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CS_24 1_ UNIDADE 3_1 _ CEUMA CIENCIAS SOCIAIS

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Prévia do material em texto

Introdução
Olá! Neste material, estudaremos a introdução à Psicologia do Desenvolvimento e
nos preocupamos em estudar o que é o desenvolvimento humano, e por que é
importante estudar esta temática.
Conforme o Dicionário Online Michaelis (2018), a palavra desenvolvimento pode ter
os seguintes significados: “Ato ou efeito de desenvolver(-se); desenvolução”;
“Passagem gradual (da capacidade ou possibilidade) de um estágio inferior a um
estágio maior, superior, mais aperfeiçoado etc.; adiantamento, aumento,
crescimento, expansão, progresso”; “Aumento das condições ou qualidades físicas
(força, tamanho, vigor, volume etc.); crescimento”; “Aumento da capacidade ou
competência (moral, psicológica, espiritual, intelectual etc.); amadurecimento,
crescimento, evolução”.
Interessa-nos estudar esta passagem gradual das condições e potencialidades, em
especial o desenvolvimento humano, em suas esferas universal e singular, de cada
sujeito em sua individualidade. É o que aprofundaremos nessa unidade, enfatizando
o significado do conceito de desenvolvimento, a importância, as diferentes
possibilidades de aplicação e as bases filosóficas que iniciaram este campo de
estudo.
Objetivos de Aprendizagem
Compreender a importância de estudar o desenvolvimento.
Estudar a introdução à psicologia do desenvolvimento.
O que é o desenvolvimento humano
Vanessa de Oliveira Beghetto Penteado
Autor
Quando falamos em desenvolvimento,
do que estamos tratando?
Essa pergunta nos permite refletir sobre como e por que nos comportamos de
determinadas formas. Existem diferenças entre as formas de ensinar uma criança
de três anos e uma de 10 anos? É o estudo do desenvolvimento humano que nos
permite compreender as peculiaridades de cada momento da periodização infantil.
Formular, planejar intervenções que afetem corretamente as possibilidades de
aprendizagem é um dos exemplos da aplicação desse campo de pesquisa. Além
disso, em que momento começa o desenvolvimento? Ele alcança um fim quando já
nos desenvolvemos o suficiente?
Desses questionamentos, podemos destacar dois aspectos ao menos, que
destrincharemos ao longo dessa Unidade: uma é que a criança não é um adulto em
miniatura, mas cada idade tem características próprias, de acordo com a cultura e
as relações sociais da criança. Outra é que os próprios adultos estão em
desenvolvimento, os fatores que nos influenciam que provocam novas sínteses e
elaborações, não acabam quando atingimos determinado limite de idade, não
alcança um fim.
Outra pergunta que podemos fazer é: A criança sempre foi criança? A foto a seguir,
do contexto da Revolução Industrial, no século XIX mostra-nos que não, em outros
contextos históricos a infância tinha outro significado.
FIGURA 1 Representação de infância na Revolução Industrial
Esta imagem permite-nos refletir sobre um contexto específico e marcante da
história da humanidade. As condições materiais do século XVIII possibilitaram a
consolidação de uma nova classe social emergente - a burguesia - devido à
expansão dos comércios, das ciências e dos princípios da tecnologia. O aumento da
população bem como o aumento dos meios de produção e o desenvolvimento do
sistema comercial e bancário geraram as condições materiais para a divisão do
trabalho como resposta à crescente complexidade e à mecanização industrial
(BEHAR, 1981). Nesse período, tornou-se possível a multiplicação rápida e constante
de mercadorias, serviços e trabalhadores.
De acordo com Hobsbawn (2012), as atividades agrícolas já estavam se voltando
para as necessidades do mercado. A disseminação cada vez maior das
manufaturas, o desenvolvimento das estradas e das vias navegáveis bem como as
facilidades obtidas em decorrência do acesso aos portos também foram essenciais
para o grande salto quantitativo e qualitativo da indústria nesse período.
No período da Revolução Industrial, a exploração da mão de obra infantil cumpriu
um papel primordial, gerando a força de trabalho necessária para a
operacionalização da maquinaria. Certamente não eram todas as crianças que
trabalhavam nessas indústrias, mas as órfãs, as filhas e os filhos da classe operária.
