Veja, por exemplo, Compromiso y Misión de Orlando Costas, Editorial Caribe, 
1979 e Misión en el Camino: Ensayos em homenaje a Orlando E. Costas, vários 
autores, Fraternidade Teológica Latinoamericana, 1992. 
 
BIBLIOGRAFIA 
ALMEIDA, A; Manual de Hermenêutica Sagrada, 2ª Edição, CEP, SP, 1985. 
 
BERKHOF, L.; Manual de Doutrina Cristã, LPC, SP, 1986. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
76 
___________; Princípios de Interpretação Bíblica, 3ª Edição, Juerp, RJ, 1985. 
 
COOK, G. & Outros; Misión en el Camino: Ensayos en Homenaje a Orlando E. 
Costas, Fraternidade Teológica Latinoamericana, Argentina, 1992. 
 
COSTAS, O.E.; Compromiso y Misión, Editorial Caribe, Costa Rica, 1979. 
 
FEE G.D. & Stuart D.; Entendes O Que Lês?, Vida Nova, SP, 1984. 
 
MARRA, C.A.B. (ed.); A Confissão de Fé de Westminster, 3ª Edição, Cultura 
Cristã, SP, 1997. 
 
MATOS, A.S., Lopes, A.N. (eds); Fides Reformata, Publicação do Seminário 
Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, SP, Vol. II, Nº 2, 1997. 
 
PADILLA, C.R.; A Palavra Interpretada: Reflexões Sobre Hermenêutica 
Contextualizada, ABUB, Curso de Obreiros, 1980. 
 
_____________; El Círculo Hermenêutico, Artigo não publicado. 
 
RADEMACHER, E.D. & Preus, R.D. (eds.); Hermeneutcs, Inerrancy and the Bible, 
Zondervan, Grand Rapids, 1984. 
 
Parte XXII 
O DOM, OS DONS E O FRUTO DO ESPÍRITO SANTO 
 
O início do século I da era cristã foi um desafio e um prejuízo para as religiões 
pagãs do Império Romano. Um movimento oposto às crendices e às formas de 
religiões arcaicas e infrutíferas começou a desenvolver-se no seio de uma 
pequena comunidade. A história nos empolga, pois é contada em termos 
dramáticos e desafiantes. Esse movimento, cujo surgimento e desenvolvimento 
está narrado no livro de Atos dos Apóstolos, foi fruto do mover do Espírito Santo 
através e nos discípulos de Jesus Cristo. E até a nossa época, este Espírito 
continua a mover-se no mundo. 
 
Em nossos dias, há uma crescente preocupação com as manifestações do 
Espírito Santo. Há, até, um movimento carismático no mundo cristão. No ambiente 
evangélico, percebe-se, não raro, indagações sobre batismo com ou no Espírito 
Santo. Outros questionam: o que acontece com uma pessoa que recebe o Espírito 
Santo? Só é verdadeiro crente quem fala em outras línguas? Pode ou deve o 
crente pedir o Espírito Santo? São algumas das diversas formas que explicitam 
preocupação com os dons do Espírito Santo, sem levar em conta toda a história 
da redenção e a realidade de que o Espírito Santo é Deus, assim como o Pai e o 
Filho. 
 
O Espírito Santo, como a realidade de Deus, é essencialmente poder. Ele não é 
apenas uma força. Deus é todo-poderoso, onipotente e, na sua grandeza 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
77 
incomensurável, subsistem três pessoas de uma mesma substância: Deus Pai, 
Deus Filho e Deus Espírito Santo. 
 
Devemos entender claramente a triunidade de Deus: nós cremos em Deus Pai, 
Deus Filho e Deus Espírito Santo. 
 
Quem tem o Pai, tem o Filho — e só podemos tê-los e recebê-los mediante a ação 
eficaz, poderosa e irresistível do Espírito Santo em nós. Está claro que os crentes 
têm o Espírito Santo, pois enquanto são membros da Igreja, do Corpo de Cristo, a 
qual é habitada por esse Espírito. 
 
O mundo e a história são campos de ação do Espírito Santo através da Igreja e 
mesmo além da Igreja. Porque o espírito age como quer, onde quer e quando 
quer. Não podemos limitar a ação do Espírito Santo de Deus. 
 
A descida do Espírito Santo: O Dom 
 
A experiência de Pentecostes ficou sendo assim conhecida porque aconteceu por 
ocasião da Festa de Pentecostes. O nome Pentecostes origina-se do intervalo de 
cinqüenta 50 dias que separa a Festa da Colheita da Festa da Páscoa, de acordo 
com a tradição judaica. A descida do Espírito Santo sobre a Igreja reunida em 
Jerusalém naquela ocasião nos é narrada em Atos 2, o capítulo de abertura e de 
impacto da história da igreja cristã primitiva. O livro de Atos como um todo mostra 
o Evangelho em ação. O livro mostra o impacto que uma comunidade pode causar 
quando vive e age no poder do Espírito Santo. 
 
Os dois personagens principais deste livro, Pedro e Paulo, agiram no poder do 
Espírito. Os capítulos 2 e 3 de Atos registram dois sermões do apóstolo Pedro, 
quando oito mil almas se renderam ao pé da cruz de Cristo. O ministério do 
apóstolo Paulo foi um ministério de bênçãos e vitórias, levando o Evangelho 
perante príncipes, governadores e reis. Assim, o texto de Atos e o contexto do 
próprio livro de Atos, mostram o que pessoas e comunidades podem fazer quando 
se tornam instrumentos vivos e eficazes do Espírito Santo. 
 
A Promessa da vinda do Espírito 
 
Pentecostes prova ser um tempo em que as profecias se cumpriram, desde o 
Velho Testamento até às promessas gloriosas dos lábios do divino Mestre: Eu vos 
enviarei o Consolador. Permanecei, pois, na cidade (em Jerusalém) até que do 
alto sejais revestidos de poder. Eles permaneceram. E as promessas de Deus se 
cumpriram. Porque elas jamais falham. O Espírito Santo provém, pois, do Pai e do 
Filho, e juntamente com o Filho e o Pai, é adorado e glorificado, como diz o texto 
niceno. 
 
Volvendo os olhos ao passado distante, vamos encontrar o profeta Isaías falando 
do Reino do Messias, no capítulo 11 verso 2, dizendo: repousará sobre ele o 
Espírito do Senhor. O profeta Ezequiel, falando da restauração do povo de Deus, 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida78 
afirma: Porei dentro de vós um espírito novo. E, de uma maneira muito especial, 
profetizou Joel: E acontecerá naqueles dias que derramarei o meu Espírito sobre 
toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos terão 
sonhos e os vossos jovens terão visões (2.28). 
 
O próprio apóstolo Pedro identifica a experiência do Pentecostes com o 
derramamento do Espírito de que fala o profeta Joel. Temos aqui um exemplo de 
cumprimento de profecia. Certeza de Deus. As profecias se cumprem. 
 
Joel afirmou: e acontecerá naqueles dias que derramarei o meu Espírito sobre 
toda a carne (Jl 2.28). Sobre todos os cristãos verdadeiros, indistintamente de 
serem judeus ou gentios. No Antigo Testamento o Espírito vinha sobre algumas 
pessoas distintas, e seus carismas (dons) eram dados a algumas pessoas com 
missão específica e em caráter temporário. Eram carismas especiais que podiam 
inclusive ser retirados, caso o ungido se desviasse das promessas de Deus. Um 
bom exemplo disto é a oração do rei Davi após haver pecado: não me retires o teu 
Santo Espírito (Sl 51.11). Davi se refere aqui àquela unção especial que havia 
recebido para ser rei, e que lhe havia sido ministrada através das mãos do profeta 
Samuel (1 Sm 16.13). 
 
Já no Novo Testamento, o Espírito Santo, juntamente com seus dons, é dado a 
todos os que crêem e seus dons estão presentes na Igreja de uma forma 
permanente (Jo 14.16). Diz Lucas: Estavam todos reunidos no mesmo lugar (...) E 
foram todos cheios do Espírito Santo (At 2.1-4). 
 
A promessa de Jesus foi: Eu vos enviarei o Consolador para que fique convosco 
para sempre. Agora o Espírito é dado a todos os que crêem e para sempre. Como 
diria Calvino: "Uma vez selado com o Espírito Santo, para sempre selado." Que 
bênção e que conforto é crermos assim. 
 
O Senhor Jesus também determinou aos apóstolos que permanecessem em 
Jerusalém. Permanecei, pois, em Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de 
poder (Lc 24.49). E em Atos 1.8 temos a reafirmação dessa promessa: Mas 
recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas 
testemunhas em Jerusalém, na Judéia e em Samaria e até aos confins da terra. 
Poder para testemunhar, pregar e agir, guiados pelo Espírito Santo. 
 
O Cumprimento da Promessa no Dia de Pentecostes 
 
Não muito depois dessa última promessa, estavam todos os apóstolos com alguns 
irmãos reunidos em Jerusalém quando veio do céu um som terrível, como de um 
vento impetuoso e algo como línguas de fogo apareceu e foi distribuído entre eles. 
Estes fenômenos: do som terrível, como de um vento impetuoso e de línguas de 
fogo, embora muito enfatizados por alguns dentro da cristandade moderna, são o 
ponto menos importante da experiência. O importante mesmo é que eles foram 
cheios do Espírito Santo para comunicar as grandezas de Deus e viver o 
Evangelho de Cristo, num testemunho encarnado que se estenderia por toda 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
79 
Jerusalém, Judéia, Samaria e até aos confins da terra, como testemunhamos hoje. 
 
O fervor e entusiasmo aqui registrados eram do céu, e não provocados pelo 
ambiente emocional. Este fato nos ajuda, com a graça de Deus, a discernir as 
manifestações reais do Espírito Santo dos delírios coletivos e das circunstâncias 
emocionais que possam acontecer ou serem provocadas. O fervor e o entusiasmo 
eram de Deus. Essa diferença é fundamental. 
 
É bem verdade que a fé cristã comporta emoções as mais sublimes e santas. 
Tudo, porém, seja feito com decência e ordem. Conforme nos ensina o Espírito 
Santo, através do apóstolo Paulo (1 Co 14.40). 
 
Pode-se dizer que a Igreja neotestamentária nasceu com a descida do Espírito 
Santo no Dia de Pentecostes. Desde então, a Igreja e o cristão agem no mundo 
como força transformadora no poder do Espírito, para implantação do Reino de 
Deus entre os homens. 
 
As línguas faladas no Dia de Pentecostes 
 
O que dizer do dom de línguas? Esse fenômeno permite aos homens de todas as 
raças compreenderem o Evangelho. É o sinal anunciador do Reino de Deus, 
daquele dia glorioso quando todas as barreiras que separam os homens seriam 
derribadas e a humanidade voltaria a encontrar em Deus a sua unidade perdida. O 
Pentecostes assinala o princípio da grande reunião dos filhos de Deus dispersos 
por toda a superfície da terra. 
 
Convém notar que o texto de Atos relata que os apóstolos, uma vez cheios do 
Espírito Santo, começaram a falar em outras línguas. Aqui não diz línguas 
estranhas. Eram línguas conhecidas. Estavam presentes ali pessoas de várias 
nacionalidades, com dialetos próprios. E ouviam falar em suas próprias línguas 
das grandezas de Deus, conforme relata Lucas, autor deste maravilhoso livro (At 
2.11). O objetivo de falar em línguas foi o de comunicar o Evangelho de forma 
clara, para que as pessoas pudessem entender a mensagem. Não o de ser um 
dom espetacular ou algo semelhante. O fenômeno de línguas ali registrado reside 
no fato de que eram todos galileus os que falavam, e de outras nacionalidades os 
ouvintes, e puderam receber e entender a mensagem em suas próprias línguas. 
 
A lista dos povos ali representados é algo significativo, do ponto de vista 
lingüístico e geográfico. Senão, vejamos: começa com povos que ficavam ao leste 
(Partos, Medas, Elamitas e Mesopotâmios); move-se para o oeste até a Judéia, 
nordeste e até a Capadócia e outros distritos da Ásia Menor; para o sudeste 
alcançando o Egito e a Líbia , sendo ainda mencionados: Roma, a Ilha de Creta e 
Arábia. Lembremos as palavras do verso 8 do capítulo 1: Sereis minhas 
testemunhas em Jerusalém, Samaria, Judéia e até aos confins da terra...; ali 
estava o começo glorioso da grande expansão missionária da Igreja Cristã 
nascente. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
80 
O Pentecostes é ainda, num outro sentido, uma réplica divina da Torre de Babel. 
Como tal, aponta para a unidade criada por Deus no Pentecostes em contraste 
com a confusão de línguas, juízo divino sobre fruto do orgulho humano, que 
pretende se elevar até aos céus e não consegue. Gênesis 11 relata a confusão e 
fracasso humanos, seguidos do juízo de Deus. Pentecostes relata a unidade da 
Igreja como um dom de Deus. A unidade de línguas é obra do Espírito Santo. Esta 
unidade da Igreja é algo que não se cria: recebe-se, manifesta-se e crê. 
 
Muitos comentaristas apontam para o fato de que, segundo a tradição judaica, 
quando a lei foi dada no Monte Sinai, a voz de Deus foi ouvida em todas as 
línguas. Segundo a tradição judaica, isto aconteceu na época da Festa de 
Pentecostes, e houve também manifestação da glória e do poder de Deus. 
Obviamente não podemos tomar tradições judaicas por certas; entretanto, esta 
crença judaica é sugestiva do fato que Pentecostes lembraria para os Judeus 
presentes naquela ocasião a experiência gloriosa do Sinai e a dádiva da lei que 
representava o Espírito e a vontade de Deus para o seu povo, bem como o poder 
que haveria de guiá-los em sua peregrinação. 
 
