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Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital)Autor: Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa 28 de Janeiro de 2024 Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud Índice ..............................................................................................................................................................................................1) Término de Contrato de Trabalho 3 ..............................................................................................................................................................................................2) Aviso Prévio 44 ..............................................................................................................................................................................................3) Estabilidades e Garantias Provisórias de Emprego 64 ..............................................................................................................................................................................................4) Procedimentos Rescisórios 82 ..............................................................................................................................................................................................5) Questões Comentadas - Término de Contrato de Trabalho - Procuradorias 112 ..............................................................................................................................................................................................6) Questões Comentadas - Término do Contrato de Trabalho - Cesgranrio 190 ..............................................................................................................................................................................................7) Lista de Questões - Término de Contrato de Trabalho - Procuradorias 207 ..............................................................................................................................................................................................8) Lista de Questões - Término do Contrato de Trabalho - Cesgranrio 235 CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 2 240 INTRODUÇÃO Oi amigos(s), Vamos então iniciar mais uma aula do nosso curso de Direito do Trabalho. Esta aula não é das menores, mas é absolutamente essencial para o concurso. As bancas adoram este tema! Portanto, vamos em frente, com atenção redobrada! Vamos ao trabalho! Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 3 240 TÉRMINO DO CONTRATO DE TRABALHO Após termos estudados o momento inicial do contrato de trabalho, sua caracterização, alterações, suspensão e interrupção, veremos nesta aula seu o término. Existem diversas denominações doutrinárias para a rescisão do contrato (rescisão, cessação, etc.), e para exemplificar cita-se trecho da obra de Amauri Mascaro Nascimento1, “(...) o seu momento derradeiro [do contrato], a desconstituição. Para denominá-la não há uniformidade entre os autores. Preferimos extinção do contrato de trabalho para designar o fim das relações jurídicas em geral. Há juristas que preferem a palavra “cessação”. Há outras designações específicas para cada uma das diferentes hipóteses”. Utilizaremos neste curso os termos consagrados, sem adentrar na diferenciação conceitual das expressões porque este conhecimento não é exigido nas provas de concurso público a que este curso se destina. Passaremos agora a estudar cada uma das possibilidades de rescisão contratual. Para ilustrar as principais modalidades de extinção do contrato de trabalho que estudaremos nesta aula, segue um quadro com exemplos práticos: Circunstância Modalidade da extinção contratual Considerando o vínculo empregatício existente entre o empregado André e o empregador Mercado Azul Ltda. »» Findo o contrato de experiência o empregador decide que não irá efetivar André »» Término de contrato a termo »» O mercado decide reduzir o horário de funcionamento e demite André por não necessitar mais de seus serviços »» Dispensa sem justa causa »» André ofende a honra de seu empregador com palavras de baixo calão »» Dispensa com justa causa »» André decide que quer abrir o próprio negócio e informa ao empregador que não pretende mais trabalhar no mercado »» Pedido de demissão »» O mercado não cumpre suas obrigações contratuais e André »» Rescisão indireta 1 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 37 ed. São Paulo: LTr, 2012, p. 393. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 4 240 comprova judicialmente que o empregador deu causa à extinção do contrato Tanto o mercado como André estão insatisfeitos e decidem pôr fim ao contrato. Rescisão por acordo »» O mercado demite André por ato de indisciplina, e o funcionário, por meio de ação judicial, comprova que sofria assédio moral »» Culpa recíproca Dispensa sem justa causa INCIDÊNCIA EM PROVA: BAIXA A demissão sem justa causa, juntamente com o pedido de demissão, é caso de extinção voluntária imotivada do contrato de trabalho. E por que imotivada? Porque nenhuma das partes deu causa (motivo) para que a outra parte decidisse romper o vínculo. Exemplo: o mercado, que funcionava das 08h00min às 22h00min, decidiu que passaria a fechar às 17h00min, porque não estava sendo muito frequentado no período noturno. Com isso, o empregador demite sem justa causa os funcionários que trabalhavam das 17h00min às 22h00min. Percebam, então, que a expressão “imotivada” diz respeito à ausência de motivo tipificado que dê causa à rescisão (falaremos sobre isso em outras modalidades de rescisões). Esclarecendo o sentido da expressão, o Ministro Godinho2 ensina que “(...) há a despedida desmotivada, também conhecida como dispensa arbitrária ou despedida sem justa causa. Aqui, reitere-se, a expressão despedida desmotivada traduz a ideia de falta de um motivo legalmente tipificado. Não se refere, é claro, à ausência de uma motivação interna à empresa (que sempre há de existir); apenas significa ser irrelevante para o Direito essa motivação, não necessitando ser explicitada: trata-se, pois, da denúncia vazia do contrato.” 2 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 12 ed. São Paulo, 2013, p. 1190. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 5 240 A dispensa sem justa causa também é chamada de dispensa injusta, dispensa imotivada, dispensa desmotivada e demissão imotivada, pois o empregado não deu causa à extinção contratual. Como a dispensa sem justa causa confronta o princípio da continuidade da relação de emprego o empregado demitido faz jus a saldo de salário (dias trabalhados no mês da saída), férias (inclusiveproporcionais), 13º salário (proporcional), indenização do FGTS (multa rescisória de 40%) e requerimento de Seguro- Desemprego3. Além disso, o empregador deve conceder aviso-prévio ao empregado. Não o fazendo, deverá indenizar o aviso. Neste momento da aula é oportuno mencionar uma situação que pode vir a ser exigida em provas: é a dispensa discriminatória de empregado portador de doença grave. Este é o objeto da Súmula 443, editada em setembro de 2012: SUM-443 DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. PRESUNÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DE DOENÇA GRAVE. ESTIGMA OU PRECONCEITO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO. Presume-se discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato o empregado tem direito à reintegração no emprego. Esta Súmula vem a consolidar entendimento do TST sobre o viés discriminatório da demissão que se fundamenta no fato de o empregado ter AIDS. Assim, salvo havendo motivo que justifique a demissão, esta será considerada arbitrária. Abaixo um dos julgados que serviram de precedente para a edição desta Súmula: RECURSO DE REVISTA. REINTEGRAÇÃO. EMPREGADO PORTADOR DO VÍRUS HIV. PRESUNÇÃO DE DISPENSA DISCRIMINATÓRIA. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. Presume- se discriminatória a ruptura arbitrária, quando não comprovado um motivo justificável, em face de circunstancial debilidade física causada pela grave doença em comento (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS) e da realidade que, ainda nos tempos atuais, se observa no seio da sociedade, no que toca à discriminação e preconceito do portador do vírus HIV. A AIDS ainda é uma doença que apresenta repercussões estigmatizantes na sociedade e, em particular, no mundo do trabalho. Nesse contexto, a matéria deve ser analisada à luz dos princípios constitucionais relativos à dignidade da pessoa humana, à não-discriminação e à função social do trabalho e da propriedade (art. 1º, III, IV, 3º IV, e 170 da CF/88). Não se olvide, outrossim, que faz parte do compromisso do Brasil, também na ordem internacional (Convenção 111 da OIT), o rechaçamento a toda forma de discriminação no âmbito laboral. (...) Recurso de revista conhecido e provido. 