O baixo salário dos trabalhadores contribuía para que as famílias precisassem de
renda adicional, o que gerava a necessidade do trabalho infantil, não por maldade,
visto que este caráter moral do significado ainda estava em processo de
construção.
Conforme Ferreira e Araújo (2009), a “paparicação” é datada do século XVI, ou seja,
aparece, inicialmente, nesse contexto, devido ao crescimento dos conhecimentos
orgânicos e biológicos do campo da medicina, que possibilitaram a diminuição da
mortalidade infantil e a possibilidade ao apego dos pais aos seus filhos (durante a
Idade Média, as taxas de mortalidade infantil eram altas), e ainda, devido à
propagação da moral cristã, que se amparava na preservação da inocência desta
etapa da vida. Em somatória a estes fatores, observamos que o próprio papel da
família transforma-se ao longo da história: o papel primordial de gerar linhagens de
parentesco perde espaço para o sentimento de afeto familiar, o que reconfigura a
compreensão e a forma de lidar com a infância.
FONTE: Lars Gotsch (2017).
Saiba mais!
Conceito de infância
O curta-metragem “A invenção da infância”, dirigido por Liliana
Sulzbach questiona o conceito de infância, tratando-a como
construção social. Resgata-se a infância em seus aspectos históricos
e retrata que, mesmo na atual cultura ocidental, não há uma
regularidade no que se refere às condições concretas de
desenvolvimento infantil. A dificuldade de acesso a recursos que
conferem qualidade de vida, saúde, educação, moradia, lazer, cultura,
esportes, alimentação resultam em consequências drásticas à vida
das crianças, como a exploração do trabalho, altos índices de
mortalidade infantil, fome/desnutrição, violência e criminalidade.
Afinal, podemos questionar: Ser criança significa ter infância?
Para saber mais,  veja ao trailer disponível no link a seguir : <
Clique Aqui
>.
Fonte: elaborado pela autora.
Decorrente da análise da construção social da infância, Ferreira e Araújo (2009)
enfatizam que tal transformação histórica tem por consequência fomentar novos
interesses nas investigações psicológicas, o que resulta na necessidade e no
estabelecimento de uma psicologia do desenvolvimento. Dessa forma, notamos
que os fatos, anteriormente destacados, de crianças em situação de rua, passando
fome, também retratado em um exemplo na figura a seguir nos mostram
evidências de um mundo sem infância e, por consequência, debilidades que
precisam ser tratadas na psicologia do desenvolvimento.
Enfatizamos que, para tratar da psicologia do desenvolvimento, não podemos
ignorar estes fatos como se o conceito de infância fosse homogêneo, e houvesse
isonomia de acesso a todas as crianças. Mas, sim, devemos enfatizar que há
diferenças, conforme as possibilidades de desenvolvimento que foram ofertadas
aos sujeitos. Dessa forma, a compreensão de infância relaciona-se não só com a
origem do termo e as diferenças de desenvolvimento, mas também com a
educação, conforme o contexto escolar. Sobre o assunto, os autores a seguir
destacam que:
[...] podem se extrair duas coisas: 1) a educação escolar não é
efeito, mas causa da existência da infância como conhecemos;
2) as modificações na educação escolar trazem mudanças na
própria essência da infância e demandam uma psicologia que
promova esta articulação entre escola e infância. (...) De um
modo bem claro, a psicologia pôde assim articular práticas
sociais (oriundas da escola), modos de governo (as formas
liberais), conceitos científicos (evolução, adaptação e função) e
novas configurações da infância, permitindo naturalizar e
sedimentar o que foi gerado no conjunto das práticas históricas
(FERREIRA; ARAÚJO, 2009, p. 10-11).
Notamos, nesse trecho, a relação que os autores estabelecem entre a educação
como formadora de determinada concepção de infância e o papel da psicologia do
desenvolvimento, que cumpre função social, de acordo com aspossibilidades
FIGURA 2 Criança em situação precária
FONTE: Dimaberkut, 123RF.
organizadas materialmente. No tópico a seguir, trataremos de outras relações e
papéis da Psicologia no estudo do desenvolvimento humano.
Por que a Psicologia estuda o
desenvolvimento humano?