O Espírito Santo é o próprio Deus-Consolador, que guia, orienta e dirige a Igreja 
na sua peregrinação à Canaã Celeste. 
 
Se o Espírito dado à Igreja no Pentecostes foi compreendido como Sustentador da 
nossa participação, na reconciliação e na nova vida, falar da Igreja como 
inteiramente ligada ao Espírito é qualificá-la como o povo em quem a soberania de 
Deus e o Senhorio de Jesus Cristo são reconhecidos. Portanto, Pentecostes é 
decisivo para a existência da Igreja. 
 
Ao que nos parece, para muitos cristãos modernos, o principal papel ou o único 
trabalho do Espírito Santo é dar suspense emocional e alegria interna. Certamente 
isso era parte da experiência neo-testamentária, todavia, não era a mais 
importante. Lembremo-nos, portanto, de que quando o Espírito Santo atua na vida 
do crente e da Igreja, o resultado é alegria, amor, paz e gozo, conforme descreve 
o apóstolo Paulo em Gálatas 5.22-23. 
 
Dons e Ministérios: OsDons 
 
A cidade de Corinto era uma verdadeira ponte transcontinental. Tudo passava por 
Corinto: os peregrinos, os mercadores e os diferentes tipos de pregadores. Era 
uma cidade cheia de novidades e também de muito pecado. 
 
Na Grécia Antiga, ao lado das célebres lendas de heróis, semideuses e deuses 
pagãos, existiam as religiões de mistério. Corinto era um dos centros dessas 
religiões de mistério com suas manifestações estranhas; entidades que entravam 
em pessoas, mudando-lhes a voz e os hábitos; adivinhações; clima de emoções 
tremendas; rituais os mais variados e extravagantes. 
 
Foi nesse ambiente e nesse contexto sócio-econômico, cultural e religioso, aqui 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
81 
referidos, que viveu a Igreja de Corinto e que pregou o apóstolo Paulo. 
 
Foi naquele arriscado ambiente de sincretismo religioso que o apóstolo Paulo 
bradou: A respeito dos dons espirituais não quero, irmãos, que sejais ignorantes (2 
Co 12.1). 
 
A necessidade de discernimento quanto às manifestações espirituais 
Ignorar os dons espirituais é desconhecê-los. Desconhecê-los no sentido de não 
exercitá-los, ou mesmo no sentido de não ter qualquer informação sobre sua 
origem, intensidade e utilidade. Ignorar pode também significar falta de 
discernimento espiritual. Atribuir ao Espírito Santo coisas e fenômenos da própria 
mente emocionada ou desequilibrada não é bíblico. Atribuir ao Espírito Santo 
coisas que não edificam e nem promovem a paz, no caso "os fenômenos" das 
religiões de mistério, é falta de discernimento espiritual, o qual é necessário para 
não confundirmos nem sermos confundidos. 
 
Não podemos ignorar que nem todo o fenômeno religioso vem dos céus, de Deus, 
do Pai das Luzes em quem não pode haver mudanças nem sombra de variação... 
(Tg 1.17). Precisamos de discernimento para buscar com zelo os melhores dons. 
Precisamos de discernimento para não confundir barulho com louvor, entusiasmo 
com consagração constante, emocionalismo com o verdadeiro quebrantamento 
espiritual; precisamos de critério para, não confundir manifestações externas, não 
raro mecânicas e estereotipadas, com comunicação íntima, com fé firme, fé 
inabalável; precisamos ser pessoas lúcidas, pessoas sempre abundantes em fruto 
e na obra do Senhor, sabendo que no Senhor o vosso trabalho não é vão (1 Co 
15.58). 
 
Não se pode dar crédito a todo e qualquer espírito. Nem toda a manifestação é 
realmente espiritual. Nem todo o que diz estar falando pelo Espírito, o está de fato. 
Paulo ensinou aqui em 1 Co 12.1-3 o critério cristocêntrico pelo qual julgar e 
discernir aquele que realmente fala pelo Espírito, com unção e com poder. Paulo 
lembra aos crentes de Corinto, que outrora viveram sem Deus e, sem esperança, 
que naquela época eram guiados pelos ídolos mudos da antiga religião de 
mistérios; mas agora, são guiados pelo Espírito a Cristo; e ensina firmemente: Por 
isso vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: 
anátema Jesus. E por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus, senão pelo 
Espírito Santo (2 Co 12.3). 
 
O apóstolo João nos adverte: Não deis crédito a todo espírito (1 Jo 4.1). O critério 
cristológico e cristocêntrico aí está para nos ajudar a discernir. Jesus Cristo é a 
pedra de toque; Ele sempre está, olhando para a Igreja, buscando a edificação, a 
paz, o bem-estar, a unidade dos remidos. É nesta perspectiva que o apóstolo nos 
fala de dons, dons espirituais. Fala de sua origem, seu uso, sua utilidade. É nesta 
perspectiva que falamos sobre dons e ministérios. 
 
Dons e Ministérios 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
82 
A fonte de todos os dons é o Espírito Santo. Toda dádiva excelente, todo o dom 
perfeito provém de Deus, do Pai das luzes em quem não há mudanças, nem 
sombras de variação. Os dons espirituais são diversos, mas o Espírito Santo é o 
mesmo. Diversos dons, uma só e a mesma fonte, visando a um fim proveitoso: a 
edificação espiritual da Igreja, o crescimento dos santos em amor, a paz, a maior 
compreensão. 
 
Todo o cristão tem um ou mais dons e nenhum cristão tem todos os dons. Não 
existe cristão sem dom. É preciso descobrir o seu dom e, para a glória de Deus, e 
usá-lo para um fim proveitoso, para a edificação da Igreja. 
 
Aptidões naturais, ou mesmo dons espirituais, podem ser exercitados 
conscientemente ou até inconscientemente. 
 
Há diversidade de ministérios ou serviços, mas o Senhor é o mesmo. Todos têm 
dons do Espírito. Todos devem exercer ministérios na Igreja, ou seja, no Corpo de 
Cristo, servindo ao Senhor. Os dons são aptidões em potencial. Os ministérios são 
essas aptidões postas em prática. 
 
Há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. 
Os dons vêm do mesmo Espírito Santo. Os ministérios servem o mesmo Senhor 
Jesus. As realizações são do mesmo Deus que opera tudo em todos — e todas 
estas coisas concorrem para a edificação da Igreja (1 Co 12.4-7). 
 
Os dons são aptidões naturais ou especiais dadas pelo Espírito para equipar os 
santos, concedendo-lhes os diversos ministérios exercidos para toda a boa obra 
que são as realizações em Deus. 
 
Todos nós recebemos dons, talentos e aptidões. É preciso exercê-los no 
ministério total da Igreja em sua integridade; apresentá-los em forma de 
realizações. 
 
O Fruto do Espírito Santo 
 
Temos visto até aqui e cremos firmemente que o Espírito Santo é Deus, é uma 
pessoa, e não uma força ou energia impessoal estranha ao ensino bíblico e às 
convicções reformadas. 
 
Como pessoa, o Espírito tem inteligência (Jo 16.13 e Rm 8.27), tem vontade (1 Co 
12.11), tem emotividade (Ef 4.30 e Rm 15.30), dá ordem (At 8.29), proíbe (At 16.6) 
e constitui (At 20.28). 
 
O resultado da presença do Espírito Santo no crente é também chamado de o 
fruto do Espírito Santo (Gl 5.22-23). A manifestação externa desse fruto e é a 
evidência maior de que ele tem o Espírito Santo, de que é batizado com o Espírito 
Santo. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
83 
Paulo, em Gálatas 5, faz um nítido contraste entre "carne" e "Espírito". Carne não 
dá fruto, produz obras no plural. E que obras terríveis! Carne e Espírito são 
opostos entre si. O que semeia para a carne, colhe corrupção e morte; mas o que 
semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna (Gl 5.8). 
 
O fruto, que resulta do fato do crente ter o Espírito Santo, e de ser batizado com o 
Espírito Santo, está explícito em Gálatas 5.22-23. Note que não se diz "frutos", 
mas, sim, "o fruto". Além de estar no singular, vem precedido do artigo definido. 
 
Conclusão 
 
Vimos o dom, a dádiva, a descida do Espírito Santo, no Dia de Pentecostes, como 
um evento singular; os dons espirituais, como sendo do Espírito e não nossos, a 
serem usados para um fim proveitoso, a edificação do Corpo de Cristo e para a 
glória de Deus. Sempre que o uso de um dom é distorcido, Deus o transfere, o 
retira ou o faz cessar. Agora, o fruto do Espírito Santo que se desdobra em amor, 
alegria, paz, longanimidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio é 
permanecente. 
 
Pode acontecer, e tem acontecido, casos de pessoas que se dizem batizadas com 
o Espírito Santo e que, manifestam dons até espetaculares, mas não se vê nessas 
pessoas as expressões do fruto do Espírito Santo. Embora não devamos julgar de 
forma descaridosa estas pessoas, devemos exercer os critérios bíblicos antes de 
receber tais manifestações como sendo legitimamente produzidas pelo Espírito 
Santo. 
 
Quero concluir, afirmando que todo aquele que é nascido de novo é batizado com 
o Espírito Santo, é templo do Espírito Santo, e tem o Espírito Santo. E se alguém 
não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele, afirma o apóstolo Paulo (Rm 
8.9b). 
 
Quem tem o Pai, tem o Filho; e quem tem o Pai e o Filho, tem o Espírito Santo. 
Não se pode dividir o indivisível, que é Deus. Ele é triúno. 
 
Nós não tememos o quevem do Espírito Santo, desde que exercitado dentro dos 
parâmetros das Escrituras e sob a disciplina do próprio Espírito. Veja o que diz 
Paulo: Ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema Jesus! por outro 
lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo (1 Co 12.3) 
 
Parte XXIV 
O TEÓLOGO DO ESPÍRITO SANTO 
Um Estudo sobre o Ensino de Calvino sobre a Palavra e o Espírito 
 
Introdução 
Meu tema neste artigo é "Calvino, o teólogo do Espírito Santo." Devo começar 
dizendo que este título não foi dado a Calvino pelos seus contemporâneos, mas 
sim pelos estudiosos modernos, reconhecendo a sua importância como teólogo e 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
84 
exegeta para esta área da Teologia que está em tanta relevância hoje. 
 
O título pode confundir algumas pessoas. Podem pensar que o assunto sobre o 
qual Calvino mais escreveu, e ao qual mais se dedicou, foi o Espírito Santo. Na 
realidade, embora Calvino tenha escrito muita coisa sobre o Espírito Santo, nunca 
escreveu uma obra específica sobre o assunto, como, por exemplo, John Owen e 
Abraham Kuyper, cujos livros sobre o tema são fundamentais para a Igreja 
contemporânea.(1) Embora em suas Institutas de Religião Cristã João Calvino 
trate freqüentemente da pessoa e obra do Espírito Santo, não dedicou ao assunto 
um capítulo exclusivo.(2) 
 
Alguns têm criticado Calvino por não haver dado atenção mais direta ao Espírito 
Santo em seus escritos, especialmente nas Institutas. A crítica é injusta. Existem 
razões suficientes para esta aparente falta de atenção. 
 
Em primeiro lugar, a doutrina do Espírito Santo não era o foco do debate de 
Calvino com a Igreja Católica Romana da sua época, e nem da sua polêmica com 
os reformadores radicais, os Anabatistas e os "Entusiastas", conhecidos como a 
ala de esquerda da Reforma.(3) Calvino só tratou da obra do Espírito Santo na 
medida em que esse assunto se relacionava com os pontos críticos em debate, 
como a doutrina da salvação, da santificação, das Escrituras, e dos sacramentos. 
 
Em segundo lugar, Calvino tinha a visão bíblica-neotestamentária de que o 
Espírito Santo geralmente agia nos bastidores, como o agente da Trindade. 
Embora sua ação fosse claramente perceptível, quem deveria sempre receber a 
proeminência eram o Pai e o Filho. Essa convicção reflete-se nas suas obras e em 
sua abordagem dos mais variados temas teológicos. Não existe praticamente 
nenhum assunto teológico em que Calvino não se refira, em seu tratamento, à 
obra do Espírito. Sua Pneumatologia é desenvolvida dentro das demais áreas da 
Teologia Sistemática, como Teontologia (estudo da Pessoa de Deus), Soteriologia 
e Eclesiologia. 
 
Esta mesma abordagem se encontra refletida na Confissão de Fé de Westminster. 
É verdade que seus autores, os Puritanos, não escreveram um capítulo exclusivo 
sobre a pessoa e obra do Espírito. Mas, como sugeriu Dr. Benjamim B. Warfield, 
conhecido teólogo presbiteriano reformado, do início deste século, a razão é que 
preferiram escrever nove capítulos em vez de apenas um. A tentativa que foi feita 
em nossa época, pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, para suprir esta 
alegada deficiência, produziu um capítulo a mais na Confissão de Fé que, 
segundo Warfield, nada mais é que um curto sumário destes nove capítulos 
originais.(4) 
 
E por fim, não se podeexigir de Calvino (e nem dos autores da Confissão de Fé) 
uma abordagem do assunto que seja aguçada pelas questões relacionadas com o 
surgimento do movimento pentecostal, séculos após a sua morte. Mesmo assim, 
Calvino é surpreendentemente atual no que diz sobre o Espírito. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
85 
Por que, então, o título "teólogo do Espírito Santo?" Em primeiro lugar, Calvino foi 
o primeiro a sistematizar de forma clara o ensino bíblico sobre o Espírito Santo. 
Não é que ninguém, antes dele, não houvesse escrito sobre o assunto. Mas, é que 
poucos, antes e depois de Calvino, conseguiram ser tão claros, simples, e 
bíblicos.(5) Ouçamos o testemunho de Dr. Warfield: 
 
A doutrina sobre a obrado Espírito Santo é uma dádiva de João Calvino à Igreja 
de Cristo. . . Nos amplos departamentos doutrinários sobre "A Graça Comum," 
"Regeneração," e "O Testemunho do Espírito" do livro terceiro das Institutas, 
Calvino foi o primeiro a desenvolver a doutrina da obra do Espírito Santo, e a dar a 
toda a doutrina do Espírito Santo uma formulação sistemática, fazendo dela uma 
possessão inalienável da Igreja de Deus.(6) 
 
Em segundo lugar, Calvino integrou indissoluvelmente a doutrina do Espírito Santo 
aos demais temas e áreas da teologia, como regeneração, santificação, os meios 
de graça, e o conhecimento de Deus, entre outros. A Pneumatologia de Calvino, 
igualmente, abrangia e permeava todos os demais departamentos da Enciclopédia 
Teológica. Sua teologia é uma unidade orgânica, onde o Espírito aparece 
apropriadamente como o Soberano dinamizador. 
 