3 O detalhamento dos assuntos férias, FGTS, Seguro-Desemprego (SD) e aviso-prévio terão lugar em tópicos específicos deste curso, quando aplicáveis. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 6 240 (TST-RR-317800-64.2008.5.12.0054, Relator Ministro Mauricio Godinho Delgado, 6ª Turma, DEJT de 10/6/2011). Pedido de demissão INCIDÊNCIA EM PROVA: MÉDIA O pedido de demissão, junto com a demissão sem justa causa, é caso de extinção voluntária imotivada do contrato de trabalho. O empregado tem o direito de pôr fim ao pacto empregatício sem que seja necessário motivo para tanto, e esta decisão configura o pedido de demissão. Exemplo: o empregado de um banco, cansado de sua rotina, decide sair do emprego e se dedicar exclusivamente a estudar para concursos públicos ;-) Não há possibilidade de o empregador recusar o “pedido”, que, semanticamente, poderia ser mais bem representado pelas expressões “aviso de demissão” ou “comunicado de demissão”. Sobre o pedido de demissão Mauricio Godinho Delgado ensina que4 “Esta declaração de vontade do trabalhador [pedido de demissão] também tem natureza potestativa, receptícia e constitutiva, com efeitos imediatos, tão logo recebida pela parte adversa (efeitos ex nunc). É direito potestativo da pessoa natural que presta serviços nos moldes empregatícios. Direito potestativo (...) é o ponto máximo de afirmação da centralidade do indivíduo na ordem jurídica. Efetivamente, constitui aquela prerrogativa ou vantagem que se exerce e se afirma independentemente da vontade dos que hão de suportar suas consequências jurídicas.” Nesta modalidade de extinção do contrato o empregado fará jus a saldo de salário (dias trabalhados no mês da saída), férias (inclusive proporcionais) e 13º salário (proporcional). Como foi do empregado a iniciativa do término do contrato, não é cabível direito a aviso-prévio: pelo contrário, é ele que deve conceder o aviso ao empregador. Não o fazendo, deverá indenizá-lo5. No pedido de demissão, da mesma forma, não será cabível indenização do FGTS (multa rescisória de 40%) e nem requerimento de Seguro-Desemprego. Dispensa com justa causa INCIDÊNCIA EM PROVA: ALTÍSSIMA 4 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., p. 1207. 5 Falaremos sobre estas regras, de modo aprofundado, no tópico “Aviso Prévio”. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 7 240 Na dispensa com justa causa, também conhecida como despedida motivada por justa causa obreira, dispensa por justa causa ou simplesmente justa causa, o empregado praticou conduta tipificada pela CLT como motivadora de sua demissão. Sobre isto é de se destacar que existem sistemas jurídicos genéricos e outros taxativos acerca da justa causa, como ensina Amauri Mascaro Nascimento6: “Há sistemas jurídicos chamados genéricos nos quais não existe enumeração das figuras de justa causa. A lei limita-se a conceituar justa causa ou, sem conceitua-la, simplesmente indicar seus efeitos. Exemplifique-se com a Lei do Contrato de Trabalho de Portugal, com a seguinte noção legal: “Considera-se justa causa o comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade, e consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho. (...) Em outros sistemas jurídicos, denominados taxativos, a lei enumera as hipóteses de justa causa, às vezes tipificando-as, isto é, descrevendo o fato, outras vezes simplesmente denominando-o sem descrevê-lo, como em nosso direito.” A taxatividade foi cobrada na questão abaixo (incorreta): MPT – Procurador do Trabalho – 2017 (adaptada) O sistema de caracterização das infrações trabalhistas, no Direito brasileiro, é o do tipo genérico, não taxativo, cabendo ao empregador do âmbito privado, a partir dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, identificar, sopesar e enquadrar como ilícita (ou não) a conduta do empregado, de maneira a realizar a respectiva punição. O exercício do poder disciplinar pelo empregador não está claramente delineado no Brasil, e é importante sabermos que não basta a ocorrência das condutas tipificadas no artigo 482 da CLT (veremos em seguida) para configurar-se inequivocamente a licitude da demissão por justa causa: deve-se levar em consideração limites para a imposição desta penalidade. A doutrina7 estabelece requisitos objetivos e subjetivos para o cabimento da demissão por justa causa. O Ministro Godinho8 distingue um terceiro grupo, que são os requisitos circunstanciais. --------------------- Os requisitos objetivos dizem respeito à conduta, que envolve a tipicidade (deve haver prévia tipificação da conduta) e a gravidade (a infração do obreiro deve afetar francamente o contrato de trabalho). Acerca da tipicidade, a validade da aplicação da demissão por justa causa demanda que haja previsão legal tipificando a conduta praticada; exemplo: abandono de emprego (CLT, art. 482, “i”). 6 Cite-se como exemplo NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit., p. 409-410. 7 Idem, p. 410. 8 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., p. 1226-1230. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 8 240 Já a gravidade deve ser considerada no exercício do poder disciplinar porque o empregador deve dosar corretamente a penalidade, de modo a aplicar, no caso, a demissão por justa causa, quando a conduta de fato justificar a medida. --------------------- Os requisitos subjetivos demandam a análise da autoria e, também, a presença de dolo ou culpa no ato faltoso (o que inclui a imprudência, imperícia e negligência). Quanto ao requisito autoria, ressalte-se que podemos estar diante não apenas de ação, mas também de conduta omissiva que se incluía na esfera de atribuições do empregado faltoso. Acerca do dolo ou culpa, de fato, não se pode pretender punir o empregado se a ação ou omissão identificada pelo empregador não teve lugar nem por intenção (dolo) e nem por conduta culposa (imprudência, imperícia ou negligência) do obreiro. --------------------- Já os requisitos circunstanciais envolvem o nexo causal entre a falta e a penalidade, a proporcionalidade (adequação entre a falta e a penalidade), a imediaticidade da punição (aplicação da penalidade tão logo se tome conhecimento da ação ou omissão justificadora da demissão), a singularidade da punição (ausência de dupla punição pela mesma falta obreira), a ausência de discriminação (exemplo de discriminação: 2 empregados cometem a mesma falta; 1 é advertido e o outro demitido por justa causa) e o caráter pedagógico do exercício do poder disciplinar. Se o empregador pune o empregado considerando outros fatores que não a falta cometida, por exemplo, deixará de haver nexo causal entre a falta e a penalidade, e isto compromete a legalidade da penalidade. A proporcionalidade demanda mensuração quantitativa da pena a ser aplicada. Assim, deve-se verificar na situação concreta se, de fato, a falta cometida justifica a demissão com justa causa. Diante de ação ou omissão que comporte demissão com justa causa, a aplicação da penalidade pelo empregador deve ocorrer de maneira imediata, sob pena de restar prejudicada a imediaticidade da punição. Nem sempre a conduta grave praticada pelo obreiro será prontamente identificada pelo empregador e, nestes casos, a imediaticidade deverá ser analisada não da prática do ato, e sim do momento de seu conhecimento pela empresa. A singularidade da punição presta-se a evitar que o obreiro seja punido duplamente pela mesma falta. Assim, o non bis in idem é requisito circunstancial do correto exercício do poder disciplinar empresarial. A ausência de discriminação significa que não se deve aplicar punição com viés discriminatório. Por fim, o caráter pedagógico do exercício do poder disciplinar é citado pela doutrina como requisito circunstancial porque as penalidades devem servir como instrumento de adaptação da conduta dos empregados às exigências de comportamento no âmbito da relação de emprego. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 9 240 Resumindo o que acabamos de aprender: Requisitos para validade da demissão por justa causa Objetivos Subjetivos Circunstanciais Tipicidade Autoria Nexo causal entre a falta e a penalidade Gravidade da conduta Presença de dolo ou culpa no ato faltoso Proporcionalidade Imediaticidade da punição Ausência de discriminação Singularidade da punição Caráter pedagógico do exercício do poder disciplinar Aqui encerramos a análise dos limites ao exercício do poder disciplinar empresarial. Vamos agora ler o artigo 482 da CLT, que enumera as circunstâncias ensejadoras da demissão por justa causa. Estudem as alíneas do artigo 482 da CLT com atenção redobrada, pois eles são exigidos em provas de concurso com grande frequência! CLT, art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: a) ato de improbidade; Ato de improbidade é conduta faltosa do empregado que age de modo contrário à lei. Existem interpretações doutrinárias distintas sobre a necessidade de haver (ou não) dano ao patrimônio do empregador ou de terceiros para que se configure o ato de improbidade. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 10 240 Não iremos aprofundar o assunto porque fugiria ao escopo de nosso curso. Como bem resume o professor Ricardo Resende9, “Para fins de concurso público, o mais importante é saber o básico: improbidade é conduta criminosa que normalmente importa em prejuízo patrimonial ao empregador ou a terceiro. Até aí não existe controvérsia, e a grande maioria das questões se resume a uma hipótese com um dos tipos penais de ofensa ao patrimônio (furto, roubo, apropriação indébita). Também tem sido comum em questões de concursos públicos a alusão à falsificação de atestado médico (...)”. b) incontinência de conduta ou mau procedimento; Tanto a incontinência de conduta quanto o mau procedimento tipificam comportamento do empregado contrário às regras socialmente admitidas. A diferença entre as expressões é que incontinência de conduta se relaciona a comportamento incompatível com a moral sexual, enquanto o mau procedimento atinge as outras dimensões da moral (que não a sexual); exemplo: destruir propositalmente equipamento da empresa. Neste contexto, o assédio sexual, quando praticado por um trabalhador em relação a outro, pode ser enquadrado no inciso em estudo10, especificamente como incontinência de conduta. O Ministro Godinho destaca11 e exemplifica o seguinte em relação à incontinência de conduta e o mau procedimento: Incontinência de conduta »» Conduta que atinge a moral do ponto de vista sexual »» Configura a justa causa somente quando prejudique o ambiente laborativo ou as obrigações contratuais do obreiro. Mau procedimento »» Conduta que atinge a moral do ponto de vista geral, excluído o sexual »» Dirigir veículo da empresa sem autorização, pichar paredes do estabelecimento, danificar equipamentos empresariais. c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço; 9 RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. Rio de Janeiro: Método, 2011, p. 634. 10 Neste sentido, NASCIMENTO, Sônia Mascaro. Assédio Moral. 2 ed. – São Paulo: Saraiva, 2011, p. 116. 11 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., pág. 1232-1233. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 11 240 Assim como na alínea anterior, aqui também é possível enxergar duas condutas distintas: a negociação habitual no local de trabalho e a concorrência com o empregador. Na negociação habitual no local de trabalho o empregado comercializa produtos ou serviços por conta própria na empresa, quando deveria estar exercendo as atividades para as quais foi contratado. Já a concorrência com o empregador caracteriza-se pela comercialização dos mesmos produtos e serviços objetos da atividade empresarial do empregador. É a concorrência desleal. Em determinadas circunstâncias o empregado pode laborar para mais de um empregador, com atividades idênticas ou assemelhadas,e se não houver cláusula explícita de exclusividade12 (ou caso exista aquiescência do empregador) tal fato não pode ensejar demissão por justa causa. Se, por exemplo, eu fosse empregado dos sites Estratégia Concursos e Eu Vou Passar, mesmo ministrando aulas da mesma matéria, isto não poderia ser caracterizado como concorrência desleal caso houvesse aquiescência do empregador (ou então não existisse no contrato cláusula explícita de exclusividade). Sobre a negociação habitual Valentin Carrion13 observa que “Exige-se habitualidade, não havendo necessidade de coincidência com os pressupostos do crime de concorrência desleal14 (...). Como o empregado é livre para trabalhar para mais de um empregador, é necessário que haja uma concorrência efetiva, que possa diminuir os lucros deste (...) podendo, por outro lado, haver prejuízo ao sérvio sem concorrência (...). Ocorre, também, quando o empregado utiliza seu tempo de serviço na venda de produtos próprios, em evidente prejuízo ao seu trabalho (...).” d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena; Caso o empregado seja condenado e tenha que cumprir a pena não será possível a ele cumprir sua principal atribuição decorrente do contrato de trabalho: prestar os serviços. Nestes casos, poderá o empregador pôr fim ao contrato por justa causa. Atente-se para o fato de que esta possibilidade não se confunde com a prisão provisória, que é motivo de suspensão contratual, e não demissão com justa causa. 12 Neste sentido, DELGADO, Mauricio Godinho. op. cit., pág. 1218. 13 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 37 ed. Atualizada por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 448. 14 Lei 9.274/96, art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem: (...) X - recebe dinheiro ou outra utilidade, ou aceita promessa de paga ou recompensa, para, faltando ao dever de empregado, proporcionar vantagem a concorrente do empregador; Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 12 240 Como destacado no inciso, a justa causa será cabível “caso não tenha havido suspensão da execução da pena”, e por este motivo a alternativa abaixo está incorreta: CESPE/TRT9 – Analista Judiciário – Área Administrativa - 2007 A condenação criminal do empregado, por si, já enseja motivo justo para a rescisão do contrato de trabalho pelo empregador. e) desídia no desempenho das respectivas funções; Conforme definido por Valentin Carrion15, “A desídia é falta culposa, e não dolosa, ligada à negligência; costuma-se caracterizar pela prática ou omissão de vários atos (comparecimento impontual, ausências, produção imperfeita); excepcionalmente poderá estar configurada em um só ato culposo muito grave (...)” Como ensina o Ministro Godinho16, a desídia, em geral, é comportamento reiterado, nestes casos “(...) a conduta desidiosa deve merecer exercício pedagógico do poder disciplinar pelo empregador, com gradação de penalidades, em busca da adequada ressocialização do obreiro. Mostrando-se ineficaz essa tentativa de recuperação, a última falta implicará na resolução culposa do contrato de trabalho [demissão com justa causa]”. No caso de prática de ato único de desídia muito grave, claro, não caberá gradação de penalidades. Exemplo desta situação, citado por Amauri Mascaro Nascimento17, seriam “15 faltas reiteradas ao serviço sem justificativa”. f) embriaguez habitual ou em serviço; Este inciso reuniu duas situações distintas: se a embriaguez se dá em serviço, basta uma ocorrência para justificar a justa causa. Entretanto, caso não seja no local de serviço, exige-se a habitualidade da conduta e, também, que este fato cause efeitos negativos no ambiente de trabalho. A doutrina18 entende que o inciso é aplicável à embriaguez alcoólica e também pelo uso de tóxicos e entorpecentes. 15 CARRION, Valentin. Op. cit., p. 449. 16 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., p. 1235. 17 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit., p. 412. 18 Neste sentido, CARRION, Valentin. Op. cit., p. 449. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 13 240 Há decisões judiciais interpretando o alcoolismo como doença, e neste sentido não caberia a demissão com justa causa, e sim busca de tratamento médico. g) violação de segredo da empresa; Esta alínea tipifica os casos em que o empregado, indevidamente, repassa a terceiros, informações confidenciais da empresa. Amauri Mascaro Nascimento define a violação de segredo19 como “a divulgação não autorizada de todo fato, ato ou coisa que, de uso ou conhecimento exclusivo da empresa, não possa ou não deva ser tornado público, sob pena de causar prejuízo remoto, provável ou imediato à empresa (ex: o empregado de confiança que desenvolvia software para uso do empregador e o passava para outra empresa)”. h) ato de indisciplina ou de insubordinação; Indisciplina se relaciona ao descumprimento de ordens gerais, enquanto a insubordinação diz respeito ao descumprimento de ordens individuais. Utilizando exemplos práticos para facilitar o entendimento: Indisciplina »» Descumprimento de ordens gerais »» Recusar-se, injustificadamente, a utilizar os equipamentos de proteção individual conforme definido pelo empregador em ordem de serviço emitida para todos os empregados do setor. Insubordinação »» Descumprimento de ordens individuais »» Recusar-se a proceder à entrega de mercadoria a um cliente da empresa, estando esta tarefa incluída em suas atribuições e contrariando as determinações da chefia imediata. 