Afinal, todos desenvolverão suas diversas potencialidades? Ao longo da vida, os
indivíduos alcançam um limite de desenvolvimento? Ao longo deste tópico,
iniciaremos a argumentação em favor das infindas possibilidades de
desenvolvimento dos sujeitos em sua singularidade e da finalidade da psicologia
nesta área de estudo.
Saiba mais!
 Meninas Lobo
O vídeo a seguir retrata a história de Amala e Kamala, duas crianças
encontradas em 1920, com hábitos selvagens. Acredita-se que,
durante grande parte de suas infâncias, o principal contato foi com
lobos, o que direcionou o comportamento: as meninas andavam de
quatro, não tinham expressões sociais, como o sorriso ou choro, não
falavam, possuíam visão noturna mais desenvolvida que a diurna e
ainda uivavam para a Lua.
Disponível no link: <
Clique Aqui
>.
Fonte: elaborado pela autora.
Ressaltamos que existem diversas teorias que explicam o psiquismo e o
desenvolvimento humano, e a partir de cada concepção teórica surgem diferentes
práticas e com elas suas consequências sociais. Na terceira Unidade, trataremos de
forma abrangente as principais correntes da psicologia que se debruçam sobre a
temática, e que possuem estudos com importância social. Abordaremos a seguir
algumas das mais relevantes consequências de determinada concepção acerca
da natureza humana, com o intuito de destacar as implicações éticas e a
relevância dos estudos acerca da Psicologia do Desenvolvimento.
Visto que as relações sociais expressam a determinação histórica do período e
contexto em questão, destacaremos a repercussão do racismo no século XX, que
propagou a ideia de limpeza racial, tendo seu ápice nas práticas nazistas.
Hobsbawm (1995) chamou de “Era das Catástrofes” o período marcado por duas
grandes guerras, crise econômica, nazismo e fascismo (teorias de limpeza racial).
Esta perspectiva, também conhecida como higienista, perpassou tanto as teorias
formuladas no campo da ciência como a construção da arte e dos ideais políticos.
Veremos alguns exemplos a seguir.
Para Boarini (2003), neste período histórico, a moralidade, os costumes
considerados corretos pela população, as doenças físicas e psíquicas, deixam de
ser um problema/aspecto individual e passam a ser uma questão de higiene. As
diferenças raciais, as anormalidades físicas e psíquicas agora se tornam um objeto
a ser resolvido pela eugenia. O termo eugenia afirmava que a raça deveria ser
higienizada, que a felicidade e a elevação moral poderiam ser alcançadas aos
povos que se atentarem ao necessário controle da hereditariedade dos tipos
inferiores. Esta ideologia é decorrente da abrangência do fascismo enquanto um
movimento de caráter científico e social, alcançando inúmeros países. Assim,
atribui-se apenas ao indivíduo pobre a completa responsabilidade por sua saúde, e
o crescente número de doenças é justificado pela pobreza e ignorância da
população, negando-se, dessa maneira, a relação entre indivíduo e condições
sociais, políticas e econômicas.
O higienismo tornou um instrumento perigoso de destruição humana, que ocorreu
em larga escala, a partir do início do século XX, em diversos regimes políticos: “(...)
nem a democracia, nem o stalinismo e muito menos o nazismo faltaram ao
encontro com a eugenia” (JUNIOR, MOURA; FERNANDES, 2011, p. 100). Nos Estados
Unidos da América, houve a notoriedade da preocupação dos representantes
políticos em higienizar seus cidadãos. Os autores retratam que o país tinha grande
preocupação com o alto índice de imigrantes, dessa forma, o governo buscou
métodos de esterilização compulsória, impedindo a reprodução da parcela
“incapaz” da sociedade (negros, imigrantes e doentes mentais).
Observamos que não há uma neutralidade na construção da ciência, que embasa
propostas como as de limpeza racial. Isto é possível, devido ao novo papel que a
modernidade atribui à ciência, que passa a ser compreendida como a nova base
para a explicação dos fenômenos da realidade: “Sai o divino e, em seu lugar,
instaura-se o conhecimento científico como a base estruturante da realidade e o
único saber válido” (JUNIOR, MOURA; FERNANDES, 2011, p. 103). Assim, a ciência não é
isenta de interesses, ao contrário, preocupa-se com aquilo que proporciona a
produção material. Na época, as doenças eram o grande problema a ser superado,
decorrentes da industrialização em larga escala, êxodo rural, grandes guerras. As
medidas higiênicas do início do século XX possibilitaram uma solução para as
dificuldades materiais da vida cotidiana da época.