Em terceiro lugar, Calvino resgatou alguns aspectos da doutrina do Espírito Santo 
que estavam soterrados debaixo da teologia medieval da Igreja Católica, como por 
exemplo, a relação entre a Palavra e o Espírito. Nosso alvo neste ensaio é 
analisar mais exatamente esta contribuição de Calvino para nosso conhecimento 
da obra do Espírito Santo, ou seja, a relação vital e orgânica entre o Espírito e a 
Palavra de Deus, as Escrituras. 
 
O ensino de Calvino influenciou profundamente os estudos subsequentes dentro 
dos círculos Reformados. Sua ênfase na ação soberana do Espírito continua na 
tradição reformada entre os Puritanos ingleses, particularmente John Owen e 
Richard Sibbes, que nos deram os estudos bíblicos teológicos mais extensos e 
profundos que existem em qualquer língua sobre o ministério do Espírito Santo. 
 
O Contexto Teológico de Calvino 
 
Comecemos por lembrar-nos que a teologia de Calvino nasceu e desenvolveu-se 
em meio ao intenso conflito doutrinário que marcou a Reforma do século XVI. Sua 
doutrina do Espírito Santo foi moldada em meio à sua batalha em duas frentes. 
Em uma, ele enfrentava o cativeiro das Escrituras pela Igreja Católica, e na outra, 
o abandono das Escrituras pelos da Reforma radical. 
 
A Igreja Católica e o cativeiro das Escrituras 
 
Calvino e a Igreja Católica tinham algumas convicções em comum quanto à 
doutrina das Escrituras. Para eles, as Escrituras eram a Palavra de Deus, 
inspiradas pelo Espírito Santo, infalíveis, e autoritativas. Este ponto não estava 
sendo disputado por Calvino, nem pelos demais reformadores. O ponto de 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
86 
discórdia entre Calvino e os católicos era quanto ao ensino papista de que a 
autoridade da Escritura dependia do testemunho da Igreja. A Igreja Católica 
afirmava que o cânon das Escrituras, a sua preservação, a sua origem divina e 
sua autoridade, deviam ser aceitos pelos fiéis como verdadeiros porque a Igreja 
assim o afirmava. A autoridade das Escrituras, enfim, dependia do testemunho da 
Igreja. A Igreja, além disto, tinha a correta interpretação das Escrituras; a coleção 
dessas interpretações formava a tradição eclesiástica, que possui tanta autoridade 
quanto as próprias Escrituras. Assim, era vedado aos católicos leigos lerem e 
interpretarem as Escrituras. Eles dependiam da interpretação dada pela Igreja. 
Desta forma, a Palavra e a sua interpretação estavam cativas debaixo da 
autoridade eclesiástica. 
 
Calvino levantou-se contra esse estado de coisas, que havia prevalecido durante a 
Idade Média. Ele considerava esse ensino como sendo uma afronta ao Espírito 
Santo, e um abuso de autoridade por parte da Igreja. Era a Igreja que estava 
fundada sobre as Escrituras, e não o contrário. A autoridade das Escrituras não 
dependia do testemunho da Igreja, e sim o contrário: a Igreja só possuía 
autoridade enquanto estivesse dentro da doutrina bíblica. Calvino apelava aqui 
para Ef 2.20, onde Pauloensina que a Igreja está edificada sobre o fundamento 
dos apóstolos e profetas, que é o ensino das Escrituras.(7) A Igreja simplesmente 
reconhecia — não estabelecia e nem determinava — a inspiração e a autoridade 
dos livros que compunham o cânon sagrado.(8) 
 
Para Calvino, amaior de todas as provas da autoridade e inspiração das Escrituras 
era que o próprio Deus nos falava através delas. Calvino chamava a isto o 
testemunho interno do Espírito.(9) Para ele, o homem natural não poderia ser 
convencido da divindade das Escrituras por argumentos apresentados pela Igreja, 
por mais lógicos e racionais que eles parecessem (1 Co 2.14).(10) Era o Espírito 
quem persuadia o crente de que Deus estava falando nas Escrituras, inclinando-
lhe o coração a aceitá-las, e dando-lhe plena certeza disto, gerando-lhe fé em seu 
coração. Nas suas Institutas e comentários Calvino aponta para alguns textos com 
este efeito, como por exemplo, 1 Jo 5.6-7, 2 Tm 1.14-15, 1 Co 2.10-16.(11) 
 
Para Calvino, o que o Espírito havia revelado nas Escrituras era suficiente e final. 
Maomé, o Papa, e os "Entusiastas" estavam errados, ao reivindicar que o Espírito 
estaria ensinando novas verdades no presente. Para Calvino, as palavras do 
Senhor Jesus em Jo 14.25 deixavam claro que o ministério do Consolador 
consistiria, não em revelar novas verdades, que fossem além das que haviam sido 
ensinadas pelo Senhor Jesus e seus apóstolos, mas em iluminar as mentes e os 
corações dos crentes, para que compreendessem e cressem nas verdades, agora 
registradas na Escritura. Ele afirma: "O espírito que introduz qualquer doutrina ou 
novidade que vá além do Evangelho, é um espírito de mentira, e não o Espírito de 
Cristo."(12) 
 
O efeito do ensino de Calvino foi libertador.(13) Através da ênfase no testemunho 
interno do Espírito Santo como a evidência máxima da divindade e da autoridade 
das Escrituras, ele libertou as Escrituras e a sua interpretação do cativeiro imposto 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
87 
pela Igreja Medieval, e as colocou de volta onde elas pertenciam de direito, nas 
mãos do Espírito Santo. Neste sentido, estava certa a avaliação de alguns 
católicos encarregados da contra-reforma no século XVII, de que uma das maiores 
diferenças que existiam entre Roma e Genebra se encontrava em suas doutrinas 
sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo. 
 
Os Reformadores Radicais e seu Desprezo pela Palavra 
 
A outra fronte de batalha de Calvino era contra o ensino da Reforma radical, 
conhecida como a "ala esquerdista" da Reforma.(14) Havia diversos grupos dentro 
desta ala do movimento reformista. Havia, em primeiro lugar, como os 
Anabatistas, os "Fanáticos", os "Espiritualistas" e os Antitrinitarianos, que "embora 
diferentes em seus propósitos e em suas doutrinas, tinham em comum o desejo 
de ver uma Reforma muito mais radical do que a propagada por Lutero e 
Zwinglio."(15) A polêmica de Calvino contra os Anabatistas concentrou-se em 
questões como batismo infantil, predestinação, governo de Igreja, relação entre 
Igreja e Estado, e interpretação das Escrituras.(16) 
 
Foi contra os excessos dos "Entusiastas" ou "Fanáticos" (como eram conhecidos) 
na área de novas revelações contemporâneas do Espírito, que Calvino se 
concentrou em alguns de seus escritos. Ele escreveu um tratado em 1545 
entitulado Contre la secte phantastique et furieuse des Libertines qui se nomment 
spirituelz (Contra a seita fantástica e furiosa dos Libertinos, que se chamam de 
Espirituais), que ainda não foi traduzido para o português.(17) Freqüentemente em 
suas Institutas e comentários Calvino faz menções diretas ou sugestões implícitas 
sobre este movimento. 
 
Os "Entusiastas" enfatizavam o ministério didático do Espírito, um ponto que havia 
sido resgatado pelos Reformadores; porém, estavam indo além deles, 
reivindicando serem ensinados diretamente pelo Espírito através de novas 
revelações, por meio de uma luz interior. Afirmavam que o Espírito não podia ficar 
restrito a palavras escritas, pois isto diminuiria sua soberania. Testar as 
manifestações espirituais seria desonrar o Espírito. Chegavam a ridicularizar os 
que se apegavam às Escrituras, pois a consideravam como uma forma inferior e 
temporária de revelação, e criticavam Calvino e os demais reformadores por se 
apegarem à letra que mata. 
 
Os "Entusiastas," portanto, eram uma reação à escravidão das Escrituras por 
parte da Igreja que havia vigorado até a Reforma, mas uma reação que estava 
indo longe demais. Calvino, naturalmente, simpatizava-se com os "Entusiastas" 
em vários pontos. Para ambos, as Escrituras, como Palavra de Deus, não 
estavam cativas à interpretação da Igreja, mas deveriam ser livremente 
examinadas por todos. Calvino, porém, questionava seriamente a separação entre 
o Espírito e a Palavra, e considerava qualquer tendência neste sentido como 
"demência".(18) Ele também duvidava que "novas revelações" fossem uma obra 
do Espírito Santo, e chegava mesmo a suspeitar que os que reinvidicavam 
receber revelações novas, que excediam as Escrituras, estavam sendo guiados 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
88 
por outro espírito, que não o de Deus. Calvino cria na realidade e na atuação de 
espíritos mentirosos, e que Satanás estava continuamente iludindo as pessoas, 
procurando afastá-las da verdade, transfigurando-se em "anjo de luz" (2 Co 
11.3,14). Para ele, "novas revelações", na verdade, eram invenções de espíritos 
mentirosos, não provinham do Espírito Santo, sendo o cumprimento de passagens 
como 1 Tm 4.1-2.(19) 
 
O Ensino de Calvino sobre o Espírito e a Palavra 
 
Calvino não se limitou a criticar os exageros dos "Entusiastas." Ele apresentou, de 
forma positiva e construtiva, o ensino bíblico sobre a direção divina para a Igreja 
vivendo após os tempos apostólicos. No livro I das suas Institutas, onde trata de 
"O Conhecimento de Deus como Criador", Calvino dá o seguinte título ao capítulo 
9: Os fanáticos, abandonando as Escrituras e bandeando-se para revelação, 
derrubam todos os princípios da piedade. Nesse capítulo, o reformador aborda o 
ensino dos "Fanáticos", como eram conhecidos na época, a partir da inseparável 
relação entre o Espírito e a Palavra.(20) 
 
O Espírito Fala pelas Escrituras 
 
O ponto central de Calvino eraque o Espírito fala pelas Escrituras. Não que o 
Espírito estivesse restrito à Pregação da Palavra e aos sacramentos, mas sim que 
Ele não pode ser dissociado de ambos. O Espírito havia sido dado à Igreja, não 
para trazer novas revelações, mas para nos instruir nas palavras de Cristo e dos 
profetas. De acordo com Calvino, o Espírito sela nossas mentes quando ouvimos 
e recebemos com fé a palavra da verdade, o Evangelho da salvação (Ef 1.13). Ele 
limita-se a guiar os crentes e a iluminar seus entendimentos naquilo que ouviu e 
recebeu do Pai e do Filho, e não de Si mesmo (Jo 16.13). Como o ensino divino 
se encontra nas Escrituras, a obra do Espírito consiste em iluminá-las, fazendo 
com que esse ensino seja entendido pelos fiéis. 
 
Contra o desprezo pelas Escrituras da parte de muitos "Entusiastas," Calvino 
citava o exemplo do apóstolo Paulo, que mesmo tendo sido arrebatado ao terceiro 
céu, onde recebeu revelações extraordinárias (2 Co 12.2), ainda assim jamais 
desprezou as Escrituras, como se fossem uma forma inferior de revelação, mas as 
reconheceu como suficientes e eficazes, pela graça do Espírito, para edificar a 
Igreja em todas as coisas concernentes ao reino de Deus (2 Tm 3.15-17; cf. 1 Tm 
4.13).(21) 
 
O Espírito é reconhecido pela sua harmonia com as Escrituras 
 
Outro ponto importante destacado por Calvino nas Institutas era que a atuação do 
Espírito Santo poderia ser reconhecida pela sua harmonia com as Escrituras, as 
quais haviam sido inspiradas pelo próprio Espírito.(22) Calvino desejava 
apresentar um critério pelo qual a Igreja pudesse discernir de forma segura, no 
âmbito da experiência religiosa, o que realmenteprocedia da parte do Espírito de 
Deus, ou de espíritos enganadores. Para ele, havia somente um critério seguro e 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
89 
infalível: o Espírito falando nas Escrituras. Assim, não haveria qualquer diminuição 
do poder e da glória do Espírito Santo ao concordar com elas, já que Ele as havia 
inspirado. Seria concordar consigo mesmo, e qual a desonra que poderia haver 
nisto? Testar as manifestações supostamente provenientes do Espírito, usando-se 
o crivo das Escrituras, era, na realidade, agradável a Ele, pois Ele mesmo havia 
determinado que a Igreja assim procedesse com as manifestações espirituais.(23) 
Para Calvino, não poderia haver qualquer contradição entre o ensino bíblico e a 
atuação do Espírito nos tempos pós-apostólicos; e é por esta razão que ele 
frequentemente se refere às Escrituras como "a imagem do Espírito."(24) 
 
A Soberania do Espírito 
 
Um último ponto ao qual desejo me referir é a insistência de Calvino sobre a 
soberania do Espírito Santo nesta relação íntima com a Palavra de Deus. Para 
ele, a Palavra é o instrumento pelo qual Deus dispensa a iluminação do Espírito 
aos crentes.(25) Assim, Cristo fala hoje através do ministro do Evangelho, quando 
o mesmo expõe fielmente a Palavra. O Espírito torna eficaz a Palavra exposta nos 
corações dos que a ouvem. Ao mesmo tempo, a relação Espírito-Palavra não é 
mágica, ou automática. A Palavra não é como um talismã, que sempre que 
invocado, libera seu poder mágico, ao bel-prazer do seu possuidor. A eficácia da 
Palavra, ao contrário, está totalmente na dependência da soberania do 
Espírito.(26) Para Calvino, a afirmação de Paulo de que somos ministros de uma 
nova aliança, do Espírito que vivifica (2 Co 3.6), não é uma garantia de que nossa 
pregação sempre será acompanhada pelo poder vivificador do Espírito. Pastores 
não retém o poder de dispensar a graça do Espírito a qualquer um que desejem, e 
quando o desejem. É por um ato soberano que o Espírito torna a Palavra pregada 
em Palavra eficaz.(27) 
 
Assim, a eloquência, a habilidade, a erudição e o fervor do pregador de nada 
adiantam, se a graça e o poder do Espírito não estiverem presentes. E assim 
ocorre porque, o mérito sempre deve ser de Cristo, e não dos pregadores. 
 