19 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., pág. 413. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 14 240 Valentin Carrion20 cita um exemplo que também permite visualizar esta diferença, que por vezes é explorada em concursos: “Indisciplina (h). Descumprimento de ordens gerais do empregador, dirigidas impessoalmente ao quadro de empregados (ex.: proibição de fumar em certos locais); insubordinação: desobediência da determinada ordem pessoal endereçada a certo empregado ou a pequeno grupo (ex.: executar alguma tarefa como lhe foi comunicado (...).” i) abandono de emprego; O abandono de emprego pode ser caracterizado21 como “o decurso de um período determinado de ausência ao serviço (elemento objetivo) e a intenção manifesta do empregado em romper o contrato (elemento subjetivo)”. Quanto ao elemento objetivo (decurso de prazo) a doutrina tem utilizado o lapso temporal de 30 dias, com fundamento no artigo 472, § 1º da CLT e na Súmula 32 do TST: CLT, art. 472, § 1º - Para que o empregado tenha direito a voltar a exercer o cargo do qual se afastou em virtude de exigências do serviço militar ou de encargo público, é indispensável que notifique o empregador dessa intenção, por telegrama ou carta registrada, dentro do prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da data em que se verificar a respectiva baixa ou a terminação do encargo a que estava obrigado. SUM-32 ABANDONO DE EMPREGO Presume-se o abandono de emprego se o trabalhador não retornar ao serviço no prazo de 30 (trinta) dias após a cessação do benefício previdenciário nem justificar o motivo de não o fazer.j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; Esta tipificação da justa causa tem relação com os crimes contra a honra (difamação, injúria e calúnia) e com as ofensas físicas, ambas praticadas no ambiente laboral (local em que o empregado esteja submetido ao poder empregatício). 20 CARRION, Valentin. Op. cit., p. 450. 21 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, loc. cit. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 15 240 O ato lesivo à honra ou a ofensa física podem justificar a demissão mesmo quando seja cometido contra terceiros (visitantes, clientes, etc.) desde que cometido em situação na qual o empregador possa fazer uso de seu poder disciplinar. O Ministro Godinho22 cita um exemplo interessante, que seria o caso de “ofensas e agressões durante o desenrolar do transporte ofertado pela empresa, nos moldes das horas in itinere, cujo período esteja integrado ao contrato de trabalho”. Percebam que a alínea traz uma importante ressalva: a legítima defesa descaracteriza a conduta como motivo para a justa causa. k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; Esta alínea é bastante semelhante à anterior, com a diferença de que se aplica aos casos em que o ato lesivo à honra ou ofensa física é praticado contra o empregador e superiores hierárquicos. Além disso, é importante frisar que na alínea anterior a lei destacou a necessidade de a conduta ter sido praticada no ambiente “no serviço”, que, como vimos, pode ser estendida não só ao estabelecimento em si, mas também aos locais onde haja poder empregatício. Nesta alínea, porém, não há menção à necessidade da conduta ter sido praticada em ambiente laboral. Deste modo, não importa o local onde foi praticada: a conduta ofensiva física ou moralmente contra o empregador ou superiores, independente de onde foi cometida, poderá ensejar a demissão por justa causa. l) prática constante de jogos de azar. Aqui a lei exige a habitualidade da prática dos jogos de azar (apostas em corridas de cavalos, jogos de cartas, jogo do bicho, etc.) durante o horário de trabalho. Não há consenso doutrinário sobre esta alínea abranger somente jogos proibidos por lei ou se, também, caberia estendê-la à prática de jogos lícitos que prejudiquem a prestação do serviço. A reforma trabalhista criou uma nova hipótese de dispensa com justa causa: m) perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exercício da profissão, em decorrência de conduta dolosa do empregado. 22 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., pág. 1238. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 16 240 Trata-se, por exemplo, da situação em que o motorista que perde sua habilitação, do advogado que tem seu registro cassado na OAB ou do médico que tem cassado seu registro no CRM – Conselho Regional de Medicina, em todos os casos mediante conduta dolosa. -------------------- CLT, art. 482, parágrafo único - Constitui igualmente justa causa para dispensa de empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito administrativo, de atos atentatórios à segurança nacional. A doutrina majoritária, que inclui Mauricio Godinho Delgado23, entende que este dispositivo não foi recepcionado pela CF/88 tendo em vista que afronta alguns princípios, entre eles os do juiz natural e do devido processo legal: “O dispositivo, entretanto, está, obviamente, revogado pela Constituição da República (não recebido), uma vez que esta não autoriza prisões ou condenações de pessoas humanas pelo caminho meramente administrativo, ainda mais por razões político-ideológicas, nenhum indivíduo, no país, será mais “processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (...) nem “será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (...)”. A par do entendimento doutrinário mencionado, a questão abaixo foi dada como correta: CESPE/EBSERH – Advogado – 2018 A prática de ato atentatório à segurança nacional devidamente comprovado por inquérito administrativo enseja justa causa do empregado para rescisão do contrato de trabalho. ➢ Verbas devidas no caso de demissão por justa causa Nesta hipótese, serão devidas ao empregado apenas as seguintes verbas: ✓ saldo de salário; ✓ férias, exceto proporcionais; ➢ Outras infrações do empregado que ensejam justa causa O artigo 482 da CLT, que acabamos de estudar, costuma ser muito exigido em provas. 23 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., pág. 1241. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 17 240 Estas hipóteses que veremos agora, que não constam do citado artigo, não têm sido exigidas com tanta frequência em concursos, mas é interessante dar uma rápida olhada nelas. -------------------- A primeira falta a ser mencionada é a recusa injustificada à utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI): CLT, art. 158 - Cabe aos empregados: I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, (...) Parágrafo único - Constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada: (...) b) ao uso dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa. Neste contexto é relevante relembrarmos os critérios objetivos, subjetivos e circunstanciais (especialmente a gradação/proporcionalidade) para aplicação das penalidades no direito do trabalho, pois não será qualquer recusa a uso de EPI que justificará a demissão por justa causa do empregado. Se, por exemplo, o trabalhador é surpreendido pela chefia imediata, uma única vez, sem capacete em local da obra que não oferece risco de queda de materiais, seria duvidosa a demissão com base no artigo 158 da CLT. Entretanto, caso o mesmo empregado esteja pintando a fachada do prédio (em andaime) sem utilizar o cinto de segurança tipo pára-quedista, contrariando ordem de serviço emitida neste sentido, aí sim estamos diante de situação muito mais grave, que poderia trazer consequências sérias à saúde e integridade do empregado faltoso24. Neste sentido o ensinamento do Ministro Godinho25: “É claro que esta infração é daquelas que mais fortemente atraem os critérios objetivos, subjetivos e, principalmente, circunstanciais de aplicação de penalidades do âmbito empregatício. A meta da ordem jurídica, mesmo quando tipifica esta infração trabalhista, é favorecer o eficaz cumprimento de uma política de redução dos riscos inerentes ao ambiente laborativo, atenuando ou suprimindo as causas e circunstâncias ensejadoras da insalubridade e periculosidade. Desse modo, o exercício do poder disciplinar com intuito educacional, pedagógico, formador de consciências antirrisco, é que constitui o ponto central enfocado pela ordem jurídica. A gradação de penalidades impõe-se aqui, regra geral, nos contrapontos à conduta censurada pelo art. 158, parágrafo único, da CLT”. 