Em destaque aos autores que formularam tais teorias, podemos resgatar as
seguintes contribuições: Thomas Malthus compreendia que a miséria seria resolvida
com o controle populacional; Herbert Spencer frisava que sobreviveria o mais
capaz; Charles Darwin apontava a sobrevivência submetida às leis de seleção
natural, por fim, Francis Galton exaltou a importância da hereditariedade para a
determinação de uma raça de homens bem dotados e, cuidadosamente,
selecionados, cunhando o termo: eugenia positiva. Este padrão seria alcançado,
naturalmente, pela humanidade à medida em que se difundissem os ideais de
higiene racial. O caráter negativo da eugenia está relacionado com a utilização da
força, como a esterilização compulsória ou, posteriormente, os campos de
extermínio (JUNIOR, MOURA; FERNANDES, 2011).
Assim, a efervescência científica e a naturalização das contradições e misérias
humanas permitiram, ainda, o nacional-socialismo de Hitler, pautado no retorno às
tradições, ao clássico, e à purificação do homem. Houve, neste contexto, grande
enfoque no papel da arte, na exaltação do homem e sua pureza, rejeitando
aspectos de natureza deplorável, que sejam associadas à loucura, à miséria e às
doenças. A eugenia nazista tinha um forte caráter negativo, com a esterilização e
posterior extermínio em campos de concentração. O nazismo, enquanto um projeto
estético e artístico, buscava o embelezamento do mundo por meio da fortificação
da raça ariana, compreendida como uma raça superior, para tanto, utilizar do
extermínio em larga escala era uma tática tolerável (JUNIOR, MOURA; FERNANDES,
2011). Um exemplo da censura nazista é a obra a seguir: O Violinista, de Marc
Chagall, um dos quadros censurados por Hitler, pois o conteúdo foi considerado
degenerado e pervertido.
Um exemplo da literatura brasileira que expressa com detalhes aspectos da
ideologia higienista e eugênica é a obra de Monteiro Lobato: O presidente negro. A
história ocorre no ano de 1926 e retrata uma ficção científica em que se constrói
uma máquina que pode viajar no tempo. Esse livro relata um choque entre raças,
que ocorre nos Estados Unidos, no ano de 2228, durante a disputa eleitoral da
presidência, em que três candidatos, um homem e uma mulher brancos e um
homem negro, devido à ruptura entre gêneros dos candidatos brancos, o país elege
o primeiro presidente negro. Nesta altura, a ciência havia resolvido o problema da
cor dos negros com um pigmento que os tornava branco, porém eram
reconhecidos por seus cabelos. Na ficção, em 2228, já haviam sido exterminados os
pobres, vadios e doentes, e sobrava o problema da raça para que fosse atingido o
ideal do higienismo: “As ruas tornaram-se amáveis, limpas e muito mansas de
tráfego” (LOBATO, 1979, p. 96). O problema étnico é retratado como a grande
perturbação da felicidade nacional. Após a eleição do presidente negro, um
cientista resolve o problema capilar dos negros, oferecendo a possibilidade de se
tornarem iguais aos brancos. Porém este produto, ao mesmo tempo em que alisava
os cabelos, tornava os negros estéreis. Lobato não somente é influenciado, como é
um grande nome da eugenia e higienismo brasileiro, que se apropriou da discussão
‘científica’ do cenário internacional e colaborou na construçãodesta vertente
purificadora, no contexto histórico em que atuou.
Buscamos enfatizar a relevância social da temática do desenvolvimento humano.
Esses aspectos históricos facilitam a compreensão de que uma série de
concepções podem ter consequências, aplicações, em decorrência de como
FIGURA 3 O Violinista, de Marc Chagall
FONTE: Chagall (on-line).
compreenderemos as especificidades da formação do psiquismo humano. A seguir,
apresentaremos ainda algumas questões éticas: conforme a compreensão dos
processos que envolvem o desenvolvimento humano, nós podemos ter uma
atuação profissional que forneça ferramentas para auxiliar em dificuldades,
possibilitando superação/novas formas de desenvolvimento.