A Influência de Calvino na Confissão de Fé de Westminster 
 
A Confissão de Fé de Westminster, adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil, foi 
elaborada no século XVII, quase um século após a morte de Calvino, por pastores 
e teólogos Puritanos, reunidos com este fim pelo Parlamento Inglês, na 
Assembléia de Westminster. O alvo dos eruditos ali reunidos durante vários anos 
era um só: formular de forma sistemática a doutrina bíblica, partindo dos princípios 
de interpretação herdados da Reforma. A Igreja Presbiteriana tem adotado essa 
Confissão como a expressão correta do ensino das Escrituras. Os seus autores 
foram profundamente influenciados por João Calvino. Esta influência se percebe 
claramente no ensino da Confissão sobre o Espírito Santo, e em especial, na 
relação do Espírito com a Palavra. 
 
Assim, no seu capítulo sobre as Escrituras, a Confissão declara, nos melhores 
termos calvinistas, que a autoridade da Escritura não depende do testemunho do 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
90 
homem ou da Igreja, mas de Deus ( I, 4), que a nossa certeza da sua infalível 
verdade e autoridade divina provém do testemunho do Espírito Santo em nossos 
corações (I, 5), que à Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por 
novas revelações do Espírito, nem por tradições de homens (I, 6). A Confissão 
reafirma, com Calvino, que é necessária a íntima revelação do Espírito de Deus 
para a compreensão salvadora das coisas reveladas na Palavra (I, 6), e que, 
finalmente, o Juiz Supremo pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser 
examinadas é o Espírito Santo falando nas Escrituras (I, 8). 
 
Relevância do Ensino de Calvino para Nós Hoje 
 
A Época em que Vivemos 
 
A influência do movimento neopentecostal, surgido na década de sessenta, tem-
se feito sentir de forma profunda nas denominações evangélicas históricas, e 
também dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Não podemos tratar o movimento 
como um bloco monolítico — existem, dentro dele, diversas correntes e 
ramificações, o que faz com que generalizações tornem-se injustas. Mas, onde 
aparece com toda a liberdade, o neopentecostalismo manifesta a crença em 
novas revelações através de profecia e línguas, visões e sonhos, todos atribuídos 
ao Espírito Santo, e em alguns casos, práticas estranhas ao Cristianismo histórico, 
que são atribuídas ao poder do Espírito Santo, como "cair" no Espírito, o "sopro" 
do Espírito, o "riso santo", característica principal do movimento conhecido como 
"a bênção de Toronto". Há pastores que pretendem ter controle sobre o Espírito 
Santo, que presumem concedê-lo pela imposição de mãos, lançá-lo sobre o povo, 
girando o paletó, soprando sobre eles, etc., como o conhecido carismático Benny 
Hinn. Estes super-pastores determinam até mesmo quando o Espírito vai curar ou 
agir, pois marcam com antecedência reuniões de cura e libertação, coisa que nem 
mesmo o Senhor Jesus e os apóstolos fizeram. 
 
A Igreja Presbiteriana está aturdida, tomada de surpresa, por estes ensinos. 
Muitas de suas igrejas locais têm adotado, em maior ou menor medida, as 
doutrinas e práticas do neopentecostalismo. Podemos receber ajuda do ensino de 
Calvino, nesta hora? 
 
Em que o Ensino de Calvino nos Ajuda Hoje? 
 
Em primeiro lugar, o ensino de Calvino sobre o testemunho interno do Espírito 
vem lembrar à Igreja que, nestes tempos difíceis, ela deve buscar de Deus a 
íntima iluminação do Espírito para compreender e aplicar as Escrituras à sua vida 
e missão. Corremos o risco de pensar que Calvino, em sua luta contra os 
excessos dos "Entusiastas", caiu no extremo do academicismo frio. Balke nos 
relata o que de fato ocorreu: "Calvino, o teólogo do Espírito Santo, queria guardar-
se contra o fanatismo, sem porém impedir a liberdade do Espírito."(28) Como 
Calvino, devemos nos guardar dos excessos de hoje, ao mesmo tempo em que, 
submetendo-nos à liberdade do Espírito, procuramos a sua iluminação. Mas, para 
isto, é necessário arrependimento e saneamento da vida das igrejas locais, dos 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
91 
conselhos, concílios, organizações e instituições eclesiásticas que compõem a 
IPB. É preciso nos voltarmos a Deus em oração, suplicando a iluminação do 
Espírito, como bem orienta a Carta Pastoral da Igreja Presbiteriana do Brasil sobre 
o Espírito Santo: 
 
Ao mesmo tempo em que orienta a Igreja a guardar-se de uma interpretação das 
Escrituras que parte dos princípios hermenêuticos equivocados da experiência 
neopentecostal, a Igreja também adverte contra uma interpretação intelectualizada 
e árida das Escrituras, que se esquece da necessidade da iluminação do Espírito 
para sua compreensão e de que Deus promete ensinar àqueles que procuram 
andar em santidade e retidão (Sl 119.18, 33-34; Lc 24.44-45).(29) 
 
Em segundo lugar, Calvino nos desafia a examinar todas as manifestações 
espirituais pelo crivo da Palavra de Deus, quanto à natureza, ao propósito, e ao 
modo destas manifestações. Essa prática está pressupondo corretamente o 
ensino bíblico de que o Espírito Santo não se contradiz. As Escrituras foram 
inspiradas por ele. Embora o Espírito aja de formas distintas em épocas distintas, 
jamais o faz em contradição ao que nos revelou na Palavra. Deveríamos estar 
abertos para o fato de que o Espírito tem enfatizado aspectos diferentes da 
Palavra em épocas diferentes — porém, jamais indo além dela ou contra ela. 
 
Em terceiro lugar, o ensinode Calvino nos alerta contra os que pretendem ter total 
controle sobre o Espírito, que pretendem dispensar o batismo do Espírito pela 
imposição de mãos, que "ensinam" aos crentes imaturos eincautos a falar em 
línguas. Alerta-nos a rejeitar todo ensino, movimento, culto, liturgia, onde a 
Palavra de Deus não receba a devida proeminência. Se o Espírito fala pela 
Palavra, a Palavra deve ser o centro. 
 
Muitos presbiterianos consideram-se calvinistas e reformados, mas quantos 
realmente percebem as implicações do ensino calvinista reformado sobre a obra 
do Espírito para as práticas neopentecostais que são aceitas em muitas das 
nossas igrejas? Calvino foi, de fato, um homem do Espírito Santo, que guiado por 
Ele, tornou-se o principal instrumento de Deus para a Reforma do século XVI, 
movimento que, na realidade, foi um dos maiores reavivamentos espirituais 
ocorridos na Igreja Cristã, após o período apostólico. Todos nós queremos um 
reavivamento espiritual, da mesma magnitude. Calvino, que viveu e ministrou em 
meio àquela tremenda manifestação de poder divino, não teve receio de ofender o 
Espírito por inquirir, de forma profunda e meticulosa, sobre a genuinidade dos 
fenômenos que sempre acompanham os grandes movimentos espirituais da 
História. Se por um lado não devemos ter medo do que o Espírito possa fazer, por 
outro, devemos temer a obra espúria dos espíritos enganadores, e do nosso 
próprio coração enganoso. 
 
E por fim, vale a pena mencionarmos que "a era do Espírito Santo", como é 
conhecida em muitos meios neopentecostais, iniciou-se, não em 1906, com a 
reunião na rua Azuza, nos Estados Unidos, mas desde o dia de Pentecoste. As 
evidências bíblicas são numerosas. Em seu sermão no dia de Pentecoste, o 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
92 
apóstolo Pedro declarou que a descida do Espírito estava inaugurando os últimos 
dias (At 2.16-21). Os demais apóstolos ensinaram, semelhantemente, que os 
últimos dias, a dispensação anterior ao dia do julgamento final, já havia chegado ( 
1 Co 7:29; 1 Jo 2.18). Enfatizo esse ponto pois alguns poderiam argumentar que 
estamos vivendo hoje na "era do Espírito", e que Calvino viveu antes dessa época. 
Os que assim acreditam, afirmam que hoje o Espírito está agindo de uma forma 
muito mais intensa, e mesmo, diferente, da época da Reforma, e que, portanto, o 
que Calvino experimentou e ensinou está, num certo sentido, ultrapassado. 
Entretanto, as Escrituras nos ensinam que a Igreja já está vivendo os últimos dias, 
a dispensação do Espírito, desde o período apostólico. Calvino viveu e ensinou 
em plena época do Espírito, tanto quanto nós hoje vivemos e labutamos. O ensino 
de Calvino, por ser bíblico, pode nos servir de balizamento, indicando-nos o 
estreito caminho do equilíbrio, entre uma vida de piedade e uma mente firmada 
nas antigas doutrinas da graça. 
 
Notas 
1 Jown Owen, The Holy Spirit: His Gifts and Power (Grand Rapids: Kruegel, 1960); 
Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit (Grand Rapids: Eerdmans, 1946). 
Outros autores poderiam ser acrescentados, como o Puritano inglês Thomas 
Goodwin, e mais recentemente, Benjamim B. Warfield e George Smeaton. 
 
2 Cf. João Calvino, As Institutas, ou Tratado da Religião Cristã, 4 vols., trad. 
Waldyr C. Luz (São Paulo: CEP e Luz para o Caminho, 1989). Calvino trata da 
divindade do Espírito em I.13.14-14, e da sua obra redentora (aplicando a 
salvação) no livro III, especialmente nos capítulos 1-2. 
 
3 O termo "esquerda" tem sido empregado recentemente por alguns historiadores 
para se referir a esse grupo, sem qualquer conotação política. 
 
4 Cf. a nota introdutória de B. Warfield em Kuyper, The Work of the Holy Spirit, 
xxvii. 
 
5 Para uma lista das obras mais importantes sobre o Espírito Santo escritas após 
Calvino nos séculos XVII e XVIII, ver Kuyper, The Work of the Holy Spirit, lx-x. 
 
6 Kuyper, The Work of the Holy Spirit, xxxiii-xxxiv. 
 
7 Institutas, I.7.2; IV.2.1,9. Veja ainda Calvin’s Commentaries, vol. 21, trad. W. 
Pringle (Grand Rapids: Baker, 1981) 242-44. 
 
8 Institutas, I.7.1. Veja também os capítulos 7-9 do livro I, onde Calvino 
desenvolve o tema da autoridade das Escrituras. 
 
9 Institutas, III.1.1; I.7.5. 
 
10 Institutas, I.8.13; I.7.4. Cf. Ronald S. Wallace, Calvin’s Doctrine of the Word and 
Sacrament (Grand Rapids: Eerdmans, 1957) 101-2. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
93 
 
11 Institutas, III.1.1; III.2.33-34; II.2.20; I.7.5. Veja ainda Calvin’s Commentaries, 
vol. 20, 116-17, e vol. 22, 257. 
 
12 Calvin’s Commentaries, vol. 18, 101. 
 
13 Devemos, com justiça, notar que Calvino deve muito dessa perspectiva ao 
ensino desbravador de M. Lutero, que já havia, antes dele, denunciado esse 
estado de coisas. 
 
14 Veja nota acima. 
 
15 WilliamBalke, Calvin and the Anabaptist Radicals, trad. W. Heynem (Grand 
Rapids: Eerdmans, 1981) 2. 
 
16 Para uma análise mais profunda do debate de Calvino com os Anabatistas 
consulte Balke, Calvin and the Anabaptist Radicals. Resumos sobre o movimento 
Anabatista durante a Reforma poderão ser encontrados nos livros clássicos em 
Português de História da Igreja, como Robert Nichols, W. Walker e Justo Gonzalez 
(vol. 6). 
 
17 Esta obra se encontra publicada em Francês na coleção Corpus 
Reformatorum, ed. C.G. Bretschneider (Halle, 1834-1860), vol. 7, 145-248. 
 
18 Institutas, I, 9, 1. 
 
19 Institutas, I, 9, 2. 
 
20 Para um estudo mais aprofundado, veja W. Kreck, "Wort und Geist bei Calvin", 
em Festchrift für Günther Dehn (Neukirchen, 1957) 168-173. 
 