24 Não entraremos em maiores detalhes sobre o uso (e falta) de EPI, pois este assunto se insere no escopo do Curso de Segurança e Saúde no Trabalho p/ AFT, também de minha autoria no site EstratégiaConcursos. 25 DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit., pág. 1241-1242. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 18 240 No caso do contrato de aprendizagem a CLT prevê 3 possibilidades nas quais o término do contrato será antecipado: CLT, art. 433. O contrato de aprendizagem extinguir-se-á no seu termo ou quando o aprendiz completar 24 (vinte e quatro) anos, ressalvada a hipótese prevista no § 5º do art. 428 desta Consolidação [portadores de deficiência], ou ainda antecipadamente nas seguintes hipóteses: I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, salvo para o aprendiz com deficiência quando desprovido de recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas e de apoio necessário ao desempenho de suas atividades; II – falta disciplinar grave; III – ausência injustificada à escola que implique perda do ano letivo; Como estudamos neste curso, na aprendizagem o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 e menor de 24 anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico. Deste modo, caso ocorram as situações apresentadas no artigo 433 o contrato de aprendizagem não cumprirá seus objetivos, motivo pelo qual deve ter seu termo antecipado. Valentin Carrion26 também inclui, no rol de condutas obreiras que ensejam a justa causa, a do grevista que pratica excessos, nos termos da Lei 7.883/8927: Lei 7.889/96, art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho. (...) Lei 7.889/96, art. 15 A responsabilidade pelos atos praticados, ilícitos ou crimes cometidos, no curso da greve, será apurada, conforme o caso, segundo a legislação trabalhista, civil ou penal. Em relação aos bancários, existia previsão na CLT de demissão por justa causa se este empregado fosse contumaz em não pagar suas dívidas: 26 CARRION, Valentin. Op. cit., p. 453. 27 O assunto greve, com a profundidade exigida, será tratado em tópico específico do curso. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 19 240 CLT, art. 508 - Considera-se justa causa, para efeito de rescisão de contrato de trabalho do empregado bancário, a falta contumaz de pagamento de dívidas legalmente exigíveis. No final de 2010 este artigo foi revogado pela Lei 12.347/10 (por isso coloquei a redação do artigo tachada), então esta possibilidade não mais existe em nosso ordenamento jurídico. Rescisão indireta INCIDÊNCIA EM PROVA: MÉDIA Na extinção do contrato de trabalho chamada de rescisão indireta o empregador é que comete falta grave, sendo esta modalidade reconhecida na Justiça do Trabalho. Desta forma, percebam que o empregado deve entrar com ação na Justiça contra o empregador, e é o Poder Judiciário que decidirá sobre o cabimento da rescisão indireta. Traçando um paralelo com a demissão por justa causa (quando o empregado comete falta grave), esta hipótese de extinção também é chamada de “justa causa do empregador”. É interessante mencionar que a falta ensejadora da rescisão indireta não necessariamente será cometida diretamente pelo empregador: também pode gerar a rescisão indireta ações indevidas praticadas por prepostos do empregador, empregados ocupantes de cargos de chefia, etc. Exemplo disto é a previsão do art. 483, “b”, que considera cabível a rescisão indireta nos casos em que o empregado “for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo”. Passemos então aos comentários sobre as previsões celetistas da rescisão indireta: CLT, art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos28 por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; Esta alínea reúne várias possibilidades. A primeira situação diz respeito à limitação física do empregado, que deve ser respeitada sob pena de causar- lhe (ou agravar) problemas como, por exemplo, a lombalgia. 28 Lembrando que defeso é sinônimo de proibido. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 20 240 Há previsão objetiva na CLT sobre limitação de força muscular, o que, inclusive, tem sido exigido em provas de Segurança e Saúde no Trabalho: CLT, art. 198 - É de 60 kg (sessenta quilogramas) o peso máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher. CLT, art. 390 - Ao empregador é vedado empregar a mulher em serviço que demande o emprego de força muscular superior a 20 (vinte) quilos para o trabalho continuo, ou 25 (vinte e cinco) quilos para o trabalho ocasional. A alínea “a” também cita os serviços defesos por lei, que seria o caso de o empregador, indevidamente, exigir que o empregado praticasse atos ilegais (como a venda de produtos sabidamente objeto de contrabando). Por fim, a alínea cita os atos contrários aos bons costumes ou alheios ao contrato. No caso dos serviços alheios ao contrato, deve-se observar a função para a qual o empregado foi contratado, de modo que o empregador não deve exigir realização de tarefas que sejam estranhas ao pactuado. No decorrer do vínculo empregatício é comum que haja alteração de função, promoções, mudanças de enquadramento do empregado no plano de cargos existente na empresa, etc. Nestes casos haverá, naturalmente, alteração das funções exercidas, mas acompanhadas de alteração de seus contratos de trabalho, respeitando-se, sempre, o princípio da inalterabilidade contratual lesiva. b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; Aqui pode ser enquadrado o assédio moral, quando o empregador se excede no uso de seus poderes. O Ministro Godinho observa29 que o assédio moral também pode ser enquadrado em outras alíneas deste mesmo artigo 483: “(...) o chamado assédio moral, que consiste na exacerbação desarrazoada e desproporcional do poder diretivo, fiscalizatório ou disciplinar pelo empregador de modo a produzir injusta e intensa pressão sobre o empregado, ferindo-lhe o respeito e a dignidade. Esta conduta pode se enquadrar em distintas alíneas do art. 483 da CLT (“a”, “b”, “d” “e” e “f”), embora se insira mais apropriadamente, de maneira geral, na regra vedatória do rigor excessivo (alínea “b”).” 29 DELGADO. Maurício Godinho. Op. cit., p. 1253-1254. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 21 240 c) correr perigo manifesto de mal considerável; O conceito de perigo manifesto de mal considerável pode ser relacionado às condições (indevidas) de Segurança e Saúde no Trabalho. O ambiente de trabalho pode conter agentes ambientais (ruído, radiações, produtos químicos, etc.) passíveis de causar acidentes e doenças ocupacionais de graves consequências para a saúdedos empregados, e caso o empregador não adote medidas para eliminar, neutralizar ou controlar os riscos existentes poderemos estar diante de situação em que os empregados estejam expostos a perigo manifesto de mal considerável. d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; O contrato de trabalho gera deveres tanto para o empregador quanto para o empregado, e nos casos em que o empregador não cumpra suas obrigações previstas no contrato de trabalho (ou na Constituição, legislação trabalhista e negociação coletiva de trabalho). A principal obrigação do empregador é o pagamento de salário, e o atraso frequente no pagamento é o exemplo doutrinário comum na caracterização desta alínea “d”. e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; Nesta alínea verificamos também possibilidade de rescisão indireta relacionada não só ao empregador, mas também a prepostos deste. Os atos lesivos da honra e boa fama – que podem atingir tanto o empregado quanto pessoas de sua família - se relacionam à calúnia, difamação e injúria (crimes contra a honra tipificados no Código Penal). É de se destacar que o assédio sexual praticado pelo empregador contra o empregado é enquadrado nesta alínea da CLT30 como motivadora da rescisão indireta31. 30 Neste sentido, NASCIMENTO, Sônia Mascaro. Op. cit., p. 118. 31 O assédio provocado pelo empregador (ou seu preposto) contra o empregado pode dar causa à rescisão indireta (CLT, art. 483, e); se o assédio foi provocado por outro empregado será o caso de demissão por justa causa do assediador (CLT, art. 482, b). Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 22 240 f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; Nesta alínea trata-se de ofensas físicas, em complemento à alínea anterior, que envolve ofensas morais. Aqui também a ofensa pode ser cometida pelo empregador ou seus prepostos. A exceção é feita nos casos de legítima defesa, que afasta a hipótese de rescisão indireta. g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. Esta alínea se aplica nos casos em que o empregado receba salário variável (por peça ou tarefa). Podemos citar o exemplo de empregada que, recebendo por peça, costurava 500 peças de roupa por mês, e durante a prestação laboral o empregador reduziu de forma permanente a encomenda para apenas 100 peças por mês. Esta medida afeta sensivelmente a importância dos salários. Pequenas flutuações de demanda não configuram o motivo de rescisão indireta em estudo, conforme assevera o Ministro Godinho32: “É claro que a infração somente ocorrerá se houver afetação negativa importante na média salarial do trabalhador; oscilações de pequena monta ou que ocorram entre as semanas de labor não configuram, regra geral, o tipo jurídico em exame.” Por fim, trago uma particularidade da rescisão indireta dos empregados domésticos. Todos estes casos que vimos até agora (previstos na CLT) foram previstos também na Lei dos domésticos (LC 150). Na verdade, esta lei repetiu as alíneas do art. 483 da CLT, mas acrescentou um novo tipo, que faz referência à Lei Maria da Penha: LC 150, art. 27, parágrafo único - O contrato de trabalho [doméstico] poderá ser rescindido por culpa do empregador quando: VII - o empregador praticar qualquer das formas de violência doméstica ou familiar contra mulheres de que trata o art. 5º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. 32 DELGADO. Maurício Godinho, op. cit. pág. 1246. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 23 240 Portanto, quando o empregador doméstico praticar violência doméstica contra mulheres (não necessariamente contra a empregada doméstica), esta poderá pleitear a rescisão indireta do seu vínculo empregatício. ➢ Verbas devidas na rescisão indireta Nesta hipótese, serão devidos ao empregado as seguintes verbas e direitos: ✓ saldo de salário; ✓ 13º proporcional; ✓ férias, inclusive proporcionais; ✓ aviso prévio; ✓ multa de 40% do FGTS (e seu saque); e ✓ seguro-desemprego (guias fornecidas pelo empregador). ➢ Disposições específicas dos parágrafos do artigo 483 Além das alíneas “a” a “g”, onde estão enumerados tipos jurídicos que provocam a rescisão indireta, consta também do artigo 483 da CLT 3 parágrafos com situações peculiares, que estudaremos neste tópico. Iniciando pelo § 3º, a CLT esclarece que nas situações das alíneas “d” (não cumprimento, pelo empregador, das obrigações do contrato) e “g” (o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários) o empregado poderá adotar as seguintes condutas: CLT, art. 483, § 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo. Existem divergências doutrinárias acerca da possibilidade de permanência do empregado na prestação dos serviços: alguns autores entendem que em todas as alíneas do artigo 483 seria possível que o empregado buscasse a rescisão indireta mediante processo trabalhista e continuasse prestando serviços. Valentin Carrion33 é um dos autores que entendem que, em qualquer das hipóteses elencadas no artigo 483, o empregado pode permanecer em serviço: “(...) outra conclusão levaria ao absurdo de obrigar-se o empregado a demitir-se, e arcar com os riscos de não conseguir carrear aos autos a prova esperada, muitas vezes testemunhal, tão imprevisível (...).” Para fins de prova, é importante verificar se eventual questão exigirá a literalidade do art. 483, § 3º, ou o entendimento doutrinário ampliativo citado no parágrafo anterior. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 24 240 Os próximos 2 parágrafos do artigo 483 não têm relação com a rescisão indireta, mas decidi mantê-los aqui por não haver onde encaixá-los de maneira mais adequada. No § 1º a CLT trata dos casos em que o empregado passa a exercer obrigações legais que o impeçam de continuar prestando os serviços: CLT, art. 483, § 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. A CLT não especificou quais são as obrigações legais que admitem as condutas citadas no § 2º. Alguns autores citam o caso de empregado eleito para exercer cargo parlamentar34. O último parágrafo do artigo 483 estabelece que CLT, art. 483, § 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho. Este dispositivo regula a situação na qual o empregador morre, mas isto não acarreta na extinção do empreendimento: nesta hipótese do art. 483, § 2º os herdeiros (ou outros sucessores) continuam a exploração da atividade. Esta observação é importante porque a possibilidade do citado parágrafo não pode ser confundida com a previsão do artigo 485, onde, nesta sim, a morte do empregador individualpõe fim ao negócio: CLT, art. 485 - Quando cessar a atividade da empresa, por morte do empregador, os empregados terão direito, conforme o caso, à indenização a que se referem os art. 477 e 497 [indenização dos empregados estáveis]. Assim, retomando o at. 483, § 2º, no caso de morte do empregador individual, mesmo havendo a sucessão (ou herdeiros continuando o negócio) o empregado pode rescindir seu contrato de trabalho, estando desobrigado de conceder aviso-prévio. Culpa recíproca INCIDÊNCIA EM PROVA: ALTA A extinção do contrato de trabalho por culpa recíproca ocorre quando tanto empregador quanto empregado dão causa à extinção do contrato, ou seja, ambas as partes praticam condutas ensejadoras da rescisão. 34 Neste sentido, RESENDE. Ricardo. Op. cit. 650. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 25 240 Assim como na rescisão indireta, esta modalidade de extinção contratual envolve decisão judicial que reconheça a culpa recíproca. No dizer de Amauri Mascaro Nascimento35, “(...) esclareça-se que por culpa recíproca designa-se a dispensa de iniciativa do empregador, verificando-se em juízo que houve justa causa dos dois sujeitos do contrato”. Como a culpa recíproca subentende culpa de ambas as partes, a Lei do FGTS prevê indenização de apenas metade do valor devido no caso de demissão sem justa causa: Lei 8.036/90, art. 18, § 2º Quando ocorrer despedida por culpa recíproca ou força maior, reconhecida pela Justiça do Trabalho, o percentual de que trata o § 1º [40%] será de 20 (vinte) por cento. Em relação à culpa recíproca é importante também relembrar a disposição constante da Súmula 14 do TST: SUM-14 CULPA RECÍPROCA Reconhecida a culpa recíproca na rescisão do contrato de trabalho (art. 48436 da CLT), o empregado tem direito a 50% (cinqüenta por cento) do valor do aviso prévio, do décimo terceiro salário e das férias proporcionais. Neste caso, autoriza-se o saque do FGTS, mas não há direito ao seguro-desemprego. Rescisão por acordo INCIDÊNCIA EM PROVA: ALTA A CLT, após a Lei 13.467, de julho de 2017, passou a prever uma nova modalidade de término do contrato de trabalho: rescisão do contrato de trabalho de comum acordo entre empregado e empregador, o chamado “distrato”. Nesta modalidade, tanto empregado quanto empregador desejam pôr fim ao contrato. Esta alteração visa a desestimular a prática ilegal em que o empregado que não queria permanecer no emprego pedia ao seu empregador para ser dispensado, no intuito de sacar seu FGTS, e devolvia a ele “por fora” a multa rescisória de 40%. Quanto às verbas rescisórias devidas, há pagamento de metade do aviso prévio, se indenizado, e da multa compensatória do FGTS. Em relação a esta multa, como em geral ela é de 40%, metade dela resulta em uma multa de 20% na rescisão por acordo. 35 NASCIMENTO, Amauri Mascaro, op. cit., pág. 411. 