Por exemplo, no campo da Psicologia, temos a disciplina particular chamada
“Avaliação Psicológica”, que estuda o histórico dos instrumentos psicológicos, que,
por sua vez, visam suprir a necessidade histórica de medir os comportamentos
humanos. Pasquali (2001), ao descrever os fundamentos e práticas de tais escalas,
apresenta o principal campo de investigação da área: a psicometria, perspectiva
que entende que a ciência do universal faz-se pelo conhecimento do singular. Em
um apanhado histórico, o autor descreve, inicialmente, três décadas: A década de
Galton (1880), que enfatizou a avaliação das aptidões humanas, que era
mensurada em seus aspectos sensoriais, posteriormente influenciou a orientação
prática e teórica da psicometria; A década de Cattell (1890) – decorrente da
influência de Galton, Cattell desenvolveu medidas de diferenças individuais e de
desempenho escolar; e A década de Binet (1900) teve forte predomínio sobre as
aptidões humanas, visando o desenvolvimento das áreas da saúde e acadêmica. 
Pasquali (2001) exibe, ainda, os principais marcos da Avaliação Psicológica no
século XX. Os anos de 1910 a 1930, descreve como sendo a era dos testes de
inteligência Binet-simon; a década de 1930, como a de análise fatorial; de 1940 a
1980, a era da sistematização, com trabalhos de síntese e de crítica. E, por fim, a era
da Psicometria Moderna, a partir de 1980. Para o autor, as áreas da psicopedagogia
e a psiquiátrica eram as mais preocupadas em identificar e diferenciar os níveis de
um “doente mental” por meio do experimentalismo: da descoberta de
uniformidades e controle das condições em que se faziam as observações.
Gould (1999), ao abordar o histórico dos testes de Avaliação Psicológica, enfatiza
que os objetivos originais com a escala de Binet estavam relacionados com o
desenvolvimento da craniometria, isso é, por meio da medição de crânios e a
dedicação à obra de Paul Broca, buscava-se aferir a inteligência. Avançando em
sua pesquisa, Binet concluiu que não era possível alcançar uma escala para medir
a inteligência, porque não se pode sobrepor as qualidades intelectuais, e seu
objetivo (conforme solicitado pelo Ministério da Educação) era identificar crianças
que, conforme seu desempenho escolar, necessitassem de uma educação especial.
Interessa-nos, que os princípios primordiais de Binet foram, posteriormente,
ignorados e distorcidos, sendo eles: I) os resultados das escalas são recursos
práticos, não definem nada inato ou permanente, não medem a inteligência; II)
servem para identificar crianças com problemas de aprendizagem, que necessitam
de atenção especial; III) a ênfase deve ser sobre as possibilidades de
aprimoramento das capacidades, por meio de uma educação especial. Partindo
dessa retomada, Gould (1999) afirma que alegar a teoria do QI hereditário é uma
falácia, uma falsa medida da inteligência humano, pois não é possível estabelecer
uma identificação entre o herdável e o inevitável. Yerkes, um psicólogo eugenista
americano, utilizou tal recurso teórico para convencer o exército norte-americano a
submeter os soldados ao teste de inteligência, durante a Segunda Guerra Mundial.
Futuramente, tal acontecimento serviu de base para a restrição de acesso aos
Estados Unidos da América de pessoas provenientes de regiões “geneticamente”
desfavorecidas.
Dessa forma, ressaltamos que os fenômenos que destrinchamos até aqui
compõem uma das possíveis respostas sobre por que a psicologia estuda o
desenvolvimento humano. Como vimos, há uma importante consequência
decorrente das concepções acerca do desenvolvimento e da utilização de tais
concepções. O surgimento e a consolidação da psicologia do desenvolvimento
obteve, na aplicação dos testes de Avaliação Psicológica, um dos primeiros
exemplos, mas podemos pensar em outras maneiras de utilização contemporâneas
dessa disciplina.