21 Institutas, I, 9, 1; cf. Wallace, Calvin’s Doctrine of the Word and Sacrament, 
130. 
 
22 Institutas, I, 9, 2. 
 
23 Institutas, I, 9, 2. Passagens como 1 Co 12.1-3, 14.29 e 1 Jo 4.1, entre outras, 
estabelecem critérios doutrinários pelos quais pode-se julgar as profecias e os 
profetas. 
 
24 Institutas, I, 9, 2-3. 
 
25 Ibid. 
 
26 Calvin’s Commentaires, vol. 22, 102-3. 
 
27 Calvin’s Commentaires, vol. 20, 174; veja ainda Wallace, Calvin’s Doctrine of 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
94 
the Word and Sacrament, 89-90. 
 
28 Balke, Calvin and the Anabaptist Radicals, 326. 
 
29 "O Espírito Santo Hoje - Os Dons de Línguas e Profecia", em Cartas Pastorais 
(São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1995). O documento foi elaborado pela 
Comissão Permanente de Doutrina da IPB. 
 
Parte XXV 
O TOQUE DO ESPÍRITO 
 
Introdução 
 
"Essas maravilhas de um avivamento somente poderão ocorrer se o Espírito 
Santo tornar viva a Palavra de Deus, quando ela for pregada. Bênçãos genuínas 
não podem vir a não ser que o Espírito Santo as traga ao povo de Deus. Traga-lhe 
convencimento e nele toque." 
A. W. Tozer. - A Tragédia da Igreja: Ausência de Dons p. 15 
 
Se tivermos uma compreensão sadia do que o Espírito Santo fez em nós no início 
de nossa vida cristã, nossas condições para buscar as bênçãos para nós 
reservadas serão melhores, mais claras e definidas. Mostra também a Escritura 
que o Espírito de Deus age em todas as suas páginas, não apenas em termos do 
Espírito Santo como Pessoa Divina para uma pessoa humana, mas, igualmente, 
em termos de inspiração. Extraordinário é ver na Bíblia Sagrada que o Espírito a 
inicia e a conclui. Está em Gênesis 1.2, primeiro capítulo de toda a Bíblia, e 
também no seu último capítulo, em Apocalipse 22.17: 
 
"A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o 
Espírito de Deus pairava sobre a face das águas". 
 
"E o Espírito e a noiva dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, 
venha; e quem quiser, receba de a graça a água da vida". 
 
O Espírito age intensamente nas páginas do Livro Sagrado levantando e guiando 
os juizes do povo de Deus, ungindo sacerdotes, profetas e reis, e transformando 
covardes em poderosos.(1) E porque o Espírito Santo é poder, figuras de poder 
têm sido utilizadas pelos escritores inspirados. É comparado ao vento, ao óleo, ao 
fogo, à pomba e à água. Em todos os casos, figuras concretas e altamente 
gráficas. 
 
FIGURAS DE PODER 
 
A idéia de poder no mundo está ligada ao hedonismo e ao belicismo, ao prazer e e 
ter e àsarmas e violência. Poder é possuir uma gorda conta bancária, de 
preferência na Suíça e/ou Ilhas Cayman; poder são os músculos; são as multidões 
que alguém possa arregimentar; é o número de tropas e de armas de uma nação. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
95 
Na Bíblia, porém, é criação, é manutenção, é apoio, e é, até, sofrimento?! 
 
Na Bíblia, o Espírito Santo é comparado ao vento. O mesmo vocábulo é utilizado 
pelos escritores bíblicos para dizer "vento", "fôlego", "respiração" e "espírito" (2). É 
o Ruach haKodesh ou o Pneuma ton Hagion. Vento é poder criador, gerador de 
energia como nos moinhos de vento, ou poder destruidor como num furacão. 
 
Também é comparado ao óleo ou azeite. Nessa comparação, o Espírito Santo é 
um poder confortador, visto que o azeite era largamente utilizado no conforto, na 
unção, e numa série de situações. Um dignitário em Israel era ungido com azeite 
aromático. O rei não era "coroado", mas ungido, o azeite perfumado era 
derramado na sua cabeça, e escorria pelo seu cabelo e molhava as suas faces e 
sua barba (3). Não era um azeite qualquer. Há, por sinal, muita gente vendendo 
azeite de supermercado afirmando ser "azeite ungido" com o objetivo de mistificar, 
manipular as emoções dos simples e enganar os menos avisados. O azeite da 
unção usado em Israel tinha uma fórmula, na qual entrava a mirra, a canela, as 
madeiras aromáticas, a cássia e o azeite de oliveira (4), razão porque era usado 
como perfume (5). Era utilizado na iluminação deixando o ambiente perfumado(6), 
e, também, aplicado medicinalmente como atestam Tiago 5.14 e Marcos 6.13. No 
consolo que traz, portanto, no conforto que proporciona, no poder que infunde, o 
Espírito Santo tem uma figura altamente apropriada no óleo ou azeite: "... e 
daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi" (7). 
 
O fogo sempre esteve ligado a Deus ou à Sua justiça. Por essa razão, a espada 
flamejante se postava à entrada do Éden guardando-o (8); a sarça ardente estava 
no alto do Sinai (9); a coluna de fogo liderou os filhos de Israel na caminhada no 
deserto (10); e no Monte Carmelo havia um altar de fogo (11); e, no Pentecostes, 
as línguas como que de fogo pousando sobre a cabeça de cada um dos apóstolos 
(12); e no Apocalipse está mencionado um lago de fogo (13). Sempre sinais da 
presença e da justiça divinas! Sinais de Deus! João, previamente ao ministério de 
Jesus, disse a Seu respeito: "Eu, na verdade, vos batizo em água, mas vem 
aquele que é mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de desatar a 
correia das alparcas; ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo" (14). O fogo é 
poder purificador. 
 
O ESPÍRITO SANTO NO DESCRENTE 
 
Nossa proposta é examinar como o Espírito Santo age no ser humano. Podemos 
verificar na Escritura e na experiência o Espírito agindo tanto no descrente quanto 
no crente. 
 
Em João 16, nos versos 7 e 8, estão registradas as palavras de Jesus Cristo: 
"Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o 
Consolador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei. E quando ele vier, 
convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo". É deste modo que Ele age 
no incrédulo. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
96 
Um dos mais terríveis efeitos do pecado é a cegueira que ataca a pessoa humana 
quanto a seus pecados (15). Só o Espírito Santo pode abrir os nossos olhos. Por 
mais bem intencionados que sejamos, somos cegos em relação ao próprio 
pecado. "O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus porque para 
ele são loucura", diz a palavra de Deus (16). Dependemos dEle; e até os nossos 
olhos o Espírito vai abrir; só Ele pode nos convencer da profundidade do pecado e 
da verdade do evangelho. Essa é a razão porque é chamado "Espírito da verdade" 
(17). Uma pessoa perdida não tem consciência de que é um pecador (por isso 
está "perdida"). Converse com uma "pessoa natural", e ela não compreenderá o 
que você está falando, porque ainda não foi convencida pelo Espírito de Deus com 
respeito à sua perdição. Não há consciência de falta de retidão moral e espiritual; 
não há qualquer convicção ou consciência da palavra de julgamento sobre o seu 
pecado. E no verso 8 de João 16 está afirmado que "quando ele vier, convencerá 
o mundo do pecado, da justiça e do juízo". 
 
Essa tríplice convicção de João 16.8 não são funções separadas como pode 
parecer, mas uma só. O Espírito não pode convencer uma pessoa do pecado sem 
convencê-la do juízo de Deus; nem pode convencer alguém da justiça, da retidão 
de Jesus Cristo, sem convencê-la inicialmente do pecado e do conseqüente juízo. 
É um ato único e coeso. Não importa qual seja a expressão do pecado na vida de 
alguém (adultério, cobiça, bebida, imoralidade, o que seja), a razão básica porque 
alguém continua "destituído da glória de Deus" (18) é a falta de fé em Jesus 
Cristo. Quem não foi convencido pelo Espírito Santo de Deus, o destino não é o 
céu: é o outro lugar. E, por inferência, aceitar o perdão divino, confiar em Cristo 
tem como resultado a vida eterna, a salvação eterna, a vida abundante (19). É 
convicção da justiça e perfeição de Jesus Cristo, do fato de que Ele é reto, justo e 
perfeito; é convicção do juízo, pois, pela ação do Espírito, comprova-se o amor de 
Deus e igualmente o Seu julgamento sobre os nossos pecados. Isso significa uma 
coisa: Deus é Quem toma a iniciativa de nossa salvação por meio do Espírito 
Santo. Que gloriosa mensagem essa do evangelho! E ela se chama graça: Nós 
amamos, porque Ele nos amou primeiro" (20). Foi Ele Quem tomou a iniciativa da 
sua salvação; foi Ele Quem através do Seu Espírito, levou-o a Jesus Cristo; foi Ele 
Quem, através do convencimento do pecado, da justiça e do juízo, levou a cada 
fiel a se ajoelhar diante de Jesus. Deus nos procura antes que nós O procuremos, 
ou seja, embora sejamos cheios de rebeldia, preconceito e indiferença, Deus vem 
a nós através do Seu Espírito, lei espiritual encontrada na Sua Palavra (21). 
 
E Jesus Cristo nos dá uma razão dessa tríplice convicção. Está no verso 9: 
"(convicção) do pecado, porque não crêem em mim"; e fala da descrença que é 
resultado do orgulho, da vaidade e da recusa de se submeter à direção do Senhor. 
Nesse caso, a incredulidade está igualada à desobediência (22). Jesus fala da 
rebelião voluntária ao governo de Deus em nossas vidas. 
 
No verso 10, diz Jesus: "convicção da justiça, porque vou para meu Pai, e não me 
vereis mais". E, sem dúvida, a primeira coisa a considerar é que o crente tem um 
teste final da justiça de Jesus Cristo: Sua volta para o Pai como havia prometido. 
Por outro lado, olhar para Jesus Cristo, o justo sem pecado, é percebermos quão 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
97 
distantes e caídos estamos da retidão de Deus, e, nesse ponto, o Espírito nos vai 
levar a pesar em nosso íntimo o fato do pecado contra o senhorio de Jesus e a 
ação de Seu reino em nossa vontade. 
 
O verso 11 ensina que é convicção "do juízo, porque o príncipe deste mundo já 
está julgado". Entendemos que esse é um fato muito alentador, porque, apesar de 
a Escritura dizer que "o mundo inteiro jaz no Maligno" (23), Jesus Cristo é o 
vencedor (24)! E não depositamos a nossa fé em um Cristo derrotado! O Deus a 
Quem servimos vencedor de todas as batalhas! É Aquele que afirma o julgamento 
de Satanás, prometido desde os mais antigos dias da espécie humana, registro 
que se encontra no livro do Gênesis: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a 
tua descendência e a sua descendência; e esta lhe ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás 
o calcanhar" (25) Jesus Cristo vitorioso, portanto! Isso foi realizado no Calvário. 
Foi com a cruz que a Grande Serpente, começou a se contorcer de dores. A cruz 
foi um punhal cravado no coração do próprio Satã (26). Na ressurreição de Jesus, 
porém, o golpe final foi dado no Grande Dragão, motivo porque aexecução de 
tudo será no fim dos tempos, na consumação dos séculos como está registrado no 
Apocalipse (27). 
 
Apesar dessa idéia futura para nós, no propósito de Deus já é fato consumado, 
convicção que de nossa parte é necessária pelo que Satanás faz na vida do 
descrente em Jesus Cristo. Não diz a Escritura que "o mundo inteiro jaz no 
Maligno" (28)? No entanto, "sabemos que somos de Deus"! Isso é glorioso! Os 
perdidos estão em cativeiro porque o mundo jaz no Maligno; fazem a vontade do 
Inimigo-de-nossas-almas (29) porque o mundo jaz no Maligno, o que quer dizer 
que a nossa ação evangelizadora e missionária é uma luta contra Satanás e suas 
hostes de anjos da malignidade (30). E porque não podemos lutar sozinhos, Deus 
vem ao nosso encontro pelo Espírito Santo. 
 
PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO 
 
A pessoa humana tem a infeliz possibilidade de cometer dois pecados contra o 
Espírito. O crente deve dar glória a Deus porque contra essa doença já foi 
vacinado. Mas o ser humano natural pode cometer duas tremendas faltas contra o 
Espírito de Cristo. Um pecado é chamado na Bíblia de "resistir ao Espírito" (31). O 
outro é identificado pela expressão "blasfemar contra o Espírito" (32). 
 
O pecado mais comum contra o Santo Espírito é a resistência, que se apresenta 
de muitas maneiras. É o caso do desprezo e do desdém para com a palavra do 
Senhor; é a depreciação do evangelho salvador de Jesus (33). Outro é o 
adiamento. Você diz "estou ouvindo o Espírito falando ao meu ouvido, mas vou 
deixar para depois a decisão de receber a Jesus como meu Salvador". Esse 
adiamento é um pecado (34). Outro mais é a zombaria, o escárnio, o levar o 
Espírito Santo ao ridículo (35). E que dizer da oposição agressiva (36)? Mas em 
tudo isso, vemos algo verdadeiro: enquanto a pessoa resistir à obra de convicção, 
ela se priva das alegrias da salvação! 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
98 
O outro caso é o da blasfêmia contra o Espírito. Mateus 12.22-32 fala desse 
assunto. Havia um grupo que atribuía a cura de um endemoninhado cego ao 
poder do diabo (37). A ironia de tudo isso é que o milagre realizado por Jesus, 
prova, portanto, de Sua divindade, fora atribuído ao diabo. Essa atitude, esse 
pecado não tem esperança de perdão. É o que está dito nos versos 31 e 32. O 
pecado da blasfêmia, então, é o ponto mais alto de um processo de resistência ao 
Espírito de Deus. É blasfêmia ser antagônico ao Senhor, quando Ele o chama 
para o Seu lado, e você se posiciona contrariamente. O desdém começa, vira 
resistência, endurecimento do coração, blasfêmia e resulta em perdição eterna. 
 