36 A Súmula faz remissão ao artigo 484 da CLT, que trata da antiga indenização por tempo de serviço que foi substituída pelo regime do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 26 240 As demais verbas (13º e férias, inclusive proporcionais) são devidas na integralidade: CLT, art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empregado e empregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas: I - por metade: a) o aviso prévio, se indenizado; e b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, prevista no § 1º do art. 18 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990; II - na integralidade, as demais verbas trabalhistas. Nesta modalidade o empregado não tem direito ao Seguro-Desemprego (já que o desemprego não é "involuntário"), mas pode sacar até 80% dos depósitos no FGTS: CLT, art. 484-A, § 1º A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a movimentação da conta vinculada do trabalhador no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço na forma do inciso I-A do art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, limitada até 80% (oitenta por cento) do valor dos depósitos. § 2º A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não autoriza o ingresso no Programa de Seguro-Desemprego. Atenção para não confundirmos a multa compensatória do FGTS (calculada como um percentual sobre os depósitos realizados pelo empregador) com o saque do FGTS. Esta multa representa um valor adicional devido pelo empregador, sendo que o saque do FGTS consiste simplesmente na autorização para o empregado acessar os valores que o empregador vinha mensalmente depositando na conta vinculada do trabalhador. Tais regras foram cobradas na questão abaixo, gabarito (B): FCC/TST – Analista Judiciário – Taquigrafia - 2017 Considerando a nova modalidade de rescisão do contrato de trabalho, introduzida pela Lei nº 13.467/2017, em havendo extinção por acordo entre empregado e empregador, será permitido o saque pelo empregado do valor dos depósitos do FGTS, bem como será devida pelo empregador a indenização sobre seu saldo, nas seguintes proporções, respectivamente: (A) 100% e a metade. (B) 80% e a metade. (C) 50% e a integralidade. (D) 100% e a integralidade. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 27 240 (E) 20% e a metade. Finalizando este tópico, destaque-se a possibilidade de as partes requererem, após a rescisão por acordo, sua homologação judicial (CLT, art. 855-E). Caso homologada, o empregado não poderia pleitear, em momento futuro, outras verbas relacionadas àquele contrato de trabalho. Para não confundirmos com as verbas devidas na culpa recíproca, segue um quadro esquemático: Parcelas devidas Extinção por acordo Culpa recíproca Aviso prévio Se indenizado: pela metade Pela metade Multa rescisória37 Pela metade Pela metade Férias proporcionais Integralmente Pela metade 13º proporcional Integralmente Pela metade Férias simples e vencidas Integralmente Integralmente Saque do FGTS38 Até 80% dos depósitos Integralmente Seguro-Desemprego Não recebe Não recebe Término de contratos a termo INCIDÊNCIA EM PROVA: BAIXA Aprendemos que, em regra, no direito do trabalho os contratos possuem indeterminação de prazo, mas que existe também previsão legal de contratos a prazo determinados. Para estudar o término dos contatos a prazo determinado vamos dividir a extinção em 2 situações distintas: extinção normal do contrato e extinção antecipada. 37 Lei 8.036, art. 18, § 1º Na hipótese de despedida pelo empregador sem justa causa, depositará este, na conta vinculada do trabalhador no FGTS, importância igual a quarenta por cento do montante de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros. 38 Nas hipóteses listadas na Lei 8.036, art. 20 Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 28 240 ➢ Extinção normal A extinção normal docontrato a termo se dá pelo atingimento de seu termo prefixado, como, por exemplo, os contratos de experiência. Relembrando o artigo da CLT que prevê as hipóteses autorizativas de determinação de prazo: CLT, art. 443, § 2º - O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando: a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo; b) de atividades empresariais de caráter transitório; c) de contrato de experiência. Assim, quando um contrato a prazo determinado extingue-se pelo atingimento de seu termo, o empregado não fará jus a indenização ou aviso prévio, mas apenas a saldo de salário, férias proporcionais (e vencidas, claro) e 13º salário proporcional. ➢ Extinção antecipada Caso ocorra extinção antecipada por iniciativa do empregador serão devidos, além de saldo de salário, férias proporcionais (e vencidas, claro) e 13º salário proporcional, também a indenização prevista no artigo 479 da CLT: CLT, art. 479 - Nos contratos que tenham termo estipulado, o empregador que, sem justa causa, despedir o empregado será obrigado a pagar-lhe, a título de indenização, e por metade, a remuneração a que teria direito até o termo do contrato. Exemplo: o contrato de experiência foi firmado com previsão de 90 dias, e no 50º dia o empregador, sem justa causa, decide dispensar o empregado. Como faltavam 40 dias para encerrar o contrato, o empregador deverá indenizar o obreiro com a remuneração correspondente a 20 dias (metade da remuneração a que ele teria direito até o termo do contrato). Além disso, nestes casos o empregador deverá depositar a multa de 40% do FGTS e o empregado poderá sacar os valores existentes em sua conta vinculada. Em contrapartida, caso ocorra extinção antecipada por iniciativa do empregado este é que deverá indenizar o empregador, conforme previsão do artigo 480 da CLT: CLT, art. 480 - Havendo termo estipulado, o empregado não se poderá desligar do contrato, sem justa causa, sob pena de ser obrigado a indenizar o empregador dos prejuízos que desse fato lhe resultarem. § 1º - A indenização, porém, não poderá exceder àquela a que teria direito o empregado em idênticas condições. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 29 240 Deste dispositivo podemos destacar que a indenização está vinculada aos prejuízos que o empregador sofrer em decorrência desta antecipação do término do contrato (o artigo fala em “prejuízos que desse fato lhe resultarem”), e esta indenização não poderá ser superior à metade da remuneração a que o demissionário teria direito até o termo do contrato. Existe previsão legal de que contratos a prazo determinado (como o contrato de experiência, por exemplo) possuam cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão antecipada. Caso o contrato a termo possua tal cláusula, a CLT prevê que deverão ser aplicados os princípios que regem a rescisão dos contratos por prazo indeterminado: CLT, art. 481 - Aos contratos por prazo determinado, que contiverem cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão antes de expirado o termo ajustado, aplicam-se, caso seja exercido tal direito por qualquer das partes, os princípios que regem a rescisão dos contratos por prazo indeterminado. Nestes casos (havendo esta cláusula no contrato a termo), então, a rescisão antecipada por iniciativa do empregador obrigará este a conceder aviso prévio ao empregado. O mesmo se aplica ao empregado, que deverá, nestas circunstâncias, conceder aviso prévio ao seu empregador. Voltaremos a falar acerca disto no tópico sobre “Aviso prévio”. Resumindo os efeitos da extinção antecipada tratada neste tópico: Outras modalidades de extinção contratual INCIDÊNCIA EM PROVA: BAIXA Neste trecho da aula falaremos um pouco sobre outras formas de extinção do contrato de trabalho que não se encaixam nas demais modalidades já estudadas. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 30 240 ➢ Fato do príncipe (factum principis) Os estudiosos do Direito do Trabalho muito discutiam acerca da extinção do contrato em decorrência do fato do príncipe, que consiste na paralisação do trabalho (temporária ou definitivamente), decorrente de uma determinação do poder público. Trata-se de uma espécie de força maior, em que há a presença da conduta estatal, impondo a paralisação das atividades da empresa, encontrando-se assim prevista na CLT: CLT, art. 486 - No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, motivada por ato de autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que impossibilite a continuação da atividade, prevalecerá o pagamento da indenização, que ficará a cargo do governo responsável. Esta é uma hipótese de extinção raramente acolhida pela jurisprudência brasileira, havendo quem chegue a considerar o art. 486 da CLT como letra mora. Embora tenha baixa relevância prática, esta hipótese desperta interesse doutrinário e em provas, sobretudo após os eventos relacionados ao novo Coronavírus (Covid-19). Assim, é importante destacarmos 3 aspectos principais acerca do factum principis: 1) caracterização do fato do príncipe 2) responsabilidade pelo pagamento da indenização 3) valor da indenização 1) Como vimos acima, o fato príncipe consiste na paralisação do trabalho em decorrência de ato do poder público. No entanto, não é qualquer paralisação por determinação estatal que suscita a aplicação do art. 486 da CLT, mas apenas aquelas que decorrem "única e exclusivamente" da imposição estatal39. Primeiramente porque considera-se que parte das imposições estatais aos empregadores já estão dentro do risco a que se expõem ordinariamente os empreendedores de maneira geral (risco empresarial). Além disso, se o empregador, de algum modo, concorreu para a paralisação, não haveria que se atribuir responsabilidade ao poder público. Então, por exemplo, se o fechamento da empresa é um efeito de atividade irregular desempenhada pelo empregador, não subsistiria qualquer responsabilidade ao poder público. Sob estes dois fundamentos, Godinho40 destaca situações que não configuram factum principis: - maxidesvalorizações cambiais 39 SARAIVA, Renato. Direito do Trabalho. 