Para a formulação e o emprego de Políticas Públicas nos campos da saúde,
educação, assistência social, a partir desse conhecimento, podemos estabelecer
políticas que tenham impacto na vida das pessoas e atuar de forma mais coerente,
contribuindo com os fenômenos que possibilitam o desenvolvimento em cada
etapa da periodização. A Psicologia do Desenvolvimento impacta também na
aprendizagem infantil, na medida em que, ao conhecermos os processos de
desenvolvimento, é possível criar instrumentos e formas de mediação entre o
professor e o aluno, que vão auxiliar exatamente no processo de ensino, facilitando
e possibilitando que a criança se supere cada vez mais com o auxílio de mediações
externas.
Nas próximas unidades, trabalharemos com o porquê de as crianças agirem de
determinadas formas, conforme o estágio de seu desenvolvimento, visando
entender a criança e o adolescente, por meio da descrição e compreensão das
grandes mudanças que ocorrem ao longo da periodização, por intermédio das
distintas perspectivas teóricas. Como e por que ocorre o desenvolvimento e o que
direciona o comportamento da criança serão diferentes, de acordo com as bases
conceituais que sustentam as distintas compreensões deste campo de estudo. A
seguir, trataremos das bases filosóficas mais gerais que fundamentam as atuais
teorias.
Quem iniciou esse campo de estudo?
Iniciamos este tópico ressaltando que os embates presentes aqui são antigos na
história da humanidade, anteriores ao próprio aparecimento da psicologia
científica. Bock (2001) diferencia a psicologia e o senso comum,  demarcando que, o
que chamamos de senso comum vem do acúmulo de conhecimentos de nosso
cotidiano, que se constrói de forma espontânea, conforme as possibilidades a que
temos acesso e repassamos esses conhecimentos de geração em geração. O
conhecimento especializado origina uma série de áreas de domínio do
conhecimento humano, como a Filosofia, Arte, Psicologia, Medicina.
O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade
aproximam-se e se afastam: aproximam-se porque a ciência se
refere ao real; afastam-se porque a ciência abstrai a realidade
para compreendê-la melhor, ou seja, a ciência afasta-se da
realidade, transformando-a em objeto de investigação — o que
permite a construção do conhecimento científico sobre o real
(BOCK, 2001, p. 16).
Assim, em diferenciação ao conhecimento produzido pelo senso comum e em
acordo com Bock (2001), denominamos de científico aquilo que se ampara na
objetividade e que, por meio de métodos, visa alcançar um rigor cumulativo de
conhecimento, passível de ser compreendido e reproduzido.
FIGURA 4 Conhecimento científico e senso comum
FONTE: 5505292, 123RF.
Longe de uma solução fácil, porém, a psicologia é uma ciência ampla. Nossa
dificuldade inicia na simples definição: Afinal, qual o objeto da psicologia?
Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele
dirá: “O objeto de estudo da Psicologia é o comportamento
humano”. Se a palavra for dada a um psicólogo psicanalista, ele
dirá: “O objeto de estudo da Psicologia é o inconsciente”. Outros
dirão que é a consciência humana, e outros, ainda, a
personalidade (BOCK, 2001, p. 21).
Assim, temos já dois problemas de pesquisa, que diferenciam as abordagens da
Psicologia do Desenvolvimento: De qual concepção de ser humano estamos
falando? E no campo da Psicologia, o que esta ciência está se propondo a estudar?
Estes aspectos serão aprofundados na terceira Unidade,por hora, segue breve
exposição a respeito de uma antiga questão filosófica, que pode ser aprofundada
por meio de leituras da área.
Bock (2001, p. 41) localiza que, entre filósofos gregos, havia a discussão de que “o
mundo existe porque o homem vê ou o homem vê um mundo que já existe”. Nesta
polêmica, temos Platão, que defendia o idealismo e acreditava que a alma era
imortal, que ela era separada do corpo. E Aristóteles, em oposição (ainda que bem
rudimentar) na defesa do materialismo, acreditava que alma e o corpo não
podiam ser dissociados. Esta discussão retornará quando tratarmos das diferentes
abordagens que visam compreender o ser humano. Para além do mecanicismo,
para além dos aspectos biológicos inatos. A importância da Psicologia do
Desenvolvimento está em permitir que as teorias avancem: o ciclo vital não é só
biológico e não depende inteiramente da relação mecânica do indivíduo com o
meio social.