O ESPÍRITO SANTO E A CONVERSÃO 
 
A primeira importante lição é que o Espírito Santo trabalha na conversão. O 
Espírito de Deus completa Sua obra de convicção em nós, e traz à nossa 
consciência o fato do pecado e da nossa condenação. Se não há resistência, Ele 
nos conduz à conversão. Assim é que aceitamos que Jesus Cristo Se torne o 
Senhor de nossas vidas. A essência da salvação é a conversão ao senhorio de 
Cristo. O primeiro pecado humano foi a negação da soberania divina (38); quando 
o primeiro homem resolveu não ser o gerente da criação, e, sim, o proprietário, 
evidenciou-se a rebeldia, e com isso repúdio da lei divina. Resultado: a 
humanidade passou a ser dominada pelo Maligno (39), que recebe os títulos de 
"príncipe deste mundo", "deus deste século", e "poder das trevas" (40). Ser salvo é 
ser liberto por Deus do domínio das trevas para o senhorio de Cristo Jesus (41). 
 
A conversão ou regeneração não é trabalho do evangelista, do pastor ou do 
professor da Escola Bíblica, mas, sim, do Espírito Santo. Regeneração não se 
herda, não se adquire com o batismo, não é mérito da igreja, pois, na verdade, 
alguém pode freqüentá-la por anos corridos e não ser regenerado. Regeneração 
não consiste em boas obras (42), nem é resultado de vida moral ilibada (43). 
Realmente, a palavra do evangelho é que "a todos quanto o receberam, aos que 
crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" (44), e isso 
é ação do Espírito que leva ao arrependimento, à fé, e conduz à incorporação em 
Jesus Cristo. E ensina a palavra de Deus que "crer no evangelho", "responder a 
Jesus Cristo" e "receber o Espírito Santo" são três modos de observar o mesmo 
fato (45). 
 
O ESPÍRITO SANTO E O CRENTE 
 
Como agiu e age o Espírito de Deus no discípulo de Jesus Cristo? O Espírito 
Santo 
preparou o seu coração para entrar em uma nova vida. Tito 3.5 o explicita: "...não 
em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua 
misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo 
Espírito Santo". 
 
Espírito de Deus o recriou. Jesus não o ensinou? "Em verdade, em verdade te 
digo que se alguém nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
99 
Deus"(49) 
 
O Espírito Santo fez ainda mais: 
 
imprimiu o próprio caráter de Deus em sua vida! A Bíblia chama a esse fato o selo 
do Espírito.(50) E com isso, o Espírito lhe deu a consciência de que é filho de 
Deus.(51) 
 
Jesus Cristo o batizou no Espírito Santo: "Pois em um só Espírito fomos nós todos 
batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres, e 
a todos nós foi dado beber de um só Espírito" .(52) 
 
O batismo no Espírito Santo é uma das fases do ministério da Terceira Pessoa da 
Trindade, sem dúvida a mais mal compreendida. Há quem ensine que ele dá ao 
crente uma experiência mágica, ou que seja uma espécie de sacramento, um 
meio pelo qual o crente recebe uma graça especial. Necessário se torna, 
evidentemente, cuidado para não confundir o ficar cheio do Espírito Santo com o 
batismo no Espírito Santo.(53) Muitos crentes confundem essas realidades porque 
os que foram batizados no dia de Pentecostes também ficaram cheios.(54) É 
importante compreender que o glorioso e inicial fato do batismo no Espírito Santo 
não é a "segunda bênção" anunciada por alguns grupos. O batismo no Espírito 
Santo, pelo ensino do Novo Testamento, é a primeira bênção na sua vida. Sua 
evidência não é o falar-em-línguas, mas a vida, quebrantada, arrependida, 
penitente, dedicada, consagrada ao reino e a espalhar o seu poder no coração 
dos homens. Em uma palavra: serviço. A evidência do batismo no Espírito Santo é 
a vida dedicada que se expressa em termos de ação e serviço. 
 
COMO O ESPÍRITO SANTO AGE NO CRENTE? 
 
Ele o faz concedendo carismas, ou seja, os Seus dons para o serviço acima 
mencionado.(55) 
 
O Espírito Santo ajuda na oração. A palavra de Deus é claríssima sobre isso: "Do 
mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o 
que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós 
com gemidos inexprimíveis. E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a 
intenção do Espírito: que ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos 
santos". (56) 
 
Espírito Santo guia o crente através das circunstâncias.(57) Ele orienta o cristão 
fechando certas portas e abrindo outras;(58) Ele dá direção ao fiel através de 
palavras, atitudes e conselhos de outros fiéis;(59) Ele norteia o caminho do crente 
através das Escrituras Sagradas;(60) Ele guia o crente através da oração.(61) O 
Espírito Santo guiando a Igreja, traz reconciliação, e cria a koinonia; Ele fala pela 
pregação.(62) O Espírito Santo edifica o Corpo em amor. Por tudo isso, os 
escritores do Novo Testamento costumam falar de Jesus Cristo e do Espírito 
Santo vivendo dentro do crente, quer dizer, nós estamos em Cristo, e o Espírito 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
100 
Santo está em nós. (63) 
 
A Bíblia diz que há três tipos de pessoas: o homem natural, o crente carnal e o 
crente espiritual. Paulo, apóstolo, faz uma descrição de cada um. Em 1Coríntios 
2.14 está o homem natural: "O homem natural não aceita as coisas do Espírito deDeus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se 
discernem espiritualmente". 
 
O crente carnal por sua vez está em 1Coríntios 3.1: "E eu, irmãos, não vos pude 
falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo". 
 
O Dr. Landrum Leavell disse que a vida religiosa do crente carnal é como a 
malária: frieza e febre. Ataques de frio e de febre, frio e febre, e assim por diante. 
Desce e sobe, desce e sobe, vai ao alto e cai, não tem constância, não tem 
estabilidade, não tem alegria. O crente espiritual, por sua vez, tem seu perfil em 
1Coríntios 2.15: "Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por 
ninguém é discernido". 
 
Crentes espirituais são santificados todos os dias. Não precisam de movimentos, 
caminhadas, marchas e campanhas especiais para serem santificados porque têm 
comunhão com o Pai diariamente, alimentam-se dia a dia com a seiva da videira 
verdadeira que é Cristo Jesus, são sustentados pelo Espírito Santo cada dia, têm 
propósitos especiais para suas vidas, não se cansam de obedecer a Deus. Amam 
sua igreja, participam fielmente dos estudos bíblicos, contribuem biblicamente, são 
dizimistas e trazem o dízimo à casa do Senhor. 
 
Pecado e santificação são extremos como Polo Norte x Polo Sul; escuro x claro; 
noite x dia; distância de Deus X proximidade de Deus. Quanto mais o crente se 
conforma com o mundo, mais se distancia de Deus; quanto mais o crente se 
amolda à vontade de Deus, mais distância quer do sistema de coisas do mundo. 
Isso é santificação, e ação do Espírito em sua vida. O mundo precisa da ênfase 
sobre a santificação. A igreja local precisa da ênfase sobre a santificação; nós 
precisamos da ênfase sobre a santificação. Nossas ações, vocabulário e atitudes 
dirão aos outros e a nós mesmos, a que distância estamos do Polo Norte ou do 
Polo Sul, do governo do mundo ou do reino de Deus. 
 
Há quem imagine ser santificação deixar de fazer certas coisas. A Bíblia ensina 
que é resultado de andar com Deus. Não são regras, mas estilo de vida. 
Santificação é um processo para toda a vida e deve ter início na conversão. 
Dissemos "deve ter início" porque há crente que não cresce, e não cresce porque 
não dá vez ao Espírito. Alguém disse: "já dei muita oportunidade ao Espírito 
Santo, e não vi nada!" Na realidade, encastelou-se em certa posição, e não deu 
vez ao Espírito de Deus! 
 
DUAS TENDÊNCIAS 
 
Há no crente duas tendências ou naturezas, e são antagônicas. Uma é carnal; a 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
101 
outra é espiritual. A primeira coisa que o Espírito tem que fazer para sua 
santificação é dominar o pecado em sua vida. Pelo poder do Espírito Santo, o 
irmão, a irmã vai conquistar a natureza mundana e carnal em sua vida. Quando 
aceitamos a Cristo, nascemos do Espírito, mas a velha natureza continua ao lado 
da recém-nascida natureza cristã.(64) A Bíblia, porém, ensina que mesmo com o 
trabalho do Espírito Santo, só na glória é que vamos nos despir completamente da 
velha criatura.(65) O Espírito é poder para sobrepujar nossa natureza carnal.(66) 
 
A segunda fase da santificação consiste em o Espírito Santo dar ao crente um 
caráter justo e santo. Esse é o lado positivo da santificação, pois em relação ao 
pecado, a obra do Espírito Santo é destrutiva, em relação ao caráter, porém, é 
construtiva. Conforme Gálatas 5.19 em diante, temos um resumo das duas fases: 
 
é preciso desmanchar a primeira, as obras da carne (versos 19-21); 
 
e construir a segunda, que é o fruto do Espírito (versos 22,23). 
 
Outra parte da atuação do Espírito Santo é o serviço que prestamos. Assunto a 
ser examinado em outras reflexões. 
 
NOTAS 
1 Cf. 2Timóteo 1.7. 
2 As palavras são ruach e pneuma, nas línguas hebraica e grega respectivamente. 
3 Cf. Sl 133. 
4 Cf Ex 30.22-33. 
5 Cf. Amós 6.6. 
6 Cf. Mateus 25.3ss. 
7 1Sm 16.13b. 
8 Cf. Gênesis 3.24. 
9 Cf. Êxodo 3.2ss. 
10 Cf. Êxodo 13.21,22. 
11 Cf. 1Reis 18.38 . 
12 Cf. Atos 2.1-3. 
13 Cf. Apocalipse 20.14,15. 
14 Lc 3.16. 
15 Cf. 2Coríntios 4.4. 
16 Cf. 1Coríntios 2.14. 
17 Cf. João 14.17. 
18 Cf. Romanos 3.23. 
19 Cf. João 3.16, 18, 36. 
20 Cf. 1João 4.19. 
21 Cf. Gênesis 3.8-10; João 3.16; Efésios 2.8. 
22 Cf. Hebreus 3.17-19. 
23 Cf. 1João 5.19b. 
24 Cf. João 16.33; Apocalipse 3.21. 
25 Gn 3.15. 
26 Cf. João 12.31-33. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
102 
27 Cf. Apocalipse 20.10. 
28 Cf. 1João 5.19. 
29 Cf. 2Timóteo 2.26. 
30 Cf. Efésios 6.12. 
31 Cf. Atos 7.51. 
32 Cf. Mateus 12.22-32; Marcos 3.28-30; Lucas 12.10. 
33 Cf. Atos 26.28. 
34 Cf. Atos 17.32; 24.25. 
35 Cf. Atos 17.32. 
36 Cf. Atos 5.33-40; 7.54-60. 
37 Cf. verso 24. 
38 Cf. Gênesis 3.1ss. 
39 Cf. 1João 5.19; 2Timóteo 2.26 
40 Cf. Cf. João 12.31; 14.30; 16.11; Cf. 2Coríntios 4.4. Colossenses 1.13. 
41 Cf. Colossenses 1.13. 
42 Tito 3.5. 
43 Cf. Isaías 64.6. 
44 João 1.12 
45 Cf. 2Coríntios 11.4. 
46 Cf. João 16.8-11. 
49 Cf. João 3.5; 1Coríntios 12.3. 
50 Cf. 2Coríntios 1.22; Efésios 1.13; 4.30. 
51 Cf. Romanos 8.15-17. 
52 1Co 12.13. 
53 Cf. Efésios 5.18. 
54 Cf. Atos 2.4. O "ficar cheio do Espírito Santo" é fato conhecido por outras 
expressões: controle do Espírito e plenitude do Espírito (do latim plenus = cheio). 
55 Cf. 1Coríntios 12.4-30; Efésios 4.1-16. 
56 Rm 8.26,27. 
57 Cf. Atos 16.10. 
58 Cf. Atos 16.6 
59 Cf. Atos 6;13. 
60 Cf. Colossenses 3.16. 
61 Cf. Colossenses 3.15. 
62 Cf. Atos 2.14,18. 
63 Cf. Gálatas 2.20; Cl 1.27; Rm 8.10; 1Co 3.16. 
64 Cf. Efésios 4.22; 1Coríntios 3.1; Hebreus 5.13; Colossenses 3.9. 
65 Cf. 1João 3.2. 
66 Cf. Gl 5.16. 
 
Parte XXVI 
ENTECOSTES: O PARADOXO DE DEUS 
 
1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; 
 
2 E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma 
sobre cada um deles. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
103 
 
3 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, 
segundo o Espírito lhes concedia que falassem. 
 
A festa de pentecostes era uma das três festas obrigatórias dos judeus. A primeira 
era a Páscoa, a segunda era o Pentecostes a terceira era a festa dos 
tabernáculos. 
 
A princípio, era uma festa agrária também chamada de festa das primícias pela 
celebração do início da colheita. Posteriormente, veio, também ser a 
comemoração da entrega da aliança que teria se dado cinqüenta dias após o 
êxodo. 
 
Não podemos negar que no pentecostes cristão, também estão presentes os 
elementos do Pentecostes judaico. Com certeza no pentecostes, começa uma 
grande colheita. Também, não podemos nos esquecer que a nova aliança de 
Deus já não é escrita em tábuas de pedras, mas em nosso coração. Finalmente, a 
alegria que deveria ser a tônica no pentecostes judaico extravasa no 
derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja. 
 