10 ed. São Paulo. Ed. GenMétodo. P. 270 40 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 17 ed. São Paulo, 2017, p. 1351. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 31 240 - implementação de planos econômicos oficiais - mudanças governamentais nas regras relativas a preços, tarifas e mercado - fechamento por decisão judicial - fechamento do estabelecimento por ato da autoridade sanitária, no exercício do seu poder de polícia - fechamento de casas de bingo Portanto, a despeito da dificuldade de se caracterizar, juridicamente, o fato do príncipe, considero importante conhecermos algumas situações em que não seria caracterizado. 2) Havendo a (rara) configuração do fato do príncipe, a administração pública responsável pela paralisação seria chamada a indenizar a extinção contratual. Sendo ato do poder público municipal, a indenização caberia ao município; sendo estadual, caberia ao Estado membro; sendo ato federal, à União. 3) Quanto ao valorda indenização, há divergência doutrinária, sendo que a corrente majoritária defende que a "indenização" mencionada no art. 486 corresponde (i) à multa compensatória do FGTS41 ou, (ii) nos contratos por prazo determinado, na indenização prevista no art. 479 da CLT. Assim, o governo não arcaria com todas as verbas rescisórias, mas apenas com o valor da multa rescisória do FGTS ou com a indenização do art. 479 (as demais verbas devidas42 seriam pagas pelo próprio empregador). ➢ Força maior A CLT define força maior como sendo43: Art. 501 - Entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em relação à vontade do empregador, e para a realização do qual este não concorreu, direta ou indiretamente. Poderíamos citar como exemplo um furacão que destruiu um mercado que empregava 20 pessoas, ou uma grande enchente que alagou a sede de uma empresa de informática. Reparem que o empregador não pode ter contribuído para o acontecimento, para que seja efetivamente considerado motivo de força maior. 41 Havendo, ainda, discussão quanto ao percentual da indenização, se seria de 20% ou de 40% sobre o montante depositado na conta vinculada pelo empregador. 42 Há, também, divergência doutrinária quanto à necessidade ou não de pagamento do aviso prévio indenizado. 43 Reparem que a CLT não diferencia força maior e caso fortuito. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 32 240 Além disso, a CLT deixa claro que o empregador deve ter agido de forma previdente (art. 501, §1º). Se, por exemplo, ocorre um incêndio na sede da empresa que destrói todo o local, mas observa-se que não havia extintores ou outro sistema de proteção contra incêndio no local, poderíamos concluir que este empregador não foi previdente, pois deixou de adotar as cautelas que eram esperadas (neste caso, não haveria que se falar em força maior). A força maior pode autorizar a realização de horas por necessidade imperiosa (CLT, art. 61), interromper o contrato de trabalho ou mesmo extingui-lo. Se a força maior extingue a empresa ou o estabelecimento em que trabalhava o empregado, é possível a extinção dos contratos por motivo de força maior: Art. 502 - Ocorrendo motivo de força maior que determine a extinção da empresa, ou de um dos estabelecimentos em que trabalhe o empregado, é assegurada a este, quando despedido, uma indenização na forma seguinte: I - sendo estável, nos termos dos arts. 477 e 478; II - não tendo direito à estabilidade, metade da que seria devida em caso de rescisão sem justa causa; III - havendo contrato por prazo determinado, aquela a que se refere o art. 479 desta Lei, reduzida igualmente à metade. Reparem que a força maior autoriza até mesmo o término do contrato de empregados protegidos por estabilidades provisórias. Além disso, o empregado fará jus à metade da multa compensatória do FGTS (isto é, será paga à base de 20% dos depósitos junto ao FGTS - Lei 8.036, art. 18, §2º) e, se for contrato por prazo determinado, receberá metade da indenização que receberia no caso de extinção normal antecipada. Detalhando tais verbas rescisórias, o professor Ricardo Resende44 aponta que nestes casos o empregado faz jus às seguintes parcelas: • Saldo de salário • 13º salário proporcional • Férias (simples, vencidas e proporcionais) • Metade da multa compensatória do FGTS (isto é, 20%) • Metade da indenização do art. 479, se for o caso • Saque do FGTS • Aviso prévio (embora existam autores que defendam não ser cabível) ➢ Morte do empregado 44 RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. Rio de Janeiro: Método, 2017, p. 755-756. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 33 240 Iniciando com a morte do empregado, esta é uma situação onde o contrato será extinto e não há que se falar em indenização. Nestes casos os herdeiros do falecido receberão saldo de salário, férias proporcionais e 13º salário proporcional. ➢ Morte do empregador pessoa física Também é motivo bastante para extinguir o contrato de trabalho a morte do empregador pessoa física. Neste caso de extinção do contrato as verbas devidas ao empregado serão as mesmas da dispensa sem justa causa: saldo de salário (dias trabalhados no mês da saída), férias (inclusive proporcionais), 13º salário (proporcional), indenização do FGTS (multa rescisória de 40%) e aviso prévio: CLT, art. 485 - Quando cessar a atividade da empresa, por morte do empregador, os empregados terão direito, conforme o caso, à indenização a que se referem os art. 477 e 497 [indenização dos empregados estáveis]. Entretanto, existe outra possibilidade que é a morte do empregador pessoa física com a continuidade do empreendimento (por exemplo, o filho do falecido continua a exercer a atividade de seu pai). Ocorrendo esta continuidade do empreendimento estaremos diante de sucessão trabalhista, e neste caso o contrato de trabalho poderá prosseguir. Havendo a morte do empregador individual, porém, a lei faculta ao empregado dar por rescindido seu contrato (falamos sobre isso anteriormente): CLT, art. 483, § 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho. Caso o empregado opte por esta possibilidade, não caberá aviso prévio e nem indenização do FGTS (multa rescisória de 40%). ➢ Extinção da empresa ou estabelecimento Nas situações em que há extinção da empresa ou estabelecimento a doutrina também confere ao empregado o direito às verbas rescisórias cabíveis na dispensa sem justa causa. ➢ Programa de Demissão Voluntária – PDV Algumas empresas apresentam aos seus empregados proposta de valor que os incentive a desligar-se da empresa, fato este conhecido como “Programa de Demissão Voluntária”, “Programa de Incentivo à Demissão Voluntária” ou ainda “Plano de Incentivo à Demissão Voluntária”. Este procedimento também é conhecido pela sigla PDV. Antonio Daud, Mara Queiroga Camisassa de Assis, Equipe Mara Camisassa Aula 05 - Prof. Antonio Daud CNU - Concurso Nacional Unificado (Bloco 4 - Trabalho e Saúde do Trabalhador) Conhecimentos Específicos - Eixo Temático 5 - Direito do Trabalho - 2024 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 34 240 A CLT, após a Lei 13.467 (reforma trabalhista), regulamentou o término do contrato de trabalho por meio da adesão a um PDV, como uma espécie de extinção por acordo (CLT, art. 484-A), em que empregado manifesta o interesse em pôr fim ao vínculo de emprego, ante um incentivo oferecido pelo empregador (quantia em dinheiro, viagem, treinamentos pagos ou outros benefícios diversos). Portanto, ambos desejam extinguir o vínculo empregatício. Antes de avançar, é preciso destacar que os PDVs/PDIs podem ou não ser negociados perante o sindicato (por meio de ACT/CCT). Caso sejam objeto de previsão em ACT/CCT, a adesão do empregado ao Plano de Demissão, nessa condição, representa, como regra geral, quitação plena e irrevogável dos direitos decorrentes da relação empregatícia: CLT, art. 477-B. Plano de Demissão Voluntária ou Incentivada, para dispensa individual, plúrima ou coletiva, previsto em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, enseja quitação plena e irrevogável dos direitos decorrentes da relação empregatícia, salvo disposição em contrário estipulada entre as partes. Dessa forma, um empregado que tenha aderido ao PDV/PDI previsto em ACT/CCT não poderá, posteriormente, reclamar perante a Justiça Trabalhista
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