Atenção!
Capacidades de desenvolvimento
Com base no conteúdo exposto e iniciado até aqui, deixamos como
reflexão: Como as mediações que temos ao longo da vida influenciam
nossas capacidades de desenvolvimento? Tal temática será retomada
e aprofundada nas unidades a seguir.
Fonte: elaborado pela autora.
Agora que você concluiu a leitura deste estudo, veja, no vídeo e podcast a seguir,
temas que complementarão seus estudos:
Indicação de Leitura
Nome do livro: Filosofando - Introdução à Filosofia
Editora: Moderna
Autor: Maria Lúcia Aranha e Maria Helena P. Martins
Ano: 2009
ISBN: 8516063925, 9788516063924
Comentário: este livro nos traz uma retomada geral, em linguagem acessível, a
respeito dos principais aspectos da construção do pensamento filosófico, ao longo
da história da humanidade.
Atividade
No período da Revolução Industrial, a exploração da mão de obra infantil
cumpriu um papel primordial, gerando a força de trabalho necessária para
a operacionalização da maquinaria. No entanto, não eram todas as
crianças que necessitavam trabalhar nas indústrias, apenas uma parcela
delas.
Nesse sentido, leia atentamente as afirmativas abaixo e assinale a
alternativa que corresponde a um dos grupos de crianças que trabalhava
naquele período. 
A. Orientais. 
B. Órfãs. 
C. Estrangeiras. 
D. Ciganas 
E. Nômades. 
Atividade
Durante muitos anos a Psicologia esteve vinculada à área da Filosofia e,
para conquistar a sua própria autonomia, precisou tornar-se um ramo
científico. Desse modo, passou a utilizar métodos estruturados e se
amparar na objetividade, diferenciando-se do conhecimento produzido
pelo senso comum.
Nesse sentido, leia atentamente as afirmativas abaixo e assinale a
alternativa que corresponde ao tipo de conhecimento do senso comum. 
A. Conhecimento da filosofia. 
B. Conhecimento da Medicina. 
C. Conhecimento do cotidiano. 
D. Conhecimento da Astrologia. 
E. Conhecimento da religião. 
Atividade
Para compreendermos o desenvolvimento humano, torna-se necessário
considerar o homem em seu tempo histórico, afinal, as relações sociais
expressam a determinação histórica e contextual de cada período. A
moralidade e os costumes, considerados corretos no século XX, foram
influenciados pelo racismo, que defendia que a eugenia deveria prevalecer.
Nesse sentido, leia as afirmativas abaixo e assinale a alternativa que
corresponde à ideologia da eugenia. 
A. Afirmava que a raça humana deveria ser higienizada. 
B. Considerava que as crianças de até dez anos deveriam se casar.   
C. Considerava que a igreja deveria assumir o controle absoluto. 
D. Defendia que as pessoas não deviam trabalhar no campo. 
E. Afirmava que a raça humana deveria ser miscigenada. 
 
Síntese
Parabéns! Você concluiu este estudo. Esperamos que as informações apresentadas
aqui contribuam para a sua bagagem de conhecimento sobre o tema estudado e
que elas possam ser utilizadas em seu dia a dia. Que todo esse conhecimento
possa lhe trazer muito sucesso em suas atividades, além de despertar o desejo de
estudar cada vez mais.
Desejamos, a você, bons estudos!
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, M. G. Considerações sobre o narcisismo. Estud. psicanal., Belo Horizonte, n.
34, p. 79-82, 2010.,
BARROSO, C. ; BRUSCHINI, M. C. A. Sexualidade Infantil e Práticas Repressivas.
Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), São Paulo, v. 1, n.31, p. 86-94,
1979.,
BEHAR, M. Introdução In: Adam Smith. A Riqueza das Nações. São Paulo: Hemus
Editora, 1981.,
BOARINI, M. L. Higienismo, eugenia e naturalização do social. Em: M. L. Boarini (org.)
Higiene e Raça como projetos: higienismo e eugenismo no Brasil. (pp. 19-44).
Maringá: Eduem, 2003.,
BOCK, A. M. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo:
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