Pregar sobre um texto como esse é uma das tarefas difíceis do pregador. Este 
texto é policromático, polisemântico. Fôssemos abordar, todos os seus ângulos, 
vertentes e nuances, levaríamos, quem sabe cinqüenta dias... 
 
Queremos, porém, falar a partir da perspectiva dos paradoxos que se encontram 
no texto. A palavra paradoxo, vem do grego e significa: parecer ou aparentar . O 
paradoxo não é uma contradição. Na contradição uma coisa nega a outra. No 
paradoxo, há uma aparente contradição, não, uma real contradição. Jesus, usou 
paradoxos: Quem perde a sua vida por minha causa acha-la-á. (Mt. 10.39). 
 
É nesse sentido que estaremos usando a palavra para descrever o evento 
pentecostes. 
 
Foi o fim do começo e o começo do fim. 
 
2. 17. E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu 
Espírito sobre toda a carne. O derramamento do Espírito no dia de Pentecostes é 
início e fim. É o fim da antiga aliança e o surgimento de uma nova. É o fim de uma 
velha era e o início de uma nova. O que era escrito em pedras agora é escrito no 
coração. O povo de Deus agora já não é umaquestão de raça (ser judeu) mas de 
roça (é a colheita do Espírito Santo que semeia a palavra no coração do homem) . 
Israel já não é o limite do arraial do povo de Deus. 
 
No Pentecostes, ao citar o profeta Joel, Pedro deixa bem claro: o fim já começou 
há muito tempo. 
 
A compreensão de que o pentecostes marca o tempo do fim e o fim dos tempos, 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
104 
traz para nós duas aplicações. A primeira, é que somos chamados à vigilância, 
pois o fim se abrevia, o tempo da nossa partida para chegarmos enfim à nossa 
Canaã está cada dia mais próximo. A segunda é que devemos repreender todo 
espírito de alvoroço e de confusão daqueles que querem conhecer os tempos e 
épocas que Deus reservou para si. Com expectativa, mas sem ansiedade; com 
certeza no coração, mas, sem confusão na mente. Desprezemos os cálculos, as 
estimativas, as projeções e nos firmemos na certeza de que a Vinda do Senhor se 
abrevia, visto que a igreja o aguarda desde o dia de pentecostes. 
 
Foi o esperado acontecendo inesperadamente. 
 
É muito interessante observar que Lucas diz no capítulo 1.4, que os discípulos 
deveriam esperar em Jerusalém o tempo da promessa. Para no capítulo 2.2, falar 
do de repente do Espírito Santo. 
 
Eles esperavam mas não sabiam quando. Eles tinham a certeza, não a previsão. 
 
O Espírito Santo não é companheiro de encontros programados, de horas 
marcadas anunciadas em cartazes e divulgados em todos os lugares. 
 
Ele vem quando não esperamos. E não vem da forma que esperamos. 
 
Quem quiser andar com o Espírito tem que estar preparado para surpresas, para o 
inesperado. 
 
Ele nunca falha com as suas promessas, mas nunca fará o que nós esperamos 
nem quando esperamos. 
 
Foi o incontrolável sendo conduzido. 
 
Quando o Espírito Santo vem ninguém se controla. Mas ele controla a todos. 
Naquela hora ninguém escolheu nem determinou os seus atos. Mas ninguém 
estava sem controle. O Espírito Santo controlava a todos. Era conforme o Espírito 
Santo concedia. Ser cheio do Espírito Santo não é ser como um trem 
desgovernado ou um avião sem piloto. Ser cheio do Espírito Santo é ser 
conduzido por ele que na sua soberania faz o que quer quando quer e como quer. 
 
Talvez, uma das passagens, mais mal interpretadas das Escrituras seja aquela de 
II Coríntios 3.17, que diz: Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do 
Senhor, aí há liberdade. Se observarmos atentamente o contexto, o texto não está 
falando de que a presença do Espírito Santo permite a cada um fazer o que 
quiser, mas que a presença do Espírito Santo tira o véu da nossa face para que 
possamos conhecer a Cristo. 
 
Quando o Espírito Santo vem, perdemos o controle, mas não ficamos 
descontrolados. Ele está soberanamente no controle. 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
105 
Era o sobrenatural enchendo natural. 
 
A experiência de ser visitado pelo Espírito Santo é a mais fascinante experiência 
do ser humano. É ser invadido por uma alegria desmedida; é ser tomado por um 
poder incomparável; é ser seduzido por uma glória irresistível, é ser inundado por 
uma onda de amor jamais experimentado. É ser transformado para sendo o 
mesmo nunca mais ser igual. 
 
Naquele dia, foi isso o que aconteceu com aqueles homens e mulheres. Pedro 
ainda era Pedro, mas já não era o que foi. O medo deu lugar a coragem. O rude 
pescador era o grande pregador. 
 
O Espírito Santo deu àqueles homens a estatura que não tinham e os projetou a 
dimensão que nunca sonharam. 
 
Pelo poder do Espírito, revolucionaram o mundo, transformaram o mundo. 
 
Conclusão: 
 
Como muito bem apontou John Stott, o Pentecostes é um evento único e 
irrepetível, como foi o nascimento, morte e ressurreição de Cristo, mas os seus 
efeitos são permanentes. 
Podemos crer que assim como a promessa do Espírito se cumpriu dando início 
aos últimos dias, podemos crer e esperar a vinda de Cristo no grande e glorioso 
dia. 
Podemos ainda hoje, crer que a qualquer momento Ele pode vir sobre nós e nos 
encher do seu poder e glória. 
Podemos crer, que Ele na sua soberania fará em nós conforme lhe apraz. Nunca 
saberemos como e quando. Pode ser na cozinha lavando a louça, pode ser no 
trânsito dirigindo o carro, pode ser no quarto orando, pode ser na igreja louvando. 
Nunca saberemos como será, mas de uma coisa nós sabemos, será maravilhoso. 
Finalmente, podemos crer, que a despeito das nossas limitações. O finito é 
tomado pelo infinito; que o temporário é tomado pelo que é perene; que o fraco é 
invadido pelo Todo-poderoso; o tangível pelo intangível; o imanente pelo 
transcendente; o mortal pelo imortal; o visível pelo invisível; o contaminado pelo 
incontaminado e que é Santo, Santo, Santo; o pó e a cinza pelo eternamente 
glorioso e sublime. Podemos crer, que eu, que você, que nós, podemos ser tão 
cheios do Espírito Santo a ponto de transbordar continuamente como foram os 
discípulos. Pois Deus não nos dá o Espírito com limitações. 
 
Glória ao Pai, Glória ao Filho, Glória ao Espírito Santo. 
 
Amém, amém, amém. 
 
Parte XXVII 
Eu tenho o Espírito Santo ou é Ele quem me tem? 
 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
106 
 
Comentário sobre a parte nove (O Espírito Santo - pp.343-365) do livro Introdução 
à Teologia Sistemática, de Millard J. Erickson (1ª Ed. Trad. Lucy Yamakami. São 
Paulo: Vida Nova, 1997) 
 
INTRODUÇÃO 
 
Falar sobre o Espírito Santo é falar sobre nós, pois, só Ele pode nos ajudar em 
entendermo-nos. Assim, Antropologia é melhor compreendida quando precedida 
pela Pneumatologia. Quem é o Espírito Santo? O que é Ele? Para que foi Ele 
enviado por Cristo Jesus? Espero que este estudo nos auxilie a começarmos uma 
boa conversa sobre o assunto. 
 
I. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO 
 
Erickson afirma que a criação, a providência e a provisão da salvação são as 
obras objetivas de Deus. Mas, existe também a obra subjetiva de Deus, que é a 
aplicação de sua obra salvadora divina aos homens. E é aqui que entra “a Pessoa 
do Espírito Santo”, pois esta obra é feita “de dentro para fora” no ser humano, 
partindo do princípio que Jesus Cristo fez a obra externa. 
Millard J. Erickson comenta que outra maneira de encarar o estudo de teologia 
sistemática é ver as obras dos diferentes membros da Trindade separadamente! 
Por exemplo, o Pai é destacado nas obras da criação e da providência, o Filho 
efetivou a redenção à humanidade pecadora e o Espírito Santo aplica essa obra 
redentora à criatura de Deus, tornando, dessa forma, real a salvação. 
 
1. A Importância da Doutrina do Espírito Santo 
 
A doutrina do Espírito Santo, assim, é vista com muita relevância por Erickson. Na 
realidade, para ele, o Espírito Santo é o ponto em que a Trindade torna-se pessoal 
para o que crê. O Espírito Santo é a pessoa específica da Trindade por meio de 
quem toda a Divindade Triúna atua em nós. E isto, porque vivemos no período em 
que a obra do Espírito Santo é mais proeminente que a dos outros membros da 
Trindade. Não que o Pai e o Filho não estejam atuando enquanto o Espírito Santo 
atua, mas sim que, as duas Pessoas estão hoje agindo através da Terceira, assim 
como nos períodos anteriores a este, onde Filho e Espírito atuavam através do 
Pai, depois Pai e Espírito agiram através do Filho. Se quisermos, portanto, estar 
em contato com Deus hoje, precisamos estar à par da atividade do Espírito Santo. 
Vê-se também a importância do estudo sobre o Espírito Santo, porque, segundo 
Erickson, a cultura atual dá muito valor à experiência, e é principalmente por meio 
dele que experimentamos Deus! Desta maneira, é vital que entendamos o Espírito 
Santo. 
 
2. Dificuldades na Compreensão do Espírito Santo 
 
Millard J. Erickson, sobre este assunto, assevera que, embora o estudo do Espírito 
Santo seja especialmente importante, nossa compreensão é em geral mais 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiterianade Nova Vida 
107 
incompleta e confusa nesse ponto que na maioria das outras doutrinas. E isto 
devido a que temos na Bíblia menos revelações explícitas acerca do Espírito 
Santo do que encontramos acerca do Pai e do Filho, isto é, não há discussões 
sistemáticas acerca do Espírito Santo. 
 
Outra dificuldade é a falta de um quadro concreto de figuras. Deus Pai é 
compreendido de forma bem razoável, por causa da figura do pai que é familiar a 
todos. O Filho não é de difícil conceituação porque realmente apareceu em forma 
humana. Mas, o Espírito é intangível e difícil de visualizar. Erickson comenta até 
que há uma terminologia infeliz da King James e de outras traduções inglesas 
mais antigas que se referem ao Espírito Santo como “Holy Ghost” (Fantasma 
Santo). Isto, na verdade, leva-nos mais a pensar em alguma coisa por baixo de 
um lençol branco. 
 
Durante a era presente, o Espírito exerce um ministério de servir ao Pai e ao Filho, 
mas, isto não nos deve levar à conclusão de que também existe uma inferioridade 
em essência. O Espírito Santo não é inferior ao Pai e ao Filho, como dizem as 
teologias denominadas por Erickson de “não-oficial”. Este erro é semelhante ao 
dos arianos. Aqui há uma questão não de diminuição, de inferiorização por ser o 
Espírito enviado para servir o Pai e o Filho, mas sim, uma questão de “processão”, 
de haver Ele partido de “alguém” ou de “algo”. 
 
Uma questão bem lembrada por Erickson, é que também existe alguma relutância 
em discutir sobre o Espírito, por medo de que tal discussão possa criar 
dissensões. Por causa disto, muitos evitam totalmente tocar no assunto. Porém, 
não cremos que um assunto possa se resolver sozinho, então, pode ser também 
através da discussão – sadia, construtiva e não direcionada – que consigamos 
chegar a um acordo! 
 
3. A Natureza do Espírito Santo 
 
a) A Divindade do Espírito Santo 
 
A divindade do Espírito Santo, é comentada aqui, como uma questão que não se 
estabelece com tanta facilidade quanto a do Pai e a do Filho. Mas, a conclusão 
que se chega através da pesquisa Bíblica e experiencial é que o Espírito Santo é 
Deus nos mesmos moldes e no mesmo grau do Pai e do Filho. 
Alguns fatos que comprovam isto, são que: 1) As várias referências ao Espírito 
Santo são intercambiáveis com referências a Deus (At. 5; I Co. 3:16; Ef. 6:19). 
Para Paulo, ser habitado pelo Espírito Santo é ser habitado por Deus; 2) O 
Espírito Santo possui os atributos ou as qualidades de Deus. Um deles é a 
onisciência (I Co. 2:10-11). O poder do Espírito Santo também recebe tratamento 
destacado no Novo Testamento (Lc. 1:35; Rm. 15:19). Ele tem poder que se 
pressupõe ser exclusivo de Deus. Outro atributo do Espírito que o equipara ao Pai 
e ao Filho é sua eternidade (Hb. 9:14); 3) Além de possuir qualidades divinas, o 
Espírito Santo realiza certas obras que costumam ser atribuídas a Deus. Um 
exemplo disto, é a Criação (Sl. 104:30). O testemunho bíblico mais abundante 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
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acerca do papel do Espírito Santo diz respeito à sua obra espiritual sobre os 
homens ou dentro deles. A exemplo, vemos a regeneração (comparar Gn. 2:7 com 
Jo. 3:5-8 e Jo. 20:22). O Espírito Santo também levantou Cristo da morte e nos 
ressuscitará (Rm. 8:11); 4) A concessão das Escrituras é outra obra divina do 
Espírito Santo (II Tm. 3:16; II Pe. 1:21); 5) A fórmula batismal na Grande 
Comissão (Mt. 28:19), a benção apostólica (II Co. 13:13), a discussão paulina dos 
dons espirituais (II Co. 12:4-6) e a saudação de Pedro (I Pe. 1:2). 
 
b) A Personalidade do Espírito Santo 
 
Além da divindade do Espírito Santo, é importante, como diz Erickson, também 
notarmos sua personalidade. Não estamos aqui lidando com uma força impessoal, 
ou talvez, como dizem os “Testemunhas de Jeová”, com uma “força ativa” de 
Deus! O Espírito Santo é uma pessoa, aliás, é “a Pessoa” divina que habita em 
nós. 
Uma das provas da personalidade de Deus é o uso do pronome masculino. 
Referindo-se ao Espírito Santo, agora, a palavra grega pneuma (espírito) é neutra, 
mas, em João 16:13,14, a descrição que Jesus faz do ministério do Espírito Santo 
usa um pronome masculino onde se esperaria um pronome neutro. Isto é um fato 
que prova que Jesus estava se referindo a uma pessoa, não a uma coisa. 
 
Outro fato importante de se lembrar é que o Espírito Santo é chamado de 
parakletos (conselheiro, advogado), assim como Jesus também o foi (Jo. 
14:16,26; 15:26; 16:7 e I Jo. 2:1). A palavra “outro” de João 14:16 é a tradução do 
termo grego “allon” = outro da mesma espécie, e não do termo “eteros” = outro de 
espécie diferente. 
 
As associações mais interessantes do Espírito Santo com agentes pessoais são 
aquelas em que ele é ligado ao Pai e ao Filho (Mt. 28:19; II Co. 13:13; I Pe. 1:2). 
Se imaginarmos o Espírito Santo como uma força impessoal apenas, não seria 
então correto, diante dos contextos dos versículos aqui apresentados, 
imaginarmos também o Pai e o Filho como forças impessoais? O Santo Espírito 
de Deus possui características pessoais incontestáveis, isto é, ele tem inteligência, 
vontade e emoções (Jo. 14:26; I Co. 12:11; Ef. 4:30). Seria possível mentir ou 
entristecer a algo que seja impessoal? E ainda há o pecado da blasfêmia contra o 
Espírito Santo (Mt. 12:31; Mc. 3:29). Em Romanos 8:26, com certeza, Paulo tem 
em mente uma pessoa! Conclui-se, então, que o Espírito Santo é um ser 
consciente, não uma força, e tal ser é Deus, na mesma dimensão e da mesma 
forma que o Pai e o Filho. Como canta-se no Hino 11 do Cantor Cristão (Ao Deus 
Trino): 
 
Tu, Deus, Espírito veraz 
Oh! Nossas almas satisfaz 
Com gozo, com divina paz 
E as nossas aflições desfaz 
 
4. Implicações da Doutrina do Espírito Santo 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
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As implicações de tal doutrina, é apresentada por Erickson da seguinte forma: 
 
a) O Espírito Santo é uma pessoa – Ele é alguém com quem podemos ter um 
relacionamento pessoal, alguém a quem podemos e devemos orar; 
b) Ele é plenamente divino – desta maneira, deve receber a mesma honra e 
respeito que dispensamos ao Pai e ao Filho. É apropriado adorarmos a Ele, como 
adoramos as outras duas Pessoas da Trindade; 
c) O Espírito Santo é um com o Pai e o Filho – não há pontos de tensão entre as 
três pessoas; 
 
d) No Espírito Santo, o Deus Triúno chega perto de nós – tão perto que, de fato, 
entra em cada pessoa que crê. 
 
O Hino 185 da Harpa Cristã (Invocação e Louvor) diz: 
 
Ao grande e trino Deus 
Louvem os anjos Seus e nós também, 
A Deus nosso Senhor: Pai, Filho e Condutor 
Louvemos com fervor, pra sempre. Amém. 
 
II. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO 
 
Erickson comenta que a obra do Espírito Santo é de especial interesse para os 
cristãos, pois é particularmente por seu trabalho que Deus se envolve de forma 
pessoal e atua na vida do crente. 
 
1. A Obra do Espírito Santo no Antigo Testamento 
 
Muitas vezes é difícil identificar o Espírito Santo dentro do Antigo Testamento. E 
isto, devido ao fato que, Ele foi operativo, mas não evidente. Aliás, o termo 
“Espírito Santo” é raramente empregado no A.T.. Na verdade, só há três menções 
deste termo no A.T. (Is. 63:10,11 e em Sl. 51:11). Mas, não se prova, com isto, 
que exista uma pessoa distinta. A expressão “Espírito de Deus” bem poderia ser 
compreendida como uma simples referência à vontade, mente ou atividade de 
Deus, é Deus em pessoa exercendo uma influência ativa, como diz J. H. Raven 
(The history of the religion of Israel – Grand Rapids, Baker, 1979 – p.164). Porém, 
o acontecimento de Pentecostes (At. 2), é o cumprimento da profecia de Joel 2:28, 
conforme Erickson. Desta maneira, o “Espírito de Deus” do A.T., para ele, é 
sinônimo de Espírito Santo, e não apenas uma atividade de Deus. 
 
Há várias áreas importantes de atuação do Espírito Santo nos tempos do A.T. 
Alguns exemplos disto são: a) A Criação (Gn. 1:2); b) A transmissão das profecias 
(II Pe. 1:21); c) Atransmissão das Escrituras (II Tm. 3:16,17); d) A transmissão de 
certas habilidades necessárias para várias tarefas (Êx. 31:3-5) e por fim, e) A 
administração (Gn. 41:38). 
Sua presença parecia limitada e específica a alguns, mas, no testemunho do A.T. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
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acerca do Espírito, existe um anúncio de uma época em que o ministério do 
Espírito será mais completo. É uma promessa mais generalizada, que não se 
restringe apenas ao Messias. Ela se encontra em Joel 2:28,29. No Pentecostes, 
Pedro citou essa profecia, indicando que ela havia se cumprido. Assim, o que 
ocorreu em Pentecostes, na verdade, não é um “segundo batismo” diferente do 
anterior, mas sim, uma continuação da obra operativa do Espírito santo na vida do 
crente. Não é a “vestimenta” do cristão, pois assim que o fiel aceita a Jesus Cristo 
como único e suficiente Salvador, já está vestido com o Espírito Santo (Jo. 20:22)! 
Assim sendo, o Dom Pentecostal é melhor visto como um “revestimento” (Lc. 
24:49). 
 
2. A Obra do Espírito Santo na Vida de Jesus 
 
Quanto a este assunto, Erickson assevera que quando examinamos a vida de 
Jesus, descobrimos uma presença e atividade maciça e poderosa do Espírito 
Santo em toda sua extensão. Mesmo o próprio início de sua existência encarnada 
foi obra do Espírito Santo (Lc. 1:35). Já João salientou que, em contraste com seu 
próprio batismo, realizado apenas com água, Jesus batizaria com o Espírito Santo 
(Mc. 1:8). 
 
Desta forma, o Espírito Santo está presente, também, de um modo marcante logo 
no início do ministério público de Jesus, e isto, em referência à Sua descida 
perceptível sobre o Cristo (Mt. 3:16). Devido a este fenômeno, diz a Bíblia que 
Jesus ficou “cheio do Espírito Santo” (Lc. 4:1). Até no ato de conduzir Jesus ao 
deserto, para ser tentado, é descrito como ação do Espírito Santo (Mc. 1:12). 
Erickson comenta até mesmo que isto é uma prova que a presença do Espírito 
Santo na vida de Jesus o conduz a um conflito direto e imediato com as forças do 
mal, e a antítese entre o Espírito Santo e o mal no mundo precisa vir à tona. 
 
Na verdade, todo o ministério de Jesus foi conduzido no poder e pela direção do 
Espírito Santo (Mt. 12:25-28). Aliás, toda a vida de Jesus, nesse sentido, era “no 
Espírito Santo” (Lc. 10:17,21). 
O que nos fica como ensinamento, enfim, da obra do Espírito Santo na vida de 
Jesus, é que a sua presença não é um fenômeno crescente, como se a cada dia 
tivéssemos mais dEle em nós, mas sim que, a cada momento, recebemos provas 
crescentes da presença do Espírito de Deus. 
 
3. A Obra do Espírito Santo na Vida do Cristão 
 
a) O Início da Vida Cristã 
 
No ensinamento de Jesus encontramos uma ênfase especialmente forte na obra 
do Espírito Santo na introdução das pessoas na vida cristã. Assim, o batismo nas 
águas simboliza o princípio da vida no convívio cristão da Igreja, enquanto a 
recepção do Dom Pentecostal (o batismo Pentecostal) é o símbolo do princípio da 
vida carismática do cristão. 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
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É claro que é certo que a obra principal do Espírito Santo é o ato de convencer o 
ser humano do pecado da justiça e do juízo (Jo. 16:8-11). Na verdade, sem essa 
obra do Espírito Santo, não pode haver conversão. Mas também é certo que a 
presença do Espírito Santo na vida do crente não é uma presença estática, 
cristalizada. Desta forma, a regeneração é a transformação miraculosa do 
indivíduo e a instalação da energia espiritual (aqui o cristão está vestido de poder), 
porém, a obra do Espírito continua, levando o cristão a convicções sobrenaturais 
através de experiências sobrenaturais (isto é revestimento de poder). 
 
b) A Continuação da Vida Cristã 
 
A Obra do Espírito, então, também é dar poder ao que crê (Jo. 14:12; At. 1:4,5), 
ensinar (Jo. 14:26), interceder (Rm. 8:26,27), santificar (Gl. 5:22,23) e dar dons 
especiais aos crentes dentro do corpo de Cristo (I Co. 12:4-11). 
Dentre os dons especiais, os mais mencionados entre os pentecostais são o de 
cura, a expulsão de demônios e, em especial, a glossolalia, ou falar em línguas. A 
questão que perdura diante de alguns estudiosos é se estes dons, principalmente 
o último, foram exercidos no período apostólico somente ou se continuam até 
hoje! 
 
A grande explosão do pentecostalismo, historicamente falando, ocorreu nas 
reuniões organizadas por um pregador negro chamado William J. Seymour. Essas 
reuniões eram realizadas numa antiga igreja metodista localizada na Rua Azuza, 
312, em Los Angeles. 
É importante frisar, neste ponto, como Erickson fez, a distinção na maneira de se 
exercer os dons carismáticos entre pentecostalismo e o neo-pentecostalismo. Os 
grupos mais tradicionais fazem uso dos dons com mais reserva, são dons usados 
em momentos particulares, enquanto os neo-pentecostais vêm este fenômeno 
como um meio de atrair os não crentes, por isto, os dons são usados abertamente, 
em público, sem reservas. 
 
A glossolalia, por exemplo, é vista como um Dom vitalizante na vida de oração do 
indivíduo, e a proibição de sua prática, não é encontrada em parte alguma das 
Escrituras. Aliás, o próprio Paulo sentia-se feliz por falar mais em línguas do que 
os outros cristãos de sua época (I Co. 14:18). 
 
Porém, algo que ainda está se cogitando, é o fato deste Dom aparecer também 
em outras religiões. Mas, creio que a “contrafação” é um ardil antigo de Satanás, e 
é exatamente por isso que um dos dons especiais do Espírito em I Coríntios 12, é 
o de “discernimento de espíritos”! 
 
A psicologia também entrou neste assunto dizendo que isto pode ocorrer através 
de catarses, mas, se assim for, então, Paulo, Pedro, etc. estavam passando por 
uma lavagem cerebral? 
Erickson, assim, interpreta este fenômeno como o ato de ser “cheio do Espírito 
Santo”. Porém, em nenhuma parte da Escritura, vê-se uma ordem especifica da 
 
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 
112 
obrigatoriedade de sermos batizados no Espírito Santo ou pelo Espírito Santo. 
Pelo que Erickson julga, diante disto tudo, que não tem certeza se os fenômenos 
ocorridos atualmente, são realmente dons do Espírito Santo. Contudo, mesmo que 
a história prove que o Dom de línguas cessou, segundo Erickson, não há nada 
que impeça Deus de restabelecê-lo. E este Dom, na verdade, não é uma questão 
de termos mais do Espírito Santo de Deus em nós, pois todos nós possuímos o 
Espírito em sua totalidade. Trata-se, antes, de uma questão de Ele possuir uma 
fatia maior da nossa vida. 
 
III. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Enfim, temos que ter em mente que mais importante que receber certos dons é o 
desenvolvimento do fruto do Espírito em nossas vidas. Conforme Paulo, é através 
do fruto, e não dos dons, que temos a verdadeira prova de que o Espírito está 
atuando nos cristãos. 
Não devemos, assim, nos apressarmos para julgar nem uma das duas partes, 
mas sim, devemos tomar uma postura cônscia e bíblica diante deste fato! 
 
Estude com fé depois de ter terminado os seus estudos, envie seu questionário 
com as respostas devidas para o endereço de e-mail: teologiagratis@hotmail.com, 
se assim quiser, logo após respondido e corrigido o questionário, alcançando 
media acima de 7,5, solicite o seu Lindo DIPLOMA de Formatura e a sua 
Credencial de Seminarista formado, também poderá solicitar estagio missionário 
em uma de nossas igrejas no Brasil ou exterior traves da Federação Internacional 
das Igrejas e Pastores no Brasil ou Fenipe, que depois do Estagio se assim o 
achar apto para o Ministério poderá solicitar a sua ordenação por uma de nossas 
organizações filiadas no Brasil ou no exterior, assim você poderá também receber 
a sua Credencial de Ministro Aspirante ao Ministério de Nosso Senhor e Salvador 
Jesus Cristo. Esta apostila tem 114 pagina boa sorte. 
 
Sem nadas mais graça e Paz da Parte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo 
bons estudos.Reverendo Antony Steff Gilson de Oliveira 
Pastor da Igreja Presbiteriana Renovada de Nova Vida 
Presidente da Federação Internacional das Igrejas e Pastores no Brasil ou Fenipe 
 
 
mailto:teologiagratis@hotmail.com

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